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Defensoria Pública – MG

TUTELAS COLETIVAS

Professor José Roberto Mello Porto

AULA 01

22/08/2018

Bloco 6

Princípio da Máxima amplitude da tutela coletiva ou da atipicidade da tutela coletiva:

O olhar aqui é voltado para o direito processual. Esse princípio vai dizer
basicamente que na tutela coletiva e nos outros meios de tutela, nós devemos sempre
buscar maior abrangência dessa tutela. Essa proteção deve ser a mais ampla possível,
não se preocupando em restringir os tipos de tutela que podem decorrer dessa ação
coletiva.

O STJ já teve a oportunidade de falar sobre o tema, e sobre o art. 3 da lei de


ação civil pública onde há uma aparente alternatividade, que na verdade é uma
cumulação, ideia de somatório de espécies de tutela (“ou” ---“e”).

Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o


cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.

A ideia aqui é permitir de fato que aquela ação deva ser a mais efetiva possível.
Tem doutrinadores que inserem esse princípio no princípio falado anteriormente, da não
taxatividade, mas o professor prefere tratar como um princípio autônomo.

Tipos de direitos tuteláveis em uma ação coletiva:

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Na própria legislação existe uma certa confusão ou falta de precisão em
selecionar o termo direito e o termo interesse. Logo temos que ficar mais tranquilo
sobre esses termos pois há divergências, alguns falam que não são direitos pois remete
ao patrimônios subjetivo de uma pessoa, e a tutela coletiva veio para mostrar que
existem bens, questões jurídicas, que transcendem o patrimônio de uma pessoa, por
isso alguns preferem usar o termo interesse, pois interesse não diz respeito ao direito
subjetivo. Tem alguns que falam que o termo é direito, pois não há finalidade em
distinguir esses termos. A própria legislação mistura os termos, como exemplo a própria
CF/88 que usa os dois. Mas se algum examinador perguntar sobre esse assunto, deve
ser lembrado que parte da doutrina considera o conceito de direito, como direito
subjetivo, esse conceito não seria compatível com a ideia dos interesses difusos e
coletivos em sentido estrito, por isso o uso do termo interesse seria melhor.

Basicamente temos 3 tipos de interesses/direitos tuteláveis nas ações coletivas:

OBS: STJ já disse que seria possível a cumulação de mais de um tipo de direito coletivo
em sentido amplo na mesma ação coletiva, isso é o que se convencionou chamar de
tutela coletiva hibrida, prestigiando o princípio da máxima amplitude da tutela coletiva,
gerando economia processual.

1º. Direitos difusos:

Lembrar sempre que quando falamos das espécies dos direitos coletivos
devemos observar o art. 81 do CDC, que seria o nosso parâmetro legal, em seu
parágrafo único ele conceitua cada uma dessas espécies.

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas
poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os


transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas
indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; [...]

Sobre a primeira espécie, eles têm como características:

 Transindividualidade
 Natureza indivisível
 Titulares indeterminados e indetermináveis
 Os titulares estão ligados por uma situação de fato

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Vamos analisar cada um desses ponto:

A. Transindividualidade: os direitos ou interesse difusos não pertencem a um só


individuo, tem natureza além de uma só pessoa, o exemplo clássico é o direito
a um meio ambiente saudável., não pertencendo apenas a um indivíduo, mas
sim a coletividade.
B. Natureza indivisível: além de pertencer a coletividade como um todo, ele é
indivisível, percebam que uma característica decorre da outra.
C. Os seus titulares são indeterminados ou indetermináveis: não tem como saber
com precisão quais são os titulares desses direitos. Barbosa Moreira dizia que
essa indeterminabilidade é relativa, exemplo, uma propaganda enganosa, ela
atinge a todos os indivíduos que assistiram a essa propaganda. É uma
deternabilidade subjetiva, pois não se sabe quantas pessoas assistiram a
propaganda ou ainda vão assistir, por isso relativa, pois não da para saber
determinadamente quantas pessoas assistiram a tal propaganda. O link que há
entre esses que assistiram não é um vínculo jurídico, mas sim de fato.

