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Informativo do Ministério da Ciência e Tecnologia

Ano I, nº 3 Edição Especial - 2003

Inclusão Social
A consolidação da política de desconcentração do
Ministério da Ciência e Tecnologia está ajudando a
promover a inclusão social no país. Ações como
a criação de Centros Vocacionais Tecnológicos
em 10 Estados e a implantação dos Institutos
do Semi-árido e de Neurociências no Nordeste
federalizam os investimentos em C&T.
Em outra frente, o MCT efetivou seu apoio ao
programa Fome Zero com
a promoção de pesquisas
em segurança alimentar.
(págs. 3 e 5 a 11)

Urânio enriquecido Conquistas no espaço Projeto Genoma


O programa nuclear brasileiro mar- O Acordo Brasil/Ucrânia para uso Pesquisadores nacionais da
cou um ponto com o anúncio da pro- da base de Alcântara pelo foguete Rede Genoma conquistaram re-
dução em escala industrial do enri- ucraniano Cyclone-4 com transfe- conhecimento internacional
quecimento de urânio a partir de rência de tecnologia no setor espa- com o seqüênciamento genéti-
2004. A meta é alcançar a auto-sufi- cial aliado ao sucesso do lançamen- co de bactéria encontrada no
ciência no abastecimento para to do satélite de sensoriamento re- Rio Negro. O esforço envolveu
todo o complexo Angra nos pró- moto CBERS-2 são vitórias do pro- 25 laboratórios e mais de 100
ximos 10 anos. grama espacial brasileiro. cientistas em todo o país.
(pág. 20) (págs. 21 a 24) (págs. 10 a 13)
Carta do Editor DÍVIDA POR INVESTIMENTO
A consolidação da política
de desconcentração dos inves-
Proposta do ministro Amaral ganha apoio da Unesco
timentos em C&T é uma reali- A Unesco declarou apoio à proposta graves problemas econômicos e sociais”.
do ministro Roberto Amaral de trocar
dade. A implantação dos Insti- A Declaração do Rio de Janeiro so-
parte do pagamento da dívida externa
tutos do Semi-árido e de Neu- por investimentos em educação, ciên- bre Ética em Ciência e Tecnologia
rociências no Nordeste são e- cia e tecnologia. A proposta foi apre- aprovada ao final da Comest defende
xemplos desse esforço de fede- sentada durante a 3ª Comest – Comis- textualmente “que se trabalhe em prol
ralização dos recursos, onde se são Mundial de Ética do Conhecimen- da criação de um consenso internaci-
to Científico e Tecnológico, que reu- onal para a conversão de uma parcela
inclui, ainda, a distribuição de do serviço da dívida externa dos paí-
niu ministros e altas autoridades de Ci-
Centros Vocacionais Tecnoló- ses em desenvolvimento para a amor-
ência e Tecnologia da América do Sul,
gicos em nove Estados nordes- no Rio de Janeiro, em dezembro. tização dos investimentos nacionais
tinos e no Espírito Santo. em ciência e tecnologia”.
“A formulação que o ministro Amaral
Em outra frente, a política de está dando ao tema caminha exata- – Não há possibilidade de o Brasil e
inclusão social do MCT refor- mente na nossa expectativa. Se a re- os demais países em desenvolvimen-
gião quer isso, a Unesco vai atacar to continuarem pagando esses juros se
ça o programa Fome Zero do não voltarem a crescer. Esse cresci-
com seriedade e vai buscar uma pro-
governo federal com a reali- mento só poderá se dar mediante in-
posta viável” declarou o diretor-geral
zação de pesquisas em segu- adjunto da Unesco, Márcio Barbosa. vestimento em ciência e tecnologia,
rança alimentar. argumenta Amaral.
Os ministros de C&T da América do
No campo da cooperação Sul e da CPLP – Comunidade dos Paí- A proposta de conversão de parte da
internacional, o Brasil consoli- ses de Língua Portuguesa – presentes dívida em investimentos em C&T foi
ao encontro respaldaram a posição apresentada pelo ministro pela primei-
dou parcerias importantes com defendida pelo ministro que, segundo ra vez aos países membros da Unesco,
Angola, Moçambique e África eles, visa “a estabilidade institucional durante a 32ª Conferência Geral reali-
do Sul. O acordo fechado com e democrática” dos países, sendo esta zada em Paris, em outubro, e reitera-
extras

a Ucrânia dará competitivi- a “única alternativa para a criação de da em novembro, no Rio, aos países
dade à base brasileira de Al- um ambiente favorável à solução dos do Mercosul.
cântara no mercado mundial
de lançamento de satélites. E, ......................... curtas .........................
com a China, tratou-se de as- Manifesto Vacinas
segurar a continuidade do Pro- A Carta de Goiânia aprovada por O Brasil caminha para se tornar o se-
grama CBERS, cujo lançamen- aclamação pelos secretários estadu- gundo maior produtor mundial de va-
to do CBERS-2, o segundo sa- ais de C&T e presidentes das Funda- cina contra a tuberculose. O MCT aju-
télite de sensoriamento remo- ções de Amparo à Pesquisa manifes- dou a assegurar os recursos que ga-
to, foi um sucesso. tou apoio à política de desconcen- rantem a construção da nova fábrica
tração dos investimentos em ciência de BCG, em Xerém (RJ). O laborató-
O Jornal CT destaca também e tecnologia conduzida pelo Minis- rio produzirá anualmente, no míni-
como o Brasil poderá tornar-se tério da Ciência e Tecnologia. mo, 60 milhões de doses da vacina.
auto-sufuciente no enriqueci- ............... ...............
mento de urânio e desmistifica Mudanças Avanço
o uso da tecnologia nuclear. A 1. O sociólogo paulista Cesar O MCT formou em novembro a pri-
edição traz ainda o reconheci- Callegari assumiu a Secretaria- meira turma de projetos em software
executiva do MCT. livre. Vinte funcionários do Mi-
mento internacional ao Proje-
2. Regina Markus, biomédica, está nistério, CNPq e IBICT concluíram o
to Genoma e apresenta o pe- à frente da Secretaria de Políti- curso e atuarão agora como mul-
queno mundo novo da nano- cas e Programas de Pesquisa e De- tiplicadores, responsáveis pelo trei-
tecnologia. Boa Leitura. senvolvimento do MCT. namento de novos técnicos.

Ministro da Ciência e Tecnologia Coordenação Editorial Repórteres


Roberto Amaral Ari Cipola Adriane Cunha, Andrea Fontenele,
Cláudia Soares, Lúcia Pinheiro, Má-
Secretaria Executiva Chefe da Assessoria de Comunicação
expediente

rio Correia e Mõnica Côrrea


Cesar Callegari Mônica Gill
Gráfica
Secretaria de C&T para Inclusão Social Editor Realce Gráfica Editora Ltda.
Jocelino Francisco de Menezes James Gama
Secretaria de Política e Programas de Tiragem
Redatora 4 mil exemplares
Pesquisa e Desenvolvimento Lúcia Motta
Regina Pekelmann Markus Ministério da Ciência e Tecnologia
Projeto Gráfico e Diagramação Esplanada dos Ministérios, Bloco E
Secretaria de Política de Informática e Rachel Mortari Brasília - DF, CEP.: 70067-900
Tecnologia
Arte Tel.: (61) 317 7500
Francelino Grando
Manuel Poppe www.mct.gov.br
Secretaria de Políticas Estratégicas e de
Desenvolvimento Científico Revisão Ministério
Jorge Guimarães Zélia Stein da Ciência e Tecnologia

Jornal C&T - 2
MCTnoFOMEZERO
R$ 57,2 milhões para pesquisas em segurança alimentar
Adriane Cunha

O
programa Fome Zero, projetos conjuntos para a melhoria fomento do MCT, ou por enco-
do governo federal, ga- da segurança alimentar no país. menda de estudos e pesquisas nas
nhou o apoio efetivo “Pesquisando o cultivo e a preser- linhas de atuação estabelecidas.
do Ministério da Ciên- vação de alimentos estamos bus-
cia e Tecnologia. Cientistas bra- O segundo convênio permitirá
cando um padrão alimentar para
sileiros irão desenvolver pesquisas a execução de estudos, pesquisas
identificar um índice de segurança
na área de segurança e educação e projetos que também contribuam
e contribuindo para combater a
alimentar. Dois convênios no va- para reverter o quadro de fome e
pobreza do país”, disse o ministro
lor total de R$ 57,2 milhões firma- pobreza no país. Através do CNPq
Amaral.

inclusão social
dos entre o MCT e o Ministério Ex- – Conselho Nacional de Desenvol-
traordinário da Segurança Alimen- O Ministro José Grazziano agra- vimento Científico e Tecnológico –
tar (MESA) garantem investimentos deceu o apoio do MCT e falou so- organismo de financiamento do
em estudos que colaborem para o bre a importância dos investimen- MCT, serão investidos R$ 14,1 mi-
desenvolvimento e a inovação da tos em pesquisa nessa área. “Pri- lhões, dos quais R$11,1 milhões
segurança alimentar no país. Há 30 meiro vamos gerar conhecimento oriundos do MESA e R$ 3 milhões
anos o país não desenvolvia uma próprio, o nosso próprio padrão do Fundo Setorial de Agronegócios.
pesquisa na área. alimentar, vamos envolver a comu-
nidade científica, além de levar esta Parte do valor deste contrato, R$
O Brasil, segundo estimativas bandeira do combate à fome para 9 milhões, já foi disponibilizado em
do Instituto Brasileiro de Geogra- dentro das instituições de pesqui- um edital que atraiu pesquisado-
fia e Estatística (IBGE), possui 46 sa”, concluiu. res de diversas regiões do país. Dos
milhões de pessoas vivendo abai- 730 projetos inscritos, 289 são na
xo da linha de pobreza. Uma rea- Um dos convênios assinados
área de Segurança e Educação Ali-
lidade difícil de ser compreendida implementa o Plano de Ação em
mentar. Neste tema os pesquisado-
em um país que bate recorde de Ciência, Tecnologia e Inovação
res poderão desenvolver tecnolo-
produtividade em safras agrícolas. para o Combate à Fome e Miséria,
gias e métodos de educação ali-
O governo aposta nas investiga- onde serão investidos R$ 43 mi-
mentar e controle de substâncias
ções realizadas pelos grupos de lhões. Os recursos serão usados em
antinutricionais; também serão
pesquisadores de todo o Brasil que pesquisas, serviços e difusão de
avaliados hábitos alimentares e as
irão estudar as diversas áreas da se- C&T nas áreas de segurança ali-
necessidades funcionais de cada
gurança e educação alimentar. A mentar, agroindústria, agropecuá-
etnia, baseados em gênero, ida-
expectativa é que os resultados se- ria de pequeno porte e agricultura
de, renda e territórios. Os recursos
jam usados em políticas públicas familiar, tecnologia social aplicada
vão ser utilizados para bolsas de
e no Programa Fome Zero. à merenda escolar e incubadoras
estudos (de R$ 400 a R$ 4 mil),
de cooperativas populares volta-
equipamentos, materiais e custeio.
das ao Fome Zero.
Os convênios de cooperação Os projetos terão financiamentos
técnica assinados pelos ministros Os projetos serão contratados a- no valor máximo de R$ 100 mil
Roberto Amaral (MCT) e José Gra- través de Chamadas Públicas rea- cada, entre gastos com custeio (ma-
ziano (MESA), em novembro, irão lizadas pela Finep – Financiadora terial de consumo) e capital (equi-
permitir o desenvolvimento de de Estudos e Projetos – unidade de pamentos).

