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SUSTENTABILIDADE

autor do original
MARCELO DE ALMEIDA

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2015
Conselho editorial  regiane burger, modesto guedes júnio

Autor do original  marcelo de almeida

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  rodrigo azevedo de oliveira

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  fabrico

Revisão linguística  aderbal torres bezerra

Imagem de capa  shutterstock

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
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Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


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Sumário

Prefácio 7

1. Desenvolvimento sustentável: empresa, sociedade e


meio aAmbiente 10

Sustentabilidade 13
Responsabilidade social 16
Governança corporativa 18
Sustentabilidade e as empresas 20
RSC e sustentabilidade empresarial 22

2. Questão ambiental e consumo 40

O consumo na sociedade atual 41


Principais Agentes Atuantes na sustentabilidade 42
Contexto histórico/balanço social 44
Ferramentas, certificados e outros agentes 49

3. Sustentabilidade e gestão ambiental 60

A questão ambiental sob a ótica econômica:


desenvolvimento sustentável 61
O conceito ecoeficiência 63
Histórico de poluição 67
Protocolo de Kyoto 69
O comércio de créditos de carbono 70
Leis ambientais brasileiras 72
Processo de licenciamento ambiental: EIA, RIMA. Certificação e
normalização ambiental. ISO 14000 76
Financiamentos e programas para empresas sustentáveis 78
Uma discussão sobre a veracidade de questões ambientais 82

4. Sustentabilidade: a responsabilidade social como


um possível caminho 90

Definição e disseminação do conceito no mundo e no Brasil 91


Global Compact 100
A responsabilidade social das empresas e o relacionamento
com stakeholders 103
Dimensão ecológica da sustentabilidade empresarial 108

5. Consumo sustentável: incentivos 116

Cidade de Estocolmo 117


Iniciativas bem sucedidas de empresas 118
Mecanismo de desenvolvimento limpo – MDL 138
Prefácio
Prezados(as) alunos(as)

O conceito de sustentabilidade e seus desdobramentos vêm sendo cada vez


mais debatidos pelo universo acadêmico e pela sociedade. Atitudes que não
estejam de acordo com os princípios que permeiem a concretude de um de-
senvolvimento sustentável não estão sendo bem vistas na contemporaneidade.
Sendo assim, a sociedade e as empresas estão tendo que rever procedimen-
tos, visando à própria sobrevivência. Nesse contexto, aspectos como sustenta-
bilidade, desenvolvimento sustentável e responsabilidade social precisam ser
valorizados.
No decorrer da disciplina, serão definidos diversos conceitos ligados à sus-
tentabilidade, tendo em vista os benefícios alcançados por todos que a prati-
cam. Sejam bem-vindos e bons estudos!

Prof. Marcelo de Almeida

7
1
Desenvolvimento
sustentável: empresa,
sociedade e meio
ambiente
1  Desenvolvimento sustentável: empresa,
sociedade e meio ambiente

Neste capítulo vamos abordar o panorama geral sobre o conteúdo da disciplina,


apresentando o conceito-base de sustentabilidade, bem como a evolução dos con-
ceitos de responsabilidade social ao longo dos tempos. Vamos também apresentar
brevemente as principais ferramentas que fazem parte desta temática e discutir a
relevância das demonstrações comumente usadas.

OBJETIVOS
•  Aprender o conceito de Desenvolvimento Sustentável.
•  Aprender o conceito de Responsabilidade Social Corporativa – RSC.
•  Aprender o conceito de Sustentabilidade Empresarial.

REFLEXÃO
Certamente você deve ter lido em jornais ou revistas discussões sobre sustentabilidade, bem
como a importância desse assunto dentro das corporações. A partir deste capítulo, vamos apre-
sentar como as empresas têm-se comportado em meio a esse conceito que já é uma tendência.

1.1  Introdução

Ao longo da Idade Moderna e da Antiguidade Clássica, a manufatura foi predo-


minante, gerando uma ampliação do mercado consumidor com o desenvolvi-
mento do comércio monetário. A partir desse período tem-se um aumento da
produtividade do trabalho.
A partir da Revolução Industrial, as pessoas passaram a desfrutar de maiores
oportunidades de trabalho e ter acesso a bens de maior qualidade. Os centros
urbanos foram significativamente ampliados, e a economia passou a crescer
rapidamente. Sugiram grandes corporações e os setores industriais passaram a
definir o contexto econômico e social.

10 • capítulo 1
O desenvolvimento do comércio deu-se com a ampliação do mercado con-
sumidor, pelas mudanças do processo produtivo e o ritmo de produção, resul-
tando em um crescimento expressivo do setor industrial.
A expansão da indústria foi responsável por alterar profundamente as con-
dições de vida dos trabalhadores e transformar a configuração dos centros ur-
banos. Além disso, o crescimento da indústria aumentou demasiadamente a
poluição do ambiente.
A queima do carvão mineral passou a despejar toneladas de poluentes na
atmosfera das cidades industrializadas e, a partir desse período, as pessoas já
conviviam com o ar poluído e outros efeitos oriundos desse progresso.
É certo que a industrialização trouxe consigo um reconhecido avanço eco-
nômico mundial, muito embora, desde seu apogeu, tem sido o principal canal
de destruição dos recursos naturais, promovendo desmatamentos, erosões,
emissões de poluentes, resíduos de materiais nucleares, extinção de espécies
de plantas de animais, além de deflagrar outros fenômenos indiretos como
efeito estufa, catástrofes, súbitas alterações climáticas, que colocam em risco
ou reduzem a qualidade de vida dos indivíduos.
A classe trabalhadora, mesmo com melhores condições comparadas à vida
no campo, aos poucos era submetida a maiores jornadas de trabalho, chegan-
do a cumprir 80 horas semanais. Em meados do século XIX começavam os pri-
meiros movimentos de operários.
Consolidada a transformação econômica estimulada pela indústria, a socie-
dade e o ambiente tornaram-se alvo de diversos efeitos positivos e negativos e
nenhum compromisso era atribuído ou cobrado dessas empresas.
Em meados do século XX começa a se falar em consciência ecológica e
desenvolvimento sustentável, destacando um importante papel por parte das
corporações em gerar riqueza com compromisso com o meio ambiente.
A sociedade começa a exigir uma nova postura das indústrias, restando aos
gestores a responsabilidade em continuar oferecendo produtos com qualidade
sem comprometer a natureza. Para isso, as indústrias começam a investir signi-
ficativamente em novos sistemas de produção, tecnologia e políticas para mudar
sua imagem, manter a qualidade de seus produtos e informar satisfatoriamente
não somente seus consumidores, como também sua ampla gama de stakehol-
ders. O conceito de uma empresa de sucesso foi cada vez mais se aproximando do
conceito de “empresa verde”, ou seja, com compromisso com o meio ambiente.

capítulo 1 • 11
Nesse momento, um novo ritmo e uma nova modalidade de investimen-
to passam a ser praticados pelas corporações, haja vista que a produção com
responsabilidade social gera custos no sentido de buscar novas tecnologias e,
principalmente, coletar e divulgar informações para os agentes interessados na
continuidade dos negócios.
Ademais, vive-se em uma economia plenamente capitalista, em que prevale-
ce a soberania dos disseminadores de riquezas. Desde o processo de Revolução
Industrial, nota-se a importância das empresas na vida das pessoas, no dese-
nho do cenário econômico de um país. E conduzindo os caminhos percorridos
ao longo de um processo de amadurecimento e consolidação de uma corpora-
ção, coexistem grandes gestores que, anacronicamente, trabalham e operam
no sentido único de se buscar lucratividade a qualquer custo.
Não obstante, uma importante contribuição a ser somada por um profissio-
nal contemporâneo é a qualidade das decisões tomadas em um negócio. Milha-
res de profissionais são lançados no mercado todos os anos que, munidos da
evolução das ferramentas contábeis, passam a ser grandes tomadores de deci-
são, grandes indutores de tendências na economia.
É inegável, nesse processo de transformação, a influência da Globalização
fomentando o aumento de sucursais, a expansão de empresas que pertencem
a diversos países, a múltipla gestão por profissionais de culturas diferentes, a
comercialização de produtos com diferentes padrões de qualidade, a demanda
de diferentes consumidores e diferentes questionamentos.
Começam a ser discutidas algumas proposições formais acerca de susten-
tabilidade.

Sustentabilidade é um tema em pleno processo de discussão em esfera social, econômi-


ca e acadêmica. Uma variedade de concepções ao longo dos últimos cinquenta anos foi
refinada por importantes pesquisadores e fomentou cobranças mais rigorosas por parte
da sociedade e posturas mais responsáveis por parte das corporações (CIOFI, 2010).

Neste ínterim, estudos conduzidos por importantes personagens buscam


no mercado explicações para amenizar impactos das decisões, impactos das
atividades produtivas visando atender a sociedade, o ambiente e os consumi-
dores de modo geral.

12 • capítulo 1
Logo, pretende-se, no decorrer dessa disciplina, evidenciar ao aluno a re-
levância da discussão sobre sustentabilidade e responsabilidade social nas
empresas, da evolução dos impactos e dos questionamentos, e ressaltar empi-
ricamente que é possível traçar estratégias de crescimento e de continuidade
do negócio em consonância com o meio ambiente. Fomentar o senso crítico
profissional dos futuros tomadores de decisão sobre questões cruciais de des-
perdícios, de padrões de divulgação, de padrões de produção que, utilizados de
maneira eficiente, podem contribuir com a geração de valor ao acionista.

1.2  Discussão

Qual empresa tem maior potencial para contribuir com o Desenvolvimento Sus-
tentável: uma que investe bilhões de reais ao ano para preservar uma área na-
tiva distante de suas operações ou outra que investe menos de 100 mil reais ao
ano para tratar seus próprios resíduos? Qual empresa tem maior potencial para
contribuir ao Desenvolvimento Sustentável: uma que investe bilhões de reais ao
ano para educar uma comunidade sem relação com seus negócios ou outra que
investe menos de 100 mil reais ao ano para educar seus próprios funcionários?
Até o final desta disciplina poderemos responder a esses questionamen-
tos. Por enquanto, vamos aprender os conceitos: Desenvolvimento Susten-
tável, Responsabilidade Social Corporativa e Sustentabilidade Empresarial.
As empresas, sob a ótica das Finanças, operam para gerar valor ao acionista.
O Marketing complementa e considera que os negócios existem para atender
as necessidades do cliente. Economistas afirmam que a razão de existência da
companhia é reduzir custos de transação. Afinal, qual a função da empresa?

1.3  Sustentabilidade

Oficialmente, na década de 1980, uma importante discussão internacional foi pro-


movida abordando o tema sustentabilidade. Em 1987, o Relatório de Brundtland,
no documento intitulado Nosso Futuro Comum, conceitua sustentabilidade como
“o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. Mesmo
que essa definição não seja considerada a mais usual, ela tem sido alvo de relevan-
tes discussões, tendo em vista que não há um consenso universal a respeito deste
conceito, que, segundo Bellen (2004), reflete os conflitos de interesse existentes

capítulo 1 • 13
acerca do tema.
Em meio aos principais questionamentos no que tange o conceito de sus-
tentabilidade, insta a conjectura de que responsabilidade social e sustentabi-
lidade são conceitos idênticos. Entretanto, ambos são conceitos considerados
complementares. O que se identifica quando o conceito de sustentabilidade é
abordado, é a capacidade de produzir com menor impacto ambiental, minimi-
zando o consumo de materiais e gerando um menor montante de resíduos e
subprodutos para o meio ambiente.
O surgimento da Revolução Industrial trouxe consigo a ideia de que as gran-
des indústrias eram disseminadoras de riquezas e o desenvolvimento econômico
ocultou impactos que eram gerados pelas atividades industriais.
As indústrias não apenas tiveram, como ainda detêm um importante papel
de condução da economia, pois foram responsáveis pela alteração profunda
das condições de vida dos trabalhadores e pela transformação dos centros ur-
banos. Todavia, é inegável que o crescimento deste segmento gerou efeitos da-
nosos ao meio ambiente.
A discussão do tema sustentabilidade passou ocorrer com veemência na
mídia no início da década de 1990, em conferências internacionais. Na Agenda
21 – Eco 92, ocorrida no Rio de Janeiro – conferência em que foi estabelecida a
importância da participação dos países em firmar compromissos ambientais –,
foi criado o termo sustentabilidade. Tratou-se de um avanço na integração dos
papéis do governo, da sociedade, das ONGs e das corporações de modo geral.
A concepção que embasa a sustentabilidade é a consciência de que as enti-
dades são integrantes do mundo, e não somente agentes consumidores. A res-
sonância do crescimento sustentável recriou um novo papel nas corporações,
que passaram, em tese, a dialogar de forma mais transparente com o seu públi-
co de interesse (CIOFI, 2010).
Ainda segundo Ciofi (2010), ao longo dos anos, ferramentas para se criar um
canal de comunicação com esses agentes foram priorizadas, como relatórios
anuais e posteriormente relatórios anuais de sustentabilidade. Desse modo,
empresas do mundo todo têm visado atender as exigências de seus consumido-
res por meio da transparência, ética e responsabilidade sócio-ambiental.
Sustentabilidade resume-se pelo planejamento por parte das corporações
para que sejam consumidos recursos com eficiência e responsabilidade, pela
gestão dos impactos no meio ambiente, pelo estabelecimento de uma relação
harmoniosa com os funcionários, pela geração de riqueza com menor dano am-

14 • capítulo 1
biental e social, pela prestação de contas a todas as classes relacionadas. Desse
modo, coexistem princípios importantes de Governança Corporativa, Responsa-
bilidade Social e Responsabilidade Ambiental.

(Sustentabilidade) É o processo político, participativo que integra a sustentabilidade


econômica, ambiental, espacial, social e cultural, sejam elas coletivas ou individuais,
tendo em vista o alcance e a manutenção da qualidade de vida, seja nos momentos de
disponibilização de recursos, seja nos períodos de escassez, tendo como perspectivas
a cooperação e a solidariedade entre os povos e as gerações. (SILVA, 2006, p.132).

Em verdade, o tema em pauta abrange um grupo de temas que sustentam o


conceito, conforme ilustração a seguir:

Governança
corporativa

Sustentabilidade Responsabilidade
social

Responsabilidade
ambiental

Figura 1 – Pilares da sustentabilidade


CIOFI (2010)

Analisando-se a ilustração acima, sustentabilidade não é um conceito isola-


do e abrange tópicos de Governança Corporativa, que representa a administração
das corporações em meio a acionistas, empregados, conselhos de administra-
ção por meio de práticas de transparência e ética, garantindo a continuidade do
negócio. Responsabilidade Social se relaciona diretamente com empregados e
comunidade, transformando a empresa em um cidadão, até se estreitar com o
caráter Ambiental, que reza uma harmonia entre a corporação e o meio ambiente.

capítulo 1 • 15
1.4  Responsabilidade social

Sabe-se que, para fomentar o desenvolvimento de uma corporação, é necessário,


dentre outras variáveis, intensificar investimentos, ampliar infraestrutura, adqui-
rir novas ferramentas tecnológicas, aumentar máquinas e equipamentos indus-
triais. Por consequência, para que todas as atividades de produção sejam execu-
tadas, recursos naturais são consumidos e resíduos são eliminados na atmosfera.
Neste ínterim, discute-se principalmente em países desenvolvidos, na déca-
da de 1950, o conceito responsabilidade social empresarial. Em 1953, Howard
R. Bowen publica Social Responsabilities of the Businessman, marcando o início
da era moderna da literatura sobre o assunto. Bowen (1953), já nessa época, afir-
mava que grandes empresas exerciam grandes impactos na vida das pessoas e
questionava quais responsabilidades poderiam ser esperadas pelos gestores.
Joseph W. McGuire, durante a década de 1960, publicou o livro Business and
Society (1963), apresentando a ideia de que as empresas têm obrigações para
com a sociedade que vão além dos aspectos econômicos e legais, devendo agir
como um cidadão.
Já no final da década de 1970 a humanidade passa a se preocupar com a
escassez dos recursos naturais em decorrência do aumento do consumo e da
transformação de bens. Paralelamente ao cenário sociopolítico e cultural,
surgiram movimentos ambientalistas visando discutir este problema, promo-
vendo encontros e criando novos conceitos sobre meio ambiente e sua gestão
(KRAEMER, 2002).
Wartick e Cochran (1985) efetuaram uma revisão literária e incutiram um
novo modelo, visando integrar os princípios de responsabilidade social com os
feedbacks das entidades às demandas sociais e ainda com as políticas sociais
desenvolvidas na companhia para gerar um panorama distinto dos esforços da
empresa para realizar suas obrigações com a sociedade. Nesse modelo, a res-
ponsabilidade social é tida como base filosófica e ética de orientação das enti-
dades (CIOFI, 2010).
Carrol (1999) contribui para uma definição mais clara e prática de responsa-
bilidade social por parte das corporações, dividindo o conceito em quatro pilares:
econômico, legal, ético e discricionário, conforme demonstra ilustração a seguir.

16 • capítulo 1
Responsabilidade
social

Econômico

Legal

Ético

Discricionário

Figura 2 – Conceito Responsabilidade Social


Carrol (1999)

Uma importante contribuição para uma definição mais clara e prática de


responsabilidade social por parte das corporações é expressa por Carrol (1.999),
que divide responsabilidade social em quatro pilares: econômico, legal, ético e
discricionário. Este último aspecto indica que as ações de uma empresa que
vão além do caráter compulsório, que partem voluntariamente, que são realiza-
das unicamente por se tratar de uma corporação com compromisso com todos
os seus agentes são, de fato, um provento de responsabilidade social. Por se
relacionar com diversos agentes internos e externos, as corporações acabam
atuando de maneira a não somente prover valores ou lucratividade, como tam-
bém em criar um canal que permita melhor relacionamento com as partes in-
teressadas (CIOFI, 2010).
Nota-se que os estudos de Carrol (1999) contribuem para uma ampliação do
conceito de responsabilidade social, incutindo o compromisso de uma corporação
a estender-se a toda gama dos agentes envolvidos no negócio, seja com funcioná-
rios, seja com clientes, fornecedores, parceiros, sociedade e ambiente, aproximan-
do o papel de responsabilidade social aos conceitos de sustentabilidade.
Sinteticamente, pode-se asseverar que as empresas, desde o auge do pro-
cesso de industrialização, eram vistas como pilares econômicos e os trans-
tornos por ela gerados eram concebidos como “um mal necessário”. Com o
passar das décadas foi-se tomando consciência de que algo poderia ser feito
no sentido de reduzir esses impactos, haja vista que os recursos são finitos e

capítulo 1 • 17
o ambiente como um todo precisa de ajuda. A conscientização da sociedade
e stakeholders de modo geral, ainda que embrionária, contribuiu para que a
postura de grandes corporações fosse questionada. Ao longo de aproximada-
mente cinco décadas, as empresas continuam com a figura de pilares impor-
tantes para economia, muito embora seu papel passa a ser não somente como
o de gerar de riqueza, como também de comportar-se como um cidadão com
responsabilidade social e ambiental (CIOFI, 2010).
Com o aumento da atuação e conscientização da sociedade civil e a conse-
quente pressão por maior responsabilidade socioambiental e transparência das
empresas, a relação com stakeholders tomou novo rumo, passando a ser “obri-
gatória” a prestação de contas a diversas partes interessadas (OLIVEIRA, 2002).
A ilustração a seguir contempla a evolução dos conceitos de responsabilida-
de social, bem como seus principais autores, ao longo do tempo:

Visavam discutir escassez de


recursos e transformação de bens,
criando novos conceitos sobre
meio ambiente e sua gestão.

Movimentos ambientalistas

(1953) (1963) (1970) (1999)

Howard Bowen Joseph McGuire A. B. Carrol

Grandes empresas exerciam A empresa deve agir, Divisão de RSE


grandes impactos na vida das apropriadamente, em 4 pilares:
pessoas e questionavam quais como um cidadão. econômico,
responsabilidades sociais legal, ético e
podiam ser esperadas dos discricionário.
gestores das organizações.

Figura 3 – Cronologia da Responsabilidade Social


CIOFI (2010)

1.5  Governança corporativa

Como a intenção de toda corporação é continuar gerando resultados positi-


vos, uma importante oportunidade para dar andamento ao desenvolvimento é
a alavancagem de seus investimentos utilizando não somente capital próprio,

18 • capítulo 1
mas também capital de terceiros diversificados e provenientes de fontes que
objetivem estimular a criação de meios sustentáveis. Essa tendência de alavan-
cagem pode ser promovida no intento de se reduzirem os custos das dívidas. O
primeiro procedimento adotado em virtude dos meandros do desenvolvimento
é a captação de recursos com custos relativamente mais baixos (CIOFI, 2010).
Um importante passo econômico foi a abertura de capital das empresas,
entretanto essa abertura traz consigo maior cobrança acerca da responsabi-
lidade para a corporação, em virtude da multiplicação de seus financiado-
res. Por meio da normatização de procedimentos administrativos, operacio-
nais e contábeis, a Governança Corporativa, bem como os seus princípios,
detém o poder e a tarefa de alterar e controlar a estrutura organizacional
de uma corporação. A razão da existência desta miríade de princípios é a
adequação da gestão corporativa aos interesses comuns da sociedade, dos
acionistas, do governo, entre outros stakeholders, incluindo a divulgação de
informações mais transparentes e responsáveis.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), a
Governança Corporativa baseia-se nos princípios de transparência, equidade,
prestação de contas (accountability) e ética. Ainda:

[...] é o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os re-
lacionamentos entre acionistas, conselho e administração, diretoria, auditoria indepen-
dente e conselho fiscal. As boas práticas de governança corporativa têm a finalidade
de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a sua
perenidade. (IBGC, 2009).

A geração de informações, principalmente genuínas e claras, depende de di-


versas posturas de gestão que envolvem tanto acionistas como os responsáveis
pela administração (principais x agentes) e suscita diversos problemas que tan-
gem interesses conflitantes – mais estudados na Teoria de Agência (CIOFI, 2010).
Em meio a esse descompasso, a governança corporativa tem o importan-
te papel de mediar e equilibrar esses conflitos para que as informações sejam
desprovidas de qualquer interesse particular por parte dos gestores e conduzir
a execução de práticas que são comprometidas exclusivamente com a maximi-
zação do negócio (CIOFI, 2010).

capítulo 1 • 19
Os conceitos de governança corporativa, sinteticamente, foram originados de
contextos de expansão, busca de recursos e conflitos de agência. Não obstante, a
evolução desse assunto adornou o papel da governança em prospectar e otimizar
a relação entre a corporação e seus fornecedores, empregados, clientes, governo
e concorrentes, além dos investidores.
Ao decorrer dos últimos anos, muitas empresas passaram a adotar princí-
pios de governança corporativa por razões de intensificar suas interações ver-
ticais, expondo maior transparência aos seus fornecedores, clientes e exibin-
do ao investidor que suas atividades não somente focam a lucratividade como
também o comprometimento com a sociedade e o ambiente (CIOFI, 2010).
Esse comportamento denota melhora da imagem da empresa como tam-
bém soma credibilidade, reduzindo os riscos de investimento, tendo em vista
que uma empresa que investe nas esferas sociais, ambientais e faz uso das me-
lhores práticas de gestão e divulgação têm menor probabilidade de apresenta-
rem problemas de continuidade.

1.6  Sustentabilidade e as empresas

Afinal, qual a função da empresa? Romm (1996), de forma sistêmica, reflete que
a empresa existe para ela mesma e para a sociedade onde está inserida. Quando a
firma é considerada como um sistema aberto, sua função se amplia e manter-se
em equilíbrio com outros sistemas passa a ser sua razão de existência. A empresa
gera valor ao acionista, atende às necessidades dos clientes e reduz os custos de
transação para ser um sistema sustentável e contribuir para sua continuidade e
do meio onde está inserida. Meadows (1982) amplia essa interdependência e ex-
plica que um sistema consiste num conjunto de elementos interligados.
Uma empresa pode ser compreendida como um sistema, pois representa
um conjunto de elementos inter-relacionados que trabalham integrados no de-
sempenho de determinadas funções. Há interdependência e interligação entre
os elementos internos e externos ao sistema empresa. A relação entre eles pode
influenciar o funcionamento da empresa e atingir a sociedade. Visualizar a em-
presa como um sistema aberto permite análise geral do negócio e proporciona
reflexão sobre sua responsabilidade social, pois elas são sistemas que intera-
gem com outros sistemas formando um todo. Diante disso, nota-se a importân-
cia de as empresas caminharem para a sustentabilidade, pois, para garantirem
sua continuidade, necessitam cuidar de certos elementos externos ao seu negó-
cio (MORTAL; MORTAL, 2005).

20 • capítulo 1
De forma genérica, Callenbach et al. (1999) visualizam a empresa como uma
célula que, independentemente do ramo do negócio – fabricação de mercado-
rias, prestação de serviços ou manipulação de informações –, dá ingresso a al-
guma coisa, processa de várias formas e gera novos produtos e resíduos. As ati-
vidades de processamento de serviços e produtos fazem parte de um fluxo e
representam o fluxograma do negócio (metabolismo da célula). Este é formado
pelo conjunto de relações entre os elementos internos e externos à empresa en-
volvidos com o negócio. A qualidade dessas relações influencia na continuida-
de da empresa. Então, como uma célula, a empresa é interdependente e interli-
gada com seu meio externo, vive para si própria e para o meio ao qual pertence.
Ademais, Sá (2001) e Borger (2001) visualizam uma empresa como uma cé-
lula social. Isso significa que, se o objetivo do negócio for somente o lucro sem
oferecer benefícios a terceiros, a empresa poderá ser nociva ao meio onde está
inserida. Sendo nociva à sociedade, certamente será ruim para a si própria. Se-
gundo as ideias retroexplanadas, as empresas são interdependentes e interliga-
das à economia, à sociedade e aos ecossistemas. Por isso, a qualidade de suas
relações com todos os elementos ao seu redor influencia na continuidade de
seus negócios. Percebe-se que isso estimula as empresas a repensarem sobre
suas responsabilidades perante a sociedade para conseguir manter-se no mer-
cado e gerar valor ao acionista. As firmas estão descobrindo que ser responsável
socialmente pode resultar em benefícios ao negócio.
A UN (2007) define desenvolvimento sustentável como o desenvolvimento
que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das
futuras gerações em satisfazerem suas próprias necessidades. Desenvolver sus-
tentavelmente significa promover o desenvolvimento econômico concomitan-
temente à preservação do meio ambiente e relações justas de trabalho. O termo
desenvolvimento sustentável define como práticas empresariais sustentáveis
aquelas que conseguem oferecer produtos e serviços que satisfaçam as neces-
sidades de seus clientes e gerem valor aos acionistas sem comprometer a conti-
nuidade da sociedade e dos ecossistemas conectado às suas operações.
Bebbington (2001) explica que não pode confundir o termo Desenvolvimen-
to Sustentável com gestão ambiental, pois esse está dentro daquele. Aliás, po-
demos tomar o cuidado de não confundir Desenvolvimento Sustentável com
Responsabilidade Social Corporativa ou Sustentabilidade Empresarial. Esses
últimos são para empresas e aquele, para sistemas econômicos de países.

capítulo 1 • 21
Desenvolvimento Sustentável Sistema Econômico País
Responsabilidade Social Corporativa Empresas
Sustentabilidade Empresarial Empresas

Os três conceitos possuem três dimensões: econômica, social e ambiental.


As duas últimas, Responsabilidade Social Corporativa (RSC) e Sustentabilidade
Empresarial, são sinônimas e significam integração do desempenho econômi-
co, social e ambiental das empresas.

1.7  RSC e sustentabilidade empresarial

A Corporate Social Responsibility – CSR (2006) – considera que a responsabili-


dade social não possui uma definição universal e pode ser percebida pelo setor
privado como uma maneira de integrar a variável econômica, social e ecológica.
Essas três dimensões da responsabilidade social são conhecidas no mercado
internacional como Triple Bottom Line –TBL – da Sustentabilidade Empresarial.
Os conceitos ‘Responsabilidade Social Corporativa’ e ‘Sustentabilidade Empre-
sarial’ convergem para o mesmo objetivo: integrar os interesses econômicos,
sociais ecológicos. De acordo com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da
Fundação Getúlio Vargas – Gvces (2006) e a Sustainable Measures (2006), essa
integração pode tornar um negócio sustentável.

ATENÇÃO
Lembre-se da palavra Integrar para conceituar sustentabilidade empresarial!

Econômico

Ecológico Social
Integrar

Sustentabilidade Empresarial: significa a empresa integrar desempenho


econômico, social e ecológico.

