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GAE/018

21 a 26 de Outubro de 2001
Campinas - São Paulo - Brasil

GRUPO VI
GRUPO DE ESTUDOS DE ASPECTOS EMPRESARIAIS

GESTÃO INTEGRADA DE RECURSOS: A DISPONIBILIZAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA NO CONTEXTO DA


INFRA-ESTRUTURA

Lineu Belico dos Reis André Luiz Veiga Gimenes*


Luiz Cláudio Ribeiro Galvão Miguel Edgar Morales Udaeta
Grupo de Energia do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas
Escola Politécnica - Universidade de São Paulo1

RESUMO 2.0 A PROPOSTA DA GESTÃO INTEGRADA DE


Este trabalho estuda a disponibilização de energia RECURSOS
elétrica segundo a Gestão Integrada de Recursos, que
é uma abordagem de disponibilização de infra- 2.1 Embasamento Teórico
estrutura balizada pelo equilíbrio entre os aspectos
econômico, social, ambiental, político e tecnológico dos A Gestão Integrada de Recursos – GIR, deve procurar
empreendimentos. nas alianças e parcerias, vantagens na implantação e
A GIR busca a atuação conjunta dos setores público e operação de componentes da infra-estrutura. Busca-
privado, reconhecendo a necessidade de aproximação se, na associação da infra-estrutura e/ou serviços,
entre os aspectos empresarial, com foco na realização vantagens (construtivas ou operativas) que garantam a
do lucro, e institucional, com foco na defesa dos competitividade econômica e a viabilização do
interesses coletivos. investimento.
Por fim a proposta da GIR é exemplificada através de A GIR, segundo (Reis e Mielnick, 1999, [3]), deverá ser
um estudo de caso, que trata da energia elétrica operacionalizada a partir da harmonização de duas
integrada à outros componentes da infra-estrutura, no concepções: a) a visão empresarial, que pretende a
caso, a irrigação. realização do lucro, considerando o papel e as
atribuições dos investidores; b) a visão institucional,
PALAVRAS-CHAVE: com ênfase na defesa dos interesses coletivos e na
atuação dos agentes reguladores dos serviços de infra-
Planejamento Energético, Gestão Integrada de estrutura.
Recursos, Energia Elétrica Resumidamente, a GIR tem por objetivo tornar
investimentos agregados viáveis do ponto de vista
1.0 INTRODUÇÃO econômico, social, ambiental, político e tecnológico em
projetos que, isoladamente, seriam inviáveis em
A energia elétrica representa um papel preponderante algumas destas vertentes.
no contexto global da infra-estrutura.
A sua presença não é condição suficiente para que 2.2 O Desenho
haja o desenvolvimento de uma região, mas é uma
condição absolutamente necessária. O primeiro aspecto que deve ser analisado na
Isto ocorre porque a presença de tecnologia, associação dos componentes da infra-estrutura é o
informação e mesmo outros componentes da infra- econômico, para que se garanta a autonomia do
estrutura estão condicionados à sua presença. investimento.
Neste contexto, este trabalho procura estudar a Para os componentes menos rentáveis deve-se
disponibilização da energia elétrica sob uma visão analisar a necessidade social dos mesmos, e, em
integrada que contemple sua inserção entre os ambos os casos, deve-se identificar o tipo de atuação
diversos componentes da infra-estrutura através de privada e pública para cada caso. Nesta etapa são
uma abordagem diferenciada de gestão. analisados os possíveis mecanismos compensatórios e
empresariais.

1
Av. Prof. Luciano Gualberto Trav. 3, Num. 158; Cidade Universitária; CEP 05508-900; São Paulo - SP
Fone: (011) 3818-5279 Fax: (011) 210 - 3595; e-mail: gimenes@pea.usp.br
Uma vez identificados os componentes potencialmente
rentáveis ou socialmente mais necessários, deve-se 2.3.2 Análise dos Componentes da Infra-Estrutura
buscar a sinergia entre estes, quanto às suas Economicamente Atraentes
características construtivas ou operativas.
