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autor do original
MARCELO DE ALMEIDA
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2015
Conselho editorial regiane burger, modesto guedes júnio
Diagramação fabrico
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.
Prefácio 7
Sustentabilidade 13
Responsabilidade social 16
Governança corporativa 18
Sustentabilidade e as empresas 20
RSC e sustentabilidade empresarial 22
7
1
Desenvolvimento
sustentável: empresa,
sociedade e meio
ambiente
1 Desenvolvimento sustentável: empresa,
sociedade e meio ambiente
OBJETIVOS
• Aprender o conceito de Desenvolvimento Sustentável.
• Aprender o conceito de Responsabilidade Social Corporativa – RSC.
• Aprender o conceito de Sustentabilidade Empresarial.
REFLEXÃO
Certamente você deve ter lido em jornais ou revistas discussões sobre sustentabilidade, bem
como a importância desse assunto dentro das corporações. A partir deste capítulo, vamos apre-
sentar como as empresas têm-se comportado em meio a esse conceito que já é uma tendência.
1.1 Introdução
10 • capítulo 1
O desenvolvimento do comércio deu-se com a ampliação do mercado con-
sumidor, pelas mudanças do processo produtivo e o ritmo de produção, resul-
tando em um crescimento expressivo do setor industrial.
A expansão da indústria foi responsável por alterar profundamente as con-
dições de vida dos trabalhadores e transformar a configuração dos centros ur-
banos. Além disso, o crescimento da indústria aumentou demasiadamente a
poluição do ambiente.
A queima do carvão mineral passou a despejar toneladas de poluentes na
atmosfera das cidades industrializadas e, a partir desse período, as pessoas já
conviviam com o ar poluído e outros efeitos oriundos desse progresso.
É certo que a industrialização trouxe consigo um reconhecido avanço eco-
nômico mundial, muito embora, desde seu apogeu, tem sido o principal canal
de destruição dos recursos naturais, promovendo desmatamentos, erosões,
emissões de poluentes, resíduos de materiais nucleares, extinção de espécies
de plantas de animais, além de deflagrar outros fenômenos indiretos como
efeito estufa, catástrofes, súbitas alterações climáticas, que colocam em risco
ou reduzem a qualidade de vida dos indivíduos.
A classe trabalhadora, mesmo com melhores condições comparadas à vida
no campo, aos poucos era submetida a maiores jornadas de trabalho, chegan-
do a cumprir 80 horas semanais. Em meados do século XIX começavam os pri-
meiros movimentos de operários.
Consolidada a transformação econômica estimulada pela indústria, a socie-
dade e o ambiente tornaram-se alvo de diversos efeitos positivos e negativos e
nenhum compromisso era atribuído ou cobrado dessas empresas.
Em meados do século XX começa a se falar em consciência ecológica e
desenvolvimento sustentável, destacando um importante papel por parte das
corporações em gerar riqueza com compromisso com o meio ambiente.
A sociedade começa a exigir uma nova postura das indústrias, restando aos
gestores a responsabilidade em continuar oferecendo produtos com qualidade
sem comprometer a natureza. Para isso, as indústrias começam a investir signi-
ficativamente em novos sistemas de produção, tecnologia e políticas para mudar
sua imagem, manter a qualidade de seus produtos e informar satisfatoriamente
não somente seus consumidores, como também sua ampla gama de stakehol-
ders. O conceito de uma empresa de sucesso foi cada vez mais se aproximando do
conceito de “empresa verde”, ou seja, com compromisso com o meio ambiente.
capítulo 1 • 11
Nesse momento, um novo ritmo e uma nova modalidade de investimen-
to passam a ser praticados pelas corporações, haja vista que a produção com
responsabilidade social gera custos no sentido de buscar novas tecnologias e,
principalmente, coletar e divulgar informações para os agentes interessados na
continuidade dos negócios.
Ademais, vive-se em uma economia plenamente capitalista, em que prevale-
ce a soberania dos disseminadores de riquezas. Desde o processo de Revolução
Industrial, nota-se a importância das empresas na vida das pessoas, no dese-
nho do cenário econômico de um país. E conduzindo os caminhos percorridos
ao longo de um processo de amadurecimento e consolidação de uma corpora-
ção, coexistem grandes gestores que, anacronicamente, trabalham e operam
no sentido único de se buscar lucratividade a qualquer custo.
Não obstante, uma importante contribuição a ser somada por um profissio-
nal contemporâneo é a qualidade das decisões tomadas em um negócio. Milha-
res de profissionais são lançados no mercado todos os anos que, munidos da
evolução das ferramentas contábeis, passam a ser grandes tomadores de deci-
são, grandes indutores de tendências na economia.
É inegável, nesse processo de transformação, a influência da Globalização
fomentando o aumento de sucursais, a expansão de empresas que pertencem
a diversos países, a múltipla gestão por profissionais de culturas diferentes, a
comercialização de produtos com diferentes padrões de qualidade, a demanda
de diferentes consumidores e diferentes questionamentos.
Começam a ser discutidas algumas proposições formais acerca de susten-
tabilidade.
12 • capítulo 1
Logo, pretende-se, no decorrer dessa disciplina, evidenciar ao aluno a re-
levância da discussão sobre sustentabilidade e responsabilidade social nas
empresas, da evolução dos impactos e dos questionamentos, e ressaltar empi-
ricamente que é possível traçar estratégias de crescimento e de continuidade
do negócio em consonância com o meio ambiente. Fomentar o senso crítico
profissional dos futuros tomadores de decisão sobre questões cruciais de des-
perdícios, de padrões de divulgação, de padrões de produção que, utilizados de
maneira eficiente, podem contribuir com a geração de valor ao acionista.
1.2 Discussão
Qual empresa tem maior potencial para contribuir com o Desenvolvimento Sus-
tentável: uma que investe bilhões de reais ao ano para preservar uma área na-
tiva distante de suas operações ou outra que investe menos de 100 mil reais ao
ano para tratar seus próprios resíduos? Qual empresa tem maior potencial para
contribuir ao Desenvolvimento Sustentável: uma que investe bilhões de reais ao
ano para educar uma comunidade sem relação com seus negócios ou outra que
investe menos de 100 mil reais ao ano para educar seus próprios funcionários?
Até o final desta disciplina poderemos responder a esses questionamen-
tos. Por enquanto, vamos aprender os conceitos: Desenvolvimento Susten-
tável, Responsabilidade Social Corporativa e Sustentabilidade Empresarial.
As empresas, sob a ótica das Finanças, operam para gerar valor ao acionista.
O Marketing complementa e considera que os negócios existem para atender
as necessidades do cliente. Economistas afirmam que a razão de existência da
companhia é reduzir custos de transação. Afinal, qual a função da empresa?
1.3 Sustentabilidade
capítulo 1 • 13
acerca do tema.
Em meio aos principais questionamentos no que tange o conceito de sus-
tentabilidade, insta a conjectura de que responsabilidade social e sustentabi-
lidade são conceitos idênticos. Entretanto, ambos são conceitos considerados
complementares. O que se identifica quando o conceito de sustentabilidade é
abordado, é a capacidade de produzir com menor impacto ambiental, minimi-
zando o consumo de materiais e gerando um menor montante de resíduos e
subprodutos para o meio ambiente.
O surgimento da Revolução Industrial trouxe consigo a ideia de que as gran-
des indústrias eram disseminadoras de riquezas e o desenvolvimento econômico
ocultou impactos que eram gerados pelas atividades industriais.
As indústrias não apenas tiveram, como ainda detêm um importante papel
de condução da economia, pois foram responsáveis pela alteração profunda
das condições de vida dos trabalhadores e pela transformação dos centros ur-
banos. Todavia, é inegável que o crescimento deste segmento gerou efeitos da-
nosos ao meio ambiente.
A discussão do tema sustentabilidade passou ocorrer com veemência na
mídia no início da década de 1990, em conferências internacionais. Na Agenda
21 – Eco 92, ocorrida no Rio de Janeiro – conferência em que foi estabelecida a
importância da participação dos países em firmar compromissos ambientais –,
foi criado o termo sustentabilidade. Tratou-se de um avanço na integração dos
papéis do governo, da sociedade, das ONGs e das corporações de modo geral.
A concepção que embasa a sustentabilidade é a consciência de que as enti-
dades são integrantes do mundo, e não somente agentes consumidores. A res-
sonância do crescimento sustentável recriou um novo papel nas corporações,
que passaram, em tese, a dialogar de forma mais transparente com o seu públi-
co de interesse (CIOFI, 2010).
Ainda segundo Ciofi (2010), ao longo dos anos, ferramentas para se criar um
canal de comunicação com esses agentes foram priorizadas, como relatórios
anuais e posteriormente relatórios anuais de sustentabilidade. Desse modo,
empresas do mundo todo têm visado atender as exigências de seus consumido-
res por meio da transparência, ética e responsabilidade sócio-ambiental.
Sustentabilidade resume-se pelo planejamento por parte das corporações
para que sejam consumidos recursos com eficiência e responsabilidade, pela
gestão dos impactos no meio ambiente, pelo estabelecimento de uma relação
harmoniosa com os funcionários, pela geração de riqueza com menor dano am-
14 • capítulo 1
biental e social, pela prestação de contas a todas as classes relacionadas. Desse
modo, coexistem princípios importantes de Governança Corporativa, Responsa-
bilidade Social e Responsabilidade Ambiental.
Governança
corporativa
Sustentabilidade Responsabilidade
social
Responsabilidade
ambiental
capítulo 1 • 15
1.4 Responsabilidade social
16 • capítulo 1
Responsabilidade
social
Econômico
Legal
Ético
Discricionário
capítulo 1 • 17
o ambiente como um todo precisa de ajuda. A conscientização da sociedade
e stakeholders de modo geral, ainda que embrionária, contribuiu para que a
postura de grandes corporações fosse questionada. Ao longo de aproximada-
mente cinco décadas, as empresas continuam com a figura de pilares impor-
tantes para economia, muito embora seu papel passa a ser não somente como
o de gerar de riqueza, como também de comportar-se como um cidadão com
responsabilidade social e ambiental (CIOFI, 2010).
Com o aumento da atuação e conscientização da sociedade civil e a conse-
quente pressão por maior responsabilidade socioambiental e transparência das
empresas, a relação com stakeholders tomou novo rumo, passando a ser “obri-
gatória” a prestação de contas a diversas partes interessadas (OLIVEIRA, 2002).
A ilustração a seguir contempla a evolução dos conceitos de responsabilida-
de social, bem como seus principais autores, ao longo do tempo:
Movimentos ambientalistas
18 • capítulo 1
mas também capital de terceiros diversificados e provenientes de fontes que
objetivem estimular a criação de meios sustentáveis. Essa tendência de alavan-
cagem pode ser promovida no intento de se reduzirem os custos das dívidas. O
primeiro procedimento adotado em virtude dos meandros do desenvolvimento
é a captação de recursos com custos relativamente mais baixos (CIOFI, 2010).
Um importante passo econômico foi a abertura de capital das empresas,
entretanto essa abertura traz consigo maior cobrança acerca da responsabi-
lidade para a corporação, em virtude da multiplicação de seus financiado-
res. Por meio da normatização de procedimentos administrativos, operacio-
nais e contábeis, a Governança Corporativa, bem como os seus princípios,
detém o poder e a tarefa de alterar e controlar a estrutura organizacional
de uma corporação. A razão da existência desta miríade de princípios é a
adequação da gestão corporativa aos interesses comuns da sociedade, dos
acionistas, do governo, entre outros stakeholders, incluindo a divulgação de
informações mais transparentes e responsáveis.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), a
Governança Corporativa baseia-se nos princípios de transparência, equidade,
prestação de contas (accountability) e ética. Ainda:
[...] é o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os re-
lacionamentos entre acionistas, conselho e administração, diretoria, auditoria indepen-
dente e conselho fiscal. As boas práticas de governança corporativa têm a finalidade
de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a sua
perenidade. (IBGC, 2009).
capítulo 1 • 19
Os conceitos de governança corporativa, sinteticamente, foram originados de
contextos de expansão, busca de recursos e conflitos de agência. Não obstante, a
evolução desse assunto adornou o papel da governança em prospectar e otimizar
a relação entre a corporação e seus fornecedores, empregados, clientes, governo
e concorrentes, além dos investidores.
Ao decorrer dos últimos anos, muitas empresas passaram a adotar princí-
pios de governança corporativa por razões de intensificar suas interações ver-
ticais, expondo maior transparência aos seus fornecedores, clientes e exibin-
do ao investidor que suas atividades não somente focam a lucratividade como
também o comprometimento com a sociedade e o ambiente (CIOFI, 2010).
Esse comportamento denota melhora da imagem da empresa como tam-
bém soma credibilidade, reduzindo os riscos de investimento, tendo em vista
que uma empresa que investe nas esferas sociais, ambientais e faz uso das me-
lhores práticas de gestão e divulgação têm menor probabilidade de apresenta-
rem problemas de continuidade.
Afinal, qual a função da empresa? Romm (1996), de forma sistêmica, reflete que
a empresa existe para ela mesma e para a sociedade onde está inserida. Quando a
firma é considerada como um sistema aberto, sua função se amplia e manter-se
em equilíbrio com outros sistemas passa a ser sua razão de existência. A empresa
gera valor ao acionista, atende às necessidades dos clientes e reduz os custos de
transação para ser um sistema sustentável e contribuir para sua continuidade e
do meio onde está inserida. Meadows (1982) amplia essa interdependência e ex-
plica que um sistema consiste num conjunto de elementos interligados.
Uma empresa pode ser compreendida como um sistema, pois representa
um conjunto de elementos inter-relacionados que trabalham integrados no de-
sempenho de determinadas funções. Há interdependência e interligação entre
os elementos internos e externos ao sistema empresa. A relação entre eles pode
influenciar o funcionamento da empresa e atingir a sociedade. Visualizar a em-
presa como um sistema aberto permite análise geral do negócio e proporciona
reflexão sobre sua responsabilidade social, pois elas são sistemas que intera-
gem com outros sistemas formando um todo. Diante disso, nota-se a importân-
cia de as empresas caminharem para a sustentabilidade, pois, para garantirem
sua continuidade, necessitam cuidar de certos elementos externos ao seu negó-
cio (MORTAL; MORTAL, 2005).
20 • capítulo 1
De forma genérica, Callenbach et al. (1999) visualizam a empresa como uma
célula que, independentemente do ramo do negócio – fabricação de mercado-
rias, prestação de serviços ou manipulação de informações –, dá ingresso a al-
guma coisa, processa de várias formas e gera novos produtos e resíduos. As ati-
vidades de processamento de serviços e produtos fazem parte de um fluxo e
representam o fluxograma do negócio (metabolismo da célula). Este é formado
pelo conjunto de relações entre os elementos internos e externos à empresa en-
volvidos com o negócio. A qualidade dessas relações influencia na continuida-
de da empresa. Então, como uma célula, a empresa é interdependente e interli-
gada com seu meio externo, vive para si própria e para o meio ao qual pertence.
Ademais, Sá (2001) e Borger (2001) visualizam uma empresa como uma cé-
lula social. Isso significa que, se o objetivo do negócio for somente o lucro sem
oferecer benefícios a terceiros, a empresa poderá ser nociva ao meio onde está
inserida. Sendo nociva à sociedade, certamente será ruim para a si própria. Se-
gundo as ideias retroexplanadas, as empresas são interdependentes e interliga-
das à economia, à sociedade e aos ecossistemas. Por isso, a qualidade de suas
relações com todos os elementos ao seu redor influencia na continuidade de
seus negócios. Percebe-se que isso estimula as empresas a repensarem sobre
suas responsabilidades perante a sociedade para conseguir manter-se no mer-
cado e gerar valor ao acionista. As firmas estão descobrindo que ser responsável
socialmente pode resultar em benefícios ao negócio.
A UN (2007) define desenvolvimento sustentável como o desenvolvimento
que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das
futuras gerações em satisfazerem suas próprias necessidades. Desenvolver sus-
tentavelmente significa promover o desenvolvimento econômico concomitan-
temente à preservação do meio ambiente e relações justas de trabalho. O termo
desenvolvimento sustentável define como práticas empresariais sustentáveis
aquelas que conseguem oferecer produtos e serviços que satisfaçam as neces-
sidades de seus clientes e gerem valor aos acionistas sem comprometer a conti-
nuidade da sociedade e dos ecossistemas conectado às suas operações.
Bebbington (2001) explica que não pode confundir o termo Desenvolvimen-
to Sustentável com gestão ambiental, pois esse está dentro daquele. Aliás, po-
demos tomar o cuidado de não confundir Desenvolvimento Sustentável com
Responsabilidade Social Corporativa ou Sustentabilidade Empresarial. Esses
últimos são para empresas e aquele, para sistemas econômicos de países.
capítulo 1 • 21
Desenvolvimento Sustentável Sistema Econômico País
Responsabilidade Social Corporativa Empresas
Sustentabilidade Empresarial Empresas
ATENÇÃO
Lembre-se da palavra Integrar para conceituar sustentabilidade empresarial!
Econômico
Ecológico Social
Integrar
22 • capítulo 1
Ao mesmo tempo em que proporciona valor aos seus acionistas, a empresa
também pode fornecer educação, cultura, lazer e justiça social à comunidade,
além da proteção da diversidade e dos ecossistemas. Assim, na busca por sus-
tentabilidade, ações são programadas para obter desempenho social, ecológi-
co e econômico. Devido ao destaque dado ao desenvolvimento sustentável nos
encontros e fóruns internacionais, Souza (2003) afirma que a variável de grande
relevância nos anos 1990 foi a preservação do meio ambiente e o social. Certa-
mente, as empresas, ao perceberem essa tendência, planejam ações ecológicas e
sociais para atender às necessidades de seus acionistas e demais colaboradores.
Outro fato que justifica a relevância da inserção da variável proteção do
meio ambiente e das relações de trabalho no planejamento estratégico das em-
presas foi a criação, em 1991, do Conselho Empresarial para o Desenvolvimen-
to Sustentável (Business Council for Sustainable Development). Órgão ligado à
ONU, objetiva estimular a comunidade internacional de empresários a refletir
sobre o desenvolvimento industrial sustentável (SOUZA, 2003).
Nota-se que a tendência de inserir o meio ambiente e o social no planeja-
mento das empresas estimulou a criação de um conselho vinculado à ONU
para discutir novas maneiras de se produzir produtos e serviços sem agredir os
ecossistemas. Há também outro fator que contribui para reforçar essa tendên-
cia. Souza (2003) cita os selos Green Cross e Green Seal, que são endossados por
duas organizações privadas nos EUA que revisam produtos e os concedem às
empresas que alcançam os padrões exigidos como embalagem, biodegradabi-
lidade, eficiência energética e o uso sustentável de recursos.