Jornal
Jornal C&T
C&T -- 33
ÁB rasil
cooperação internacional

frica parceria para a


inclusão social

A
África é a nova frontei- atuação em pesquisas de biotec- de trabalho firmados com Moçam-
ra de cooperação do nologia e áreas prioritárias de cada bique e Angola buscam fomentar a
governo brasileiro para país, implantação de novos proje- produção científica e tecnológica por
a formação de parceri- tos e transferência de tecnologia em meio da capacitação de recursos hu-
as em educação, ciência e tecno- informação digital. “Vamos criar manos, do reforço à formação acadê-
logia com o objetivo de promover condições para incrementar a for- mica e da mobilidade de pesquisado-
o desenvolvimento sustentável e a mação de quadros acadêmicos e res e cientistas.
inclusão social, reduzindo as desi- a troca de informações tecnoló-
gualdades sociais e melhorando as gicas com o continente”, afirmou O acordo com a África do Sul es-
condições de vida das popula- o ministro, que integrou a comiti- tabeleceu o primeiro marco jurídico
ções. Na viagem do ministro da va do governo brasileiro à África. formal entre os dois países e fixa as
Ciência e Tecnologia, Roberto A- bases para a troca de experiências
maral, ao continente, em outubro, A participação nos programas na formulação de políticas de ino-
foram definidos os primeiros acor- de intercâmbio será aberta a cien- vação, pesquisa e desenvolvimento
dos e programas de trabalho de co- tistas e pesquisadores para perío- da ciência básica. O acordo se-
operação tecnológica com Mo- dos de pesquisa e visitas técnicas leciona 10 áreas prioritárias que en-
çambique, Angola e África do Sul. tanto no Brasil quanto na África. globam tecnologias agrárias, inova-
Os projetos que receberão apoio ção industrial, biodiversidade,
Essa primeira iniciativa envolve e incentivo do governo brasileiro biotecnologia, energia, tecnologias
propostas de ações nas áreas de serão selecionados pelo CNPq atra- limpas, tecnologias da informação e
formação de pessoal, intercâmbio vés de um comitê gestor. O objeti- comunicações, pesquisa de materi-
de cientistas e pesquisadores com vo é a troca de experiências, a ge- ais, ciência espacial e astronomia.
ração de conhe-
O ministro Roberto cimento e a ele- O programa com a Angola dará
Amaral e o ministro vação da capa- destaque à instalação de uma bi-
das Artes, Cultura, cidade cientí- blioteca digital de teses e disserta-
Ciência e Tecnologia fico-tecnológica ções naquele país. Os programas
da África do Sul,
dos países. com Moçambique seguem a mes-
B. S. Ngubane,
assinam Acordo de ma linha de atuação, mas adequa-
Cooperação Científica Os acordos dos ao perfil do país. Serão focados
em Pretoria. foram feitos iso- nas pesquisas conjuntas em
ladamente com biotecnologia, tecnologias da infor-
cada um dos mação e comunicação científica,
três países, mas ciências humanas e sociais, meio
envolvem uma ambiente e desenvolvimento sus-
política direcio- tentável, saúde, recursos hídricos,
Ascom / MCT

nada ao conti- divulgação científica e a elabora-


nente africano. ção de programas e projetos na-
Os programas cionais em C&T.

Jornal C&T - 4
‘redenção’ Nordeste ganha Instituto Nacional do Semi-Árido
Claúdia Soares

C
ampina Grande (PB) como principal diretriz de sua ges-
sediará a primeira uni- tão a desconcentração de investi- O ministro teve o privilé-
dade federal de gestão mentos em C&T; a criação do gio de anunciar pessoalmen-
de pesquisa e desenvol- INSA representa uma ação efetiva te a escolha de Campina
vimento científico e tecnológico do nesse sentido. Grande para sediar o Institu-
Nordeste. O presidente Luiz Inácio to Nacional do Semi-Árido.
Lula da Silva e o ministro da Ciên- Gestão compartilhada
Veja, a seguir, a íntegra do
cia e Tecnologia Roberto Amaral

desconcentração
O Instituto funcionará na sede discurso do ministro.
anunciaram a instalação do Institu- da Fundação Parque Tecnológico,
to Nacional do Semi-Árido (INSA) uma área de concentração de P&D “Agradeço a oportunida-
durante visita à Paraíba, em outu- de Campina Grande. Para sua ins- de que o presidente me deu
bro. Além de organizar e difundir talação, será investido R$ 1,3 mi- de anunciar, certamente, a
toda a produção científica brasilei- lhão com recursos do MCT e do mais importante decisão
ra sobre o semi-árido, o INSA pro- governo da Paraíba. que o Ministério da Ciência
porá programas e subsidiará políti- e Tecnologia pôde adotar
cas públicas que minimizem os pro- Apesar de sediado na Paraíba, a
até aqui.
blemas provocados pela seca que administração do Instituto será co-
castiga 22 milhões de pessoas nos legiada, com o envolvimento dos O presidente da Repúbli-
Estados nordestinos, parte do Mara- gestores públicos federais e estadu- ca determinou a criação, a
nhão e de Minas Gerais. ais e da área acadêmica de todos instalação do Instituto Naci-
os Estados. Em novembro, o minis- onal do Semi-Árido de
O Instituto funcionará tro Roberto Amaral nomeou o Con-
como uma grande re- Campina Grande.
selho Deliberativo que terá até o fi-
de de pes- nal de fevereiro de 2004 para Com este ato, o Governo
quisa formatar sua estrutura e diretrizes e Federal dá início à redenção
capaz assessorar o MCT até a implantação de uma região na qual
definitiva do Instituto. Esse Conse- habitam 22 milhões de
lho será formado por representan- brasileiros, que se estende
tes de gestão pública de C&T no
do norte de Minas até o leste
âmbito federal e estadual, Fórum de
do Maranhão. São 900 mil
Secretários de C&T do Nordeste e
d e das Fundações de Amparo à Pes- quilômetros quadrados.
e n - quisa (FAP´s), comunidade acadê- Sua finalidade é fixar o
volver mica e instituições de pesquisa. homem na terra, fazer com
todos os
órgãos e en- Uma das primeiras ações já que ele conviva com a
tidades da re- acertadas pelo ministro com o natureza e a coloque a
gião do semi-ári- Fórum de Secretários de C&T do serviço da igualdade social e
do que trabalhem Nordeste foi a abertura de edital no do desenvolvimento.
em prol do desenvol- valor de R$ 7,5 milhões, em con-
junto com o Banco do Nordeste, Esse Instituto vai consoli-
vimento regional. “Mais
do que pesquisa, o Insti- para projetos de pesquisa da Rede dar toda a sabedoria, todo o
tuto deverá atuar como Genoma do Semi-árido. conhecimento reunido no
indutor do desenvol- Nordeste, em torno do semi-
Segundo o secretário para In- árido. Vai agrupar todos os
vimento. Não é só es-
clusão Social, Jocelino de Mene-
tudar as causas do proble- institutos públicos e priva-
zes, esta é uma ação efetiva de des-
ma, mas propor solu- dos, vai construir uma rede
concentração do MCT para o Nor-
ções”, ressaltou o ministro. das universidades e vai servir
deste. “O Ministério entra na região
O MCT tem unidades de para fazer a gestão de pesquisa, de- de ponto de referência para
pesquisa e órgãos vinculados senvolvimento e inovação neces- decisões do governo da
em todas as regiões do Brasil, sárias para o Nordeste. É um mar- República.”
com exceção do Nordeste. Ao co referencial na história da ciên-
assumir, o ministro estabeleceu cia e tecnologia do país”, ressaltou.

Jornal C&T - 5
tecnologia para Experiência vitoriosa dos Centros Vocacionais
É mais um passo para a consolidação da política do MCT de
Andrea Fontenele

A
rgentino, um cearense mais usando a tecnologia disponí- científico que está sendo estendi-
de 42 anos, é um obsti- vel. “Queria ficar na minha terra, da pelo MCT a nove Estados do
nado, desses que acre- mas pra isso tinha que dar certo”, Nordeste e mais o Espírito Santo
ditam poder mudar o conta Argentino, com uma ponta (veja pág. 8).
desconcentração

seu próprio destino. E conseguiu. de satisfação.


De acordo com o coordenador
Ele deu a volta por cima após per-
do Centro Vocacional de Tauá,
der toda a sua plantação de uva
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

com a seca que castigou o Açude Os 10 mil cursos Francisco Augusto de Souza Junior,
Várzea do Boi, no município de profissionalizantes os CVTs oferecem capacitação e
tecnologia aliadas à vocação de
Tauá (acerca de 400 km da capi- oferecidos pelos CVTs cada região no sentido de conven-
tal Fortaleza), onde nasceu. Desi- do Ceará já formaram cer o homem do campo a aprovei-
ludido, largou o sertão e foi tentar
a sorte em Manaus como 200 mil pessoas no tar aquilo que sua terra dá, transfor-
biscateiro. Não deu certo. Argen- interior do Estado mando esse conhecimento em ge-
ração de emprego e renda.
tino voltou pra casa e foi criar ca-
bras, uma atividade comum na re- Os Centros oferecem cursos de
Hoje ele possui 200 matrizes no
gião. Mas queria profissionalizar o biologia, informática, agricultura
seu criadouro. Um plantel de pri-
negócio. Procurou em sua cidade orgânica, condimentos de hortali-
meira com animais que chegam a
o Centro de Vocação Tecnológica ças, eletrônica básica, eletrônica,
valer R$ 500. Mais de oito vezes o
(CVT), um programa do qual ou- ecoturismo e produtos de limpeza,
preço praticado no mercado, em
vira falar bem. Fez o curso de ma- entre outros. Cada um é formado
torno de R$ 60.
nejo produtivo de ovinos e capri- por laboratórios de biologia, quí-
nos junto com outros 32 criadores Assim como Argentino, outras mica, física, biologia, informática e
da região. A partir dali, sob a ori- 200 mil pessoas foram beneficia- eletromecânica.
entação dos técnicos do CVT, re- das pelos mais de 10 mil cursos ofe-
solveram montar uma associação recidos nos CVTs do Ceará. Uma Segundo o diretor de extensão
e estão trabalhando com o melho- experiência bem sucedida de tecnológica do Instituto, Antônio
ramento genético daqueles ani- interiorização do conhecimento Hélder Sampaio Nunes, os cursos

Argentino em seu criadouro


Fotos: Geraldo Silva

de animais (foto àesquerda)

Técnicos do CVT orientam moradores de Tauá, no Ceará (foto abaixo)

Jornal C&T - 6
inclusão social
Tecnológicos (CVTs) é estendida a 10 Estados do país.
desconcentração do desenvolvimento científico e tecnológico

têm sido a opção de aprendizado oportunidade de emprego para a quero aprender mais e seguir a mi-
de muitas pessoas que não tiveram população do interior, aos jovens nha vocação”, afirmou.
condições de terminar nem o en- que têm a possibilidade do primei-
De enfermeira a empresária
sino médio. ro emprego.