22 • capítulo 1
Ao mesmo tempo em que proporciona valor aos seus acionistas, a empresa
também pode fornecer educação, cultura, lazer e justiça social à comunidade,
além da proteção da diversidade e dos ecossistemas. Assim, na busca por sus-
tentabilidade, ações são programadas para obter desempenho social, ecológi-
co e econômico. Devido ao destaque dado ao desenvolvimento sustentável nos
encontros e fóruns internacionais, Souza (2003) afirma que a variável de grande
relevância nos anos 1990 foi a preservação do meio ambiente e o social. Certa-
mente, as empresas, ao perceberem essa tendência, planejam ações ecológicas e
sociais para atender às necessidades de seus acionistas e demais colaboradores.
Outro fato que justifica a relevância da inserção da variável proteção do
meio ambiente e das relações de trabalho no planejamento estratégico das em-
presas foi a criação, em 1991, do Conselho Empresarial para o Desenvolvimen-
to Sustentável (Business Council for Sustainable Development). Órgão ligado à
ONU, objetiva estimular a comunidade internacional de empresários a refletir
sobre o desenvolvimento industrial sustentável (SOUZA, 2003).
Nota-se que a tendência de inserir o meio ambiente e o social no planeja-
mento das empresas estimulou a criação de um conselho vinculado à ONU
para discutir novas maneiras de se produzir produtos e serviços sem agredir os
ecossistemas. Há também outro fator que contribui para reforçar essa tendên-
cia. Souza (2003) cita os selos Green Cross e Green Seal, que são endossados por
duas organizações privadas nos EUA que revisam produtos e os concedem às
empresas que alcançam os padrões exigidos como embalagem, biodegradabi-
lidade, eficiência energética e o uso sustentável de recursos.
Uma empresa pode inserir a variável proteção do meio ambiente em seu
planejamento estratégico, obter tais selos e conseguir participar de um mer-
cado novo ou que seu concorrente selado já opera. Dentro mesmo das empre-
sas os gestores estão conscientes em relação ao desenvolvimento sustentável.
Em uma pesquisa realizada pela Harvard Business Review, foi demonstrado o
interesse de empresários e executivos pela proteção do meio ambiente. Isso
significa que muitas empresas estão em busca do desenvolvimento industrial
sustentável (SOUZA 2003).
Certamente, gerentes conscientes ecologicamente terão maiores possibilida-
des de encontrar soluções lucrativas para os problemas ambientais do que outros
sem conhecimento ambiental. Existe um dado para as empresas que objetivam ter
maior participação no mercado externo: Souza (2003) constatou que empresas bra-
sileiras com desempenho ambiental positivo são aquelas como maior inserção no

capítulo 1 • 23
mercado internacional. Assim, percebe-se que o mercado externo pode funcionar
como estimulante para a manutenção de ações ecológicas empresariais.
Ademais, há também a consciência ecológica de órgãos financiadores in-
ternacionais dos processos produtivos. Raupp (2002) cita o Banco Interameri-
cano de Desenvolvimento (BID), que exige como condição para concessão de
empréstimos uma política ambiental por parte dos tomadores. A consciência
ecológica do investidor e as oportunidades de reduzir custos operacionais e
financeiros, somadas à situação preocupante em que se encontra o meio am-
biente, influenciam as empresas a inserir a proteção dos ecossistemas em seus
planejamentos estratégicos. Por isso, muitas empresas mantêm ações que têm
o objetivo de minimizar o impacto ambiental de suas operações.
As firmas podem investir na proteção do meio ambiente, por meio de pro-
gramas como tratamento de efluentes, reaproveitamento de água, reciclagem,
separação e tratamento de sucata, melhorias ambientais no processo produti-
vo, educação ambiental etc. Esses programas podem resultar em benefícios às
empresas. Os resultados do artigo de Hassel et al. (2001) indicam que desem-
penho ambiental positivo pode aumentar o valor de mercado de empresas, e
Vellani e Nakao (2003) concluem que investimentos ambientais podem reduzir
custos. Esses estudos indicam que pode haver integração entre desempenho
econômico e ecológico. Dados assim necessitam ser divulgados e ampliados
para que as empresas conheçam as possibilidades de benefícios econômico-
financeiros provenientes da manutenção de ações ecológicas.
Além disso, Callenbach (1999) defende que os investidores e os acionistas
estão, com o passar do tempo, utilizando indicadores de sustentabilidade eco-
lógica, no lugar da estrita rentabilidade, como critério para avaliar o posiciona-
mento estratégico de longo prazo das empresas. Esse talvez seja um dos mais
importantes estímulos para a inserção da proteção do meio ambiente no dia a
dia dos negócios. Quando os acionistas e investidores exigem a manutenção de
ações ecológicas, os executivos têm que corresponder.
Nesse mesmo sentido, Donaire (1999) explica que os indicadores sobre a
contribuição da empresa ao desenvolvimento sustentável e de enriquecimento
dos acionistas podem ser utilizados de forma complementar para informar so-
bre a capacidade de retorno de um investimento. Um negócio que não pondera
a proteção do meio ambiente pode ter seu risco aumentado devido à emissão
de algum resíduo que venha contaminar os ecossistemas e a sociedade.

24 • capítulo 1
Essa contaminação pode influenciar na continuidade do negócio, pois o
fluxo de caixa futuro trazido a valor presente pode ficar comprometido. O risco
do negócio pode ser definido como toda a probabilidade que uma organização
tem de não atingir os seus objetivos. Muitas vezes, a poluição pode acarretar
penalidades, multas, paralisação das operações e causar prejuízos aos acionis-
tas. Logo, cria-se uma probabilidade de a empresa não atingir suas metas e de
o risco do negócio aumentar.
Usar os recursos naturais de forma sustentável e efetuar investimentos na
proteção dos ecossistemas pode reduzir riscos. Risco menor, maior a proba-
bilidade de a empresa honrar seus compromissos. Portanto, manter ações
ecológicas empresariais pode ser um indicador da capacidade de retorno de
um investimento. As Nações Unidas (ONU, 2001) explicam, que à medida que a
sustentabilidade, a gestão do risco e o controle dos processos começam a ser re-
levantes para o alcance dos objetivos de um negócio, os gestores e os auditores
das Demonstrações Contábeis ficam também cada vez mais interessados nas
informações sobre a relação da empresa com seu meio ambiente.
Além de reduzir o risco do negócio, as empresas podem obter ganhos eco-
nômico-financeiros com a manutenção de ações ecológicas. Brown (2002), Cal-
lenbach et al. (1999), Romm (1996), Kinlaw (1997), Berry e Rondinelli (1998),
Donaire (1999), Hawken, Lovins e Lovins (1999), Sharf (1999), Hassel, Nilsson
e Nyquist (2001), Velasco, Moori e Popadiuk (2001), Hansen e Mowen (2001),
Almeida (2002), Boneli (2002), Andrade, Tachizawa e Carvalho (2002), Faria
(2002), Alberton (2003), Ribeiro e Souza (2004), Tinoco e Kraemer (2004), Ri-
beiro (2005) e Ben, Schneider e Pavoni (2005) citam casos de empresas que in-
vestiram na proteção ambiental e obtiveram redução de custos, incremento de
receitas ou melhoria da imagem.
Outros benefícios podem ser obtidos com a manutenção de atividade so-
ciais. Por exemplo, uma empresa trata bem seus funcionários e consegue alta
produtividade em relação ao seu setor. Porém, muitas vezes a manutenção de
ações ecológicas e sociais empresariais não gera benefícios econômico-finan-
ceiros para a empresa e, mesmo assim, não são abandonados, pois podem ser-
vir para atender à legislação ambiental.
Berry e Rondinelli (1998) explicam que os gastos em proteção ambiental,
num primeiro momento, são incorridos em ações ecológicas de conformi-
dade. A primeira atividade ambiental programada pode ser para adequar
o processo produtivo à legislação ambiental. Com o passar dos tempos, as

capítulo 1 • 25
empresas veem oportunidades com a sustentabilidade ecológica e, então,
passam a investir em projetos que agregam valor aos resíduos.
Por causa de exigências legais, contratuais, oportunidades de redução de cus-
tos, incremento de receitas e melhora na imagem corporativa, as empresas pon-
deram o conceito de desenvolvimento sustentável em suas tomadas de decisões.
Bebbington e Gray (2001) refletem sobre a necessidade de as empresas inserirem
o conceito de desenvolvimento sustentável na elaboração dos relatórios contábeis.
Esse conceito está cada dia mais presente no planejamento estratégico das
companhias, haja vista as ações empreendidas e fartamente divulgadas por
meio da grande mídia e da expressiva quantidade de relatórios de sustentabili-
dade publicados. As empresas podem transformar seus Relatórios Anuais em
verdadeiros Relatórios de Sustentabilidade.
O Relatório Anual pode ser utilizado pelas empresas para fornecer informa-
ções aos diversos públicos da sociedade sobre a evolução e atuação de seus negó-
cios em determinado período. Documento oficial corporativo, o Relatório Anual
apresenta as informações do Relatório da Administração, juntamente com as De-
monstrações Contábeis, acompanhadas dos pareceres dos Auditores Indepen-
dentes e do Conselho Fiscal. Podem conter gráficos, fotografias e tabelas.
Conforme Iudícibus, Martins e Gelbcke (2003), a Comissão de Valores Mo-
biliários – CVM faz recomendações sobre o conteúdo do Relatório de Adminis-
tração. No Parecer de Orientação nº. 15/87 citam-se itens que nele devem cons-
tar. Um desses itens é a divulgação de informação sobre a proteção do meio
ambiente por parte da empresa. Ou seja, nessa parte do Relatório Anual pode
conter exemplos de ações ecológicas empresariais.
Baseado em SustainAbility (1994) e SustainAbility & United Nations Envi-
ronment Programme (1997), Bebbington e Gray (2000) explicam que as empre-
sas podem ser classificadas conforme o grau e qualidade da divulgação de in-
formações sobre sua relação com os ecossistemas. Há cinco estágios:
•  Verde Lustroso: neste primeiro estágio, há pouca informação no Relató-
rio Anual sobre a relação da empresa com os ecossistemas;
•  Político: a empresa divulga apenas sua política ambiental no Relatório
Anual;
•  Descritivo: aqui já começa a ser divulgado no Relatório Anual informa-
ções sobre o sistema de gestão ambiental da companhia com muito tex-
to, mas pouca figura;

26 • capítulo 1
•  Estado da Arte: aqui a empresa informa seu desempenho ambiental de
forma completa. Divulga informações físicas e monetárias. Informações
no nível corporativo, unidade de negócio, linha de produto (ou serviço) e
por unidades de produto (ou serviço). Tudo mais bem detalhado e repor-
tado no Relatório Anual da companhia;
•  Sustentabilidade: divulgação sobre a contribuição da empresa para o de-
senvolvimento sustentável das sociedades. Informam os aspectos eco-
nômicos, sociais e ecológicos do negócio por meio de indicadores físicos
e monetários. Nesse estágio, o Relatório Anual passa a ser divulgado com
o nome “Relatório de Sustentabilidade”.

Observa-se que há, ainda, outros dois conceitos relacionados com o de De-
senvolvimento Sustentável: “a Responsabilidade Social Corporativa” e “a Sus-
tentabilidade Empresarial”. Ambos possuem o mesmo objetivo: integrar os
aspectos econômicos, sociais e ecológicos das empresas.

Sustentabilidade

Estado da Arte

Descritivo

Político
Verde
Lustroso

Figura 4 – Estágios do Relatório Anual das empresas

Sustentável pode ter muitos significados. Pode qualificar tudo aquilo que se
mantém ou ser atribuído a algo ininterrupto, cíclico, com perspectiva de conti-
nuidade. As características e a sustentabilidade das comunidades resultam das
interações entre o meio ambiente, a economia e sociedade. Assim, muitas em-
presas interessadas na sustentabilidade empresarial podem manter ações para
integrar o bottom line econômico, social e ambiental.
A inserção da Sustentabilidade Empresarial nos processos de decisão das or-
ganizações, das instituições e principalmente das empresas se mostra relevan-
te para a continuidade de seus negócios (da parte) e da sociedade em geral (do

capítulo 1 • 27
todo). Por isso, as firmas podem ponderar a sustentabilidade em seus processos
decisórios e inseri-la no seu planejamento estratégico.
Como conceitos amplos, a Responsabilidade Social Corporativa e a Sustentabi-
lidade Empresarial abrangem certas relações da empresa com as partes envolvidas
no seu contexto mercadológico. A CSR (2006) considera que a responsabilidade so-
cial não possuiu uma definição universal e pode ser percebida pelo setor privado
como uma maneira de integrar a variável econômica, social e ecológica. A Sustenta-
bilidade Empresarial (ou RSC) pode ser visualizada como um conjunto de atitudes
nas seguintes dimensões:
Governança corporativa: o conjunto de valores relacionados com a gover-
nança corporativa influencia a ética dos executivos e no gerenciamento de seus
negócios. Empresa ética na gestão de seus negócios significa comprometimen-
to com a transparência. Exemplos: cumprimento da ética em todos os proces-
sos gerenciais que envolvam a empresa e a aplicação dos conceitos da gover-
nança corporativa em seus negócios → já abordada anteriormente.
•  Relação com os colaboradores internos: a maneira como a empresa se re-
laciona com os funcionários e os sindicatos podem criar um ambiente
de trabalho saudável. Exemplos: programas de educação, esporte e pla-
no de carreira.
•  Relação com fornecedores: o relacionamento da empresa com seus for-
necedores pode fortalecer os dois lados ao transacionar de forma ética e
justa. Exemplos: parcerias transparentes entre a empresa e seu fornece-
dor e exigência de documentos que comprovem atitudes de responsabi-
lidade social e ecológica por parte dos fornecedores.
•  Relação com os consumidores: avaliar as possibilidades de danos aos con-
sumidores desde a retirada da matéria-prima até o descarte final pode ser
um indicador de RSC. Exemplos: programa com os consumidores para
avaliar alguma qualidade de certo produto e programa de pós-venda.
•  Relação com comunidade, sociedade e governo: iniciativas, parcerias, estraté-
gias de atuação na comunidade como forma de diminuir a desigualdade so-
cial e a participação em projetos públicos para ajudar o governo a satisfazer
os desejos da coletividade contribui ao Desenvolvimento Sustentável. Exem-
plos: programas de alfabetização, assistência médica, eventos culturais etc.
à comunidade externa à empresa.
•  Relação com os investidores: informar seu desempenho econômico com
transparência aos seus investidores e indicar os riscos inerentes ao negó-
cio são atitudes empresas antenadas com a Sustentabilidade Empresarial.

28 • capítulo 1
Manter um departamento chamado Relações com Investidores, principal-
mente as S.A. de capital aberto, pode ser um início. Enfim, relacionar de for-
ma transparente e de forma profissional com todos os acionistas da empre-
sa. Transparente significa o gestor permitir o acesso à realidade. Informar
ao acionista a verdadeira situação econômico-financeira do negócio.
•  Relação com o meio ambiente: a eficiência na utilização dos recursos natu-
rais, o controle de emissão de resíduos e a adoção de tecnologias limpas
em seu processo produtivo são atitudes de RSC que auxiliam as empresas
a se tornarem ecológicas e, com isso, cumprem seu papel social de man-
ter a saúde dos ecossistemas interdependentes e interconectados ao seu
negócio. Exemplos: programas de tratamento de efluente, principalmente
aqueles que possibilitem a recirculação da água, reciclagem de resíduos,
ações para redução de emissões, preservação e recuperação.
Observa-se que a dimensão social foi dividida em cinco. Cinco com mais
uma econômica e uma ecológica são sete dimensões da Sustentabilidade Em-
presarial. Um país, ao ponderar a variável ambiental em suas decisões, elabora
leis para proteger os ecossistemas da poluição gerada pelas empresas. A Legis-
lação Ambiental do Brasil pode ser relevante em estudos elaborados dentro da
contabilidade, pois fornecem dados que servirão para as companhias avalia-
rem e planejarem os gastos necessários para deixar o negócio em situação de
conformidade legal.

CONEXÃO
Visite o site do Ministério do Meio Ambiente (www.mma.gov.br) e descubra o significado da
sigla CONAMA.

Assim como há a legislação ambiental para proteger o equilíbrio dos ecos-


sistemas públicos (esses podem ser poluídos por empresas), há a legislação tra-
balhista para assegurar relações de trabalhos dignas e justas dentro da espera
pública e privada. O próximo item trata da legislação ambiental.
De acordo com a Constituição Federal de 1988 (Brasil, 1988), em seu artigo
225, todo brasileiro tem o direito de viver em harmonia com os elementos que
constituem os ecossistemas. Os serviços prestados pelo meio ambiente são de
uso comum da sociedade, conforme o trecho seguinte:

capítulo 1 • 29
Art. 225: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

REFLEXÃO
Lembre-se de que a legislação trabalhista é estudada em outra disciplina. Já a legislação
ambiental é tratada a seguir.

Dessa forma, o conceito legal de meio ambiente é ampliado e cria-se uma


categoria jurídica capaz de impor, a todos que utilizam os recursos naturais,
uma obrigação de zelo para com o meio ambiente. Além disso, a constitui-
ção oferece mecanismos considerados importantes para conciliar o uso da
propriedade privada e o desenvolvimento de atividades econômicas com a
preservação do meio ambiente. Exige-se que o uso da propriedade seja feito
conforme sua função social e trata a defesa do meio ambiente como um dos
princípios norteadores da atividade econômica.
A Lei dos Crimes Ambientais, nº. 9605, de 12/02/98, pode influenciar a
continuidade da empresa e estimulá-las a manter ações ecológicas. A refe-
rida lei dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de con-
dutas e atividades lesivas ao meio ambiente (complementada pela Medida
Provisória nº. 1710 de 07/08/98, que dispõe sobre o termo de ajustamento
de conduta, e regulamentada pelo Decreto nº. 3179, de 21/09/99).
Conforme Prado (2000) e Seguin e Carreira (1999), a Lei 9605/98 apresenta
inovações quando admite a possibilidade de pessoas jurídicas serem penal-
mente responsáveis. De acordo com o capítulo I da Lei de Crimes Ambientais
são previstas as disposições gerais, nas quais se encontra a inovação em rela-
ção à possibilidade de pessoas jurídicas serem penalmente responsáveis “[...]
nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante
legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da
entidade” (art. 3º, caput), considerando que “[...] a responsabilidade das pes-
soas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partíci-
pes do mesmo fato” (art. 3º, parágrafo único).

30 • capítulo 1
O art. 2º da lei 9.605/98 considera também responsável “[...] o diretor, o
administrador, o membro de conselho e órgão técnico, o auditor, o gerente, o
preposto ou mandatário da pessoa jurídica que, sabendo ou devendo saber da
conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática quando podia
agir para evitá-la.” Entende-se que assim foi acolhida a teoria da coautoria ne-
cessária entre agente individual e ente moral. O art. 4º da referida lei dispõe
sobre a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica “[...] sempre que
sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qua-
lidade do meio ambiente”. A lei 9.605/98, em seu art. 24 trata sobre a possibili-
dade da pessoa jurídica, que for criada e/ou utilizada para, por exemplo, permi-
tir a prática de crime, poder ter liquidação forçada e seu patrimônio, então, será
perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional.
O Capítulo II refere-se à aplicação da pena, suas modalidades – quanto às
penas aplicáveis às pessoas jurídicas, o juiz tem a discricionariedade de con-
dená-las à multa, penas restritivas de direito (art. 22) e prestação de serviço à
comunidade (art. 23), isolada, cumulativa ou alternativamente (art. 21). Sobre
essas disposições, críticas estão sendo formuladas, diante da discricionarieda-
de que se ofertou ao juiz. No Capítulo V são tipificados os crimes contra o meio
ambiente (dos crimes contra a fauna – art. 29 a 37; dos crimes contra a flora
– art. 38 a 53; dos crimes de poluição e outros crimes ambientais – art. 54 a 61;
dos crimes contra o ordenamento urbano e patrimônio cultural – art. 62 a 65;
dos crimes contra a administração ambiental – art. 66 a 69). Cumpre ressaltar
que essa parte deixou de prever o crime de poluição sonora (art. 59, vetado pelo
Presidente da República).
Por fim, o Capítulo VI dispõe sobre as infrações administrativas; o Capí-
tulo VII trata da cooperação internacional para a preservação do meio am-
biente; e o Capítulo VIII refere-se às disposições finais. A Lei nº 9605/98 cer-
tamente estimula as empresas a manterem ações ecológicas empresariais
com o objetivo de permanecer em situação de conformidade em relação à
legislação ambiental. Assim, evita-se o risco de sofrerem penalidades, in-
correr a custos e interferir na continuidade de seu negócio.
Vale lembrar, ainda, que existe o Conselho Nacional do Meio Ambiente –
CONAMA. Esse órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio
Ambiente - SISNAMA foi instituído pela Lei 6.938/81 e dispõe sobre a Política
Nacional do Meio Ambiente, regulamentada pelo Decreto 99.274/90. O CONA-
MA é responsável por atos como Resoluções, Moções e Recomendações que

capítulo 1 • 31
podem exigir investimentos em ações ecológicas empresariais, regulamentar
alguma atividade ambiental mantida pelas empresas e até fomentar ideias ino-
vadoras para os problemas ambientais.
Martins e Ribeiro (1995) explicam que o governo, ao aprimorar sua legis-
lação ambiental com estabelecimento de parâmetros técnicos sobre a emis-
são de resíduos, estimula empresas a buscar soluções para os seus proble-
mas de poluição. Nesse contexto, os executivos criativos podem transformar
uma adequação ecológica em uma vantagem competitiva.
Porter e Van der Linde (1995) desenvolveram uma hipótese de que os con-
troles ambientais não representam uma ameaça à empresa, mas uma oportu-
nidade. Provavelmente porque as legislações ambientais forçam as empresas a
buscar soluções tecnológicas para produzir produtos novos e ambientalmente
corretos. Desse modo, convergem para as exigências atuais dos consumidores
e grupos de interesse.

Você Sabia?
Compliance é um termo da língua inglesa que significa ‘conformidade’. Nesse sentido,
as empresas mantêm ações ecológicas para adequar projetos ou processos em conso-
nância com determinadas exigências contratuais.
Apesar de existirem vários tipos de exigências contratuais, este material expõe so-
mente as encontradas em Vellani e Ribeiro (2009). Por isso, as certificações da série
ISO 14.000 (ISO 14.001 é uma subsérie da ISO 14.000), SA8.000 (semelhante a ISO
14.000, mas voltado ao social), NBR16.001 (Sistema de Gestão de Responsabilidade
Social), os Princípios do Equador e a Agenda 21 estarão presentes neste material.

Expandindo conhecimentos

A seguir, importantes veículos de comunicação tratando do assunto Sustenta-


bilidade:
•  “A sustentabilidade ambiental é um princípio crucial para a competitividade
das empresas. Está relacionada ao custo de produção (eficiência energética
e uso de recursos ambientais) e à atratividade que a empresa tem no mer-
cado, tanto sob o ponto de vista dos consumidores como dos investidores”

32 • capítulo 1
Revista Época Negócios – 22/09/2010
<http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI173853-16381,-
00-A+PEGADA+DE+CARBONO+DE+UMA+XICARA+DE+CAFE.html>

•  “Nos próximos anos, o tripé da sustentabilidade – econômica, social e


ambiental – estará muito vinculado à inovação. As empresas precisarão
inovar cada vez mais na construção de processos sustentáveis, induzidos
pelo Estado”.
Reportagem O Estado de São Paulo (13/05/2010)
<http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,inovar-com-sustentabili-
dade-imp-,551042>

•  “O frigorífico JBS Friboi investirá R$ 100 milhões em 35 projetos da área


de sustentabilidade em suas unidades no Brasil, nos próximos três anos.
O aporte já começou a ser feito neste ano e abrange desde ações com
fornecedores de gado, com capacitação de proprietários e diagnóstico
de propriedades, até biodiesel e crédito de carbono. “Estamos fazendo
nosso dever de casa e no rumo da uniformização da sustentabilidade do
grupo”, afirmou o presidente do conselho de Estratégia Empresarial da
JBS Friboi, Pratini de Moraes, em encontro com jornalistas”.
Revista Época Negócios – 03/08/2010
<http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI160213-16381,00-
JBS+INVESTE+R+MI+EM+PROJETOS+DE+SUSTENTABILIDADE.html>

•  “Todo nosso planejamento é baseado hoje no conceito de crescer de for-


ma sustentável. [...] Hoje, em função das mudanças climáticas, do cres-
cimento acelerado do País, da urbanização, nos encontramos em uma
nova equação, que exige mudanças significativas na forma de pensar o
futuro. Não basta discutir “o que”, temos de atrelar nosso planejamento
ao “como”. Estamos trilhando o caminho e vamos acelerar ainda mais
nosso passo, assegurando o crescimento sustentável sob todos os aspec-
tos. Nossa perspectiva, de qualquer forma, é a de que, antes de comuni-
car, é importante fazer”.
Marcos Simões – Responsável pelo departamento de Sustentabilidade
da Coca-Cola em Entrevista à Revista Exame (06/10/2010)
<http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/coca-cola-continua-in-
vestindo-sustentabilidade-592409>

capítulo 1 • 33
ATIVIDADE
1.  Defina sustentabilidade empresarial, reflita sobre a relação desse conceito com a admi-
nistração, e cite as sete dimensões da Sustentabilidade Empresarial.

2.  O que significa a empresa começar no Verde Lustroso e chegar ao estágio Sustentabilidade?

REFLEXÃO
Neste capítulo você aprendeu os principais conceitos relacionados à temática da sustentabi-
lidade, bem como a amplitude do assunto, passando por responsabilidade social, compromis-
so ambiental e governança corporativa. Essa abordagem genérica permite a compreensão da
importância da sustentabilidade e sua relação com as empresas. Também foi exposta a evo-
lução do conceito de responsabilidade social e discutidas as classificações quanto ao nível de
divulgação que as corporações apresentam ao longo da continuidade de seus negócios.
Esse capítulo é importante para que o aluno compreenda a amplitude do assunto e tenha
noção ainda do que virá pela frente.

LEITURA
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ção. Revista Ambiente & Sociedade, vol. 6, n. 2, jul./dez. 2003. Disponível em: 13 mai. 2014.
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34 • capítulo 1
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36 • capítulo 1
PRADO, Alessandra Rapassi Mascarenhas. A lei n. 9.605/98 e a responsabilidade penal da pes-
soa jurídica. Revista da Faculdade de Direito de Guarulhos, Guarulhos, v. 2, n. 2, p. 57 a 70, jan./
jun. 2000.

RAUPP, Elena Hahn. Desenvolvimento sustentável: a contabilidade num contexto de responsabi-


lidade social de cidadania e de meio ambiente. Revista de Contabilidade do CRC – SP, São Paulo,
n. 20, ano VI, junho, 2002.

SÁ, A. L. A função social do contabilista. Revista Mineira de Contabilidade. Belo Horizonte, n. 03,
p. 24-27, abr/jun. 2001.

SÉGUIN, Elida; CARRERA, Francisco. Lei dos crimes ambientais. Rio de Janeiro: Editora Espla-
nada, 1999.

SUSTAINABILITY; United Nations Environment Programme. The 1997 Benchmark Survey: The
third international progress report on company environmental reporting. London: SustainAbility
and United Nations Environment Programme, 1997.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
A seguir, colocaremos em debate o consumo versus o consumismo e também os incentivos
legais existentes na atualidade para que as empresas primem pela prática da responsabili-
dade social.

capítulo 1 • 37
2
Questão ambiental
e consumo
2  Questão ambiental e consumo
Neste capítulo, veremos como a sociedade contemporânea concebe a questão
do consumo para além das suas necessidades, gerando, assim, o consumismo.
Consideraremos também os benefícios empresariais para as organizações que
têm colocado a responsabilidade social como fundamento presente no alcance
de suas metas.

OBJETIVOS
•  Debater o consumo na atualidade;
•  Possibilitar a capacidade de identificar as características e requisitos das questões envol-
vendo o meio ambiente e a sociedade de consumo;
•  Apresentar a forma como as principais entidades brasileiras e mundiais têm se envolvido
com a questão ambiental e o consumo.

REFLEXÃO
Seguramente, você ouviu dizer que a humanidade passa por sérios problemas ambientais
e também que grande parte da população mundial consome sem precedentes. Da mesma
forma, deve ter percebido que há uma preocupação de segmentos da sociedade com relação
a esta situação. Então, vamos ver se esta equação é ou não possível na contemporaneidade.

Introdução

Atualmente, podemos considerar que o planeta Terra vive um momento crítico


no que tange ao aumento do consumo e seus impactos ecológicos globais. Da
mesma forma, criar políticas para promover a limitação desse consumo é uma
questão bastante complexa e abrangente.
A exploração sem precedentes dos recursos naturais, desde a primeira Revo-
lução Industrial (iniciada no final do século XVIII) até os dias de hoje, tem co-
locado em sinal de alerta as condições físicas de vida na Terra, uma vez que a
exigência da produção e do consumo impulsionada pela economia capitalista é
considerada insustentável do ponto de vista ambiental.

40 • capítulo 2
Nos últimos anos, é válido salientar que tivemos alguns avanços no modo de
pensar e de agir das pessoas, mas a ação ainda mais desafiadora se refere a influen-
ciar e modificar o que a sociedade, de maneira geral, pensa em relação ao consumo.

2.1  O consumo na sociedade atual

De forma geral, o consumo na sociedade do início do século XXI tem sido bastante
estimulado pela mídia e também pelo governo, interessado em incentivar o cresci-
mento econômico, possibilitando assim a geração de empregos e impostos.
Embora uma considerável parcela da população mundial sinta-se satisfei-
ta com o maior acesso a bens e serviços ofertados no mercado de consumo, é
válido ressaltar que consumir não significa necessariamente melhorar a qua-
lidade de vida.
Conforme Baudrillard (1981, p.11), o consumo ocupa espaço ímpar na con-
temporaneidade, e, a partir dele, as relações humanas vão se moldando: “o con-
sumo surge como modo ativo de relação, como modo de atividade sistemática e
resposta global, que serve de base a todo o nosso sistema cultural”.
Por este viés, percebemos que a necessidade do consumo nem sempre se re-
laciona ao bem consumido, pois muitas vezes as pessoas são levadas pela nor-
matização de um padrão que prioriza este consumo, entendido dessa forma
como consumismo:

Raros são os objetos que hoje se oferecem isolados, sem o contexto de objetos que
os exprimam. Transformou-se a relação do consumidor ao objeto: já não se refere a tal
objeto na sua utilidade específica, mas ao conjunto de objetos na sua significação total
(BAUDRILLARD, 1981, p.17).

A referida sociedade de consumo, conforme Bauman (2008), precisa ser com-


preendida a partir de dois enfoques bem distintos, a saber: a princípio, o consu-
mo se revela como algo inerente e vital à sobrevivência humana, naquilo que tange
às suas necessidades para garantir o seu bem-estar social (alimentação, saúde,
educação, transporte, moradia, lazer, etc) e, numa perspectiva bem diferente,
reside o consumismo, que não se trata de algo espontâneo e natural, mas de
uma imposição promovida pela lógica do capitalismo neoliberal. Se, durante
a Primeira Revolução Industrial, o trabalho nas fábricas possibilitou a origem
do conceito de alienação definido por Karl Marx, da mesma forma Bauman

capítulo 2 • 41
considera o consumismo como um ato alienado. Em outros termos, se os tra-
balhadores eram suscetíveis a uma dominação imposta pelos seus patrões, na
mesma linha de raciocínio, os consumidores são vistos como alienados pelo
consumo exacerbado ditado pelo mercado.
Por outro lado, temos visto também parte do mundo empresarial envolvida
em ações voltadas para uma espécie de prestação de contas à sociedade, imbuí-
da na perspectiva de equilibrar a preocupante questão relacionada ao consumo
na atualidade.