Uma empresa pode inserir a variável proteção do meio ambiente em seu
planejamento estratégico, obter tais selos e conseguir participar de um mer-
cado novo ou que seu concorrente selado já opera. Dentro mesmo das empre-
sas os gestores estão conscientes em relação ao desenvolvimento sustentável.
Em uma pesquisa realizada pela Harvard Business Review, foi demonstrado o
interesse de empresários e executivos pela proteção do meio ambiente. Isso
significa que muitas empresas estão em busca do desenvolvimento industrial
sustentável (SOUZA 2003).
Certamente, gerentes conscientes ecologicamente terão maiores possibilida-
des de encontrar soluções lucrativas para os problemas ambientais do que outros
sem conhecimento ambiental. Existe um dado para as empresas que objetivam ter
maior participação no mercado externo: Souza (2003) constatou que empresas bra-
sileiras com desempenho ambiental positivo são aquelas como maior inserção no
capítulo 1 • 23
mercado internacional. Assim, percebe-se que o mercado externo pode funcionar
como estimulante para a manutenção de ações ecológicas empresariais.
Ademais, há também a consciência ecológica de órgãos financiadores in-
ternacionais dos processos produtivos. Raupp (2002) cita o Banco Interameri-
cano de Desenvolvimento (BID), que exige como condição para concessão de
empréstimos uma política ambiental por parte dos tomadores. A consciência
ecológica do investidor e as oportunidades de reduzir custos operacionais e
financeiros, somadas à situação preocupante em que se encontra o meio am-
biente, influenciam as empresas a inserir a proteção dos ecossistemas em seus
planejamentos estratégicos. Por isso, muitas empresas mantêm ações que têm
o objetivo de minimizar o impacto ambiental de suas operações.
As firmas podem investir na proteção do meio ambiente, por meio de pro-
gramas como tratamento de efluentes, reaproveitamento de água, reciclagem,
separação e tratamento de sucata, melhorias ambientais no processo produti-
vo, educação ambiental etc. Esses programas podem resultar em benefícios às
empresas. Os resultados do artigo de Hassel et al. (2001) indicam que desem-
penho ambiental positivo pode aumentar o valor de mercado de empresas, e
Vellani e Nakao (2003) concluem que investimentos ambientais podem reduzir
custos. Esses estudos indicam que pode haver integração entre desempenho
econômico e ecológico. Dados assim necessitam ser divulgados e ampliados
para que as empresas conheçam as possibilidades de benefícios econômico-
financeiros provenientes da manutenção de ações ecológicas.
Além disso, Callenbach (1999) defende que os investidores e os acionistas
estão, com o passar do tempo, utilizando indicadores de sustentabilidade eco-
lógica, no lugar da estrita rentabilidade, como critério para avaliar o posiciona-
mento estratégico de longo prazo das empresas. Esse talvez seja um dos mais
importantes estímulos para a inserção da proteção do meio ambiente no dia a
dia dos negócios. Quando os acionistas e investidores exigem a manutenção de
ações ecológicas, os executivos têm que corresponder.
Nesse mesmo sentido, Donaire (1999) explica que os indicadores sobre a
contribuição da empresa ao desenvolvimento sustentável e de enriquecimento
dos acionistas podem ser utilizados de forma complementar para informar so-
bre a capacidade de retorno de um investimento. Um negócio que não pondera
a proteção do meio ambiente pode ter seu risco aumentado devido à emissão
de algum resíduo que venha contaminar os ecossistemas e a sociedade.
24 • capítulo 1
Essa contaminação pode influenciar na continuidade do negócio, pois o
fluxo de caixa futuro trazido a valor presente pode ficar comprometido. O risco
do negócio pode ser definido como toda a probabilidade que uma organização
tem de não atingir os seus objetivos. Muitas vezes, a poluição pode acarretar
penalidades, multas, paralisação das operações e causar prejuízos aos acionis-
tas. Logo, cria-se uma probabilidade de a empresa não atingir suas metas e de
o risco do negócio aumentar.
Usar os recursos naturais de forma sustentável e efetuar investimentos na
proteção dos ecossistemas pode reduzir riscos. Risco menor, maior a proba-
bilidade de a empresa honrar seus compromissos. Portanto, manter ações
ecológicas empresariais pode ser um indicador da capacidade de retorno de
um investimento. As Nações Unidas (ONU, 2001) explicam, que à medida que a
sustentabilidade, a gestão do risco e o controle dos processos começam a ser re-
levantes para o alcance dos objetivos de um negócio, os gestores e os auditores
das Demonstrações Contábeis ficam também cada vez mais interessados nas
informações sobre a relação da empresa com seu meio ambiente.
Além de reduzir o risco do negócio, as empresas podem obter ganhos eco-
nômico-financeiros com a manutenção de ações ecológicas. Brown (2002), Cal-
lenbach et al. (1999), Romm (1996), Kinlaw (1997), Berry e Rondinelli (1998),
Donaire (1999), Hawken, Lovins e Lovins (1999), Sharf (1999), Hassel, Nilsson
e Nyquist (2001), Velasco, Moori e Popadiuk (2001), Hansen e Mowen (2001),
Almeida (2002), Boneli (2002), Andrade, Tachizawa e Carvalho (2002), Faria
(2002), Alberton (2003), Ribeiro e Souza (2004), Tinoco e Kraemer (2004), Ri-
beiro (2005) e Ben, Schneider e Pavoni (2005) citam casos de empresas que in-
vestiram na proteção ambiental e obtiveram redução de custos, incremento de
receitas ou melhoria da imagem.
Outros benefícios podem ser obtidos com a manutenção de atividade so-
ciais. Por exemplo, uma empresa trata bem seus funcionários e consegue alta
produtividade em relação ao seu setor. Porém, muitas vezes a manutenção de
ações ecológicas e sociais empresariais não gera benefícios econômico-finan-
ceiros para a empresa e, mesmo assim, não são abandonados, pois podem ser-
vir para atender à legislação ambiental.
Berry e Rondinelli (1998) explicam que os gastos em proteção ambiental,
num primeiro momento, são incorridos em ações ecológicas de conformi-
dade. A primeira atividade ambiental programada pode ser para adequar
o processo produtivo à legislação ambiental. Com o passar dos tempos, as
capítulo 1 • 25
empresas veem oportunidades com a sustentabilidade ecológica e, então,
passam a investir em projetos que agregam valor aos resíduos.
Por causa de exigências legais, contratuais, oportunidades de redução de cus-
tos, incremento de receitas e melhora na imagem corporativa, as empresas pon-
deram o conceito de desenvolvimento sustentável em suas tomadas de decisões.
Bebbington e Gray (2001) refletem sobre a necessidade de as empresas inserirem
o conceito de desenvolvimento sustentável na elaboração dos relatórios contábeis.
Esse conceito está cada dia mais presente no planejamento estratégico das
companhias, haja vista as ações empreendidas e fartamente divulgadas por
meio da grande mídia e da expressiva quantidade de relatórios de sustentabili-
dade publicados. As empresas podem transformar seus Relatórios Anuais em
verdadeiros Relatórios de Sustentabilidade.
O Relatório Anual pode ser utilizado pelas empresas para fornecer informa-
ções aos diversos públicos da sociedade sobre a evolução e atuação de seus negó-
cios em determinado período. Documento oficial corporativo, o Relatório Anual
apresenta as informações do Relatório da Administração, juntamente com as De-
monstrações Contábeis, acompanhadas dos pareceres dos Auditores Indepen-
dentes e do Conselho Fiscal. Podem conter gráficos, fotografias e tabelas.
Conforme Iudícibus, Martins e Gelbcke (2003), a Comissão de Valores Mo-
biliários – CVM faz recomendações sobre o conteúdo do Relatório de Adminis-
tração. No Parecer de Orientação nº. 15/87 citam-se itens que nele devem cons-
tar. Um desses itens é a divulgação de informação sobre a proteção do meio
ambiente por parte da empresa. Ou seja, nessa parte do Relatório Anual pode
conter exemplos de ações ecológicas empresariais.
Baseado em SustainAbility (1994) e SustainAbility & United Nations Envi-
ronment Programme (1997), Bebbington e Gray (2000) explicam que as empre-
sas podem ser classificadas conforme o grau e qualidade da divulgação de in-
formações sobre sua relação com os ecossistemas. Há cinco estágios:
• Verde Lustroso: neste primeiro estágio, há pouca informação no Relató-
rio Anual sobre a relação da empresa com os ecossistemas;
• Político: a empresa divulga apenas sua política ambiental no Relatório
Anual;
• Descritivo: aqui já começa a ser divulgado no Relatório Anual informa-
ções sobre o sistema de gestão ambiental da companhia com muito tex-
to, mas pouca figura;
26 • capítulo 1
• Estado da Arte: aqui a empresa informa seu desempenho ambiental de
forma completa. Divulga informações físicas e monetárias. Informações
no nível corporativo, unidade de negócio, linha de produto (ou serviço) e
por unidades de produto (ou serviço). Tudo mais bem detalhado e repor-
tado no Relatório Anual da companhia;
• Sustentabilidade: divulgação sobre a contribuição da empresa para o de-
senvolvimento sustentável das sociedades. Informam os aspectos eco-
nômicos, sociais e ecológicos do negócio por meio de indicadores físicos
e monetários. Nesse estágio, o Relatório Anual passa a ser divulgado com
o nome “Relatório de Sustentabilidade”.
Observa-se que há, ainda, outros dois conceitos relacionados com o de De-
senvolvimento Sustentável: “a Responsabilidade Social Corporativa” e “a Sus-
tentabilidade Empresarial”. Ambos possuem o mesmo objetivo: integrar os
aspectos econômicos, sociais e ecológicos das empresas.
Sustentabilidade
Estado da Arte
Descritivo
Político
Verde
Lustroso
Sustentável pode ter muitos significados. Pode qualificar tudo aquilo que se
mantém ou ser atribuído a algo ininterrupto, cíclico, com perspectiva de conti-
nuidade. As características e a sustentabilidade das comunidades resultam das
interações entre o meio ambiente, a economia e sociedade. Assim, muitas em-
presas interessadas na sustentabilidade empresarial podem manter ações para
integrar o bottom line econômico, social e ambiental.
A inserção da Sustentabilidade Empresarial nos processos de decisão das or-
ganizações, das instituições e principalmente das empresas se mostra relevan-
te para a continuidade de seus negócios (da parte) e da sociedade em geral (do
capítulo 1 • 27
todo). Por isso, as firmas podem ponderar a sustentabilidade em seus processos
decisórios e inseri-la no seu planejamento estratégico.
Como conceitos amplos, a Responsabilidade Social Corporativa e a Sustentabi-
lidade Empresarial abrangem certas relações da empresa com as partes envolvidas
no seu contexto mercadológico. A CSR (2006) considera que a responsabilidade so-
cial não possuiu uma definição universal e pode ser percebida pelo setor privado
como uma maneira de integrar a variável econômica, social e ecológica. A Sustenta-
bilidade Empresarial (ou RSC) pode ser visualizada como um conjunto de atitudes
nas seguintes dimensões:
Governança corporativa: o conjunto de valores relacionados com a gover-
nança corporativa influencia a ética dos executivos e no gerenciamento de seus
negócios. Empresa ética na gestão de seus negócios significa comprometimen-
to com a transparência. Exemplos: cumprimento da ética em todos os proces-
sos gerenciais que envolvam a empresa e a aplicação dos conceitos da gover-
nança corporativa em seus negócios → já abordada anteriormente.
• Relação com os colaboradores internos: a maneira como a empresa se re-
laciona com os funcionários e os sindicatos podem criar um ambiente
de trabalho saudável. Exemplos: programas de educação, esporte e pla-
no de carreira.
• Relação com fornecedores: o relacionamento da empresa com seus for-
necedores pode fortalecer os dois lados ao transacionar de forma ética e
justa. Exemplos: parcerias transparentes entre a empresa e seu fornece-
dor e exigência de documentos que comprovem atitudes de responsabi-
lidade social e ecológica por parte dos fornecedores.
• Relação com os consumidores: avaliar as possibilidades de danos aos con-
sumidores desde a retirada da matéria-prima até o descarte final pode ser
um indicador de RSC. Exemplos: programa com os consumidores para
avaliar alguma qualidade de certo produto e programa de pós-venda.
• Relação com comunidade, sociedade e governo: iniciativas, parcerias, estraté-
gias de atuação na comunidade como forma de diminuir a desigualdade so-
cial e a participação em projetos públicos para ajudar o governo a satisfazer
os desejos da coletividade contribui ao Desenvolvimento Sustentável. Exem-
plos: programas de alfabetização, assistência médica, eventos culturais etc.
à comunidade externa à empresa.
• Relação com os investidores: informar seu desempenho econômico com
transparência aos seus investidores e indicar os riscos inerentes ao negó-
cio são atitudes empresas antenadas com a Sustentabilidade Empresarial.
28 • capítulo 1
Manter um departamento chamado Relações com Investidores, principal-
mente as S.A. de capital aberto, pode ser um início. Enfim, relacionar de for-
ma transparente e de forma profissional com todos os acionistas da empre-
sa. Transparente significa o gestor permitir o acesso à realidade. Informar
ao acionista a verdadeira situação econômico-financeira do negócio.
• Relação com o meio ambiente: a eficiência na utilização dos recursos natu-
rais, o controle de emissão de resíduos e a adoção de tecnologias limpas
em seu processo produtivo são atitudes de RSC que auxiliam as empresas
a se tornarem ecológicas e, com isso, cumprem seu papel social de man-
ter a saúde dos ecossistemas interdependentes e interconectados ao seu
negócio. Exemplos: programas de tratamento de efluente, principalmente
aqueles que possibilitem a recirculação da água, reciclagem de resíduos,
ações para redução de emissões, preservação e recuperação.
Observa-se que a dimensão social foi dividida em cinco. Cinco com mais
uma econômica e uma ecológica são sete dimensões da Sustentabilidade Em-
presarial. Um país, ao ponderar a variável ambiental em suas decisões, elabora
leis para proteger os ecossistemas da poluição gerada pelas empresas. A Legis-
lação Ambiental do Brasil pode ser relevante em estudos elaborados dentro da
contabilidade, pois fornecem dados que servirão para as companhias avalia-
rem e planejarem os gastos necessários para deixar o negócio em situação de
conformidade legal.
CONEXÃO
Visite o site do Ministério do Meio Ambiente (www.mma.gov.br) e descubra o significado da
sigla CONAMA.
capítulo 1 • 29
Art. 225: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
REFLEXÃO
Lembre-se de que a legislação trabalhista é estudada em outra disciplina. Já a legislação
ambiental é tratada a seguir.
30 • capítulo 1
O art. 2º da lei 9.605/98 considera também responsável “[...] o diretor, o
administrador, o membro de conselho e órgão técnico, o auditor, o gerente, o
preposto ou mandatário da pessoa jurídica que, sabendo ou devendo saber da
conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática quando podia
agir para evitá-la.” Entende-se que assim foi acolhida a teoria da coautoria ne-
cessária entre agente individual e ente moral. O art. 4º da referida lei dispõe
sobre a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica “[...] sempre que
sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qua-
lidade do meio ambiente”. A lei 9.605/98, em seu art. 24 trata sobre a possibili-
dade da pessoa jurídica, que for criada e/ou utilizada para, por exemplo, permi-
tir a prática de crime, poder ter liquidação forçada e seu patrimônio, então, será
perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional.
O Capítulo II refere-se à aplicação da pena, suas modalidades – quanto às
penas aplicáveis às pessoas jurídicas, o juiz tem a discricionariedade de con-
dená-las à multa, penas restritivas de direito (art. 22) e prestação de serviço à
comunidade (art. 23), isolada, cumulativa ou alternativamente (art. 21). Sobre
essas disposições, críticas estão sendo formuladas, diante da discricionarieda-
de que se ofertou ao juiz. No Capítulo V são tipificados os crimes contra o meio
ambiente (dos crimes contra a fauna – art. 29 a 37; dos crimes contra a flora
– art. 38 a 53; dos crimes de poluição e outros crimes ambientais – art. 54 a 61;
dos crimes contra o ordenamento urbano e patrimônio cultural – art. 62 a 65;
dos crimes contra a administração ambiental – art. 66 a 69). Cumpre ressaltar
que essa parte deixou de prever o crime de poluição sonora (art. 59, vetado pelo
Presidente da República).
Por fim, o Capítulo VI dispõe sobre as infrações administrativas; o Capí-
tulo VII trata da cooperação internacional para a preservação do meio am-
biente; e o Capítulo VIII refere-se às disposições finais. A Lei nº 9605/98 cer-
tamente estimula as empresas a manterem ações ecológicas empresariais
com o objetivo de permanecer em situação de conformidade em relação à
legislação ambiental. Assim, evita-se o risco de sofrerem penalidades, in-
correr a custos e interferir na continuidade de seu negócio.
Vale lembrar, ainda, que existe o Conselho Nacional do Meio Ambiente –
CONAMA. Esse órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio
Ambiente - SISNAMA foi instituído pela Lei 6.938/81 e dispõe sobre a Política
Nacional do Meio Ambiente, regulamentada pelo Decreto 99.274/90. O CONA-
MA é responsável por atos como Resoluções, Moções e Recomendações que
capítulo 1 • 31
podem exigir investimentos em ações ecológicas empresariais, regulamentar
alguma atividade ambiental mantida pelas empresas e até fomentar ideias ino-
vadoras para os problemas ambientais.
Martins e Ribeiro (1995) explicam que o governo, ao aprimorar sua legis-
lação ambiental com estabelecimento de parâmetros técnicos sobre a emis-
são de resíduos, estimula empresas a buscar soluções para os seus proble-
mas de poluição. Nesse contexto, os executivos criativos podem transformar
uma adequação ecológica em uma vantagem competitiva.
Porter e Van der Linde (1995) desenvolveram uma hipótese de que os con-
troles ambientais não representam uma ameaça à empresa, mas uma oportu-
nidade. Provavelmente porque as legislações ambientais forçam as empresas a
buscar soluções tecnológicas para produzir produtos novos e ambientalmente
corretos. Desse modo, convergem para as exigências atuais dos consumidores
e grupos de interesse.
Você Sabia?
Compliance é um termo da língua inglesa que significa ‘conformidade’. Nesse sentido,
as empresas mantêm ações ecológicas para adequar projetos ou processos em conso-
nância com determinadas exigências contratuais.