desconcentração
Dona Evanjunia era enfermeira
Pioneirismo Primeiro emprego
e depois de fazer os cursos de
Os Centros de Guilherme Feitosa Pereira, 19 “Qualidade no atendimento” e
Vocação Tecnológi- anos (foto), é um dos muitos jovens “Gestão empresarial” no Centro de
ca estão presentes cearenses beneficiados com o pri- Aracati (CE) abriu uma loja de con-
em 40 municí- meiro emprego. Depois de fazer al- fecções e artesanato. “Eu sempre
pios do Cea- guns cursos no Centro de Tauã, fiz artesanato e a visão que adquiri
rá, um proje- entre eles o de informática, Gui- nos cursos foi suficiente para abrir
to que co- lherme conseguiu uma ocupa- meu próprio negócio. Realizei um
meçou em ção. A partir daí ele só fez pros- sonho e virei até empregadora”,
1995 e ho- perar na vida. “Consegui o comemora.
je é coorde- meu primeiro emprego em
nado pelo um supermercado, lá mesmo eu
Instituto Centec, criei um programa de controle de
uma Organização Social. S ã o estoque de material e comecei a
mais de 800 colaboradores, entre fazer bicos para os amigos’”, de-
professores, técnicos e profissionais clarou orgulhoso. Em pouco tem-
em geral. po ele conseguiu uma vaga de au-
xiliar administrativo em uma loja
Para o diretor-presidente do Ins- da cidade e sempre que é solicita-
tituto, Antônio Amaury Fernandes, do oferece assessoria na área de in-
através dos CVTs tem sido possí- formática. “Fazer o curso do CVT
vel trabalhar a inclusão social, ofe- abriu as portas de um novo mun-
recendo educação profissional e do para mim. Daqui para frente eu Laboratório de computação no CVT

Centros maranhenses já beneficiaram 17 mil alunos


A experiência do Maranhão cesso ensino-aprendizagem, pro- empreendedores em setores como
com os centros profissionalizantes, movendo cursos de qualificação tecnologia do leite e eletrecidade
iniciada em março de 2002, já é profissional de nível básico e de ini- básica. São oferecidos, ainda,
um sucesso. ciação em ciências e informática. atendimento e serviços tecnológi-
cos que estimulam o desenvolvi-
Lá os espaços são chamados de Hoje, são 10 Cetecmas que dis- mento de cadeias e arranjos pro-
Centros de Capacitação Tecno- seminam conhecimentos tecnoló- dutivos locais.
lógica do Maranhão (Cetecma) e gicos em benefício do desenvolvi-
fazem parte de projeto do gover- mento econômico e social do Es- Os Cetecmas contam com uma
no do Estado em parceria com a tado. Os centros são dotados de equipe de professores com pós-gra-
Fundação Getúlio Vargas. Para o instalações e equipamentos moder- duação (MBA) em Gestão e Ino-
gerente de Ciência, Tecnologia, nos. Seus laboratórios estão prepa- vação Tecnológica e alguns (20%)
Ensino Superior e Desenvolvimen- rados para realizar cursos de com titulação de mestre. Desde a
to Tecnológico do Estado, Othon capacitação de jovens e adultos sua implantação os Cetecmas já
Bastos, os Cetecmas representam nas áreas de ciências, informática, atenderam mais de 17 mil alunos
um recurso inovador para o pro- formação de agentes produtivos e em um total de 960 turmas.

Jornal C&T - 7
apoio parlamentar
Eugênio Novaes

D
iante de mais de 40 par- ção de infra-es-
lamentares de 10 Esta- trutura física e
dos, nove do Nordeste capacitação
e o Espírito Santo, o mi- técnica das e-
nistro da Ciência e Tecnologia quipes gestoras
Roberto Amaral, assinou convênio das unidades.
que abre caminho para a interiori-
zação do desenvolvimento cientí- “Nós, em
desconcentração

fico e tecnológico. O MCT repas- nome do go-


sou R$ 5 milhões para a implanta- verno Lula, es-
ção de Centros Vocacionais Tec- tamos manten-
nológicos, unidades que criam o- do uma ver- Ministro anuncia aos parlamentares a implantação dos CVTs em 10 Estados
portunidade de qualificação pro- dadeira cruza-
fissional e geração de renda, agre- da para que o país se convença de O coordenador da bancada do
gando inovação aos processos pro- que só teremos desenvolvimento Nordeste, deputado federal Ro-
dutivos locais. se mudarmos completamente a berto Pessoa (PL-CE), ressaltou a
nossa política de ciência e tec- importância do empenho dos par-
O acordo assinado com os Es- nologia”, disse o ministro ao defen- lamentares no sentido de via-
tados de Alagoas, Bahia, Ceará, der a política de desconcentração bilizar a assinatura do convênio.
Maranhão, Paraíba, Pernambuco, dos investimentos em C&T. Para Para ele, a região Nordeste preci-
Piauí, Rio Grande do Norte e Espí- ele, não há como o Nordeste se de- sa de investimentos em C&T para
rito Santo garante recursos da or- senvolver e encontrar soluções minimizar os desníveis regionais
dem de R$ 500 mil a serem inves- para os seus problemas sem uni- e essa iniciativa é mais um passo
tidos em equipamentos, adequa- versidades e pesquisadores. nesse sentido.

entrevista: Ariosto Holanda


“Esperança para reduzir analfabetismo tecnológico”
O deputado Ariosto Holanda (PSDB / grama dos Centros Vocacionais Tecnológicos,
CE), como ex-secretário de Ciência e que agora ganha dimensão nacional. Nesta en-
Tecnologia do Ceará, foi quem ajudou trevista ao Jornal CT, ele destaca os principais pon-
Gabinete

a implantar no Estado, em 1995, o pro- tos do programa.

Jornal C&T – Qual a importância tem o papel da inclusão social, re- Jornal C&T – O convênio estimu-
dos CVTs para melhoria da quali- lativa ao conhecimento tecnoló- lará os Estados a criarem um sis-
dade de vida das populações? gico, e sendo esse o compromisso tema de Centros, como no Ceará
Dep. Holanda – O CVT, como o maior do ministro Roberto Amaral, e Maranhão?
próprio nome diz, Centro Voca- não tenho dúvidas sobre o suces- Dep. Holanda – O convênio que
cional Tecnológico, procura tra- so desse projeto. Essa colocação o ministério assinou garante, no
balhar com a vocação da região também foi feita pelo ministro José primeiro momento, a implanta-
formando pessoas e informando Dirceu em reunião com a banca- ção de um CVT em cada Estado,
sobre as inovações tecnológicas. O da do Nordeste, quando disse que este ano. Paralelamente, um pro-
CVT, pela sua missão, leva sobre- a implantação desses centros era tocolo será assinado com cada
tudo esperança para as popula- uma prioridade do governo Lula. Estado para implantação de 20
ções que estão, ainda hoje, mer- Jornal C&T – Como os Estados centros, num total de 200 ao lon-
gulhadas num verdadeiro analfa- podem participar desse processo? go de três anos. O que está se
betismo tecnológico. Dep. Holanda – O apelo para im- propondo é que cada Estado do
Jornal C&T – O que acha da ini- plantação de CVT é nacional. O Nordeste até o final de 2006 te-
ciativa de ampliar o projeto dos ministro tem consciência da impor- nha instalado 20 CVTs. Existem
CVTs? tância do programa, e com certe- iniciativas paralelas como a do
Dep. Holanda – Acho não só lou- za ele o estenderá no próximo ano Estado de Minas Gerais que pre-
vável mas oportuna. Como o CVT a todos os Estados da federação. tende implantar 80 CVTs.

Jornal C&T - 8
Gabinete
difusão do
conhecimento
O
Plano Plurianual do tão bem sucedida quanto inova- ca de ensino
Lúcio Alcântara
Ceará, elaborado para dora, que hoje serve de modelo com os laborató-
o período de 2004 a para o Brasil. São os Centros Voca- rios de Física,
2007, eleva de 55% pa- cionais Tecnológicos (CVTs), que já Química e Biologia, usados para
ra 65% o percentual de investi- somam 40 unidades - uma em For- treinamento dos professores, que
mentos do Governo Estadual nos taleza e 39 no Interior –, todas inter- trazem os alunos para práticas la-
municípios do Interior, a partir de ligadas por uma rede de videocon- boratoriais.
2006. Ao trabalhar em um mapea- ferência, as Infovias do Desenvolvi-
mento econômico efetivamente mento para educação à distância. Cada CVT interligado às Infovias
capaz de favorecer aos vastos e é também um posto avançado para
muitas vezes esquecidos rincões Distribuídos em todo o território o ensino superior, pois está conec-
do Interior, o Governo assume a cearense, os CVTs auxiliam no es- tado à Universidade Federal do Ce-
importância de transferir tecnolo- forço de equilibrar o desenvolvi- ará (UFC), que tem projeto aprovado
gias também para mento, em sintonia com as poten- no Ministério da Educação para mi-
as áreas que não cialidades dos nistrar cursos de licenciatura plena a
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

integram a Região O que acontece no municípios. distância em Matemática, Física,


Metropolitana de Nordeste evidencia a São eles a pla- Química e Biologia. Também estão
Fortaleza. urgência da criação de focos taforma para a na mesma rede a Universidade Es-

artigo
difusão da po- tadual do Ceará (Uece), a Universi-
descentralizados de
Hoje, números lítica de Pes- dade Vale do Acaraú (UVA), a Uni-
discrepantes sinali-
desenvolvimento. quisa e De- versidade Regional do Cariri (Urca)
zam uma realidade Nossa arma não poderia senvolvimen- e Escola de Saúde Pública.
desigual: nos muni- ser outra senão to (P&D) no
cípios da Região o conhecimento Estado, ofere- Outra vantagem potencializa-
Metropolitana, que cendo cursos dora do sucesso dos CVTs é a par-
somam 3,42% do território cearense, de educação profissional básica e ceria entre o Governo e as prefeitu-
concentram-se 42% da população, outras atividades que preparam o ras municipais. Algumas prefeituras
62% do Produto Interno Bruto (PIB), cidadão para o mercado de traba- oferecem a sede física e o Estado
69% dos empregos e 90% dos tri- lho e os impactos da globalização. entra com as reformas necessárias,
butos arrecadados. equipamentos e instrutores. Outros
Os centros integram um sistema municípios ajudam na manuten-
Esse quadro, bastante represen- de educação profissional ligado ao ção e indicam as demandas locais
tativo do que acontece em todo o Instituto Centec, que conta com três para os cursos profissionalizantes.
Nordeste, evidencia o quanto é ur- unidades de en-
A experiên-
A política de
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

gente a criação de focos descentra- sino superior para


cia dos CVTs no
lizados de desenvolvimento. Nos- a formação de tec- desconcentração do Ceará é um mo-
sa arma não poderia ser outra se- nólogos nas cida- MCT trará investimentos e delo que pode
não o conhecimento, cuja difusão des de Limoeiro empregos para
traz em si um enorme potencial ge- do Norte, Juazei- ser adotado em
regiões que estão na todo o Brasil, tra-
rador de melhoria na qualidade de ro do Norte e So-
periferia do zendo benefí-
vida da população. A política de bral. Há três incu-
desconcentração do MCT é a face badoras de novos
desenvolvimento científico e cios para estu-
federal desta estratégia que trará in- negócios nos tecnológico dantes, professo-
vestimentos, empregos e novas CVTs e outras três res e toda a co-
oportunidades para regiões que nas unidades dos Centecs. Proces- munidade. Ninguém está imune
hoje se encontram na periferia do sos e produtos que geram renda em aos efeitos da globalização e do
desenvolvimento científico e tec- novas empresas incubadas no sis- avanço tecnológico, que ampliam
nológico. tema Centec vêm acompanhados, os ganhos de produtividade, mas
em muitos casos, de consultoria que eliminam empregos. É essen-
Fortaleza conta com diversas dada pelos próprios instrutores para cial que se estabeleçam novos pa-
universidades e instituições de qua- obtenção de crédito no Banco do drões de educação, difusão do co-
lificação, com destaque para o cha- Nordeste ou Sebrae. nhecimento e qualificação para
mado “Sistema S” (Sesi, Senai, Sesc, antigos e novos postos de trabalho.
Senac e Sebrae). No Interior do Ce- Além de cursos profissionali-
ará, destaca-se uma experiência zantes, o CVT atende a rede públi- Lúcio Alcântara é governador do Ceará