2.2  Principais agentes atuantes na sustentabilidade

Balanço social trata-se de uma demonstração que contempla uma gama de in-
formações acerca de projetos, ações sociais, benefícios concedidos aos empre-
gados, analistas, investidores e comunidade, que é publicada anualmente por
livre iniciativa de uma corporação, um instrumento estratégico de divulgação
da responsabilidade social.
Nesse demonstrativo, a empresa visa evidenciar o que faz em prol de
seus profissionais, colaboradores e comunidade, conotando transparência
em relação às ações que buscam melhorar a vida das pessoas. A principal
função é tornar a responsabilidade social empresarial pública a todos os
stakeholders, aproximando a empresa da sociedade e do meio ambiente.
Sinteticamente, é uma importante ferramenta que pode ser utilizada pelos
gestores no sentido de divulgar boas práticas, além de agregar valor à companhia.
Em meados da década de 1970, a ideia de divulgação de informações deste
tipo se iniciou no Brasil, muito embora apenas na década de 1980 tenham surgi-
do, efetivamente, os primeiros balanços sociais. Já na década de 1990, diversos
setores passam a aderir à divulgação do balanço social.
É importante destacar a relevância da atuação do sociólogo Herbert de Sou-
za, conhecido nacionalmente como Betinho, que, em 1997, dá início a uma am-
pla campanha pela divulgação do balanço social no Brasil. Por meio de parce-
rias com diversas empresas, a campanha ganhou forças e vem discutindo em
diversos meios de comunicação a importância da divulgação de informações
sociais. O trabalho desse sociólogo contribuiu com a evolução cultural das cor-
porações brasileiras em praticar a divulgação espontânea do balanço social.
Segundo o Ibase – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
–, o balanço social favorece a todos os grupos que interagem com a empresa.

42 • capítulo 2
Aos dirigentes fornece informações úteis à tomada de decisões relativas aos
programas sociais que a empresa desenvolve. Seu processo de realização es-
timula a participação dos funcionários e funcionárias na escolha das ações
e projetos sociais, gerando um grau mais elevado de comunicação interna e
integração nas relações entre dirigentes e o corpo funcional.
De modo geral, aos stakeholders o balanço social informa os valores da res-
ponsabilidade social na filosofia da corporação e, mais do que isso, evidencia
como a empresa é administrada. Em tese, promove-se a ideia de qual o perfil
dos gestores e o caminho escolhido pela corporação para dialogar com a socie-
dade e construir sua marca.
O balanço social trata basicamente de um modelo padrão de informações
que deve ser rigorosamente seguido pelas empresas que optam pela divulgação
de informações sociais.
A ideia é permitir que com esse modelo, assim como todas as informações
contábeis, seja possível equiparar e comparar empresas de distintos segmentos
e suas atuações que tangem os aspectos de responsabilidade social. A simplici-
dade do modelo já garante um maior envolvimento por parte de corporações.
O conteúdo das informações permite comparabilidade entre as empresas, in-
dependentemente do tamanho ou do setor delas, conforme anunciado a seguir
no Portal Ibase:

Se a forma de apresentação das informações não seguir um padrão mínimo, torna-se


difícil uma avaliação adequada da função social da empresa ao longo dos anos. A pre-
dominância de dados que possam ser expressos em valores financeiros ou de forma
quantitativa é fundamental para enriquecer este tipo de demonstrativo. É claro que nem
sempre correlacionar fatores financeiros com fatos sociais é uma tarefa fácil, porém, os
indicadores desenvolvidos do modelo Ibase ajudam às análises comparativas da própria
empresa ao longo do tempo ou entre outras do mesmo setor. (<www.ibase.org.br />
Acesso em: 06/out. 2010).

capítulo 2 • 43
Um ano após a criação do modelo de balanço social, 1998, o
Ibase lança o Selo Balanço Social Ibase/Betinho, rotulando
todo ano as corporações que optaram pela publicação do ba-
lanço social de acordo com a metodologia proposta. Por meio
desta proposta, as empresas poderiam divulgar nos mais diver-
sos veículos de comunicação que estão voluntariamente forne-
cendo informações de caráter social.
Um ano após a criação do modelo de balanço social, 1998, o Ibase lança o Selo Balanço
Social Ibase/Betinho, rotulando todo ano as corporações que optaram pela publicação
do balanço social de acordo com a metodologia proposta. Por meio desta proposta, as
empresas poderiam divulgar nos mais diversos veículos de comunicação que estão volun-
tariamente fornecendo informações de caráter social.

2.3  Contexto histórico/balanço social

A concepção de responsabilidade social até perto da década de 1930 não era


conhecida por parte das corporações, tampouco o acesso às informações perti-
nentes ao negócio. Era comum a ideia de que os resultados e a performance de
uma corporação eram restritos a um pequeno grupo, com acesso limitado no
sentido de se proteger as informações.
Exceto pelas prestações de contas, grandes patrimônios do capitalismo eram
mantidos em segredo, sendo somente tornados públicos em raríssimas situações
compulsórias. Essa situação foi mantida por anos, até que se começaram os pri-
meiros questionamentos acerca da esfera ambiental, quando o assunto passou a
ter tratado no mundo, mais especificamente nos anos 60.
Com o crescimento e popularização do “accountability” empresarial,
oriunda principalmente de países europeus, tal como França (como destaque
“bilian social” – 1972) e Reino Unido (com destaque do “Corporate Report” –
1975), as práticas de divulgação de informações passaram a ser adotadas mun-
dialmente.
Notadamente no Brasil o processo não foi na mesma velocidade. Não obs-
tante, após o regime militar e repressão política, o país passa por uma revo-
lução de organizações civis. Os militantes da cidadania ganham forças por
meio da sociedade, que naquele contexto passa a concentrar sua atuação na

44 • capítulo 2
pressão por políticas públicas com embasamento social. No Brasil, o apoio à
responsabilidade social se firma após a década de 90, como consequência da
criação de ONGs (Organizações Não Governamentais).
Em virtude das falhas do Estado em atender as rigorosas pressões sociais,
corporações passam a aumentar suas atuações e se apresentarem de forma
mais proativa, no sentido de promover um discurso social mais ético e justo.
Em alinhamento com estas razões, em face de uma ascendente cobrança
por transparência, hoje não apenas é necessário que uma empresa atue com
responsabilidade, mas que mostre os resultados auferidos. Nesse sentido, cor-
porações expõem sua performance social e financeira em relatórios corporati-
vos de distintos formatos e layouts.
O formato intitulado de Balanço Social pode ser identificado com dife-
rentes formatos e não existe exigibilidade legal para sua publicação. Layouts
modernos exibem edições mais requintadas, com apelo visual ou apenas uma
coletânea de informações quantitativas que mostram o resultado social e am-
biental das corporações. A filosofia nos bastidores dos relatórios sócio-am-
bientais reza que as empresas necessitam prestar contas não somente aos
seus investidores, como também para seus mais diversos stakeholders, gru-
po que contempla os empregados, acionistas, governos, comunidade, ou seja,
todos aqueles ligados diretamente ou indiretamente ao negócio.
A prática de divulgação da performance socioambiental de uma entidade in-
teressa a um grupo amplo de agentes pelas mais distintas razões. Primeiramente
pode-se visar a questão da ética, tendo em vista que as empresas, na condição de
agentes sociais, detém influência ativa no crescimento de uma nação e, logo, deve
se entender com a sociedade. Não obstante, circunstâncias de âmbito empírico se
agregam a estas e, fazem da divulgação destas informações uma prática frequente.
Alguns grupos visualizam o Balanço Social como um artifício de marketing.
E isso pode, de fato, ser usado plenamente com essa intenção. Não há proble-
ma se uma empresa divulgar sua harmônica relação com o meio ambiente e
sociedade, desde que as informações contempladas nas demonstrações sejam
verídicas. Um relatório socioambiental de boa qualidade deve ser preciso e re-
velar compromisso com a primazia da realidade, além de ser livremente dispo-
nibilizado a todos aqueles interessados nas informações prestadas.
As informações contempladas em um relatório socioambiental não podem
apenas se limitarem a pequenos tópicos pontuais sobre questões sociais e am-
bientais, como também precisam abordar de forma clara o retrato fiel da em-

capítulo 2 • 45
presa dentro de determinado período.
É recorrente empresas ocultarem possíveis falhas em seus relatórios.
Porém, a transparência é um importante diferencial para as corporações.
É comum que entidades ocultem falhas em seus relatórios, no entanto, é
de extrema importância a transparência por parte dessas entidades, pois
trata-se de uma relevante vantagem comparativa para as empresas. Nesse
sentido, a empresa deve se mostrar “aberta” para indicar suas próprias de-
ficiências e assumir a intenção de melhorar sua performance.
Conforme mencionado anteriormente, o Balanço Social foi desenhado pelo
Ibase, que é um instituto criado em 1981 pelo sociólogo Herbert de Souza, em
parceria com empresas públicas e provadas. Trata-se de uma entidade sem fins
lucrativos com a missão de aprofundar debates sociais com princípios de igual-
dade, ética, cidadania e solidariedade. Em definição pelo próprio Ibase:

Apostamos na construção de uma cultura democrática de direitos, no fortalecimento do


tecido associativo e no monitoramento e influência sobre políticas públicas. Nossa atua-
ção ultrapassa as fronteiras nacionais, tendo conexões com outros países, especialmente
na América Latina e África. <www.ibase.org.br. Acesso em: 25 ago. 2010>.

Abaixo, segue um modelo de publicação simplificado contemplando todas


as variáveis e critérios sugeridos pelo Ibase no Balanço Social:

1. BASE DE CÁLCULO
Receita Líquida

Resultado Operacional

Folha de Pagamento Bruta

2. INDICADORES SOCIAIS INTERNOS


Alimentação

Encargos

46 • capítulo 2
2. INDICADORES SOCIAIS INTERNOS
Previdência

Saúde

Segurança

Educação

Cultura

Capacitação

Creches

Partic. Lucros

Outros

3. INDICADORES SOCIAIS EXTERNOS


Educação

Cultura

Saúde e Saneamento

Esporte

Combate à Fome

Outros

Tributos

capítulo 2 • 47
4. INDICADORES AMBIENTAIS
Investimentos – Produção

Investimentos – Programas Externos

Metas de Consumo

5. INDICADORES DO CORPO FUNCIONAL


Nº Empregados

Nº Admissões

Empreg. Terceirizados

Estagiários

Empreg. Acima 45 Anos

Nº de Mulheres

% Mulheres em Chefia

Nº Negros

% Negros em Chefia

Deficientes

6. EXERCÍCO DA CIDADANIA EMPRESARIAL


Nº Reclamações Consumidores

% Reclamações Atendidas e Solucionadas

Valor Adicionado Total a Distribuir

48 • capítulo 2
6. EXERCÍCO DA CIDADANIA EMPRESARIAL
Dva

7. OUTRAS INFORMAÇÕES
Dados Cadastrais, Modelo, Filosofias, Entre Outros.

Tabela 1 – Modelo Balanço Social


Ibase (2010)

2.4  Ferramentas, certificados e outros agentes

Na seção anterior foi destacada a evolução da divulgação de informações socio-


ambientais ao longo dos anos e também a importância da existência de relató-
rios corporativos que contemplem o contexto da sustentabilidade.
Além de relatórios e instituições como agentes mantenedores da filosofia
sustentável, existem ferramentas de extrema importância para as corporações,
que além de assegurarem credibilidade às entidades, gera também relevantes
impactos na forma de organizar e gerir processos internos, implicando inclusi-
ve, maior qualidade dos produtos fabricados.

ISO 14001
A ISO (International Organization for Standardization) é uma organização in-
ternacional que gerencia e elabora normas de padronização de procedimentos
e processos em mais de 170 países. No Brasil, a associação que gerencia essas
padronizações é a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Especifi-
camente a ISO 14001 é uma norma de conhecimento mundial que direciona
padrões para estabelecimento de um Sistema de Gestão Ambiental. A finalida-
de dessa norma é fomentar harmonia entre a lucratividade de uma corporação
e minimização de impactos no meio ambiente.
A ISO 14001 contempla critérios de política em âmbito ambiental, planeja-
mento de operações e implementações, age na verificação das práticas e promo-
ve análise por parte da administração. Sinteticamente, são elencados aspectos do
negócio impactantes no meio ambiente que podem estar em desarmonia, inclu-

capítulo 2 • 49
sive, com a legislação. A aplicação da ISO promove otimização na gestão no inten-
to de se estabelecer um processo de melhoria contínua entre negócio e ambiente.
Em razão de impactos no meio ambiente estarem crescendo, assim como a
pressão para que os mesmos reduzidos, seja por parte de clientes/consumido-
res, governo, acionistas, empregados, comunidade local, a ISO vem de encon-
tro às necessidades das entidades em atenuar atritos gerados pelas suas opera-
ções com todos esses agentes.
Desde a primeira publicação da ISO 14001, mais de 14.000 empresas do
mundo todo optaram por se adequarem às especificações técnicas desta mirí-
ade de padrões. Além da ISO 14001, existem outras normas que visam cumpri-
mento de práticas ambientais, como:
•  ISO 14004 - Sistemas de Gestão Ambiental - Diretrizes, Princípios Gerais
e Técnicas de Apoio;
•  ISO 14010 - Diretrizes para Auditoria Ambiental - Princípios Gerais da
Auditoria Ambiental;
•  ISO 14011 - Diretrizes para Auditoria Ambiental - Procedimentos - Audi-
toria de Sistemas de Gestão Ambiental;
•  ISO 14012 - Diretrizes para Auditoria Ambiental - Critérios de Qualifica-
ção para Auditores Ambientais.

No Brasil, existem no mercado diversas empresas especializadas em consul-


torias que fornecem treinamentos e atuam na implantação de normas como a
ISO. Este mercado tem crescido consideravelmente em virtude do surgimento
de uma demanda de entidades dispostas a prestarem contas aos mais distintos
stakeholders.

ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial


Segundo a criadora do índice, a BVMF&Bovespa:

O ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial é um índice que mede o retorno total


de uma carteira teórica composta por ações de empresas com reconhecido compro-
metimento com a responsabilidade social e a sustentabilidade empresarial (no máximo
40). Tais ações são selecionadas entre as mais negociadas na BOVESPA em termos
de liquidez, e são ponderadas na carteira pelo valor de mercado das ações disponíveis
à negociação. <http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/ - Acesso em 25 ago. 2010>.

50 • capítulo 2
A criação do ISE, em 2005, visa incentivar e promover entidades que primam
pelas boas práticas de governança corporativa, gestão ambiental e social. Sua
criação foi realizada por iniciativa da Bolsa de Valores de São Paulo BOVESPA,
atualmente intitulada de BVM&F BOVESPA, fazendo desta criação uma ação pio-
neira na América Latina em mesclar aspectos de investimentos e sustentabilida-
de em uma carteira de ações.
A principal justificativa desse índice é uma relevante tendência mundial dos
investidores buscarem empresas responsáveis, rentáveis e sustentáveis, haja vis-
ta que essas características remetem à conotação de continuidade dos negócios.
O índice ISE foi desenvolvido em parceria das entidades Associação Bra-
sileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (ABRAPP),
Associação Nacional dos Bancos de Investimentos (ANBID), Associação
dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (API-
MEC), Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Internatio-
nal Finance Corporation (IFC) com a presidência da BVM&F BOVESPA.
A abordagem do ISE neste capítulo trata apenas com uma abordagem geral
sobre o assunto.

ICE – Índice de Carbono Eficiente


Índice Carbono Eficiente (ICO2) está sendo desenvolvido pela BM&FBOVESPA
e pelo BNDES, em uma iniciativa conjunta, visando mensurar o retorno de uma
carteira teórica constituída por papéis do IBrX-50 reponderados em função do
grau de eficiência da emissão de gases de efeito estufa (GEE) das empresas.
A Bolsa, o BNDES e investidores cada vez mais sensíveis a questões ambien-
tais acreditam que as empresas devam trabalhar no sentido de se preparar para
uma economia de “baixo carbono” e adotar práticas transparentes em relação
às suas emissões de GEE e políticas relacionadas às mudanças climáticas.

Índice Dow Jones Sustentability


O Dow Jones Sustainability World Index foi criado em 1999 pela Bolsa de Nova
York com a intenção de promover empresas capazes de gerar crescimento e ri-
queza gerenciando riscos associados a aspectos sociais, econômicos e ambien-
tais. Esse índice é composto por empresas conhecidas internacionalmente clas-
sificadas no ranking de sustentabilidade. No total, são mais de 300 empresas em
mais de 20 países pertencentes a diversos setores que compõem a carteira.

capítulo 2 • 51
O índice realiza uma avaliação e seleciona corporações de acordo com suas
perfomances, considerando não somente suas características financeiras como
também a gestão continuada de ações sustentáveis e sociais.
É considerado um índice de credibilidade em âmbito mundial, uma importan-
te referência para investidores selecionarem quais investimentos priorizar. Atual-
mente, perto de US$ 6 bilhões estão investidos em fundos que se baseiam exclusi-
vamente nas empresas pertencentes aos índices Dow Jones de Sustentabilidade.
São avaliados os desempenhos econômico, ambiental e social de mais
de 2.500 empresas em todo o globo, considerando feedbacks a um formulá-
rio com 109 questões e análises de notas públicas acerca das entidades nos
meios de comunicação. Também são avaliadas questões de sustentabilidade,
governança corporativa, além de tópicos mais específicos como alterações de
clima, contratos com fornecedores e administração de projetos sociais.
O gráfico a seguir demonstra o comportamento do índice nos últimos anos.

Dow Jones Industrial Average


Down 7 de Out, 2010
11.400
11.200
11.000
10.800
10.600
10.400
10.200
10.000
9.800
9.600
Nov de 09 Jan de 10 Mar de 10 Mai de 10 Jul de 10 Set de 10
15,0
Volume

Gráfico 1 – Comportamento Índice Dow Jones


Yahoo Finanças (2010).

Nota-se no gráfico acima alguns períodos de declínios do índice ao lon-


go de 2010 e, especificamente em setembro do mesmo ano, uma retomada
de crescimento.

52 • capítulo 2
As empresas brasileiras que compõem a carteira do índice são: Brades-
co, Cemig, Itaú Unibanco, Itaúsa, Petrobrás, Redecard e Fibria (resultado da
união da Aracruz Celulose com a Votorantim Celulose e Papel).
GRI – Global Reporting Iniciative
A Global Reporting Initiative (GRI) é uma organização não governamental
internacional, com sede em Amsterdã, na Holanda, que desenvolve e divulga
globalmente diretrizes para elaboração de relatório de sustentabilidade utili-
zadas por empresas do mundo inteiro. Sua primeira publicação foi em 2002. A
primeira versão preliminar da terceira geração do GRI foi publicada em março
de 2006 e publicada definitivamente em outubro do mesmo ano.
A GRI fornece um modelo de relatório de sustentabilidade amplamente acei-
to e conceitua as corporações sob os aspectos econômicos, ambientais e sociais.
Um relatório de sustentabilidade baseado nas Diretrizes da GRI divulga os re-
sultados obtidos dentro do período relatado, no contexto dos compromissos, da
estratégia e da forma de gestão da organização (GRI, 2006). Ainda, segundo a GRI:

A transparência em relação à sustentabilidade das atividades organizacionais é do interesse


de diferentes públicos da empresa, incluindo o mercado, trabalhadores, organizações não-
governamentais, investidores, contadores etc. Por esse motivo, a GRI conta com a colabo-
ração de uma vasta rede de especialistas de todos esses grupos de stakeholders, por meio
de consultas que visam ao consenso. Estas, ao lado da experiência prática, têm resultado
no aperfeiçoamento da Estrutura de Relatórios desde a fundação da GRI, em 1997. Essa
abordagem de aprendizagem multistakeholder conferiu à Estrutura de Relatórios da GRI a
ampla credibilidade de que desfruta entre os stakeholders”. (GRI, 2006, p. 3)

A estrutura do relatório desenhado pela GRI contempla informações quali-


tativas e quantitativas de caráter financeiro, social, econômico e ambiental. Por
contemplar detalhadamente as informações em seu relatório, o modelo GRI é
densamente utilizado no mundo todo.

capítulo 2 • 53
A ilustração a seguir exibe o formato parcial do relatório:

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Figura 5 – Formato Relatório GRI


GRI (2006)

Sob a ótima de uma visão geral, o modelo desenhado pela GRI dispõe de
um conteúdo em contexto com estratégia e análise do conteúdo do relatório,
compromissos, engajamentos, governança e forma de gestão. Essas informa-
ções iniciam o relatório fornecendo um panorama geral qualitativo do que será
apresentado. No decorrer do relatório são apresentadas informações de caráter
econômico, ambiental e social. A ilustração abaixo detalha como são organiza-
das as informações:

Contexto Resultado
• Estratégia e análise • Econômico
• Parâmetros para o • Ambiental
relatório • Práticas trabalhistas
• Governança, e trabalho decente
compromissos e • Direitos humanos
engajamento • Sociedade
Indicadores de

• Forma de gestão • Responsabilidade


desempenho

pelo produto
Forma de
gestão
Perfil

Resultado Resultado Resultado

Figura 6 – Formato GRI


GRI (2006)

54 • capítulo 2
Instituto Ethos
Denominado Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, o Ethos
é uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) sem fins lu-
crativos. Sua principal função é contribuir na gestão de negócios corporativos
de maneira ética, social e responsável.
Foi criado em 1998 por empreendedores de empresas privadas e é refe-
rência no desenvolvimento de ferramentas no auxílio de entidades das prá-
ticas de gestão sustentável.
O Instituto Ethos foi um dos agentes atuantes na criação do índice de sus-
tentabilidade empresarial (ISE), porém, em 2008 com a saída da Petrobrás do
índice e a polêmica sobre informações divulgadas, a partir daquele ano, o insti-
tuto Ethos foi afastado do conselho do ISE.
No Brasil, o instituto desfruta de densa credibilidade na discussão e assi-
milação do conceito de sustentabilidade, é um importante agente na execução
de palestras, seminários, treinamentos sobre o assunto, além de desenhar e di-
vulgar projetos sociais, promover campanhas e facilitar a atuação articulada de
empresas na esfera sustentável.

CONEXÃO
Saiba mais sobre o Instituto Ethos, bem como sua missão, visão e
valores no site www.ethos.org.br. No portal você obtém informa-
ções de como inscrever as empresas e fica por dentro das ações
promovidas pelo instituto sobre sustentabilidade e responsabilidade no Brasil.

ATIVIDADE
1.  O ISE foi criado para divulgação de práticas e retorno de empresas sustentáveis. No ma-
nual deste índice, é mencionado que existe uma tendência mundial pela procura dessas
empresas. Por quê?

2.  Comente a seguinte frase: o balanço social aborda com detalhes apenas uma parte da
dimensão social e deixa a desejar em relação à dimensão econômica e ecológica da sus-
tentabilidade empresarial.

capítulo 2 • 55
REFLEXÃO
Como vimos, o consumo na sociedade atual e seus desdobramentos têm gerado impactos
significativos. Por este viés, analisamos como o homem vem se comportando diante disso e
também como as entidades brasileiras e mundiais têm contribuído no sentido de minimizar
os seus efeitos, tanto na perspectiva social, como na ambiental.

LEITURA
ZACARIAS, Rachel. Sociedade de consumo ou ideologia do consumo: um embate. Jornal
Eletrônico Vianna Junior, Ano V, Edição I, mai. 2013. Disponível em:<http://www.viannajr.
edu.br/files/uploads/20130523_155838.pdf>. Acesso em: 09 maio 2014

OIKAWA, Mariana Mendes Cardoso. As relações de consumo, o conteúdo finalístico da ati-


vidade empresarial e um novo paradigma de evolução social. Disponível em:<http://www.
publicadireito.com.br/artigos/?cod=de03beffeed9da5f>. Acesso em: 15 maio 2014.

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1981.

BAUMAN, Z. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Tradução:


Carlos Alberto Medeiros. Rio de janeiro: Zahar, 2008

Global Reporting Initiative (GRI). Directrizes para a Elaboração de Relatórios de Sustentabilida-


de. Disponível em:<www.globalreporting.com>. Acesso em: 08 maio 2014.

IBASE – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – Portal. Disponível em:<http://


www.ibase.org.br>. Acesso em: 10 maio 2014.

56 • capítulo 2
INSTITUTO ETHOS – Portal. Disponível em:<http://www.ethos.org. br>. Acesso em: 10
maio 2014.

MARX, K. O capital: crítica da economia política, livro I, v. I (O processo de produção do capital).


Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1988.

PÁDUA, J. A.; LEROY, P.P. Produção, consumo e sustentabilidade: a dívida ecológica brasileira.
Projeto Brasil sustentável e democrático. 2.ed. Rio de Janeiro: Fase, 2003. ( Série Cadernos
de Debate, n.6)

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
Adiante, faremos uma análise da questão ambiental, tendo em vista o entrelaçamento entre o
econômico, o social e o meio ambiente, que, de forma resumida, resulta no conceito de desenvol-
vimento sustentável.

capítulo 2 • 57
3
Sustentabilidade e
gestão ambiental
3  Sustentabilidade e gestão ambiental
Neste capítulo, procuraremos observar como o desenvolvimento sustentável se
engendra a partir de uma abordagem econômica, ecológica e social, conside-
rando o histórico de poluição ambiental e seus impactos, bem como as atuais
diretrizes projetadas pelos organismos mundiais a fim de minimizar os seus
efeitos negativos.

OBJETIVOS
•  Entender o contexto do desenvolvimento sustentável a partir de uma perspectiva econô-
mica e social;
•  Conhecer as principais leis ambientais brasileiras;
•  Conhecer os processos de licenciamento ambiental, bem como os financiamentos e pro-
gramas brasileiros para empresas sustentáveis.

REFLEXÃO
Como já vimos, a sustentabilidade e os desafios inerentes à sua prática fazem parte da con-
juntura geopolítica em nossa contemporaneidade. Sendo assim, a sua relação direta com o
meio ambiente é um dos caminhos necessários para a sua eficiência. Diante dessas afir-
mações, você já ouviu falar nas leis ambientais que regulam o crescimento econômico na
atualidade? Já ouviu dizer que existem programas de incentivos para as empresas que atuam
numa perspectiva sus-tentável? Vamos aprofundar esses conhecimentos?

Introdução

A consciência em relação ao meio ambiente e às demandas sociais está cada


vez maior entre as comunidades e as organizações empresariais. Vamos refletir
a respeito das transformações econômicas que influenciam empresários e exe-
cutivos a adotarem a gestão ambiental e social.

60 • capítulo 3
3.1  A questão ambiental sob a ótica econômica: desenvolvimento
sustentável

Certamente, o desenvolvimento sustentável é um dos maiores ideais surgidos


no século passado, somente comparável à ideia de justiça social (VEIGA, 2005).
É um tema que se tornou alvo de discussões e é, ainda, bastante discutido e com
várias divergências e ambiguidades. Para alguns, parece ser um conceito utó-
pico. Já para outros, mostra-se uma questão difícil, porém possível de ser apli-
cada ao meio ambiente. Toda a humanidade e as gerações futuras, sem pôr em
risco a estabilidade dos ecossistemas, demonstram a necessidade de um novo
paradigma como alternativa ao modelo atual de desenvolvimento econômico,
o que chamamos de “desenvolvimento sustentável”.
Observe o mapa para perceber a quantidade de toneladas de gás carbônico
lançada no meio ambiente pelos países mais industrializados

Emissões de CO2
1850-2000

Toneladas
per capita
99,0
14,5
5,5
2,0
0,0

A necessidade de integrar os projetos econômicos ao desenvolvimento e ao


meio não é mais nova, o termo “sustentabilidade” foi usado pela primeira vez por
Carlowite, em 1713, em uma referência à exploração de florestas na Alemanha.
Porém, a sustentabilidade não é uma invenção da atividade florestal: ela signi-
fica uma atitude, um posicionamento em relação ao trato do ambiente em que
vivemos como um bem renovável. Portanto, assimilar a sustentabilidade como
expressão dominante significa envolver-se com as questões de meio ambiente e
de desenvolvimento social em sentido amplo.

capítulo 3 • 61
A qualidade do ambiente em que vivemos tem sido, nos dois últimos sécu-
los, um dos maiores desafios da humanidade. O mundo empresarial vem gra-
dativamente utilizando-se de modelos de gestão econômica criteriosos quanto
ao meio ambiente, assim como vem dispensando uma preocupação maior com
as comunidades envolvidas direta ou indiretamente com a empresa.
Um dos fatores que conduz esse comportamento empresarial está relacionado
à própria mudança de postura do consumidor. O novo contexto econômico tem
como característica consumidores exigentes e mais conscientes de seus direitos. A
educação ambiental e social promovida nos últimos anos por escolas, meios de co-
municação e campanhas sociais institucionais vem expandindo essa consciência
na maioria dos países do mundo. No Brasil, país de grande maioria católica, a pró-
pria Campanha da Fraternidade, organizada pela Igreja Católica, promove todos
os anos debates, divulgação de informações e conscientização relacionados a um
tema social de grande abrangência nacional. O objetivo é promover a reflexão em
busca de melhorias na qualidade de vida e na convivência coletiva.
Muito mais do que uma onda politicamente correta, estamos falando, nesta
unidade, que a questão ambiental e ecológica não pode ser entendida como
mero surto de preocupações passageiras. As transformações econômicas ocor-
ridas nos últimos tempos, advindas desde o período inicial da industrialização,
levaram ao aumento e à aceleração da produtividade em todo o mundo.
Numa pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Ibope há
o dado de que 68% dos consumidores brasileiros estariam dispostos a pagar
mais por um produto que não agredisse o meio ambiente.
Essa não é apenas uma tendência, mas um comportamento que vem sendo
assimilado pelo consumidor e pelas empresas.
Segundo Tachizawa (2009), os dados obtidos no dia a dia evidenciam que a
tendência de preservação ambiental e ecológica por parte das organizações deve
continuar de forma permanente e definitiva; os resultados econômicos passam a
depender cada vez mais de decisões empresariais que levem em conta que:
•  Não há conflito entre lucratividade e questão ambiental;
•  O movimento ambientalista cresce em escala mundial;
•  Clientes e comunidade em geral passam a valorizar cada vez mais o meio
ambiente;
•  A demanda e, portanto, o faturamento das empresas passam a sofrer
cada vez mais pressões e a depender diretamente do comportamento de
consumidores, que enfatizam suas preferenciais por produtos e organi-
zações ecologicamente corretos.

62 • capítulo 3
Percebemos nos argumentos de Tachizawa (2009) que o comportamento
ecologicamente correto torna-se, além de um benefício para o planeta, uma
vantagem competitiva para a empresa. É fato que a gestão ambiental e a res-
ponsabilidade social tornaram-se importantes instrumentos gerenciais e cada
vez mais as organizações empresariais estão investindo nessas vertentes.
Vejamos, na prática, alguns dados e exemplos descritos no livro Gestão am-
biental e responsabilidade social corporativa pelo autor citado anteriormente,
doutor em administração pela Fundação Getúlio Vargas, Takeshy Tachizawa:

Exemplo 1 – A 3M deixou de despejar 270 mil toneladas de poluentes na atmosfera


e 30 mil toneladas de efluentes nos rios desde que adotou a gestão ambiental. Além
disso, economizou mais de US$ 810 milhões combatendo a poluição nos 60 países
em que atua.