Apesar de existirem vários tipos de exigências contratuais, este material expõe so-
mente as encontradas em Vellani e Ribeiro (2009). Por isso, as certificações da série
ISO 14.000 (ISO 14.001 é uma subsérie da ISO 14.000), SA8.000 (semelhante a ISO
14.000, mas voltado ao social), NBR16.001 (Sistema de Gestão de Responsabilidade
Social), os Princípios do Equador e a Agenda 21 estarão presentes neste material.
Expandindo conhecimentos
32 • capítulo 1
Revista Época Negócios – 22/09/2010
<http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI173853-16381,-
00-A+PEGADA+DE+CARBONO+DE+UMA+XICARA+DE+CAFE.html>
capítulo 1 • 33
ATIVIDADE
1. Defina sustentabilidade empresarial, reflita sobre a relação desse conceito com a admi-
nistração, e cite as sete dimensões da Sustentabilidade Empresarial.
2. O que significa a empresa começar no Verde Lustroso e chegar ao estágio Sustentabilidade?
REFLEXÃO
Neste capítulo você aprendeu os principais conceitos relacionados à temática da sustentabi-
lidade, bem como a amplitude do assunto, passando por responsabilidade social, compromis-
so ambiental e governança corporativa. Essa abordagem genérica permite a compreensão da
importância da sustentabilidade e sua relação com as empresas. Também foi exposta a evo-
lução do conceito de responsabilidade social e discutidas as classificações quanto ao nível de
divulgação que as corporações apresentam ao longo da continuidade de seus negócios.
Esse capítulo é importante para que o aluno compreenda a amplitude do assunto e tenha
noção ainda do que virá pela frente.
LEITURA
LIMA, Gustavo da Costa. O discurso da sustentabilidade e suas implicações para a educa-
ção. Revista Ambiente & Sociedade, vol. 6, n. 2, jul./dez. 2003. Disponível em: 13 mai. 2014.
<http://www.redalyc.org/pdf/317/31760207.pdf>. Acesso em: 13 maio 2014.
34 • capítulo 1
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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tabilidade e Finanças, São Paulo, FIPECAFI, FEA-USP, n. 35, p. 54-67, Maio/Ago. 2004.
BOWEN H. R. Social responsibilities of the businessmen. New York: Harper & Row, 1953.
CIOFI, José Leandro. Uma investigação nível de sustentabilidade das companhias de papel e
celulose e a influência das informações financeiras sobre a qualidade da divulgação socioam-
biental. 2009. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
(FEARP-USP). Ribeirão Preto, 2010.
capítulo 1 • 35
DONAIRE, Denis. Gestão ambiental na empresa. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
Equator Principles. A Benchmark for the Financial Industry to Manage Social and
GRAY, R.; BEBBINGTON, K. J.; WALTERS, D. Accounting for the Environment. Paul Chapman:
London, 1993.
HASSEL, Lars; NILSSON, Henrik; NYQUIST, Siv. The value relevance of environmental perfor-
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2001, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro, California State University, 2001.
KRAEMER, Maria Elisabeth Pereira. TINOCO, João Eduardo Prudêncio; Contabilidade e gestão
ambiental. São Paulo: Atlas, 2004.
MCGUIRE, J. B.; SUNDGREN, A.; SCHNEEWEIS, T. Corporate social responsibility and financial
performance. Academy of Management Journal, v. 31, n. 4, p. 854-872, 1988.
MEADOWS, Donella. Whole earth models and systems. Coevolution Quartery, ABI/INFORM Glo-
bal, v. 34, p. 20-30, Summer 1982.
OLIVEIRA, J. A. P. Uma avaliação dos balanços sociais das 500 maiores. RAE eletrônica, v. 4, n.
1, art. 2, Jan./Jul. 2005.
36 • capítulo 1
PRADO, Alessandra Rapassi Mascarenhas. A lei n. 9.605/98 e a responsabilidade penal da pes-
soa jurídica. Revista da Faculdade de Direito de Guarulhos, Guarulhos, v. 2, n. 2, p. 57 a 70, jan./
jun. 2000.
SÁ, A. L. A função social do contabilista. Revista Mineira de Contabilidade. Belo Horizonte, n. 03,
p. 24-27, abr/jun. 2001.
SÉGUIN, Elida; CARRERA, Francisco. Lei dos crimes ambientais. Rio de Janeiro: Editora Espla-
nada, 1999.
SUSTAINABILITY; United Nations Environment Programme. The 1997 Benchmark Survey: The
third international progress report on company environmental reporting. London: SustainAbility
and United Nations Environment Programme, 1997.
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
A seguir, colocaremos em debate o consumo versus o consumismo e também os incentivos
legais existentes na atualidade para que as empresas primem pela prática da responsabili-
dade social.
capítulo 1 • 37
2
Questão ambiental
e consumo
2 Questão ambiental e consumo
Neste capítulo, veremos como a sociedade contemporânea concebe a questão
do consumo para além das suas necessidades, gerando, assim, o consumismo.
Consideraremos também os benefícios empresariais para as organizações que
têm colocado a responsabilidade social como fundamento presente no alcance
de suas metas.
OBJETIVOS
• Debater o consumo na atualidade;
• Possibilitar a capacidade de identificar as características e requisitos das questões envol-
vendo o meio ambiente e a sociedade de consumo;
• Apresentar a forma como as principais entidades brasileiras e mundiais têm se envolvido
com a questão ambiental e o consumo.
REFLEXÃO
Seguramente, você ouviu dizer que a humanidade passa por sérios problemas ambientais
e também que grande parte da população mundial consome sem precedentes. Da mesma
forma, deve ter percebido que há uma preocupação de segmentos da sociedade com relação
a esta situação. Então, vamos ver se esta equação é ou não possível na contemporaneidade.
Introdução
40 • capítulo 2
Nos últimos anos, é válido salientar que tivemos alguns avanços no modo de
pensar e de agir das pessoas, mas a ação ainda mais desafiadora se refere a influen-
ciar e modificar o que a sociedade, de maneira geral, pensa em relação ao consumo.
De forma geral, o consumo na sociedade do início do século XXI tem sido bastante
estimulado pela mídia e também pelo governo, interessado em incentivar o cresci-
mento econômico, possibilitando assim a geração de empregos e impostos.
Embora uma considerável parcela da população mundial sinta-se satisfei-
ta com o maior acesso a bens e serviços ofertados no mercado de consumo, é
válido ressaltar que consumir não significa necessariamente melhorar a qua-
lidade de vida.
Conforme Baudrillard (1981, p.11), o consumo ocupa espaço ímpar na con-
temporaneidade, e, a partir dele, as relações humanas vão se moldando: “o con-
sumo surge como modo ativo de relação, como modo de atividade sistemática e
resposta global, que serve de base a todo o nosso sistema cultural”.
Por este viés, percebemos que a necessidade do consumo nem sempre se re-
laciona ao bem consumido, pois muitas vezes as pessoas são levadas pela nor-
matização de um padrão que prioriza este consumo, entendido dessa forma
como consumismo:
Raros são os objetos que hoje se oferecem isolados, sem o contexto de objetos que
os exprimam. Transformou-se a relação do consumidor ao objeto: já não se refere a tal
objeto na sua utilidade específica, mas ao conjunto de objetos na sua significação total
(BAUDRILLARD, 1981, p.17).
capítulo 2 • 41
considera o consumismo como um ato alienado. Em outros termos, se os tra-
balhadores eram suscetíveis a uma dominação imposta pelos seus patrões, na
mesma linha de raciocínio, os consumidores são vistos como alienados pelo
consumo exacerbado ditado pelo mercado.
Por outro lado, temos visto também parte do mundo empresarial envolvida
em ações voltadas para uma espécie de prestação de contas à sociedade, imbuí-
da na perspectiva de equilibrar a preocupante questão relacionada ao consumo
na atualidade.
Balanço social trata-se de uma demonstração que contempla uma gama de in-
formações acerca de projetos, ações sociais, benefícios concedidos aos empre-
gados, analistas, investidores e comunidade, que é publicada anualmente por
livre iniciativa de uma corporação, um instrumento estratégico de divulgação
da responsabilidade social.
Nesse demonstrativo, a empresa visa evidenciar o que faz em prol de
seus profissionais, colaboradores e comunidade, conotando transparência
em relação às ações que buscam melhorar a vida das pessoas. A principal
função é tornar a responsabilidade social empresarial pública a todos os
stakeholders, aproximando a empresa da sociedade e do meio ambiente.
Sinteticamente, é uma importante ferramenta que pode ser utilizada pelos
gestores no sentido de divulgar boas práticas, além de agregar valor à companhia.
Em meados da década de 1970, a ideia de divulgação de informações deste
tipo se iniciou no Brasil, muito embora apenas na década de 1980 tenham surgi-
do, efetivamente, os primeiros balanços sociais. Já na década de 1990, diversos
setores passam a aderir à divulgação do balanço social.
É importante destacar a relevância da atuação do sociólogo Herbert de Sou-
za, conhecido nacionalmente como Betinho, que, em 1997, dá início a uma am-
pla campanha pela divulgação do balanço social no Brasil. Por meio de parce-
rias com diversas empresas, a campanha ganhou forças e vem discutindo em
diversos meios de comunicação a importância da divulgação de informações
sociais. O trabalho desse sociólogo contribuiu com a evolução cultural das cor-
porações brasileiras em praticar a divulgação espontânea do balanço social.
Segundo o Ibase – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
–, o balanço social favorece a todos os grupos que interagem com a empresa.
42 • capítulo 2
Aos dirigentes fornece informações úteis à tomada de decisões relativas aos
programas sociais que a empresa desenvolve. Seu processo de realização es-
timula a participação dos funcionários e funcionárias na escolha das ações
e projetos sociais, gerando um grau mais elevado de comunicação interna e
integração nas relações entre dirigentes e o corpo funcional.
De modo geral, aos stakeholders o balanço social informa os valores da res-
ponsabilidade social na filosofia da corporação e, mais do que isso, evidencia
como a empresa é administrada. Em tese, promove-se a ideia de qual o perfil
dos gestores e o caminho escolhido pela corporação para dialogar com a socie-
dade e construir sua marca.
O balanço social trata basicamente de um modelo padrão de informações
que deve ser rigorosamente seguido pelas empresas que optam pela divulgação
de informações sociais.
A ideia é permitir que com esse modelo, assim como todas as informações
contábeis, seja possível equiparar e comparar empresas de distintos segmentos
e suas atuações que tangem os aspectos de responsabilidade social. A simplici-
dade do modelo já garante um maior envolvimento por parte de corporações.
O conteúdo das informações permite comparabilidade entre as empresas, in-
dependentemente do tamanho ou do setor delas, conforme anunciado a seguir
no Portal Ibase:
capítulo 2 • 43
Um ano após a criação do modelo de balanço social, 1998, o
Ibase lança o Selo Balanço Social Ibase/Betinho, rotulando
todo ano as corporações que optaram pela publicação do ba-
lanço social de acordo com a metodologia proposta. Por meio
desta proposta, as empresas poderiam divulgar nos mais diver-
sos veículos de comunicação que estão voluntariamente forne-
cendo informações de caráter social.
Um ano após a criação do modelo de balanço social, 1998, o Ibase lança o Selo Balanço
Social Ibase/Betinho, rotulando todo ano as corporações que optaram pela publicação
do balanço social de acordo com a metodologia proposta. Por meio desta proposta, as
empresas poderiam divulgar nos mais diversos veículos de comunicação que estão volun-
tariamente fornecendo informações de caráter social.
44 • capítulo 2
pressão por políticas públicas com embasamento social. No Brasil, o apoio à
responsabilidade social se firma após a década de 90, como consequência da
criação de ONGs (Organizações Não Governamentais).
Em virtude das falhas do Estado em atender as rigorosas pressões sociais,
corporações passam a aumentar suas atuações e se apresentarem de forma
mais proativa, no sentido de promover um discurso social mais ético e justo.
Em alinhamento com estas razões, em face de uma ascendente cobrança
por transparência, hoje não apenas é necessário que uma empresa atue com
responsabilidade, mas que mostre os resultados auferidos. Nesse sentido, cor-
porações expõem sua performance social e financeira em relatórios corporati-
vos de distintos formatos e layouts.
O formato intitulado de Balanço Social pode ser identificado com dife-
rentes formatos e não existe exigibilidade legal para sua publicação. Layouts
modernos exibem edições mais requintadas, com apelo visual ou apenas uma
coletânea de informações quantitativas que mostram o resultado social e am-
biental das corporações. A filosofia nos bastidores dos relatórios sócio-am-
bientais reza que as empresas necessitam prestar contas não somente aos
seus investidores, como também para seus mais diversos stakeholders, gru-
po que contempla os empregados, acionistas, governos, comunidade, ou seja,
todos aqueles ligados diretamente ou indiretamente ao negócio.
A prática de divulgação da performance socioambiental de uma entidade in-
teressa a um grupo amplo de agentes pelas mais distintas razões. Primeiramente
pode-se visar a questão da ética, tendo em vista que as empresas, na condição de
agentes sociais, detém influência ativa no crescimento de uma nação e, logo, deve
se entender com a sociedade. Não obstante, circunstâncias de âmbito empírico se
agregam a estas e, fazem da divulgação destas informações uma prática frequente.
Alguns grupos visualizam o Balanço Social como um artifício de marketing.
E isso pode, de fato, ser usado plenamente com essa intenção. Não há proble-
ma se uma empresa divulgar sua harmônica relação com o meio ambiente e
sociedade, desde que as informações contempladas nas demonstrações sejam
verídicas. Um relatório socioambiental de boa qualidade deve ser preciso e re-
velar compromisso com a primazia da realidade, além de ser livremente dispo-
nibilizado a todos aqueles interessados nas informações prestadas.
As informações contempladas em um relatório socioambiental não podem
apenas se limitarem a pequenos tópicos pontuais sobre questões sociais e am-
bientais, como também precisam abordar de forma clara o retrato fiel da em-
capítulo 2 • 45
presa dentro de determinado período.
É recorrente empresas ocultarem possíveis falhas em seus relatórios.
Porém, a transparência é um importante diferencial para as corporações.
É comum que entidades ocultem falhas em seus relatórios, no entanto, é
de extrema importância a transparência por parte dessas entidades, pois
trata-se de uma relevante vantagem comparativa para as empresas. Nesse
sentido, a empresa deve se mostrar “aberta” para indicar suas próprias de-
ficiências e assumir a intenção de melhorar sua performance.
Conforme mencionado anteriormente, o Balanço Social foi desenhado pelo
Ibase, que é um instituto criado em 1981 pelo sociólogo Herbert de Souza, em
parceria com empresas públicas e provadas. Trata-se de uma entidade sem fins
lucrativos com a missão de aprofundar debates sociais com princípios de igual-
dade, ética, cidadania e solidariedade. Em definição pelo próprio Ibase:
1. BASE DE CÁLCULO
Receita Líquida
Resultado Operacional
Encargos
46 • capítulo 2
2. INDICADORES SOCIAIS INTERNOS
Previdência
Saúde
Segurança
Educação
Cultura
Capacitação
Creches
Partic. Lucros
Outros
Cultura
Saúde e Saneamento
Esporte
Combate à Fome
Outros
Tributos
capítulo 2 • 47
4. INDICADORES AMBIENTAIS
Investimentos – Produção
Metas de Consumo
Nº Admissões
Empreg. Terceirizados
Estagiários
Nº de Mulheres
% Mulheres em Chefia
Nº Negros
% Negros em Chefia
Deficientes
48 • capítulo 2
6. EXERCÍCO DA CIDADANIA EMPRESARIAL
Dva
7. OUTRAS INFORMAÇÕES
Dados Cadastrais, Modelo, Filosofias, Entre Outros.
ISO 14001
A ISO (International Organization for Standardization) é uma organização in-
ternacional que gerencia e elabora normas de padronização de procedimentos
e processos em mais de 170 países. No Brasil, a associação que gerencia essas
padronizações é a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Especifi-
camente a ISO 14001 é uma norma de conhecimento mundial que direciona
padrões para estabelecimento de um Sistema de Gestão Ambiental. A finalida-
de dessa norma é fomentar harmonia entre a lucratividade de uma corporação
e minimização de impactos no meio ambiente.
A ISO 14001 contempla critérios de política em âmbito ambiental, planeja-
mento de operações e implementações, age na verificação das práticas e promo-
ve análise por parte da administração. Sinteticamente, são elencados aspectos do
negócio impactantes no meio ambiente que podem estar em desarmonia, inclu-
capítulo 2 • 49
sive, com a legislação. A aplicação da ISO promove otimização na gestão no inten-
to de se estabelecer um processo de melhoria contínua entre negócio e ambiente.
Em razão de impactos no meio ambiente estarem crescendo, assim como a
pressão para que os mesmos reduzidos, seja por parte de clientes/consumido-
res, governo, acionistas, empregados, comunidade local, a ISO vem de encon-
tro às necessidades das entidades em atenuar atritos gerados pelas suas opera-
ções com todos esses agentes.
Desde a primeira publicação da ISO 14001, mais de 14.000 empresas do
mundo todo optaram por se adequarem às especificações técnicas desta mirí-
ade de padrões. Além da ISO 14001, existem outras normas que visam cumpri-
mento de práticas ambientais, como:
• ISO 14004 - Sistemas de Gestão Ambiental - Diretrizes, Princípios Gerais
e Técnicas de Apoio;
• ISO 14010 - Diretrizes para Auditoria Ambiental - Princípios Gerais da
Auditoria Ambiental;
• ISO 14011 - Diretrizes para Auditoria Ambiental - Procedimentos - Audi-
toria de Sistemas de Gestão Ambiental;
• ISO 14012 - Diretrizes para Auditoria Ambiental - Critérios de Qualifica-
ção para Auditores Ambientais.
50 • capítulo 2
A criação do ISE, em 2005, visa incentivar e promover entidades que primam
pelas boas práticas de governança corporativa, gestão ambiental e social. Sua
criação foi realizada por iniciativa da Bolsa de Valores de São Paulo BOVESPA,
atualmente intitulada de BVM&F BOVESPA, fazendo desta criação uma ação pio-
neira na América Latina em mesclar aspectos de investimentos e sustentabilida-
de em uma carteira de ações.
A principal justificativa desse índice é uma relevante tendência mundial dos
investidores buscarem empresas responsáveis, rentáveis e sustentáveis, haja vis-
ta que essas características remetem à conotação de continuidade dos negócios.