Jornal C&T - 9
ciência
Nordeste ganha Instituto que será referência mundial em estudos do cérebro
Mônica Corrêa da Silva

O
Ministério da Ciência e lhar em Natal. “Esse projeto pode O projeto do Instituto Inter-
Tecnologia destinou R$ iniciar a reversão de uma diáspora nacional de Neurociência não será
1 milhão para a implan- científica que assola o Brasil há restrito à pesquisa. A proposta é de
tação do Instituto Inter- décadas”, comemora o neurofisio- que disponha, também, de um
nacional de Neurociência, em Na- logista Miguel Nicolelis, principal centro de saúde mental infanto-ju-
tal, no Rio Grande do Norte, o pri- idealizador do Instituto brasileiro, venil, o primeiro deste tipo no Nor-
meiro centro brasileiro de referên- co-diretor do Centro de Neuroen- deste. Os profissionais escolhidos
cia internacional em estudos do cé- genharia e professor de Neurobio- para trabalhar no centro de saúde
desconcentração

rebro. O investimento, anunciado logia e Engenharia Biomédica da serão incumbidos de atender a cri-
pelo ministro Roberto Amaral, é a- Duke University em Durham, Es- anças com distúrbios neurológicos,
penas o desembolso inicial para tados Unidos. cognitivos, psiquiátricos e de
implantação do mais ousado pro- aprendizado. Atuarão também no
jeto de medicina moderna no Nor- O Instituto também vai contar atendimento às famílias com his-
deste. A iniciativa é parte funda- com outros 10 laboratórios para tórico de dependência química e
mental do programa de descon- cooperação internacional. Os Es- alcoolismo. “Queremos dar a es-
centração implantado pelo MCT tados Unidos, a Europa e o Japão, sas crianças tudo o que for neces-
destinado a ampliar as frentes de considerados líderes em Neuro- sário para que no futuro sejam
desenvolvimento em Ciência e ciência, estão interessados em agentes de transformação social, lí-
Tecnologia no país e atrair investi- transformar o centro brasileiro no deres do processo de construção
mentos e pesquisadores brasileiros elo de ligação da América Latina do Brasil”, afirma Nicolelis.
que optaram por atuar no exterior. com a rede internacional de insti-
tutos de pesquisas desta área.
O Instituto de Neurociência será
“Apesar de existirem grupos mui-
instalado em Natal (RN) e contará
to bons no Brasil, Chile, Ar-
com 10 laboratórios destinados à
gentina, México e outros
pesquisa sobre o funcionamento
países latino-america-
do sistema nervoso. As pesquisas
nos, eles ainda não
nesta área têm se mostrado essen-
desempenham
ciais para a medicina pois criam al- um papel de
ternativas para a recuperação de liderança. A
funções do cérebro, de motrici- idéia é fa-
dade em casos de lesão em paci- zer com
entes tetraplégicos e degeneração que o Ins-
do sistema nervoso central (Mal de tituto de
Parkinson, Mal de Alzeheimer). A Natal in-
importância da Neurociência tam- sira o
bém se reflete na economia já que Brasil e
a indústria da biotecnologia tende todo o
a se basear em aplicações médi- conti-
cas do sistema nervoso. nente
nesta re-
Os laboratórios serão chefiados
de.Ele
pelos melhores pesquisadores bra-
será res-
sileiros que hoje atuam dentro e ponsável
fora do Brasil, selecionados por por gran-
uma comissão internacional for- des projetos
mada por cientistas de renome de pesquisa
mundial. Vários jovens neurocien- mas também
tistas brasileiros de destaque inter- permitirá o trei-
nacional que optaram por migrar namento e aper-
para o exterior em busca de me- feiçoamento de alu-
lhores oportunidades estão dispos- nos e professores”,
tos a retornar ao Brasil para traba- avalia o cientista.

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10
descentralizar
para unir
D

Divulgação
entre os múltiplos e com- científica em apenas alguns cen-
plexos problemas que a tros de excelência do sul do Brasil,
sociedade brasileira en- será perpetuar a enorme dívida que
frenta, a perpetuação a nação brasileira tem para com a
dos gritantes contrastes regionais maioria da sua população, negan-
constitui-se no maior obstáculo ao do a ela o acesso aos meios de pro-
anseio de resgatar a cidadania de dução e consumo do conheci-
milhões de brasileiros e dar um pas- mento científico, bem como o usu-
so real no processo de edificação fruto dos benefícios econômicos,
de uma nação verdadeiramente de- educacionais e sociais que deles
mocrática. A triste realidade é que advêm.
essa cruel e perpétua desigualdade
regional continua a frear qualquer Cabe enfatizar que um modelo
tentativa de se criar no Brasil uma de descentralização científica não
sociedade mais equânime. é incompatível com a manutenção
dos centros de excelência já exis- Miguel Nicolelis
A sociedade brasileira e seus go- tentes no país. Muito pelo contrá-
vernantes precisam se conscientizar rio. O que se propõe é a multipli- Neurociência de Natal foi acolhi-
da pelos Ministérios da Ciência e

artigo
que a única chance do Brasil dei- cação dos exemplos de qualidade
xar de ser o eterno país do futuro é sem prejuízo dos bolsões de méri- Tecnologia e da Educação. Tal
investir maciçamente na educação to já estabelecidos no país. Na rea- projeto também chamou a atenção
do seu povo, em particular nas re- lidade, a experiência desses cen- da comunidade científica interna-
giões economicamente menos de- cional, merecendo destaque na
senvolvidas. Acima de tudo, é pre- poderosa e conservadora revista
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

ciso ensinar aos jovens que não é


O modelo de Nature. A razão para tanto entu-
crime ousar, criar e sonhar grande.
descentralização siamo é simples. Basicamente, esse
científica não é projeto propõe criar um Campus
O processo de desenvolvimen- incompatível com a voltado para o estudo do cérebro
to humano no Brasil clama por uma manutenção dos centros de que não se limitará à construção
distribuição melhor e mais justa das excelência já existentes de um instituto de pesquisa de pon-
oportunidades para geração e dis- no país. Muito ta em Neurociência. Tal instituto
seminação da atividade científica. pelo contrário conviverá lado a lado com uma es-
Cabe, portanto, assumir de vez o cola dotada de todos os recursos
inevitável. Sem uma política de ges- tros é fundamental no processo de educacionais mais modernos e
tão científica que permita a des- estabelecimento de novos grupos com o primeiro Centro de Saúde
centralização, por todo o territó- de pesquisa pelo Brasil. Mental Infanto-Juvenil de todo o
rio nacional, dos meios de pro- Nordeste, voltado para o acompa-
dução do conhecimento cientí- Conscientes de que a descentra- nhamento e tratamento de crian-
fico e tecnológico, o Brasil não lização da produção científica é a ças com distúrbios neurológicos e
conseguirá competir numa única verdadeira alternativa para o psiquiátricos.
economia mundial, hoje crescimento educacional, científico
tão globalizada quanto e tecnológico, um grupo de neuro- Dentro da nossa proposta, o Ins-
dependente da ciên- cientistas brasileiros, todos radicados tituto de Natal será apenas o primei-
cia para solucionar no exterior, apresentou ao governo ro de muitos outros projetos seme-
os grandes proble- brasileiro uma proposta inédita: usar lhantes. O sonho é pontilhar o terri-
mas ambientais, a produção de ciência de ponta tório nacional, do Piauí ao Chuí,
econômicos e sociais como um agente de transformação com institutos de ciência que pos-
que comprometem o futu- social. Nesse projeto, propunha-se sam ajudar o nosso país a encon-
ro da humanidade. a criação do primeiro Instituto Inter- trar soluções para seus problemas
nacional de Neurociência do Brasil, econômicos e tecnológicos.
A consequência mais na cidade de Macaíba, região me-
direta da manutenção de tropolitana de Natal. Doutor em Neurofisiologia, e
um modelo aristocrático professor de Neurobiologia e Engenharia
de produção científica, Rapidamente, a proposta de cri- Biomédica na Duke University em Durham,
que privilegia a produção ação do Instituto Internacional de nos Estados Unidos.

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Arquivo FVA

Projeto Genoma

divisor d
Cientistas brasileiros da Rede Genoma fazem seqüênciamento
no Rio Negro, na Amazônia, que ajuda a combater doenças e
genoma

Adriane Cunha

A
s águas escuras e trans- explica a coordenadora-geral da natura de 109 autores, número in-
lúcidas da bacia do Rio Rede Genoma, Ana Tereza Vas- comum para artigos científicos,
Negro, um dos maiores concelos. Essas características po- mas que reflete a experiência do
tesouros ecológicos da dem ser de grande contribuição trabalho cooperativo entre tantos
Amazônia, têm características áci- para a ciência em áreas humanas laboratórios nacionais. Os autores
das que não permitem a prolifera- importantes, da saúde ao meio am- trabalharam a partir de vários pon-
ção de insetos, não são próprias pa- biente. “Foi sua abundância no tos do país, numa experiência ino-
ra a agricultura e têm pouca quan- Rio Negro que motivou sua esco- vadora de interação em rede.
tidade de animais terrestres e aquá- lha como objeto de estudo, além
ticos. Mas a misteriosa água do Ne- da perspectiva de gerar produtos Para o pesquisador americano
gro abriga uma riqueza natural que de valor econômico”, esclarece Andy Simpson, primeiro coorde-
pode ajudar o homem a combater Ana Lúcia Assad, coordenadora de nador-geral da Rede Genoma Bra-
doenças, pragas e até a poluição. Biotecnologia do Ministério da Ci- sileira, o programa demonstra o
Trata-se da chromobacterium vio- ência e Tecnologia. nível de competência do Brasil na
laceum – uma bactéria presente área e consolida a posição do país
nas águas e nas margens do Rio Reconhecimento internacional como um sério colaborador para
Negro que teve todas as suas ca- O grupo de cientistas da rede o seqüenciamento de genomas na
racterísticas desvendadas pelo pro- genômica tem motivos para come- escala mundial. “O trabalho reve-
grama Genoma Brasileiro. morar o sucesso do trabalho. Em la um grande potencial para a ex-
setembro, o artigo com a descrição ploração biotecnólogica da diver-
Em um esforço único, cerca de sidade bacteriana que existe nos
200 pesquisadores brasileiros tra- da pesquisa foi aceito em uma das
três publicações científicas mais im- ecossistemas tropicais”.
balharam em uma rede para reali-
zar o seqüenciamento do DNA do portantes do mundo. Os resultados Simpson disse ainda que o ta-
microorganismo. Ao todo, 25 labo- do seqüenciamento da chromo- lento do grupo tornou o programa
ratórios espalhados de norte a sul bacterium violaceum foram regis- possível e produziu uma peça de
do país analisaram os genes da trados no Relatório da Academia investigação científica que pode
chromobacterium violaceum. Um Nacional de Ciências (PNAS) dos abrir novas frentes de pesquisa. “O
microorganismo capaz de reagir às Estados Unidos. O artigo “The sucesso do grupo enfatiza mais
mais adversas situações. “Ela é uma complete genome sequence of uma vez como, efetivamente, um
bactéria de vida livre que, ao se de- Chromobacterium violaceum grupo de pesquisa pode alcançar
fender dos ataques da natureza, reveals remarkable and exploitable a qualidade na ciência. A publica-
produz anticorpos naturalmente”, bacterial adaptability” teve a assi- ção no PNAS é uma indicação do