Por conta disso, doutrinadores como Rodolfo Mancuso, Edilson Vitoreli, afirmam
que existe uma alta conflitualidade interna nos direitos difusos, isso porque se os
titulares são indetermináveis, se é indivisível aquele direito, se há uma natureza
transindividual, um grupo de pessoas interessadas naquele direito difuso é enorme, logo
dentre desse grupo pode haver um grau de conflitualidade interna, exemplo, uma
discussão em uma ACP se deve instalar uma usina hidrelétrica em um determinado rio.
Isso vai gerar conflitos entras as comunidades atingidas, os interesses de cada
município, logo dentro desse grupo pode haver pessoas que terão conflitos internos.

Outra expressão que é utilizada é a natureza multifacetada, existem varias


formas de ver esse direito difuso, que leva a um conflito de direitos fundamentais.
Haverão varias formas de serem vistos esses conflitos, logo deve ser tudo ponderados,
lembrando aqui do art. 489, §2o do CPC, que afirma que é nula a sentença que se utilizar
de ponderação de princípios sem explicar os critérios dessa ponderação.

Art. 489. São elementos essenciais da sentença: [...]

§ 2o No caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios


gerais da ponderação efetuada, enunciando as razões que autorizam a
interferência na norma afastada e as premissas fáticas que fundamentam a
conclusão.

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Edilson Vitoreli, vai ponderar, em sua tese de doutorado, se realmente o MP, por
exemplo, tem legitimidade tão ampla assim para os direitos difusos, pois o promotor não
tem a consciência de quais são os interesses das habitantes do município. No caso da
DP esse problema é mitigado pois a defensoria pública tem um viés comunicativo, de
abertura social, e também uma natureza de representação de grupos vulneráveis.

2º. Direito coletivo em sentido estrito, art. 81, parágrafo único, II do CDC:

Art. 81: [...]

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código,


os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou
classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação
jurídica base;

São suas características:

 Continuam tendo uma natureza transindividual


 Natureza indivisível
 Titularidade formada por sujeitos indeterminados, mas determináveis,
 Ligados por uma relação jurídica base.

Aqui devemos pensar que o titular desse direito é o grupo, a categoria ou a


classe, e não seus membros, por isso tem natureza transindividuais, é uma comunidade
de sujeitos. Tem natureza transindividuais pois os direitos pertencem a classe e não aos
sujeitos que compõe tal categoria, grupos ou classe.

Sobre a titularidade, se ela pertence a comunidade, os sujeitos que compõem


essa classe são, a princípio indetermináveis, pois não há necessidade de
individualização, mas diferente dos difusos, aqui dá para se determinar quem são os
sujeitos, quem são todos que integram tal grupo, por isso determináveis.

Bloco 7

Sobre a ligações entre esses sujeitos, aqui, nos direitos coletivos, temos sim uma
relação jurídica base, anterior aquele litigio, logo já existia algum vínculo jurídico entre
esses sujeitos, art. 81, parágrafo único, II do CDC, que pode se dar, ou pode existir:
entre os membros daquele grupo, categoria ou classe, ou pode se da entre os membros
e a parte contrária (sujeito que violou os direitos do grupo, seria a parte que vai ser ré
nesse processo coletivo). Um exemplo seria alguns alunos de uma faculdade que tem

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um elo entre eles e a faculdade, se houver algum desrespeito perante esses alunos,
todos serão prejudicados, tendo seus direitos violados.

A relação jurídica base não necessariamente coincide com a relação jurídica que
está sendo alvo do processo, a relação jurídica base existe antes do processo. Seria
por exemplo a relação dos alunos com a faculdade. A relação jurídica base deve ser
anterior a controvérsia e existe antes da relação controvertida, e que vai dar inicio a lide.

3º. Direito individuais homogêneos:

Art.81 [...]

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os


decorrentes de origem comum.

São direitos:

 Individuais, por isso o termo deve estar sempre no plural, pois é um


somatório de direitos individuais.

A questão do acesso à justiça aqui não é idêntica ao acesso a justiça nos direitos
difusos e coletivos. Todo mudo que é titular de um direito pode levar individualmente a
questão ao judiciário. A questão do acesso à justiça aqui se dá por outro viés, que é o
de otimização da tutela desses direitos, viés motivado a questão da isonomia pois todos
terão a mesma decisão, questão ligada a segurança jurídica pois a decisão será aquela
decidida pelo juízo coletivo, haverá economia macroscópica, pois terá uma resposta
para todos os litígios, e também o principio da eficiência, pois haverá diminuição de
todos os gastos, aumentando a produtividade.