A partir daí procede-se à identificação de possíveis Pensando no planejamento da infra-estrutura de uma
associações de componentes da infra-estrutura que se forma empresarial, é necessário que se proceda à uma
desejam para um local. Nesta etapa, o escopo da análise de viabilidade econômica dos componentes no
análise deve ser fechado em torno do que se pretende contexto em que se pretende inseri-los, analisando-se
aplicar e então pode-se identificar possíveis parceiros. também os custos que incidem sobre cada agente
De acordo com as características do empreendimento participante do processo.
e dos possíveis parceiros deve-se escolher ou propor a
melhor forma de associação entre estes, compondo a 2.3.3 Análise dos Componentes Socialmente
etapa de definição do tipo de parceria. Necessários
Finalmente, deve-se verificar as possíveis vantagens
da GIR nos aspectos: Econômico, Social e Ambiental, Embora todos os componentes da infra-estrutura sejam
verificando sua consistência perante os aspectos socialmente necessários, devem-se identificar aqueles
político e tecnológico. Além disso, a proposta final cuja necessidade se sobrepõe à interesses comerciais,
deverá ser analisada do ponto de vista de sua onde a participação do setor público se faz necessária
aceitabilidade frente aos envolvidos. para alterar o ambiente desfavorável ao investimento
Esta proposta da GIR pode ser melhor visualizada no privado.
diagrama da Figura 1.
LEQUE DE OPÇÕES 2.3.4 Definição do Tipo de Atuação Privada e
Componentes da infra-estrutura

TIPO IDEAL DE
Pública
IDENTIFICAÇÃO DOS IDENTIFICAÇÃO DOS TIPO IDEAL DE
ATUAÇÃO ECONOMICAMENTE SOCIALMENTE ATUAÇÃO
PÚBLICA ATRAENTES NECESSÁRIOS PÚBLICA
PRIVADA PRIVADA
A definição do tipo atuação ocorre baseada no tipo de
Infra-
estrutura 1
Infra-
estrutura 2
infra-estrutura, nas condições do mercado, no nível de
desenvolvimento do local etc. .
PRIMEIRA TRIAGEM AMBIENTAL
A Gestão Integrada de Recursos busca a atuação
IDENTIFICAÇÃO DA SINERGIA ENTRE OS
COMPONENTES DA INFRA-ESTRUTURA
conjunta dos entes público e privado, porém de
QUANTO À OPERAÇÃO E/OU IMPLANTAÇÃO
maneira diferenciada do que tem ocorrido
ASSOCIAÇÃO DOS COMPONENTES
historicamente.
DEFINIÇÃO DO ESCOPO O setor público tem-se mostrado pouco capaz de
DEFINIÇÃO DO TIPO DE PARCERIA
investir e administrar os componentes da infra-
estrutura, enquanto o setor privado tem-se mostrado
ANÁLISE DE VANTAGENS
indiferente às necessidades sociais, preocupando-se
ECONÔMICA SOCIAL AMBIENTAL
exclusivamente com o retorno do capital.
A proposta da GIR é que a análise integrada dos
ACEITABILIDADE
empreendimentos permita que cada setor participe de
acordo com sua competência e a junção de ambos
viabilize componentes que hoje são inviáveis às vistas
VIABILIDADE DO
EMPREENDIMENTO do setor privado.
Ao setor público (não necessariamente governos) cabe
FIGURA 1: Diagrama Básico da Gestão Integrada de regular os setores de infra-estrutura, de forma a
Recursos permitir atuações diferenciadas e criativas no sentido
de assegurar o retorno econômico das mesmas. Neste
2.3 Modelagem contexto, o Estado deve atuar preferencialmente como
ente regulador e, quando conveniente, através de
Segundo o diagrama anterior, passa-se à descrição meios apropriados, como financiador.
sucinta de cada etapa indicada, lembrando que a Ao setor privado fica destinada a atuação como
ordem que se segue não deve ser encarada de investidor e gerenciador da infra-estrutura, que, nos
maneira rígida, pelo contrário, todo o processo deve moldes do mercado, deverá ser competitiva e portanto
ser desenvolvido da maneira mais paralela possível, economicamente sustentável. Deverá ainda garantir a
para que os resultados de determinadas análises qualidade nos serviços prestados, a eficiência na
possam enriquecer o de outras. operação e a acessibilidade por parte dos mais
carentes, todos previstos na regulação.