Exemplo 2 – A Scania Caminhões, realizou uma economia em torno de R$ 1 milhão


reduzindo 8,6% do seu consumo de energia, 13,4% de consumo de água, e 10% no
volume de resíduos produzidos em um ano. Todos esses benefícios são decorrentes da
adoção de um programa de gestão ambiental efetuado pela empresa.

Portanto, a história não retrocede, os avanços são evidentes e esse compor-


tamento das empresas não está vinculado apenas a questões legislativas, mas
a um retorno efetivo dessas empresas à percepção de que o consumidor pode
orientar os negócios empresariais na medida em que o prejuízo institucional
de uma organização mal vista é avassalador.

3.2  O conceito ecoeficiência

No mundo dos negócios existe um conceito utilizado pelas empresas para


refletirem, discutirem e promoverem a integração entre desempenho econô-
mico e ecológico: a Ecoeficiência. Para isso, as firmas ponderaram o impacto
negativo dos resíduos liberados durante o processamento de seus produtos
e serviços. A vantagem competitiva em relação aos resíduos denota obter ga-
nhos econômicos ao reduzir a poluição. Gerenciar os resíduos para aumentar a
ecoeficiência empresarial.

capítulo 3 • 63
Há no mercado duas formas complementares de aplicar o conceito de
ecoeficiência, uma encontra-se em Basf (2006) e a outra em Helminen (2000)
e Kadt (1997). Conforme Basf (2006) gerenciar a ecoeficiência consiste em
analisar o ciclo de vida de produtos e processos com o objetivo de avaliar
seus desempenhos econômicos e ambientais. Salim (2002) converge para o
conceito da Basf (2006) e pondera o impacto ambiental e os custos durante
o ciclo de vida de uma linha de produtos para medir a ecoeficiência do por-
tfólio de produtos da empresa BASF.
Conforme o referido autor, o cálculo do impacto ambiental envolve cinco
aspectos: consumo de matérias, consumo de energia, emissão de resíduos, po-
tencial de toxicidade dos resíduos e produtos e risco ecológico potencial. Os
custos compreendem, além dos gastos operacionais incorridos durante a con-
cepção, fabricação, distribuição, uso, aqueles incorridos no processo de des-
carte dos produtos.
Analisa-se o consumo de matérias-primas para verificar se são insumos re-
nováveis ou recicláveis. Em consumo de energia, é verificado se a matriz ener-
gética da empresa utiliza energia gerada a partir de fontes limpas e renováveis
ou provenientes de combustíveis fósseis. Na emissão de resíduos identificam-
se os gerados na atmosfera, os efluentes e os sólidos. Logo, analisa a toxicidade
desses resíduos e dos produtos e serviços ofertados pela empresa. Por último,
analisam-se os possíveis desastres ecológicos que podem vir a ocorrer e os pro-
cessos de segurança para evitá-los (SALING, 2002).
Percebe-se que a metodologia retro descrita analisa mais especificamente o
ciclo de vida de um produto ou de uma linha de produto. Outros autores, como
Helminen (2000) e Kadt (1997), medem a ecoeficiência do sistema empresa.
Avalia o impacto das operações dessa firma sobre ecossistemas durante o pro-
cessamento de seus produtos e serviços e não no decorrer de todo o ciclo de
vida de um produto ou linha de produto.
WBCSD (1996) e Burritt e Saka (2005) utilizam o conceito de ecoeficiência
de Helminen (2000) e Kadt (1997) e trabalham com a seguinte fórmula:

Valor Adicionado
Ecoeficiência =
Impacto Ambiental

Figura 7 - Fórmula da Ecoeficiência


Helminen (2000) e Burritt e Saka (2005) e o WBCSD (1996)

64 • capítulo 3
•  Valor Adicionado: montante das vendas realizadas durante o período,
deduzido do valor total relativo à aquisição dos recursos necessários
para a produção da receita, essencialmente, insumos, matéria-prima
e serviços de terceiros. Esse tipo de informação pode ser obtido na De-
monstração do Valor Adicionado, de caráter não obrigatório no Brasil e
que normalmente fica divulgado no Relatório Anual da companhia ou
como demonstração contábil complementar (essa informação pode ser
encontrada demonstração DVA ou no relatório Balanço Social);

•  Impacto Ambiental: expresso em valores físicos ou monetários. Físicos


quando relacionado com o consumo de recursos naturais, emissão de
resíduos etc. e monetários quando utilizado para estimar o valor do cus-
to de adequação legal e contratual (compliance), valor dos serviços de
ecossistemas contaminados, valor do custo para recuperar áreas poluí-
das etc. (a informação sobre o valor total investido no meio ambiente pode
ser encontrada no Balanço Social).

A informação sobre o valor do gasto para eliminar ou reduzir o impacto


pode ser encontrado no Balanço Social. Nesse documento, há investimentos
ambientais internos e externos. Como a ecoeficiência tem relação com o im-
pacto ambiental causado pelas próprias operações, podemos utilizar a linha
Investimentos Ambientais Internos para o valor do impacto ambiental que
consta na fórmula.
Porém, vale lembrar que o valor ali divulgado pode representar gastos em
atividades ambientais que atuam para eliminar ou reduzir o impacto das ope-
rações da empresa ou para outros fins. Por isso, o valor seria uma aproximação.
Para ser exato, temos que saber a função das atividades que geraram os investi-
mentos ambientais internos do Balanço Social.

ATENÇÃO
Já pensou se gastos com jardinagem forem divulgados como investimentos ambientais
internos?
Certamente, gastos com jardinagem não servem para reduzir o impacto negativo dos re-
síduos das próprias operações da empresa. A não ser que o jardim seja uma estação de
tratamento de efluente.

capítulo 3 • 65
A fórmula da ecoeficiência de Helminen (2000) e Burritt e Saka (2005) e o
WBCSD (1996) exposto na figura 7 pondera o valor adicionado e o impacto am-
biental causado para produzir a riqueza Valor Adicionado. Com base nisso,
Schaltegger, Burrit e Peterson (2003 apud Derwall at. al. 2005) explicam que a
ecoeficiência pode refletir o quanto de impacto ambiental foi necessário para
gerar o Valor Adicionado da DVA.
Nas duas metodologias pondera-se o impacto causado no meio ambien-
te pelas operações da empresa. Uma o analisa durante o ciclo de vida dos
produtos e a outra durante o processamento de serviços e produtos da em-
presa. Independente do método, o WBCSD (1996) recomenda ponderar a
ecoeficiência nos processos decisórios, internamente como parte do dia a
dia dos sistemas de gestão e, externamente, como algo a ser divulgado como
um dos elementos integradores da sustentabilidade.

ATENÇÃO
Empresas ecoeficientes são aquelas capazes de integrar desempenho econômico e ecoló-
gico. Intersecção das dimensões econômica e ecológica da Sustentabilidade Empresarial.

De acordo com Burritt e Saka (2005) a ecoeficiência é uma medida que for-
nece informações monetárias junto com informações não monetárias para ava-
liar o desempenho ecológico concomitantemente ao desempenho econômico.
A ecoeficiência tem relação com os resíduos empresariais, pois os mesmos são
os responsáveis pelo impacto negativo das operações das empresas sobre os
ecossistemas. Por isso, a seguir este trabalho discorre sobre alguns aspectos
econômicos e estratégicos em relação aos detritos emitidos pelas empresas du-
rante o processamento dos produtos e serviços.

CONEXÃO
Disclosure ambiental dos produtores de etanol com ações listadas na BM&FBOVESPA e NYSE,
de Cassio Vellani, publicado em 2009 na Revista Contabilidade, Gestão e Governança. Disponível
em: <https://cgg-amg.unb.br/index.php/contabil/article/view/60/62>

66 • capítulo 3
3.3  Histórico de poluição

O consumo da energia oriunda do vapor deu lugar para o carvão mineral, na


revolução indústria do séc. XVIII. Com isso, houve um aumento de liberação
de gás carbônico na atmosfera. Após o descobrimento do petróleo, mais gás
carbônico originado pela queima deste combustível e seus derivados, como por
exemplo, a gasolina.
Até hoje persiste o aquecimento climático, conforme demonstrado e discu-
tido na mídia, provocando alterações na temperatura média global do ar e oce-
ano, gerando derretimento das calotas polares e transformando a configuração
natural e climática do planeta.
Atualmente são lançados deliberadamente na atmosfera mais de 35,5 bi-
lhões de toneladas de gás carbônico por ano. Este gás é o principal causador
do aquecimento global. O gráfico a seguir exibe a evolução de liberação de gás
carbônico mundial ao longo da história:

35.000
Milhão de toneladas de CO2

30.000
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
0
18 0
18 7
18 4
18 1
18 8
18 5
18 2
19 9
19 6
19 3
19 0
19 7
19 4
19 1
19 8
19 5
19 2
19 9
19 6
19 3
19 0
20 7
04
5
5
6
7
7
8
9
9
0
1
2
2
3
4
4
5
6
6
7
8
9
9
18

Ano

Gráfico 2 – Modelo Questionário ISE


Mariand et al. (2007)

As estações climáticas do ano sofrem grandes modificações, os verões pas-


sam a ser mais intensos, os invernos mais secos e intensos, as enchentes pas-
sam a ser frequentes, bem como furacões e tempestades, derretimento de ca-
lotas e geleiras, elevação do nível do mar são algumas das consequências de
emissão de gás carbônico, além de outros gases de efeito estufa.

capítulo 3 • 67
Gases de efeito estufa (GEE) são gases que dificultam o escape luz solar (ra-
diação) para o espaço. Esse impedimento gera um acúmulo dos efeitos da luz
solar na superfície terrestre, o que, em consequência, resulta em um aqueci-
mento do planeta. Esse processo é chamado de efeito estufa e, sem ele, a tem-
peratura média da Terra seria potencialmente inferior, prejudicando a manu-
tenção da vida no planeta. O que ocorre é que a liberação em demasia desses
gases alteram o processo natural desse efeito estufa, gerando resultados dano-
sos ao planeta.
Os gases mais comuns que provocam o efeito estufa, além do gás carbônico
(CO2) são o gás metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O). Os CFC’s (Clorofluorcar-
bono) também detêm a capacidade de reter a radiação infravermelha emitida
pela Terra.
Ainda segundo IPCC, a principal causa do aumento de liberação dos GEEs
é a queima de combustíveis fósseis consumidos na geração de energia para a
produção de bens de consumo. Outras fontes de liberação de gases do efeito
estufa são: I) Insumos agrícolas, em virtude de alta concentração de nitrogênio;
II) Dejetos suínos, processo digestivo de ruminantes (ex:gado), plantações de
arroz (fonte de metano) - Produção de gases refrigerantes (HFCs).
A ilustração a seguir detalha o processo de efeito estufa:

Atmosfera

Calor

Terra

Figura 8 – Processo Efeito Estufa


IDEC (2008)

No intento de minimizar riscos e seus impactos, em decorrência da libe-

68 • capítulo 3
ração de gases de efeitos danosos na atmosfera, foram elaborados projetos de
redução de emissões de gases do efeito estufa.
Esses projetos podem contribuir com a geração de créditos de carbono e po-
dem ser utilizados por países desenvolvidos integrantes do Protocolo de Kyoto,
através de suas metas de redução de emissão de gases de efeito estufa.

3.4  Protocolo de Kyoto

O Protocolo de Kyoto gerou polêmica mundialmente em razão da adesão de alguns


países e críticas de céticos acerca das metas estabelecidas no acordo para redução
de emissão de gases de efeito estufa entre os países membros do protocolo.
Sinteticamente, o Protocolo de Kyoto tem o principal objetivo de reduzir o
aumento da temperatura do planeta, por meio da redução da emissão de gases
de efeito estufa, em especial o gás carbônico, que são gerados através da quei-
ma de combustíveis fósseis.
No instrumento elaborado pelo protocolo são estabelecidas metas específi-
cas de redução de emissão de gases potencialmente causadores de efeito estufa
(GEEs), em ao menos 5% em relação aos níveis emitidos pelos países na década
de 90. As metas são obrigatórias para os países industrializados e em desenvol-
vimento que fazem parte do acordo, no estágio entre 2008 a 2012 – conhecido
como Primeiro Período de Compromisso.
O protocolo de Kyoto foi discutido no Japão no ano de 1997 e ratificado em
março de 1999. Para que o protocolo pudesse entrar em vigor, seria necessária
a adesão de 55% dos países que, somados, produzissem 55% das emissões de
gases de efeito estufa. Em 2005, com a adesão da Rússia (em 2004), o protocolo
entrou em vigor.
Uma questão polêmica acerca do tema foi a postura dos Estados Unidos em
“ficar de fora” do protocolo, por decisão do presidente George W. Bush, alegando
que os compromissos de redução poderiam desacelerar a economia norte-ame-
ricana. Ademais, o país também questionava a veridicidade quanto à elevação da
temperatura da atmosfera em decorrência dos poluentes emitidos pelo homem.
A discussão mais importante acerca desse protocolo é a criação do termo
créditos de carbono, pois a partir do estabelecimento das metas, inicia-se a
comercialização (em termons monetários) do “direito de poluir”. Ainda nesse
capítulo será exposta uma entrevista com um importante estudioso do assunto
discutindo sobre a temática dos créditos.

capítulo 3 • 69
Os países que estão no auge de seu processo de industrialização, para que
não precisem cumprir imediatamente as metas estabelecidas no protocolo com-
prar créditos de países em desenvolvimento, membros do protocolo, que detém
iniciativas e projetos de redução de emissão de gases de efeito estufa. Portanto,
oficialmente, os mecanismos de flexibilização contemplados no protocolo são:
•  Comércio de Emissões, realizado entre os países membros, de forma que
um país que tenha reduzido suas emissões possa vender seus créditos
de redução (transformados em unidades de carbono equivalente) para
países que não atingiram suas metas.
•  Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL): elaboração de projetos
que visam redução de emissões de GEEs.

CONEXÃO
Para saber mais sobre o Protocolo de Kyoto, acesse o Portal do Ministério da
Ciência e Tecnologia e leia o documento oficial na íntegra:
<http://www.mct.gov.br>

3.5  O comércio de créditos de carbono

Mercado de Carbono trata-se de um sistema em uso para negociar unidades


de redução de emissões dos gases de efeito estufa. Em relação ao Protocolo de
Kyoto existem dois tipos de mercado: mercado de créditos oriundos de projetos
de minimização de emissões (Projetos de MDL – Mecanismos de Desenvolvi-
mento Limpo - e mercado de permissões).
No mercado considerado “mercado oficial”, ou seja, conforme com regras
estabelecidas pela ONU, efetivamente ainda não existe a formalização, está
em fase de regulamentação. Na Conferência Internacional das Partes (COP)
foi estabelecida a forma de registro de projetos. Apesar de o mercado “oficial”
da ONU ainda não estar em funcionamento, “mercados paralelos” já estão em
pleno funcionamento, em que importantes projetos privados são negociados
em bolsas de carbono localizadas principalmente nos EUA, não obstante, com
critérios e normas diferentes dos adotados pela ONU.
Um mercado de créditos de carbono também está em fase de tramitação Bra-
sil conforme noticiado pela mídia, mais especificamente pela BM&F/BVRJ, em ali-

70 • capítulo 3
nhamento com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
(MDIC), no intento de criar estímulo ao desenvolvimento de projetos de MDL e fo-
mentar negócios no mercado internacional de maneira organizada e transparente.
Inicialmente foi criado um Banco de Projetos de MDL, um sistema que re-
gistra projetos de redução de carbono, que já tenham sido avaliados por uma
Entidade Operacional Designada, ou que ainda estejam em fase de implemen-
tação. Os investidores são qualificados e cadastrados na Bolsa para que suas
intenções na aquisição de créditos sejam divulgadas.
As negociações são orientadas por normas de mercado, podendo ser efetua-
das em bolsas, através de intermediários ou diretamente entre as partes interes-
sadas. A convenção para a transação dos créditos por meio do CO2 equivalente.
Cada crédito de carbono equivale a uma tonelada de dióxido de carbono equiva-
lente. Essa medida internacional foi criada com o objetivo de medir o potencial
de aquecimento global (GWP – Global Warmig Potencial) de cada um dos seis
gases causadores do efeito estufa. Por exemplo, o metano possui um GWP de 23,
pois seu potencial causador do efeito estufa é 23 vezes mais poderoso que o CO2.
Na opinião de especialistas, o Brasil detém um relevante potencial, existin-
do uma grande expectativa nesse novo mercado.
O gráfico abaixo ilustra o panorama do mercado de carbono no Brasil:

Redução de HFCs,
PFCs e N2O
4,1% Eficiência
Substituição de energética
combustível 1,2%
2,9%

Redução de Energia
CH4 renovável
40,4% 51,4%

Gráfico 3 – Panorama Mercado de Carbono


UNEP (2010)

capítulo 3 • 71
3.6  Leis ambientais brasileiras

Lei dos Agrotóxicos – número 7.802 de 10/07/1989


A lei regulamenta desde a pesquisa e fabricação dos agrotóxicos até sua comer-
cialização, aplicação, controle, fiscalização e também o destino da embalagem.
Exigências impostas:
•  obrigatoriedade do receituário agronômico para venda de agrotóxicos ao
consumidor;
•  registro de produtos nos Ministérios da Agricultura e da Saúde;
•  registro no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Natu-
rais Renováveis – Ibama;
•  o descumprimento desta lei pode acarretar multas e reclusão.

Lei da Área de Proteção Ambiental – número 6.902 de 27/04/1981.


Esta Lei criou as “Estações Ecológicas”, áreas representativas de ecossistemas
brasileiros, sendo que 90% delas devem permanecer intocadas e 10% podem so-
frer alterações para fins científicos. Foram criadas também as “Áreas de Proteção
Ambiental” ou APAS, áreas que podem conter propriedades privadas e onde o
poder público limita as atividades econômicas para fins de proteção ambiental.

Lei das Atividades Nucleares – número 6.453 de 17/10/1977


Dispõe sobre a responsabilidade civil por danos nucleares e a responsabilidade
criminal por atos relacionados com as atividades nucleares. Determina que, se
houver um acidente nuclear, a instituição autorizada a operar a instalação tem a
responsabilidade civil pelo dano, independentemente da existência de culpa. Em
caso de acidente nuclear não relacionado a qualquer operador, os danos serão as-
sumidos pela União. Esta lei classifica como crime produzir, processar, fornecer,
usar, importar ou exportar material sem autorização legal, extrair e comercializar
ilegalmente minério nuclear, transmitir informações sigilosas neste setor ou dei-
xar de seguir normas de segurança relativas à instalação nuclear.

Lei de Crimes Ambientais – número 9.605 de 12/02/1998


Reordena a legislação ambiental brasileira no que se refere às infrações e pu-
nições. A pessoa jurídica, autora ou coautora da infração ambiental, pode ser
penalizada, chegando à liquidação da empresa, se ela tiver sido criada ou usada
para facilitar ou ocultar crime ambiental. A punição pode ser extinta caso se

72 • capítulo 3
comprove a recuperação do dano ambiental. As multas variam de R$ 50,00 a R$
50 milhões de reais. Para saber mais: <www.ibama.gov.br>.

Lei da Engenharia Genética – número 8.974 de 05/01/1995


Esta lei estabelece normas para aplicação da engenharia genética, desde o
cultivo, manipulação e transporte de organismos modificados (OGM), até sua
comercialização, consumo e liberação no meio ambiente. A autorização e fis-
calização do funcionamento das atividades na área e da entrada de qualquer
produto geneticamente modificado no país é de responsabilidade dos Ministé-
rios do Meio Ambiente, da Saúde e da Agricultura. Toda entidade que usar téc-
nicas de engenharia genética é obrigada a criar sua comissão interna de biosse-
gurança, que deverá, entre outros, informar trabalhadores e comunidade sobre
questões relacionadas à saúde e segurança nesta atividade.

Lei da Exploração Mineral – número 7.805 de 18/07/1989


Esta lei regulamenta as atividades garimpeiras. Para estas atividades é obriga-
tória a licença ambiental prévia, que deve ser concedida pelo órgão ambiental
competente. Os trabalhos de pesquisa ou lavra que causarem danos ao meio
ambiente são passíveis de suspensão, sendo o titular da autorização de explora-
ção dos minérios responsável pelos danos ambientais. A atividade garimpeira
executada sem permissão ou licenciamento é crime. Para saber mais: <www.
dnpm.gov.br>.

Lei da Fauna Silvestre – número 5.197 de 03/01/1967


A lei classifica como crime o uso, perseguição, apanha de animais silvestres,
caça profissional, comércio de espécies da fauna silvestre e produtos derivados
de sua caça, além de proibir a introdução de espécie exótica (importada) e a
caça amadorística sem autorização do Ibama. Criminaliza também a exporta-
ção de peles e couros de anfíbios e répteis em bruto. Para saber mais: <www.
ibama.gov.br>

Lei das Florestas – número 4.771 de 15/09/1965


Determina a proteção de florestas nativas e define como áreas de preservação
permanente (onde a conservação da vegetação é obrigatória) uma faixa de 30 a
500 metros nas margens dos rios, de lagos e de reservatórios, além de topos de
morro, encostas com declividade superior a 45 graus e locais acima de 1.800

capítulo 3 • 73
metros de altitude. Também exige que propriedades rurais da região Sudeste
do país preservem 20% da cobertura arbórea, devendo tal reserva ser averbada
em cartório de registro de imóveis.

Lei do Gerenciamento Costeiro – número 7.661 de 16/05/1988


Define as diretrizes para criar o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, ou
seja, define o que é zona costeira como espaço geográfico da interação do ar,
do mar e da terra, incluindo os recursos naturais e abrangendo uma faixa ma-
rítima e outra terrestre. Permite aos estados e municípios costeiros instituírem
seus próprios planos de gerenciamento costeiro, desde que prevaleçam as nor-
mas mais restritivas. Esse gerenciamento costeiro deve obedecer às normas do
Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

Lei da criação do IBAMA – número 7.735 de 22/02/1989


Criou o Ibama, incorporando a Secretaria Especial do Meio Ambiente e as agên-
cias federais na área de pesca, desenvolvimento florestal e borracha. Ao Ibama
compete executar a política nacional do meio ambiente, atuando para conser-
var, fiscalizar, controlar e fomentar o uso racional dos recursos naturais.

Lei do Parcelamento do Solo Urbano – número 6.766 de 19/12/1979


Estabelece as regras para loteamentos urbanos, proibidos em áreas de preser-
vação ecológica, naquelas onde a poluição representa perigo à saúde e em ter-
renos alagadiços.

Lei do Patrimônio Cultural – decreto-lei número 25 de 30/11/1937


Esta Lei organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional, in-
cluindo como patrimônio nacional os bens de valor etnográfico, arqueológico,
os monumentos naturais, além dos sítios e paisagens de valor notável pela na-
tureza ou a partir de uma intervenção humana. A partir do tombamento de um
destes bens, ficam proibidas sua demolição, destruição ou mutilação sem pré-
via autorização do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, SPHAN.

Lei da Política Agrícola – número 8.171 de 17/01/1991


Coloca a proteção do meio ambiente entre seus objetivos e como um de seus
instrumentos. Define que o poder público deve disciplinar e fiscalizar o uso
racional do solo, da água, da fauna e da flora; realizar zoneamentos agroecoló-

74 • capítulo 3
gicos para ordenar a ocupação de diversas atividades produtivas, desenvolver
programas de educação ambiental, fomentar a produção de mudas de espécies
nativas, entre outros.

Lei da Política Nacional do Meio Ambiente – número 6.938 de 17/01/1981


É a lei ambiental mais importante e define que o poluidor é obrigado a indeni-
zar danos ambientais que causar, independentemente da culpa. O Ministério
Público pode propor ações de responsabilidade civil por danos ao meio am-
biente, impondo ao poluidor a obrigação de recuperar e/ou indenizar prejuízos
causados. Esta lei criou a obrigatoriedade dos estudos e respectivos relatórios
de Impacto Ambiental (EIA-RIMA).

Lei de Recursos Hídricos – número 9.433 de 08/01/1997


Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de
Recursos Hídricos. Define a água como recurso natural limitado, dotado de va-
lor econômico, que pode ter usos múltiplos (consumo humano, produção de
energia, transporte, lançamento de esgotos). A lei prevê também a criação do
Sistema Nacional de Informação sobre Recursos Hídricos para a coleta, trata-
mento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos
e fatores intervenientes em sua gestão.

Lei do Zoneamento Industrial nas Áreas Críticas de Poluição – número 6.803 de


02/07/1980
Atribui aos estados e municípios o poder de estabelecer limites e padrões am-
bientais para a instalação e licenciamento das industrias, exigindo o Estudo de
Impacto Ambiental.

Disponível em:<http://planetaorganico.com.br/site/index.php/meio-ambiente-as-17-leis
-ambientais-do-brasil/>. Acesso em: 16 maio 2014.

capítulo 3 • 75
3.7  Processo de licenciamento ambiental: EIA, RIMA. Certificação e
normalização ambiental. ISO 14000

O domínio da tecnologia moderna em relação ao meio natural trouxe conse-


quências negativas para a qualidade da vida humana e do meio ambiente, é o
que nós podemos chamar de crise ambiental, caracterizada pelos problemas
socioambientais existentes no planeta terra.
A crise ambiental que vivemos oferece possibilidades de economia de recur-
sos, por meio da chamada ecoeficiência, e mesmo de lucros, nos locais em que,
anteriormente, as empresas só viam prejuízos, seja porque adequaram suas ativi-
dades à nova legislação ambiental, seja porque encontram no meio ambiente um
novo nicho ecológico (BERNA, 2005, p. 5-6).
A concentração de dióxido de carbono na atmosfera em nosso planeta subiu
2,28 partes por milhão no ano passado. Esse dado é oferecido pela Divisão de
Monitoramento Global da NOAA, a agência de oceanos e atmosfera dos Estados
Unidos. O dióxido de carbono é o principal gás responsável pelo aquecimento
global. Segundo os pesquisadores, a taxa atual é a mais alta dos últimos 650 mil
anos. E, provavelmente, a mais alta também dos últimos 20 milhões de anos.
Dentre os estudos ambientais, é muito importante conhecer o estudo de
Avaliação de Impacto Ambiental chamado de Estudo de Impacto Ambiental/
Relatório de Impacto ao Meio Ambiente, ou EIA/RIMA. São dois documentos
que avaliam os impactos ambientais decorrentes da instalação de um empre-
endimento e estabelecem programas para o monitoramento e o abrandamento
desses impactos.
O Estudo de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), na forma de um EIA/
RIMA é obrigatório para algumas atividades de alto potencial poluidor ou impac-
to ambiental. No âmbito do processo de licenciamento ambiental, temos órgãos
licenciadores competentes (estadual, municipal e o Ibama) e a legislação perti-
nente – Resolução CONAMA nº 001 de 1986.
O Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto sobre o Meio Ambien-
te estão vinculados um ao outro, mas diferença entre esses dois documentos é ape-
nas que o RIMA é de acesso público, e o EIA contém informações sigilosas a respei-
to da atividade. Dessa forma, o texto do RIMA é mais acessível ao meio jornalístico,
ao público, possui instruções por mapas, quadros, gráficos e diversas técnicas que
facilitam o entendimento das consequências ambientais do projeto.

76 • capítulo 3
É importante destacar que o EIA/RIMA é feito por uma equipe multidiscipli-
nar, pois considera o impacto da atividade sobre os diversos meios ambientais:
natureza, patrimônio cultural e histórico, o meio ambiente do trabalho e o an-
trópico (referente ao homem).
Veja no quadro o que diz a Resolução Conama nº 001 de 1986:

Artigo 6º – O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no mínimo, as seguintes ati-


vidades técnicas:
I – Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto, completa descrição e análise
dos recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de modo a caracterizar a
situação ambiental da área, antes da implantação do projeto, considerando:
a) o meio físico – O subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos minerais,
a topografia, os tipos e aptidões do solo, os corpos d’água, o regime hidrológico, as
correntes marinhas, as correntes atmosféricas;
b) o meio biológico e os ecossistemas naturais – A fauna e a flora, destacando as
espécies indicadoras da qualidade ambiental, de valor científico e econômico, raras e
ameaçadas de extinção e as áreas de preservação permanente;
c) o meio socioeconômico – O uso e a ocupação do solo, os usos da água e a socioe-
conomia, destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e culturais da
comunidade, as relações de dependência entre a sociedade local, os recursos ambien-
tais e a potencial utilização futura desses recursos.
II – Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através de iden-
tificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis impactos
relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos (benéficos e adversos),
diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e permanentes; seu
grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos
ônus e benefícios sociais.
III – Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os equipa-
mentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a eficiência de
cada uma delas.
IV – Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento (os impactos posi-
tivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem considerados.

capítulo 3 • 77
Existe, também, a certificação ISO 14000, que caracteriza os negócios da
empresa como comércio ecossensível. Isso significa adotar uma gestão ecoe-
ficiente, integrando fatores como tecnologia, recursos, processos, produtos,
pessoas e sistemas de gestão.
A ISO 14000 é o padrão internacional utilizado para auditoria ambiental. Esta
auditoria realiza uma análise crítica de forma documentada e aponta para a em-
presa a necessidade de alterações em sua política ou objetivos orientando para
um sistema de gestão ambiental comprometido com uma melhoria contínua.
Essa é uma especificação da ISO14000 para que o sistema de gestão ambiental
adotado pela empresa seja avaliado pela própria empresa periodicamente no
sentido de identificar problemas ou possíveis melhorias, visto que o ambiente
econômico também sofre influências circunstanciais. É preciso, portanto, rela-
cionar o plano de gestão ambiental com as realidades – tanto microambientais
quanto macroambientais.
A ISO 14000 é uma norma elaborada pela International Organization for
Standardization, com sede em Genebra, na Suíça, que reúne mais de 100 pa-
íses com a finalidade de criar normas internacionais. Cada país possui um ór-
gão responsável por elaborar suas normas. No Brasil, o órgão responsável é a
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Para a empresa receber um certificado ISO 14000, é preciso primeiramente
que ela possua o Sistema de Gerenciamento Ambiental (SGA). Por isso, na ver-
dade, o certificado não é pela ISO 14000, mas sim pela ISO 14001, pois é essa
norma que determina as especificações para se ter o certificado SGA.

