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Departamento de Engenharia Civil

CARTOGRAFIA

Rosa Marques Santos Coelho


Paulo Flores Ribeiro

2006 / 2007
Cartografia

ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 4

2 CARTOGRAFIA.............................................................................................................. 6

2.1 FORMA E DIMENSÕES DA TERRA ....................................................................... 6

2.2 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO PLANA ......................................................... 12

2.2.1 Projecções cilíndricas ..................................................................................... 14

2.2.2 Projecções cónicas......................................................................................... 17

2.2.3 Projecções azimutais...................................................................................... 19

2.3 SISTEMAS DE REFERENCIAÇÃO ....................................................................... 20

2.3.1 Coordenadas Geográficas.............................................................................. 21

2.3.2 Coordenadas Rectangulares .......................................................................... 24

2.4 SISTEMAS DE USO EM PORTUGAL ................................................................... 25

2.5 QUADRÍCULAS..................................................................................................... 28

2.5.1 Quadrícula Militar Portuguesa ........................................................................ 28

2.5.2 Quadrícula UTM (Universal Transverse Mercator).......................................... 29

2.5.3 Quadrícula UPS (Universal Polar Stereographic) ........................................... 35

2.6 CONCLUSÃO........................................................................................................ 36

3 DIRECÇÕES ................................................................................................................ 37

3.1 DIRECÇÕES DE REFERÊNCIA............................................................................ 37

3.2 AZIMUTES E RUMOS ........................................................................................... 38

3.3 DIAGRAMA DE DECLINAÇÃO.............................................................................. 40

4 REPRESENTAÇÃO DO TERRENO ............................................................................. 42

4.1 ESCALAS .............................................................................................................. 42

4.2 REPRESENTAÇÃO DOS DETALHES PLANIMÉTRICOS (PLANIMETRIA).......... 44

4.3 REPRESENTAÇÃO DO RELEVO DO TERRENO (ALTIMETRIA) ........................ 45

4.3.1 Método dos pontos cotados............................................................................ 45

4.3.2 Método das curvas de nível ............................................................................ 47

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Cartografia

4.3.3 Método das normais ....................................................................................... 51

4.3.4 Método das tintas esbatidas ........................................................................... 52

4.3.5 Método dos relevos ........................................................................................ 53

4.3.6 Modelos digitais do terreno............................................................................. 53

4.4 FORMAS NATURAIS DO RELEVO DO TERRENO .............................................. 54

4.5 RELAÇÕES ENTRE A ALTIMETRIA E A PLANIMETRIA...................................... 56

5 PERFIS ........................................................................................................................ 58

6 MEDIÇÃO DE DISTÂNCIAS NA CARTA...................................................................... 61

7 MEDIÇÃO DE ÁREAS NA CARTA ............................................................................... 64

7.1 GEOMÉTRICOS.................................................................................................... 64

7.1.1 Figuras delimitadas por segmentos de recta .................................................. 65

7.1.2 Figuras delimitadas por linhas curvas............................................................. 65

7.2 ANALÍTICOS ......................................................................................................... 67

7.3 MECÂNICOS......................................................................................................... 68

8 CLASSIFICAÇÃO DE CARTAS.................................................................................... 71

8.1 CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM A NATUREZA DO CONTEÚDO ............... 71

8.2 CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM O DESTINO DA CARTA ........................... 71

8.3 CLASSIFICAÇÃO EM FUNÇÃO DO VALOR DOS DOCUMENTOS DE BASE ..... 72

8.4 CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM A NATUREZA DA DOCUMENTAÇÃO...... 72

9 BIBLIOGRAFIA............................................................................................................. 73

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Cartografia

1 INTRODUÇÃO

A topografia é a ciência que tem por objectivo a representação gráfica e a descrição de uma
zona limitada, mais ou menos extensa, da superfície terrestre, de forma a ser possível a
avaliação da sua configuração e seus recursos. Com vista à obtenção dessa representação,
que é efectuada por meio do desenho de uma carta ou planta topográfica, podem definir-se
dois grandes domínios:

- PLANIMETRIA – ramo da topografia que define a posição relativa, sobre um plano, de


todos os aspectos necessários para definir a forma e dimensões dos acidentes do terreno;

- ALTIMETRIA – ramo da topografia que define a cota (distância medida na vertical entre o
plano representativo de cada acidente considerado e um plano de referência) ou altitude
(distância medida na vertical entre o plano representativo de cada acidente considerado e a
superfície do geóide) de cada acidente do terreno, para representação do relevo do terreno.

A topografia apoia-se noutras ciências, nomeadamente Astronomia, Geodesia e Cartografia,


com o objectivo de obter dados fundamentais para apoio e execução dos trabalhos de
levantamento topográfico e consequente elaboração das cartas ou plantas topográficas. Por
levantamento topográfico entende-se o conjunto de operações topográficas, planimétricas e
altimétricas, necessárias para a elaboração de cartas ou plantas topográficas.

Com recurso à Astronomia, através da observação dos astros, é possível determinar a


posição geográfica (coordenadas astronómicas1) rigorosa de um ponto, denominado origem
fundamental, do qual se calculam as coordenadas geodésicas e o azimute de uma direcção,
também denominada direcção de referência, e que constituem a base de cálculo das
coordenadas de vários outros pontos de referência, também denominados vértices
geodésicos. Este tema será posteriormente tratado como “Apoio das operações
topográficas de campo”.

O apoio da topografia na Geodesia deve-se ao facto de a geodesia como ciência apresentar


duas finalidades fundamentais:

1
As coordenadas astronómicas, para cada ponto, são definidas tendo em consideração a vertical no
ponto em questão, que é uma entidade física, independente da superfície de referência (elipsóide,
adoptado). As coordenadas geodésicas de um ponto são definidas através da normal ao elipsóide de
referência utilizado na representação e como tal são dependentes das suas características físicas. Os
desvios angulares entre as duas normais a um mesmo ponto podem assumir grandes proporções em
geodesia e serem responsáveis por resultados discordantes, até então atribuídos aos erros das
observações.

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Cartografia

1 - Estudar a forma e dimensões da Terra. De acordo com as metodologias utilizadas


para o efeito pode classificar-se em:

Geodesia Geométrica ou Matemática quando utiliza para as determinações


referidas métodos geométricos, combinando medições astronómicas e geodésicas;

Geodesia Dinâmica ou Física quando recorre a métodos físicos, nomeadamente


medições gravimétricas;

Geodesia por Satélite quando utiliza observações efectuadas por satélites,


nomeadamente o estudo das suas órbitas.

2 - Definir à superfície terrestre a posição de um conjunto restrito de pontos de


referência (vértices geodésicos) com coordenadas planimétricas e altimétricas
rigorosas, homogeneamente espalhados sobre uma grande extensão territorial,
constituindo redes ou esqueletos geodésicos indispensáveis para a representação de
zonas mais ou menos extensas da superfície terrestre. Os vértices geodésicos
ligam-se, ficticiamente, entre si sob a forma de cadeias triangulares, constituindo as
chamadas rede de triangulação geodésica (em planimetria) e rede geodésica de
nivelamento (em altimetria).

A Cartografia estabelece a correspondência entre os vértices geodésicos, definidos através


da Geodesia, e os pontos base assinalados num plano com vista à representação plana da
superfície terrestre.

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Cartografia

2 CARTOGRAFIA

A Cartografia tem por objectivo representar num plano a superfície terrestre. Para o efeito
estuda e utiliza sistemas de representação plana e sistemas de projecção que permitem a
transferência de coordenadas dos pontos geodésicos à superfície terrestre para as
correspondentes coordenadas sobre o plano, que constitui a base da carta. Para a definição
e utilização dos sistemas de representação plana e dos sistemas de projecção torna-se
necessário definir, à priori, a forma e dimensões da Terra.

2.1 FORMA E DIMENSÕES DA TERRA

Uma parte considerável da superfície terrestre apresenta-se irregular e rugosa, constituída


por altas montanhas e depressões profundas. Essas irregularidades, face à curvatura
regular da superfície e à sua grande dimensão não são tão relevantes com à partida se
poderá considerar. Para exemplificar este aspecto pode considerar-se a Terra como uma
bola com 25,4 cm de diâmetro, cuja superfície corresponde ao nível médio do mar. Neste
contexto, o monte Evereste corresponderá a uma elevação de cerca de 0,176 mm e a fossa
da Mariana a uma depressão de cerca de 0,218 mm (Robinson et al., 1995).

A forma esférica foi atribuída para representação da superfície terrestre desde há vários
séculos, baseada em observações de fenómenos naturais.

Aristóteles (séc. IV A.C.) atribuiu a forma esférica à Terra uma vez que notou que no mar,
os navios desapareciam da vista, primeiro o casco e depois o mastro, em vez de se
tornarem ambas as partes progressivamente de menores dimensões, situação que ocorreria
se a Terra fosse plana.

Eratóstenes (276-195 A.C.) avaliou o raio da Terra a partir do conhecimento da distância


entre duas cidades do Egipto que supunha situarem-se sobre o mesmo meridiano, Sienna
(actual Assuão) e Alexandria. Verificou que ao meio-dia do dia 21 de Junho o sol não
produzia sombras nas paredes dos poços situados em Sienna, e concluiu que naquela data
o sol passava pelo zénite do lugar (vertical do lugar). No solstício seguinte foi-lhe possível
medir, em Alexandria, o comprimento da sombra projectada no solo por uma vara de um
dado comprimento e concluiu que, se as verticais de ambos os locais fossem prolongadas
até ao centro da Terra o ângulo por elas formado seria de 7°12' (Figura 2.1). Assim, dado
que a distância entre as duas cidades é de cerca de 925 km e corresponde a um arco de
7°12' / 360°, estimou o valor de 46250 km para o perímetro da circunferência terrestre. Na

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Cartografia

Figura 2.1 apresenta-se um esquema das relações geométricas utilizadas por Eratóstenes
na determinação do raio da Terra (Robinson et al., 1995).

Figura 2.1 - Relações geométricas utilizadas para definição do raio da esfera terrestre
(adaptado de Robinson et al., 1995)

Sabe-se actualmente, através de medições várias e de observações efectuadas com


satélites, que a Terra não apresenta uma forma esférica mas sim uma forma irregular que
não é de fácil tratamento matemático. Esta forma irregular não permite a obtenção de
cartas, dado não possibilitar a definição de expressões que estabeleçam a correspondência
entre os pontos da superfície e os correspondentes no plano. No entanto, para a
representação de zonas não muito extensas da superfície terrestre, é também, muitas vezes
utilizada em cartografia a esfera para aproximação da forma da Terra. Quando se adopta a
forma esférica, considera-se, usualmente, uma esfera cujo volume seja igual ao do elipsóide

adoptado. O raio da esfera será calculado através da relação 3 a 2 b , sendo a e b os

comprimentos dos semi-eixos maior e menor do elipsóide respectivo. A esfera assim


definida denomina-se esfera autálica.

Consideram-se, normalmente, 3 superfícies no tratamento da informação disponível com


vista à elaboração de cartas:

i . Superfície Física correspondente à fracção sólida da superfície terrestre e que


apresenta uma forma irregular;

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Cartografia

ii. Superfície do Geóide que é uma superfície fictícia definida de forma a ser normal
em cada ponto à vertical do lugar. A superfície do geóide, tal como a superfície física,
não é adequada ao cálculo das coordenadas da rede de triangulação geodésica uma
vez que não é possível a sua tradução matemática. A superfície do geóide é a
superfície de referência, utilizada em cartografia, para a realização de cálculos
altimétricos, e coincide com o nível médio das águas do mar, supostamente
prolongado sob os continentes, descontando a ondulação provocada pelo vento e a
influencia das marés (função das posições relativas da Terra, Lua, Sol e dos outros
planetas do Sistema Solar);

iii. Superfície do Elipsóide de Referência trata-se de uma superfície ideal que é


conveniente para a elaboração dos cálculos necessários à planificação da Terra.

Na Figura 2.2 representa-se, esquematicamente a relação entre as três superfícies


referidas, e a superfície do geóide, definida gravimetricamente pela NASA/Goddard Space
Flight Center.

Figura 2.2 - Superfícies física, do geóide e do elipsóide

O afastamento, em cada ponto, das superfícies do geóide e elipsóide designa-se por


oscilação do geóide. A Figura 2.3 e a Figura 2.4 mostram duas representações distintas da
superfície do geóide.

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Cartografia

Figura 2.3 - Superfície do geóide

Figura 2.4 - Superfície do geóide

Se a Terra apresentasse uma composição geológica uniforme e não se verificasse a


existência de zonas montanhosas, de bacias oceânicas e de outras irregularidades, a
superfície do geóide tenderia para a superfície de um elipsóide de revolução.

