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LEITURA
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Versão da Esposa
Certa madrugada, enquanto tomava meu chá na cozinha, em busca de algo
que me ajudasse a dormir naquela noite insone, fui surpreendida pela chegada
do meu marido. Claro, não havia nada de estranho no fato dele se levantar da
cama e ir para cozinha. O problema era que ele ainda dormia. Até ressonava,
percebi de imediato. Uma respiração estrepitosa.
Ele sentou-se junto à mesa, onde eu estava, e ficou fazendo aqueles ruídos
irritantes com a boca, como era costume quando estava no seu sono mais
profundo.
Até tentei chamá-lo, mas ele não respondeu. Tentei “ei”, “ow”, “psiu”, e nada.
Então, bati com a xícara, depois com a palma da mão na mesa. Mas continuou
ressonando.
– Como assim?
– Ei, alguém nessa casa tem que prezar pela organização, não é? – Irritada.
– … implica com a poeira que só você consegue enxergar nos móveis, briga
comigo se deixo o cachorro subir no sofá, entra em desespero quando coloco
roupa usada na gaveta, me proíbe de deitar sem escovar os dentes sem me
permitir o prazer de perpetuar o gostinho da paçoca em minha boca…
– Alguém nessa casa tem que cuidar da higiene, não acha, seu porco
malcriado?
– Por isso, minha vontade era desaparecer. Para bem longe. Talvez viver no
meio dos índios, onde são mais civilizados que você…
– Pois devia desaparecer mesmo, mal-agradecido. Se não valoriza o que tem,
então suma– completei, bufando enquanto voltava para o quarto.
Versão do Marido