Jornal
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de águas
o genético de bactéria encontrada
a despoluir áreas de garimpo contaminadas

genoma
nível de excelência alcançado e ga- capacitação de recursos humanos adaptar aos inúmeros ambientes
rantirá a atenção de todo o mundo como numa metodologia de traba- para depois explorar suas poten-
para o trabalho realizado”. lho em rede”, disse a coordenado- cialidades biotecnológicas.
ra da Rede, Ana Tereza Vascon-
Atualmente, o Brasil ocupa a ter- celos. Ela também liderou o traba- A Chromobacterium produz
ceira posição mundial em seqüen- lho da central de bioinformática, um corante violeta com proprieda-
ciamento de microorganismos, fi- localizada no Laboratório Nacio- des antibióticas, a violaceína, que
cando atrás dos Estados Unidos e nal de Computação Científica poderá ser empregado no comba-
Inglaterra, respectivamente. (LNCC), unidade de pesquisa do te a infecções bacterianas e tumo-
MCT, esquema fundamental para res. Ganhou o nome chromobac-
Seqüenciamento recorde terium violaceum por produzir este
o controle dos dados. “Quando
O seqüenciamento da bactéria um pesquisador encontrava uma pigmento de cor púrpura – a vio-
foi realizado de uma forma surpre- dificuldade, sabia que podia con- laceína – que atualmente já é em-
tar com uma rede de conhecimen- pregada em tratamentos derma-
endentemente rápida para o nível
to para enfrentar o problema”. tológicos.
do estudo realizado. Em 15 Esta-
dos, do Rio Grande do Norte ao A versátil bactéria poderá ser
Aplicações
Rio Grande do Sul, cada grupo fez aplicada tanto na área médica,
uma parte do seqüenciamento. O próximo passo dos pes- quanto na produção de pele artifi-
Graças a essa cooperação técnica quisadores será investigar as pro- cial, e na área de farmacologia co-
o consórcio conseguiu concluir o priedades industriais da bactéria. mo antibiótico. O microorganismo
estudo em tempo recorde: dois No estudo foi descoberto que a pode ainda levar ao desenvolvi-
anos. Neste período, o grupo iden- bactéria possui potencial para uso mento de bioplásticos, isso porque
tificou 4,2 milhões de pares de ba- no meio ambiente, agindo como a Chromobacterium é um dos ra-
ses, publicou 162 pesquisas e en- agente despoluidor em áreas com ros microrganis mos que sintetizam
caminhou o pedido de 29 paten- alto nível de contaminação de me- polihidroxialcanoatos (PHAs). Es-
tes de genes identificados. Com tais, reduzindo impactos ambien- ses polímeros orgânicos têm carac-
esse resultado a rede de pesquisa tais em áreas de garimpo. Também terísticas muito semelhantes às do
decidiu seqüenciar outro micro- tem fins agrícolas, atuando como polipropileno e polietileno, que
organismo – o Mycolplasma sino- biocida contra bactérias e fungos. são usados na produção de plásti-
viae, que está em fase de conclu- Segundo os pesquisadores, primei- co, mas podem ser reintegrados ao
são. “A experiência foi um suces- ro deve-se entender os mecanis- meio ambiente, produzindo plás-
so, tanto em produção científica e mos que a bactéria utiliza para se ticos biodegradáveis.

Jornal
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A pesquisadora

Silvia de Medeiros
Lucymara Lima no
laboratório da
Universidade
Federal do Rio
Grande do Norte

Projeto Genoma: antes e depois


O seqüenciamento da Chromo- “Podemos dividir a história de tação de recursos em outras agên-
genoma

bacterium Violaceum representou nosso departamento em dois mo- cias de fomento. “Conseguimos re-
mais que um avanço na pesquisa mentos, antes e depois do Projeto cursos junto a bancos, ao gover-
genômica nacional. Para muitos Genoma. A infra-estrutura recebi- no do Estado e uma proposta
pesquisadores significou a possibi- da com o projeto possibilitou a rea- apoiada pela Petrobrás, que soma-
lidade de crescimento profissional lização de outros projetos de pes- dos aos recursos obtidos junto ao
e de modernização de laboratóri- quisa e o atendimento de um mai- governo federal viabilizam a me-
os universitários. or número de alunos e pesquisa- lhoria da infra-estrutura de trabalho,
dores”, revela. Na UFRN foram permitindo o aumento no número
Além das descobertas de e na qualidade dos projetos em an-
aplicação dos microorganismos, o damento de vários grupos de pes-
Genoma Nacional permitiu o
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Podemos dividir a quisa”, explica Lucymara.


aperfeiçoamento de recursos hu-
história de nosso Para ela, o Brasil está mostran-
manos. Durante todo o projeto fo-
ram capacitados 160 pesquisado-
departamento em do ao mundo uma nova forma de
res e técnicos no país. “O Projeto
dois momentos, fazer ciência. “Podemos trabalhar
permitiu o recrutamento de técni- antes e depois do em conjunto e ligados por objeti-
cos para as regiões Norte e Nor- Projeto Genoma vos comuns, mesmo com os gru-
pos de pesquisa separados geogra-
deste, o que contribui também ficamente. Além disso, essa forma
para o aumento da produção ci- envolvidos diretamente cerca de de trabalho contribui também para
entífica”, ressaltou a pesquisado- 40 alunos de graduação e mes- a descentralização da pesquisa do
ra Lucymara de Lima, represen- trado. A pesquisadora destaca, país do eixo Sudeste-Sul e redução
tante do Laboratório de Seqüen- ainda, a troca de informações das diferenças entre as instituições
ciamento da Universidade Fede- com colegas de outros Estados. com relação à infra-estrutura de tra-
ral do Rio Grande do Norte. “Aprendemos muito com os co- balho disponível”, avalia. Para ela,
legas da rede, foi importante para o grupo da Rede tem grandes de-
Uma das mais jovens cientistas safios pela frente como aplicar o
o sucesso do trabalho”.
do projeto, Lucymara destaca que conhecimento adquirido no incre-
foi dada oportunidade tanto a gru- A Rede também contribuiu para mento dos diferentes setores de
pos já consolidados e experientes o fortalecimento da pesquisa na produção e na melhoria da quali-
como a grupos jovens como o dela. universidade, possibilitando a cap- dade de vida das populações.

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Divulgação
Rede de oportunidades
A participação no projeto Geno- nomas regionais. A
ma Brasileiro representou para o equipe faz parte de pro-
professor Edmundo Grisard, da Uni- gramas de seqüencia-
versidade Federal de Santa Cata- mento do Genoma Sul,
rina, um marco na sua profissão de Genoma do Paraná,
pesquisador. “Terminei meu dou- Genoma EST do Cama-
torado em 99 e ao retornar à minha rão e do microorganis-
instituição de origem (UFSC) me mo anaplasma margi-
deparei com uma situação bem co- nale. “No meu caso tive
nhecida dos pesquisadores brasilei- a oportunidade de de-
O professor Edmundo Grisard, de Santa Catarina
ros, a falta de infra-estrutura para senvolver pesquisas
aplicar os conhecimentos aprendi- mais apuradas no campo de co- seqüencias da Chrombacterium
dos no país e no exterior. A nossa nhecimento específico, a pa- violaceum, desenvolveram o pre-
participação no projeto permitiu a rasitologia”, completa Grisard. paro da bactéria e de seu DNA, re-
implementação de infra-estrutura alizaram cursos de treinamento no
de ponta no Laboratório de Pro- No início do trabalho, Grisard uso dos equipamentos e no desen-
tozoologia, inexistente na instituição conta que tinha em sua equipe volvimento de protocolos.
e no Estado, e resultou no incremen- apenas dois alunos de graduação.
to da qualidade do trabalho indivi- Com a implantação da Rede o la- – Tenho clareza que nossa
dual, coletivo e institucional”, disse boratório passou a contar com 20 participação no projeto abriu
o pesquisador. estudantes de graduação e pós-gra- inúmeras portas, permitindo-nos
duação, o que comprova a impor- participar de outros projetos e ini-

genoma
A integração à rede permitiu ain- tância do projeto na formação de ciar diferentes colaborações. Pa-
da que o grupo coordenado por recursos humanos. Eles contribuí- ra mim, o Genoma Brasileiro foi
Grisard pudesse participar de ge- ram para o início da geração de um divisor de águas”, conclui.

MCT define mais investimentos


Primeiro organismo seqüen- “Nós vamos dar continuidade a foram investidos R$ 33 milhões
ciado pelo consórcio nacional esse projeto, porque ele já demons- em 70 laboratórios espalhados
de laboratórios, a Chromobac- trou sua contribuição para a pes- por todo o país. Cerca de R$ 20
terium violaceum já tem futuro quisa científica brasileira, dando milhões foram aplicados no de-
garantido. O Ministério da Ci- inclusive visibilidade internacional. senvolvimento de seqüencia-
ência e Tecnologia com a cola- Também queremos avançar, apoi- mentos regionais de diversos
boração do CNPq decidiu libe- ar o desenvolvimento e a eficácia microorganismos, chamados
rar mais R$ 500 mil para o pa- do projeto”, disse o secretário. O genomas regionais. Já para o es-
gamento das patentes e conclu- diretor do CNPq, instituição de fo- tudo do seqüenciamento da
sões finais do estudo. Além dis- mento do projeto, Manoel Barral Chromobacterium foram libera-
so, para continuidade das pes- Neto, também concorda que é ne- dos R$ 13 milhões. Com os re-
quisas será lançado até o fim do cessário dar continuidade ao tra- cursos foram comprados equi-
ano um novo edital, em fase de balho. “A partir dessa avaliação pamentos para modernizar os
elaboração, considerando a vamos fazer um mapeamento e es- laboratórios de cada região.
infra-estrutura já existente nos taremos adequando o projeto para
laboratórios. Além do custeio dos seqüen-
novas etapas neste campo”, disse.
ciadores e material de consumo
Segundo o secretário do O projeto Genoma Brasileiro – para as máquinas, o CNPq for-
MCT, Jorge Guimarães, o pro- Rede Nacional de Seqüenciamen- neceu bolsas que garantiram
jeto Genoma Nacional é de ex- to de DNA – foi criado pelo MCT pessoal qualificado para os la-
trema importância para o país. e CNPq em 1999. Em quatro anos boratórios.