Vários elipsóides de referência tem sido adoptados e utilizados ao longo dos tempos e em
várias situações diferentes, verificando-se que actualmente quase todos os países da

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Cartografia

Europa ocidental adoptam o elipsóide internacional, ou elipsóide de Hayford2, proposto em


1924, em Madrid, pela U.G.G.I. (União Geodésica e Geofísica Internacional). Na
Assembleia da U.G.G.I. referida, ficou definido que:

1 - Seria importante a adopção do elipsóide internacional, ainda que tal não


constituísse imposição para países cuja triangulação fosse antiga ou avançada, pois
tal implicaria refazer os cálculos das redes já existentes;

2 - Os países recentemente abertos à geodesia ou os países que vissem necessidade


de rever os trabalhos de triangulação deveriam adoptar preferencialmente o elipsóide
internacional relativamente a qualquer outro.

Portugal, à semelhança da maioria dos países da Europa Ocidental, aderiu a esta


determinação, adoptando para revisão da sua rede o elipsóide de Hayford, ainda que para
fins cartográficos também utilize o elipsóide de Bessel. Como adiante se verá existem
algumas séries cartográficas portuguesas, da responsabilidade do IPCC (Instituto Português
de Cartografia e Cadastro, actual IGP – Instituto Geográfico Português) que têm como base
o elipsóide de Bessel.

Quadro 2.1 - Alguns elipsóides de referência


Elipsóide Semi-eixo maior (m) Semi-eixo menor (m) Achatamento Aplicações
Indonésia, Nordeste da
Bessel (1841) 6377397,2 6356079,0 1/299,2 China e Japão
Clarke (1858) 6378206,4 6356617,9 1/294,3 Austrália
América do Norte e Central
Clarke (1866) 6378206,4 6356584,0 1/294,9 e Filipinas
Clarke (1880) 6378249,1 6356518,0 1/293,5 África Meridional e Central
Paquistão, Indochina,
Everest (1830) 6377279,3 6356075,4 1/300 Afeganistão e Índia
Europa, Norte de África,
Hayford (1910) 6378388,0 6356912,0 1/297 U.Soviética, América do Sul
e Gronelândia
World Geodetic Reference
System de 1984; relacionado
WGS84 (1984) 6378137,0 6356752,3 1/298,257 com a utilização do GPS (Global
Positioning System)

No Quadro 2.1 são apresentadas as dimensões propostas para vários elipsóides, bem como
o correspondente achatamento, obtido através da relação entre a diferença dos
comprimentos dos semi-eixos maior e menor e o comprimento do semi-eixo maior. As
diferenças encontradas para os comprimentos dos semi-eixos e correspondentes
achatamentos, nos diversos elipsóides de referência apresentados, são devidas a diferentes

2
John Fillmore Hayford (1868 – 1925). Eminente geodesista norte-americano que determinou as
condições de construção do elipsóide internacional.

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Cartografia

precisões nas medições efectuadas e pequenas variações na curvatura terrestre, de


continente para continente, devido a irregularidades no campo gravítico terrestre.
Com base nos valores adoptados para os comprimentos dos semi-eixos maior e menor do
elipsóide de Hayford foram construídas as chamadas tabelas do elipsóide (Quadro 2.2) que
nos permitem encontrar para as várias latitudes os comprimentos correspondentes a um
arco de 1° de latitude e de longitude.

Como se pode verificar através da análise do Quadro 2.1 os elipsóides adoptados para a
representação da superfície terrestre caracterizam-se por possuir pequeno achatamento o
que permite concluir que de facto a forma da Terra se aproxima da de uma esfera.

Quadro 2.2 - Tabelas do elipsóide internacional (valores em km)


ϕ Arcos de ϕ Arcos de
Meridiano Paralelo Meridiano Paralelo
0° 110,58 111,32 39°40'(*) 111,03 85,81
5° 110,58 110,90 40° 111,04 85,40
10° 110,61 109,64 40°12'(*) 111,04 85,15
15° 110,65 107,55 45° 111,14 78,85
20° 110,71 104,65 50° 111,23 71,70
25° 110,78 100,95 60° 111,41 55,80
30° 110,85 96,49 70° 111,56 38,19
35° 110,94 91,29 80° 111,66 19,39
38°42'(*) 111,01 86,99 90° 111,69 0,00
(*) Latitudes, respectivamente, de Lisboa, do Ponto Central, e de Coimbra.

Em representações planimétricas que visem a elaboração de cartas com pequena escala,


para representação de países, continentes e grandes áreas, pode substituir-se o elipsóide
de referência por uma esfera de raio igual à média dos semi-eixos maior e menor do
elipsóide correspondente – esfera autálica – com erros absolutos de intensidade reduzida.

Em representações de zonas pouco extensas e independentes do conjunto, situação que é


retratada em muitos trabalhos topográficos, pode ainda considerar-se como simplificação, a
substituição do elipsóide de referência ou da esfera, por um plano tangente ao mesmo
(elipsóide ou esfera), no centro da zona a representar. Esta simplificação denomina-se
hipótese da Terra Plana e pode ser aceite dentro de certos limites planimétricos e
altimétricos.

Assim, para representações planimétricas pode aceitar-se a hipótese da Terra Plana desde
que a extensão da zona a representar não exceda 25-30 km, e para representações
altimétricas a extensão da zona a representar não deverá exceder 150-200 m.

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Cartografia

Quando em qualquer representação a simplificação da Terra Plana não puder ser


considerada torna-se necessário recorrer a outras simplificações, para efectuar a
planificação do elipsóide ou da esfera e a subsequente obtenção de cartas.

Na elaboração de um mapa ou carta podem considerar-se duas fases distintas, mas


interligadas entre si, que irão condicionar as suas características finais. Numa primeira fase
é necessário definir a superfície geométrica – superfície de referência – utilizada para
representar a superfície terrestre (esfera ou elipsóide de revolução) cuja escala, chamada
escala principal, é a do mapa que se pretende obter. Após a definição da superfície de
referência há que projectar sobre a mesma os pontos da superfície terrestre, previamente
seleccionados (Geodesia). Na fase seguinte (Cartografia Matemática) há que definir o tipo
de relação (sistema de representação plana) a utilizar na planificação da superfície de
referência. A Cartografia Matemática estuda a projecção de superfícies curvas como a
esfera ou o elipsóide de revolução (superfícies de dupla curvatura) em superfícies de
curvatura simples, tais como o plano, o cone ou o cilindro.

2.2 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO PLANA

Os sistemas de representação plana permitem estabelecer correspondências entre os


pontos da superfície de referência utilizada na representação da superfície terrestre e os
correspondentes pontos do plano. Para o efeito, ou seja para a planificação do elipsóide ou
da esfera, podem utilizar-se projecções geométricas, que consistem na projecção das
figuras curvilíneas da superfície de referência sobre superfícies planificáveis, como cilindros
ou cones, procedendo-se posteriormente à sua planificação, ou podem utilizar-se equações
analíticas de transformação, que permitam estabelecer relações entre pontos da superfície
geométrica utilizada na representação da superfície terrestre e os correspondentes sobre
um plano.

A utilização de sistemas de representação plana para a elaboração de mapas ou cartas


(desenho manual ou via computador, ou a transformação de uma perspectiva geométrica de
uma fotografia aérea) envolve alterações importantes a nível da geometria superficial da
superfície de referência, devido ao facto de uma superfície esférica ou a superfície de um
elipsóide e o plano pretendido não serem perfeitamente ajustáveis, verificando-se a
existência de alongamentos, reduções ou cortes, no processo de planificação (Figura 2.5).

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Cartografia

Figura 2.5 - Comparação entre a superfície esférica de referência e o mapa


correspondente (adaptado de Robinson et al., 1995)

Existem vários sistemas de representação plana, alguns dos quais possibilitam a


manutenção de uma ou mais das características geométricas da superfície inicial (esfera ou
elipsóide) em detrimento de outras, e outros podem não preservar nenhuma das
propriedades geométricas mas conduzem a deformações de pequena magnitude, aspecto
que poderá ser importante em algumas representações.

As características geométricas a preservar numa representação cartográfica dependem de


vários aspectos, entre os quais se podem referir, como mais importantes, a extensão, a
configuração e a latitude da região a representar e a finalidade da carta a elaborar. Alguns
sistemas são utilizados para representar a totalidade do globo terrestre, sendo neste caso
importante manter as relações topológicas globais em detrimento dos ângulos ou das
distâncias rigorosas. Por outro lado, em mapas de pequenas áreas é importante manter os
aspectos geométricos, com vista a minimizar variações de escala ao longo do mapa ou da
carta.

Os sistemas de representação plana, em função do tipo de deformação a que dão origem,


pode classificar-se em:

• Sistemas conformes se conservam os ângulos entre direcções. Como


consequência da preservação dos ângulos entre direcções a forma de todos os
pormenores da carta é apresentada correctamente. As imagens dos paralelos e
meridianos obtidos através de um sistema conforme intersectam-se segundo
ângulos rectos. As distâncias e as áreas são modificadas em determinadas zonas,
mas mantêm-se relativamente correctas ao longo de certos alinhamentos,
dependendo da projecção utilizada.
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Cartografia

• Sistemas equivalentes se conservam as áreas, podendo as formas, os ângulos e


a escala apresentar distorção, em determinadas zonas do mapa ou da carta. Os
sistemas equivalentes também podem ser denominados homolográficos, autálicos
ou de igual área.

• Sistemas afiláticos se não preservam nenhuma das características referidas mas


estabelecem uma solução de compromisso entre os diferentes tipos de distorção,
verificando-se, normalmente, deformações a nível dos ângulos, distâncias e áreas,
mas de reduzida magnitude.

Existem três tipos de superfícies geométricas nas quais se apoiam, pelo menos
parcialmente, a maior parte das projecções cartográficas efectuadas. Essas superfícies são
a superfície cilíndrica, a superfície cónica e a superfície plana e definem, respectivamente,
as projecções cilíndricas, cónicas e azimutais.

2.2.1 Projecções cilíndricas

Para se obter uma projecção cilíndrica considera-se a superfície de referência (esfera ou


elipsóide) envolvida por um cilindro, que lhe pode ser tangente ou secante (Figura 2.6). A
projecção cilíndrica será: i) directa se o cilindro estiver numa posição em que a linha de
tangência com a superfície de referência for o equador (ou dois paralelos, se o cilindro for
secante); ii) transversa se a linha de tangência for um meridiano (ou dois círculos menores
paralelos a um meridiano, no caso de ser secante); iii) oblíqua se a linha de tangência não
coincidir nem com o equador nem com um meridiano (Figura 2.7).

Figura 2.6 - Projecção cilíndrica tangente ao equador (A) e secante em dois


paralelos (B)

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Cartografia

Figura 2.7 - Projecção cilíndrica tangente directa (A), transversa (B) e oblíqua
(C)

Figura 2.8 - Projecção de Mercator (imagem do planisfério apresentado em


1569 por Mercator, designado de “Nova et Aucta Orbis Terrae Descriptio ad
Usum Navigatium Emendate”, com dimensões de 202 x 124 cm e composta por
18 folhas)

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Cartografia

Um dos sistemas de projecção mais importantes na história da cartografia é a projecção de


Mercator (Figura 2.8). Trata-se de uma projecção cilíndrica directa, que foi apresentada em
1569 por pelo geógrafo e cartógrafo flamengo Gerhard Kremer (de sobrenome latino
Gerardus Mercator). Dado tratar-se de uma carta conforme (conservação dos ângulos), é
especialmente indicada navegação marítima, tendo tido um papel determinante na época
dos descobrimentos.

A Figura 2.9 mostra o aspecto das deformações introduzidas pela projecção cilíndrica (seja
ela directa, transversa ou oblíqua). Como se vê, as deformações aumentam de forma
significativa à medida que aumenta a distância à linha de tangência (A). No caso de a
projecção ser secante (B), as deformações aumentam também à medida que cresce a
distância às linhas de secância, com a diferença de, neste caso, o factor de escala (relação
entre as distâncias medidas sobre a superfície de referência e a superfície da projecção) na
zona situada entre as linhas de secância seja inversa à que se verifica nas zonas exteriores.

Figura 2.9 - Deformações introduzidas na projecção cilíndrica tangente (A) e


secante (B) (adaptado de Robinson et al., 1995)

Na cartografia portuguesa é especialmente importante a projecção de Gauss3 (por vezes


também chamada de Mercator Transversa ou ainda de Gauss-Kruger4). É obtida através de
uma projecção cilíndrica transversa, consistindo, portanto, no envolvimento do elipsóide de

3
Johann Carl Friedrich Gauss (1777-1855). Famoso matemático, astrónomo e físico alemão.

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Cartografia

referência ou da esfera utilizada na aproximação, por um cilindro tangente ao meridiano


central da região a planificar. Em todos os pontos ao longo do meridiano central a alteração
é nula, aumentando gradualmente para este e para oeste desse meridiano. Nas
proximidades do meridiano central os ângulos são praticamente conservados (sistema
conforme) e pode considerar-se também a representação como praticamente equivalente.
Este tipo de representação é utilizado com bons resultados na planificação a adoptar em
países como o nosso, nos quais o maior desenvolvimento se verifica ao longo de
meridianos.