O índice ISE foi desenvolvido em parceria das entidades Associação Bra-
sileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (ABRAPP),
Associação Nacional dos Bancos de Investimentos (ANBID), Associação
dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (API-
MEC), Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Internatio-
nal Finance Corporation (IFC) com a presidência da BVM&F BOVESPA.
A abordagem do ISE neste capítulo trata apenas com uma abordagem geral
sobre o assunto.
capítulo 2 • 51
O índice realiza uma avaliação e seleciona corporações de acordo com suas
perfomances, considerando não somente suas características financeiras como
também a gestão continuada de ações sustentáveis e sociais.
É considerado um índice de credibilidade em âmbito mundial, uma importan-
te referência para investidores selecionarem quais investimentos priorizar. Atual-
mente, perto de US$ 6 bilhões estão investidos em fundos que se baseiam exclusi-
vamente nas empresas pertencentes aos índices Dow Jones de Sustentabilidade.
São avaliados os desempenhos econômico, ambiental e social de mais
de 2.500 empresas em todo o globo, considerando feedbacks a um formulá-
rio com 109 questões e análises de notas públicas acerca das entidades nos
meios de comunicação. Também são avaliadas questões de sustentabilidade,
governança corporativa, além de tópicos mais específicos como alterações de
clima, contratos com fornecedores e administração de projetos sociais.
O gráfico a seguir demonstra o comportamento do índice nos últimos anos.
52 • capítulo 2
As empresas brasileiras que compõem a carteira do índice são: Brades-
co, Cemig, Itaú Unibanco, Itaúsa, Petrobrás, Redecard e Fibria (resultado da
união da Aracruz Celulose com a Votorantim Celulose e Papel).
GRI – Global Reporting Iniciative
A Global Reporting Initiative (GRI) é uma organização não governamental
internacional, com sede em Amsterdã, na Holanda, que desenvolve e divulga
globalmente diretrizes para elaboração de relatório de sustentabilidade utili-
zadas por empresas do mundo inteiro. Sua primeira publicação foi em 2002. A
primeira versão preliminar da terceira geração do GRI foi publicada em março
de 2006 e publicada definitivamente em outubro do mesmo ano.
A GRI fornece um modelo de relatório de sustentabilidade amplamente acei-
to e conceitua as corporações sob os aspectos econômicos, ambientais e sociais.
Um relatório de sustentabilidade baseado nas Diretrizes da GRI divulga os re-
sultados obtidos dentro do período relatado, no contexto dos compromissos, da
estratégia e da forma de gestão da organização (GRI, 2006). Ainda, segundo a GRI:
capítulo 2 • 53
A ilustração a seguir exibe o formato parcial do relatório:
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Conteúdo d
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Sob a ótima de uma visão geral, o modelo desenhado pela GRI dispõe de
um conteúdo em contexto com estratégia e análise do conteúdo do relatório,
compromissos, engajamentos, governança e forma de gestão. Essas informa-
ções iniciam o relatório fornecendo um panorama geral qualitativo do que será
apresentado. No decorrer do relatório são apresentadas informações de caráter
econômico, ambiental e social. A ilustração abaixo detalha como são organiza-
das as informações:
Contexto Resultado
• Estratégia e análise • Econômico
• Parâmetros para o • Ambiental
relatório • Práticas trabalhistas
• Governança, e trabalho decente
compromissos e • Direitos humanos
engajamento • Sociedade
Indicadores de
pelo produto
Forma de
gestão
Perfil
54 • capítulo 2
Instituto Ethos
Denominado Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, o Ethos
é uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) sem fins lu-
crativos. Sua principal função é contribuir na gestão de negócios corporativos
de maneira ética, social e responsável.
Foi criado em 1998 por empreendedores de empresas privadas e é refe-
rência no desenvolvimento de ferramentas no auxílio de entidades das prá-
ticas de gestão sustentável.
O Instituto Ethos foi um dos agentes atuantes na criação do índice de sus-
tentabilidade empresarial (ISE), porém, em 2008 com a saída da Petrobrás do
índice e a polêmica sobre informações divulgadas, a partir daquele ano, o insti-
tuto Ethos foi afastado do conselho do ISE.
No Brasil, o instituto desfruta de densa credibilidade na discussão e assi-
milação do conceito de sustentabilidade, é um importante agente na execução
de palestras, seminários, treinamentos sobre o assunto, além de desenhar e di-
vulgar projetos sociais, promover campanhas e facilitar a atuação articulada de
empresas na esfera sustentável.
CONEXÃO
Saiba mais sobre o Instituto Ethos, bem como sua missão, visão e
valores no site www.ethos.org.br. No portal você obtém informa-
ções de como inscrever as empresas e fica por dentro das ações
promovidas pelo instituto sobre sustentabilidade e responsabilidade no Brasil.
ATIVIDADE
1. O ISE foi criado para divulgação de práticas e retorno de empresas sustentáveis. No ma-
nual deste índice, é mencionado que existe uma tendência mundial pela procura dessas
empresas. Por quê?
2. Comente a seguinte frase: o balanço social aborda com detalhes apenas uma parte da
dimensão social e deixa a desejar em relação à dimensão econômica e ecológica da sus-
tentabilidade empresarial.
capítulo 2 • 55
REFLEXÃO
Como vimos, o consumo na sociedade atual e seus desdobramentos têm gerado impactos
significativos. Por este viés, analisamos como o homem vem se comportando diante disso e
também como as entidades brasileiras e mundiais têm contribuído no sentido de minimizar
os seus efeitos, tanto na perspectiva social, como na ambiental.
LEITURA
ZACARIAS, Rachel. Sociedade de consumo ou ideologia do consumo: um embate. Jornal
Eletrônico Vianna Junior, Ano V, Edição I, mai. 2013. Disponível em:<http://www.viannajr.
edu.br/files/uploads/20130523_155838.pdf>. Acesso em: 09 maio 2014
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2006.
BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Rio de Janeiro: Elfos, Lisboa: Edições 70,
1981.
56 • capítulo 2
INSTITUTO ETHOS – Portal. Disponível em:<http://www.ethos.org. br>. Acesso em: 10
maio 2014.
PÁDUA, J. A.; LEROY, P.P. Produção, consumo e sustentabilidade: a dívida ecológica brasileira.
Projeto Brasil sustentável e democrático. 2.ed. Rio de Janeiro: Fase, 2003. ( Série Cadernos
de Debate, n.6)
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
Adiante, faremos uma análise da questão ambiental, tendo em vista o entrelaçamento entre o
econômico, o social e o meio ambiente, que, de forma resumida, resulta no conceito de desenvol-
vimento sustentável.
capítulo 2 • 57
3
Sustentabilidade e
gestão ambiental
3 Sustentabilidade e gestão ambiental
Neste capítulo, procuraremos observar como o desenvolvimento sustentável se
engendra a partir de uma abordagem econômica, ecológica e social, conside-
rando o histórico de poluição ambiental e seus impactos, bem como as atuais
diretrizes projetadas pelos organismos mundiais a fim de minimizar os seus
efeitos negativos.
OBJETIVOS
• Entender o contexto do desenvolvimento sustentável a partir de uma perspectiva econô-
mica e social;
• Conhecer as principais leis ambientais brasileiras;
• Conhecer os processos de licenciamento ambiental, bem como os financiamentos e pro-
gramas brasileiros para empresas sustentáveis.
REFLEXÃO
Como já vimos, a sustentabilidade e os desafios inerentes à sua prática fazem parte da con-
juntura geopolítica em nossa contemporaneidade. Sendo assim, a sua relação direta com o
meio ambiente é um dos caminhos necessários para a sua eficiência. Diante dessas afir-
mações, você já ouviu falar nas leis ambientais que regulam o crescimento econômico na
atualidade? Já ouviu dizer que existem programas de incentivos para as empresas que atuam
numa perspectiva sus-tentável? Vamos aprofundar esses conhecimentos?
Introdução
60 • capítulo 3
3.1 A questão ambiental sob a ótica econômica: desenvolvimento
sustentável
Emissões de CO2
1850-2000
Toneladas
per capita
99,0
14,5
5,5
2,0
0,0
capítulo 3 • 61
A qualidade do ambiente em que vivemos tem sido, nos dois últimos sécu-
los, um dos maiores desafios da humanidade. O mundo empresarial vem gra-
dativamente utilizando-se de modelos de gestão econômica criteriosos quanto
ao meio ambiente, assim como vem dispensando uma preocupação maior com
as comunidades envolvidas direta ou indiretamente com a empresa.
Um dos fatores que conduz esse comportamento empresarial está relacionado
à própria mudança de postura do consumidor. O novo contexto econômico tem
como característica consumidores exigentes e mais conscientes de seus direitos. A
educação ambiental e social promovida nos últimos anos por escolas, meios de co-
municação e campanhas sociais institucionais vem expandindo essa consciência
na maioria dos países do mundo. No Brasil, país de grande maioria católica, a pró-
pria Campanha da Fraternidade, organizada pela Igreja Católica, promove todos
os anos debates, divulgação de informações e conscientização relacionados a um
tema social de grande abrangência nacional. O objetivo é promover a reflexão em
busca de melhorias na qualidade de vida e na convivência coletiva.
Muito mais do que uma onda politicamente correta, estamos falando, nesta
unidade, que a questão ambiental e ecológica não pode ser entendida como
mero surto de preocupações passageiras. As transformações econômicas ocor-
ridas nos últimos tempos, advindas desde o período inicial da industrialização,
levaram ao aumento e à aceleração da produtividade em todo o mundo.
Numa pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Ibope há
o dado de que 68% dos consumidores brasileiros estariam dispostos a pagar
mais por um produto que não agredisse o meio ambiente.
Essa não é apenas uma tendência, mas um comportamento que vem sendo
assimilado pelo consumidor e pelas empresas.
Segundo Tachizawa (2009), os dados obtidos no dia a dia evidenciam que a
tendência de preservação ambiental e ecológica por parte das organizações deve
continuar de forma permanente e definitiva; os resultados econômicos passam a
depender cada vez mais de decisões empresariais que levem em conta que:
• Não há conflito entre lucratividade e questão ambiental;
• O movimento ambientalista cresce em escala mundial;
• Clientes e comunidade em geral passam a valorizar cada vez mais o meio
ambiente;
• A demanda e, portanto, o faturamento das empresas passam a sofrer
cada vez mais pressões e a depender diretamente do comportamento de
consumidores, que enfatizam suas preferenciais por produtos e organi-
zações ecologicamente corretos.
62 • capítulo 3
Percebemos nos argumentos de Tachizawa (2009) que o comportamento
ecologicamente correto torna-se, além de um benefício para o planeta, uma
vantagem competitiva para a empresa. É fato que a gestão ambiental e a res-
ponsabilidade social tornaram-se importantes instrumentos gerenciais e cada
vez mais as organizações empresariais estão investindo nessas vertentes.
Vejamos, na prática, alguns dados e exemplos descritos no livro Gestão am-
biental e responsabilidade social corporativa pelo autor citado anteriormente,
doutor em administração pela Fundação Getúlio Vargas, Takeshy Tachizawa:
capítulo 3 • 63
Há no mercado duas formas complementares de aplicar o conceito de
ecoeficiência, uma encontra-se em Basf (2006) e a outra em Helminen (2000)
e Kadt (1997). Conforme Basf (2006) gerenciar a ecoeficiência consiste em
analisar o ciclo de vida de produtos e processos com o objetivo de avaliar
seus desempenhos econômicos e ambientais. Salim (2002) converge para o
conceito da Basf (2006) e pondera o impacto ambiental e os custos durante
o ciclo de vida de uma linha de produtos para medir a ecoeficiência do por-
tfólio de produtos da empresa BASF.
Conforme o referido autor, o cálculo do impacto ambiental envolve cinco
aspectos: consumo de matérias, consumo de energia, emissão de resíduos, po-
tencial de toxicidade dos resíduos e produtos e risco ecológico potencial. Os
custos compreendem, além dos gastos operacionais incorridos durante a con-
cepção, fabricação, distribuição, uso, aqueles incorridos no processo de des-
carte dos produtos.
Analisa-se o consumo de matérias-primas para verificar se são insumos re-
nováveis ou recicláveis. Em consumo de energia, é verificado se a matriz ener-
gética da empresa utiliza energia gerada a partir de fontes limpas e renováveis
ou provenientes de combustíveis fósseis. Na emissão de resíduos identificam-
se os gerados na atmosfera, os efluentes e os sólidos. Logo, analisa a toxicidade
desses resíduos e dos produtos e serviços ofertados pela empresa. Por último,
analisam-se os possíveis desastres ecológicos que podem vir a ocorrer e os pro-
cessos de segurança para evitá-los (SALING, 2002).
Percebe-se que a metodologia retro descrita analisa mais especificamente o
ciclo de vida de um produto ou de uma linha de produto. Outros autores, como
Helminen (2000) e Kadt (1997), medem a ecoeficiência do sistema empresa.
Avalia o impacto das operações dessa firma sobre ecossistemas durante o pro-
cessamento de seus produtos e serviços e não no decorrer de todo o ciclo de
vida de um produto ou linha de produto.
WBCSD (1996) e Burritt e Saka (2005) utilizam o conceito de ecoeficiência
de Helminen (2000) e Kadt (1997) e trabalham com a seguinte fórmula:
Valor Adicionado
Ecoeficiência =
Impacto Ambiental
64 • capítulo 3
• Valor Adicionado: montante das vendas realizadas durante o período,
deduzido do valor total relativo à aquisição dos recursos necessários
para a produção da receita, essencialmente, insumos, matéria-prima
e serviços de terceiros. Esse tipo de informação pode ser obtido na De-
monstração do Valor Adicionado, de caráter não obrigatório no Brasil e
que normalmente fica divulgado no Relatório Anual da companhia ou
como demonstração contábil complementar (essa informação pode ser
encontrada demonstração DVA ou no relatório Balanço Social);
ATENÇÃO
Já pensou se gastos com jardinagem forem divulgados como investimentos ambientais
internos?
Certamente, gastos com jardinagem não servem para reduzir o impacto negativo dos re-
síduos das próprias operações da empresa. A não ser que o jardim seja uma estação de
tratamento de efluente.
capítulo 3 • 65
A fórmula da ecoeficiência de Helminen (2000) e Burritt e Saka (2005) e o
WBCSD (1996) exposto na figura 7 pondera o valor adicionado e o impacto am-
biental causado para produzir a riqueza Valor Adicionado. Com base nisso,
Schaltegger, Burrit e Peterson (2003 apud Derwall at. al. 2005) explicam que a
ecoeficiência pode refletir o quanto de impacto ambiental foi necessário para
gerar o Valor Adicionado da DVA.
Nas duas metodologias pondera-se o impacto causado no meio ambien-
te pelas operações da empresa. Uma o analisa durante o ciclo de vida dos
produtos e a outra durante o processamento de serviços e produtos da em-
presa. Independente do método, o WBCSD (1996) recomenda ponderar a
ecoeficiência nos processos decisórios, internamente como parte do dia a
dia dos sistemas de gestão e, externamente, como algo a ser divulgado como
um dos elementos integradores da sustentabilidade.
ATENÇÃO
Empresas ecoeficientes são aquelas capazes de integrar desempenho econômico e ecoló-
gico. Intersecção das dimensões econômica e ecológica da Sustentabilidade Empresarial.
De acordo com Burritt e Saka (2005) a ecoeficiência é uma medida que for-
nece informações monetárias junto com informações não monetárias para ava-
liar o desempenho ecológico concomitantemente ao desempenho econômico.
A ecoeficiência tem relação com os resíduos empresariais, pois os mesmos são
os responsáveis pelo impacto negativo das operações das empresas sobre os
ecossistemas. Por isso, a seguir este trabalho discorre sobre alguns aspectos
econômicos e estratégicos em relação aos detritos emitidos pelas empresas du-
rante o processamento dos produtos e serviços.
CONEXÃO
Disclosure ambiental dos produtores de etanol com ações listadas na BM&FBOVESPA e NYSE,
de Cassio Vellani, publicado em 2009 na Revista Contabilidade, Gestão e Governança. Disponível
em: <https://cgg-amg.unb.br/index.php/contabil/article/view/60/62>
66 • capítulo 3
3.3 Histórico de poluição
35.000
Milhão de toneladas de CO2
30.000
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
0
18 0
18 7
18 4
18 1
18 8
18 5
18 2
19 9
19 6
19 3
19 0
19 7
19 4
19 1
19 8
19 5
19 2
19 9
19 6
19 3
19 0
20 7
04
5
5
6
7
7
8
9
9
0
1
2
2
3
4
4
5
6
6
7
8
9
9
18
Ano
capítulo 3 • 67
Gases de efeito estufa (GEE) são gases que dificultam o escape luz solar (ra-
diação) para o espaço. Esse impedimento gera um acúmulo dos efeitos da luz
solar na superfície terrestre, o que, em consequência, resulta em um aqueci-
mento do planeta. Esse processo é chamado de efeito estufa e, sem ele, a tem-
peratura média da Terra seria potencialmente inferior, prejudicando a manu-
tenção da vida no planeta. O que ocorre é que a liberação em demasia desses
gases alteram o processo natural desse efeito estufa, gerando resultados dano-
sos ao planeta.
Os gases mais comuns que provocam o efeito estufa, além do gás carbônico
(CO2) são o gás metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O). Os CFC’s (Clorofluorcar-
bono) também detêm a capacidade de reter a radiação infravermelha emitida
pela Terra.
Ainda segundo IPCC, a principal causa do aumento de liberação dos GEEs
é a queima de combustíveis fósseis consumidos na geração de energia para a
produção de bens de consumo. Outras fontes de liberação de gases do efeito
estufa são: I) Insumos agrícolas, em virtude de alta concentração de nitrogênio;
II) Dejetos suínos, processo digestivo de ruminantes (ex:gado), plantações de
arroz (fonte de metano) - Produção de gases refrigerantes (HFCs).
A ilustração a seguir detalha o processo de efeito estufa:
Atmosfera
Calor
Terra
68 • capítulo 3
ração de gases de efeitos danosos na atmosfera, foram elaborados projetos de
redução de emissões de gases do efeito estufa.
Esses projetos podem contribuir com a geração de créditos de carbono e po-
dem ser utilizados por países desenvolvidos integrantes do Protocolo de Kyoto,
através de suas metas de redução de emissão de gases de efeito estufa.
capítulo 3 • 69
Os países que estão no auge de seu processo de industrialização, para que
não precisem cumprir imediatamente as metas estabelecidas no protocolo com-
prar créditos de países em desenvolvimento, membros do protocolo, que detém
iniciativas e projetos de redução de emissão de gases de efeito estufa. Portanto,
oficialmente, os mecanismos de flexibilização contemplados no protocolo são:
• Comércio de Emissões, realizado entre os países membros, de forma que
um país que tenha reduzido suas emissões possa vender seus créditos
de redução (transformados em unidades de carbono equivalente) para
países que não atingiram suas metas.
• Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL): elaboração de projetos
que visam redução de emissões de GEEs.
CONEXÃO
Para saber mais sobre o Protocolo de Kyoto, acesse o Portal do Ministério da
Ciência e Tecnologia e leia o documento oficial na íntegra:
<http://www.mct.gov.br>
70 • capítulo 3
nhamento com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
(MDIC), no intento de criar estímulo ao desenvolvimento de projetos de MDL e fo-
mentar negócios no mercado internacional de maneira organizada e transparente.
Inicialmente foi criado um Banco de Projetos de MDL, um sistema que re-
gistra projetos de redução de carbono, que já tenham sido avaliados por uma
Entidade Operacional Designada, ou que ainda estejam em fase de implemen-
tação. Os investidores são qualificados e cadastrados na Bolsa para que suas
intenções na aquisição de créditos sejam divulgadas.
As negociações são orientadas por normas de mercado, podendo ser efetua-
das em bolsas, através de intermediários ou diretamente entre as partes interes-
sadas. A convenção para a transação dos créditos por meio do CO2 equivalente.
Cada crédito de carbono equivale a uma tonelada de dióxido de carbono equiva-
lente. Essa medida internacional foi criada com o objetivo de medir o potencial
de aquecimento global (GWP – Global Warmig Potencial) de cada um dos seis
gases causadores do efeito estufa. Por exemplo, o metano possui um GWP de 23,
pois seu potencial causador do efeito estufa é 23 vezes mais poderoso que o CO2.
Na opinião de especialistas, o Brasil detém um relevante potencial, existin-
do uma grande expectativa nesse novo mercado.
O gráfico abaixo ilustra o panorama do mercado de carbono no Brasil:
Redução de HFCs,
PFCs e N2O
4,1% Eficiência
Substituição de energética
combustível 1,2%
2,9%
Redução de Energia
CH4 renovável
40,4% 51,4%
capítulo 3 • 71
3.6 Leis ambientais brasileiras
72 • capítulo 3
comprove a recuperação do dano ambiental. As multas variam de R$ 50,00 a R$
50 milhões de reais. Para saber mais: <www.ibama.gov.br>.
capítulo 3 • 73
metros de altitude. Também exige que propriedades rurais da região Sudeste
do país preservem 20% da cobertura arbórea, devendo tal reserva ser averbada
em cartório de registro de imóveis.
74 • capítulo 3
gicos para ordenar a ocupação de diversas atividades produtivas, desenvolver
programas de educação ambiental, fomentar a produção de mudas de espécies
nativas, entre outros.
Disponível em:<http://planetaorganico.com.br/site/index.php/meio-ambiente-as-17-leis
-ambientais-do-brasil/>. Acesso em: 16 maio 2014.
capítulo 3 • 75
3.7 Processo de licenciamento ambiental: EIA, RIMA. Certificação e
normalização ambiental. ISO 14000
76 • capítulo 3
É importante destacar que o EIA/RIMA é feito por uma equipe multidiscipli-
nar, pois considera o impacto da atividade sobre os diversos meios ambientais:
natureza, patrimônio cultural e histórico, o meio ambiente do trabalho e o an-
trópico (referente ao homem).
Veja no quadro o que diz a Resolução Conama nº 001 de 1986:
capítulo 3 • 77
Existe, também, a certificação ISO 14000, que caracteriza os negócios da
empresa como comércio ecossensível. Isso significa adotar uma gestão ecoe-
ficiente, integrando fatores como tecnologia, recursos, processos, produtos,
pessoas e sistemas de gestão.
A ISO 14000 é o padrão internacional utilizado para auditoria ambiental. Esta
auditoria realiza uma análise crítica de forma documentada e aponta para a em-
presa a necessidade de alterações em sua política ou objetivos orientando para
um sistema de gestão ambiental comprometido com uma melhoria contínua.
Essa é uma especificação da ISO14000 para que o sistema de gestão ambiental
adotado pela empresa seja avaliado pela própria empresa periodicamente no
sentido de identificar problemas ou possíveis melhorias, visto que o ambiente
econômico também sofre influências circunstanciais. É preciso, portanto, rela-
cionar o plano de gestão ambiental com as realidades – tanto microambientais
quanto macroambientais.
A ISO 14000 é uma norma elaborada pela International Organization for
Standardization, com sede em Genebra, na Suíça, que reúne mais de 100 pa-
íses com a finalidade de criar normas internacionais. Cada país possui um ór-
gão responsável por elaborar suas normas. No Brasil, o órgão responsável é a
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Para a empresa receber um certificado ISO 14000, é preciso primeiramente
que ela possua o Sistema de Gerenciamento Ambiental (SGA). Por isso, na ver-
dade, o certificado não é pela ISO 14000, mas sim pela ISO 14001, pois é essa
norma que determina as especificações para se ter o certificado SGA.
78 • capítulo 3
ficiar empresas com práticas sustentáveis. Esses benefícios não existem ape-
nas por bom senso destes agentes, mas porque, inegavelmente, as ações de
empresas sustentáveis remetem a dois fatores: o afastamento do governo de
ações que, neste momento, passam a ser executadas por empresas cidadãs;
a propensão a continuidade dos negócios, minimizando o risco das institui-
ções para concessão dos créditos.
Convém frisar também a relevância da publicação dos Princípios do Equador
(Equator Principles) em 2002, quando o International Finance Corporation (IFC),
considerado pilar financeiro do Banco Mundial, promoveu encontro de altos exe-
cutivos mundiais objetivando a exigibilidade de critérios mínimos de sustentabili-
dade para a concessão de créditos (CIOFI, 2010).
capítulo 3 • 79
com estruturação de projetos na temática de sustentabilidade, o Banco promo-
ve continuidade ao processo de desenvolvimento do mercado de capitais. A do-
tação orçamentária do programa é de R$ 80 milhões, com participação do BN-
DES será limitada a até 80% das quotas de emissão do fundo de investimento.
Produsa - BNDES
BNDES lança Programa de Estímulo à Produção Agropecuária Sustentável
– Produsa, que trata-se de uma linha de crédito que incorporou o antigo Pro-
grama de Integração Lavoura-Pecuária – Prolapec e os itens do Programa de
Modernização da Agricultura e Conservação de Recursos de Recursos Naturais
– Moderagro relacionados à correção e conservação de solos, recuperação de
pastagens, sistematização de várzeas e ações de adequação e preservação am-
biental. O principal objetivo desse programa é promover o conceito de agrone-
gócio responsável e sustentável, incorporando características de eficiência, de
boas práticas de produção, responsabilidade social e de preservação ambiental.
Linha Ecoeficiência
A Caixa Econômica Federal lançou em 2010 um produto específico para ecoeficiên-
cia empresarial associado à linha de crédito de Bens de Consumo Duráveis (BCD–
PJ). A linha, é com exclusividade para equipamentos que melhoram a eficiência
energética, concede até 100% de financiamento, com juros máximos de 1,92% a.m
+ TR. Os prazos de pagamento são de 2 a 54 meses, com 6 meses de carência.
80 • capítulo 3
e será utilizada na compra, pelo banco, de créditos de carbono gerados por
empresas no Brasil, no Chile e no México. O objetivo do banco é acumular
créditos em volume suficiente para que sejam revendidos a companhias da
Europa, especialmente do setor de geração de energia.
Índice Nasdaq
O grupo NASDAQ OMX registrou o lançamento de uma nova coletânea de índi-
ces com o intento de agilizar o monitoramento da economia sustentável. Com
destino aos investidores intencionados a montar carteiras compostas somen-
te por empresas que apoiem o desenvolvimento sustentável, o primeiro índi-
ce a ser lançado é o “NASDAQ OMX Green Economy Index”, que contempla
companhias de vários setores da cadeia produtiva. Outros três índices, foca-
dos em segmentos e regiões específicos, serão anunciados futuramente. Com
sua composição de mais de 350 títulos de 460 empresas, o “NASDAQ OMX
Green Economy índex” permite o monitoramento da performance de ações
dos seguintes setores: materiais avançados, biocombustíveis, eficiência ener-
gética, finanças, arquitetura verde, vida saudável, recursos naturais, combate
à poluição, reciclagem, geração de energia renovável, transportes e água.
capítulo 3 • 81
Artigo
Banco só Libera Crédito para Empresa Sustentável
Químico, biólogo, engenheiro ambiental e geólogo. Pode parecer estranho, mas estes
profissionais trabalham em um banco, justamente na área de análise de crédito para
empresas que precisam de linhas acima de R$ 1 milhão. No Santander, seis funcio-
nários investigam as relações de 3.000 clientes com a sociedade e o meio ambiente,
sendo 200 deles na região.
Metade do tempo desses profissionais é gasto com estudo de projetos dos setores de
agricultura, frigorífico, madeireira, energia e infraestrutura. “Questões como trabalho es-
cravo, problemas com licenças ambientais das obras e emprego de mão de obra infantil
se detectadas pela equipe não têm o crédito concedido”, afirma o superintendente de
riscos ambientais do banco, Christopher Wells.
Tendência
As instituições consideram que conceder empréstimos às companhias que causam da-
nos ao meio ambiente pode trazer grande prejuízo. Os clientes estão sujeitos a multas
previstas na legislação, entre outras consequências, interferindo no lucro do negócio.
O superintendente do Santander avalia que o setor financeiro mundial está avançado
nestas questões, mas ainda pode melhorar.
82 • capítulo 3
to de uma nova geração produtos e serviços que, em paralelo, são fiscalizadas pelos
governos, consumidores e outros stakeholders.
Desde a primeira discussão sobre o aquecimento global e os impactos ao
mundo, cientistas inflam as camadas sociais e governamentais de informa-
ções surpreendentes e apelos profundos quanto à necessidade de se reduzir
as emissões e, consequentemente, reduzir a aceleração de um processo de
desenvolvimento econômico industrial.
No período mais importante de discussões sobre o Protocolo de Kyoto, pa-
íses como Austrália e Estados Unidos decidiram se abster das negociações e
permanecer com suas políticas individuais de redução. Houve contestação por
parte de alguns países quanto à real necessidade de se reduzir emissões, pois
certamente as perdas industriais geradas pelas reduções deveriam ser, a priori,
inferiores aos benefícios que seriam concedidos a um mundo mais sustentável.
Em reportagens recentes publicadas em importantes veículos de comu-
nicação, como jornais, revistas e programas televisivos, sobrevém informa-
ções anunciando que, possivelmente, a explicação para o aquecimento global
pouco se relaciona com a postura do homem e surgem ciências esquerdas
anunciando que os esforços mobilizados para o caminho sustentável são, em
verdade, uma farsa.
Esta subseção do capítulo não tem o ímpeto de opinar, tampouco alterar
ou minimizar os conceitos no âmbito de sustentabilidade discutidos na dis-
ciplina. Não obstante, é de extrema importância didática que sejam expostos
conceitos que abranjam todos os aspectos, no sentido de fomentar o desen-
volvimento de um senso crítico.
ATENÇÃO
Ressalvas a seguir apresentadas no documentário produzido por Martin Durkin (polêmico
cineasta britânico), com o título de The Great Global Warming Swindle, em português, A
Grande Farsa do Aquecimento Global.
O documentário conta com opinião de especialistas, cientistas, economistas, políticos, escri-
tores e outros céticos do consenso científico sobre o aquecimento global.
capítulo 3 • 83
O Aquecimento Global
Em documentário produzido pela Channel 4, intitulado de “The Great Global
Warming Swindle”, ao ar em março de 2007, são apresentados argumentos de
alguns cientistas que desmentem a ideia de que prevalece sobre o dióxido de
carbono emanado pelas atividades do homem ser a causa do aumento da tem-
peratura global.
Existe um consenso acerca do clima da terra estar sendo alterado. Sabe-se,
também, que houve um aquecimento recente. Entretanto, o que é mundial-
mente divulgado é que o aquecimento é gerado pelo homem, enquanto outros
cientistas afirmam que o ser humano não se relaciona com ele.
O documentário afirma que o aumento da quantidade de gás carbônico
na atmosfera não se relaciona com as alterações climáticas. Ademais, a visão
simplificada de reduzir as emissões de carbono pode gerar consequências no
crescimento e desenvolvimento do terceiro mundo, ampliando a pobreza e do-
enças endêmicas.
Outras pesquisas apontadas no documentário indicam que o efeito da ra-
diação cósmica e a atividade solar podem justificar as oscilações nas tempera-
turas globais com maior clareza que a teoria do gás carbônico.
O aumento da temperatura global pode ter explicações alternativas, como
as realizadas no Centro Dinamarquês do Espaço. Geralmente, quando são ve-
rificados aumentos na atividade solar, a formação de nuvens na terra decresce
significativamente e provaca o acréscimo da temperatura.
Apesar de documentário apresentar depoimentos de uma relevante relação
de especialistas, a maioria dos cientistas defende que os argumentos estão in-
completos e obsoletos e que são contestáveis.
A história da Terra em 4,5 bilhões de anos contempla uma longa série de
mudanças climáticas. Esse fato é plenamente aceito, tanto por aqueles que
acreditam que o aquecimento global é um processo natural, quanto por aque-
les que acreditam que é causado pela interferência do homem.
Considerando um período relativamente recente, no século XVII, o rio Tâ-
misa se congelava tão solidamente que várias atividades podiam normalmente
ser realizadas no gelo; um período medieval até mais quente do que o atual; e o
ensolarado período conhecido como Máximo do Holoceno, o mais quente nos
últimos 10.000 anos.
Os que defendem que o aquecimento global é um processo natural expli-
84 • capítulo 3
cam que nos últimos 10 mil anos, os períodos mais quentes aconteceram bem
antes dos seres humanos começarem a produzir quantidades significativas de
dióxido de carbono.
Uma análise mais detalhada nas atuais alterações climáticas mostra que as
temperaturas aumentaram antes de 1940, porém caíram subitamente duran-
te o crescimento econômico do pós-guerra, quando as emissões do dióxido de
carbono aumentaram potencialmente.
Os modelos clássicos sugerem que concentrações crescentes de gases de
efeito estufa proporcionam as elevações das temperaturas. Se o aquecimento
da “estufa” estiver, de fato, ocorrendo, então os cientistas predizem que a tro-
posfera (parcela da atmosfera da terra que fica de 10 a 15 quilômetros acima as
superfície) deve se aquecer mais rapidamente do que a superfície do planeta,
não obstante os dados coletados pelos satélites e pelos balões meteorológicos
não dão suporte a esse modelo.
Uma outra questão importante a ser discutida é fato de o gás carbônico
estar sendo produzido em quantidades infinitamente superiores às emissões
industriais, como nos casos naturais: emissões vulcânicas, emissões causadas
por animais, bactérias, pela deterioração da matéria orgânica, etc.
Alguns cientistas argumentam a radiação que emanada pelo do sol varia e
que o planeta Terra parece corresponder, aquecendo-se e resfriando-se.
O processo que alguns cientistas defendem é que, enquanto o planeta se
movimenta no espaço, nossa atmosfera é bombardeada constantemente por
raios cósmicos, sempre presentes. A água que então se evapora dos oceanos
forma nuvens na atmosfera, que por sua vez, encobrem a superfície da terra
da radiação do sol e têm um efeito de resfriamento. Quando a atividade solar é
elevada, há um aumento do vento solar e este tem o efeito de reduzir a quanti-
dade de radiação cósmica que atinge a terra. Quanto menos radiação cósmica
alcança a terra, poucas nuvens são formadas e o efeito da radiação do sol que
incide diretamente sobre a superfície é o aquecimento do planeta.
capítulo 3 • 85
ATIVIDADE
1. Tendo em vista a afirmação a seguir e o conteúdo apresentado neste capítulo, escreva
um parágrafo de 2 a 3 linhas colocando o seu ponto de vista a este respeito: “O desen-
volvimento sustentável é um dos maiores ideais surgidos no século passado, somente
comparável à ideia de justiça social (VEIGA, 2005). É um tema que se tornou alvo de
discussões e é, ainda, bastante discutido e com várias divergências e ambiguidades.
REFLEXÃO
O assunto sustentabilidade é relativamente novo, principalmente em países em desenvolvi-
mento, como no caso do Brasil. Apesar de ser ressonante o discurso de transparência com
stakelholders e harmonia com o ambiente e sociedade, o fato é que nem todos estão prepa-
rados para dar sustentação às orientações que são vislumbradas nesta temática.
Em meio a esse cenário, permeia ainda um forte ceticismo por parte de gestores e admi-
nistradores mais conservadores. Passar a seguir os desígnios de uma corrente verde, com
novos padrões de produtos e processos é uma decisão de extrema importância para ser
tomada pela cúpula de uma entidade. De repente as pessoas, a sociedade e os clientes pas-
sam a cobrar de forma mais rigorosa questões pontuais que vão desde o cultivo da matéria
prima até o destino do produto já consumido. Uma “onda” verde de filosofias passa a ser
adaptada dentro das salas de reuniões.
Nesse ínterim, entre tantos rumores, surgem mitos oriundos da relutância protecionista de
muitos empresários. Muitas interrogações retóricas são lançadas como a análise de custos e
benefícios de ações sustentáveis.
Realmente, o que as empresas precisam analisar é que a sustentabilidade tem o poder de, se
manipulada com eficiência, fazer com que sejam obtidos ganhos importantes. Em verdade, a
sustentabilidade nasceu para atuar a favor dos negócios e não o contrário. Por meio de uma
filosofia sustentável é possível também melhorar a imagem de uma corporação.
Ao analisar atentamente empresas de softwares, por exemplo, identificam-se gastos milioná-
rios que vão desde matéria prima de fornecedores até materiais de escritório. Com o poder
de compra de uma corporação desse porte, existe uma relevante oportunidade de influenciar
a cadeia de fornecimento, reduzindo o impacto do meio ambiente.
Muitas empresas mundialmente conhecidas passaram a desenvolver novos produtos e oti-
mizar procedimentos e processos não somente para anunciar sua benevolência na causa
socioambiental, mas porque por meio dessas ações foi possível atingir mais lucro e visibilida-
86 • capítulo 3
de. A Verizon, empresa de tecnologias, por exemplo, focou operações sustentáveis atingindo
uma receita de 27 milhões de dólares através da classificação e revenda de resíduos, além
de economizar com o transporte para remoção.