3.8  Financiamentos e programas para empresas sustentáveis

Além de muitas empresas estarem realizando investimentos dos mais diversos


no sentido de se manter em direção ao desenvolvimento sustentável, na seção
anterior deste capítulo se pôde notar que muitas ideias podem trazer vantagens
às empresas. Essas vantagens vão desde o caráter competitivo até o econômico,
tendo em vista que o desenvolvimento de produtos e práticas sustentáveis pode
gerar economia de escala e ampliar lucros. Ademais, a visibilidade da empresa
pode ser afetada de forma benéfica.
É importante ressaltar que existem agentes, como instituições financeiras
e governo, com intenção em reforçar a relevância de uma empresa sustentá-
vel. Nesse sentido, existem diversas linhas de financiamento que visam bene-

78 • capítulo 3
ficiar empresas com práticas sustentáveis. Esses benefícios não existem ape-
nas por bom senso destes agentes, mas porque, inegavelmente, as ações de
empresas sustentáveis remetem a dois fatores: o afastamento do governo de
ações que, neste momento, passam a ser executadas por empresas cidadãs;
a propensão a continuidade dos negócios, minimizando o risco das institui-
ções para concessão dos créditos.
Convém frisar também a relevância da publicação dos Princípios do Equador
(Equator Principles) em 2002, quando o International Finance Corporation (IFC),
considerado pilar financeiro do Banco Mundial, promoveu encontro de altos exe-
cutivos mundiais objetivando a exigibilidade de critérios mínimos de sustentabili-
dade para a concessão de créditos (CIOFI, 2010).

Linha de Economia Verde


Criada a partir da Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC - Lei
13.798), a linha de crédito tem o objetivo de liberar recursos para pequenas e
médias empresas do Estado de São Paulo (com faturamento entre 240 mil a
100 milhões de reais) que possuem projetos relacionados com a redução das
emissões de gases de efeito estufa. A linha será administrada pela Agência de
Fomento Paulista, vinculada à Secretaria de Desenvolvimento, e vai operar com
taxa de juros de aproximadamente 6% ao ano. As corporações devem ter proje-
tos com foco em agroindústria, alteração de combustíveis, saneamento, trata-
mento de resíduos, desenvolvimento de energia renovável, eficiência energéti-
ca, transporte, processos industriais, recuperação florestal em áreas urbanas e
rurais e manejo de resíduos.
Os projetos serão financiados integralmente e as operações vencem no pra-
zo de 5 anos, podendo ainda ter um ano de carência.
Uma das razões para a criação dessa linha de financiamento é estimular que
as empresas paulistas se adaptem à Política Estadual de Mudanças Climáticas,
do Governo do Estado de São Paulo, que entrou em vigor em junho de 2010. A
Lei reza medidas como a redução de 20% das emissões dos gases do efeito estu-
fa no estado até 2020, a partir das emissões registradas em 2005.

Programa BNDES Empresas Sustentáveis na Amazônia


O BNDES cria um fundo com foco em investimentos que geram retorno finan-
ceiro e impactos socioambientais positivos. Nesse sentido, além de contribuir

capítulo 3 • 79
com estruturação de projetos na temática de sustentabilidade, o Banco promo-
ve continuidade ao processo de desenvolvimento do mercado de capitais. A do-
tação orçamentária do programa é de R$ 80 milhões, com participação do BN-
DES será limitada a até 80% das quotas de emissão do fundo de investimento.

Linha de Crédito ao Setor Hoteleiro


O Ministério do Turismo (MTur) juntamente com Banco Nacional de Desen-
volvimento Econômico e Social (BNDES) anunciaram, em fevereiro de 2010,
uma linha de crédito de R$ 1 bilhão para reforma, ampliação e construção de
novos hotéis. Ao oferecer condições mais favoráveis aos projetos que agre-
guem conceitos de sustentabilidade ambiental, a intenção é promover o com-
prometimento ambiental do setor hoteleiro.

Produsa - BNDES
BNDES lança Programa de Estímulo à Produção Agropecuária Sustentável
– Produsa, que trata-se de uma linha de crédito que incorporou o antigo Pro-
grama de Integração Lavoura-Pecuária – Prolapec e os itens do Programa de
Modernização da Agricultura e Conservação de Recursos de Recursos Naturais
– Moderagro relacionados à correção e conservação de solos, recuperação de
pastagens, sistematização de várzeas e ações de adequação e preservação am-
biental. O principal objetivo desse programa é promover o conceito de agrone-
gócio responsável e sustentável, incorporando características de eficiência, de
boas práticas de produção, responsabilidade social e de preservação ambiental.

Linha Ecoeficiência
A Caixa Econômica Federal lançou em 2010 um produto específico para ecoeficiên-
cia empresarial associado à linha de crédito de Bens de Consumo Duráveis (BCD–
PJ). A linha, é com exclusividade para equipamentos que melhoram a eficiência
energética, concede até 100% de financiamento, com juros máximos de 1,92% a.m
+ TR. Os prazos de pagamento são de 2 a 54 meses, com 6 meses de carência.

Santander – Créditos de Carbono


O banco Santander lançou uma linha de financiamento com aporte de 50
milhões de euros para créditos de carbono, vinculada ao financiamento de
projetos que visem a obtenção créditos de carbono. A linha já está disponível

80 • capítulo 3
e será utilizada na compra, pelo banco, de créditos de carbono gerados por
empresas no Brasil, no Chile e no México. O objetivo do banco é acumular
créditos em volume suficiente para que sejam revendidos a companhias da
Europa, especialmente do setor de geração de energia.

Índice Nasdaq
O grupo NASDAQ OMX registrou o lançamento de uma nova coletânea de índi-
ces com o intento de agilizar o monitoramento da economia sustentável. Com
destino aos investidores intencionados a montar carteiras compostas somen-
te por empresas que apoiem o desenvolvimento sustentável, o primeiro índi-
ce a ser lançado é o “NASDAQ OMX Green Economy Index”, que contempla
companhias de vários setores da cadeia produtiva. Outros três índices, foca-
dos em segmentos e regiões específicos, serão anunciados futuramente. Com
sua composição de mais de 350 títulos de 460 empresas, o “NASDAQ OMX
Green Economy índex” permite o monitoramento da performance de ações
dos seguintes setores: materiais avançados, biocombustíveis, eficiência ener-
gética, finanças, arquitetura verde, vida saudável, recursos naturais, combate
à poluição, reciclagem, geração de energia renovável, transportes e água.

capítulo 3 • 81
Artigo
Banco só Libera Crédito para Empresa Sustentável
Químico, biólogo, engenheiro ambiental e geólogo. Pode parecer estranho, mas estes
profissionais trabalham em um banco, justamente na área de análise de crédito para
empresas que precisam de linhas acima de R$ 1 milhão. No Santander, seis funcio-
nários investigam as relações de 3.000 clientes com a sociedade e o meio ambiente,
sendo 200 deles na região.
Metade do tempo desses profissionais é gasto com estudo de projetos dos setores de
agricultura, frigorífico, madeireira, energia e infraestrutura. “Questões como trabalho es-
cravo, problemas com licenças ambientais das obras e emprego de mão de obra infantil
se detectadas pela equipe não têm o crédito concedido”, afirma o superintendente de
riscos ambientais do banco, Christopher Wells.

Tendência
As instituições consideram que conceder empréstimos às companhias que causam da-
nos ao meio ambiente pode trazer grande prejuízo. Os clientes estão sujeitos a multas
previstas na legislação, entre outras consequências, interferindo no lucro do negócio.
O superintendente do Santander avalia que o setor financeiro mundial está avançado
nestas questões, mas ainda pode melhorar.

Trecho de reportagem publicado no jornal


Diário do Grande ABC em 11/09/2010.

3.9  Uma discussão sobre a veracidade de questões ambientais

Ao longo dos últimos anos, os veículos de comunicação bombardearam a so-


ciedade, de maneira geral, sobre a relevância da discussão acerca das emissões
de gases de efeito estufa e os efeitos danosos ambientais que o crescimento da
industrialização provoca.
Em verdade, diversas campanhas endereçadas às indústrias, que desde início
do assunto são criticadas por sua postura poluidora - apesar dos benefícios econô-
micos gerados pelas suas atividades – detém o papel de fomentar o desenvolvimen-

82 • capítulo 3
to de uma nova geração produtos e serviços que, em paralelo, são fiscalizadas pelos
governos, consumidores e outros stakeholders.
Desde a primeira discussão sobre o aquecimento global e os impactos ao
mundo, cientistas inflam as camadas sociais e governamentais de informa-
ções surpreendentes e apelos profundos quanto à necessidade de se reduzir
as emissões e, consequentemente, reduzir a aceleração de um processo de
desenvolvimento econômico industrial.
No período mais importante de discussões sobre o Protocolo de Kyoto, pa-
íses como Austrália e Estados Unidos decidiram se abster das negociações e
permanecer com suas políticas individuais de redução. Houve contestação por
parte de alguns países quanto à real necessidade de se reduzir emissões, pois
certamente as perdas industriais geradas pelas reduções deveriam ser, a priori,
inferiores aos benefícios que seriam concedidos a um mundo mais sustentável.
Em reportagens recentes publicadas em importantes veículos de comu-
nicação, como jornais, revistas e programas televisivos, sobrevém informa-
ções anunciando que, possivelmente, a explicação para o aquecimento global
pouco se relaciona com a postura do homem e surgem ciências esquerdas
anunciando que os esforços mobilizados para o caminho sustentável são, em
verdade, uma farsa.
Esta subseção do capítulo não tem o ímpeto de opinar, tampouco alterar
ou minimizar os conceitos no âmbito de sustentabilidade discutidos na dis-
ciplina. Não obstante, é de extrema importância didática que sejam expostos
conceitos que abranjam todos os aspectos, no sentido de fomentar o desen-
volvimento de um senso crítico.

ATENÇÃO
Ressalvas a seguir apresentadas no documentário produzido por Martin Durkin (polêmico
cineasta britânico), com o título de The Great Global Warming Swindle, em português, A
Grande Farsa do Aquecimento Global.
O documentário conta com opinião de especialistas, cientistas, economistas, políticos, escri-
tores e outros céticos do consenso científico sobre o aquecimento global.

capítulo 3 • 83
O Aquecimento Global
Em documentário produzido pela Channel 4, intitulado de “The Great Global
Warming Swindle”, ao ar em março de 2007, são apresentados argumentos de
alguns cientistas que desmentem a ideia de que prevalece sobre o dióxido de
carbono emanado pelas atividades do homem ser a causa do aumento da tem-
peratura global.
Existe um consenso acerca do clima da terra estar sendo alterado. Sabe-se,
também, que houve um aquecimento recente. Entretanto, o que é mundial-
mente divulgado é que o aquecimento é gerado pelo homem, enquanto outros
cientistas afirmam que o ser humano não se relaciona com ele.
O documentário afirma que o aumento da quantidade de gás carbônico
na atmosfera não se relaciona com as alterações climáticas. Ademais, a visão
simplificada de reduzir as emissões de carbono pode gerar consequências no
crescimento e desenvolvimento do terceiro mundo, ampliando a pobreza e do-
enças endêmicas.
Outras pesquisas apontadas no documentário indicam que o efeito da ra-
diação cósmica e a atividade solar podem justificar as oscilações nas tempera-
turas globais com maior clareza que a teoria do gás carbônico.
O aumento da temperatura global pode ter explicações alternativas, como
as realizadas no Centro Dinamarquês do Espaço. Geralmente, quando são ve-
rificados aumentos na atividade solar, a formação de nuvens na terra decresce
significativamente e provaca o acréscimo da temperatura.
Apesar de documentário apresentar depoimentos de uma relevante relação
de especialistas, a maioria dos cientistas defende que os argumentos estão in-
completos e obsoletos e que são contestáveis.
A história da Terra em 4,5 bilhões de anos contempla uma longa série de
mudanças climáticas. Esse fato é plenamente aceito, tanto por aqueles que
acreditam que o aquecimento global é um processo natural, quanto por aque-
les que acreditam que é causado pela interferência do homem.
Considerando um período relativamente recente, no século XVII, o rio Tâ-
misa se congelava tão solidamente que várias atividades podiam normalmente
ser realizadas no gelo; um período medieval até mais quente do que o atual; e o
ensolarado período conhecido como Máximo do Holoceno, o mais quente nos
últimos 10.000 anos.
Os que defendem que o aquecimento global é um processo natural expli-

84 • capítulo 3
cam que nos últimos 10 mil anos, os períodos mais quentes aconteceram bem
antes dos seres humanos começarem a produzir quantidades significativas de
dióxido de carbono.
Uma análise mais detalhada nas atuais alterações climáticas mostra que as
temperaturas aumentaram antes de 1940, porém caíram subitamente duran-
te o crescimento econômico do pós-guerra, quando as emissões do dióxido de
carbono aumentaram potencialmente.
Os modelos clássicos sugerem que concentrações crescentes de gases de
efeito estufa proporcionam as elevações das temperaturas. Se o aquecimento
da “estufa” estiver, de fato, ocorrendo, então os cientistas predizem que a tro-
posfera (parcela da atmosfera da terra que fica de 10 a 15 quilômetros acima as
superfície) deve se aquecer mais rapidamente do que a superfície do planeta,
não obstante os dados coletados pelos satélites e pelos balões meteorológicos
não dão suporte a esse modelo.
Uma outra questão importante a ser discutida é fato de o gás carbônico
estar sendo produzido em quantidades infinitamente superiores às emissões
industriais, como nos casos naturais: emissões vulcânicas, emissões causadas
por animais, bactérias, pela deterioração da matéria orgânica, etc.
Alguns cientistas argumentam a radiação que emanada pelo do sol varia e
que o planeta Terra parece corresponder, aquecendo-se e resfriando-se.
O processo que alguns cientistas defendem é que, enquanto o planeta se
movimenta no espaço, nossa atmosfera é bombardeada constantemente por
raios cósmicos, sempre presentes. A água que então se evapora dos oceanos
forma nuvens na atmosfera, que por sua vez, encobrem a superfície da terra
da radiação do sol e têm um efeito de resfriamento. Quando a atividade solar é
elevada, há um aumento do vento solar e este tem o efeito de reduzir a quanti-
dade de radiação cósmica que atinge a terra. Quanto menos radiação cósmica
alcança a terra, poucas nuvens são formadas e o efeito da radiação do sol que
incide diretamente sobre a superfície é o aquecimento do planeta.

capítulo 3 • 85
ATIVIDADE
1.  Tendo em vista a afirmação a seguir e o conteúdo apresentado neste capítulo, escreva
um parágrafo de 2 a 3 linhas colocando o seu ponto de vista a este respeito: “O desen-
volvimento sustentável é um dos maiores ideais surgidos no século passado, somente
comparável à ideia de justiça social (VEIGA, 2005). É um tema que se tornou alvo de
discussões e é, ainda, bastante discutido e com várias divergências e ambiguidades.

REFLEXÃO
O assunto sustentabilidade é relativamente novo, principalmente em países em desenvolvi-
mento, como no caso do Brasil. Apesar de ser ressonante o discurso de transparência com
stakelholders e harmonia com o ambiente e sociedade, o fato é que nem todos estão prepa-
rados para dar sustentação às orientações que são vislumbradas nesta temática.
Em meio a esse cenário, permeia ainda um forte ceticismo por parte de gestores e admi-
nistradores mais conservadores. Passar a seguir os desígnios de uma corrente verde, com
novos padrões de produtos e processos é uma decisão de extrema importância para ser
tomada pela cúpula de uma entidade. De repente as pessoas, a sociedade e os clientes pas-
sam a cobrar de forma mais rigorosa questões pontuais que vão desde o cultivo da matéria
prima até o destino do produto já consumido. Uma “onda” verde de filosofias passa a ser
adaptada dentro das salas de reuniões.
Nesse ínterim, entre tantos rumores, surgem mitos oriundos da relutância protecionista de
muitos empresários. Muitas interrogações retóricas são lançadas como a análise de custos e
benefícios de ações sustentáveis.
Realmente, o que as empresas precisam analisar é que a sustentabilidade tem o poder de, se
manipulada com eficiência, fazer com que sejam obtidos ganhos importantes. Em verdade, a
sustentabilidade nasceu para atuar a favor dos negócios e não o contrário. Por meio de uma
filosofia sustentável é possível também melhorar a imagem de uma corporação.
Ao analisar atentamente empresas de softwares, por exemplo, identificam-se gastos milioná-
rios que vão desde matéria prima de fornecedores até materiais de escritório. Com o poder
de compra de uma corporação desse porte, existe uma relevante oportunidade de influenciar
a cadeia de fornecimento, reduzindo o impacto do meio ambiente.
Muitas empresas mundialmente conhecidas passaram a desenvolver novos produtos e oti-
mizar procedimentos e processos não somente para anunciar sua benevolência na causa
socioambiental, mas porque por meio dessas ações foi possível atingir mais lucro e visibilida-

86 • capítulo 3
de. A Verizon, empresa de tecnologias, por exemplo, focou operações sustentáveis atingindo
uma receita de 27 milhões de dólares através da classificação e revenda de resíduos, além
de economizar com o transporte para remoção.
Um dos equívocos cometidos pela avaliação deste assunto é associar sustentabilidade com
aumento de equipe. Em verdade, ocorre o contrário, pois a maioria das corporações a equipe
de sustentabilidade não requer muitos funcionários. O objetivo dessas equipes é atuar em
diversas funções na corporação no sentido de se desenvolver novas formulações de padrões,
coordenação de atividades.
Em suma, o que se pode absorver dessa nova discussão acerca da sustentabilidade, é que
muitas estratégias podem ser desenhadas, como no caso de diversas empresas menciona-
das neste capítulo.
Existe ainda uma expressão chamada greenwashing, que amedronta as companhias mais
puritanas. Trata-se de um “branqueamento ecológico” que muitas entidades são acusadas
de promover, por meio de divulgações e práticas sustentáveis que não existem. Porém, se
existe mesmo a intenção em somar (tanto ao mundo como aos bolsos dos acionistas), qual
é o problema em arregaçar as mangas?
Por meio de muitas experiências ao longo do trabalho sustentável, tanto grandes empresas
como pequenas podem fazer a diferença.

LEITURA
BARBOSA, Luciano Chagas. Políticas Públicas de Educação Ambiental numa Sociedade de
Risco: tendências e desafios no Brasil. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/
publicacao11.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2014

TAVOLARO, Sérgio B. F. Resenha: A questão ambiental: sustentabilidade e políticas públicas no


Brasil de Leila da Costa Ferreira. In: Ambiente & Sociedade, n. 5, 1999, pp. 217-222, Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade. Disponível em:<http://www.
redalyc.org/pdf/317/31713413017.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2014

capítulo 3 • 87
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DIAS, Reinaldo. Gestão Ambiental. São Paulo, Editora Atlas. 2a. edição, 2011.

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Meio ambiente: as 17 leis ambientais brasileiras. Dispo-
nível em:<http://planetaorganico.com.br/site/index.php/meio-ambiente-as-17-leis-ambien-
tais-do-brasil/>. Acesso em: 16 maio 2014.

PORTILHO, Fatima. Sustentabilidade Ambiental, consumo e cidadania. São Paulo: Cortez, 2005.

TACHIAZAWA, Takeshy. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa. São Paulo.


Ed. Atlas 2009.

VEIGA, José. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Gara-
mont, 2005.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No capítulo adiante, você conhecerá a definição do conceito de responsabilidade social e como
este conceito passou a ser importante e conhecido no mundo todo.

88 • capítulo 3
4
Sustentabilidade:
a responsabilidade
social como um
possível caminho
4  Sustentabilidade: a responsabilidade social
como um possível caminho

Quando falamos em sustentabilidade e a sua concretude, a responsabilidade so-


cial aparece como uma solução bastante viável e necessária para que isso aconte-
ça. Vamos aprofundar este conhecimento.

OBJETIVOS
•  Entender como a responsabilidade social é um dos preceitos fundamentais para a susten-
tabilidade.

REFLEXÃO
Você já aprendeu nesta disciplina os conceitos de responsabilidade social e de sustentabilida-
de. Vamos ver agora como eles se relacionam?

Introdução

O objetivo deste capítulo é ampliar a discussão acerca das práticas de sustenta-


bilidade empresarial e informar uma coletânea de ações de caráter mercadoló-
gico e financeiro que repercutem no Brasil e no mundo.
Ao longo da disciplina discutem-se o histórico e a evolução da poluição, as des-
vantagens – principalmente de caráter ambiental – que o mundo sofre com danos
oriundos da poluição e, mais ainda, discutem-se as formas como esses impactos
interferem na sociedade. É inegável que a discussão sobre a temática da sustenta-
bilidade tem se tornado ressoante ao longo dos últimos anos, ademais, pode-se no-
tar que existe maior pressão de diversos agentes sobre as empresas, de modo geral.
Empresários e gestores dos mais diversos segmentos ainda estão digerindo a possi-
bilidade de dialogar com seus stakeholders sobre a abertura das portas corporativas
para a corrente sustentável. Não obstante, é mister frisar que as corporações não
devem (nem podem) lançar mão de sua principal razão de existir, que é a busca pelo
lucro e pela continuidade.

90 • capítulo 4
Assim sendo, o que se prima nessa importante discussão é a ampliação da con-
figuração deste lucro, é a busca pelo lucro sustentável, pelo consumo dos recursos
sem comprometer o ambiente.

4.1  Definição e disseminação do conceito no mundo e no Brasil

Você já deve ter realizado alguma boa ação ou gestos de caridade em toda a sua
vida. Já deve ter praticado filantropia, ajudado alguém necessitado de recursos
financeiros ou até mesmo recursos para a própria sobrevivência. Já deve ter atua-
do como voluntário em algum projeto social ou ambiental. É comum, portanto,
que a maioria das pessoas confunda o termo responsabilidade social e ambiental
com boas ações como as descritas acima. Na verdade, esse é um engano comum.
Primeiramente, é preciso compreender que o termo responsabilidade social
vinculou-se gradativamente ao mundo corporativo e, atualmente, traduz-se em
uma forma ética de conduzir os negócios. Seja a responsabilidade social voltada
a projetos ambientais, educacionais ou de outra natureza, o fato é que o conceito
de responsabilidade social é abrangente, justamente pela diversidade de com-
portamentos e ações que uma organização pode assumir, esses voltados a asse-
gurar o bem-estar dos indivíduos ou dos grupos sociais relacionados direta ou
indiretamente com suas atividades.
As denominações dadas às intervenções sociais empresariais são muitas: res-
ponsabilidade social, cidadania empresarial, filantropia empresarial e assim por
diante. Assumir a denominação responsabilidade social empresarial é adotar um
rigor não necessariamente conceitual, mas ético, na medida em que a palavra res-
ponsabilidade pressupõe critério e acompanhamento rigoroso dessas ações so-
ciais. Em definição dada pelo dicionário Aurélio, responsabilidade é: situação de
um agente consciente com relação aos atos que ele pratica voluntariamente. Por
definição do Instituto Ethos de responsabilidade social, o conceito é definido:

CONCEITO
Responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e
transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabele-
cimento de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade,
preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade
e promovendo a redução das desigualdades sociais. (Disponível em: <http://www.ethos.org.br>).

capítulo 4 • 91
O despertar da responsabilidade social das empresas não apresenta um
histórico cronologicamente definido justamente por fazer parte de uma evolu-
ção da postura das organizações em face da questão social, provocada por uma
série de acontecimentos sociopolíticos determinantes e também pela própria
trajetória histórica do capitalismo mundial.

Na busca da garantia de espaço no mercado globalizado, na potencialização do seu


desenvolvimento, as empresas inteligentes, incansáveis na redefinição de seus valores
como forma de adequá-los às necessidades mercadológicas vigentes, desenvolvem um
novo comportamento voltado para o seu estabelecimento no mundo competitivo: res-
ponsabilidade social de empresas (RSE), esta é a nova forma de “como fazer” adotada
pelas empresas modernas. (PESSOA, 2005).

É possível dizer que evolução do conceito de RSE foi marcante a partir da


década de 1970, sendo o desemprego um dos pontos mais corrosivos para a
política dos países industrializados e de desastrosas consequências sociais.
Historicamente, a Grande Depressão econômica e os efeitos do pós-guerra
foram fatos marcantes para o capitalismo, capazes de demonstrar as fragilida-
des do sistema e de gerar um dos maiores impactos sentidos pelos próprios
“donos do capital” como afirma o historiador Eric Hobsbawn:

Curiosamente o senso de catástrofe e desorientação causado pela Grande Depressão


foi talvez maior entre os homens de negócios, economistas e políticos do que entre as
massas. (HOBSBAWN,1995 p. 98).

O cenário internacional e, inclusive, o brasileiro, até o final da década de


1960 e início dos anos de 1970, demonstravam que ainda não havia condições
de consumo no mercado interno que acompanhassem o nível de produção al-
cançado. Os percentuais de lucro caíram, dentre outros motivos, pelo aumento
nos custos da força de trabalho; o modelo fordista/taylorista começava a esgo-
tar-se por não conseguir interromper a retração de consumo que se intensifica-
va permanentemente.
Todas essas transformações foram analisadas por estudiosos de diversas
nações que anunciavam o início da sociedade pós-industrial ou pós-capitalista,

92 • capítulo 4
a civilização pós-moderna e o sistema neocapitalista, assim como a preconiza-
ção do fim da história pelo avanço do livre mercado, vinculando tais predições
ao êxito relativo do neoliberalismo e às surpresas convulsivas do mundo pós-
Guerra Fria, como afirma Srour (1998).
Diante de tantas transformações no mundo, Srour (1998) realiza uma
análise iluminadora sobre os paradigmas do mundo pós-moderno, es-
clarecendo que as preconizações da literatura econômica e adminis-
trativa exaltam os conhecimentos técnicos e científicos como fontes de
valor agregado e relacionam a globalização econômica à supremacia de-
finitiva do mercado, descartando qualquer planejamento econômico.
Há uma plêiade de autores que visualizam no liberalismo econômico a supe-
ração de todas as formas concorrentes de exercer o poder predizendo, desta
forma, a reinvenção do Estado e entendendo a qualidade total e a gestão parti-
cipativa como pontos de inflexão nas arquiteturas organizacionais. Portanto,
mais do que um turbilhão de constatações, Srour chama a atenção para esta
avalanche de transformações que são muito menos enfrentadas pelas forças
administrativas e econômicas do que pelas forças sociais que recebem essa va-
riedade de processos de maneira impactante.
Por meio de profundos questionamentos com propósito social, Srour (1998)
indaga: quais os fios que costuram tantas descontinuidades? Haverá algum es-
paço para os atuais modos de pensar e de fazer, de gerir e de se associar?
Em suas palavras:

Ora, o que confere sentido à chamada crise da sociedade industrial? Seria o domínio do
setor terciário que delineia uma nova sociedade de serviços? Ou ainda: o caráter volátil
do capital especulativo, à procura de lucros fáceis em qualquer quadrante do planeta,
dada a instantaneidade das comunicações globais? A conversão da produção padro-
nizada, destinada a mercados de massa, em produção flexível, voltada para mercados
segmentados? O vertiginoso declínio do operariado na população economicamente
ativa, a exemplo do campesinato em vias de extinção? A generalizada perda da impor-
tância relativa da força de trabalho física para a força de trabalho mental? A absorção
generalizada das mulheres no mercado de trabalho? A passagem da remuneração da
mão de obra calculada em horas despendidas para a remuneração variável vinculada
aos resultados obtidos? A redução dos postos de trabalho em função da informatiza-
ção, da automoção e da robotização dos processos produtivos?

capítulo 4 • 93
A globalização do fornecimento de insumos e de componentes, compondo produtos
mundiais e transcendendo fronteiras? As tendências à ”precarização” do trabalho – ex-
plosão do mercado informal, emprego em tempo parcial, trabalho temporário, trabalho
autônomo complementar ou eventual – levando à dissociação entre crescimento e em-
prego? (SROUR, 1998, p.16-17).

A partir do século XX, diversos fatores de ordem política, econômica e social


levaram ao reconhecimento e à legitimação de algumas necessidades e deman-
das sociais decorrentes de diversas mudanças ocorridas no mundo do traba-
lho, como, por exemplo, a revolução tecnológica, informacional e produtiva.
O próprio desenvolvimento da organização dos trabalhadores nas primeiras
décadas do século XX contribuiu para reavaliar a perspectiva de atuação do empre-
sariado frente às questões sociais. A pressão da classe trabalhadora, concretizada
em inúmeras greves e aliada a fatores de ordem econômica e política, levou diver-
sos capitalistas a atuar no sentido de modelar o sistema formal de proteção social.
Essas mudanças provocaram alterações no modelo do desenvolvimento econô-
mico, ocasionando altos índices de desemprego. Exatamente por tantas transfor-
mações ocorridas no século XX, a década de 90 foi preconizada com ações organiza-
das e estrategicamente voltadas para o tema responsabilidade social empresarial.
Por serem importantes agentes de promoção do desenvolvimento econô-
mico e do avanço tecnológico, a qualidade de vida da humanidade passou a
depender cada vez mais de ações cooperativas de empresas que foram incorpo-
rando, de maneira progressiva, o conceito de responsabilidade social empresa-
rial, tornando-o um comportamento muitas vezes formalizado em projetos de
atuação na sociedade civil.
A ética e a cidadania passaram a permear, com maior frequência, discussões
sobre o que é ser politicamente correto no mundo empresarial. Nessa pauta de dis-
cussão, as relações do homem com o meio ambiente e suas responsabilidades com
o futuro da humanidade face as desigualdades sociais ganharam força.
Foi também na década de 1990 que as empresas no Brasil aumentaram os
investimentos em projetos sociais, em práticas ambientais sustentáveis e pas-
saram a defender padrões mais éticos de relação com seus públicos de interes-
se (fornecedores, funcionários, clientes, governo e acionistas). Sob o rótulo de
“responsabilidade social”, foi incluído um conjunto de normas e práticas que
se tornou condição para garantir lucratividade e sustentabilidade aos negócios.