Os sistemas de representação planos de Mercator Transverso têm sido muito utilizados na


elaboração de cartas topográficas e a projecção cilíndrica secante serviu de base ao
sistema de coordenadas rectangulares UTM (Universal Transverse Mercator) que
posteriormente será tratado.

2.2.2 Projecções cónicas

Para se obter uma projecção cónica considera-se a superfície de referência envolvida por
um cone, que lhe pode ser tangente ou secante (Figura 2.10). Existem várias projecções
cónicas diferentes, sendo que, tal como nas projecções cilíndricas, também aqui o cone
pode estar posto na posição directa, transversa ou oblíqua.

Uma das projecções cónicas mais conhecidas é a projecção cónica de Lambert. É uma
projecção conforme pois os ângulos são praticamente conservados, a alteração linear é
nula ao longo do paralelo central, aumentando para norte e para sul do mesmo. Este
sistema é utilizado em França, tendo o território sido dividido em três zonas que se
denominam Lambert Norte; Lambert Centro e Lambert Sul (Figura 2.11), e em Espanha e
na Suécia para elaboração de algumas cartas.

Figura 2.10 - Projecção cónica tangente (A) e secante (B)

4
Johannes Heinrich Louis Krüger (1857-1923). Geodesista alemão. Criou a projecção Gauss-Krüger.

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Cartografia

Como se pode ver na Figura 2.10, os meridianos do elipsóide ou da esfera são


representados através de segmentos de recta convergentes no vértice do cone e os
paralelos são representados através de círculos concêntricos, centrados no mesmo ponto.

Figura 2.11 - Projecção multi-cónica

Tal como atrás se fez referência para o caso das projecções cilíndricas, também nas
projecções cónicas se introduzem deformações que aumentam com a distância às linhas de
tangência ou secância (Figura 2.12).

Figura 2.12 - Deformações introduzidas na projecção cónica tangente (A) e


secante (B) (adaptado de Robinson et al., 1995)

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Cartografia

2.2.3 Projecções azimutais

As projecções azimutais caracterizam-se por projectar a totalidade ou parte da superfície de


referência directamente sobre um plano (plano de projecção), o qual pode ser tangente ou
secante, relativamente à superfície de referência (Figura 2.13).

Figura 2.13 - Projecção azimutal secante (A) e tangente (B)

Neste tipo de projecções a linha perpendicular ao plano da projecção passa


obrigatoriamente pelo centro do globo terrestre, ou pelo centro de massa do elipsóide
adoptado.

As deformações decorrentes deste tipo de projecção são simétricas relativamente ao ponto


central (ponto de tangência entre a esfera, ou elipsóide de referência, e o plano de
projecção) escolhido para a projecção (Figura 2.14).

Figura 2.14 - Deformações introduzidas na projecção azimutal tangente (A) e


secante (B) (adaptado de Robinson et al., 1995)

É possível a existência de um número infinito de projecções azimutais, mas apenas cinco


são bem conhecidas; a projecção equivalente de Lambert, a estereográfica (ponto de

19
Cartografia

projecção é o antípoda do ponto de tangência), a azimutal equidistante, a ortográfica (ponto


de projecção localiza-se no infinito) e a gnomónica (ponto de projecção localiza-se no centro
da Terra), diferindo entre si devido principalmente à posição dos pontos de projecção. Na
Figura 2.15 apresentam-se as posições hipotéticas dos pontos de projecção na definição
das classes de projecções azimutais, e na Figura 2.16 podem comparar-se porções das
cinco projecções azimutais, neste caso, centradas no pólo.

Figura 2.15 - Posições hipotéticas dos pontos de projecção: (1) Gnomónica;


(2) Estereográfica; (3) Equidistante; (4) Equivalente; (5) Ortográfica (adaptado
de Robinson, 1985)

Figura 2.16 - Comparação de porções dos tipos de projecções azimutais mais


comuns, centradas no pólo (adaptado de Robinson et al., 1995)

2.3 SISTEMAS DE REFERENCIAÇÃO

Para a referenciação de pontos ou seja, para a definição da sua posição num plano face a
um sistema de eixos coordenados, é necessário definir processos gerais que permitam
identificar e localizar pontos de referência de uma maneira uniforme e precisa sem exigir o

20
Cartografia

conhecimento da região, poderem estes processos ser aplicáveis a grandes áreas e


utilizáveis em cartas com diferentes escalas e ainda não exigir o conhecimento de pontos
característicos do terreno.

Para possibilitar a identificação de qualquer ponto da superfície terrestre, com recurso aos
sistemas de referenciação, é necessário definir para cada sistema de referenciação uma
origem ou referência, constituída por um ponto perfeitamente definido – ORIGEM – e duas
direcções de referência que se intersectem sobre a origem – EIXOS COORDENADOS. A
materialização deste esquema sobre a carta é feita através da marcação de uma quadrícula
graduada que permitirá facilmente determinar as coordenadas de qualquer ponto da carta.

2.3.1 Coordenadas Geográficas

Para facilitar a referenciação de pontos no sistema de coordenadas geográficas utiliza-se


uma rede constituída por meridianos e paralelos, sendo a referenciação planimétrica de
qualquer ponto obtida pela indicação da respectiva latitude em graus Norte ou Sul (para
Norte ou para Sul do equador) e a longitude em graus Este ou Oeste. A unidade de medida
angular utilizada é o grau sexagesimal e seus submúltiplos (minuto e segundo
sexagesimais).

Torna-se necessário a definição de alguns conceitos para a utilização do Sistema de


Coordenadas Geográficas:

• Linha dos pólos é o eixo de revolução em torno do qual se processa a rotação da


Terra;

• Meridianos são círculos máximos que resultam da intersecção da superfície


terrestre por planos contendo a linha dos pólos;

• Meridiano de lugar é um meridiano que passa no lugar considerado e que é


responsável pela identificação da direcção N-S geográfica;

• Equador é um círculo máximo resultante da intersecção da superfície terrestre por


um plano perpendicular à linha dos pólos, passando pelo centro da Terra;

• Paralelos são círculos menores paralelos ao equador;

• Paralelo de lugar é um círculo menor paralelo ao equador que passa pelo lugar
considerado.

O sistema de referenciação por coordenadas geográficas é caracterizado, de acordo com o


que atrás ficou estabelecido, por duas direcções de referência, que definem a respectiva
origem das coordenadas geográficas e que apresentam as seguintes características:

21
Cartografia

• Meridiano de Greenwich é o meridiano que passa pelo Royal Observatory de


Greenwich, perto de Londres. Foi adoptado internacionalmente para origem de
uma das coordenadas geográficas (Longitude = 0°) em 1884 em Washington,
D.C. durante a International Meridien Conference;

• Equador

A intersecção do Equador com o Meridiano de Greenwich permitiu definir, para origem das
coordenadas geográficas, um ponto no golfo da Guiné.

As coordenadas geográficas permitem determinar exactamente a posição de qualquer


ponto sobre a superfície terrestre e constituem o principal sistema de referência em termos
de localização de qualquer ponto à superfície terrestre. Podem considerar-se assim as
coordenadas geográficas planimétricas que são a Latitude e Longitude e a coordenada
altimétrica ou seja a respectiva Altitude. Na Figura 2.17 apresentam-se esquematicamente
as coordenadas geográficas planimétricas – latitude e longitude.

Figura 2.17 - Coordenadas geográficas (latitude e longitude)

A latitude, utilizada para localizar a posição N-S de qualquer ponto, depende da curvatura
da superfície terrestre e da forma utilizada na sua representação para aproximação à
realidade. A latitude de um ponto é representada através do arco, medido sobre o meridiano
de lugar, compreendido entre o equador e o paralelo de lugar. Pode variar de 0° a 90° para
Norte ou para Sul do equador.

22
Cartografia

Longitude de um lugar é o arco, medido sobre o equador, compreendido entre o meridiano


de referência e o meridiano de lugar. Pode variar de 0° a 180° para Este ou para Oeste do
meridiano de referência (meridiano de Greenwich).

Figura 2.18 – Esquema representativo da localização de um ponto situado à


latitude de 27ºN e à longitude de 74ºW

Altitude de um ponto ou de um lugar é a distância medida na vertical entre esse lugar e


uma superfície de referência ou superfície do geóide (Figura 2.19). A superfície do geóide,
altitude de zero metros, corresponde ao nível médio das águas do mar supostamente
prolongado sob os continentes. A superfície do geóide, em Portugal, é definida pelos
valores registados no marégrafo de Cascais.

Para a materialização em cartas do sistema de referenciação por coordenadas geográficas


é utilizada uma rede geográfica, constituída pela representação plana de meridianos e
paralelos e com indicação, em cada folha da carta, do valor da longitude dos meridianos e
da latitude dos paralelos representados. Na Figura 2.20 apresenta-se esquematicamente
uma carta, onde se visualizam os meridianos e paralelos, com indicação das respectivas
coordenadas geográficas planimétricas.

23
Cartografia

Figura 2.19 - Representação da altitude de um ponto

Figura 2.20 - Coordenadas geográficas planimétricas

2.3.2 Coordenadas Rectangulares

Para definir a posição de um ponto sobre um plano, referenciação do ponto, é comum


apresentá-la, para maior facilidade do utilizador, sob a forma de distâncias a sistemas de
eixos, usualmente perpendiculares entre si. Cada sistema de eixos utilizado constitui um
sistema de coordenadas rectangulares.

A utilização de um sistema de coordenadas rectangulares torna necessário a definição


prévia da origem do sistema, isto é o ponto de cruzamento dos eixos coordenados, a
orientação dos eixos que normalmente são perpendiculares entre si, sendo a localização
dos vários pontos apresentada sob a forma de distâncias a cada um dos eixos, antecedida
ou não, de sinal negativo, em função da sua orientação.

Nestes sistemas de coordenadas rectangulares, nomeadamente em Portugal, um dos eixos


coordenados é dirigido segundo a direcção N-S cartográfica e define a Meridiana de

24
Cartografia

Origem do sistema e o outro eixo é perpendicular ao primeiro e define a Perpendicular de


Origem do sistema. A coordenada apresentada em primeiro lugar na identificação de pontos
é a abcissa ou distância à meridiana de origem e designa-se por X ou por M sendo depois
apresentada a ordenada ou distância à perpendicular de origem designa-se por Y ou por P.

Exemplo: As coordenadas do ponto P são: P (45 km, 35km)

Isto significa que a abcissa de P, ou distância à meridiana de origem, é de 45 km, sendo a


sua ordenada, ou distância à perpendicular de origem, de 35 km, ambas positivas.

2.4 SISTEMAS DE USO EM PORTUGAL

A cartografia existente no nosso país utiliza dois sistemas de representação plana (Gauss e
Bonne5) e baseia-se na adopção de dois elipsóides de referência (Hayford e Bessel6),
conduzindo a 5 sistemas diferentes de coordenadas rectangulares. No Quadro 2.3 são
apresentados os sistemas utilizados na elaboração das cartas Portuguesas, com as suas
características principais:

• O sistema de representação plana que possibilitou a planificação do elipsóide


adoptado em cada situação;

• O elipsóide utilizado na aproximação da realidade física. A nossa cartografia utiliza


dois elipsóides; o elipsóide de Bessel e o elipsóide Internacional (ou de Hayford);

• O datum (plural = data) que é um ponto utilizado como referência ou como base
para o estabelecimento de redes de triangulação. É um ponto, onde por
convenção se define a tangência entre as superfícies do elipsóide e do geóide, ou
seja, onde os desvios da vertical (ângulos que definem a diferença entre a vertical
de um lugar e a normal ao elipsóide) são nulos. Os desvios da vertical dão
indicação, em cada ponto, das diferenças entre coordenadas astronómicas e
coordenadas geodésicas referidas ao elipsóide; se os mesmos são nulos pode
dizer-se que as coordenadas astronómicas e geodésicas se igualam;

• A origem do sistema de coordenadas rectangulares, ou seja o ponto onde se


convencionou a intercepção dos dois eixos coordenados;

• As cartas elaboradas com recurso a cada um dos sistemas definidos.

5
Rigobert Bonne (1729 - 1795). Eminente cartógrafo francês. A projecção de Bonne é uma projecção
pseudo-cónica, parcialmente equivalente (conserva as áreas), na qual os paralelos são representados
como arcos de círculo concêntricos. O meridiano central é uma linha recta, sendo os restantes
representados como curvas (semelhante à projecção cilíndrica transversa).