2.3.1 Leque de Opções Esta abordagem permite que o Estado evite os erros
gerenciais do passado e fixe-se mais claramente no
O leque de opções considerado envolve todas as cumprimento de metas sociais, enquanto que a gestão
alternativas dos cinco componentes básicos da infra- empresarial procedida pelo setor privado, dentro dos
estrutura: Energia Elétrica, Telecomunicações, Água e moldes de mercado, deverá garantir a sustentabilidade
Saneamento, Tratamento do Lixo e Transporte. A econômica dos empreendimentos.
escolha dos componentes deve ser balizada segundo
os objetivos sociais, ambientais, econômicos, políticos
e tecnológicos que se pretende alcançar na região.
2.3.5 Identificação da Sinergia (Construtiva e/ou tornando a busca desta última uma meta aceitável e
Operativa) entre os Componentes da Infra- portanto factível.
Estrutura A GIR deverá considerar os aspectos relativos à
aproximação dos conceitos de sustentabilidade e
Diversos componentes da infra-estrutura, de acordo aceitabilidade, para que haja condições para a
com características próprias de construção e estruturas viabilização dos projetos.
associadas, podem conectar-se entre si através de um
único empreendimento, seja na construção ou na 2.4 Avaliação de Alternativas
operação possibilitando vantagens na sua implantação
integrada. Na avaliação de alternativas segundo a GIR, de
maneira genérica, pode-se considerar como a melhor
2.3.6 Definição do Escopo alternativa aquela que:
¾ Apresente a maior autonomia financeira, em
A definição do escopo refere-se à etapa onde se relação ao capital público. De preferencia seja
determinam quais os componentes que se pretende totalmente privada e autônoma (sem subsídios);
associar, de acordo com análises prévias de ¾ Garanta o acesso aos serviços por todas as
viabilidade econômica, social e ambiental, e de acordo classes sociais;
com a sinergia entre os componentes e objetivos que ¾ Remunere o capital investido de forma atrativa e
se pretendem alcançar. sustentável à ampliação dos serviços por parte do
setor privado;
2.3.7 Definição do Tipo de Parceria ¾ Apresente uma estrutura administrativa enxuta e
níveis de eficiência elevados;
A definição do tipo de parceria ocorre segundo, ¾ Esteja voltada à preservação do meio ambiente.
principalmente, os interesses econômicos e
estratégicos dos investidores. 3.0 ESTUDO DE CASO: ENERGIA ELÉTRICA e a
A definição da parceria se funde também com o IRRIGAÇÃO
aspecto econômico, pois, nesta etapa, se define a
forma de divisão do capital (de investimento e O caso estudado prevê a construção de uma pequena
rendimento). central hidrelétrica (PCH) e a consideração de um
projeto para inclusão de uma nova cultura agrícola na
2.3.8 Análise de Vantagens região do Médio Paranapanema, interior de São Paulo,
mediante a implantação de um sistema de irrigação.
As vantagens provenientes de uma gestão integrada Esta região é essencialmente agrícola, apresentando
de recursos devem ser analisadas sob a ótica um déficit significativo de infra-estrutura e
econômica, social e ambiental, nesta ordem. desenvolvimento.
Isto se deve ao fato de que, caso não haja condições Será estudado um possível modelo de gestão
para viabilidade econômica, a sustentabilidade do integrada para compatibilização dos interesses
investimento já estará comprometida. envolvidos, tanto do ponto de vista do produtor rural
A análise social vem em seguida, porque a infra- como do produtor de energia elétrica.
estrutura deve atender aos interesses sociais,
garantindo o acesso dos mais pobres. 3.1 Disponibilização de Energia Elétrica: Geração
O meio ambiente vem em terceiro por depender do Através de uma PCH
sucesso dos dois anteriores. Onde não há
desenvolvimento econômico e social há, via de regra, a A construção se viabilizaria para o atendimento da
atuação humana predatória e destrutiva ao meio ponta e também para suprir o déficit energético da
ambiente. região, que apresenta grande percentual de demanda
No estudo de caso apresentam-se mais reprimida.
detalhadamente as análises de cada uma das De acordo com as características da região,
vantagens. dimensionou-se uma PCH para uma capacidade
instalada de 2500kW.