Um dos equívocos cometidos pela avaliação deste assunto é associar sustentabilidade com
aumento de equipe. Em verdade, ocorre o contrário, pois a maioria das corporações a equipe
de sustentabilidade não requer muitos funcionários. O objetivo dessas equipes é atuar em
diversas funções na corporação no sentido de se desenvolver novas formulações de padrões,
coordenação de atividades.
Em suma, o que se pode absorver dessa nova discussão acerca da sustentabilidade, é que
muitas estratégias podem ser desenhadas, como no caso de diversas empresas menciona-
das neste capítulo.
Existe ainda uma expressão chamada greenwashing, que amedronta as companhias mais
puritanas. Trata-se de um “branqueamento ecológico” que muitas entidades são acusadas
de promover, por meio de divulgações e práticas sustentáveis que não existem. Porém, se
existe mesmo a intenção em somar (tanto ao mundo como aos bolsos dos acionistas), qual
é o problema em arregaçar as mangas?
Por meio de muitas experiências ao longo do trabalho sustentável, tanto grandes empresas
como pequenas podem fazer a diferença.
LEITURA
BARBOSA, Luciano Chagas. Políticas Públicas de Educação Ambiental numa Sociedade de
Risco: tendências e desafios no Brasil. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/
publicacao11.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2014
capítulo 3 • 87
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DIAS, Reinaldo. Gestão Ambiental. São Paulo, Editora Atlas. 2a. edição, 2011.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Meio ambiente: as 17 leis ambientais brasileiras. Dispo-
nível em:<http://planetaorganico.com.br/site/index.php/meio-ambiente-as-17-leis-ambien-
tais-do-brasil/>. Acesso em: 16 maio 2014.
PORTILHO, Fatima. Sustentabilidade Ambiental, consumo e cidadania. São Paulo: Cortez, 2005.
VEIGA, José. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Gara-
mont, 2005.
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No capítulo adiante, você conhecerá a definição do conceito de responsabilidade social e como
este conceito passou a ser importante e conhecido no mundo todo.
88 • capítulo 3
4
Sustentabilidade:
a responsabilidade
social como um
possível caminho
4 Sustentabilidade: a responsabilidade social
como um possível caminho
OBJETIVOS
• Entender como a responsabilidade social é um dos preceitos fundamentais para a susten-
tabilidade.
REFLEXÃO
Você já aprendeu nesta disciplina os conceitos de responsabilidade social e de sustentabilida-
de. Vamos ver agora como eles se relacionam?
Introdução
90 • capítulo 4
Assim sendo, o que se prima nessa importante discussão é a ampliação da con-
figuração deste lucro, é a busca pelo lucro sustentável, pelo consumo dos recursos
sem comprometer o ambiente.
Você já deve ter realizado alguma boa ação ou gestos de caridade em toda a sua
vida. Já deve ter praticado filantropia, ajudado alguém necessitado de recursos
financeiros ou até mesmo recursos para a própria sobrevivência. Já deve ter atua-
do como voluntário em algum projeto social ou ambiental. É comum, portanto,
que a maioria das pessoas confunda o termo responsabilidade social e ambiental
com boas ações como as descritas acima. Na verdade, esse é um engano comum.
Primeiramente, é preciso compreender que o termo responsabilidade social
vinculou-se gradativamente ao mundo corporativo e, atualmente, traduz-se em
uma forma ética de conduzir os negócios. Seja a responsabilidade social voltada
a projetos ambientais, educacionais ou de outra natureza, o fato é que o conceito
de responsabilidade social é abrangente, justamente pela diversidade de com-
portamentos e ações que uma organização pode assumir, esses voltados a asse-
gurar o bem-estar dos indivíduos ou dos grupos sociais relacionados direta ou
indiretamente com suas atividades.
As denominações dadas às intervenções sociais empresariais são muitas: res-
ponsabilidade social, cidadania empresarial, filantropia empresarial e assim por
diante. Assumir a denominação responsabilidade social empresarial é adotar um
rigor não necessariamente conceitual, mas ético, na medida em que a palavra res-
ponsabilidade pressupõe critério e acompanhamento rigoroso dessas ações so-
ciais. Em definição dada pelo dicionário Aurélio, responsabilidade é: situação de
um agente consciente com relação aos atos que ele pratica voluntariamente. Por
definição do Instituto Ethos de responsabilidade social, o conceito é definido:
CONCEITO
Responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e
transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabele-
cimento de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade,
preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade
e promovendo a redução das desigualdades sociais. (Disponível em: <http://www.ethos.org.br>).
capítulo 4 • 91
O despertar da responsabilidade social das empresas não apresenta um
histórico cronologicamente definido justamente por fazer parte de uma evolu-
ção da postura das organizações em face da questão social, provocada por uma
série de acontecimentos sociopolíticos determinantes e também pela própria
trajetória histórica do capitalismo mundial.
92 • capítulo 4
a civilização pós-moderna e o sistema neocapitalista, assim como a preconiza-
ção do fim da história pelo avanço do livre mercado, vinculando tais predições
ao êxito relativo do neoliberalismo e às surpresas convulsivas do mundo pós-
Guerra Fria, como afirma Srour (1998).
Diante de tantas transformações no mundo, Srour (1998) realiza uma
análise iluminadora sobre os paradigmas do mundo pós-moderno, es-
clarecendo que as preconizações da literatura econômica e adminis-
trativa exaltam os conhecimentos técnicos e científicos como fontes de
valor agregado e relacionam a globalização econômica à supremacia de-
finitiva do mercado, descartando qualquer planejamento econômico.
Há uma plêiade de autores que visualizam no liberalismo econômico a supe-
ração de todas as formas concorrentes de exercer o poder predizendo, desta
forma, a reinvenção do Estado e entendendo a qualidade total e a gestão parti-
cipativa como pontos de inflexão nas arquiteturas organizacionais. Portanto,
mais do que um turbilhão de constatações, Srour chama a atenção para esta
avalanche de transformações que são muito menos enfrentadas pelas forças
administrativas e econômicas do que pelas forças sociais que recebem essa va-
riedade de processos de maneira impactante.
Por meio de profundos questionamentos com propósito social, Srour (1998)
indaga: quais os fios que costuram tantas descontinuidades? Haverá algum es-
paço para os atuais modos de pensar e de fazer, de gerir e de se associar?
Em suas palavras:
Ora, o que confere sentido à chamada crise da sociedade industrial? Seria o domínio do
setor terciário que delineia uma nova sociedade de serviços? Ou ainda: o caráter volátil
do capital especulativo, à procura de lucros fáceis em qualquer quadrante do planeta,
dada a instantaneidade das comunicações globais? A conversão da produção padro-
nizada, destinada a mercados de massa, em produção flexível, voltada para mercados
segmentados? O vertiginoso declínio do operariado na população economicamente
ativa, a exemplo do campesinato em vias de extinção? A generalizada perda da impor-
tância relativa da força de trabalho física para a força de trabalho mental? A absorção
generalizada das mulheres no mercado de trabalho? A passagem da remuneração da
mão de obra calculada em horas despendidas para a remuneração variável vinculada
aos resultados obtidos? A redução dos postos de trabalho em função da informatiza-
ção, da automoção e da robotização dos processos produtivos?
capítulo 4 • 93
A globalização do fornecimento de insumos e de componentes, compondo produtos
mundiais e transcendendo fronteiras? As tendências à ”precarização” do trabalho – ex-
plosão do mercado informal, emprego em tempo parcial, trabalho temporário, trabalho
autônomo complementar ou eventual – levando à dissociação entre crescimento e em-
prego? (SROUR, 1998, p.16-17).
94 • capítulo 4
Uma das hipóteses é de que tais mudanças não decorrem apenas de condi-
cionamentos infligidos pelo consumidor ou pelo mercado, mas da interpreta-
ção que os gestores fazem do cenário e do que entendem ser a melhor conduta
para a empresa.
O perfil dos gestores e os fatores estruturais que facilitaram a difusão das
normas de responsabilidade social no ambiente corporativo são indícios de
que as normas presentes no ambiente institucional penetram nas empresas e
influem na sua estrutura organizacional e na maneira como se relacionam com
seus públicos de interesse.
Muitas vezes, tem-se a ideia de que para fazer e gerir um projeto social basta
fazer o bem e ter boa vontade. O que se busca, atualmente, é o equilíbrio do pro-
cesso entre fazer o bem e fazer bem feito através de transparência nas decisões
e nas negociações, além de maior profissionalismo, consolidando os projetos
sociais como uma ação realmente eficiente.
É possível detectar, no âmbito empresarial, que falar em responsabilidade
social, para muitas empresas, representa agir de forma estratégica por meio de
metas que são traçadas para atender às necessidades sociais de forma que o lu-
cro da empresa seja garantido, assim como a satisfação do cliente e o bem-estar
social. Portanto, nesse discurso, também é possível dizer que há envolvimento
e comprometimento sustentável.
A noção de responsabilidade social atrelada ao mundo empresarial como
forma de gestão pode ser considerada recente, visto que o que havia antes dessa
incorporação do conceito ao mundo dos negócios era a prática da filantropia,
que se diferencia em vários aspectos das práticas de responsabilidade social
empresarial (RSE).
As ações de filantropia, motivadas por razões humanitárias, são isoladas e
reativas, enquanto o conceito de responsabilidade social possui uma amplitude
muito maior, por fazer parte do próprio planejamento estratégico da empresa,
sendo, portanto, instrumento de gestão. A filantropia, no entanto, configura-se
como doação, não estabelecendo vínculos efetivos da empresa com a comunida-
de e, dessa forma, a empresa não é responsável por nenhum processo contínuo
capaz de tornar a ação social uma ação permanente, contínua, que se configure
de maneira autossustentável.
A relação estabelecida entre um projeto e os cidadãos usuários não pode ser
vista de forma assistencialista. Em um projeto social também se faz necessário,
como em qualquer outro projeto, a potencialização de talentos e o desenvolvi-
capítulo 4 • 95
mento da autonomia de seus atores. As empresas, atualmente, são consideradas
grandes polos de interação social, tanto com os fornecedores como com a comu-
nidade e seus próprios funcionários. Exatamente por isso, o processo de elabo-
ração de projetos sociais, bem como os investimentos sociais de origem privada
destinados a esses projetos, deve ser encarado com muita lógica, desmistifican-
do a ideia de que esse campo de atuação requer apenas ações voluntariosas.
As primeiras manifestações sobre o tema responsabilidade social descri-
tas estão em um manifesto subscrito por 120 industriais ingleses no início do
século XX. Tal documento definia que a responsabilidade dos que dirigem a
indústria é manter um equilíbrio justo entre os vários interesses dos públicos,
dos consumidores, dos funcionários, dos acionistas.
Outro momento histórico importante para a disseminação do conceito de
responsabilidade social empresarial foi a década de 1960. Os movimentos jo-
vens e estudantis dessa época questionavam com veemência o capitalismo ex-
cludente. Nesse período, o tema se manifestou na pauta de grandes empresas
de diversos países da Europa e dos Estados Unidos.
Outro fato que intensificou a reflexão sobre o papel das empresas na socie-
dade foi o período de Guerra Fria. Nesse momento, as preocupações estavam
voltadas ao futuro do sistema econômico no Ocidente. Os altos deficits públi-
cos, a revolução informacional, a transformação produtiva, o desemprego e as
desigualdades sociais vinham demonstrando que o cenário mundial requeria
novas posturas tanto do setor público quanto do privado. Não é possível, por-
tanto, demarcar um único fato para estabelecer a responsabilidade social em-
presarial como comportamento assimilado nas corporações, mas a bibliografia
sobre o tema aponta o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimen-
to Sustentável, no ano de 1998, na Holanda (Instituto Ethos, 2005), como um
marco para a formalização do conceito de responsabilidade social. Esse evento
apresentou o conceito de responsabilidade social como sendo um dos pilares
para o desenvolvimento sustentável e contou com a presença de sessenta repre-
sentantes de diversos países. Em debate realizado, foi discutida a atuação das
empresas no âmbito social.
O Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável abriu es-
paço para o questionamento da relação entre empresa e cidadão. Gradativamente,
as empresas incorporam práticas e dinâmicas voltadas aos anseios da comunidade
na qual estão inseridas, assumindo, dessa forma, o atributo da responsabilidade
social como mais um requisito indispensável para as organizações empresariais.
96 • capítulo 4
A divulgação do balanço social também foi uma prática originada das de-
mandas éticas envoltas na discussão sobre a responsabilidade social empre-
sarial desenvolvida mundo afora. A transparência como valor agregado às mu-
danças do mundo globalizado passou a exigir das empresas a publicação dos
relatórios anuais de desempenho das atividades sociais e ambientais desen-
volvidas, além dos impactos de suas atividades e das medidas tomadas para
prevenção ou compensação de acidentes. Essa diferenciação inicia-se com a
própria noção de que essas ações de RSE devem envolver atitudes planejadas
que vislumbrem resultados, visto que o melhor desempenho nos negócios está
além da relação com a lucratividade.
Essa nova postura das empresas está longe de substituir o papel do Estado
e sua responsabilidade com o progresso social de uma nação, mas é fato que, a
partir dos anos 1990, as empresas, inclusive no Brasil, aumentaram os investi-
mentos em projetos sociais, passando a defender padrões mais éticos na relação
com seus públicos de interesse (fornecedores, funcionários, clientes, governo e
acionistas) e práticas ambientais sustentáveis.
Para os brasileiros, essa questão ganhou evidência maior após o período de
redemocratização e abertura econômica do país na década de 1990, como afir-
ma Alessio (2008, p. 100).
[...] a responsabilidade social das empresas, cuja projeção nos EUA e na Europa acon-
teceu em meados da década de 1960, passou a ser pauta na agenda dos empresá-
rios brasileiros, com mais visibilidade, na década de 1990, incentivada pelo período de
redemocratização e abertura econômica do País, pelos direitos conquistados com a
Constituição Federal de 1988, pela aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescen-
te (ECA) e do Código de Proteção e Defesa do Consumidor em 1990, pela aprovação
da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) em 1992, que contribuíram para uma
maior conscientização e organização da sociedade civil sobre seus direitos, também
favorecendo a fundação de ONGs e o fortalecimento do terceiro setor.
No Brasil, a ação das empresas no âmbito não lucrativo de função social tor-
nou-se significativa entre as décadas de 1980 e 1990. Foram detectadas, a partir
das duas últimas décadas do século XX, ações mais organizadas sistematica-
mente e estrategicamente voltadas para o tema responsabilidade social empre-
sarial. É possível dizer, portanto, que esse período marca a inserção do tema
capítulo 4 • 97
responsabilidade social empresarial (RSE) na agenda de interesses da popula-
ção brasileira. Por outro lado, o caminho não está totalmente consolidado para
que as empresas se beneficiem imediatamente da divulgação de suas ações de
responsabilidade social. Ainda é necessário enfrentar a desconfiança do con-
sumidor em relação à atuação empresarial nesse âmbito. Esse é o principal de-
safio para as empresas que incorporam os princípios da RSE em suas práticas.
Dimensionar as ações de responsabilidade social no Brasil torna-se tarefa
difícil levando-se em consideração o fato de que essas ações se iniciaram in-
formalmente na sociedade por meio de entidades eclesiásticas e empresariais.
Historicamente atrelado à prática da filantropia, o movimento de responsa-
bilidade social no país traz consigo, desde o período colonial, a presença das
igrejas cristãs atuando direta ou indiretamente, prestando assistência à comu-
nidade.
No ano de 1980, professores do departamento de administração da Facul-
dade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São
Paulo (FEA/USP) se uniram para criar uma instituição conveniada à escola – a
Fundação Instituto de Administração (FIA). Dessa fundação, surgiu o Centro de
Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (CEATS).
O CEATS é considerado no Brasil um espaço pioneiro na geração e dissemi-
nação de conhecimento sobre a gestão das organizações da sociedade civil e a
responsabilidade social empresarial. Professores, pesquisadores e estudantes
interessados em compreender e estimular o desenvolvimento social sustentá-
vel no Brasil – viabilizado pelas empresas, pela sociedade civil organizada e em
alianças estratégicas reunindo empresas, terceiro setor e Estado – desenvolvem
pesquisas e análises acerca do empreendedorismo social, da responsabilidade
socioambiental, da avaliação de programas e projetos sociais e das formas de
atuação e parcerias. Além disso, o CEATS publica suas conclusões no Brasil e
no exterior, e também promove cursos e ações de aplicação experimental na
comunidade. (Disponível em: <http://www.ceats.org.br>)
Outro fato que abriu caminho para as práticas de responsabilidade social
no Brasil foi a criação do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
(Ibase). Criado em 1981, surgiu como proposta de democratização da informa-
ção sobre as realidades econômicas, políticas e sociais no Brasil. Instituição de
caráter suprapartidário e suprarreligioso, o Ibase divulga ser sua missão o apro-
fundamento da democracia, seguindo os princípios de igualdade, liberdade, par-
ticipação cidadã, diversidade e solidariedade. Contribuindo para a construção de
98 • capítulo 4
uma cultura democrática de direitos, no fortalecimento do tecido associativo, no
monitoramento e na influência sobre políticas públicas, o Ibase foi fundado pelo
sociólogo Herbert de Souza.
Conhecido como Betinho, Herbert de Souza lançou em 1993 a Campanha de
ação da cidadania contra a miséria e pela vida, popularmente conhecida como
“Campanha do Betinho”, essa foi uma grande mobilização da sociedade brasilei-
ra e das empresas em busca de soluções para as questões da fome e miséria. Para
esse fim, o sociólogo falava em co-responsabilização da sociedade na luta pelas
questões sociais do país.
Em 1990, ano de promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil
pela Lei n° 8.069, foi fundada a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinque-
dos (Abrinq). Pautada no Estatuto da Criança e do Adolescente na Convenção Inter-
nacional dos Direitos da Criança (ONU, 1989) e na Constituição Federal Brasileira
(1988), adota como missão promover a defesa dos direitos e o exercício da cidada-
nia de crianças e adolescentes por meio de ações que garantam esses direitos. (Dis-
ponível em: <http://www.fundabrinq.org.br>)
A criação, em 1992, do Prêmio ECO-Empresa e Comunidade da Câmera
Americana de Comércio de São Paulo destaca o prêmio como um marco para o
reconhecimento dos esforços realizados por empresas que desenvolvem proje-
tos sociais em busca da promoção da cidadania. O Prêmio ECO-Empresa, des-
de sua criação, já segmentava as ações realizadas por meio de projetos sociais
em cinco categorias: cultura, educação, participação comunitária, educação
ambiental e saúde.