25
Cartografia

Quadro 2.3 - Sistemas utilizados na elaboração das cartas portuguesas

Sistemas Cartográficos

Sistema de Sistema de Hayford / Gauss


Bessel/Bonne
SHGA SHGM SHG73 UTM
(SBB)
Sistema de
Representa Bonne Gauss Gauss Gauss Gauss
ção Plana
Elipsóide Bessel Hayford Hayford Hayford Hayford
Castelo Castelo Castelo Europeu
Datum Datum 73
S. Jorge S. Jorge S. Jorge (Postdam)
Origem das PC PC OF PC 500km a Oeste do
coordena- 39°40'N 39°40'N 200 km W 39°40'N Meridiano Central /
das 8°07’54,806’’'W 8°07'54,862''W 300 km S 8°7'54,862''W Equador
IPCC *
IGeoE ** IPCC * IGeoE **
IPCC * 1/200000
1/25000 Ortofotomapas 1/50000
Cartas 1/50000 1/10000
1/250000 1/10000 1/250000
1/100000 1/5000
1/10000 1/2000 1/25000
1/2000
* IPCC – Instituto Português de Cartografia e Cadastro (actual IGP – Inst. Geográfico Português)
** IGeoE – Instituto Geográfico do Exército

Como referência ao Datum Castelo de S. Jorge pode referir-se que em 1787 foi inaugurado
o Observatório Astronómico da Academia das Ciências de Lisboa numa das torres do
Castelo de S. Jorge, ponto tomado para a materialização do Datum. O referido observatório
foi posteriormente demolido, tendo sido anulada a materialização do Datum. Actualmente
existe numa posição próxima, um vértice geodésico, Lisboa, que integra a rede de
triangulação geodésica.

O Datum 73 (Dt73), utilizado no sistema de Hayford Gauss moderno (SHG73) estabelece a


amarração do elipsóide internacional ao geóide no vértice geodésico da Melriça, perto de
Abrantes, no centro geométrico de Portugal Continental.

O sistema de Bessel Bonne (SBB), como se pode verificar da análise do quadro anterior, foi
utilizado nas cartas do IPCC (Instituto Português de Cartografia e Cadastro, ex IGC -
Instituto Geográfico e Cadastral e actual IGP – Instituto Geográfico Português) nas escalas
1/100.000 e 1/50.000 e também nas cartas temáticas7 que tiveram por base as referidas
cartas do IPCC, como por exemplo a Carta Geológica de Portugal à escala 1:50.000, a

6
Friedrich Wilhelm Bessel (1784 - 1846). Matemático e astrónomo alemão.
7
Cartas temáticas são cartas que evidenciam determinados aspectos específicos (ver capítulos
seguintes).

26
Cartografia

Carta Hidrogeológica da Orla Algarvia à escala 1/100.000 e as Cartas Geológica e Mineira


de Portugal à escala 1/500.000.

Nas imagens da Figura 2.21 apresentam-se, para cada sistema referido, o sistema de
coordenadas rectangulares mais utilizados quer a nível nacional (Quadrícula MP e
Quadrícula UTM) quer a nível internacional, com a referenciação da sua origem e com a
correspondente orientação dos eixos coordenados.

Figura 2.21 - Sistemas de coordenadas rectangulares utilizados em algumas


cartas portuguesas

A existência de todos os sistemas referidos pode colocar problemas, ao utilizador, sob o


ponto de vista da localização de um mesmo ponto em cartas com diferentes sistemas. Este
aspecto pode ser ultrapassado uma vez que existem relações aproximadas que permitem a
mudança de coordenadas entre os vários sistemas. As relações referidas são as seguintes,
com as coordenadas X, Y, M, P, expressas em km:

27
Cartografia

X (SBB) ≈ - X (SHGA ou SHG73) ≈ - M + 200 (SHGM)

Y (SBB) ≈ - Y (SHGA ou SHG73) ≈ - P + 300 (SHGM)

Em que X e Y representam as distâncias do ponto considerado aos eixos coordenados Y e


X e M e P representam as distâncias, respectivamente, à meridiana e à perpendicular de
origem.

2.5 QUADRÍCULAS

2.5.1 Quadrícula Militar Portuguesa

A quadrícula militar portuguesa é utilizada nas cartas do Instituto Geográfico do Exército.


Considera o território português localizado no quadrante NE de um sistema de eixos
coordenados definido da forma que a seguir se explica.

A origem das coordenadas – ponto de coordenadas (0,0) – é um ponto fictício8 localizado a


SW do cabo de S. Vicente, no mar, cujas coordenadas rectangulares relativamente ao
ponto central, situado no vértice geodésico da Melriça, próximo da povoação de Vila de Rei
a norte de Abrantes, são:

M = - 200 km M representa a distância à meridiana de origem;

P = - 300 km P representa a distância à perpendicular de origem;

Os eixos coordenados na quadrícula militar portuguesa são paralelos aos eixos


coordenados correspondentes com origem no ponto central.

O território é coberto por uma malha quadrangular com 100 km de lado (malha
centiquilométrica), segundo segmentos de recta paralelos aos eixos coordenados referidos.
Cada quadrado com 100 km de lado é designado por uma letra de A a Z (excepção para o I,
já que se trata de um caracter passível de ser confundido com o algarismo 1 “um”), de
Oeste para Este e de Norte para Sul, com se pode ver na Figura 2.22.

Os quadrados assim identificados são divididos em quadrados com 10 km de lado (malha


decaquilométrica), identificados no canto inferior esquerdo com um conjunto de dois
algarismos que representam as suas coordenadas relativamente à origem do quadrado

8
Daí ser frequentemente designada de origem fictícia.

28
Cartografia

respectivo com 100 km de lado. Nas diferentes folhas das cartas que utilizam a quadrícula
militar portuguesa aparece, como indicação marginal, a letra que referencia o quadrado com
2
a área de (100 x 100) km e por baixo desta os dois algarismos referidos.

Cada quadrado de 10 km de lado é ainda subdividido em quadrados com 1 km de lado


(malha quilométrica), como forma de adensar a malha disponível e facilitar a identificação
de pontos. Os traços que definem a malha quilométrica aparecem reforçados de 5 em 5 km
com indicação do algarismo 0 ou 5, para facilitar a leitura das coordenadas dos diferentes
pontos. Na Figura 2.22 apresenta-se a utilização da quadrícula militar portuguesa, com
definição das malhas decaquilométrica e quilométrica. Nas cartas que utilizam a quadrícula
militar portuguesa vêem apresentadas informações marginais explicativas da utilização
dessa mesma quadrícula, como pode ser verificado pela análise da Figura 2.28.

Figura 2.22 - Quadrícula Militar Portuguesa

2.5.2 Quadrícula UTM (Universal Transverse Mercator)

A quadrícula UTM caracteriza-se por possuir um sistema de coordenadas rectangulares no


qual cada quadrado da quadrícula apresenta igual forma e dimensões. A unidade de
medida é o metro ou um múltiplo do metro e o intervalo da quadrícula (distância entre as
linhas da quadrícula referenciadas na carta) pode variar com a escala da carta, sendo na
carta militar à escala 1/25.000 de 1000 m.

29
Cartografia

A definição da quadrícula UMT baseou-se nos seguintes procedimentos:

A fracção da superfície terrestre localizada entre os paralelos 84° N e 80° S está dividida,
por meio de meridianos espaçados de 6°, em 60 fusos numerados de 1 a 60 a partir do
antemeridiano de Greenwich, crescendo para este. A fracção referida está também
subdividida por paralelos intercalares com espaçamento constante de 8°, com excepção do
paralelo situado mais a norte cujo intervalo é de 12°. Cada porção delimitada por dois
paralelos consecutivos denomina-se faixa (20 faixas no total) e é identificada por uma letra,
de C a X com excepção das letras I e O, a partir do paralelo 80° S. Ficam assim definidas
1200 zonas constituídas por 60 fusos e por 20 faixas. Na Figura 2.23 pode verificar-se este
aspecto com apresentação das designações utilizadas em cada zona (fuso e faixa). Na
Figura 2.24 apresenta-se a planificação de um fuso da quadrícula UTM.

Figura 2.23 - Quadrícula UTM

30
Cartografia

Figura 2.24 – Aspecto de diversas fases envolvidas na planificação de um


fuso UTM

Figura 2.25 - Eixos de referência das coordenadas rectangulares de um fuso


do sistema UTM

Cada fuso apresenta um sistema de eixos de referência próprio (Figura 2.25) constituído
por:

31
Cartografia

• meridiana de origem do fuso que, por convenção, se localiza 500 km a oeste do


meridiano central do fuso, para evitar coordenadas negativas para pontos situados a
oeste do referido meridiano central.

• equador ao qual se atribui, para pontos localizados no hemisfério norte, distâncias,


relativamente às perpendiculares de origem de cada faixa, superiores ou iguais a 0 km
(0 km se a perpendicular de origem se situar sobre o equador), e para pontos
localizados no hemisfério sul, distâncias inferiores ou iguais a 10.000 km (foi imposta
uma translação de 10.000 km à respectiva perpendicular de origem).

Como forma de adensar a malha ou quadrícula em cada área definida por um fuso e uma
faixa vão ser considerados quadrados com 100 km de lado identificados por um conjunto de
duas letras. Cada um destes quadrados é ainda subdividido, por meio de linhas paralelas às
meridianas e perpendiculares de origem, em quadrados com 1 km de lado. Na Figura 2.26
apresenta-se a referenciação das zonas (fuso + faixa) e a identificação dos quadrados de
100 km de lado. Na Figura 2.27 apresenta-se uma divisão da quadrícula, referente à malha
quilométrica, que é a que surge representada nas cartas do IGeoE à escala 1/25.000. Como
se verifica, Portugal Continental encontra-se localizado, na quadrícula UTM, no fuso 29 e
nas faixas S e T.

Figura 2.26 - Referenciação dos quadrados de 100km de lado, dentro de cada


zona (fuso + faixa). A zona 27S está destacada

32
Cartografia

Figura 2.27 - Malha quilométrica (UTM)

Na referenciação de qualquer ponto, numa carta que apresente a quadrícula UTM, deverão
indicar-se as designações apresentadas para o fuso, a faixa, o quadrado de 100 km de lado
e as coordenadas quilométricas correspondentes. Nas diferentes folhas que constituem a
carta à escala 1/25.000 vem apresentado, na margem inferior e ao centro, a forma de
efectuar a referenciação de pontos conforme se mostra na Figura 2.28.

Figura 2.28 - Informações marginais numa carta com quadrícula UTM

Na Figura 2.29 é apresentada a metodologia seguida para definição das coordenadas UTM
do vértice geodésico “Alfeizerão”, constante da folha 316 da Carta Militar de Portugal na
escala 1:25.000.

33
Cartografia

Letras que definem o quadrado de 100 km de lado, onde se situa o ponto MD

2 Algarismos grandes da linha vertical da quadrícula imediatamente à esquerda do ponto 90

Medir ou estimar a distância natural (escala da carta) dessa linha ao ponto 587

2 Algarismos grandes da linha horizontal da quadrícula imediatamente abaixo do ponto 72

Medir ou estimar a distância natural (escala da carta) dessa linha ao ponto 487

Figura 2.29 - Apresentação das coordenadas UTM do vértice geodésico


ALFEIZERÃO, na folha 316 da Carta Militar de Portugal esc. 1/25.000

Com base na informação constante do quadro da Figura 2.29, conclui-se que as


coordenadas do vértice ALFEIZERÃO, apresentadas de acordo com o sistema UTM, serão:

29SMD9058772487

É importante que este código alfanumérico de coordenadas UTM seja apresentado como
uma sequência contínua de letras e algarismos, isto é, sem deixar espaços e sem introduzir
outros caracteres “estranhos” (virgulas, pontos, traços, …), de modo a não inviabilizar a sua
leitura automática através dos meios informáticos que tratam este tipo de informação.

Decompondo o código acima apresentado, pode ver-se que as informações nele contidas
são:

Note-se que os valores das distâncias à Meridiana e à Perpendicular são aprestados sem a
informação centiquilométrica, ou seja, em cada um dos valores o primeiro algarismo está
sempre em dezenas de quilómetros. Por exemplo, se a distância efectiva do vértice
“Alfazeirão” à meridiana de origem fosse 590.587 m (e.g.), seria o algarismo 5 que estaria
omitido (5 centenas de quilómetros). Do mesmo modo, se a distância efectiva à
Perpendicular (Equador) fossem 4.372.487 m (e.g.), seriam os algarismos 4 e 3 (43
centenas de quilómetros) que estariam omitidos. Isto porque ao indicarem-se as letras que

34
Cartografia

definem o quadrado de 100km de lado (neste caso as letras MD) já se está a reduzir o
espaço a uma área onde não existem distâncias superiores a 100km).