A lógica aqui não é acesso à justiça, mas sim uma otimização dos meio,
operacionalização dos meios. Para compreensão deve lembrar que aqui é um direito
individual.

São suas características:

 Direito individual

Barbosa Moreira faz uma distinção entre direitos essencialmente coletivos e


acidentalmente coletivos. Para o professor, os direitos essencialmente coletivos são
aqueles que possuem uma natureza transindividuais, portanto são os direitos difusos e

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os direitos coletivos, já os direitos acidentalmente coletivos são aqueles direitos
individuais que são, por autorização legal, tuteláveis de maneira conjunta.

Outra classificação é a de Teori Zawaski, que fala que existe uma defesa de
direitos coletivos e uma defesa coletiva de direitos. Esse jogo de palavras que o ministro
utilizava vai lembrar que na primeira a defesa é de direitos propriamente coletivos e na
segunda a ideia é de uma defesa em conjunto de direitos individuais.

 Direitos com natureza divisível, pois pode ser fracionado por cada um.
Eles já são divididos, já existe uma pertença individual.
 São direitos que detém uma origem comum, que pode ser jurídica ou
fática. Todos eles decorrem de uma mesma relação jurídica ou de um
mesmo fato.
 Deve haver uma prevalência objetiva entre esses sujeitos, bem como
uma prevalência subjetiva entre eles. Deve existir uma natureza comum
entre esses direitos que justifiquem a tutela conjunta entre eles. O que há
de comum deve ser maior do que há de diferente, ex: acidente de avião
onde a lesão foi parecida para todos, e o que há de comum é maior. Ou
caso seria em uma relação de consumo na compra de algum produto, o
que há de comum é pequena em relação ao que há individualmente, aqui
nós teríamos direitos individuais heterogêneos. Além dessa prevalência
objetiva, que tem relação com o direito em si, deve haver uma prevalência
subjetiva, ou seja, deve haver um número relevante de pessoas que vão
ser beneficiadas por essa tutela.

OBS: A doutrina entende que há possibilidade de existirem situações jurídicas


heterogêneas, que em alguns casos teremos duvida em saber se o direito é individual
ou coletivo. O ministro Teori Zawask dava o exemplo da propaganda enganosa, onde
poderá haver ofensa para um certo grupo de sujeitos e ofender individualmente certos
sujeitos. O foque aqui, segundo o professor, deve ser o pedido, o que se pode pedir
nesse caso, em favor de quem? Logo pode ser que de uma mesma situação decorre
proteção em vários sentidos.

Bloco 8

4º. Os direitos individuas indisponíveis

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Também são direitos individuais, mas a questão aqui é que esse fato de
pertenceram uma só pessoa, pode autorizar a tutela pela via da ação civil pública, do
processo coletivo. Ex: ECA, art. 201, V e o Estatuto do idoso, no art. 74, I.

ECA - Art. 201. Compete ao Ministério Público:

V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses
individuais, difusos ou coletivos relativos à infância e à adolescência, inclusive
os definidos no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal;

Estatuto do Idoso - Art. 74. Compete ao Ministério Público:

I – instaurar o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos direitos e
interesses difusos ou coletivos, individuais indisponíveis e individuais
homogêneos do idoso;

Não são direitos individuais idênticos, aqui pode ser um caso de um mero direito
individual. O STJ já admitiu isso em alguns casos, como no caso de tutela de idoso,
indígenas, também de um deficiente, ou de um grupo de deficientes. O STJ permite a
tutela de um único sujeito pela via da tutela coletiva. Sua justificativa é que existe um
conceito quantitativo de tutela coletiva e um conceito qualitativo de tutela coletiva.
Nesses casos, a questão é qualitativa e não quantitativa, pois alguns direitos têm muita
importância, autorizando o ajuizamento das tutelas coletivas de grupo hiper vulnerável.

Competência no Processo Coletivo:

OBS: quanto a competência por prerrogativa de função, o STF acabou de reafirmar, que
nas ações de improbidade administrativa, inexiste a competência por prerrogativa de
função.

Sobre o tema, temos que ter em mente que há uma competência absoluta,
entendimento reiterado do STJ, o próprio art. 2 da Lei de Ação Civil Pública para o
julgamento. Na doutrina há discussão se seria uma competência territorial ou funcional,
mas adotando qualquer teoria, sempre terá natureza absoluta.

Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer
o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.

Parágrafo único A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas


as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o
mesmo objeto. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

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O mosaico que nós vamos ter é essa do art. 2 Lei de Ação Civil Pública mais o
art. 93 do CDC.

Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a


causa a justiça local:

I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;

II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de


âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil
aos casos de competência concorrente.

O art. 2 da Lei de Ação Civil Pública traz o primeiro critério que é o da local do
dano, e o segundo critério acrescentado pelo CDC é o da extensão do dano. O STJ
considera essa art. 93 do CDC como regra geral.

O primeiro critério é o do local do dano:

Temos que saber que será o local que já ocorreu o dano ou aonde deva ocorrer
o dano, se for uma tutela de natureza coletiva.

O segundo critério é a extensão daquele dano:

Segundo o CDC, se o dano for local, qualquer foro atingindo é competente. Se


o dano for regional e se o dano for nacional, poderá a ação ser ajuizada na capital do
local atingido ou na capital nacional. Seguindo a literalidade do artigo, a competência é
concorrente, ficando a escolha do autor. O STJ garante uma interpretação literal desse
comando, cabendo ao autor escolher qual é o foro que ele entende mais conveniente.
Para a doutrina essa interpretação é muito criticada, tendo uma visão teleológica.

O que é um dano regional?

Primeira corrente vai dizer que é um dano que atinge uma região inteira, em um
conceito geográfico, exemplo: norte, sudeste e etc.

A segunda considera que o dano regional é o dano que atinge um Estado inteiro,
posição de Ricardo de Barros Leonel.

Uma terceira corrente vai dizer que é aquele que atinge mais de uma comarca,
ainda que não atinja a capital daquele estado.

A quarta corrente afirma que seria aquele que atinge mais de 3 comarcas.

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A jurisprudência não tem uma resposta definitiva sobre isso.

Existe uma certa critica doutrinaria, por exemplo do Hugo Nigro Mazilli, do
Hermes Zanetti, Didier, Elton Venturini, que vão apresentar uma critica sobre esse
dispositivo. Será que é razoável a capital julgar sobre um dano que não mesmo a atingiu.
Alguns ainda afirmam que o melhor lugar seria aonde estariam a maior quantidade de
provas, facilitando a fase probatória, tentando levar esse processo para onde realmente
houve o dano, prestigiando o primeiro critério que seria o local do dano.

Também temos que conhecer previsões especificas quanto ao primeiro critério,


que seria o do ECA, que adotada como critério o local da ação ou omissão que gerou
esse dano. Se tivermos ai uma ação coletiva, atinente a direito relacionados a criança
ou adolescente, deve levar em consideração o local da ação ou omissão.

Se analisarmos o estatuto do idoso, art.80, o foro competente é o do domicilio


do idoso. O problema aqui é que pode ocorrer deturpações praticas, pois quem atua
aqui é o legitimado e não o idoso. Segundo a doutrina seria melhor ignorar esse artigo
80 e votar a regra geral do microssistema. Com o NCPC, art. 53, trouxe essa regra do
domicilio do idoso como uma regra geral do processo individual.

Estatuto do idoso - Art. 80. As ações previstas neste Capítulo serão


propostas no foro do domicílio do idoso, cujo juízo terá competência
absoluta para processar a causa, ressalvadas as competências da
Justiça Federal e a competência originária dos Tribunais Superiores.

NCPC - Art. 53. É competente o foro:

I - para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e


reconhecimento ou dissolução de união estável:

a) de domicílio do guardião de filho incapaz;

b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz;

c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio


do casal;

II - de domicílio ou residência do alimentando, para a ação em que se


pedem alimentos;

III - do lugar:

a) onde está a sede, para a ação em que for ré pessoa jurídica;

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b) onde se acha agência ou sucursal, quanto às obrigações que a
pessoa jurídica contraiu;

c) onde exerce suas atividades, para a ação em que for ré sociedade ou


associação sem personalidade jurídica;

d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir
o cumprimento;

e) de residência do idoso, para a causa que verse sobre direito previsto


no respectivo estatuto;

f) da sede da serventia notarial ou de registro, para a ação de reparação


de dano por ato praticado em razão do ofício;

IV - do lugar do ato ou fato para a ação:

a) de reparação de dano;

b) em que for réu administrador ou gestor de negócios alheios;

V - de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de reparação


de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive
aeronaves.