15
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pequeno m
Rachel Mortari

R
emédios que “circu- um fio de cabelo, para produzir ob- para o desenvolvimento do País,
lam” pela corrente san- jetos macroscópicos e que possam o MCT e o CNPq criaram no final
güínea até chegar ao ser usados. Esses novos materiais fa- de 2001, quatro redes temáticas na
órgão enfermo; equi- bricados molecularmente substitui- área de nanociência e nanotecno-
pamento eletrônico capaz de ava- rão os tradicionais com vantagens logia que englobam quase todos
liar a qualidade de bebidas, duas em eficiência, economia energética os Estados brasileiros.
vezes mais sensível que o paladar e redução de resíduos.
As Redes de Nanotecnologia
humano; imãs dentro de micro es-
nanotecnologia

O mercado mundial consumiu agrupam cerca de 310 cientistas


feras de plástico que ajudam a re-
só em 2002 cerca de US$ 5 bilhões com doutorado e pós-doutorado
tirar manchas de óleo do mar. Pro-
e a Fundação Nacional de Ciên- e produziram no ano passado
dutos que mais parecem retirados
cias - NSF dos Estados Unidos esti- aproximadamente 1.100 publica-
de filmes de ficção científica, que
ma que de 2010 a 2015 os investi- ções em periódicos internacionais,
a imaginação de seu avô talvez
mentos na área de materiais, pro- depositaram 17 patentes e realiza-
não fosse capaz de conceber, cons-
dutos e processos industriais basea- ram mais de 200 apresentações em
tituem na verdade as maravilhas de
dos em nanotecnologia serão de eventos internacionais.
mais uma revolução tecnológica:
US$ 1 trilhão, com expectativa de
a nanotecnologia. Os resultados
serem criados 2 milhões de postos
Um novo mundo “nano” que de trabalho em todo mundo. A nanotecnologia já encontra
está se consolidando através da O Brasil entrou nesta corrida aplicações em praticamente todos
manipulação da matéria ao nível rumo ao avanço tecnológico e já os setores industriais e de serviço.
molecular, visando a criação de se destacou em dois eventos inter- Seu impacto deverá impulsionar
novos materiais, substâncias e pro- nacionais realizados este ano no vários setores da economia.
dutos. A arte de montar a matéria Japão e na Suíça, sendo o único Apesar do estudo da nanotec-
átomo a átomo, utilizando a me- representante da América Latina. nologia ter sido instituído há dois sé-
dida nanômetrica, a bilhonésima culos e extensamente explorado em
parte do metro, algo quase 100 mil Consciente da importância e algumas tecnologias, como no caso
vezes menor que a espessura de dos impactos da nanotecnologia dos pneus que utilizam partículas

Novos recursos para a nanotecnologia


Dentre as iniciativas do MCT Alfredo Mendes, essas iniciativas já “O nosso papel é gerar políti-
este ano na área destacam-se a tiveram como conseqüência o au- cas e ações que estimulem os
criação da Coordenação Geral mento dos investimentos na área. avanços na área buscando sem-
de Políticas e Programas de Na- Como exemplo, citou a inclusão pre o crescimento da nano no
notecnologia, a cri- da nanotecnologia nos editais dos país”, afirma a secretária de Políti-
ação do Grupo de Fundos Setoriais de Energia, Petró- cas e Programas de Pesquisa e De-
Eugênio Novaes

Trabalho de Nano- leo e Verde Amarelo, ainda este senvolvimento do MCT, Regina
tecnologia para ela- ano. Isso representa a possibilida- Pekelmann Markus.
borar o Programa de de de alocação de recursos adici-
Nanotecnologia, e a onais ao Programa do PPA orçado O Programa incluído no PPA
inserção no Plano em R$ 77,7 milhões . é composto de ações que visam
Plurianual 2004/07 a implantação de laboratórios e
do Programa de De- A captação de recursos envol- redes, a manutenção da estrutu-
senvolvimento da ve financiamentos externos junto ra laboratorial, o fomento a pro-
Nanociência e da ao BIRD, para um aporte de US$ jetos de pesquisa e projetos de co-
Nanotecnologia. 250 mil destinados à criação de um operação entre empresas e uni-
O aumento nos observatório de nanotecnologia, e versidades/instituições de pes-
investimentos em Segundo o Coordenador Ge- junto ao JBIC (Japan Bank for Inter- quisa e prospecção, monito-
nanotecnologia é ral de Políticas e Programas de Na- national Cooperation) para a cap- ramento e retroalimentação do
uma realidade, diz
Alfredo Mendes
notecnologia (CGPPN) do MCT, tação de US$ 30 milhões . Programa.

Jornal C&T - 16
tecnológica
mundo novo
Divulgação
nanométricas de carbono, o de- Ribeirão Preto (USP-RB) para o tra-
senvolvimento científico na área é tamento de câncer já conseguiram
muito recente. resultados com 100% de cura em
alguns pacientes submetidos ao
Dentre as patentes depositadas, tratamento com terapia fotodi-
a “Língua Eletrônica” é uma das que nâmica no Hospital das Clínicas da
mais tem chamado a atenção. Um cidade. Sem os efeitos nocivos da
sensor gustativo para a avaliação de rádio e da quimioterapia, a terapia
bebidas capaz de diferenciar os pa- fotodinâmica, que atua no sistema

nanotecnologia
drões básicos de paladar, doce, sal- Mancha de óleo sobre a água
biológico através da exposição a
gado, azedo e amargo, em concen- uma fonte luminosa, pode ser apli-
trações abaixo do limite de de- cada em sessões seguidas, tornan-
tecção do ser humano, foi desen- do o tratamento muito mais efici-
volvido pelo pesquisador da ente e rápido. Segundo o pesqui-
Embrapa, Luiz Henrique Mattoso, sador responsável pelo projeto,
em parceria com a Escola Politéc- Antônio Cláudio Tedesco, da Uni-
nica da USP, com o apoio do MCT. versidade de São Paulo (USP), em
Ribeirão Preto, os maiores avanços
Os sensores revestidos com são em casos de câncer de pele.
nanofilmes de apenas uma cama-
da de moléculas poliméricas, mer- Outro projeto de pesquisa, em
Compósito magnético adicionado à fase de estudo no Instituto de Bio-
gulhados no líquido, permitem
mancha de óleo sobre água
com rapidez, precisão, simplicida- logia da Universidade de Brasília,
de e baixo custo verificar a quali- é o de hemodiálise magnética, que
dade da água, se existem conta- tiraria de circulação células tumo-
minantes pesticidas, substâncias rais como, por exemplo, a leu-
húmicas e metais pesados. A “Lín- cemia e o vírus HIV.
gua” poderá ser usada para a dife- O meio ambiente também ganha
renciação de bebidas com o mes- com os avanços obtidos no estudo
mo paladar, sendo possível distin- da nanotecnologia. Um trabalho re-
guir tipos de vinho, cafés, chás e alizado por pesquisadores das Uni-
água mineral e, ainda, ter aplica- versidades Federais de Goiás, Rio de
ção nas indústrias farmacêuticas e Janeiro e Brasília, coordenado por
de cosméticos. O equipamento Remoção da mancha de óleo usando imã Paulo Morais pode remover petró-
está em fase de teste na Associa- leo derramado em água.
ção Brasileira de Indústrias e Cafés
– Abic. “A Língua Eletrônica vai Segundo a pesquisadora Emília
revolucionar o controle da quali- Lima, da UFG, o material permite
a limpeza de manchas de óleo no
dade” afirma o presidente da Abic,
mar de maneira mais barata e efi-
Guivan Buono.
caz que os métodos utilizados atu-
Na área de saúde, a nanotec- almente. O processo consiste em
nologia tem estudos voltados para jogar em cima da mancha forma-
o combate a doenças como o cân- da pelo vazamento de óleo um pó
cer e a AIDS. Nanoestruturas são formado de micro esferas de plás-
utilizadas como ferramentas para tico de 0,1 milímetro contendo
introduzir drogas no sistema bio- nanopartículas magnéticas. O pó
lógico. São aplicadas por adminis- não deixa que a mancha se espa-
tração intravenosa e enviadas di- lhe e depois será puxado com uma
retamente às células doentes. A Língua Eletrônica pode distinguir bomba que separa o óleo, a água
diferentes tipos de bebidas e ainda ser e as esferas magnéticas, permitin-
Pesquisas realizadas na Univer- utilizada nas indústrias farmacêuticas e do o reaproveitamento de todos os
sidade Federal de São Paulo em de cosméticos elementos.

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Claúdia Soares
tecnologia pr

A
tecnologia nuclear está Nucleares, uma autar-
cada dia mais presente quia do governo de São
na vida do cidadão co- Paulo, com gestão ad-
mum. Além da produ- ministrativa, técnica e fi-
ção de energia – sua aplicação nanceira da Comissão
mais conhecida –, falar sobre Nacional de Energia
tecnologia nuclear é discorrer so- Nuclear - CNEN, orga-
bre assuntos diversos como medi- nismo do Ministério da
cina nuclear, controle de proces- Ciência e Tecnologia.
sos industriais, monitoramento
Na medicina nucle-
radioisótopos