Note-se ainda que neste exemplo a localização do ponto está dada com uma precisão de 1
metro, uma vez que as distâncias à Meridiana e Perpendicular são dadas com 5 algarismos
(o primeiro está em dezenas de quilómetros, o segundo em quilómetros, o terceiro em
centenas de metros, o quarto em dezenas de metros e o quinto em metros). Se
quiséssemos referenciar o mesmo ponto com uma aproximação às centenas de metros,
apresentaríamos o código com o seguinte aspecto (retiram-se os dois últimos algarismos
dos valores das distâncias à Meridiana e à Perpendicular):

29SMD905724

O mesmo ponto referenciado com aproximação às dezenas de metros seria:

29SMD90587248

Daqui se conclui também que a informação relativa às distâncias à Meridiana e à


Perpendicular têm de constituir sempre um conjunto par de algarismos, ou seja, têm de
estar apresentadas com a mesma aproximação (i.e., nas mesmas unidades), de modo a
que se possa sempre retirar que a primeira metade da sequência de algarismos que vem à
direita das letras se refere à distância à Meridiana e a segunda metade à distância à
Perpendicular.

Por fim, refira-se que no caso de as coordenadas estarem referidas a um ponto que não
dista mais de 18° em latitude ou longitude de um determinado local conhecido, é aceitável
omitir a informação relativa à zona (fuso e faixa), uma vez que nesse intervalo (nessa
“vizinhança”) não há repetição das letras que referenciam os quadros. Aplicando esta
modalidade ao caso do vértice de “Alfeizerão” acima apresentado, ficaria:

MD9058772487

2.5.3 Quadrícula UPS (Universal Polar Stereographic)

A quadrícula UPS é utilizada na representação das regiões da superfície terrestre não


abrangidas pela quadrícula UTM, ou seja na representação da calote Norte, latitudes
superiores a 84° N, e calote Sul, latitudes superiores a 80° S. Os pressupostos utilizados na
sua elaboração são idênticos aos utilizados para a quadrícula UTM. O sistema de
representação plano utilizado na planificação do elipsóide internacional consiste numa
projecção azimutal polar estereográfica. O sistema de referenciação utilizado na
identificação das zonas da quadrícula UPS utiliza apenas letras, sendo as letras A e B

35
Cartografia

empregues para identificar as zonas oeste e este da calote Sul, e as letras Y e Z empregues
para identificar as zonas oeste e este da calote Norte. Conjuntamente as quadrículas UTM e
UPS permitem a referenciação da totalidade do globo terrestre. Na Figura 2.30 pode
verificar-se este aspecto com apresentação das designações utilizadas em cada zona (fuso
e faixa).

Figura 2.30 – O sistema UPS e sua integração com a quadrícula UTM


(adaptado de Robinson et al., 1995)

2.6 CONCLUSÃO

A utilização dos sistemas de coordenadas rectangulares face aos sistemas de coordenadas


angulares torna consideravelmente mais simples os cálculos de coordenadas numa carta.
Existe software disponível que permite efectuar os cálculos e as transformações da latitude
e longitude (coordenadas geográficas ou geodésicas) para os sistemas de coordenadas
rectangulares e vice-versa, possibilitando ainda a compatibilização entre coordenadas
rectangulares de diferentes sistemas.

Para além dos sistemas de coordenadas rectangulares apresentados existem vários outros
com utilizações preferenciais noutras situações.

36
Cartografia

3 DIRECÇÕES

Direcção é uma entidade materializada por um segmento de recta segundo o qual se pode
dirigir, apontar ou deslocar algo. As direcções expressam-se em unidades de medida
angular sendo o sistema sexagesimal o mais utilizado (grau, minuto e segundo
sexagesimais).

3.1 DIRECÇÕES DE REFERÊNCIA

Quando se pretende medir alguma entidade é sempre necessário definir uma origem; para
se definir uma direcção torna-se necessário definir uma direcção de origem ou de
referência. A direcção de referência normalmente utilizada é a direcção do norte, a qual em
cartografia e para fins de orientação não é única, podendo distinguir-se três nortes:

• Norte geográfico que é a direcção da linha que une um local da Terra com o Pólo
Norte; os meridianos geográficos indicam a direcção do Norte geográfico. Nos
diagramas de declinação de cartas esta direcção é representada por um asterisco,
como se pode verificar na Figura 3.1.

• Norte magnético que é a direcção indicada pela agulha magnetizada de uma


bússola. A agulha magnetizada de uma bússola indica-nos a direcção do pólo norte
magnético, que na maior parte das situações não coincide com o pólo norte
geográfico. Esta direcção varia de local para local e num mesmo local sofre
flutuações sazonais (ao longo do tempo). É usualmente representada por uma seta
no diagrama de declinação de uma carta, sendo também apresentado no diagrama
a metodologia a utilizar para aferir em cada ano e para cada local esta direcção,
dado que em cada carta a direcção do norte magnético foi definida para o ano de
edição da mesma.

• Norte cartográfico que é a direcção indicada pelas linhas verticais da quadrícula de


uma carta. A direcção do norte cartográfico é definida pelo sistema de representação
plano utilizado na elaboração da carta. Nos diagramas de declinação esta direcção
de referência é normalmente representada pelos caracteres Nc.

As direcções de referência mais utilizadas em topografia são as dos nortes magnético, em


trabalhos de campo dado que uma parte considerável dos aparelhos topográficos utilizados
em observações de campo são orientados, com utilização de uma bússola, para a direcção
referida, e cartográfico, em cartas.

37
Cartografia

No ponto 3.3 será abordado este diagrama de declinação com referência aos ângulos
formados entre direcções de referência.

Figura 3.1 - Diagrama de declinação magnética

3.2 AZIMUTES E RUMOS

A metodologia mais utilizada para definir uma direcção é a que utiliza o conceito de ângulo
azimutal, o qual é definido como sendo o ângulo horizontal, contabilizado a partir de uma
direcção de referência, no sentido do movimento dos ponteiros do relógio (sentido
retrógrado), considerando-se o seu vértice como centro do círculo azimutal (Figura 3.2).

Figura 3.2 – Origem do círculo azimutal; ângulo azimutal

38
Cartografia

Consoante a direcção de referência é a direcção do norte geográfico, do norte magnético ou


do norte cartográfico, assim se define o azimute geográfico, o azimute magnético ou o rumo
(também denominado azimute cartográfico) de uma direcção, como se pode ver na Figura
3.3.

Figura 3.3 - Azimutes e Rumo de uma direcção AB

Um azimute ou rumo inverso de uma direcção é definido através do azimute ou rumo da


direcção inversa. Conhecido o azimute ou rumo de uma direcção pode determinar-se o
azimute ou rumo da direcção inversa somando ou subtraindo 180° ou 200g ao valor
conhecido, consoante este seja menor ou maior do que 180° ou 200g conforme apresentado
na Figura 3.4.

α AB = αBA + 180° se αBA < 180°


α AB = αBA − 180° se αBA > 180°

Figura 3.4 - Azimute e Azimute inverso de uma direcção AB

39
Cartografia

3.3 DIAGRAMA DE DECLINAÇÃO

O diagrama de declinação impresso na maior parte das cartas permite ao utilizador a


conversão de uma direcção de referência noutra ou a conversão de um azimute (geográfico,
magnético ou rumo) noutro. Como se pode ver na Figura 3.1 o diagrama da declinação é
constituído por 3 linhas, correspondentes às 3 direcções de referência apresentadas, e por
três ângulos, declinação magnética, convergência de meridianos e declinação da
quadrícula, cujos significados são os que se explicam a seguir.

Declinação magnética é o ângulo formado pelas direcções dos nortes geográfico e


magnético; é expresso em unidades angulares com indicação de E ou W em relação à
direcção do norte geográfico. Como atrás foi referido a direcção do norte magnético varia de
local para local e num mesmo local sofre flutuações sazonais. Em cada instante a
declinação magnética num dado local pode ser determinada através da observação
astronómica da direcção do norte geográfico (meridiano verdadeiro) e leitura, com utilização
de uma bússola, do ângulo definido pelas duas direcções. Num determinado período e
numa dada região pode ser definido um gráfico que apresente as linhas de igual valor da
declinação magnética (linhas isogónicas), que se denomina carta de isogónicas. Na Figura
3.5 apresenta-se a carta de isogónicas dos Estados Unidos da América9 em 1990.

Figura 3.5 - Carta de isogónicas dos Estados Unidos da América em 1990

9
Os serviços geológicos dos Estados Unidos (U.S. Geological Survey) elaboram gráficos de
isogónicas detalhados de 5 em 5 anos.

40
Cartografia

A variação da declinação magnética é também apresentada na referida carta através de


linhas tracejadas e permite a estimativa da declinação magnética alguns anos antes ou
após a data de elaboração da carta.

A declinação magnética apresenta variações seculares, variações diárias (ao longo de um


mesmo dia), variações anuais, variações ao longo do ano e outras variações irregulares. As
variações seculares, devido à sua magnitude, são as mais importantes variações da
declinação magnética. Não existe, contudo, qualquer lei ou fórmula matemática que permita
prever de forma precisa este tipo de variações. A título de exemplo podem apresentar-se os
registos da declinação magnética em Londres durante cerca de 4 séculos, onde se pode
observar estas importantes flutuações:

• 1580 – 11°E;

• 1820 – 24°W;

• 1985 – 5°W;

As variações irregulares são usualmente de reduzida magnitude e são causadas por


distúrbios magnéticos imprevisíveis.

Convergência de meridianos é o ângulo formado pelas direcções dos nortes geográfico e


cartográfico; é expresso em unidades angulares com indicação de E ou W em relação à
direcção do norte geográfico;

Declinação da quadrícula é o ângulo formado pelas direcções dos nortes cartográfico e


magnético; é expresso em unidades angulares com indicação de E ou W em relação à
direcção do norte cartográfico.

41
Cartografia

4 REPRESENTAÇÃO DO TERRENO

4.1 ESCALAS

Para se proceder à representação de uma porção da superfície terrestre é necessário


reduzir as dimensões naturais do terreno. Para o efeito considera-se uma relação constante
entre uma distância medida no terreno e a sua homóloga medida na carta. Essa relação
constante assim definida denomina-se escala (escala numérica) e pode representar-se por:

d 1 d - distância medida na carta


=
D n D - distância medida no terreno
n - denominador da escala da carta

As escalas podem classificar-se em numéricas e gráficas.

As escalas numéricas são representadas sob a forma de um quociente em que o


numerador é unitário e o denominador é múltiplo de 10. As escalas numéricas podem
agrupar-se, para fins de classificação, em:

• Escalas numéricas decimais, que são das mais utilizadas, e que se representam
1 1 1 1 1
genericamente por n
, podendo dar origem às escalas , , , , , ;
10 10 100 1000 100000

2
• Escalas numéricas duplas, representadas genericamente por , e que dão origem às
10n
1 1 1
escalas , , , , , ;
5 50 50000

1
• Escalas numéricas subduplas, representadas por e que originam
2×10n
1 1 1 1
, , , , , ;
2 20 200 200000

4
• Escalas numéricas quádruplas representadas por que englobam as escalas
10 n
1 1
numéricas ... , , ... , , ... .
25 25000

Nas cartas com escalas médias e pequenas, normalmente menores ou iguais a 1:25000,
utiliza-se para comodidade do utilizador uma escala gráfica em associação com a escala
numérica. Uma escala gráfica é constituída por um segmento de recta, impresso na folha da
carta, dividido em partes iguais, correspondendo cada uma delas a uma distância medida

42
Cartografia

no terreno, que pode ser de 10, 20, 100 m, função da escala da carta. Para a esquerda da
origem da escala principal prolonga-se o segmento de recta, de um comprimento igual a
uma divisão da escala principal, e divide-se normalmente em 10 partes iguais, constituindo
o talão da escala, para possibilitar a medição de fracções da menor divisão da mesma. Com
este tipo de escala a distância horizontal (distância natural) entre dois pontos da carta
transportada à escala gráfica é obtida por simples leitura.

Figura 4.1 - Escala gráfica

As escalas gráficas podem classificar-se em escalas gráficas decimais simples (Figura 4.1)
e em escalas gráficas decimais compostas ou de dízima (Figura 4.2). A escala gráfica
decimal composta permite contabilizar, com utilização do talão, fracções maiores ou iguais a
1 centésimo da menor divisão da escala principal, como se pode observar na Figura 4.2.

Figura 4.2 - Escala gráfica decimal composta

As cartas podem classificar-se em função da sua escala, apesar de esta classificação não
ser universalmente reconhecida, em:

• Cartas a escalas grandes ( > 1:10.000) designam-se planos ou plantas e


destinam-se à representação de elementos em que a precisão impera;

• Cartas a escalas médias (1:10.000 a 1:50.000) denominam-se cartas e abarcam os


levantamentos da topografia geral;

43
Cartografia

• Cartas a escalas pequenas ( < 1:50.000) designam-se genericamente por cartas ou


cartas corográficas e descrevem as particularidades essenciais de um país ou
região.