2.3.9 Aceitabilidade Para a análise de viabilidade econômica da PCH foram
adotados os seguintes valores para o caso Base:
Embora haja um consenso geral de que se deva Potência = 2,5 MW; Custo = 1000 US$/kW; Taxa
buscar a sustentabilidade, há um desafio ainda maior efetiva de juros (j) = 12%; Vida útil = 50 anos, custos
relacionado a esta busca, que é torná-la “aceitável”. de manutenção e operação (Com) = 5% do
Enquanto a sustentabilidade atua no sentido de investimento; Fator de Capacidade = 0,70.
harmonizar os aspectos sociais, econômicos e Segundo estes valores, analisou-se o custo unitário da
ambientais, a aceitabilidade advém do conflito destes energia gerada em um contexto de mercado
aspectos, face aos interesses particulares de cada competitivo e sem alavancagem, para taxas de retorno
segmento (ou, no limite: de cada indivíduo) da de 6% e 8% aa e um prazo de 25 anos para
sociedade. amortização do investimento. Também foi apresentado
O grande desafio é a conciliação dos interesses o resultado p/ o caso de retirada de 30% da água do
individuais com as metas globais de sustentabilidade, reservatório, ver Tabela 1.
Tabela 1: Resultados para um Mercado Competitivo, Sem proporcionando uma renda mensal ao agricultor de
Alavancagem mais de US$ 883,00 durante o período de amortização
Caso Custo Unitário da En. Elét. Tempo de Taxa de
retorno retorno
do empréstimo. Estes resultados são ainda mais
[US$/MWh] Anos porcento expressivos se os compararmos com a renda
Sem taxas Com taxas* proporcionada pela soja, que no melhor dos casos é de
Base 27,78 29,58 50 12 US$ 420,00.
C1 23,43 25,23 25 8
C2 20,91 22,71 25 6 3.2.3 A Problemática
C3 39,71 43,13 50 12
* Parcelas de Transporte = 0,0; COFINS + PIS + Taxa de
Fiscalização = 3,15%
O caso anterior apresenta uma série de inconvenientes
tanto para o produtor rural quanto para o
3.1.1 Avaliação dos Resultados empreendedor da PCH.
Para a PCH existe o risco de retirada dos 30% de
irrigação, o que inviabilizaria o retorno do capital
Pode-se considerar que (a 36 US$/MWh), à taxas
investido. Obviamente que, neste contexto, o investidor
internacionais de juros de 6 % a 8% ao ano, o projeto
do setor energético não tem interesse no
sob análise poderia ser competitivo, para um tempo de
desenvolvimento da irrigação na área de abrangência
retorno de 25 anos, que corresponde à metade da vida
de seu reservatório.
útil da usina. Tanto numa como noutra taxa, o custo da
Do lado do produtor rural tem-se uma situação ainda
energia é inferior ao conseguido no caso base, que
pior, pois este não tem recursos para modernizar sua
considera os valores usuais do setor elétrico brasileiro.
produção e está à margem dos empréstimos
O pior caso se configurou com a redução de 30% na
bancários, que exigem garantias muito além de suas
geração de energia, que produziu um prejuízo de 3,71
possibilidades.
US$/MWh, inviabilizando a PCH.
O fato é que, apesar da viabilidade do cultivo da
pupunha, apresentado anteriormente, o caso anterior
3.2 Água: O Uso para Irrigação e Produção
não é factível no paradigma atual e a única relação
com a implantação da usina é a competição pelo uso
Neste estudo de caso será considerada a mudança de
da água.
cultura viabilizada pela implantação de um sistema de
Este caso exemplifica a necessidade de uma
irrigação.
abordagem integrada que busque o desenvolvimento
A cultura inicialmente considerada será a soja,
sócio-econômico da população e, ao mesmo tempo, o
predominante na região, com posterior mudança para o
retorno do capital do setor privado.
cultivo do palmito de pupunha (Bactris gasipaes
H.B.K.), que exige a implantação de um sistema de
3.3 O Caso Segundo a Gestão Integrada de Recursos
irrigação.