94 • capítulo 4
Uma das hipóteses é de que tais mudanças não decorrem apenas de condi-
cionamentos infligidos pelo consumidor ou pelo mercado, mas da interpreta-
ção que os gestores fazem do cenário e do que entendem ser a melhor conduta
para a empresa.
O perfil dos gestores e os fatores estruturais que facilitaram a difusão das
normas de responsabilidade social no ambiente corporativo são indícios de
que as normas presentes no ambiente institucional penetram nas empresas e
influem na sua estrutura organizacional e na maneira como se relacionam com
seus públicos de interesse.
Muitas vezes, tem-se a ideia de que para fazer e gerir um projeto social basta
fazer o bem e ter boa vontade. O que se busca, atualmente, é o equilíbrio do pro-
cesso entre fazer o bem e fazer bem feito através de transparência nas decisões
e nas negociações, além de maior profissionalismo, consolidando os projetos
sociais como uma ação realmente eficiente.
É possível detectar, no âmbito empresarial, que falar em responsabilidade
social, para muitas empresas, representa agir de forma estratégica por meio de
metas que são traçadas para atender às necessidades sociais de forma que o lu-
cro da empresa seja garantido, assim como a satisfação do cliente e o bem-estar
social. Portanto, nesse discurso, também é possível dizer que há envolvimento
e comprometimento sustentável.
A noção de responsabilidade social atrelada ao mundo empresarial como
forma de gestão pode ser considerada recente, visto que o que havia antes dessa
incorporação do conceito ao mundo dos negócios era a prática da filantropia,
que se diferencia em vários aspectos das práticas de responsabilidade social
empresarial (RSE).
As ações de filantropia, motivadas por razões humanitárias, são isoladas e
reativas, enquanto o conceito de responsabilidade social possui uma amplitude
muito maior, por fazer parte do próprio planejamento estratégico da empresa,
sendo, portanto, instrumento de gestão. A filantropia, no entanto, configura-se
como doação, não estabelecendo vínculos efetivos da empresa com a comunida-
de e, dessa forma, a empresa não é responsável por nenhum processo contínuo
capaz de tornar a ação social uma ação permanente, contínua, que se configure
de maneira autossustentável.
A relação estabelecida entre um projeto e os cidadãos usuários não pode ser
vista de forma assistencialista. Em um projeto social também se faz necessário,
como em qualquer outro projeto, a potencialização de talentos e o desenvolvi-

capítulo 4 • 95
mento da autonomia de seus atores. As empresas, atualmente, são consideradas
grandes polos de interação social, tanto com os fornecedores como com a comu-
nidade e seus próprios funcionários. Exatamente por isso, o processo de elabo-
ração de projetos sociais, bem como os investimentos sociais de origem privada
destinados a esses projetos, deve ser encarado com muita lógica, desmistifican-
do a ideia de que esse campo de atuação requer apenas ações voluntariosas.
As primeiras manifestações sobre o tema responsabilidade social descri-
tas estão em um manifesto subscrito por 120 industriais ingleses no início do
século XX. Tal documento definia que a responsabilidade dos que dirigem a
indústria é manter um equilíbrio justo entre os vários interesses dos públicos,
dos consumidores, dos funcionários, dos acionistas.
Outro momento histórico importante para a disseminação do conceito de
responsabilidade social empresarial foi a década de 1960. Os movimentos jo-
vens e estudantis dessa época questionavam com veemência o capitalismo ex-
cludente. Nesse período, o tema se manifestou na pauta de grandes empresas
de diversos países da Europa e dos Estados Unidos.
Outro fato que intensificou a reflexão sobre o papel das empresas na socie-
dade foi o período de Guerra Fria. Nesse momento, as preocupações estavam
voltadas ao futuro do sistema econômico no Ocidente. Os altos deficits públi-
cos, a revolução informacional, a transformação produtiva, o desemprego e as
desigualdades sociais vinham demonstrando que o cenário mundial requeria
novas posturas tanto do setor público quanto do privado. Não é possível, por-
tanto, demarcar um único fato para estabelecer a responsabilidade social em-
presarial como comportamento assimilado nas corporações, mas a bibliografia
sobre o tema aponta o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimen-
to Sustentável, no ano de 1998, na Holanda (Instituto Ethos, 2005), como um
marco para a formalização do conceito de responsabilidade social. Esse evento
apresentou o conceito de responsabilidade social como sendo um dos pilares
para o desenvolvimento sustentável e contou com a presença de sessenta repre-
sentantes de diversos países. Em debate realizado, foi discutida a atuação das
empresas no âmbito social.
O Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável abriu es-
paço para o questionamento da relação entre empresa e cidadão. Gradativamente,
as empresas incorporam práticas e dinâmicas voltadas aos anseios da comunidade
na qual estão inseridas, assumindo, dessa forma, o atributo da responsabilidade
social como mais um requisito indispensável para as organizações empresariais.

96 • capítulo 4
A divulgação do balanço social também foi uma prática originada das de-
mandas éticas envoltas na discussão sobre a responsabilidade social empre-
sarial desenvolvida mundo afora. A transparência como valor agregado às mu-
danças do mundo globalizado passou a exigir das empresas a publicação dos
relatórios anuais de desempenho das atividades sociais e ambientais desen-
volvidas, além dos impactos de suas atividades e das medidas tomadas para
prevenção ou compensação de acidentes. Essa diferenciação inicia-se com a
própria noção de que essas ações de RSE devem envolver atitudes planejadas
que vislumbrem resultados, visto que o melhor desempenho nos negócios está
além da relação com a lucratividade.
Essa nova postura das empresas está longe de substituir o papel do Estado
e sua responsabilidade com o progresso social de uma nação, mas é fato que, a
partir dos anos 1990, as empresas, inclusive no Brasil, aumentaram os investi-
mentos em projetos sociais, passando a defender padrões mais éticos na relação
com seus públicos de interesse (fornecedores, funcionários, clientes, governo e
acionistas) e práticas ambientais sustentáveis.
Para os brasileiros, essa questão ganhou evidência maior após o período de
redemocratização e abertura econômica do país na década de 1990, como afir-
ma Alessio (2008, p. 100).

[...] a responsabilidade social das empresas, cuja projeção nos EUA e na Europa acon-
teceu em meados da década de 1960, passou a ser pauta na agenda dos empresá-
rios brasileiros, com mais visibilidade, na década de 1990, incentivada pelo período de
redemocratização e abertura econômica do País, pelos direitos conquistados com a
Constituição Federal de 1988, pela aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescen-
te (ECA) e do Código de Proteção e Defesa do Consumidor em 1990, pela aprovação
da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) em 1992, que contribuíram para uma
maior conscientização e organização da sociedade civil sobre seus direitos, também
favorecendo a fundação de ONGs e o fortalecimento do terceiro setor.

No Brasil, a ação das empresas no âmbito não lucrativo de função social tor-
nou-se significativa entre as décadas de 1980 e 1990. Foram detectadas, a partir
das duas últimas décadas do século XX, ações mais organizadas sistematica-
mente e estrategicamente voltadas para o tema responsabilidade social empre-
sarial. É possível dizer, portanto, que esse período marca a inserção do tema

capítulo 4 • 97
responsabilidade social empresarial (RSE) na agenda de interesses da popula-
ção brasileira. Por outro lado, o caminho não está totalmente consolidado para
que as empresas se beneficiem imediatamente da divulgação de suas ações de
responsabilidade social. Ainda é necessário enfrentar a desconfiança do con-
sumidor em relação à atuação empresarial nesse âmbito. Esse é o principal de-
safio para as empresas que incorporam os princípios da RSE em suas práticas.
Dimensionar as ações de responsabilidade social no Brasil torna-se tarefa
difícil levando-se em consideração o fato de que essas ações se iniciaram in-
formalmente na sociedade por meio de entidades eclesiásticas e empresariais.
Historicamente atrelado à prática da filantropia, o movimento de responsa-
bilidade social no país traz consigo, desde o período colonial, a presença das
igrejas cristãs atuando direta ou indiretamente, prestando assistência à comu-
nidade.
No ano de 1980, professores do departamento de administração da Facul-
dade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São
Paulo (FEA/USP) se uniram para criar uma instituição conveniada à escola – a
Fundação Instituto de Administração (FIA). Dessa fundação, surgiu o Centro de
Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (CEATS).
O CEATS é considerado no Brasil um espaço pioneiro na geração e dissemi-
nação de conhecimento sobre a gestão das organizações da sociedade civil e a
responsabilidade social empresarial. Professores, pesquisadores e estudantes
interessados em compreender e estimular o desenvolvimento social sustentá-
vel no Brasil – viabilizado pelas empresas, pela sociedade civil organizada e em
alianças estratégicas reunindo empresas, terceiro setor e Estado – desenvolvem
pesquisas e análises acerca do empreendedorismo social, da responsabilidade
socioambiental, da avaliação de programas e projetos sociais e das formas de
atuação e parcerias. Além disso, o CEATS publica suas conclusões no Brasil e
no exterior, e também promove cursos e ações de aplicação experimental na
comunidade. (Disponível em: <http://www.ceats.org.br>)
Outro fato que abriu caminho para as práticas de responsabilidade social
no Brasil foi a criação do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
(Ibase). Criado em 1981, surgiu como proposta de democratização da informa-
ção sobre as realidades econômicas, políticas e sociais no Brasil. Instituição de
caráter suprapartidário e suprarreligioso, o Ibase divulga ser sua missão o apro-
fundamento da democracia, seguindo os princípios de igualdade, liberdade, par-
ticipação cidadã, diversidade e solidariedade. Contribuindo para a construção de

98 • capítulo 4
uma cultura democrática de direitos, no fortalecimento do tecido associativo, no
monitoramento e na influência sobre políticas públicas, o Ibase foi fundado pelo
sociólogo Herbert de Souza.
Conhecido como Betinho, Herbert de Souza lançou em 1993 a Campanha de
ação da cidadania contra a miséria e pela vida, popularmente conhecida como
“Campanha do Betinho”, essa foi uma grande mobilização da sociedade brasilei-
ra e das empresas em busca de soluções para as questões da fome e miséria. Para
esse fim, o sociólogo falava em co-responsabilização da sociedade na luta pelas
questões sociais do país.
Em 1990, ano de promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil
pela Lei n° 8.069, foi fundada a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinque-
dos (Abrinq). Pautada no Estatuto da Criança e do Adolescente na Convenção Inter-
nacional dos Direitos da Criança (ONU, 1989) e na Constituição Federal Brasileira
(1988), adota como missão promover a defesa dos direitos e o exercício da cidada-
nia de crianças e adolescentes por meio de ações que garantam esses direitos. (Dis-
ponível em: <http://www.fundabrinq.org.br>)
A criação, em 1992, do Prêmio ECO-Empresa e Comunidade da Câmera
Americana de Comércio de São Paulo destaca o prêmio como um marco para o
reconhecimento dos esforços realizados por empresas que desenvolvem proje-
tos sociais em busca da promoção da cidadania. O Prêmio ECO-Empresa, des-
de sua criação, já segmentava as ações realizadas por meio de projetos sociais
em cinco categorias: cultura, educação, participação comunitária, educação
ambiental e saúde.
Em termos legais, uma ação estimuladora para que as empresas realizas-
sem responsabilidade social no Brasil foi a autorização do Governo Federal
às empresas tributadas em regime de lucro real de deduzir até 2% do lucro
operacional bruto em doações, desde que destinadas a entidades sem fins lu-
crativos, pela Lei das OCIPS n° 91/35. (GIFE, 2002 apud Alessio 2008, p.112).
A criação e a atuação do Grupo de Instituições, Fundações e Empresas (GIFE),
como grupo de trabalho instituidor do embasamento do conceito de “cidadania
empresarial” iniciado em 1995 no Brasil, é ponto altamente relevante para con-
solidação das práticas de responsabilidade social no país. Organizado em torno
da Câmara de Comércio Brasil – EUA em São Paulo (Amcham), o GIFE destaca
o termo terceiro setor, com enfoque especial para as organizações sociais de ori-
gem empresarial. O mesmo grupo que originou o GIFE deu um passo adiante
criando, em 1998, do Instituto Ethos de empresas e responsabilidade social. Sua

capítulo 4 • 99
criação, deu ao movimento de responsabilidade social empresarial um perfil se-
melhante ao já existente no exterior, baseado na ética, na cidadania, na trans-
parência e na qualidade das relações da empresa. Para cumprir sua missão, o
instituto desenvolve uma série de atividades que vão desde a disseminação de
informações sobre responsabilidade social empresarial, conferências, debates e
encontros nacionais e internacionais, orientação através de consultoria, elabora-
ção de manuais para o auxílio das empresas no processo de gestão que incorpore
o conceito de responsabilidade social, elaboração de ferramentas de gestão que
orientem as práticas socialmente responsáveis, até a área de comunicação, arti-
culação e mobilização para facilitar a participação da ação articulada de empre-
sas, organizações não governamentais e poder público na promoção de iniciati-
vas que promovam o bem-estar social.
Embora o engajamento de empresas em ações sociais já venha ocorrendo no
Brasil há muito tempo, vem crescendo, nos últimos anos, a preocupação com um
envolvimento mais sistemático da iniciativa privada com o tema da responsabilida-
de social. Esse fenômeno reflete uma percepção, cada vez mais generalizada na so-
ciedade, de que a solução dos problemas sociais é uma responsabilidade de todos,
e não apenas do Estado; de que é imperativo garantir a todos o acesso a alimenta-
ção, moradia, educação, saúde, emprego, meio ambiente saudável e a outros bens
sociais fundamentais; de que não é mais possível conviver com a exclusão de uma
larga parcela da população desses bens sociais, como até agora ocorre no Brasil.

4.2  Global Compact

O mundo não é estático, e nossa era revela uma velocidade nos processos de
mudança organizacional com efeitos poderosos sobre pessoas e sobre a socie-
dade de forma geral. Se compararmos o cenário vivido no mundo há cinquenta
anos, verificaremos uma enorme alteração de condições ambientais e impor-
tantes mudanças no desempenho organizacional.
Se antes verificávamos estabilidade, definição, certeza, abundância, pouca
sofisticação tecnológica e baixos níveis de consciência social, hoje passamos
por períodos de turbulência, ambiguidade, incertezas, escassez, sofisticação
tecnológica e melhoria significativa dos níveis de consciência social devido aos
próprios impactos da globalização.
Segundo o engenheiro e professor universitário Eugênio Maria Gomes (2005),
o foco das organizações, em relação à comunidade, até pouco tempo atrás estava

100 • capítulo 4
direcionado apenas para o mercado, analisando exclusivamente os desejos e a
capacidade de compra. Na atualidade, essa análise também se volta para os as-
pectos sociais, avaliando aquilo que a comunidade necessita além dos produtos
ou serviços que a instituição oferece.
Pode-se concluir, então, que há uma mudança significativa na relação das
organizações empresariais com a sociedade. Nas ações de responsabilidade
social, uma das exigências básicas é a condução dessas ações de forma ética,
por meio de práticas que demonstrem que a cultura organizacional da empresa
está focada nos princípios de solidariedade e compromisso social.
Sintonizado com todas essas transformações, em 31 de janeiro de 1999 o
secretário-geral das Nações Unidas, Kofi A. Annan, desafiou os líderes empre-
sariais mundiais a “apoiar e adotar” o Global Compact.
O Global Compact, traduzido para a língua portuguesa como Pacto Global,
foi um pacto proposto pela Organização das Nações Unidas com diretrizes vol-
tadas para a promoção do desenvolvimento sustentável e da cidadania, medi-
das a serem adotadas pelos líderes empresariais de maneira voluntária.
O Pacto Global visa a mobilizar a comunidade empresarial internacional
para a promoção de valores fundamentais nas áreas de direitos humanos, tra-
balho e meio ambiente, como afirma Ponchirolli (2007 p. 89).
Não é possível caracterizar o Pacto Global como um código de conduta legal-
mente obrigatório, instrumento regulatório ou fórum de verificação e policia-
mento de políticas ou práticas gerenciais. Na verdade, esse pacto é uma iniciativa
voluntária no sentido de que visa a conscientizar e estimular o crescimento sus-
tentável e de cidadania por lideranças corporativas que se mostrem comprometi-
das e inovadoras. A força desse pacto está justamente na força institucional e no
apelo da sua própria instituição propositora, a Organização das Nações Unidas.
O pacto, além de dar complementaridade às práticas de responsabilidade
social empresarial, é visto como um compromisso mundial e suas diretrizes
estão embasados na ISO 26000.
ISO 26000 será a norma internacional de responsabilidade social e está
prevista para ser concluída em 2010. O grupo de trabalho de responsabilida-
de social da ISO (ISO/TMB WG) – responsável pela elaboração da ISO 26000 – é
liderado em conjunto pelo Instituto Sueco de Normalização (SIS – Swedish
Standards Institute) e pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Assim, em decisão histórica, o Brasil, juntamente com a Suécia, passou a pre-
sidir de maneira compartilhada o grupo de trabalho que está construindo a
norma internacional de responsabilidade social.

capítulo 4 • 101
(Disponível em: < http://www.inmetro.gov.br>).

Para o Pacto Global foram escolhidas quatro áreas de atuação que possuem for-
te apelo mundial e potencial para mudanças efetivas e positivas, sendo elas: direi-
tos humanos, trabalho, meio ambiente e combate à corrupção. A partir das quatro
áreas, surgiram dez princípios fundamentais que orientam o pacto. (Ver figura 1.)

WWW.ENDESABRASIL.COM.BR

Figura 9: princípios do Pacto Global

Uma empresa que queira aderir ao Pacto Global deverá preencher uma carta
modelo, que serve como termo de adesão, além de fazer um cadastramento or-
ganizacional. A partir desse cadastramento no site <http://www.unglobalcom-

102 • capítulo 4
pact.org>, a empresa deverá informar aos acionistas, funcionários e consumi-
dores sobre sua adesão ao pacto. Dessa forma, ela deverá declarar os princípios
na missão da empresa e em diversos de seus documentos oficiais. O compro-
misso deverá se tornar público. Para isso, será necessário emitir comunicado à
imprensa e, a partir dessas ações, assumir os dez princípios nos programas de
desenvolvimento corporativo da empresa.

4.3  A responsabilidade social das empresas e o relacionamento


com stakeholders

O perfil dos gestores e os fatores estruturais que facilitaram a difusão das nor-
mas de responsabilidade social no ambiente corporativo são indícios de que
essas normas presentes no ambiente institucional penetram nas empresas e
influem na sua estrutura organizacional e na maneira como se relacionam com
seus públicos de interesse.
Analisar esse comportamento empresarial se faz altamente relevante e ne-
cessário na atualidade porque as forças globais de mudança demonstram uma
alteração significativa no processo de gestão das organizações empresariais,
apontando um salto qualitativo na inter-relação entre instituições e comunida-
des, revelando que uma precisa da outra para ambas prosperarem.
Se o foco das organizações em relação à comunidade até a pouco tempo
atrás estava apenas direcionado para o mercado, sendo somente uma forma
de analisar seus desejos e a capacidade de consumo, agora ele também se vol-
ta para os aspectos sociais, avaliando aquilo de que a sociedade necessita.
Há ações nomeadas de responsabilidade social empresarial que em muitos
casos se restringem apenas ao marketing social da empresa. A crítica é necessária
e relevante para esses casos, por demonstrar que a qualidade desses projetos é de
extrema importância e porque essas empresas, ao adotarem projetos de caráter
social, estão buscando associar a sua imagem a um comportamento ético e so-
cialmente responsável. Dessa forma, essas empresas buscam adquirir o respeito
das pessoas e das comunidades que são atingidas por suas atividades, sendo as-
sim reconhecidas pelo engajamento de seus colaboradores e atingindo a prefe-
rência dos consumidores.
Atualmente, empresários e empresas divulgam nos meios de comunicação
a participação em projetos sociais ou o apoio a eles por meio de doações. Só

capítulo 4 • 103
que a gestão de responsabilidade social abrange muito mais do que simples
doações financeiras ou materiais.
Há definições que englobam a relação ética e socialmente responsável da em-
presa em todas as suas ações, em todas as suas políticas e práticas.

A noção de responsabilidade social empresarial decorre da compreensão de que a


ação das empresas deve, necessariamente, buscar trazer benefícios para a sociedade,
propiciar a realização profissional dos empregados, promover benefícios para os par-
ceiros e para o meio ambiente e trazer retorno para os investidores. A adoção de uma
postura clara e transparente no que diz respeito aos objetivos e compromissos éticos da
empresa fortalece a legitimidade social de suas atividades, refletindo-se positivamente
no conjunto de suas relações. (ETHOS, 2007).

Um projeto de ação socialmente responsável precisa ser bem elaborado


para atender aos stakeholders, ou seja, todas as partes envolvidas com a entida-
de: proprietários, sócios ou acionistas, diretores funcionários, prestadores de
serviço, fornecedores, clientes, governo, meio ambiente e comunidade. A em-
presa deve desenvolver a capacidade de ouvir os diferentes interesses das par-
tes envolvidas para incorporá-los ao planejamento de suas atividades, promo-
vendo, assim, a melhoria da qualidade de vida da comunidade como um todo.
A relação atual entre empresa e cidadão leva a empresa a incorporar práti-
cas e dinâmicas que atendam aos anseios da sociedade na qual está inserida.
Esse atributo da accountability, traduzido usualmente como “responsabilidade
social”, torna-se um requisito indispensável para obtenção de bons níveis de
efetividade por parte da organização.
Cada vez mais, com o mercado competitivo, as empresas devem estar aten-
tas ao público que gera e sofre impacto nos negócios. No âmbito empresarial,
quando se fala em responsabilidade social, a empresa age de forma estratégica
através de metas que são traçadas para atender às necessidades sociais de for-
ma que o lucro da empresa seja garantido, assim como a satisfação do cliente
e o bem-estar social. Portanto, é possível dizer que há envolvimento e compro-
metimento sustentável.
Empresas que demonstram sintonia com as atuais mudanças organizacio-
nais realizam ações de responsabilidade social empresarial (RSE) para atender
aos seus stakeholders, sejam eles seus proprietários, sócios ou acionistas, direto-

104 • capítulo 4
res funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, clientes, governo, meio
ambiente e comunidade. Essas empresas devem desenvolver a capacidade de
ouvir os diferentes interesses das partes envolvidas para incorporá-los no plane-
jamento de suas atividades, promovendo, assim, a melhoria da qualidade de vida
da comunidade como um todo.
Há ainda um diferencial nessas ações. Em sociedades altamente amadureci-
das quanto a RSE, esse conceito é assimilado não apenas como gestão estratégica
de algumas empresas, mas como um comportamento econômico adquirido, ou
seja, como postura empresarial de quem atua na esfera coletiva e social exigindo,
antes de qualquer resultado, um compromisso efetivo com essas ações. Essas são
empresas que assumem uma administração de dimensão ética e política, tendo
clareza de que o desenvolvimento social é responsabilidade e compromisso de
um Estado democrático e de uma sociedade civil organizada.
A relação estabelecida entre um projeto e os cidadãos usuários não pode ser
vista de forma assistencialista. Em um projeto social também se faz necessário,
como em qualquer outro projeto, a potencialização de talentos e o desenvolvi-
mento da autonomia de seus atores.
As empresas, atualmente, são consideradas grandes polos de interação social,
tanto com os fornecedores como também com a comunidade e seus próprios fun-
cionários. Exatamente por isso, o processo de elaboração de projetos sociais bem
como os investimentos sociais de origem privada destinados a esses projetos, deve
ser encarado com muita lógica, desmistificando a ideia de que esse campo de atu-
ação requer apenas ações voluntariosas.
Atualmente, empresários e empresas divulgam nos meios de comunicação
a participação em projetos sociais ou o apoio a eles por meio de doações. Só
que a gestão de responsabilidade social abrange muito mais do que simples
doações financeiras ou materiais.
Segundo matéria publicada pela revista Veja em 5 de julho de 2006, intitu-
lada “Os santos do capitalismo”, é possível verificar que mesmo ações filan-
trópicas podem ser efetuadas com procedimentos formalizados envolvendo o
reconhecimento do ambiente a da realidade na qual a organização a ser desti-
nada a doação está envolvida, assim como a verificação de tendências, forças e
interesses que atuam sobre ela. Esse reconhecimento é necessário justamente
para que as ações possam ser objetivas e, dessa forma, alcançar com presteza
as transformações almejadas. Uma das questões mais importantes na elabora-
ção de projetos sociais é ter claramente definido as diferenças essenciais entre

capítulo 4 • 105
esfera pública e privada. Em termos de gestão, é preciso identificar com clareza
qual é o ambiente no qual a organização opera.
A matéria traz a informação de que, nos Estados Unidos da América, o im-
posto sobre a transmissão de grandes heranças pode atingir 70%. Dessa ma-
neira, para eles, muitas vezes faz mais sentido criar fundações com objetivos
sociais e colocar os filhos ou herdeiros para comandá-las. Também há a possi-
bilidade de abater do imposto de renda boa parte do dinheiro gasto com cari-
dade, o que levou os EUA ao pioneirismo da moderna filantropia com doações
anuais, cerca de 260 bilhões de dólares. Na mesma reportagem, é indicada ain-
da uma doação realizada pela Microsoft de 28 bilhões de dólares, e por War-
ren Buffet, empresário que aos setenta e cinco anos e com fortuna avaliada em
44 bilhões de dólares doou 40 deles, sendo 30,7 para a Fundação Bill e Melina
Gates, que financia escolas públicas e pesquisas para a cura do câncer. A re-
portagem ainda coloca em questão a análise marxista sobre a concentração de
renda capitalista e a exploração do proletariado, demonstrando a influência de
Bill Gates a toda geração atual de jovens milionários, que buscam máxima efi-
ciência e elevados retornos a investimentos sociais. Essas ações filantrópicas
são guiadas por critérios empresariais como autossuficiência, tendo em vista a
consistência financeira por meio de fontes de renda próprias.
Há metas para a obtenção de resultados efetivos e controles para impedir o in-
chaço da burocracia filantrópica. A garantia da eficiência está justamente em ter
claro que as fundações não devem ganhar mais que 20% do que emprestam. Da
mesma forma, as doações não podem perder o foco e se tornarem aleatórias. Os
projetos devem ser selecionados criteriosamente, de acordo com metodologias
exequíveis, buscando retorno econômico e social de acordo com o que podem ge-
rar. Há fundações que trabalham com objetivos claros, por isso as ações filantrópi-
cas e sua administração financeira passam por auditorias e apresentam relatórios
anuais de suas atividades e resultados.
Esses filantropos bilionários da atualidade não querem apenas aliviar o sofri-
mento dos ainda não incluídos, mas promover a ascensão e transformá-los em
consumidores e mesmo acionistas do sistema de mercado. Está claro que o capi-
talismo não comporta segmentos expressivos de pobreza, mas exige cidadãos com
boa formação educacional e vontade de ascensão social. A dicotomia desse proces-
so revela, ao mesmo tempo em que se assiste aos avanços benéficos, aumento nas
disparidades e desigualdades sociais, o que obriga o empresário a repensar os sis-
temas econômicos, sociais e ambientais. Justamente por isso, de nada adianta ser

106 • capítulo 4
uma grande empresa no ranking de seus negócios se não for possível contar com
uma sociedade que compartilhe das mesmas perspectivas.
O envolvimento e o investimento na comunidade em que a empresa está inse-
rida contribuem para a viabilização dos negócios, exatamente por isso esse canal
deve estar aberto, lembrando que o enfoque da qualidade não está nas coisas ou
nas pessoas, mas nas relações estabelecidas entre elas.
Os mercados fortemente protegidos da concorrência e os consumidores ha-
bituados a pagar o ônus do defeito, sem direitos assegurados e nem mesmo
reconhecidos, constituem um cenário que há muito não faz mais parte da reali-
dade dos mercados globalizados. A mudança é percebida nitidamente no com-
portamento dos consumidores que aprendem gradativamente que seu papel é
legalmente assistido e que sua postura pode levar à perda de credibilidade de
uma empresa e, consequentemente, trazer dificuldades na comercialização de
seus produtos para concorrentes mais ajustados às exigências atuais.
Conscientes de que seu papel na realidade atual deve assumir uma postura
diferenciada, algumas empresas saem à frente assumindo novos modelos de
gestão tanto nas relações externas quanto internas, são novos padrões de pen-
samento, comportamento, postura, habilidade e até mesmo sentimentos. Para
Ashley (2005, p.110) a empresa começa a ser vista como uma rede de relacio-
namentos entre stakeholders, contextualizada no tempo e no espaço, e que se
encontra diante de desafios éticos e da busca pela congruência entre discurso
e prática empresarial.
Mas como as empresas orientam suas estratégias para essa nova concepção
que envolve a postura ética e cidadã?
Obviamente, é necessário destacar que o conceito de responsabilidade so-
cial empresarial não tem como objetivo central servir de instrumento de re-
lações públicas ou marketing, apesar de claramente desempenhar este papel
também. Mas, muito mais do que uma onda politicamente correta, a respon-
sabilidade social está estabelecendo suas bases em razões estratégicas de ne-
gócios, já que, atualmente, encontramos uma sociedade globalizada extrema-
mente competitiva com consumidores mais bem informados e que possuem
amplo poder de escolha.
Se antes de se falar em responsabilidade social as decisões empresariais
eram apenas de acordo com os interesses estratégicos da organização, atual-
mente ela deve incorporar elementos provenientes da sociedade que se bali-
zam pela noção de bem comum.

capítulo 4 • 107
De acordo com um estudo desenvolvido pelo Instituto Ethos de empre-
sa e responsabilidade social em parceria com o jornal Valor Econômico e a
empresa, indicador de opinião pública, 63% dos entrevistados brasileiros,
responderam que valorizam o tratamento que as empresas dispensam aos
funcionários. Embora o engajamento de empresas em ações sociais já venha
ocorrendo no Brasil há algum tempo, cresce nos últimos anos, a preocupação
com o envolvimento mais sistemático da iniciativa privada com a temática da
responsabilidade social. Esse fenômeno reflete a percepção, cada vez mais
generalizada na sociedade, de que a solução dos problemas sociais é respon-
sabilidade de todos, e não apenas do Estado.