Há alguns autores que consideram ainda dentro deste critério de classificação as Cartas a
escalas muito pequenas, como sendo as que apresentam escalas inferiores a 1:200.000.
Quanto mais minuciosa for a carta maior deverá ser a escala da carta de modo a evitar que
os pormenores a representar se amontoem de forma confusa.

4.2 REPRESENTAÇÃO DOS DETALHES PLANIMÉTRICOS (PLANIMETRIA)

Detalhes planimétricos são pormenores ou aspectos, naturais ou artificiais, localizados à


superfície do terreno, como estradas, linhas de água, construções, etc.

Para a representação dos detalhes planimétricos da superfície terrestre, os quais dada a


sua dimensão não podem ser na maioria das situações representados à escala da carta,
utilizam-se os sinais convencionais. Os sinais convencionais são símbolos sem
representação à escala da carta que vêm indicados, assim como o seu significado, na
legenda da carta. Na Figura 4.3 é apresentada a legenda da Carta Militar de Portugal do
Instituto Geográfico do Exército (IGeoE), à escala 1:25.000.

Figura 4.3 - Legenda da Carta Militar de Portugal do IGeoE, esc. 1/25.000

44
Cartografia

Como mostra a legenda representada na Figura 4.3, a Carta Militar de Portugal do IGeoE à
escala 1/25.000, obedece a um código de cores que é comum a muitas outras importantes
cartas nacionais. Este código baseia-se na utilização de cinco cores, cujas atribuições são
as seguintes:

• Preto – Aterros, Construções, Caminhos-de-ferro, Outros Caminhos e Divisões


Administrativas, etc.
• Azul – Linhas de Água, Lagos, Regiões Pantanosas, Arrozais e Linhas de Alta
Tensão.
• Verde – Vegetação, Bosques, Pomares, Vinhas e Sebes.

• Castanho – Curvas de Nível, Vértices Geodésicos, Pontos Cotados.

• Vermelho – Estradas Principais, Nomes dos Vértices Geodésicos e Pormenores


Especiais em Alvenaria.

Os sinais convencionais surgiram aquando da necessidade de representar pequenos


detalhes em cartas com dimensões inferiores ao limite mínimo perceptível ao olho humano.
A título de exemplo pode indicar-se que para a representação de uma estrada com 5m de
largura numa carta à escala 1:50.000 teria que se usar um traço com 0,1mm de espessura
o que conduziria ao erro de graficismo, dado que o limite mínimo (espessura) passível de
ser apreciado pela vista humana é de 0,15mm.

4.3 REPRESENTAÇÃO DO RELEVO DO TERRENO (ALTIMETRIA)

Para a representação de uma parte da superfície terrestre é necessário, como atrás ficou
expresso, a representação dos pormenores planimétricos localizados à sua superfície, mas
também é imprescindível considerar o seu relevo ou os aspectos altimétricos. São vários os
métodos utilizados na representação do relevo do terreno, de referir o método dos pontos
cotados, o método das curvas de nível, o método das normais, o método hipsométrico ou
das tintas esbatidas e método dos relevos. De todos os métodos indicados e que
seguidamente serão particularizados aqueles que apresentam maior interesse para a
topografia são efectivamente os dois primeiros.

4.3.1 Método dos pontos cotados

É o método mais simples de representação do relevo do terreno e considera o relevo


representado pela projecção de vários pontos notáveis sobre um plano horizontal designado
por superfície de referência, os quais são acompanhados por um conjunto de algarismos

45
Cartografia

que representa a sua cota ou altitude. Entende-se por cota a distância na vertical entre o
ponto considerado e uma superfície arbitrada para superfície de referência, e por altitude a
distância na vertical entre o ponto considerado e a superfície do geóide.

Os pontos notáveis são pontos da superfície escolhidos de forma a definirem correctamente


o relevo do terreno. Considera-se que entre dois pontos notáveis consecutivos o relevo ou a
inclinação do terreno são constantes. Considera-se a inclinação do terreno entre dois
pontos como sendo o ângulo que o segmento de recta que os une faz com o plano
horizontal, e o declive do terreno entre dois pontos como a tangente trignométrica do ângulo
de inclinação. A inclinação do terreno é expressa em graus, grados ou menos
frequentemente em radianos e o declive do terreno é normalmente expresso em % ou
apresentado sob forma adimensional, podendo também ser apresentado sob a forma de um
quociente, uma vez que pode ser determinado pela seguinte expressão:

DN DN – Diferença de nível entre os pontos considerados.


Declive = D – Distâncias entre os pontos considerados.
D

Este método apesar de simples é pouco elucidativo quanto ao relevo do terreno, utiliza-se
em associação com o método das curvas de nível e serve de base ao seu traçado. A base
ou o cume das elevações, quando por esses pontos não passem curvas de nível, são
identificadas por pontos cotados que ajudam a melhor definir o relevo do terreno. Este
método é também muito utilizado na representação de zonas urbanas pouco acidentadas e
em engenharia no estudo e implantação de redes (drenagem, abastecimento, eléctricas,
etc.).

Na Figura 4.4 apresenta-se um excerto de uma carta em que o relevo do terreno é


representado pelo método dos pontos cotados.

46
Cartografia

Figura 4.4 - Método dos pontos cotados

4.3.2 Método das curvas de nível

É o método mais utilizado e consiste em considerar a superfície terrestre cortada por planos
horizontais equidistantes, projectados sobre um plano horizontal estável ou de referência,
que corresponde à base da carta (Figura 4.5). As intersecções dos vários planos horizontais
de nível com a superfície do terreno denominam-se curvas de nível.

Figura 4.5 - Método das curvas de nível

47
Cartografia

Pode definir-se uma curva de nível como sendo o lugar geométrico dos pontos da superfície
terrestre que apresentam a mesma distância (que representa a sua cota ou altitude) a um
plano horizontal fixo tomado como referência.

A distância constante, para cada carta, entre os vários planos horizontais que interceptam a
superfície terrestre denomina-se equidistância natural (E) (Figura 4.6). A equidistância
natural reduzida à escala da carta denomina-se equidistância gráfica (e). A equidistância
gráfica pode não ser constante numa mesma carta, dado que pode haver interesse em
estudar uma parte da mesma com maior ou menor pormenor e nessa situação poderá ser
conveniente diminuir ou aumentar o valor da equidistância gráfica.

Figura 4.6 - Equidistância das curvas de nível (segmento BB’)

Normalmente quando a escala da carta é grande e os terrenos pouco declivosos é comum


considerar e=0,25 mm; valores superiores tornariam a carta com um pequeno número de
curvas de nível e ficaria a representação do relevo muito imprecisa. Quando a escala é
pequena e a superfície a representar muito declivosa considera-se normalmente a
equidistância gráfica igual a 1 mm; valores inferiores conduziriam, na carta, a um
amontoado de curvas de nível o que impediria a utilização de sinais convencionais na
representação dos detalhes planimétricos.

Os valores mais utilizados para a equidistância natural variam normalmente com a escala
da carta e podem considerar-se como referência os seguintes:

Escala Equidistância Natural


1:50000 25 m
1:25000 10 m
1:10000 10 m
1:5000 5m
1:2500 2,5 m
1:2000 2m
1:1000 1m
1:500 0,5 m

48
Cartografia

Na Figura 4.7 apresenta-se um excerto de uma carta com curvas de nível.

Figura 4.7 - Representação do relevo pelo método das curvas de nível

Propriedades das curvas de nível

1 - As curvas de nível ao cortarem uma linha de água apresentam-se com a convexidade


para montante da linha de água.

2 - Cada curva de nível só intercepta uma mesma linha de água num ponto.

3 - Duas curvas de nível nunca se cortam.

Vantagens e inconvenientes do método das curvas de nível

Como vantagens do método de representação do relevo do terreno através de curvas de


nível destacam-se as seguintes:

1 - Fácil visualização do relevo do terreno;

2 - Fácil representação dos detalhes planimétricos;

3 - Facilidade na determinação de cotas de pontos intermédios.

Como inconveniente regista-se a possibilidade de indicações erradas sobre as cotas de


pontos intermédios, caso se verifiquem mudanças no declive ou na inclinação do terreno, as

49
Cartografia

quais não tenham sido tidas em atenção no respectivo traçado ou na definição dos pontos
notáveis que possibilitaram a elaboração da carta de pontos cotados.

Métodos utilizados no traçado das curvas de nível

• Analítico

O método analítico consiste em relacionar a distância gráfica entre dois pontos cotados e a
correspondente diferença de nível, com a diferença de nível entre um deles e o ponto
correspondente à curva de nível a traçar com vista à determinação da distância a que
deverá ser marcado na carta, a partir do ponto considerado no cálculo. No exemplo seguinte
apresenta-se a localização de pontos correspondentes às curvas de nível a traçar, definida
através deste método.

Exemplo: Pretende determinar os pontos de passagem de curvas de nível entre os pontos


cotados respectivamente de cotas 52,0 m e 75,0 m, sendo a equidistância natural (E) de
10 m. A distância gráfica entre os pontos cotados é de 5 cm.

Sendo E=10 m as curvas de nível a traçar entre os dois pontos cotados deverão ter cotas
de 60 m e 70 m respectivamente.

Definindo a relação entre diferenças de nível e distâncias, a qual é também reproduzida na


figura, obtêm-se as seguintes relações:

DN = 23 m _____________ d = 5 cm

DN1=18 m _____________ d1= ?

18 × 5
d1 = = 3,91 cm
23

DN = 23 m _____________ d = 5 cm

DN2= 8 m ______________ d2= ?

8×5
d2 = = 1,74 cm
23

d1 e d2 representam as distâncias gráficas a que os pontos correspondentes às curvas de


nível de cotas 70 m e 60 m deverão ser marcados, a partir do ponto de cota inferior, sobre o
segmento de recta que une os dois pontos cotados.

• Gráfico

50
Cartografia

O traçado de curvas de nível com recurso ao método gráfico consiste na utilização de um


gráfico constituído por uma série de segmentos de recta paralelos e equidistantes, aos
quais se atribuem cotas ou altitudes. O gráfico assim constituído, normalmente traçado em
papel transparente, e representado na Figura 4.8 denomina-se diapasão. O traçado das
curvas de nível com utilização deste método prevê a sobreposição das linhas cotadas do
diapasão a cada dois pontos cotados envolvidos no traçado, previamente ligados através de
um segmento de recta, como exemplificado na Figura 4.8. A intercepção das linhas do
diapasão de cotas correspondentes às curvas de nível a traçar com o segmento de recta
que une os pontos define a posição dos pontos referentes às curvas de nível a marcar.

Figura 4.8 - Utilização de um diapasão no traçado de curvas de nível

• Recurso aos computadores

Constitui o método mais expedito de traçado de curvas de nível e consiste na utilização de


software específico de topografia e de engenharia que utiliza um algoritmo de cálculo
baseado no método analítico de traçado de curvas de nível.

4.3.3 Método das normais

Método das normais é usado em associação com o método das curvas de nível e consiste
no traçado de segmentos de recta normais a cada duas curvas de nível consecutivas,
interrompendo-se o seu traçado nos pontos de intercepção. As normais representam, em
cada ponto, a linha de maior declive do terreno. O seu traçado obedece à lei do quarto, ou
seja, o afastamento entre normais consecutivas é igual a 1/4 do seu comprimento. Assim,
as normais estarão mais próximas em zonas mais declivosas o que confere à carta
tonalidades mais escuras e mais afastadas em zonas menos declivosas.

51
Cartografia

Figura 4.9 - Método das normais (adaptado de IGeoE, 2000)

Este método permite uma mais fácil visualização do relevo do terreno relativamente ao
método das curvas de nível, apresentando a desvantagem de dificultar a representação dos
detalhes planimétricos, dado que a carta assim obtida fica muito sobrecarregada.

4.3.4 Método das tintas esbatidas

O método das tintas esbatidas, também denominado método hipsométrico, faz


corresponder a cada declive uma tonalidade diferente, mais escura nas zonas mais
declivosas e mais clara nas zonas de declives mais suaves.

52
Cartografia

Figura 4.10 - Método das tintas esbatidas (hipsométrico)

Este método é também frequentemente utilizado em associação com o método das curvas
de nível e é o método utilizado nas cartas hipsométricas e orográficas. O método
hipsométrico permite também a fácil visualização do relevo do terreno e não apresenta a
desvantagem de dificultar consideravelmente a representação dos detalhes planimétricos.

4.3.5 Método dos relevos

O método dos relevos, também denominado método dos planos relevos, consiste na
representação da superfície terrestre, ou de parte da mesma, tal como aparece na
realidade, mas numa proporção reduzida. Este método utiliza maquetes para retractar a
realidade física.

Em cartografia o relevo do terreno não é usualmente representado com recurso ao método


dos relevos, uma vez que este aspecto não permitiria a elaboração de cartas com utilização
prática e eficiente por parte do utilizador.