A maior parte dos produtores rurais da região do MPP
Passa-se agora ao estudo do mesmo caso segundo a
é composta de pequenos produtores, com
Gestão Integrada de Recursos.
propriedades de até 50 ha, que apresenta rentabilidade
O estudo que se segue foi baseado em dados reais e
para soja, no melhor caso, de US$ 420,00/mês [1].
tendências que têm sido apontadas. Mesmo assim,
3.2.1 Análise de Viabilidade Econômica da Pupunha não foi dada muita importância para se garantir
Com o Sistema de Irrigação. aderência rigorosa às leis e regulamentações vigentes,
uma vez que o intuito do estudo é fixar os conceitos da
GIR, que devem estar, o tanto quanto possível, acima
Do anteriormente exposto, obtém-se os seguintes
de detalhes regulatórios ou circunstanciais.
valores, correspondentes à uma propriedade de 50 ha:
Capital total (implantação da cultura + sistema de
3.3.1 A Nova Modelagem
irrigação): US$ 241.000,00 e modalidade de
empréstimo com taxas de juros efetivas de 8,75 % ao
Atividade Agrícola
ano, provido pelo Governo Federal brasileiro, com
Para alterar as condições desfavoráveis à agricultura,
prazo de pagamento, de 5,5 anos (caso base), incluída
será considerado o seguinte caso:
a carência de 18 meses. Também foi avaliado o
Será constituída uma área de 200 ha, composta por
pagamento para o período de 9 anos, ver Tabela 2.
pequenos produtores.
Tabela 2: Custos e Lucratividade do Cultivo da Pupunha O sistema de irrigação será comprado por uma
Invest. Inicial Prod. Custo Total Lucro empresa privada de produção de palmito
(mil US$) US$/ha US$/ha US$/ha industrializado, e, ao final de 12 anos, o sistema deverá
ser de propriedade dos agricultores.
Base(*) 241 2300 2088 212
9 anos 241 2300 1312 988
Será composta uma sociedade onde os agricultores
Base: produção 4000 kg/ha, j = 8,75%, prazo para pagamento deverão entrar com a terra e o trabalho e a indústria de
5,5 anos, carência de 18 meses. palmito com o sistema de irrigação.
O agricultor será remunerado segundo a lucratividade
3.2.2 Avaliação dos Resultados do caso base, ou seja, US$ 212,00/ha/ano. A indústria
terá seu investimento baseado segundo o caso de 9
Segundo estas condições, para uma propriedade de 50 anos para pagamento do empréstimo, ver Tabela 2.
ha, a lucratividade da pupunha se mostrou excelente,
Essa diferença na divisão de lucros se deve ao fato de O período de recuperação do capital usina será
que a indústria é quem está assumindo o risco do adotado como sendo de 25 anos, com um empréstimo
empréstimo, que para o sistema de irrigação e compra à usina à taxa de 8% ao ano.
das mudas é da ordem de US$ 964.000,00. A compensação à usina se dará com 30% do valor do
Além disso, a diferença justifica que, ao final dos 12 fundo, que corresponde, aproximadamente, ao valor
3
anos, o sistema de irrigação passe a ser de agregado pela energia elétrica para cada m turbinado.
propriedade do agricultor. Neste caso, a diferença Assim sendo, a cada de retirada de água no período de
3
ficaria como sendo o pagamento de um leasing por 25 anos será pago o valor de US$ 0,001/m para usina,
parte do agricultor, que estaria comprando o sistema. multiplicado pelo fator de eficiência, maiores detalhes
na ref [1].
Sustentabilidade no Uso da Água Com esta abordagem, garante-se o interesse do setor
privado na usina e assume-se um risco reduzido para
No nosso exemplo caberia ao Comitê de Bacia regional tal. Após o período de 25 anos o comitê estaria
a gestão do uso da água, e, além de garantir que o desobrigado da compensação à usina e o valor seria
maior número possível de agricultores tenha acesso à integralmente revertido para ações visando a
água, deverá fomentar o interesse do setor privado na ampliação e eficientização da irrigação.
construção da usina.
A construção da usina é necessária para a 3.4 Análise das Vantagens
regularização do rio, que representa aumento (no caso,
de 32%) da água disponível para irrigação, além da 3.4.1 Análise das Vantagens Econômicas
necessidade de energia elétrica. Com o intuito de
garantir o máximo de água para irrigação e ao mesmo O volume anual total do capital movimentado pela
tempo seu uso eficiente, seria estabelecido um valor indústria de palmito, para 200 ha, é de US$
para cobrança no uso pela irrigação, valor este que 4.160.000,00. O valor anual movimentado pela
seria alocado para um fundo a cargo do comitê, que pupunha in natura é de US$ 309.000,00. Ou seja,
seria usado para ampliação e eficientização da somente a viabilização do cultivo e industrialização do
irrigação e prover recursos para a compensação da palmito trará à região a quantia aproximada de US$
usina, que será melhor detalhada adiante. 4.470.000,00. Para a energia elétrica tem-se que a
Para efeito deste estudo, será calculado o valor PCH deverá agregar um valor bruto anual à região de
agregado à cada produto (energia elétrica e pupunha) US$ 536.550,00.