ambiental, conservação de ali-


mentos, esterilização de produtos ar, os radioisótopos são
cirúrgicos e tantas outras áreas, ta- usados no diagnóstico e
manha a diversidade de suas apli- tratamento de doenças
cações. diversas, principalmen-
te em cardiologia e on-
O Brasil conquistou autonomia cologia. O avanço nes-
Coração pode ser observado no computador através do contraste
na aplicação da tecnologia nucle- sa área permitiu não só produzido por radiosótopos
ar no campo da medicina, com a que doenças cardíacas
inauguração das instalações para e tumores diversos (tireóide, lin- Segundo o médico Eduardo
produção industrial de quatro di- fomas, câncer ósseo etc) pudessem Lima, responsável pelo setor de
ferentes radioisótopos totalmente ser detectados de forma precoce medicina nuclear do Hospital do
nacionalizados – radioisótopos como fez com que o tratamento Câncer de São Paulo, os radioisó-
Eugênio Novaes dessas enfermidades se tornasse topos estão no dia-a-dia de milha-
mais efetivo. Eles são usados em res de procedimentos daquela uni-
mais de 300 hospitais e clínicas, dade. “O trabalho de pesquisa de-
com atendimento a mais de dois senvolvido pelo Ipen, aproximan-
milhões de pessoas em todo o país. do a demanda dos serviços médi-
Produção
“O que foi feito é uma conquista cos à produção científica, alavan- do Ipen/
da ciência e da tecnologia nacio- cou a medicina nuclear brasileira”, Cnen
nais, mostrando a competência elogia Eduardo Lima. abastece
dos nossos pesquisadores numa todo o
área que tem uma clara demanda A conservação de alimentos é país
da sociedade e um aspecto social outra área em que são grandes os
estratégico fundamental”, atesta o benefícios da tecnologia nuclear.
presidente do Ipen, Cláudio Ro- As autoridades de vigilância sani-
drigues. tária de 37 países, incluindo o Bra-
sil, aprovaram a irradiação de 40
De 1995 a 2002 a produção e tipos distintos de alimentos, que
distribuição de radiofármacos do englobam especiarias, grãos, car-
Manipulação Tecnécio-99, Tálio-201, Iodo-131 Ipen cresceu 155%. “A meta é au- ne de frango, frutas e legumes. As
de material e Gálio-67. A propriedade de ab- mentar a produção em torno de 10% doses de radiação, através do
nuclear é feita ao ano e conseguir atender três mi- radioisótopo Cobalto 60, são estri-
seguindo sorção da energia das radiações,
que normalmente é inconvenien- lhões de pacientes em 2006”, expli- tamente controladas para que as
normas de
segurança te para os seres vivos, pode ser usa- ca o presidente da CNEN, Odair propriedades dos alimentos não
da em seu benefício quando em- Rodrigues. A receita gerada com a sejam modificadas.
pregada para destruir células ou produção saltou de R$ 6,6 milhões
microorganismos vivos. para R$ 23 milhões no período. No A técnica traz como benefícios
mercado americano, o faturamento o controle de doenças originárias
A produção ou importação des- nessa área foi de mais de 800 mi- de alimentos, como a salmonelose,
se material é exclusiva do IPEN - lhões de dólares em 2001. e é efetiva na desinfestação onde
Instituto de Pesquisas Energéticas e os insetos consomem grande por-

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a nuclear
resença no dia-a-dia do brasileiro
Eugênio Novaes

centagem da safra colhida. Segun- Outro exemplo de aplicação na veis e outros produtos diversos. O
do a FAO - órgão das Nações Uni- indústria é a radiografia de peças uso de métodos convencionais,
das para a Agricultura e Alimenta- metálicas, usada na área de con- que precisam de altas temperatu-
ção, cerca de 25% da produção trole de qualidade na construção ras, seria impraticável nesses pro-
mundial de alimentos se perde em de plantas industriais em siderúrgi- dutos. Segundo dados do relatório
conseqüência de infestação, con- anual da CNEN de 2002, quase 23
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

taminação ou decomposição. O Brasil conquistou mil produtos médicos, farmacêuti-


autonomia na aplicação cos e biológicos foram submetidos
Na indústria os radioisótopos da tecnologia nuclear no a processos de esterilização por ir-
são usados na melhoria da quali- campo da medicina com radiação, um crescimento de 55%
dade de processos em segmentos

radioisótopos
a inauguração de quatro em relação ao ano anterior.
como siderurgia, automóveis, avi-
ões, bebidas, papel e celulose e pe-
diferentes radioisótopos
As aplicações no monitora-
tróleo. Segundo Wilson Calvo, res- totalmente nacionalizados.
mento do meio ambiente ainda
ponsável pelo Centro de Tecno- são bastante controversas. Para
logia das Radiações do Ipen- cas e refinarias de petróleo, e na
acabar com o mito do uso da tec-
CNEN, “o uso de fontes radioati- manutenção e produção de pe-
nologia nuclear na área ambi-
vas melhora os índices de compe- ças e equipamentos. Conhecida
ental, a CNEN vem desenvolven-
titividade da indústria nacional por como gamagrafia industrial, o pro-
do estudos e pesquisas sobre o
atender rígidos parâmetros exigi- cesso vem sendo muito utilizado
tema há pelo menos três décadas.
dos pelo mercado.” para verificar rachaduras ou defei-
Com técnicas nucleares, é possí-
tos em oleodutos, gasodutos e em
vel conhecer em detalhes os re-
placas metálicas para automóveis,
servatórios e propor modelos de
Eugênio Novaes

trens e navios. Esse controle de


preservação e exploração susten-
qualidade é uma exigência do
tável. Em São Paulo, a CNEN de-
mercado internacional.
senvolve estudos das bacias
Especificamente na indústria hidrográficas da região metropo-
farmacêutica, as fontes radioativas litana, como o que monitora a
são usadas para esterilizar seringas, qualidade da água que abastece
luvas cirúrgicas, fraldas descartá- a capital, por exemplo.

Radioisótopo: acredite, ajuda o coração a bater melhor


O clima na sala de espera do cintilografia cardíaca detectou que Está enganado quem pensa que
ambulatório de Medicina Nuclear parte do seu coração não recebia dona Maria das Graças - 50 anos,
do Hospital de Base de Brasília era sangue suficiente. “Esse exame é cinco filhos e oito netos -, tem apa-
ameno. Cada paciente que acaba- preciso porque o radioisótopo rência doente. Ela caminha até a ca-
va de ser atendido era recebido mostra como o coração reage em sa dos filhos, faz comida e crochê.
pelos demais com desejos de ‘boa repouso e submetido a um stress”, “Há pouco mais de duas semanas,
sorte, espero demorar a vê-lo de explica a cardiologista Roberta Oli- eu mal conseguia ir ao mercado,
novo’. A dor nos torna ainda mais veira. A médica que cuidou de não me agüentava
Eugênio Novaes

solidários. Há menos de um mês dona Maria das Graças percebeu em pé. Agora quan-
dona Maria das Graças era uma que, mesmo após dois cateteris- do tenho que voltar
dessas pessoas. Com problemas mos, a paciente ainda sentia muita ao hospital, o segu-
cardíacos desde 1998 ela já acu- dor e optou pela cintilografia por rança manda eu sair
mula duas pontes de safena e uma ser um exame menos incômodo e da maca, diz que é
mamária, diabetes, colesterol alto e muito eficiente. ”Sem esse exame, só para os doentes”,
mais de um ano de internação. teríamos continuado o tratamento diverte-se dona Ma-
Na sua última passagem pelo só com remédios e não teríamos ria. “Não sinto mais
Hospital de Base ela foi submetida resolvido o problema de saúde da nada, hoje estou vi-
a uma angioplastia, depois que a dona Maria. va”, comemora.

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urânio
enriquecido
produção em escala industrial impulsiona programa nuclear brasileiro

A
produção de urânio en- como a sétima nação a dominar o enriquecido, o risco à natureza é
riquecido em escala in- processo por ultracentrifugação zero e o projeto já tem todas as li-
dustrial e o acordo de para geração de energia elétrica, cenças necessárias.
cooperação com a Chi- depois de Rússia, China, Japão e o
na, com transferência de tecnolo- consórcio Urenco (Holanda, Ale- Até 2020 o consumo mundial
gia para o país, dará um novo im- manha e Inglaterra). de energia elétrica vai crescer em
pulso ao Programa Nuclear Brasi- A tecnologia foi de-
programa nuclear

Arquivo INB
leiro. As ações anunciadas pelo senvolvida pelo Ministro
Ministério da Ciência e Tecnologia, IPEN (Instituto de anuncia
em outubro, reduzem custos com Pesquisas Energéti- que o
importação de combustível nucle- cas e Nucleares), Brasil
ar e abrem o mercado externo para vinculado ao MCT, fará
equipamentos produzidos pela enriquecimento
e pelo Centro Tec-
de
Nuclep (Nuclebrás Equipamentos nológico da Mari-
Pesados), vinculada ao MCT. nha de São Paulo.
A produção industrial será inici- O país, que tem a
ada no próximo ano pela INB - In- sexta reserva mineral
dústrias Nucleares do Brasil, com de urânio do mundo,
sede em Resende (RJ), onde os e- possui tecnologia de
quipamentos estão sendo instalados enriquecimento des-
há dois anos. A meta é chegar a de a década de 80, Sede da INB em Resende fará produção industrial do urânio
2010 produzindo 60% do urânio mas só agora produ-
enriquecido utilizado nas usinas de zirá em escala comercial e industrial torno de 60%, segundo relatório
Angra 1 e 2, deixando de remeter o minério enriquecido. “Hoje, o urâ- publicado pelo Departamento de
ao exterior cerca de US$ 11 mi- nio extraído no Brasil faz uma gran- Energia dos Estados Unidos. Em
lhões a cada 14 meses. Em 2014, de viagem. É levado para o Canadá pouco mais de 40 anos de uso, a
espera-se alcançar a auto-suficiên- e depois à Europa, para então energia nuclear é hoje a terceira
cia no abastecimento para todo o retornar”, explicou o ministro mais utilizada no mundo para a ge-
complexo Angra (inclusive Angra Roberto Amaral. ração de eletricidade, com 16%,
3) e a exportação de serviços e índice bem próximo aos 18% da
tecnologia nuclear. “O potencial de O enriquecimento no país fica- segunda fonte, a hidrelétrica, usa-
exportação deve atingir US$ 12,5 rá no máximo em 4%, limite deter- da comercialmente há pelo menos
milhões ao ano”, garante Samuel minado pela Agência Internacio- 120 anos. No Brasil, as usinas nu-
Faiad, diretor de Produção de Com- nal de Energia Atômica (AIEA), ór- cleares geram 4,3% da eletricida-
bustível Nuclear da INB. gão ligado à Organização das Na- de total, e abastecem 50% do Es-
ções Unidas (ONU). Segundo a di- tado do Rio de Janeiro. Durante a
O enriquecimento do urânio de retoria da Indústrias Nucleares do crise energética, garantiu abasteci-
forma industrial coloca o Brasil Brasil (INB), que produzirá o urânio mento no Sudeste. (C.S.)

Brasil estuda parceria com Programa Nuclear Chinês


A Nuclep poderá fornecer equipamentos “O governo chinês está começando a construção
para a expansão do programa nuclear chinês. de quatro novas usinas nucleares e prevê construir
Os entendimentos para essa parceria foram ini- mais 16 até 2020. Além disso, fará grandes investi-
ciados durante visita do ministro Roberto Amaral mentos em termelétricas e hidroelétricas. Para todas
à China, em outubro e prosseguem com uma elas nós temos conhecimento e experiência a ofere-
equipe técnica, integrada pela Comissão Naci- cer e a trocar. Apresentei a nossa Nuclep como pos-
onal de Energia Nuclear (CNEN), Agência Es- sível fornecedora de equipamentos”, disse o minis-
pacial Brasileira (AEB) e Indústrias Nucleares do tro Amaral, durante a cerimônia de posse da nova
Brasil (INB). diretoria da Nuclep, no Rio.