4.3.6 Modelos digitais do terreno

Graças aos progressos recentes no campo da informática, têm vindo a ganhar importância
as representações do relevo através de modelos digitais do terreno (abreviadamente
designados por MDT, ou DTM, acrónimo da designação em inglês). Estes modelos são
geralmente construídos a partir de uma grelha de pontos cotados. Estes modelos podem

53
Cartografia

ser utilizados em diversos fins, tendo também a possibilidade de apresentar diversos tipos
de dados sobre eles projectados.

Figura 4.11 - Dois exemplos de modelos digitais de terrenos (a imagem da


esquerda representa a ilha do Pico, Açores)

4.4 FORMAS NATURAIS DO RELEVO DO TERRENO

As irregularidades da superfície terrestre ou acidentes do terreno podem classificar-se em


formas simples constituindo os tergos e os vales e em formas compostas constituindo as
colinas, as depressões e os colos, gargantas, desfiladeiros ou portelas. A representação
das irregularidades da superfície terrestre através da utilização do método das curvas de
nível permite definir os esquemas seguintes:

Tergos

As curvas de nível de menor cota envolvem as curvas de nível de maior cota como se pode
ver na Figura 4.12. A linha de separação de água ou linha de festo, que é responsável pela
repartição do escoamento através dos dois planos inclinados ou vertentes, corresponde à
linha de maior declive.

Vales

As curvas de nível de maior cota envolvem as curvas de nível de menor cota como se pode
ver na Figura 4.12. A linha de água ou linha de talvegue, ao longo da qual se processa o
escoamento permanente ou o que se forma durante períodos de intensa precipitação, é
ladeada por dois planos inclinados ou margens e corresponde também à linha de maior
declive.

54
Cartografia

TERGO VALE

Figura 4.12 - Tergo e Vale

Colinas

Resultam da associação de pelo menos dois tergos que surgem interligados (Figura 4.13).

Depressões

Resultam da associação de pelo menos dois vales constituindo uma forma com a
representada na Figura 4.13 que apresenta, na zona central, as cotas mais baixas que
aumentam para a periferia.

Figura 4.13 - Colina, Depressão e Colo

Colos, gargantas, desfiladeiros ou portelas

Resultam da associação de dois tergos ou duas colinas e dois vales, conforme


representado na Figura 4.13.

55
Cartografia

4.5 RELAÇÕES ENTRE A ALTIMETRIA E A PLANIMETRIA

Numa carta planimétrica que apenas retracta os detalhes planimétricos existentes à


superfície do terreno, tais como vias de comunicação, povoações, linhas de águas, lagos
naturais e artificiais, ocupação do solo, etc., pode ser necessário tirar ilações relativamente
ao relevo do terreno. Para o efeito podem usar-se algumas normas, seguidamente
apresentadas, que permitem estabelecer essas relações.

Leis de Brisson

• Todo o curso de água corre entre duas linhas de separação de água (linhas de festo) que
se vão afastando normalmente da nascente da linha de água para a sua foz.

• O declive das linhas de festo vai em geral diminuindo para jusante, ou seja na direcção da
foz.

• A bacia hidrográfica de uma linha de água, ou seja a sua área de drenagem, é constituída
pelo terreno compreendido entre as duas linhas de separação de água.

• Quando duas linhas de água se encontram a linha de festo que separa as


correspondentes bacias hidrográficas a montante da sua confluência fica aproximadamente
no prolongamento da linha de água resultante.

• Quando duas linhas de água apresentam um percurso sensivelmente paralelo e depois


inflectem em sentidos opostos verifica-se que o segmento de recta que une os dois
cotovelos corresponde à zona de um colo.

• Quando várias linhas de água partem do mesmo ponto e tomam direcções diferentes
verifica-se que esse ponto é um ponto culminante (ponto de cota ou altitude mais elevada).

Para além das leis de Brisson atrás apresentadas existem outras normas que também
podem ser utilizadas no mesmo sentido.

Outras Normas

• Quando uma linha de água apresenta muitas ramificações (o rio espraia-se) pode esperar-
se um vale longo com um talvegue sensivelmente horizontal.

• Quando o traçado de estradas e caminhos-de-ferro se apresenta muito sinuoso


normalmente o terreno é acidentado, sendo esta a forma de possibilitar que a inclinação dos
traçados não exceda determinados valores limite.

56
Cartografia

• Uma estrada cujo percurso se encontre entre duas linhas de água, segue normalmente a
linha de festo que separa as correspondentes bacias hidrográficas.

• Certas culturas agrícolas ou florestais apresentam uma relação estreita com o relevo do
terreno, verificando-se normalmente que:

prados - vales
vinha - encosta
pomares - meia encosta
floresta - montanhas
• Os nomes de certas localidades estão por vezes associados ao relevo do terreno aspecto
que se denomina toponímia. Como exemplos pode indicar-se Montejunto, Entre-os-Rios,
Montezinho, etc.

• Os castelos e os marcos geodésicos estão normalmente posicionados em locais de maior


altitude ou cota.

57
Cartografia

5 PERFIS

Designa-se por perfil uma intercepção do terreno através de um plano vertical. Um perfil do
terreno é normalmente apresentado sob a forma de um gráfico de eixos ortogonais, em que
o eixo horizontal apresenta as distâncias entre os pontos do perfil e o eixo vertical apresenta
as cotas ou altitudes dos diversos pontos a marcar. As escalas utilizadas para marcar, no
perfil, as distâncias entre pontos e as correspondentes cotas ou altitudes denominam-se
respectivamente escala dos comprimentos ou escala horizontal e escala das alturas ou
escala vertical.

Em função da relação entre escalas horizontal e vertical os perfis podem classificar-se em:

• Perfil natural do terreno; é um perfil do terreno em que as escalas horizontal e


vertical são iguais;

• Perfil elevado; é um perfil em que a escala vertical é maior do que a escala


horizontal, sendo normalmente esta última igual à escala da carta. Diz-se que um
perfil é elevado n vezes quando a escala vertical é n vezes maior do que a
correspondente escala horizontal;

• Perfil rebaixado; é um perfil em que a escala vertical é menor do que a escala


horizontal. À semelhança dos perfis elevados também se pode dizer que um perfil é
rebaixado n vezes se a escala vertical é n vezes menor do que a escala horizontal.

Figura 5.1 - Perfil do terreno

58
Cartografia

Na Figura 5.1 apresenta-se um perfil do terreno em que o relevo se encontra representado


através do método das curvas de nível. No perfil apresentado é referenciada a respectiva
legenda.

Em função do desenvolvimento do perfil pode definir-se a sua classificação em perfil


longitudinal, se é realizado segundo a maior dimensão de uma parcela ou obra em estudo
(perfil de uma estrada ao longo do eixo da via), e em perfil transversal, se é traçado
perpendicularmente a um perfil longitudinal (perpendicularmente ao maior desenvolvimento
do aspecto em estudo).

Na Figura 5.2 vê-se uma imagem de um desenho de projecto de uma via rodoviária, onde
se mostra o perfil longitudinal de um troço da via em estudo, bem com o respectivo traçado
em planta (neste tipo de projectos, como em muitos outros, é normal apresentar-se em
simultâneo o traçado em planta e o respectivo perfil longitudinal, designando-se de
planta-perfil).

Figura 5.2 - Imagem de um desenho de planta-perfil de um projecto


rodoviário

Na Figura 5.3 mostra-se em pormenor o tipo de informações que normalmente surgem


incluídas na legenda do eixo horizontal de um perfil longitudinal de um projecto rodoviário.

59
Cartografia

Figura 5.3 - Pormenor de um perfil longitudinal de um projecto rodoviário,


ilustrando o tipo de informações que podem ser apresentadas no eixo
horizontal

Figura 5.4 - Exemplo de um perfil transversal de uma via rodoviária

Na Figura 5.4 mostra-se uma imagem de um perfil transversal de uma via rodoviária. No
caso concreto, trata-se de um perfil transversal tipo (PTT) de uma secção de traçado em
recta.

60
Cartografia

6 MEDIÇÃO DE DISTÂNCIAS NA CARTA

Para efectuar trabalhos em cartas torna-se necessário, na maior parte das situações
práticas, medir várias distâncias (distâncias gráficas - d) as quais poderão posteriormente
ser transformadas nas suas homólogas naturais (distâncias naturais – D) com recurso à
escala da carta. As distâncias medidas em cartas, dados os processos utilizados para a
obtenção – projecção ortogonais dos pontos sobre planos horizontais de referência –
representam distâncias horizontais (distâncias naturais). A conversão entre distâncias
gráficas e naturais pode ser feita através da relação

D = d×n

onde D representa a distância natural, d a distância gráfica e n o denominador da escala


utilizada na representação.

Quando se pretende conhecer a distância entre dois pontos sobre a linha de maior declive
(distância real – D’) é necessário conhecer o declive, a inclinação do terreno ou a diferença
de nível entre os pontos, e utilizar o seguinte procedimento analítico:

DN
D' =
sin i
Sendo:
• D – distância natural
• D’ – distância real
• DN – diferença de nível
• i o ângulo de inclinação do terreno

Os métodos de medição de distâncias em cartas a utilizar dependem, entre outros


aspectos, da forma da linha cujo comprimento se pretende determinar. Assim, as distâncias
entre pontos podem ser aproximadas por segmentos de recta (apenas um ou vários
formando uma linha poligonal) ou por linhas curvas.

Quando a distância a determinar numa carta é em linha recta utilizam-se réguas ou


esquadros que nos permitem definir a distância gráfica, a qual será posteriormente e caso
necessário convertida na sua homóloga natural. Existem réguas, usualmente com secção
triangular, denominadas réguas de escalas, graduadas nas escalas mais utilizadas nas
nossas cartas, que através de simples leitura nos fornecem o valor da distância natural, sem
necessidade de se efectuarem cálculos aritméticos. Na Figura 6.1 apresenta-se
esquematicamente a utilização de réguas na medição de distâncias, definidas por
segmentos de recta.

61
Cartografia

Figura 6.1 - Utilização de réguas na medição de distâncias em cartas

Quando se pretende determinar o comprimento de uma linha curva vários procedimentos


podem ser adoptados, como seguidamente referido:

i – substituição da linha curva por uma linha poligonal, que se obtém unindo os pontos
de inflexão da linha curva por segmentos de recta. O rigor associado a esta
metodologia depende principalmente do critério utilizado pelo operador, relativamente
ao número de segmentos de recta a considerar no estabelecimento da linha poligonal
A Figura 6.2 apresenta, de forma esquemática, uma aplicação de uma variante deste
método que consiste em marcar numa tira de papel os vários segmentos de recta da
poligonal, utilizados para aproximar a linha curva e na medição do respectivo
comprimento sobre a tira de papel.

Figura 6.2 - Medição do comprimento de uma curva, representada numa carta

ii – ajustar um fio ao longo da linha curva que se pretende medir e após a sua
rectificação medir o correspondente comprimento;

iii – utilizar um método mecânico de medição de distâncias. Este método utiliza um


aparelho denominado curvímetro, constituído por uma roda dentada que ao rodar
sobre a linha a medir transmite o seu movimento de rotação a um ponteiro que indica
num mostrador circular o percurso efectuado. Os mostradores dos curvímetros estão
usualmente graduados nas escalas mais frequentes e utilizadas em cartas de forma a
que por simples leitura na escala respectiva se obtém o valor da distância natural. Os
curvímetros assim constituídos denominam-se curvímetros de mostrador. Existe outro
tipo de curvímetros – curvímetros digitais – que apresentam idêntico princípio de

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Cartografia

funcionamento, sendo contudo de operação e utilização mais simples. Em substituição


do mostrador existe um pequeno monitor através do qual, e com utilização de um
teclado associado, é possível a introdução da escala da carta. Efectuado o percurso
sobre a linha cujo comprimento se pretende medir, obtém-se por simples leitura o
respectivo valor natural da distância percorrida.

Figura 6.3 – Curvímetros de mostrador (à esquerda) e digitais

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Cartografia

7 MEDIÇÃO DE ÁREAS NA CARTA

A determinação de áreas em cartas reveste-se de grande interesse em topografia dada a


sua aplicação em trabalhos tão diversos como em projectos de estradas para a avaliação
das áreas dos perfis transversais, na partilha e avaliação de propriedades, na nivelação de
terrenos (cálculo dos volumes de terra a movimentar), na determinação dos volumes de
água armazenados em albufeiras, na avaliação das expropriações associadas a
determinadas obras, etc.

A área de uma parcela a determinar sobre uma carta é assumida como a projecção
ortogonal da superfície sobre um plano horizontal. No sistema métrico a área pode ser
apresentada em mm2, cm2, m2, ha, km2, etc. consoante se pretende determinar o respectivo
valor gráfico ou real, ou conforme a dimensão da própria parcela.