3
por m de água utilizado:
3.4.2 Análise das Vantagens Sociais
PCH
No nosso caso, o valor da energia considerado foi de: Socialmente, a GIR traz o benefício imediato da
1MWh = US$ 35,00. facilitação da implantação da PCH e do cultivo da
Como, neste caso, para gerar 1 MWh são necessários pupunha. Sem estes, a situação de pouco
3
38.225 m , então: desenvolvimento, falta de infra-estrutura, pequenos
"Valor Agregado pela Energia Elétrica à Água" ⇒ US$ agricultores e êxodo rural se manteria. Neste caso, o
3
0,0009/ m . impacto mais positivo, do ponto de vista social, é
Pupunha justamente o de acesso à infra-estrutura e
Será considerado o valor bruto de venda, que é de desenvolvimento.
3
US$ 2.300/ha/ano, ver Tabela 3, para 6.932,43 m /ha
[1]. 3.4.3 Impactos no Setor Público
"Valor Agregado pela Pupunha à Água" ⇒ US$ 0,33/
3
m. Para melhor exemplificar os ganhos do Setor Público,
Estes dois valores mostram bem a diferença de valores foi estimado o valor da arrecadação anual de impostos,
agregados por um e outro uso, e fica evidente que, considerando-se apenas os que incidem sobre o valor
embora a agricultura seja um uso consumptivo da água bruto dos produtos, ver Tabela 3 (não inclui o imposto
3
do rio, esta agrega muitas vezes mais valor por m de renda). Estes valores mostram o quanto é
utilizado. significativa a arrecadação proveniente da implantação
3
Sendo assim, adotou-se o valor de US$ 0,003/m de do projeto. Destaca-se o caso do Governo Federal, que
água utilizado, ou 10% do valor agregado líquido da foi o financiador da cultura da pupunha. A parcela
pupunha. relativa à amortização anual da dívida mais juros
Do valor cobrado, 30% será reservado para a gestão somada aos impostos arrecadados corresponde à 90
da problemática referente à usina, conforme será visto % do montante total do empréstimo concedido, já no
a seguir. primeiro ano.
Tabela 3: Estimativa de Arrecadação de Impostos
Compensação à PCH Setor Prefeit. Estado Federal Setor
ISS (1%) ICMS Cofins/ PIS/ Público
Cont. Social
Para que haja a viabilidade da PCH é necessário que (US$ mil)
não haja a retirada dos 30% de água atualmente PCH --- 67,069 78,603 99,7
Palmito Ind. 41,60 291,200 609,440 942,2
permitidos para irrigação, ou que seja criado um
TOTAL 41,60 358,269 688,043 1.046
mecanismo para compensá-la.
3.4.4 Impactos na População. institucionais e empresariais envolvidos na provisão da
infra-estrutura;
Para a sociedade haverá ganhos como a geração • O Estado deve participar do processo de provisão da
direta e indireta de e todo o efeito multiplicador infra-estrutura, preferencialmente como regulador,
proveniente das duas atividades. Outro fator é o estabelecendo e garantindo o cumprimento de critérios
aumento do PIB per capita da cidade. sociais e ambientais. Através deste papel deve ser
Levando-se em conta que o Índice de Desenvolvimento estabelecido o novo paradigma de obtenção de
Humano (IDH) é composto, com peso de um terço, recursos financeiros, ou seja, através de mecanismos
pelo PIB local, haverá uma melhora considerável neste diferenciados que proporcionem o investimento do
índice, que é considerado um bom parâmetro do setor privado na provisão da infra-estrutura;
desenvolvimento social. Além destes, esperam-se • Também deve-se destacar que, a despeito do novo
obter ganhos sociais como a fixação do homem no paradigma com ênfase no Estado Regulador, este
campo, conseqüência dos maiores salários e da ainda é necessário como financiador, principalmente
presença de infra-estrutura básica, como a energia na alavancagem inicial do desenvolvimento, permitindo
elétrica. Há ainda a possibilidade de exploração de investimentos de maior porte provenientes do setor
atividades econômicas conseqüentes da construção do privado;
lago, como pesca, recreação etc. • Evidencia-se o fato de que a GIR, que é voltada à
ações (momento), é melhor procedida se estiver sob
3.4.5 Análise das Vantagens Ambientais: Mudança encaminhamento de um processo de planejamento
de Cultura de Soja para Pupunha. abrangente e igualmente integrado como é o PIR
Planejamento Integrado de Recursos [4].