Em termos legais, uma ação estimuladora para que as empresas realizas-
sem responsabilidade social no Brasil foi a autorização do Governo Federal
às empresas tributadas em regime de lucro real de deduzir até 2% do lucro
operacional bruto em doações, desde que destinadas a entidades sem fins lu-
crativos, pela Lei das OCIPS n° 91/35. (GIFE, 2002 apud Alessio 2008, p.112).
A criação e a atuação do Grupo de Instituições, Fundações e Empresas (GIFE),
como grupo de trabalho instituidor do embasamento do conceito de “cidadania
empresarial” iniciado em 1995 no Brasil, é ponto altamente relevante para con-
solidação das práticas de responsabilidade social no país. Organizado em torno
da Câmara de Comércio Brasil – EUA em São Paulo (Amcham), o GIFE destaca
o termo terceiro setor, com enfoque especial para as organizações sociais de ori-
gem empresarial. O mesmo grupo que originou o GIFE deu um passo adiante
criando, em 1998, do Instituto Ethos de empresas e responsabilidade social. Sua
capítulo 4 • 99
criação, deu ao movimento de responsabilidade social empresarial um perfil se-
melhante ao já existente no exterior, baseado na ética, na cidadania, na trans-
parência e na qualidade das relações da empresa. Para cumprir sua missão, o
instituto desenvolve uma série de atividades que vão desde a disseminação de
informações sobre responsabilidade social empresarial, conferências, debates e
encontros nacionais e internacionais, orientação através de consultoria, elabora-
ção de manuais para o auxílio das empresas no processo de gestão que incorpore
o conceito de responsabilidade social, elaboração de ferramentas de gestão que
orientem as práticas socialmente responsáveis, até a área de comunicação, arti-
culação e mobilização para facilitar a participação da ação articulada de empre-
sas, organizações não governamentais e poder público na promoção de iniciati-
vas que promovam o bem-estar social.
Embora o engajamento de empresas em ações sociais já venha ocorrendo no
Brasil há muito tempo, vem crescendo, nos últimos anos, a preocupação com um
envolvimento mais sistemático da iniciativa privada com o tema da responsabilida-
de social. Esse fenômeno reflete uma percepção, cada vez mais generalizada na so-
ciedade, de que a solução dos problemas sociais é uma responsabilidade de todos,
e não apenas do Estado; de que é imperativo garantir a todos o acesso a alimenta-
ção, moradia, educação, saúde, emprego, meio ambiente saudável e a outros bens
sociais fundamentais; de que não é mais possível conviver com a exclusão de uma
larga parcela da população desses bens sociais, como até agora ocorre no Brasil.
O mundo não é estático, e nossa era revela uma velocidade nos processos de
mudança organizacional com efeitos poderosos sobre pessoas e sobre a socie-
dade de forma geral. Se compararmos o cenário vivido no mundo há cinquenta
anos, verificaremos uma enorme alteração de condições ambientais e impor-
tantes mudanças no desempenho organizacional.
Se antes verificávamos estabilidade, definição, certeza, abundância, pouca
sofisticação tecnológica e baixos níveis de consciência social, hoje passamos
por períodos de turbulência, ambiguidade, incertezas, escassez, sofisticação
tecnológica e melhoria significativa dos níveis de consciência social devido aos
próprios impactos da globalização.
Segundo o engenheiro e professor universitário Eugênio Maria Gomes (2005),
o foco das organizações, em relação à comunidade, até pouco tempo atrás estava
100 • capítulo 4
direcionado apenas para o mercado, analisando exclusivamente os desejos e a
capacidade de compra. Na atualidade, essa análise também se volta para os as-
pectos sociais, avaliando aquilo que a comunidade necessita além dos produtos
ou serviços que a instituição oferece.
Pode-se concluir, então, que há uma mudança significativa na relação das
organizações empresariais com a sociedade. Nas ações de responsabilidade
social, uma das exigências básicas é a condução dessas ações de forma ética,
por meio de práticas que demonstrem que a cultura organizacional da empresa
está focada nos princípios de solidariedade e compromisso social.
Sintonizado com todas essas transformações, em 31 de janeiro de 1999 o
secretário-geral das Nações Unidas, Kofi A. Annan, desafiou os líderes empre-
sariais mundiais a “apoiar e adotar” o Global Compact.
O Global Compact, traduzido para a língua portuguesa como Pacto Global,
foi um pacto proposto pela Organização das Nações Unidas com diretrizes vol-
tadas para a promoção do desenvolvimento sustentável e da cidadania, medi-
das a serem adotadas pelos líderes empresariais de maneira voluntária.
O Pacto Global visa a mobilizar a comunidade empresarial internacional
para a promoção de valores fundamentais nas áreas de direitos humanos, tra-
balho e meio ambiente, como afirma Ponchirolli (2007 p. 89).
Não é possível caracterizar o Pacto Global como um código de conduta legal-
mente obrigatório, instrumento regulatório ou fórum de verificação e policia-
mento de políticas ou práticas gerenciais. Na verdade, esse pacto é uma iniciativa
voluntária no sentido de que visa a conscientizar e estimular o crescimento sus-
tentável e de cidadania por lideranças corporativas que se mostrem comprometi-
das e inovadoras. A força desse pacto está justamente na força institucional e no
apelo da sua própria instituição propositora, a Organização das Nações Unidas.
O pacto, além de dar complementaridade às práticas de responsabilidade
social empresarial, é visto como um compromisso mundial e suas diretrizes
estão embasados na ISO 26000.
ISO 26000 será a norma internacional de responsabilidade social e está
prevista para ser concluída em 2010. O grupo de trabalho de responsabilida-
de social da ISO (ISO/TMB WG) – responsável pela elaboração da ISO 26000 – é
liderado em conjunto pelo Instituto Sueco de Normalização (SIS – Swedish
Standards Institute) e pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Assim, em decisão histórica, o Brasil, juntamente com a Suécia, passou a pre-
sidir de maneira compartilhada o grupo de trabalho que está construindo a
norma internacional de responsabilidade social.
capítulo 4 • 101
(Disponível em: < http://www.inmetro.gov.br>).
Para o Pacto Global foram escolhidas quatro áreas de atuação que possuem for-
te apelo mundial e potencial para mudanças efetivas e positivas, sendo elas: direi-
tos humanos, trabalho, meio ambiente e combate à corrupção. A partir das quatro
áreas, surgiram dez princípios fundamentais que orientam o pacto. (Ver figura 1.)
WWW.ENDESABRASIL.COM.BR
Uma empresa que queira aderir ao Pacto Global deverá preencher uma carta
modelo, que serve como termo de adesão, além de fazer um cadastramento or-
ganizacional. A partir desse cadastramento no site <http://www.unglobalcom-
102 • capítulo 4
pact.org>, a empresa deverá informar aos acionistas, funcionários e consumi-
dores sobre sua adesão ao pacto. Dessa forma, ela deverá declarar os princípios
na missão da empresa e em diversos de seus documentos oficiais. O compro-
misso deverá se tornar público. Para isso, será necessário emitir comunicado à
imprensa e, a partir dessas ações, assumir os dez princípios nos programas de
desenvolvimento corporativo da empresa.
O perfil dos gestores e os fatores estruturais que facilitaram a difusão das nor-
mas de responsabilidade social no ambiente corporativo são indícios de que
essas normas presentes no ambiente institucional penetram nas empresas e
influem na sua estrutura organizacional e na maneira como se relacionam com
seus públicos de interesse.
Analisar esse comportamento empresarial se faz altamente relevante e ne-
cessário na atualidade porque as forças globais de mudança demonstram uma
alteração significativa no processo de gestão das organizações empresariais,
apontando um salto qualitativo na inter-relação entre instituições e comunida-
des, revelando que uma precisa da outra para ambas prosperarem.
Se o foco das organizações em relação à comunidade até a pouco tempo
atrás estava apenas direcionado para o mercado, sendo somente uma forma
de analisar seus desejos e a capacidade de consumo, agora ele também se vol-
ta para os aspectos sociais, avaliando aquilo de que a sociedade necessita.
Há ações nomeadas de responsabilidade social empresarial que em muitos
casos se restringem apenas ao marketing social da empresa. A crítica é necessária
e relevante para esses casos, por demonstrar que a qualidade desses projetos é de
extrema importância e porque essas empresas, ao adotarem projetos de caráter
social, estão buscando associar a sua imagem a um comportamento ético e so-
cialmente responsável. Dessa forma, essas empresas buscam adquirir o respeito
das pessoas e das comunidades que são atingidas por suas atividades, sendo as-
sim reconhecidas pelo engajamento de seus colaboradores e atingindo a prefe-
rência dos consumidores.
Atualmente, empresários e empresas divulgam nos meios de comunicação
a participação em projetos sociais ou o apoio a eles por meio de doações. Só
capítulo 4 • 103
que a gestão de responsabilidade social abrange muito mais do que simples
doações financeiras ou materiais.
Há definições que englobam a relação ética e socialmente responsável da em-
presa em todas as suas ações, em todas as suas políticas e práticas.
104 • capítulo 4
res funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, clientes, governo, meio
ambiente e comunidade. Essas empresas devem desenvolver a capacidade de
ouvir os diferentes interesses das partes envolvidas para incorporá-los no plane-
jamento de suas atividades, promovendo, assim, a melhoria da qualidade de vida
da comunidade como um todo.
Há ainda um diferencial nessas ações. Em sociedades altamente amadureci-
das quanto a RSE, esse conceito é assimilado não apenas como gestão estratégica
de algumas empresas, mas como um comportamento econômico adquirido, ou
seja, como postura empresarial de quem atua na esfera coletiva e social exigindo,
antes de qualquer resultado, um compromisso efetivo com essas ações. Essas são
empresas que assumem uma administração de dimensão ética e política, tendo
clareza de que o desenvolvimento social é responsabilidade e compromisso de
um Estado democrático e de uma sociedade civil organizada.
A relação estabelecida entre um projeto e os cidadãos usuários não pode ser
vista de forma assistencialista. Em um projeto social também se faz necessário,
como em qualquer outro projeto, a potencialização de talentos e o desenvolvi-
mento da autonomia de seus atores.
As empresas, atualmente, são consideradas grandes polos de interação social,
tanto com os fornecedores como também com a comunidade e seus próprios fun-
cionários. Exatamente por isso, o processo de elaboração de projetos sociais bem
como os investimentos sociais de origem privada destinados a esses projetos, deve
ser encarado com muita lógica, desmistificando a ideia de que esse campo de atu-
ação requer apenas ações voluntariosas.
Atualmente, empresários e empresas divulgam nos meios de comunicação
a participação em projetos sociais ou o apoio a eles por meio de doações. Só
que a gestão de responsabilidade social abrange muito mais do que simples
doações financeiras ou materiais.
Segundo matéria publicada pela revista Veja em 5 de julho de 2006, intitu-
lada “Os santos do capitalismo”, é possível verificar que mesmo ações filan-
trópicas podem ser efetuadas com procedimentos formalizados envolvendo o
reconhecimento do ambiente a da realidade na qual a organização a ser desti-
nada a doação está envolvida, assim como a verificação de tendências, forças e
interesses que atuam sobre ela. Esse reconhecimento é necessário justamente
para que as ações possam ser objetivas e, dessa forma, alcançar com presteza
as transformações almejadas. Uma das questões mais importantes na elabora-
ção de projetos sociais é ter claramente definido as diferenças essenciais entre
capítulo 4 • 105
esfera pública e privada. Em termos de gestão, é preciso identificar com clareza
qual é o ambiente no qual a organização opera.
A matéria traz a informação de que, nos Estados Unidos da América, o im-
posto sobre a transmissão de grandes heranças pode atingir 70%. Dessa ma-
neira, para eles, muitas vezes faz mais sentido criar fundações com objetivos
sociais e colocar os filhos ou herdeiros para comandá-las. Também há a possi-
bilidade de abater do imposto de renda boa parte do dinheiro gasto com cari-
dade, o que levou os EUA ao pioneirismo da moderna filantropia com doações
anuais, cerca de 260 bilhões de dólares. Na mesma reportagem, é indicada ain-
da uma doação realizada pela Microsoft de 28 bilhões de dólares, e por War-
ren Buffet, empresário que aos setenta e cinco anos e com fortuna avaliada em
44 bilhões de dólares doou 40 deles, sendo 30,7 para a Fundação Bill e Melina
Gates, que financia escolas públicas e pesquisas para a cura do câncer. A re-
portagem ainda coloca em questão a análise marxista sobre a concentração de
renda capitalista e a exploração do proletariado, demonstrando a influência de
Bill Gates a toda geração atual de jovens milionários, que buscam máxima efi-
ciência e elevados retornos a investimentos sociais. Essas ações filantrópicas
são guiadas por critérios empresariais como autossuficiência, tendo em vista a
consistência financeira por meio de fontes de renda próprias.
Há metas para a obtenção de resultados efetivos e controles para impedir o in-
chaço da burocracia filantrópica. A garantia da eficiência está justamente em ter
claro que as fundações não devem ganhar mais que 20% do que emprestam. Da
mesma forma, as doações não podem perder o foco e se tornarem aleatórias. Os
projetos devem ser selecionados criteriosamente, de acordo com metodologias
exequíveis, buscando retorno econômico e social de acordo com o que podem ge-
rar. Há fundações que trabalham com objetivos claros, por isso as ações filantrópi-
cas e sua administração financeira passam por auditorias e apresentam relatórios
anuais de suas atividades e resultados.
Esses filantropos bilionários da atualidade não querem apenas aliviar o sofri-
mento dos ainda não incluídos, mas promover a ascensão e transformá-los em
consumidores e mesmo acionistas do sistema de mercado. Está claro que o capi-
talismo não comporta segmentos expressivos de pobreza, mas exige cidadãos com
boa formação educacional e vontade de ascensão social. A dicotomia desse proces-
so revela, ao mesmo tempo em que se assiste aos avanços benéficos, aumento nas
disparidades e desigualdades sociais, o que obriga o empresário a repensar os sis-
temas econômicos, sociais e ambientais. Justamente por isso, de nada adianta ser
106 • capítulo 4
uma grande empresa no ranking de seus negócios se não for possível contar com
uma sociedade que compartilhe das mesmas perspectivas.
O envolvimento e o investimento na comunidade em que a empresa está inse-
rida contribuem para a viabilização dos negócios, exatamente por isso esse canal
deve estar aberto, lembrando que o enfoque da qualidade não está nas coisas ou
nas pessoas, mas nas relações estabelecidas entre elas.
Os mercados fortemente protegidos da concorrência e os consumidores ha-
bituados a pagar o ônus do defeito, sem direitos assegurados e nem mesmo
reconhecidos, constituem um cenário que há muito não faz mais parte da reali-
dade dos mercados globalizados. A mudança é percebida nitidamente no com-
portamento dos consumidores que aprendem gradativamente que seu papel é
legalmente assistido e que sua postura pode levar à perda de credibilidade de
uma empresa e, consequentemente, trazer dificuldades na comercialização de
seus produtos para concorrentes mais ajustados às exigências atuais.
Conscientes de que seu papel na realidade atual deve assumir uma postura
diferenciada, algumas empresas saem à frente assumindo novos modelos de
gestão tanto nas relações externas quanto internas, são novos padrões de pen-
samento, comportamento, postura, habilidade e até mesmo sentimentos. Para
Ashley (2005, p.110) a empresa começa a ser vista como uma rede de relacio-
namentos entre stakeholders, contextualizada no tempo e no espaço, e que se
encontra diante de desafios éticos e da busca pela congruência entre discurso
e prática empresarial.
Mas como as empresas orientam suas estratégias para essa nova concepção
que envolve a postura ética e cidadã?
Obviamente, é necessário destacar que o conceito de responsabilidade so-
cial empresarial não tem como objetivo central servir de instrumento de re-
lações públicas ou marketing, apesar de claramente desempenhar este papel
também. Mas, muito mais do que uma onda politicamente correta, a respon-
sabilidade social está estabelecendo suas bases em razões estratégicas de ne-
gócios, já que, atualmente, encontramos uma sociedade globalizada extrema-
mente competitiva com consumidores mais bem informados e que possuem
amplo poder de escolha.
Se antes de se falar em responsabilidade social as decisões empresariais
eram apenas de acordo com os interesses estratégicos da organização, atual-
mente ela deve incorporar elementos provenientes da sociedade que se bali-
zam pela noção de bem comum.
capítulo 4 • 107
De acordo com um estudo desenvolvido pelo Instituto Ethos de empre-
sa e responsabilidade social em parceria com o jornal Valor Econômico e a
empresa, indicador de opinião pública, 63% dos entrevistados brasileiros,
responderam que valorizam o tratamento que as empresas dispensam aos
funcionários. Embora o engajamento de empresas em ações sociais já venha
ocorrendo no Brasil há algum tempo, cresce nos últimos anos, a preocupação
com o envolvimento mais sistemático da iniciativa privada com a temática da
responsabilidade social. Esse fenômeno reflete a percepção, cada vez mais
generalizada na sociedade, de que a solução dos problemas sociais é respon-
sabilidade de todos, e não apenas do Estado.
108 • capítulo 4
to, não é qualquer alteração nas propriedades do ambiente que caracteriza
poluição. Tinoco e Kraemer (2004) explicam que impacto ambiental negativo
ocorre quando as modificações do meio ambiente provocam desequilíbrio
das relações constitutivas do ambiente. Portanto, existe contaminação quan-
do a harmonia entre os elementos que constituem os ecossistemas é afetada
pelos resíduos emitidos pelas empresas durante o processamento de seus
serviços e produtos.
As ações ecológicas empresariais podem atuar para resgatar essa harmo-
nia. Determinada empresa pode agir para proteger os ecossistemas de seus
próprios resíduos como de outros elementos. Este material considera que uma
ação ecológica empresarial somente pode aumentar a ecoeficiência do negó-
cio quando atuar sobre os resíduos emitidos pela própria empresa durante o
processamento de seus produtos e serviços. Para esse trabalho, desempenho
ecológico significa a empresa produzir seus produtos e serviços sem agredir os
ecossistemas da Terra.
Ecologia no mundo dos negócios pode ser traduzida como a busca por man-
ter o sistema empresa em equilíbrio com os outros sistemas interligados e inter-
conectados com seu negócio e não comprometer a harmonia entre os elementos
que constituem os ecossistemas. Um programa ambiental pode atuar de forma
direta ou indireta para reverter a harmonia entre os elementos que constituem os
ecossistemas. Direta quando agem na relação entre a empresa e algum elemento
de seu meio ambiente. Indireta quando visam influenciar na relação entre dois
sistemas externos ao sistema empresa.