Jornal C&T - 20
Alcântara
acordo brasil/ucrânia viabiliza base brasileira
James Gama

O
Brasil está na porta de dente da Ucrânia, Leonid Kuchma, nos lançamentos, em relação a ou-
entrada do seleto clube em visita a Brasília, em outubro. tras bases. Por essa condição, ou-
dos países que domi- tros países como Israel, Índia e mes-
nam a tecnologia para O Acordo formalizado por Ku- mo a Rússia têm mostrado interes-
construir e operar veículos lança- chma e o presidente Luiz Inácio Lula se em utilizar o Centro de Lança-
dores de satélites. Um acordo iné- da Silva é vantajoso também para os mento de Alcântara.

programa espacial
dito assinado com a Ucrânia pos- ucranianos, que hoje usam bases de
sibilita o lançamento do foguete u- outros países para lançar seus fogue- “O projeto é importante para os
craniano Cyclone-4 do Centro de tes. O Cyclone-3, por exemplo, ain- dois países. Para o Brasil é um pas-
Lançamento de Alcântara (CLA), da é lançado da base de Plescesq, so importante para dominar a tec-
no Maranhão, o que deve aconte- na Rússia, quando há vaga na fila nologia espacial, principalmente,
cer já a partir de 2007. A parceria, de espera e interesse russo. a de lançamento de foguetes”, re-
além de contribuir para consolidar forçou o presidente da AEB, Luiz
– Se não fosse fechado o acor- Bevilacqua.
a base brasileira, tornando-a com- do para uso de Alcântara, os ucra-
petitiva no mercado mundial de nianos teriam que procurar outra O desenvolvimento e operação
lançamento de satélites, pode ser base para lançar seu novo foguete do sítio de lançamento do Cyclo-
fundamental para que o Brasil con- ou paralisar o projeto, já que a base ne-4 no CLA será de responsabili-
clua o sonhado projeto do Veícu- russa não possui infra-estrutura ade- dade da joint venture binacional, a
lo Lançador de Satélites (VLS-1), quada para lançamento do Cyclo- Alcântara Cyclone Space (ACS),
uma vez que existe a possibilida- ne-4", explica o brigadeiro Daniel com sede em Brasília, que terá par-
de real de transferência de tecno- Borges, diretor de Transporte Espa- ticipação da Infraero e de duas com-
logia entre os dois países. cial e Licenciamento da Agência Es- panhias ucranianas. O Brasil ficará
O Brasil passaria, assim, a inte- pacial Brasileira (AEB). responsável pelo desenvolvimento
grar o time dos construtores de fo- da infra-estrutura geral do CLA para
A base de lançamentos de Al- lançar o Cyclone-4, enquanto a
guetes, formado por apenas 10 pa- cântara é uma das mais privilegia-
íses – Estados Unidos, Ucrânia se compromete a desenvol-
das do mundo. Por sua ver o foguete, realizar os testes e o
Rússia, Japão, França, localização geográfica
Itália, Índia, China, Is- primeiro vôo de qualificação.
próxima à linha do E-
rael, Paquistão e a quador permite uma eco- O complexo de lançamento
própria Ucrânia. nomia de até 30% nos está orçado em US$ 105 milhões
A Ucrânia já fez gastos com combustível e deve estar concluído até dezem-
mais de 200 lan- bro de 2006. A idéia é recuperar
çamentos com a sé- esse investimento nos lançamen-
rie de foguetes Cyclo- tos de satélites contratados por ou-
Foguete ucraniano
ne. O foguete da sé- tros países, a um custo de US$ 2.4
Cyclone 4 em
rie 4 que virá para o miniatura milhões por lançamento.
Brasil será mais mo-
derno e aperfeiçoa-
Fotos: Antonio Cruz

do, com capacidade


para uma carga útil
de até 1.800 quilos para satélites
de órbita geoestacionária ou a 36
mil metros de altitude.
“A Ucrânia tem mais de 50
anos de experiência na área espa- Os presidentes
cial, a diferença é que os cientistas Kuchma e Lula
assinam o
ucranianos estão dispostos a pas-
Acordo Brasil /
sar esta tecnologia e cooperar com Ucrânia, em
o Brasil”, reforçou o vice-primeiro solenidade no
ministro ucraniano, Dmitro Tabac- Palácio do
hnyk, que acompanhou o presi- Planalto

Jornal C&T - 21
auton
Lançamento do CBERS-2 garante a Brasil e China

Q
uinze anos depois do paço. O país foi o terceiro do mun-
primeiro desembarque do a entrar na era das imagens pro-
de técnicos brasileiros duzidas por satélites, ao lado dos
em território chinês para Estados Unidos e Canadá, e hoje
o início do mais ambicioso projeto é um dos principais fornecedores
de cooperação na área espacial de países vizinhos como Argenti-
programa espacial

entre os dois países, Brasil e China na, Bolívia, Paraguai e Peru.


entraram em contagem regressiva
no dia 21 de outubro para levar ao Tecnologia nacional
espaço a última conquista dessa Situado em órbita a cerca de
parceria de sucesso – o CBERS-2, 800 km da Terra, o CBERS-2 ga-
o segundo satélite de observação rante a continuidade do envio de
da Terra construído por especialis- imagens e coleta de dados ambi-
tas dos dois países. O satélite, lan- entais que deram ao Brasil e a Chi-
çado com êxito da base chinesa na completa autonomia no estu-
de Taiyuan, a 800 km da capital do da superfície terrestre, indepen-
Pequim, integra a série do Progra- dente dos satélites de fornecedo-
ma CBERS (China Brazil Earth res estrangeiros. As informações
Resource Satellites) – Satélites Sino- geradas ajudam a realizar estudos
Brasileiros de Recursos Terrestres, e solucionar problemas das mais
iniciado em julho de 1988. diversas áreas, desde a confecção
Na manhã seguinte ao lança- de mapas geológicos até a identifi-
mento, o CBERS-2 já fazia sua pri- cação de pistas de pouso clandes-
meira passagem sobre o Oceano tinas na Amazônia.
Atlântico, cobrindo parte das águas Para essa tarefa de “fotografar”
brasileiras e internacionais, e tinha a Terra, viajam a bordo do CBERS-
o sinal captado pelas antenas da 2 três câmeras, uma delas a “me-
base de Alcântara, no Maranhão. nina dos olhos” da tecnologia es-
Os dois lados do planeta tinham pacial nacional – a câmera WFI,
o que comemorar, especialmente desenvolvida por técnicos brasilei-
o lado de cá. O CBERS-2 foi total- ros especialmente para esta mis-
mente montado e testado no LIT – são. A WFI incorpora tecnologias
Laboratório de Integração e Testes, que permitem o monitoramento
no Inpe – Instituto Nacional de Pes- efetivo do território nacional. A câ-
quisas Espaciais, em São José dos mera funciona como uma “gran-
Campos (SP), uma vitória da com- de angular”, com varredura de
petência técnica nacional. 890 km e 260 metros de resolu-
ção, ideal para observar fenôme-
Além de dar um novo estímulo nos de larga escala, uma vez que
ao programa brasileiro, o sucesso produz imagens a cada três dias de
do CBERS mostrou o acerto da par- um mesmo local.
ceria com a China. Seis dias antes,
em 15 de outubro, o país tornara- Além de ser fundamental para
se a terceira potência do mundo na projetos estratégicos nacionais,
área espacial. O taikonauta Yang como o SIVAM, o uso da câmera
Liwei deu 14 voltas em torno da WFI permite ao Brasil fazer qua-
Terra e cravou seu nome na histó- dros mais repetitivos do meio-am-
ria da conquista do espaço, ao lado biente. No caso da Amazônia, por
de russos e norte-americanos. exemplo, será possível realizar o
monitoramento mensal da ocupa-
O CBERS 2 seguiu a bordo do foguete chinês Longa Marcha–4B Há 30 anos, técnicos brasileiros ção, permitindo um melhor con-
Foto divulgação analisam imagens enviadas do es- trole do desmatamento e queima-

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nomia
a independência no estudo da superfície terrestre

das. Hoje esse monitoramento é “O Programa CBERS foi a pri-


feito apenas uma vez ao ano. meira grande oportunidade de
engajamento da indústria nacional
“A WFI é uma tecnologia cha- em um projeto de grande porte na
ve para um território do tamanho área espacial”, afirma o ex-presi-
do Brasil”, explica o geólogo do dente da AEB, Múcio Dias, que por

programa espacial
Inpe, Paulo Roberto Martini. En- vários anos comandou o comitê
quanto a câmera chinesa CCD “te- conjunto de coordenação do Pro-
leobjetiva”, também embarcada grama.
no CBERS-2, com varredura de
120 km, necessita produzir três mil Até o último dia 13 de agosto,
imagens para cobrir o país inteiro, quando esteve operacional, o
a WFI completa o serviço com ape- CBERS-1 produziu mais de 400 mil
nas três passagens do satélite sobre imagens da superfície da Terra.
o território nacional. No CBERS-1, Agora com o CBERS-2, os técni-
a WFI só funcionou durante três cos confiam na qualidade e preci-
meses. A expectativa é que agora são das imagens para conquistar a
ela opere durante toda a vida útil confiança do usuário brasileiro que
do CBERS-2. ainda prefere a imagem produzi-
da a partir do Landsat.
Os resultados dos primeiros tes-
tes deixaram animados os técnicos. Enquanto na China usam 10
“Estamos muito felizes. O resulta- vezes mais imagens geradas pelo
do foi satisfatório e mostra que a CBERS que as do Landsat, no Bra-
câmera está funcionando perfeita- sil essa proporção ainda é de 2 para
mente”, afirmou o coordenador- 1 a favor das imagens do satélite
geral de Observação da Terra, do norte-americano. Com a tecnolo-
Inpe, Gilberto Câmara. gia usada no CBERS-2 será possí-
vel produzir arquivos de imagens
Parceria mais leves e disponibilizá-las gra-
O CBERS-2 é fruto de intensa tuitamente no site do Inpe, a partir
convivência entre chineses e bra- de janeiro, anuncia Gilberto Câma-
sileiros. Só aqui no Brasil, entre ra. “A idéia é que cada vez mais
2001 e 2002, foram 14 meses de pessoas tenham acesso a essa
trabalho incessante, quando cer- tecnologia, dentro do projeto de in-
ca de 100 chineses estiveram no clusão digital do MCT”, declarou.
LIT, em São José dos Campos, Em outubro, o ministro Amaral
para trabalhar ao lado dos brasi- assegurou a continuidade da par-
leiros, relembra José Raimundo ceria Brasil/China com a assina-
Coelho, coordenador de satélites tura de um protocolo para a cons-
e aplicações da AEB – Agência Es- trução dos CBERS-3 e 4. Nessa
pacial Brasileira. nova fase, a participação brasilei-
ra no projeto aumentará de 30%
Das muitas idas e vindas dos
para 50%.
técnicos nasceu o primeiro satéli-
te da série, o CBERS-1, montado “O CBERS-4 deverá ser lançado
na China, com 30% de participa- já da base de Alcântara, na seqüên-
ção brasileira. Lançado em 1999 cia do CBERS-3”, anuncia o presi-
e projetado para apenas um ano dente da AEB, Luiz Bevilacqua. “Se-
de operação, o satélite superou rão satélites ainda mais poderosos
em muito as expectativas e funci- e poderão prestar ainda mais servi-
onou plenamente durante três ços aos nossos países e à humani- Satélite CBERS 2
anos e 10 meses. dade”, adianta o ministro. (J.G.) Foto montagem / Inpe

Jornal
Jornal C&T
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23
Ricardo Stuckert

Registro histórico – o presidente Lula


recebe do ministro Amaral as primeiras
imagens da Terra coletadas pelo satéli-
te CBERS-2.
Na foto de página, a primeira ima-
gem do Brasil registrada pelo CBERS-2
– a região de Ribeirão Preto (SP). Rique-
za de detalhes agrícolas e ambientais.

Foto: CBRES-2 / Inpe

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