Impactos Ambientais do Cultivo da Soja: Erosão dos • Finalmente poderia-se dizer que a Gestão Integrada
solos decorrente do preparo da terra (aragem e de Recursos permite a viabilização de um processo
gradagem); Perda de terra fértil; Utilização de onde "todos ganham", pois a sociedade passa a ter
agrotóxicos. Impactos Ambientais do Cultivo da acesso à infra-estrutura, o setor privado passa a contar
Pupunha: Cobertura vegetal que protege o solo quanto com novas oportunidades de negócios e o Estado,
à erosão; Melhora as condições do solo pela através da regulação, cumpre seu papel com a
incorporação de matéria orgânica excedente da planta; coletividade, buscando garantir o acesso da população
Dispensa o uso de agrotóxicos; carente à infra-estrutura e melhorando as condições
Além destes aspectos, a cultura da pupunha ambientais.
representa o cultivo sustentável do palmito, pois
substitui a produção baseada no extrativismo 5.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
predatório do palmito extraído da palmeira juçara
(Enterpe Edulis), planta nativa da Mata Atlântica e do [1] GIMENES, A. L. V.; "Agregação de Valor à
açaí (Euterpe oleraceae), nativa da região amazônica. Energia Elétrica Através da Gestão Integrada de
Diante destas características, evidencia-se a vantagem Recursos", dissertação de mestrado apresentada à
ambiental da mudança de cultura proposta. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2000.
3.4.6 Avaliação Final das Vantagens
[2] REIS, L. B., SILVEIRA, S., et ali; "Energia
Conforme os itens anteriores, pode-se verificar que a Elétrica Para Um Desenvolvimento Sustentável ";
abordagem integrada dos recursos hídricos segundo a Edusp, São Paulo, 2000.
GIR proporcionou vantagens em todos os aspectos:
econômico, social e ambiental, dentro de parâmetros [3] REIS; L. B.; MIELNICK, O.; "Um Modelo de
políticos e tecnológicos factíveis. Gestão Integrada de Recursos para Viabilizar o
No primeiro aspecto porque facilitou a viabilização da Desenvolvimento Sustentável", Artigo em fase de
implantação de um projeto que traz grande afluxo de publicação, EPUSP, São Paulo, 1999.
capitais para a região, e que, segundo a abordagem
tradicional, estava inviabilizado. No segundo, como [4] UDAETA, M. E. M.; 'Planejamento Integrado de
decorrência do primeiro, porque aumentou o nível de Recursos (PIR) para o Setor Elétrico (pensando o
emprego, o PIB da região e a arrecadação de impostos desenvolvimento sustentável)', tese de doutorado,
pelo setor público, o que deve reverter-se em favor da São Paulo - SP, EPUSP - Departamento de
sociedade. Finalmente, no terceiro aspecto, pelas Engenharia de Energia e Automação Elétricas, 1997.
características do cultivo da pupunha, pela substituição
da cultura da soja e pelo aumento dos índices sociais, [5] MARTINHO, P. R. R.; et.al..; "Projeto A.E.D.A.S -
mostrou-se que haverá também ganhos ambientais. Área Experimental e Demonstrativa de Agricultura
Sustentável", Médio Paranapanema, Centro de
4.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS Desenvolvimento do Vale do Paranapanema – CDVale,
Instituto Agronômico – IAC, Instituto de Economia
De maneira geral, pode-se destacar os seguintes Agrícola – IEA, Assis, SP, 1999.
aspectos referentes ao manejo integrado de recursos
hídricos segundo a GIR:
• A GIR configura-se como uma abordagem integrada
que permite a harmonização dos aspectos

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