4.4  Dimensão ecológica da sustentabilidade empresarial

O meio ambiente é um conjunto de sistemas interligados e interconectados


que formam o mundo que nos cerca. Compreende todo o entorno físico em
que vivemos e incluem o ar, a água, a terra, a flora, a fauna e os recursos não re-
nováveis, como os combustíveis fósseis e os minerais. Segundo Ferreira (2003),
os ecossistemas (ou meio ambiente) compreendem os sistemas vivos e os não
vivos. Ademais, de acordo com Merino (2000), a palavra ecologia se origina das
expressões gregas oikos que significa “casa” ou “lugar onde vive” e logos que
significa “estudo”. Ecologia pode ser considerada uma ciência que estuda as
características do ambiente para refletir sobre qual o melhor contexto para os
sistemas vivos existirem de forma equilibrada, saudável e sustentável.
A ciência ecologia, de acordo com Ferreira (2003), estuda as interações
entre os sistemas vivos e seu meio ambiente. Este é responsável por propor-
cionar condições favoráveis de habitat para os sistemas vivos. Percebe-se
que as empresas são sistemas vivos e, portanto, dependem das condições
dos ecossistemas para sua sobrevivência. Para sua continuidade. Para sua
sustentabilidade. A empresa depende da diversidade e da vida dos ecossis-
temas terrestres, pois necessita de recursos naturais renováveis e não re-
nováveis para produzir seus produtos e serviços. Seu capital intelectual, ou
seja, seus trabalhadores necessitam da natureza para respirar e ter qualida-
de de vida para desempenhar suas funções.
Merino (2000) complementa e diz que, por razões lógicas de sobrevivên-
cia, não se pode deixar de falar de ecologia quando se discute economia. Toda
atividade econômica causa alguma alteração no meio ambiente. No entan-

108 • capítulo 4
to, não é qualquer alteração nas propriedades do ambiente que caracteriza
poluição. Tinoco e Kraemer (2004) explicam que impacto ambiental negativo
ocorre quando as modificações do meio ambiente provocam desequilíbrio
das relações constitutivas do ambiente. Portanto, existe contaminação quan-
do a harmonia entre os elementos que constituem os ecossistemas é afetada
pelos resíduos emitidos pelas empresas durante o processamento de seus
serviços e produtos.
As ações ecológicas empresariais podem atuar para resgatar essa harmo-
nia. Determinada empresa pode agir para proteger os ecossistemas de seus
próprios resíduos como de outros elementos. Este material considera que uma
ação ecológica empresarial somente pode aumentar a ecoeficiência do negó-
cio quando atuar sobre os resíduos emitidos pela própria empresa durante o
processamento de seus produtos e serviços. Para esse trabalho, desempenho
ecológico significa a empresa produzir seus produtos e serviços sem agredir os
ecossistemas da Terra.
Ecologia no mundo dos negócios pode ser traduzida como a busca por man-
ter o sistema empresa em equilíbrio com os outros sistemas interligados e inter-
conectados com seu negócio e não comprometer a harmonia entre os elementos
que constituem os ecossistemas. Um programa ambiental pode atuar de forma
direta ou indireta para reverter a harmonia entre os elementos que constituem os
ecossistemas. Direta quando agem na relação entre a empresa e algum elemento
de seu meio ambiente. Indireta quando visam influenciar na relação entre dois
sistemas externos ao sistema empresa.
Programas como tratamento de efluente, reciclagem de resíduos sólidos
e sistema de gestão ambiental são ações ecológicas que atuam sobre os re-
síduos emitidos pela própria companhia durante o processamento de seus
produtos e serviços. Agem de forma direta para resgatar a harmonia entre os
elementos que constituem os ecossistemas. Os programas voltados para pro-
mover o desenvolvimento sustentável da sociedade de forma geral, ou espe-
cíficos como educação ambiental à comunidade, a reciclagem de resíduos de
outros processos produtivos e recuperação de áreas nativas são exemplos de
ações ecológicas que agem de forma indireta por atuar sobre elementos não
relacionados com os resíduos da própria empresa.

capítulo 4 • 109
ATIVIDADE
1.  Tendo em vista, o texto apresentado anteriormente no item Reflexão, elabore um texto com
dois ou três parágrafos expondo seu ponto de vista a respeito do assunto, concordando
com o autor ou discordando dele. Utilize os conceitos e discussões abordados no capítulo.

REFLEXÃO
Neste capítulo, procuramos abordar a relação entre sustentabilidade e responsabilidade so-
cial, na perspectiva de entender as ações empresariais a partir da lógica econômico-social
-ambiental e seus desdobramentos para o alcance do desenvolvimento sustentável. Vejamos
a seguir algumas reflexões:

O Anticonceito “Sustentabilidade”
Como diz a célebre frase de Lavoisier, na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se trans-
forma. Vivemos em um planeta finito, escolha qualquer material que quiser – a quantidade que
existe na Terra é limitada. Não se cria algo a partir do nada.
Por outro lado, é impossível destruir a matéria. Nada do que se consome é de fato consumido.
Todos os materiais continuam lá, embora em outras formas. Estas formas podem nos ser me-
nos úteis, mas os materiais ainda existem.
Por um lado, portanto, nada é “sustentável” já que tudo o que existe na Terra existe em uma
quantidade finita (embora possamos não conhecê-la no momento). Por outro, absolutamente
tudo é “sustentável” pois somos incapazes de criar ou destruir matéria.
Então o que diabos quer dizer “sustentabilidade”?
Para muitas das coisas que transformamos na natureza há meios conhecidos de retornar
algumas das coisas transformadas a seu estado inicial. Se um processo industrial usa água
para lavar alguma coisa, esta água pode depois ser filtrada e tratada quimicamente de forma
a torná-la igual ao que era antes.
É a este tipo de ciclo fechado que ambientalistas se referem quando falam em “sustentabilida-
de”. Seu ideal é que toda a ação humana deixe o ambiente exatamente como era antes. Se-
gundo seus argumentos, esta seria única forma de garantir a continuidade de nossa existência.

“Sustentabilidade” é Impossível
Há vários problemas com a doutrina da “sustentabilidade”. Tudo o que existe faz parte do
ambiente. Para ser completamente “sustentável”, uma dada ação teria de ter como resultado

110 • capítulo 4
final a mesma situação atual. Ou seja, a única coisa rigorosamente “sustentável” é não fazer
absolutamente nada.
Observando as ações das organizações ambientalistas, percebe-se que esta verdade está
clara para elas. O ativismo ambientalista trata-se essencialmente de impedir que se façam
coisas. Não derrubem florestas, não cacem, não pesquem, não construam hidrelétricas, não
queimem gasolina, a lista é longa.
É evidente que o resultado final de seguir este princípio consistentemente é a inexistência
do homem. Alguns ambientalistas são até honestos o suficiente para reconhecer que este é
realmente seu ideal.
Mesmo que se tolere que o ambiente seja alterado temporariamente, ainda é impossível ser
verdadeiramente “sustentável”. Se usarmos um filtro para limpar a água, de onde vem o filtro?
Se usarmos um material reciclável para o filtro, com que construímos a máquina que o recicla?
E o que fazemos com a sujeira que tiramos do filtro sujo?

Raízes do Anticonceito “Sustentabilidade”


Há três erros fundamentais e de princípio por trás da ideia de “sustentabilidade”.
O primeiro é a ideia que a natureza tem valor intrínseco, independente de seu valor para o ho-
mem. O conceito de “valor” é dependente da existência de um ser capaz de julgar. Para seres
irracionais ou objetos inanimados não há valores, apenas fatos.
Uma maneira de deixar um ambientalista totalmente embasbacado é, ao ouvir o inevitável
“precisamos salvar o mico-leão dourado” (ou a espécie ameaçada do momento) responder
simplesmente “por quê?”.
O mais provável é ouvir uma resposta vaga sobre “biodiversidade” ou sobre utilidades que
ainda não descobrimos. A realidade é que na maioria dos casos não há nenhum benefício real
em preservar espécies em extinção. As espécies que nos são realmente úteis são as menos
“ameaçadas” do planeta.
O segundo erro é não reconhecer que meio natural de sobrevivência do homem é alterar as
coisas, adaptá-las a si. Ao tratar o homem como algo à parte da natureza, nos condenam por
agir como temos de agir, por nossa natureza.
A natureza humana é a de indivíduos dotados de razão. Nosso meio de sobreviver é entender
a natureza e alterá-la em nosso benefício. Condenar o homem por fazer isto é condenar o
homem por viver, tão irracional quanto condenar uma bactéria por produzir gás carbônico ao
decompor uma árvore caída na floresta.
O terceiro erro é a ideia que a capacidade humana é estática. Quando se fala em “sustentabi-
lidade” sempre se está preocupado sobre se é possível continuar fazendo indefinidamente as
coisas como fazemos hoje.

capítulo 4 • 111
A realidade é que a vida humana é de constante progresso. Hoje é trivial fazer coisas que
seriam “insustentáveis” cem anos atrás. Mas o progresso da capacidade humana de alterar a
natureza depende da liberdade de usar hoje aquilo que temos hoje, da maneira mais produtiva
que pudermos imaginar.
Pensar no longo prazo é algo fundamentalmente racional. Também não se pode admitir o dano
à propriedade alheia.
A verdade é que existem inúmeros motivos racionais para usar com eficiência os recursos
naturais, reaproveitar muitos dos materiais que usamos e garantir para nós mesmos um meio
saudável e agradável para viver. Não é uma questão de “sustentabilidade” mas sim de tirar o
maior proveito possível das coisas.

LEITURA
MASSA, A. A, NOVAK, A.S, SOUZA, R.P. Responsabilidade Social: um caminho para a sus-
tentabilidade. Disponível em: <http://sottili.xpg.uol.com.br/publicacoes/pdf/IIseminario/
pdf_reflexoes/reflexoes_02.pdf> Acesso em 15 maio 2014.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Fernando. Os desafios da sustentabilidade: uma ruptura urgente. Rio de Janeiro, El-
sevier, 2007.

ASHLEY, Patrícia A. Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo: Saraiva, 2005.

DIAS, R. Gestão Ambiental: responsabilidade ambiental e sustentabilidade. São Paulo: Atlas, 2006.

GIFE (Grupo de institutos, fundações e empresas). Guia sobre investimento social privado em
educação. 2005.

VEIGA, José Eli. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro, Gara-
mond, 2005.

112 • capítulo 4
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo, veremos iniciativas interessantes de grandes corporações com respeito
à temática de sustentabilidade, bem como a criação de produtos mais econômicos e eficien-
tes com geração de resultados.
Ademais, também é discutida a vantagem de uma entidade ser sustentável no cenário atual.

capítulo 4 • 113
5
Consumo
sustentável:
incentivos
5  Consumo sustentável: incentivos
Este capítulo apresenta importantes ações de corporações conhecidas nacional-
mente e internacionalmente no sentido de promover práticas sustentáveis.

OBJETIVOS
•  Possibilitar o conhecimento dos aspectos relativos à sustentabilidade desenvolvendo
ações que possibilitem sua implantação;
•  Proporcionar conhecimentos sobre o desenvolvimento sustentável promovendo ações
para minimizar possíveis impactos ambientais.

REFLEXÃO
Você tem ouvido muitos comentários a respeito da urgente necessidade de conciliarmos
o consumo ao meio ambiente. Será esta uma equação possível? Vamos ver como empre-
sas e sociedade têm se comportado nesta atual conjuntura?

Introdução

O mundo tem caminhado na direção de desenvolvimento de novas tecnologias


e novos produtos e conceitos e, através dessa nova trajetória, as corporações
têm conseguido ampliar sua lucratividade e se aproximar de todos os seus
stakeholders. Além do ganho econômico, ganha-se em termos de preservação,
principalmente do meio ambiente.
Uma nova legião de gestores e tomadores de decisão tem conduzido suas
estratégias para as correntes sustentáveis. Cabe, agora, ressaltar se esse novo
panorama tem condições de se manter continuamente ou se não se trata ape-
nas de um modismo ou uma tendência momentânea.
Usufrua deste capítulo e tire suas próprias conclusões!

116 • capítulo 5
5.1  Cidade de Estocolmo

Na cidade de Estocolmo, diversas ações sustentáveis podem ser notadas, como


por exemplo a reciclagem do lixo, o processo de eliminação de resíduos, o uso
de combustíveis, entre outros. O governo tem estimulado essas práticas e ga-
rantido subsídios para empresas que oferecem e realizam investimentos sus-
tentáveis, como obtenção de eficiência energétca, redução de gases poluentes.
Para se ter ideia, casas e prédios utilizam painéis que absorvem a energia do
sol e armazenam essa energia para uso durante o período de inverno. A água da
chuva é totalmente reaproveitada, direcionada para estações de tratamentos e
retorna limpa para as casas. Existem projetos para que esse sistema funcione
em todos os bairros da cidade.
Em relação ao lixo, os cidadãos efetuam a separação dos dejetos e resíduos
e colocam em recipientes específicos de coleta, que sugam por meio do vácuo o
lixo e direcionam a canos subterrâneos até os depósitos.
O lixo orgânico é transformado em gás e adubo e outros lixos e resíduos re-
cicláveis são encaminhados para uma industria de incineração, que também
gera energia.
Aproximadamente 25% da frota de transporte urbano utiliza combustível
renovável como etanol (que inclusive vem do Brasil), e o biogás – uma mistura
natural de metano e gás carbônico produzida naturalmente por bactérias.

CONEXÃO
Saiba mais sobre essa informação em Época Negócios acessando: <http://epocanego-
cios.globo.com>

5.1.1  Criação do ônibus a hidrogênio

O ônibus a hidrogênio desenvolvido pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de


Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, Coppe, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, UFRJ, deve começar a circular na Cidade Universitária.
O veículo, que está em fase final de ajustes, foi lançado em maio de 2010, na
abertura do 10º Challenge Bibendum. Na ocasião, o veículo participou de um
rali na categoria veículos urbanos, vencendo quatro dos seis quesitos: eficiên-

capítulo 5 • 117
cia energética, emissão de gases poluentes, ruído e manobrabilidade. A tecno-
logia utilizada no projeto é 100% nacional, segundo informações do Laborató-
rio de Hidrogênio da Coppe.
A aparência do veículo é semelhante a de um ônibus convencional, com o
mesmo tamanho. Comparado com veículos a diesel, ele apresenta maior efi-
ciência energética. A emissão de poluentes é nula, de seu cano de descarga é
eliminado apenas vapor de água.

5.2  Iniciativas bem sucedidas de empresas

1.  O Walmart junto a empresa Johnson e Johnson conseguiu que as em-


balagens do líder de mercado Band Aid passassem por uma redução de
20% do tamanho com a garantia de que o produto não perderia o lugar
de destaque nas lojas. Com a empresa Colgate do Brasil, foi possível in-
fluenciar no convencimento da marca a utilizar plástico reciclável para
o produto Pinho Sol nas garrafas.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://www.ecodesenvolvimento.org.br>

2.  A Braskem reduziu emissões de GEEs (gases de efeito estufa) de 13,6% em


relação ao ano de 2007. Ano passado, em 2009, foram emitidas cerca de
7,2 milhões de toneladas de CO2 equivalentes. A Braskem ainda anuncia
a criação de uma usina de plástico verde da empresa, que vai promover a
captura de 500 mil toneladas de gás carbônico.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://www.ecodesenvolvimento.org.br>

3.  Em consonância com seu compromisso de longa data com o desenvol-


vimento sustentável, a empresa Natura engajou na questão dos gases
do efeito estufa (GEEs) e adotou o compromisso de neutralizar todas
as emissões a partir de 2007. Esse compromisso é o coroamento de um
processo que se formalizou no início de 2006. Nesse processo a empre-
sa identificou a possibilidade de reduzir em 33% as emissões relativas
em sua cadeia de negócios, ao longo dos próximos cinco anos, e já em

118 • capítulo 5
2007 diminuiu as emissões em 7%. A seguir são apresentadas, com mais
detalhes, as razões, o processo e os primeiros resultados do processo de
neutralização completa das emissões de GEEs.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://www.ecodesenvolvimento.org.br>

4.  O McDonalds vai lançar ainda no ano de 2010 o primeiro restaurante


verde fast food da América Latina. O estabelecimento seguirá projetos
de uso racional de água, energia elétrica e matéria-prima. A redução de
aproximadamente 14% do consumo de energia e de 50% no de água po-
tável do restaurante resulta na melhor das ofertas oferecidas pela rede
no quesito sustentabilidade.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://www.mundodomarketing.com.br>

5.  O WalMart inaugurou o primeiro hipermercado ecoeficiente no Brasil,


como mais uma iniciativa do seu programa de sustentabilidade mun-
dial. Há três anos, a rede varejista possui iniciativas sustentáveis que
são implementadas nas lojas. Além dos PDVs, a companhia prevê par-
cerias com fornecedores a fim de reduzir embalagens, engajar os fun-
cionários, oferecer informação e produtos orgânicos aos clientes, além
de programas de reciclagem. Mesmo sem uma loja na Amazônia, o Wa-
l-Mart desenvolve um programa de preservação da floresta nacional do
Amapá, em parceria com a ONG Conservação Internacional.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://epocanegocios.globo.com>

6.  Em março de 2010 o Grupo Pão de Açúcar lançou o Caixa Verde, que
consiste em reciclagem pré-consumo, ou seja, os clientes podem dei-
xar a embalagem de papel, plástico ou papelão de um produto no Caixa
Verde para reciclagem no momento da compra.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<https://aplicativos.grupopaodeacucar.com.br/pao/sustentabilida-
de/acao/caixa-verde/>

capítulo 5 • 119
7.  Uma das empresas que contribuíram para a elaboração do supermer-
cado verde do Grupo Pão de Açúcar foi a Sustentax, que desenvolveu o
projeto de energia sustentável para o Grupo. De acordo com o Presiden-
te da empresa, Newton Figueiredo, a geração de energia a base de gás
natural em empreendimentos comerciais ajuda a reduzir gastos e au-
mentar a eficiência energética. “Em alguns casos pode ser melhor para
uma companhia gerar a sua própria energia, ao invés de comprá-la. A
primeira central de energia à base de gás natural que instalamos foi no
Hotel Renascence, em São Paulo”, explica Figueiredo.

8.  O Carrefour é uma das empresas de varejo com mais programas em to-
das as unidades. Um dos programas tem objetivo de reduzir o consumo
de 38 milhões de folhas de papel A4 por ano. “Desde abril de 2007 todas
as impressoras da matriz e das lojas são abastecidas com papel recicla-
do. Só no ano passado reduzimos em 65.505 kg a quantidade de CO2,
preservamos mais de mil árvores, além de economizarmos mais de
dois milhões de litros de água”, informa Paulo Pianez, Diretor de Sus-
tentabilidade do Carrefour Brasil. Para envolver os consumidores em
suas ações sustentáveis, as lojas do Carrefour em Ribeirão Preto (SP)
recebem do consumidor quatro litros de óleo vegetal usado, em troca
de um litro de óleo novo. Nessa ação, o óleo doado é transformado em
biodiesel. Só no ano passado foram coletados cerca de oito mil litros de
óleo de cozinha.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://www.mundodomarketing.com.br>

9.  A empresa Masterplastic trouxe da Europa carrinhos de compra feitos à


base de plástico reciclável e nylon. Diferente dos tradicionais fabricados
com ferro, o produto da Masterplastic não sofre oxidação, é de fácil manu-
tenção e os danos podem ser reparados com maior rapidez. Atualmente o
carrinho da Masterplastic pode ser encontrado em redes de varejo do Rio
Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo. O plástico que serve de matéria
prima para o carrinho é completamente reciclável e o varejista pode obter
desconto ao entregar o produto danificado em troca de um novo. Além do
carrinho de compra começar a adquirir características verdes, as sacolas
de plástico estão perdendo espaço no varejo. Desenvolvida pela Realcen-

120 • capítulo 5
ter, as eco-bags - que poderão substituir as atuais de plástico - são fabrica-
das com garrafas PET recicladas.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://www.mundodomarketing.com.br>

10.  Com foco no projeto de lei do Governo que obriga empresas a adota-
rem a nota fiscal eletrônica até o fim de 2010, a NeoGrid já desenvolve
este serviço para empresas do Brasil. Por enquanto, a nota fiscal eletrô-
nica está sendo usada em transações B2B. “Normalmente o custo de
emissão por nota fiscal de papel é em torno de R$ 4,00. A nota eletrôni-
ca custa menos de R$ 1,00. Dependendo da empresa, a economia total
pode ser de mais de 50%.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://www.mundodomarketing.com.br>

11.  A Ford tem atuado em projetos de sustentabilidade e os resultados


desta política nas diversas operações já podem ser observados na práti-
ca dentro da empresa. No desenvolvimento de produtos, por exemplo,
existe o comprometimento com a redução da emissão de poluentes,
diante da preocupação com o aquecimento global. Os fornecedores
também devem estar alinhados com as práticas de sustentabilidade e
meio ambiente da Ford. Existe ainda o foco na manufatura: desde 2000,
a Ford já conseguiu reduzir globalmente 27% da energia utilizada e de
mais de 25% no uso de água. O Complexo Industrial Ford Nordeste é o
maior exemplo de como uma indústria pode ser ecologicamente cor-
reta, preservando o meio ambiente. A planta foi projetada dentro dos
mais rigorosos conceitos de conservação ambiental. Localizado no
município de Camaçari (BA), sua área industrial fica somente a 3 km
do Pólo Petroquímico, a 50 km da capital e a 35 km do Aeroporto Luís
Complexo Industrial Ford Nordeste (CIFN) Eduardo Magalhães (Sal-
vador). Seus investimentos totalizaram US$ 1,9 bilhão e seu prazo de
construção foi de apenas dois anos, um tempo recorde para uma obra
como essa. Todos os resíduos e efluentes são tratados e reutilizados,
em um sistema auto-sustentável. O esgoto e a água poluída produzida
pela fábrica são encaminhados para as wetlands, estações ecológicas
com plantações de arroz e taboa. Essas plantas filtram os resíduos,
devolvendo a água purificada para o solo, que é reutilizada dentro do

capítulo 5 • 121
Complexo. Além disso, a Ford realiza a coleta seletiva de lixo, faz cap-
tação da água da chuva em três lagos e está reflorestando uma área de
7 milhões de metros quadrados, dentro e fora do Complexo, com espé-
cies nativas da região.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
< http://www.agendabrasilsustentavel.org.br/ >

12.  Os bilhetes da Mega-Sena passarão de 14 centímetros de comprimento


para 12 centímetros. A redução de dois centímetros de papel pretende
evitar a derrubada de árvores. De acordo com a Caixa Econômica Federal,
em dias de muita movimentação, as mais de 10 mil lotéricas do Brasil
movimentam até 20 milhões de apostas. O volume de papel gasto nos jo-
gos chega a 3 milhões de metros. Com a economia dos dois centímetros,
em um ano, a Caixa vai evitar que 2,2 mil árvores sejam derrubadas.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://www.gazetadopovo.com.br/>

13.  Com foco no projeto de lei do Governo que obriga empresas a adota-
rem a nota fiscal eletrônica até o fim de 2010, a NeoGrid já desenvolve
este serviço para empresas do Brasil. Por enquanto, a nota fiscal eletrô-
nica está sendo usada em transações B2B. “Normalmente o custo de
emissão por nota fiscal de papel é em torno de R$ 4,00. A nota eletrôni-
ca custa menos de R$ 1,00. Dependendo da empresa, a economia total
pode ser de mais de 50%.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://www.mundodomarketing.com.br>

14.  A empresa Henkel, empresa de tecnologia em produtos cosméticos e


higiene pessoal, trabalha junto a seus parceiros e clientes no desenvol-
vimento de tecnologias que consomem menos recursos naturais e mi-
nimizam impactos socioambientais criou uma linha de pasta de soldas
sem o uso de chumbo para as empresas Nokia e Motorola, além de pro-
dutos de vedação e adesão para a indústria automobilística que redu-
zem o peso do veículo e consequentemente o consumo de combustível.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://www.ideiasocioambiental.com.br>
15.  A Scania desenvolveu em 2009 um ônibus movido a etanol que está em

122 • capítulo 5
demonstração na cidade de São Paulo. A iniciativa é do projeto BEST-
Bio Etanol para Transporte Sustentável, criado pela prefeitura de Esto-
colmo e União Europeia, com a finalidade de incentivar o uso do etanol,
em substituição ao diesel, no transporte público urbano no Brasil e no
mundo. Além de São Paulo, pioneira nas Américas, outras sete cidades,
localizadas na Europa e Ásia, participam do projeto: Estocolmo (Sué-
cia), Madri e País Basco (Espanha), Roterdã (Holanda), La Spezia (Itá-
lia), Somerset (Reino Unido), Nanyang (China), Dublin (Irlanda).
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://www.ideiasocioambiental.com.br>

16.  A empresa EMBRAER, em 2005, apresentou uma versão de seu avião


agrícola Ipanema, movido a álcool. O avião possui potência 7% superior
ao modelo convencional e contribui no corte de custos para as opera-
ções de pulverização agrícola. O moto também contribuiu com o pro-
longamento da vida útil da aeronave.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://www.ideiasocioambiental.com.br>

17.  A empresa BASF, tem realizado investimentos em pesquisa e desenvol-


vimento, desde a década de 90, para criação de materiais biodeagradá-
veis. Em 1998, lançou o Ecoflex, com matéria prima de fonte renovável.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://www.basf.com.br>

18.  A Cargill reduziu seu consumo de água em cerca de 26% para a utilização
do Óleo Liza, além de economizar 18% de energia elétrica na produção de
garrafas plásticas. Reduziu também o consumo de combustíveis fósseis
e passou a utilizar matéria prima certificada na produção de caixas de
papelão, reduzindo também 40% as emissões de gases de efeito estufa.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://colunas.pegn.globo.com/papodeempreendedor/2010/01/22/
sustentabilidade-de-ponta-a-ponta/>

capítulo 5 • 123
19.  A Pepsico desenvolveu a versão orgânica de seu produto achocolatado,
o Toddy. Para a produção são utilizados apenas cacau e açúcar orgâni-
cos e o material dos rótulos é 100% reciclado. Eliminou também a utili-
zação de colheita de cana de açúcar junto de queimadas.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://colunas.pegn.globo.com/papodeempreendedor/2010/01/22/
sustentabilidade-de-ponta-a-ponta/>

20.  A Coca-Cola desenvolveu o chá Matte Leão orgânico, produzido com


100% de erva orgânica, além do uso de material 100% reciclado na em-
balagem. Reduziu também a emissão de CO2 no transporte da erva
mate por meio da utilização de 10% de biodiesel; redução de 90% na
quantidade de tinta na impressão da embalagem do produto; redução
de 23% no consumo de energia e de 36% no consumo de água no pro-
cesso de produção; e utilização de caixas de transporte feitas com ma-
téria-prima certificada.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://colunas.pegn.globo.com/papodeempreendedor/2010/01/22/
sustentabilidade-de-ponta-a-ponta/>

21.  A empresa Procter & Gamble conseguiu reduzir em 30% o uso de polpa
de celulose no produto; diminuir em 7% o peso total da fralda, resul-
tando em menor geração de resíduos pós-consumo; aumentar 25% a
eficiência do transporte do produto por sua compactação; reduzir 9%
o consumo de energia utilizada no processo de produção; e reduzir em
10% as emissões de CO2 devido ao menor uso de energia no processo
produtivo e transporte
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://colunas.pegn.globo.com/papodeempreendedor/2010/01/22/
sustentabilidade-de-ponta-a-ponta/>

22.  A empresa Unilever reduziu em 63% o consumo de papel na caixa de


papelão utilizada no transporte e distribuição do produto; diminuiu
em 37% o consumo de plástico para a produção da embalagem; reduziu

124 • capítulo 5
o consumo de energia para produção e transporte do produto; e dimi-
nuiu o uso de água na formulação do produto.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://colunas.pegn.globo.com/papodeempreendedor/2010/01/22/
sustentabilidade-de-ponta-a-ponta/>

23.  Em 1961, o americano George Propstra inaugurou a rede Burguervil-


le com conceitos bastante atuais: a compra de matéria-prima somen-
te de produtores locais e a formatação do cardápio de acordo com os
alimentos da estação. Hoje com 39 restaurantes, a marca exibe a sus-
tentabilidade como diferencial para atrair a clientela. Além de garantir
a compra local de carne e queijo livres de hormônios, a cadeia adotou
práticas como a reciclagem do óleo (de canola, que é mais saudável) uti-
lizado nas cozinhas, investimento em um programa de energia eólica, a
compostagem dos restos de alimentos e a reciclagem dos demais resí-
duos. Para ter a consciência socioambiental limpa, os consumidores da
Burguerville aceitam pagar mais por seus hambúrgueres, batatas-doces
fritas e milk shakes de abóbora. Se até as cadeias de fast food – histori-
camente vilãs do meio ambiente e da boa saúde.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://colunas.pegn.globo.com/papodeempreendedor/2010/01/22/
sustentabilidade-de-ponta-a-ponta/>

24.  A Exposição Internacional de Tecnologia e Mobilidade, em São Paulo,


contou com a atração de um automóvel sustentável produzido no Bra-
sil. O veículo é elétrico, pesa menos que os carros atuais e é construído
com polímeros recicláveis. Seus componentes são reforçados com fi-
bras naturais e o carpete feito com material de garrafas plásticas reci-
cladas. A roda não utiliza metal, é feita de plástico industrial mais leve
que o alumínio. O tempo de recarga de bateria precisa ser otimizado,
com necessidade de 12 horas de carga.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://portalexame.abril.com.br/meio-ambiente-e-energia/noti-
cias/carro-sustentavel-apresentado-sp-602431.html>

capítulo 5 • 125
Artigo
Ações sustentáveis reduzem impacto da crise em empresas
As práticas relacionadas à sustentabilidade constituem um importante fator para o en-
frentamento da crise econômica mundial. Isso é o que executivos e gestores de 25
empresas de grande porte que atuam no Brasil responderam à pesquisa realizada pela
Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável (FBDS) em parceria com a CO-
PPEAD/ UFRJ a qual a Razão Social teve acesso com exclusividade.
Intitulado Os impactos da crise global na agenda de sustentabilidade corporativa: um
estudo de empresas brasileiras líderes em sustentabilidade, o levantamento teve como
objetivo entender como as companhias reagiram à crise econômica. Segundo a dire-
tora executiva da FBDS e coordenadora do estudo, Clarissa Lins, a ideia foi “mapear
os impactos reais da crise na agenda de sustentabilidade corporativa”. Para isso, 45
empresas consideradas líderes em sustentabilidade foram contatadas, mas apenas 25
aceitaram fornecer os dados para a pesquisa. Entre as participantes do estudo, estão
empresas como Ampla, Bradesco, Braskem, Eletrobrás, Itaú/Unibanco, Light, Natura,
Banco Real, Suzano Papel, Usiminas e WalMart.
A conclusão principal do estudo mostra que as empresas não registraram grandes impac-
tos nos investimentos em sustentabilidade e aponta que a transparência e a prestação
de contas (por meio dos relatórios GRI, por exemplo) ganham grande valor e ajudam a
manter o equilíbrio em um cenário de crise econômica. Isso porque tranquilizam a relação
com os diversos stakeholders (grupos de interesse), entre eles os acionistas.