O STJ aplica essas regras para ação de improbidade administrativa, mas como
já falamos, para a ação popular ele sai desse microssistema e segue o regramento do
CPC. Logo na ação popular vai seguir a regra das quais sejam parte a União, os
Estados, Municípios e DF, que é: se forem autores será o domicílio do Réu, ou local do
fato, e se forem réus, vai ser o domicilio do autor.

Legitimidade para a propositura da tutela coletiva:

Seguindo o art. 18 do CPC/15, como regra geral nos temos a legitimidade


ordinária, ou seja, o próprio sujeito do direito vai tutela-lo em juízo. Não se pode ajuizar
uma ação para tutelar direitos alheios. Mas o próprio art. 18 do CPC, lembra que pode
ser autorizada a legitimidade extraordinária, em que consiste alguém tutelando em nome
próprio o direito de outro.

Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando
autorizado pelo ordenamento jurídico.

Parágrafo único. Havendo substituição processual, o substituído poderá intervir


como assistente litisconsorcial.

É possível um negócio jurídico processual criar uma legitimidade extraordinária?

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A legitimidade para o processo coletivo tem natureza de legitimidade
extraordinária. Esse é o entendimento majoritário e é adotado pelos tribunais superiores.

A legitimidade extraordinária processual, não abarca a disposição de direitos


personalíssimos. O MP em uma ação coletiva pediu para desconsiderar o sigilo bancário
de todos os consumidores supostamente prejudicados por uma ação abusiva do banco.
A intenção do MP era favoravelmente para aqueles consumidores. O STJ disse que a
legitimidade extraordinária não abarca essa disposição de direitos materiais. O direito
personalíssimo de cada um não pode ser simplesmente desconsiderado.

A natureza jurídica dessa legitimidade extraordinária é controvertida na doutrina.


A maioria da doutrina considera que se trata de legitimidade extraordinária, mas existe
um entendimento que vai no sentindo de se tratar de uma legitimidade autônoma para
a condução do processo. Essa terminologia é buscada no direito alemão, e a ideia é
que não se trata de legitimidade ordinária e nem extraordinária, a ideia é buscar uma
terceira espécie de legitimidade, que seria autônoma.

Outra corrente, Ada Pellegrini, considera que seria uma legitimidade ordinária
das formações social, aqueles grupos representados no processo coletivo ou eventual
associações atuaria com legitimidade ordinária, mas não clássica e sim dessas tais
formações sociais.

Lembrar também que como regra a legitimidade na tutela coletiva vai ser plúrima,
vai ser mista. Plúrima pois vai trazer como regra, mais de um legitimado concorrente,
isso é o que acontece quase sempre na tutela coletiva. A única exceção que nós temos
é a ação popular, onde não é um rol, mas apenas um que é o cidadão. Já a legitimidade
mista diz respeito ao fato desses legitimados concorrentes envolverem tanto Pessoas
jurídicas de direito público como privado. A exceção aqui fica por conta da ação de
improbidade administrativa.

Hipóteses:

 Legitimidade para ação popular

Tem como legitimado exclusivo o cidadão. O art. 1 da lei de ação popular deixa
isso claro. Existe uma pretensão doutrinária de autorizar a tutela desses interesses da
ação popular por uma ação civil pública.

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Para essa doutrina não faria sentindo restringir o rol de legitimados para ação
popular se o rol em uma ação civil pública é bem mais amplo, mas isso ainda está no
plano doutrinário. A única vedação que podemos enxergar está a súmula 365 STF que
diz que a PJ não tem legitimidade para o ajuizamento da ação popular.

Súmula 365: Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.

A condição de cidadão para a jurisprudência é aferida com a condição de eleitor


independentemente do endereço eleitoral, devendo juntar o titulo eleitoral na petição.

A ação popular não dispensa, segundo o STJ, a capacidade postulatória. O STJ


exige a capacidade postulatória, que não se confunde com a questão de legitimidade
do cidadão. A questão mais polêmica, são aqueles que estão entre os 16 e os 18 anos,
pois eles gozam da condição de cidadão, mas precisam de um representante
processual, a pergunta é se ele vai precisar ser representado em uma ação popular. A
doutrina se divide, mas majoritariamente se entende que não.