As áreas de parcelas de terreno podem ser determinadas através de medições de campo


ou com utilização de cartas. As determinações de campo pressupõem a medição de
comprimentos dos lados que delimitam cada parcela, dos ângulos entre os respectivos
lados ou das coordenadas dos vértices das parcelas. As determinações de campo são
usualmente mais precisas do que as correspondentes em cartas.

A precisão da determinação de áreas em cartas está directamente relacionada com a


precisão das próprias cartas, a qual depende da qualidade dos dados de campo utilizados
na sua elaboração e dos próprios processos de produção. Os principais factores que
afectam a precisão da área a determinar, numa carta, são a escala da carta e os aparelhos
utilizados na própria medição em cartas (réguas, transferidores, etc.).

A determinação gráfica das áreas (a) permite ainda a determinação da correspondente área
real (A) utilizando o seguinte procedimento:

A = a n2 , sendo n o denominador da escala da carta.

Os métodos de medição de áreas em cartas podem classificar-se em geométricos,


numéricos, analíticos e mecânicos.

7.1 GEOMÉTRICOS

Consiste na determinação de áreas de polígonos geométricos, tais como triângulos,


rectângulos, trapézios, etc., utilizando as expressões geométricas conhecidas para o efeito.

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Cartografia

7.1.1 Figuras delimitadas por segmentos de recta

A determinação de áreas de polígonos delimitados por segmentos de recta, desde que os


polígonos sejam diferentes dos referidos (Figura 7.1), pressupõe a sua decomposição nas
figuras geométricas indicadas, sendo a área total do polígono igual à soma das respectivas
áreas parciais.

Figura 7.1 - Decomposição da figura em figuras geométricas

7.1.2 Figuras delimitadas por linhas curvas

Se a figura cuja área se pretende determinar é delimitada por linhas curvas utilizam-se
vários métodos que fornecem valores aproximados para a área a determinar. A maior ou
menor aproximação da determinação face à área real da figura depende do critério seguido
por cada utilizador. Alguns dos métodos englobados neste grupo são:

Método das normais ou da média das alturas

Considerando que se pretende determinar a área delimitada pela curva e pelo segmento de
recta AB, na Figura 7.2, o método prevê a divisão do segmento AB num número par de
intervalos iguais. Por esses pontos limite de cada intervalo traçam-se segmentos de recta
perpendiculares ao segmento de recta AB, intersectando a linha curva que delimita a figura.
Medem-se os comprimentos dos segmentos de recta traçados e determina-se o seu valor
médio. A área da figura é encarada como a área de um rectângulo cuja largura é definida
pela média dos comprimentos medidos e cujo comprimento corresponde ao comprimento
do segmento AB.

Figura 7.2 - Medição de Áreas – Método das Normais

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Cartografia

Se se utilizarem medidas gráficas (comprimento do segmento AB e comprimentos dos


diversos segmentos medidos na carta) para o cálculo da área o valor obtido será o valor da
área gráfica (área na carta).

A precisão deste método está directamente relacionada com o número de intervalos


definidos; quanto maior o número de intervalos maior a aproximação entre a área
determinada e a área real ou gráfica da figura.

Método das parábolas ou de Simpson

A aplicação do método assume que a curva que passa por três pontos consecutivos da
figura, cuja área se pretende determinar, pode ser aproximada por um arco de parábola.

Figura 7.3 - Cálculo de áreas – Método de Simpson

Consiste na divisão do segmento AB num número par de intervalos iguais, na determinação


das ordenadas y1, y2, … , yn e na aplicação da seguinte regra:

A área é igual à soma das ordenadas extremas, adicionada ao quádruplo da soma das
ordenadas de ordem par e ao dobro das ordenadas de ordem ímpar. O total é multiplicado
por um terço do intervalo comum das ordenadas.

n −1 n −1
d 2 2
A= y1 + y n + 4 y 2i + 2 y 2i −1
3 i =1 i =2

Método da Quadrícula

Prevê a sobreposição da figura cuja área se pretende determinar por uma quadrícula de
malha quadrangular e conhecida. O produto da área de cada quadrado da malha (área
gráfica ou real) pelo número de quadrados inseridos dentro do contorno fornece uma
aproximação ao valor da área pretendida. Podem ainda ser contabilizadas as fracções de
quadrados da malha inseridos dentro do contorno que delimita a figura.

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A expressão genérica para a sua aplicação tem o seguinte aspecto simples:

A =na

onde n representa o número de pequenos quadrados inscritos e a a área de cada


quadrado.

A precisão do método é tanto maior quanto menor o lado da malha definida. Usualmente
utiliza-se papel milimétrico dado possibilitar a contabilização de quadrados inseridos dentro
do contorno com maiores e menores áreas.

Figura 7.4 - Cálculo de áreas – Método da quadrícula

7.2 ANALÍTICOS

Neste grupo de métodos inclui-se o método das coordenadas cartesianas ou de Gauss, que
se aplica a figuras com contorno poligonal, sendo conhecidas as coordenadas rectangulares
ou polares dos seus vértices.

Figura 7.5 - Medição de áreas – Método das coordenadas cartesianas

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A Figura 7.5 representa uma parcela [1,2,3,4] , de coordenadas

[( x1, y1), ( x2, y 2 ), ( x3 , y 3 ), ( x4 , y 4 )] e pretende-se determinar a área A.


A área será determinada através do somatório de áreas parciais, como seguidamente se
apresenta.

A = [1,2,3,4] = [4' ,4,1,1'] + [1' ,1,2,2'] − {[4' ,4'3,3'] + [3' ,3,2,2']}

y 4 + y1
A= [x1 − x 4 ] + y1 + y 2 [x2 − x1] − y 4 + y 3 [x3 − x4 ] + y 3 + y 2 [x2 − x3 ]
2 2 2 2

O desenvolvimento da expressão anterior conduz a uma expressão geral de cálculo de


área, pelo método das coordenadas cartesianas.

1 n
A= (y i xi +1) − (y i xi −1)
2 i =1

7.3 MECÂNICOS

Estes métodos de medição de áreas em cartas são os mais expeditos e os que conduzem
mais rapidamente ao resultado pretendido. Relativamente ao rigor da medição o mesmo é
função do cuidado do utilizador e da precisão e aferição do aparelho.

Os métodos mecânicos de medição de áreas em cartas recorrem à utilização de um


integrador mecânico, denominado planímetro.

Os planímetros podem classificar-se em polar (Figura 7.6) ou linear (Figura 7.7), consoante
o processo de medição prevê um ponto de fixação do aparelho ao desenho, ou, por outro
lado, o aparelho pode deslocar-se livremente aquando da medição.

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Figura 7.6 - Planímetro polar mecânico (A) e digital (B)

Figura 7.7 - Diferentes modelos de planímetros lineares digitais

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A utilização do planímetro linear, dado que a superfície a medir se pode estender


indefinidamente no sentido do deslocamento, reveste-se de grande interesse na medição de
superfícies limitadas por estradas, de cursos de água, de faixas de interesse social, etc.

Nos planímetros mecânicos o sistema de medição é constituído pelo tambor (leitura dos
milhares de unidades do nónio), pelo disco (leitura das centenas e dezenas de unidades do
nónio) e pelo nónio (leitura das unidades do nónio). A utilização do aparelho prevê a
contabilização de uma leitura inicial (Li) no sistema de medição, antes de se proceder à
passagem da lupa sobre o contorno da figura cuja área se pretende determinar, e de uma
leitura no final da referida passagem (Lf). A área da figura será proporcional ao número de
voltas efectuadas pela roda integradora. Assim a área será obtida através da seguinte
expressão analítica:

A = K (L f − Li )

sendo K a constante do planímetro para a escala da carta e para a regulação do


comprimento das hastes polar e traçadora.

Os valores da constante do planímetro são indicados no manual de utilização de cada


aparelho.

A utilização do planímetro digital é mais fácil para o utilizador dado que o aparelho possui
software que permite a escolha da escala da carta sobre a qual se pretende efectuar a
medição obtendo-se, após a passagem da lupa sobre o contorno que delimita a figura, o
valor da área pretendida, nas unidades de medição seleccionadas pelo utilizador.

A aferição do planímetro, para verificação da sua precisão, pode ser efectuada desenhando
com rigor um quadrado com lado definido, percorrendo com a lupa da haste traçadora ou
exploradora o seu contorno, e verificando se a leitura obtida no sistema de medição do
aparelho se aproxima da área real do quadrado.

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Cartografia

8 CLASSIFICAÇÃO DE CARTAS

Existem vários critérios que podem ser utilizados para a classificação de cartas. No capítulo
4 (ponto 4.1) foi apresentada a classificação de cartas em função da sua escala, podendo
ainda destacar-se os seguintes critérios de classificação.

8.1 CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM A NATUREZA DO CONTEÚDO

Carta Topográfica

Carta sobre a qual figuram a posição, a forma, as dimensões e a identificação dos aspectos
existentes à superfície do solo num dado momento. Podem apresentar-se como cartografia
de traço, quando a planimetria é desenhada manualmente ou com recurso ao computador,
ou como ortofotomapas quando o traçado da planimetria é substituído por fotografia aérea
vertical com as devidas correcções.

Carta Corográfica

Carta a escala pequena a média na qual apenas se representam os traços gerais de uma
região ou conjunto de regiões. Podem também ser apresentadas em cartografia de traço ou
como ortofotomapas.

Carta Hidrográfica

Carta que apresenta a finalidade de representação das bacias hidrográficas com definição
das linhas de separação de água, de albufeiras e lagos naturais, podendo ou não conter
planimetria.

Carta Temática

Carta que representa fenómenos específicos de qualquer natureza, qualitativos e/ou


quantitativos, sobre uma base de referência (que pode ser uma carta do tipo das
anteriores). Existem várias cartas temáticas podendo salientar-se cartas geológicas,
hidrogeológicas, florestais, de ocupação de solos, etc.

8.2 CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM O DESTINO DA CARTA

Podem classificar-se em cartas de uso geral, quando os diferentes objectos são


representados proporcionalmente ao seu valor intrínseco, obtendo-se um conjunto

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Cartografia

equilibrado de informações, e em cartas específicas, quando evidenciam determinados


objectos ou aspectos em detrimento de outros.

8.3 CLASSIFICAÇÃO EM FUNÇÃO DO VALOR DOS DOCUMENTOS DE BASE

Carta Regular quando existe uma correspondência definida entre as posições dos vários
objectos representados na carta e as correspondentes posições reais no espaço. Quando
tal não se verifica na totalidade ou em parte da carta esta denomina-se não regular. Nesta
classificação de carta não regular destaca-se o Esboço Cartográfico, Topográfico ou
Geográfico, quando se trata de uma representação sumária de um ou vários fenómenos.

8.4 CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM A NATUREZA DA DOCUMENTAÇÃO

Carta Base

Carta que resulta da exploração directa de observações ou de imagens, executada de


forma completa dentro dos limites de precisão impostos pela escala do trabalho.

Carta Derivada

Carta obtida a partir de uma ou várias cartas base, por ampliação, redução ou cruzamento
de informação.

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Cartografia

9 BIBLIOGRAFIA

Academia Militar; Topografia; Academia Militar, 1984.

Casaca J., Matos J., Baio M.; Topografia Geral; Lidel – edições técnicas, lda.; Lisboa,
Fevereiro de 2000.

Costa, A. da Fonseca; Curso de Topografia; Vol. 4; CENFIC, 1986

IGeoE; Manual de Leitura de Cartas; IGeoE, 2000.

IGeoE; Noções de Geodesia; IGeoE, 2000.

IGeoE; Sistemas de Referenciação; IGeoE, 1998.

Jenson S.K., Dominigue J.O.; Extracting Topographic Structure from Digital Elevation Data
for Geographic Information System Analysis. Photogrammetric Engineering and Remote
Sensing. Vol 54, N°11.

Jordan W.; Tratado general de topografia. Editorial Gustavo Gili, S.A., Barcelona, 1978.

Marín, R. Martínez; Topografia y Sistemas e Información; Biblioteca Técnica Universitaria;


Bellisco – Ediciones Técnicas y Científicas; 2000.

Portugal, J.M.; Introdução às Tecnologias de Levantamento da Informação Geográfica


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Robinson, A. et. al.; Elements of Cartography; Jonh Wiley & Sons, INC.; 6ª ed.; USA,1995.

Silva, Maria Manuela P.C.S.R.; Modelo Distribuído de Simulação do Escoamento Superficial;


Anexo1 – Transformação de Coordenadas entre Sistemas Cartográficos; I.S.T./U.T.L.;
Novembro,1996.

Wolf, Paul R. e Brinker, Russell C.; Elementary Surveying;HarperCollins College Publishers;


9th ed.; USA,1994.

Xerez A.C.; Topografia geral (Volumes I e II).Técnica, I.S.T., Lisboa, 1978.

Todas as figuras sem referenciação de origem foram retiradas de diversos sítios da Internet.

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