Fundação Brasileira para Desenvolvimento Sustentável


<www.fbds.irg.br> (Publicação em: 15 ago. 2009).

5.2.1  Uma discussão sobre sustentabilidade no Brasil

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE, publicou em setembro


de 2010 os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável – IDS sobre o período
de 2010 ao ano de 2010, que indicam que, apesar de o país ter evoluído nos prin-
cipais aspectos socioambientais, persiste um longo caminho a ser percorrido
relacionado ao desenvolvimento sustentável, principalmente na preservação
da biodiversidade.
O Brasil continua mantendo seu crescimento econômico comparado a
2007, e apresentou evolução nos principais indicadores socioambientais em
análise, não obstante as desigualdades sociais e econômicas e os impactos

126 • capítulo 5
ambientais são ainda relevantes no país, o onera o desenvolvimento da sus-
tentabilidade. Nos indicadores são analisados 55 critérios vinculados ao de-
senvolvimento sustentável, subdividido em quatro grupos.
O grupo intitulado Dimensão Ambiental, verificou questões acerca do
ar, terra, água, biodiversidade e saneamento, concluindo que, mesmo com
grandes avanços em algumas áreas, ainda existem grandes entraves am-
bientais a serem superados no país, principalmente no que se alude à de-
gradação dos ecossistemas e perda de biodiversidade. Apesar da redução
do desmatamento, ainda existe um percentual de 14,6% comprometidos na
Amazônia Legal e aproximadamente metade do Cerrado. No caso da Mata
Atlântica, existem no máximo 10% do território. A pesquisa conclui com um
alerta importante: o índice de consumo de substâncias nocivas à camada de
ozônio sofreu um pequeno acréscimo, comparado ao ano de 2007.
O grupo intitulado Dimensão Social verificou questões relacionadas à sa-
tisfação das necessidades humanas, melhoria da qualidade de vida e justiça
social, avaliando setores como saúde, educação, habitação e segurança. Em
meio às conclusões têm-se uma maior redução nas desigualdades de gênero,
do que nas de cor e raça; redução da mortalidade infantil e aumento da es-
perança de vida; condições de moradia inadequadas nos domicílios de 43%
dos brasileiros 25,4 mortes por homicídio e 20,3 por acidente de transporte, a
cada cem mil habitantes.
O grupo intitulado Dimensão Econômica verificou questões relacionadas
ao desempenho macroeconômico e padrões de produção e consumo, con-
cluindo que em 2009, o consumo de energia (por ano) de cada brasileiro atin-
giu 48,3 gigajoules (o segundo maior índice registrado do país) e a eficiência
energética do uso não apresentou aumento; aproximadamente metade da
energia brasileira é oriunda de fontes renováveis e mais de 90% das latas de
alumínio produzidas no Brasil são recicladas.
O grupo intitulado Dimensão Institucional verificou questões relaciona-
das aos esforços realizados pela sociedade e pelo governo no intento de con-
tribuir com o desenvolvimento sustentável do Brasil. A avaliação concluiu
que, nesse aspecto, os avanços do país foram destaque no acesso à telefonia
e internet: as residências que possuem acesso à rede praticamente triplica-
ram no período de 2001 a 2008 e o acesso à telefonia móvel dobrou em quatro
anos. Ademais, os IDS indicaram que o investimento nacional em Pesquisa e
Desenvolvimento aumentou de 12 bilhões de reais (em 2000) para quase 33
bilhões de reais (em 2008).

capítulo 5 • 127
Empresas Brasileiras Valorizam Ações de Sustentabilidade Ambiental
Em pesquisa realizada pelo Instituto Ilos (Instituto de Logística e Supply
Chain da Universidade Federal do Rio de Janeiro) aponta que empresas brasi-
leiras estão mais conscientes acerca da importância de implementar práticas
ambientais sustentáveis, inclusive para desenvolver o seu próprio negócio.
A pesquisa foi realizada com diretores e gerentes da área de logística das 109
maiores empresas do Brasil, abordando cerca de 14 setores econômicos. Sete em
cada dez empresas já possuem unidades específicas relacionadas à sustentabili-
dade e a maior parte (72%) desenvolve ações no sentido de minimizar os impactos
ambientais das atividades logísticas de seus negócios.
A pesquisa aponta ainda que 69% de clientes das empresas consultadas es-
tão exigindo um número mais denso de soluções ecológicas. Aproximadamente
70% das companhias relataram estar sofrendo também pressão do governo no
sentido de terem iniciativas sustentáveis. No setor automotivo, por exemplo, os
empresários estão destinando investimentos para o desenvolvimento de moto-
res com tecnologia mais limpa. Exatamente como na Europa, o governo brasilei-
ro está estimulando a indústria de automóveis a desenvolver produtos focando
harmonia com meio ambiente.
Portanto, por pressão do governo e dos clientes, as corporações acabam
por adotar estratégias que conduzem ao desenvolvimento de produtos mais
sensíveis à melhoria da eficiência logística, para que a mesma contribua com
o meio ambiente.

Sustentabilidade Alinhada com Consumidores e Finanças


Até pouco tempo atrás o peso da transformação social e responsabilidade so-
cial era de propriedade específica dos governos. Não obstante, hoje, empre-
sas privadas têm interferido maciçamente nos processos de transformação
social. Apesar de seu principal objetivo ser o impulso à economia e a geração
empregos, o mundo corporativo está focado à importância da adoção de po-
líticas sustentáveis, sem comprometer o resultado financeiro. Atualmente,
quanto maio uma entidade, mais rigoroso tende ser o seu compromisso so-
cioambiental.
O público, por sua vez, tem sugerido preocupações crescentes sobre a im-
portância social e ambiental, denotando estarem mais exigentes no tocante
papel social de seus fornecedores e, também, mais ligado às boas práticas de
preservação da natureza.

128 • capítulo 5
O Green Brands Global Survey realizou pesquisa em 2009 e concluiu que a
maioria dos brasileiros considera ter um aumento de gastos com produtos e ser-
viços sustentáveis. Em alguns casos, com disposição para pagar até 30% a mais so-
bre os mesmos. Essas informações denotam que o consumidor já reconhece uma
propensão a desembolsar mais dinheiro por um produto ou serviço, desde que por
uma causa sustentável. Esse comportamento é um importante direcionador para
as companhias, pois nota-se uma lacuna que pode ser preenchida no mercado por
novos produtos, que certamente será obtida por empresas com perfis sustentáveis.
Nesse momento sobrevém a necessidade das entidades exporem suas práticas. A
destinação de recursos para boas práticas sociais e ambientais é insuficiente caso
não seja comprovado de forma transparente, factível e confiável.
O assunto em pauta não é novidade, pois é tratado nos Princípios do Equador,
em 2003, um instrumento financeiro que promove práticas sustentáveis no que
concerne à atuação do sistema financeiro de maneira economicamente viável,
socialmente justa e ambientalmente correta. A utilização do poder fiduciário e a
alocação de capital como ativismo dos valores éticos iniciaram em 1960, com a for-
mação de fundos de investimentos vinculados à organizações que desencadearam
os investimentos socialmente responsáveis.
Na década de 90, instituições financeiras passaram a ser pressionadas
pela sociedade com campanhas sobre a responsabilidade do credor pela for-
ma de uso e aplicação dos recursos financeiros. A sociedade passou a questio-
nar as ações de intermediação financeira e as ações de sustentáveis ganharam
espaço dentro das corporações.

Responsabilidade Socioambiental e Competitividade


Atualmente, a responsabilidade socioambiental é uma das exigências re-
queridas pelas instituições financeiras do Brasil e exterior. As companhias
que realizam monitoramento de práticas sustentáveis direcionadas aos seus
stakeholders desfrutam de relevante vantagem quanto o assunto é disputar
investimentos internacionais.
Indicadores como o Ethos, GRI ou o ISE expõem os índices que determina-
da entidade registra em suas informações contábil financeiras. E o que esse
balanço faz é a validação desses indicadores. Existem empresas de capital
aberto com ações muito valorizadas em razão destas informações. O índice
da bolsa aponta corporações que publicam esses relatórios e essas empresas
têm diferenciação em preço de ação.

capítulo 5 • 129
Empresas, por exemplo, que sofrem processos trabalhistas ou são sus-
peitas de explorar mão de obra infantil e escrava ou poluir o meio ambiente
não têm chances de obter qualquer tipo de benefício ou investimento. Não
obstante, investimentos destinados na qualificação profissional de jovens
em situação de risco de comunidades do entorno de uma fábrica ou a imple-
mentação de mecanismos de redução de consumo da água e a redução de
perdas de matéria-prima em processos de manufatura podem ser transfor-
mados em ganhos institucionais e financeiros para as companhias.

5.2.2  Sustentabilidade x Poluição Ambiental: o reaproveitamento dos resíduos


como uma ação voltada para a Educação Ambiental

Romm (1996) explica que grande parcela da poluição é consequência dos


processos ineficientes desenvolvidos décadas atrás. Surgiram num tempo de
abundância de terras e recursos. Ignoravam os perigos da poluição e o uso ex-
cessivo de recursos. Porém, o contexto dos negócios mudou e a tecnologia dos
processos produtivos deve mudar para tornar as empresas mais ecoeficientes.
De acordo com Hawken, Lovins e Lovins (1999, p.9-19), as empresas interessa-
das em transformar seus parques operacionais em modelos sustentáveis po-
dem programar as seguintes estratégias:
•  A Produtividade Radical dos Recursos: a estratégia consiste em usar
os recursos de maneira 10 a 100 vezes mais produtiva. O uso mais efe-
tivo dos recursos reduz o consumo de insumos e melhora a eficiência
do processo produtivo. Isso pode acarretar custos mais baixos para os
negócios por reduzir o consumo de recursos naturais;

•  O Biomimetismo: nenhum desperdício, nenhum veneno. Essa estratégia


visa reorientar a produção segundo linhas biológicas. Sistemas industriais
redesenhados no formato de sistemas biológicos possibilitam a reciclagem
constante do material em ciclos fechados contínuos. Isso reduz as pressões
sobre os sistemas naturais, transforma os resíduos emitidos durante o pro-
cessamento dos produtos e serviços da empresa em insumos ou produtos
para o reaproveitamento lucrativo. Essa estratégia retira os filtros das cha-
minés e os coloca na cabeça do projetista;

130 • capítulo 5
•  Uma Economia de Serviços e Fluxos: essa estratégia altera a relação fun-
damental entre produtor e consumidor. Transforma uma economia de
bens e aquisições em uma economia de serviço e fluxo. Uma mudança
do modelo de negócios, da venda de mercadorias ao leasing de um fluxo
contínuo de serviços para atender as necessidades dos clientes. Como
os clientes atuais exigem qualidade ambiental, os serviços ofertados po-
dem consumir menos recursos e por isso proteger o meio ambiente;

•  Investindo no Capital Natural: essa estratégia compreende investir na


sustentação, na restauração e na expansão dos estoques de capital natu-
ral (serviços prestados gratuitamente aos homens pelos ecossistemas).
Isso estimula a biosfera a produzir serviços de ecossistemas e mais re-
cursos naturais.
Essas estratégias são inter-relacionadas e interdependentes. Juntas elas po-
dem gerar, para as empresas, benefícios e oportunidades em mercados, finan-
ças, material, distribuição e emprego. Todas essas estratégias retro descritas
são para reduzir resíduos, pois estes são os agentes causadores da poluição. O
gerenciamento ecológico pode tornar o negócio menos poluente e mais lucra-
tivo. Sem escória não há poluição. Logo, não há desperdício. Gestão de detritos
para obter ecoeficiência: desempenho ecológico e econômico (HAWKEN; LO-
VINS; LOVINS, 1999).
Resíduo pode ser entendido como a parte dos insumos que não foi transfor-
mada em produtos ou serviços. Lima (1995, p.14) define resíduo como toda e
qualquer sobra resultante dos processos produtivos industriais e classifica-os
em quatro categorias:
•  Categoria 1: resíduos considerados perigosos. Requerem cuidados
especiais quanto à coleta, acondicionamento, transporte e destino
final, pois apresentam substancial periculosidade, real ou potencial,
à saúde humana ou aos organismos vivos, e se caracterizam pela le-
talidade, não degradabilidade e pelos efeitos acumulativos adversos;

•  Categoria 2: resíduos potencialmente biodegradáveis e/ou combus-


tíveis;

•  Categoria 3: resíduos considerados inertes e incombustíveis;

capítulo 5 • 131
•  Categoria 4: resíduos constituídos por uma mistura variável e heterogê-
nea de substâncias que individualmente poderiam ser classificadas nas
categorias 2 ou 3.

Há resíduos muito tóxicos inaproveitáveis e outros que quando manuseado de


forma adequada podem voltar a ingressar nos processos produtivos das empresas.
O cuidado consiste em avaliar os custos para o manuseamento de determinado de-
trito e refletir se compensa financeira e ecologicamente emitir tal resíduo e tratá-lo
ou manter ações ecológicas para reduzir sua emissão. Há estudos que expõem so-
luções para os resíduos das empresas. Valle (2000) propõe soluções para os resídu-
os a partir de abordagens distintas observadas de quatros ângulos:
•  Minimizar: abordagem preventiva, orientada para reduzir o volume e o
impacto causado pelos resíduos. Em casos excepcionais, pode-se elimi-
nar completamente a geração de resíduo;
•  Valorizar: abordagem orientada para extrair valores materiais ou energé-
ticos que contribuem para reduzir custos de destinação dos resíduos ou
gerar receitas superiores a esses custos;
•  Reaproveitar: abordagem corretiva, orientada para trazer de volta ao
ciclo produtivo matérias-primas, substâncias e produtos extraídos
dos resíduos. Há três formas distintas para reaproveitar: reciclagem,
recuperação (ou reutilização) e reuso. Reciclagem quando há reapro-
veitamento cíclico de matérias-primas de fácil purificação, como, por
exemplo, papel, vidro, alumínio etc. Recuperação no caso de extração
de algumas substâncias dos resíduos, como por exemplo, óxidos, me-
tais etc. Reutilização ou reuso quando o reaproveitamento é direto, sob
a forma de um produto, tal com as garrafas retornáveis e certas emba-
lagens reaproveitáveis;
•  Dispor: abordagem passiva, orientada para conter os efeitos dos resídu-
os, mantendo-se sobre controle em locais monitorados.

De forma semelhante Vellani e Ribeiro (2006) contemplam que a empresa, para


gerenciar seus resíduos, pode atuar em quatro momentos durante o processa-
mento de seus serviços e produtos:
•  Reduzir o uso de insumos: reduzir o consumo de inputs por meio de mu-
danças na organização dos processos produtivos ou novas tecnologias
para aumentar a produtividade dos recursos, a eficiência e a redução
de desperdício;

132 • capítulo 5
•  Transformar resíduo em insumos: gerenciar o resíduo de tal forma a de-
compô-lo em novos insumos, como no caso de estação de tratamento de
efluente que permite o reuso da água residual. Verdadeiros sistemas de
recirculação da água. Outro exemplo pode ser o uso de metano para ge-
ração de energia;

•  Transformar resíduos em produtos: as empresas podem transformar o


detrito em produto por meio dos processos de reciclagem e recuperação
para transformar elemento com potencial poluidor em produtos que po-
dem ser vendidos ou doados;

•  Neutralizar o efeito tóxico dos resíduos: a empresa pode neutralizar o efei-


to tóxico do resíduo por meio do processo de recuperação de áreas degra-
dadas, instalação de estação de tratamento de efluentes, chaminés etc.

Observa-se que essas quatro direções são exemplos de finalidades para as


ações ecológicas empresariais.
Nas duas ilustrações seguintes há exemplo de indicadores físicos (Gráfico 1)
e monetários (Gráfico 2). Ambos provenientes do mesmo evento: gerenciamen-
to de resíduos da COPESUL entre 1990 a 2004. Segue o primeiro gráfico:

Resíduos sólidos reciclados ou recuperados

5.000,00
4.000,00
Qtde. 3.000,00
m3 2.000,00
1.000,00
0,00
1990 (a) 2000 2001 (b) 2002 2003 (c) 2004

Resíduos reciclados Resíduos recuperados

(a) 1990 – Ano anterior à implantação da coleta seletiva.


(b) 2001 – Parada geral de manutenção.
(c) 2003 – Reestruturação da reciclagem na Copesul. – Junho/03

Gráfico 4 – Exemplo de indicador físico


Adaptado de COPESUL (2004)

capítulo 5 • 133
Segundo COPESUL (2004) os resíduos reciclados são os resíduos separados
na central de triagem e destinados a processos externos à empresa. Os recupe-
rados compreendem aqueles aproveitados internamente. O principal resíduo
aproveitado é a borra oleosa. Recolhida nos separadores água-óleo ela é enca-
minhada como combustível para queima nas caldeiras. Nota-se que a empresa
transforma um resíduo em insumo e gera assim, energia para uso interno a par-
tir de um detrito. De acordo com o gráfico 1, a COPESUL implantou a coleta se-
letiva em 1989. A partir de 2002 a empresa destina seus resíduos mais para suas
operações internas do que a outros processos produtivos. Com isso, consegue
aumentar os benefícios econômico-financeiros com a manutenção de ações
ecológicas que visam transformar resíduos em insumos.
O gráfico a seguir demonstra os ganhos obtidos pela manutenção de ações
ecológicas pela COPESUL:

Ganhos pela reciclagem e recuperação de resíduos sólidos


3.000.000,00
2.500.000,00
2.000.000,00
$ 1.500.000,00
1.000.000,00
500.000,00
0,00
1990 (a) 2000 2001 (b) 2002 2003 (c) 2004

Ganho econômico (US$) Ganho econômico (R$)

(a) 1990 – Ano anterior à implantação da coleta seletiva.


(b) 2001 – Parada geral de manutenção.
(c) 2003 – Reestruturação da reciclagem na Copesul. – Junho/03

Gráfico 5 – Ganhos oriundos da reciclagem e recuperação de resíduos sólidos


Adaptado de COPESUL (2004)

Observa-se que quanto mais a COPESUL destina seus resíduos para uso interno
mais aufere ganhos econômico-financeiros. No gráfico 1 há indicadores ambien-
tais físicos do processo de reciclagem dos resíduos sólidos da empresa COPESUL
e o gráfico 2 evidencia o ganho econômico por manter ações ecológicas que atuam
sobre esses resíduos. Econômico porque ao deixar de comprar insumo (energia)
economizou. Utilizou o resíduo borra oleosa para gerar energia. Não houve entrada

134 • capítulo 5
de recursos, por isso não é financeiro.
Essas duas ilustrações demonstram que a contabilidade pode fornecer in-
formações sobre atividades ambientais por meio da divulgação de indicadores
físicos e monetários. Almeida (2002) explica que os indicadores ambientais po-
dem servir de parâmetro para as empresas gerenciarem seu desempenho am-
biental e defende esses indicadores podem ser utilizados para medir os avan-
ços na ecoeficiência dos negócios.
Os indicadores ambientais físicos e monetários divulgam informações úteis
e relevantes sobre a atuação ecológica da empresa e seus esforços para promo-
ver a ecoeficiência. São os principais instrumentos de medida para as empresas
avaliarem a relação de suas operações com os ecossistemas. Indicadores am-
bientais servem para prover os executivos da gestão ambiental de informações
úteis para tomadas de decisões. Podem indicar se as metas estabelecidas são
alcançadas, presença de situações de não conformidade, possíveis soluções
para os problemas ecológicos, além da consequência econômico-financeira do
gerenciamento ambiental.
Tais indicadores podem ser utilizados internamente na gestão ambiental e
externamente para divulgar os gastos e resultados envolvidos com a proteção
do meio ambiente. Segundo Lodhia (1999) a contabilidade ambiental é cons-
tituída por dois elementos: o gerenciamento ambiental (conhecimento dos
problemas ambientais, estimação dos riscos decorrentes, elaboração e implan-
tação de sistemas de gestão ambiental para saná-los) e a comunicação desse ge-
renciamento (evidenciação de informação sobre a proteção do meio ambiente
no Relatório Anual).
Para possibilitar o gerenciamento e sua comunicação, a contabilidade
da gestão ambiental pode se organizar e se estruturar para possibilitar o for-
necimento de informações úteis para tomadas de decisões. Por exemplo,
Ribeiro e Lisboa (2000) ressaltam que é importante evidenciar os passivos
ambientais nas grandes reorganizações societárias para não gerar infor-
mação equivocada sobre a situação econômico-financeira de determinada
entidade no momento de alguma negociação. Para evidenciar, necessita-se
registrar, acumular e principalmente organizar os eventos contábeis rela-
cionados com a gestão ambiental e estruturar a contabilidade.
A ONU (2001) categoriza os gastos ambientais em quatro tipos: tratamento
de emissões e resíduos; prevenção e gestão ambiental; valor de compra dos ma-
teriais output não produto; custos de processamento do output não produto;

capítulo 5 • 135
e as receitas ambientais em dois tipos: subsídios, prêmios; e outros ganhos.
Observa-se que os gastos ambientais podem ser calculados em relação aos cus-
tos de tratamento dos resíduos, às despesas envolvidas com a supervisão do
processo de gestão das atividades ambientais e ao valor contido no desperdício.
Os benefícios podem surgir de incremento de receitas, redução de custos e be-
nefícios intangíveis como melhor imagem.
Basicamente, a gestão ambiental pode ser dividida em prevenção, recupe-
ração e reciclagem. Ferreira (2003) desenvolve um modelo para atender as três
principais áreas da gestão ambiental: prevenção, recuperação e reciclagem, além
de atividades ambientais relacionadas com a produção. Os gastos ambientais
podem ser incorridos com intuito de prevenir poluição, recuperar áreas contami-
nadas e reciclar resíduos. Com base nos tipos de atividades ambientais mantidas
pelas empresas os sistemas de contabilidade ambiental podem ser organizados
para prover informações sobre o desempenho ecológico da empresa.
Hansen e Mowen (2001) consideram que dois tipos de relatórios sobre os
gastos ambientais são essenciais para toda organização que pretende melhorar
seu desempenho ambiental. No primeiro tipo de relatório, há classificação dos
gastos ambientais em quatro tipos de atividade: de prevenção, de detecção, de
falhas internas e de falhas externas. Mensuram-se os gastos em cada tipo de
atividade e os compara com os outros gastos operacionais.
No segundo tipo de relatório, há a confrontação entre os gastos ambientais
e os benefícios gerados pelo investimento em atividades ecológicas. Os benefí-
cios ambientais são classificados em cinco tipos: reduções de custos, contami-
nantes; reduções de custos, eliminação de resíduos perigosos; receita de reci-
clagem; economias de custos da conservação de energia; e reduções dos custos
da embalagem. Mais detalhes ver Hansen e Mowen (2001).
De forma diferente Vellani (2004), baseado em Ribeiro (1998), propõe três
categorias para gastos ambientais e três para benefícios ambientais. Os gastos
ambientais são classificados em atividades: preservar; recuperar; e controlar;
os benefícios ambientais em: redução de gastos, uso eficiente de recursos; re-
dução de gastos, eliminação de multas e taxas; venda de reciclados.
Vellani (2004) também relaciona a abordagem gerencial com a contábil, vi-
sando auxiliar os gestores na elaboração do planejamento estratégico da em-
presa. Tal correlação almeja visualizar a consequência econômico-financeira
do investimento em cada tipo de atividade ambiental e identificar o efeito con-
tábil de investir em determinada ação ecológica. Gastos incorridos em ativida-

136 • capítulo 5
des preservar tendem a ser contabilizados como custos, atividades controlar
como despesas e atividades recuperar como perdas. FEE (2000) explica que o
relatório ambiental deve fornecer ao usuário da informação contábil uma com-
preensão geral de eventos ambientais e os riscos relacionados ao negócio.
Os relatórios com informações provenientes da contabilidade da gestão
ambiental devem ser capazes de auxiliar os executivos na escolha da alternati-
va com melhor custo-benefício para tratar os problemas ecológicos. Segundo
Ribeiro (1998), os gastos na área ambiental podem ter significativos impac-
tos sobre o patrimônio das empresas e assim afetar sua continuidade. Nesse
sentido, deve ser alvo de criteriosas estratégias para garantir o sucesso dos
sistemas de gerenciamento ambiental.
As informações trazidas pela contabilidade da gestão ambiental devem
constar no Relatório Anual da empresa, essencialmente, aquelas que envolvem
cifras relevantes. Lodhia (1999) reforça isso, pois entende que a contabilidade
ambiental envolve o estabelecimento de sistemas de contabilidade internos
cuja informação pode ser evidenciada no relatório anual da companhia. A in-
formação fornecida pela contabilidade da gestão ambiental tem valor quando
evidencia ao gestor os gastos e resultados incorridos nas ações ecológicas com
capacidade de contribuir à Sustentabilidade Empresarial. Isto é, atividades am-
bientais que aumentam a ecoeficiência do negócio.

5.3  Mecanismo de desenvolvimento limpo – MDL

O Protocolo de Kyoto estabelece um mecanismo flexível de desenvolvimento,


que consiste em uma alternativa para que os países que não tenham condições
de cumprir a minimização de liberação de gases em seu território possam atin-
gir suas metas de redução de emissão de gases de efeito estufa, fomentando o
desenvolvimento dos países que não tenham atingido níveis potencialmente
problemáticos de emissão de gases e poluentes.
Sinteticamente, consiste no uso das reduções auferidas pelos países em de-
senvolvimento (entre os quais está o Brasil) pelos países desenvolvidos para o
cumprimento de suas metas estabelecidas.
Verifica-se que o MDL tem potencial de gerar benefícios para o desenvolvimen-
to sustentável, que inclusive, é o propósito do mecanismo. Para os países em de-
senvolvimento, pode ocorrer a preocupação com necessidades econômicas e am-
bientais imediatas, e a perspectiva de tais benefícios deve proporcionar um forte

capítulo 5 • 137
estímulo para participar da implementação do Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo. Conforme os critérios estabelecidos nos projetos de desenvolvimento lim-
po, os mesmos devem atender as condições:
a) participação voluntária;
b) implicar em redução adicional à que ocorreria sem a sua implementação;
c) contribuir para o desenvolvimento sustentável do país em que seja im-
plementada;
d) demonstrar benefícios reais, mensuráveis a longo prazo relacionados
com a mitigação da mudança do clima.

Redução Certificada de Emissão – RCE


Programas que contemplam projetos de mecanismos de desenvolvimento lim-
po – MDL apenas estarão prontos a gerarem Certificados de Emissão Reduzida,
se a minimização for, de fato, certificada por agentes competentes, o que impli-
ca que os projetos de MDL deverão sofrer um processo de avaliação e verifica-
ção de variáveis técnicas com rigor através de procedimentos preestabelecidos
na COP-7 (Conferência Internacional das Partes nº 7).
O primeiro estágio para a compra de “Créditos de Carbono” é a criação do
projeto de MDL, que precisa contemplar, necessariamente, a descrição deta-
lhada do negócio; a estrutura metodológica que será usada para computar os
créditos (que deve ser submetida à aprovação da ONU); e a forma de acompa-
nhamento do projeto.
O projeto, uma vez realizado, deve ser aprovado por uma EOD - Entida-
de Operacional Designada, agente privado, devidamente inscrito na ONU.
Após aprovação do projeto, ele deverá receber, então, uma concessão de
aprovação por meio de uma carta concedida pelo país em que o projeto se
localiza, através da Autoridade Nacional Designada. No Brasil, existe uma
Comissão Interministerial, que tem como objetivo acompanhar a transação
dos créditos de carbono e liberar a carta de aprovação.
Com a liberação da carta, liberada pela comissão, o projeto é encaminhado
à ONU para que seja devidamente registrado no Conselho Executivo do MDL.
O estágio seguinte é o processo de acompanhamento do projeto e, concluída a
verificação, o projeto recebe a Certificação de Emissões Reduzidas, que podem
ser vendidas no mercado.

138 • capítulo 5
Perspectivas
Corporações que se enquadram no grupo de países industrializados sofrem um
relevante impacto, diante dos desafios desenhados em Kyoto, haja vista que de-
verão atingir metas de emissão de gases potencialmente poluentes.
Em havendo o não cumprimento das metas, uma alternativa concedida a es-
ses países é o uso do mecanismo de compensação acordado no Protocolo, que
permite que as companhias dos países industrializados comprem os chamados
“créditos de carbono” de empresas localizadas em países em desenvolvimento.
Acredita-se que muitos dólares serão transacionados em virtude das metas não
atingidas em esfera mundial. O Brasil, por sua vez, detém potencial para absorver
um grande volume de créditos através de empresas que exploram atividades que se
adéquam nas normas do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).

ATIVIDADE
1.  O que você entende por mecanismo de desenvolvimento limpo?

2.  Como você avalia o reaproveitamento dos resíduos sólidos como uma ação voltada para
a educação ambiental?

REFLEXÃO
Como vimos neste capítulo, a preocupação mundial relacionada à sustentabilidade
e sua implementação tem sido cada vez mais objeto de estudo e debate na socie-
dade contemporânea. Fomos capazes também de refletir a respeito dos limites e
das possibilidades para a eficiência deste processo, considerando a atuação dos
organismos mundiais, dos grupos empresariais e da sociedade como um todo. Afi-
nal, os impactos positivos da efetivação da sustentabilidade são resultados deste
envolvimento coletivo com a causa tratada nesta disciplina. Façamos o nosso dever!

capítulo 5 • 139
LEITURA
LAYRARGUES, Philippe Pomier. Sistema de Gerenciamento Ambiental, Tecnolo-
gia Limpa e Consumidor Verde: a delicada relação empresa / meio ambiente no
ecocapitalismo. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/rae/v40n2/v40n2a09>.
Acesso em: 16 maio 2014.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Fernando. O Bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

HANSEN, Don R.; MOWEN, Maryanne M. Gestão de custos. São Paulo: Pioneira Thomson
Learning, 2001.

HAWKEN, Paul; LOVINS, Amory; LOVINS. Hunter. Capitalismo natural: criando a próxima
revolução industrial. São Paulo: Cultrix, 1999.

LODHIA, Sumit K. Environmental Accounting in Fuji: an extende case study of the Fuji Sugar
Corporation. Journal of Pacific Studies - Banking, Finance and Accounting Special Issue, v.
23, n. 2, p. 283- 309, November 1999.

ROMM, Joseph J. Um passo além da qualidade: como aumentar seus lucros e produtividade
através de uma administração ecológica. Tradução. Caetano Manuel Filgueira Pimentel. São
Paulo: Futura, 1996.

140 • capítulo 5

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