O segundo legitimado além do cidadão, seria o MP. O STF e STJ consideram


que para os direitos difusos e os direitos coletivos em sentido estrito, o MP tem uma
legitimidade ampla. A legitimidade aqui é ampla, não tem legitimidade de pertinência
temática alguma. A jurisprudência interpreta o art. 129, III da CF/88, literalmente.

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: [...]

III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio
público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;

A questão mais delicada é a legitimidade do MP para a tutela de direitos


individuais homogêneos. Na doutrina existe divergências. A doutrina majoritária, STF e
STJ, a chave do critério adotado é a seguinte: se o direito individuais homogêneos forem
indisponíveis a legitimidade é ampla, mas se foi um direito individuais homogêneos
disponíveis, para que o MP tenha legitimidade ele terá que demonstrar uma repercussão
social daquela demanda, que pode vir da própria natureza do dano, ou o grupo de
indivíduos lesados. O que nos percebemos é um grande casuísmo.

Exemplo seria o DPVAT e a súmula 470 do STJ, que dizia que o MP não possuía
legitimidade para ações coletivas que versavam sobre o DPVAT. Mas o STF em pleno,
cancelou essa sumula e disse que pode sim pois há repercussão social. Outros
entendimentos pacificados recentemente, súmula 601 do STJ, vai lembrar que o MP

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tem legitimidade quando se tratar sobre direitos do consumir ainda relativos a serviços
públicos. Esses direitos guardam interesse social, presumida. O STJ quando editou
essa súmula, falou que essa proteção foi assumida pelo próprio constituinte, por ser
garantia fundamental. Além disso há indicativos como por exemplo, o ADCT que institui
o prazo para a edição do CDC.

Recentemente o STJ disse que o MP tem legitimidade para tutelar os direitos


dos consumidores sobre contratos de compra e venda de imóveis, informativo 629.
Outra decisão, informativo 766 dos recursos repetitivos, o MP tem legitimidade sobre
direitos relacionados a saúde ainda que se trate de direitos individuais homogêneos, por
ser um direito indisponível.

Um tema interessante também é sobre o MPU e os MPE e litisconsórcio entre


eles. O STJ admite que haja esse litisconsórcio em uma mesma ação coletiva, e isso
acontece na prática. O STJ diz que deve haver algum elemento concreto a justificar isso,
caso contrario vai gerar uma ofensa aos princípios da economia processual. Mas não é
o simples fato de haver interesse na matéria que vai implicar o litisconsórcio, isso só
acontecerá em casos concretos, não bastando a visão abstrata.

Outros legitimados são os sindicatos, segundo art. 8, III da CF/88 assegura a


representação sindical, e tanto o STF e o STJ admitem que se trata de um substituto
processual, de sorte que ao há necessidade de autorização especifica dos substituídos
para se ajuizar essa ação. Diferença que temos entre os sindicatos e as associações.

Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:

III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais


da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas;

Sobre a legitimidade das Associações, art. 5 da lei de Ação civil pública:

Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:

I - o Ministério Público; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007).

II - a Defensoria Pública; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007).

III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; (Incluído pela Lei


nº 11.448, de 2007).

IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia


mista; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).

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V - a associação que, concomitantemente: (Incluído pela Lei nº 11.448, de
2007).

a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; (Incluído
pela Lei nº 11.448, de 2007).

b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público


e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre
concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao
patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. (Redação
dada pela Lei nº 13.004, de 2014)

§ 1º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará


obrigatoriamente como fiscal da lei.

§ 2º Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos


termos deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes.

§ 3° Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação


legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade
ativa. (Redação dada pela Lei nº 8.078, de 1990)

§ 4.° O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando


haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do
dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido. (Incluído pela Lei nª
8.078, de 11.9.1990)

§ 5.° Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da


União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de
que cuida esta lei. (Incluído pela Lei nª 8.078, de 11.9.1990)

§ 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados


compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante
cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial. (Incluído pela
Lei nª 8.078, de 11.9.1990)

A Associação, para ser legitimada deve preencher os seguintes requisitos:

 Pré-constituição por mais de 1 ano. A ideia aqui é mitigar a legitimidade


das associações e evitar as chamadas associações de ocasião, que são
feitas só para ajuizar ações coletivas. Mas existem exceções para esse
requisito.

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