Programas como tratamento de efluente, reciclagem de resíduos sólidos
e sistema de gestão ambiental são ações ecológicas que atuam sobre os re-
síduos emitidos pela própria companhia durante o processamento de seus
produtos e serviços. Agem de forma direta para resgatar a harmonia entre os
elementos que constituem os ecossistemas. Os programas voltados para pro-
mover o desenvolvimento sustentável da sociedade de forma geral, ou espe-
cíficos como educação ambiental à comunidade, a reciclagem de resíduos de
outros processos produtivos e recuperação de áreas nativas são exemplos de
ações ecológicas que agem de forma indireta por atuar sobre elementos não
relacionados com os resíduos da própria empresa.
capítulo 4 • 109
ATIVIDADE
1. Tendo em vista, o texto apresentado anteriormente no item Reflexão, elabore um texto com
dois ou três parágrafos expondo seu ponto de vista a respeito do assunto, concordando
com o autor ou discordando dele. Utilize os conceitos e discussões abordados no capítulo.
REFLEXÃO
Neste capítulo, procuramos abordar a relação entre sustentabilidade e responsabilidade so-
cial, na perspectiva de entender as ações empresariais a partir da lógica econômico-social
-ambiental e seus desdobramentos para o alcance do desenvolvimento sustentável. Vejamos
a seguir algumas reflexões:
O Anticonceito “Sustentabilidade”
Como diz a célebre frase de Lavoisier, na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se trans-
forma. Vivemos em um planeta finito, escolha qualquer material que quiser – a quantidade que
existe na Terra é limitada. Não se cria algo a partir do nada.
Por outro lado, é impossível destruir a matéria. Nada do que se consome é de fato consumido.
Todos os materiais continuam lá, embora em outras formas. Estas formas podem nos ser me-
nos úteis, mas os materiais ainda existem.
Por um lado, portanto, nada é “sustentável” já que tudo o que existe na Terra existe em uma
quantidade finita (embora possamos não conhecê-la no momento). Por outro, absolutamente
tudo é “sustentável” pois somos incapazes de criar ou destruir matéria.
Então o que diabos quer dizer “sustentabilidade”?
Para muitas das coisas que transformamos na natureza há meios conhecidos de retornar
algumas das coisas transformadas a seu estado inicial. Se um processo industrial usa água
para lavar alguma coisa, esta água pode depois ser filtrada e tratada quimicamente de forma
a torná-la igual ao que era antes.
É a este tipo de ciclo fechado que ambientalistas se referem quando falam em “sustentabilida-
de”. Seu ideal é que toda a ação humana deixe o ambiente exatamente como era antes. Se-
gundo seus argumentos, esta seria única forma de garantir a continuidade de nossa existência.
“Sustentabilidade” é Impossível
Há vários problemas com a doutrina da “sustentabilidade”. Tudo o que existe faz parte do
ambiente. Para ser completamente “sustentável”, uma dada ação teria de ter como resultado
110 • capítulo 4
final a mesma situação atual. Ou seja, a única coisa rigorosamente “sustentável” é não fazer
absolutamente nada.
Observando as ações das organizações ambientalistas, percebe-se que esta verdade está
clara para elas. O ativismo ambientalista trata-se essencialmente de impedir que se façam
coisas. Não derrubem florestas, não cacem, não pesquem, não construam hidrelétricas, não
queimem gasolina, a lista é longa.
É evidente que o resultado final de seguir este princípio consistentemente é a inexistência
do homem. Alguns ambientalistas são até honestos o suficiente para reconhecer que este é
realmente seu ideal.
Mesmo que se tolere que o ambiente seja alterado temporariamente, ainda é impossível ser
verdadeiramente “sustentável”. Se usarmos um filtro para limpar a água, de onde vem o filtro?
Se usarmos um material reciclável para o filtro, com que construímos a máquina que o recicla?
E o que fazemos com a sujeira que tiramos do filtro sujo?
capítulo 4 • 111
A realidade é que a vida humana é de constante progresso. Hoje é trivial fazer coisas que
seriam “insustentáveis” cem anos atrás. Mas o progresso da capacidade humana de alterar a
natureza depende da liberdade de usar hoje aquilo que temos hoje, da maneira mais produtiva
que pudermos imaginar.
Pensar no longo prazo é algo fundamentalmente racional. Também não se pode admitir o dano
à propriedade alheia.
A verdade é que existem inúmeros motivos racionais para usar com eficiência os recursos
naturais, reaproveitar muitos dos materiais que usamos e garantir para nós mesmos um meio
saudável e agradável para viver. Não é uma questão de “sustentabilidade” mas sim de tirar o
maior proveito possível das coisas.
LEITURA
MASSA, A. A, NOVAK, A.S, SOUZA, R.P. Responsabilidade Social: um caminho para a sus-
tentabilidade. Disponível em: <http://sottili.xpg.uol.com.br/publicacoes/pdf/IIseminario/
pdf_reflexoes/reflexoes_02.pdf> Acesso em 15 maio 2014.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Fernando. Os desafios da sustentabilidade: uma ruptura urgente. Rio de Janeiro, El-
sevier, 2007.
ASHLEY, Patrícia A. Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo: Saraiva, 2005.
DIAS, R. Gestão Ambiental: responsabilidade ambiental e sustentabilidade. São Paulo: Atlas, 2006.
GIFE (Grupo de institutos, fundações e empresas). Guia sobre investimento social privado em
educação. 2005.
VEIGA, José Eli. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro, Gara-
mond, 2005.
112 • capítulo 4
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo, veremos iniciativas interessantes de grandes corporações com respeito
à temática de sustentabilidade, bem como a criação de produtos mais econômicos e eficien-
tes com geração de resultados.
Ademais, também é discutida a vantagem de uma entidade ser sustentável no cenário atual.
capítulo 4 • 113
5
Consumo
sustentável:
incentivos
5 Consumo sustentável: incentivos
Este capítulo apresenta importantes ações de corporações conhecidas nacional-
mente e internacionalmente no sentido de promover práticas sustentáveis.
OBJETIVOS
• Possibilitar o conhecimento dos aspectos relativos à sustentabilidade desenvolvendo
ações que possibilitem sua implantação;
• Proporcionar conhecimentos sobre o desenvolvimento sustentável promovendo ações
para minimizar possíveis impactos ambientais.
REFLEXÃO
Você tem ouvido muitos comentários a respeito da urgente necessidade de conciliarmos
o consumo ao meio ambiente. Será esta uma equação possível? Vamos ver como empre-
sas e sociedade têm se comportado nesta atual conjuntura?
Introdução
116 • capítulo 5
5.1 Cidade de Estocolmo
CONEXÃO
Saiba mais sobre essa informação em Época Negócios acessando: <http://epocanego-
cios.globo.com>
capítulo 5 • 117
cia energética, emissão de gases poluentes, ruído e manobrabilidade. A tecno-
logia utilizada no projeto é 100% nacional, segundo informações do Laborató-
rio de Hidrogênio da Coppe.
A aparência do veículo é semelhante a de um ônibus convencional, com o
mesmo tamanho. Comparado com veículos a diesel, ele apresenta maior efi-
ciência energética. A emissão de poluentes é nula, de seu cano de descarga é
eliminado apenas vapor de água.
118 • capítulo 5
2007 diminuiu as emissões em 7%. A seguir são apresentadas, com mais
detalhes, as razões, o processo e os primeiros resultados do processo de
neutralização completa das emissões de GEEs.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://www.ecodesenvolvimento.org.br>
6. Em março de 2010 o Grupo Pão de Açúcar lançou o Caixa Verde, que
consiste em reciclagem pré-consumo, ou seja, os clientes podem dei-
xar a embalagem de papel, plástico ou papelão de um produto no Caixa
Verde para reciclagem no momento da compra.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<https://aplicativos.grupopaodeacucar.com.br/pao/sustentabilida-
de/acao/caixa-verde/>
capítulo 5 • 119
7. Uma das empresas que contribuíram para a elaboração do supermer-
cado verde do Grupo Pão de Açúcar foi a Sustentax, que desenvolveu o
projeto de energia sustentável para o Grupo. De acordo com o Presiden-
te da empresa, Newton Figueiredo, a geração de energia a base de gás
natural em empreendimentos comerciais ajuda a reduzir gastos e au-
mentar a eficiência energética. “Em alguns casos pode ser melhor para
uma companhia gerar a sua própria energia, ao invés de comprá-la. A
primeira central de energia à base de gás natural que instalamos foi no
Hotel Renascence, em São Paulo”, explica Figueiredo.
8. O Carrefour é uma das empresas de varejo com mais programas em to-
das as unidades. Um dos programas tem objetivo de reduzir o consumo
de 38 milhões de folhas de papel A4 por ano. “Desde abril de 2007 todas
as impressoras da matriz e das lojas são abastecidas com papel recicla-
do. Só no ano passado reduzimos em 65.505 kg a quantidade de CO2,
preservamos mais de mil árvores, além de economizarmos mais de
dois milhões de litros de água”, informa Paulo Pianez, Diretor de Sus-
tentabilidade do Carrefour Brasil. Para envolver os consumidores em
suas ações sustentáveis, as lojas do Carrefour em Ribeirão Preto (SP)
recebem do consumidor quatro litros de óleo vegetal usado, em troca
de um litro de óleo novo. Nessa ação, o óleo doado é transformado em
biodiesel. Só no ano passado foram coletados cerca de oito mil litros de
óleo de cozinha.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://www.mundodomarketing.com.br>
120 • capítulo 5
ter, as eco-bags - que poderão substituir as atuais de plástico - são fabrica-
das com garrafas PET recicladas.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://www.mundodomarketing.com.br>
10. Com foco no projeto de lei do Governo que obriga empresas a adota-
rem a nota fiscal eletrônica até o fim de 2010, a NeoGrid já desenvolve
este serviço para empresas do Brasil. Por enquanto, a nota fiscal eletrô-
nica está sendo usada em transações B2B. “Normalmente o custo de
emissão por nota fiscal de papel é em torno de R$ 4,00. A nota eletrôni-
ca custa menos de R$ 1,00. Dependendo da empresa, a economia total
pode ser de mais de 50%.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://www.mundodomarketing.com.br>
capítulo 5 • 121
Complexo. Além disso, a Ford realiza a coleta seletiva de lixo, faz cap-
tação da água da chuva em três lagos e está reflorestando uma área de
7 milhões de metros quadrados, dentro e fora do Complexo, com espé-
cies nativas da região.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
< http://www.agendabrasilsustentavel.org.br/ >
13. Com foco no projeto de lei do Governo que obriga empresas a adota-
rem a nota fiscal eletrônica até o fim de 2010, a NeoGrid já desenvolve
este serviço para empresas do Brasil. Por enquanto, a nota fiscal eletrô-
nica está sendo usada em transações B2B. “Normalmente o custo de
emissão por nota fiscal de papel é em torno de R$ 4,00. A nota eletrôni-
ca custa menos de R$ 1,00. Dependendo da empresa, a economia total
pode ser de mais de 50%.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://www.mundodomarketing.com.br>
122 • capítulo 5
demonstração na cidade de São Paulo. A iniciativa é do projeto BEST-
Bio Etanol para Transporte Sustentável, criado pela prefeitura de Esto-
colmo e União Europeia, com a finalidade de incentivar o uso do etanol,
em substituição ao diesel, no transporte público urbano no Brasil e no
mundo. Além de São Paulo, pioneira nas Américas, outras sete cidades,
localizadas na Europa e Ásia, participam do projeto: Estocolmo (Sué-
cia), Madri e País Basco (Espanha), Roterdã (Holanda), La Spezia (Itá-
lia), Somerset (Reino Unido), Nanyang (China), Dublin (Irlanda).
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://www.ideiasocioambiental.com.br>
18. A Cargill reduziu seu consumo de água em cerca de 26% para a utilização
do Óleo Liza, além de economizar 18% de energia elétrica na produção de
garrafas plásticas. Reduziu também o consumo de combustíveis fósseis
e passou a utilizar matéria prima certificada na produção de caixas de
papelão, reduzindo também 40% as emissões de gases de efeito estufa.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://colunas.pegn.globo.com/papodeempreendedor/2010/01/22/
sustentabilidade-de-ponta-a-ponta/>
capítulo 5 • 123
19. A Pepsico desenvolveu a versão orgânica de seu produto achocolatado,
o Toddy. Para a produção são utilizados apenas cacau e açúcar orgâni-
cos e o material dos rótulos é 100% reciclado. Eliminou também a utili-
zação de colheita de cana de açúcar junto de queimadas.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://colunas.pegn.globo.com/papodeempreendedor/2010/01/22/
sustentabilidade-de-ponta-a-ponta/>
21. A empresa Procter & Gamble conseguiu reduzir em 30% o uso de polpa
de celulose no produto; diminuir em 7% o peso total da fralda, resul-
tando em menor geração de resíduos pós-consumo; aumentar 25% a
eficiência do transporte do produto por sua compactação; reduzir 9%
o consumo de energia utilizada no processo de produção; e reduzir em
10% as emissões de CO2 devido ao menor uso de energia no processo
produtivo e transporte
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://colunas.pegn.globo.com/papodeempreendedor/2010/01/22/
sustentabilidade-de-ponta-a-ponta/>
124 • capítulo 5
o consumo de energia para produção e transporte do produto; e dimi-
nuiu o uso de água na formulação do produto.
Saiba mais sobre essa informação acessando:
<http://colunas.pegn.globo.com/papodeempreendedor/2010/01/22/
sustentabilidade-de-ponta-a-ponta/>
capítulo 5 • 125
Artigo
Ações sustentáveis reduzem impacto da crise em empresas
As práticas relacionadas à sustentabilidade constituem um importante fator para o en-
frentamento da crise econômica mundial. Isso é o que executivos e gestores de 25
empresas de grande porte que atuam no Brasil responderam à pesquisa realizada pela
Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável (FBDS) em parceria com a CO-
PPEAD/ UFRJ a qual a Razão Social teve acesso com exclusividade.
Intitulado Os impactos da crise global na agenda de sustentabilidade corporativa: um
estudo de empresas brasileiras líderes em sustentabilidade, o levantamento teve como
objetivo entender como as companhias reagiram à crise econômica. Segundo a dire-
tora executiva da FBDS e coordenadora do estudo, Clarissa Lins, a ideia foi “mapear
os impactos reais da crise na agenda de sustentabilidade corporativa”. Para isso, 45
empresas consideradas líderes em sustentabilidade foram contatadas, mas apenas 25
aceitaram fornecer os dados para a pesquisa. Entre as participantes do estudo, estão
empresas como Ampla, Bradesco, Braskem, Eletrobrás, Itaú/Unibanco, Light, Natura,
Banco Real, Suzano Papel, Usiminas e WalMart.
A conclusão principal do estudo mostra que as empresas não registraram grandes impac-
tos nos investimentos em sustentabilidade e aponta que a transparência e a prestação
de contas (por meio dos relatórios GRI, por exemplo) ganham grande valor e ajudam a
manter o equilíbrio em um cenário de crise econômica. Isso porque tranquilizam a relação
com os diversos stakeholders (grupos de interesse), entre eles os acionistas.
126 • capítulo 5
ambientais são ainda relevantes no país, o onera o desenvolvimento da sus-
tentabilidade. Nos indicadores são analisados 55 critérios vinculados ao de-
senvolvimento sustentável, subdividido em quatro grupos.
O grupo intitulado Dimensão Ambiental, verificou questões acerca do
ar, terra, água, biodiversidade e saneamento, concluindo que, mesmo com
grandes avanços em algumas áreas, ainda existem grandes entraves am-
bientais a serem superados no país, principalmente no que se alude à de-
gradação dos ecossistemas e perda de biodiversidade. Apesar da redução
do desmatamento, ainda existe um percentual de 14,6% comprometidos na
Amazônia Legal e aproximadamente metade do Cerrado. No caso da Mata
Atlântica, existem no máximo 10% do território. A pesquisa conclui com um
alerta importante: o índice de consumo de substâncias nocivas à camada de
ozônio sofreu um pequeno acréscimo, comparado ao ano de 2007.
O grupo intitulado Dimensão Social verificou questões relacionadas à sa-
tisfação das necessidades humanas, melhoria da qualidade de vida e justiça
social, avaliando setores como saúde, educação, habitação e segurança. Em
meio às conclusões têm-se uma maior redução nas desigualdades de gênero,
do que nas de cor e raça; redução da mortalidade infantil e aumento da es-
perança de vida; condições de moradia inadequadas nos domicílios de 43%
dos brasileiros 25,4 mortes por homicídio e 20,3 por acidente de transporte, a
cada cem mil habitantes.
O grupo intitulado Dimensão Econômica verificou questões relacionadas
ao desempenho macroeconômico e padrões de produção e consumo, con-
cluindo que em 2009, o consumo de energia (por ano) de cada brasileiro atin-
giu 48,3 gigajoules (o segundo maior índice registrado do país) e a eficiência
energética do uso não apresentou aumento; aproximadamente metade da
energia brasileira é oriunda de fontes renováveis e mais de 90% das latas de
alumínio produzidas no Brasil são recicladas.
O grupo intitulado Dimensão Institucional verificou questões relaciona-
das aos esforços realizados pela sociedade e pelo governo no intento de con-
tribuir com o desenvolvimento sustentável do Brasil. A avaliação concluiu
que, nesse aspecto, os avanços do país foram destaque no acesso à telefonia
e internet: as residências que possuem acesso à rede praticamente triplica-
ram no período de 2001 a 2008 e o acesso à telefonia móvel dobrou em quatro
anos. Ademais, os IDS indicaram que o investimento nacional em Pesquisa e
Desenvolvimento aumentou de 12 bilhões de reais (em 2000) para quase 33
bilhões de reais (em 2008).
capítulo 5 • 127
Empresas Brasileiras Valorizam Ações de Sustentabilidade Ambiental
Em pesquisa realizada pelo Instituto Ilos (Instituto de Logística e Supply
Chain da Universidade Federal do Rio de Janeiro) aponta que empresas brasi-
leiras estão mais conscientes acerca da importância de implementar práticas
ambientais sustentáveis, inclusive para desenvolver o seu próprio negócio.
A pesquisa foi realizada com diretores e gerentes da área de logística das 109
maiores empresas do Brasil, abordando cerca de 14 setores econômicos. Sete em
cada dez empresas já possuem unidades específicas relacionadas à sustentabili-
dade e a maior parte (72%) desenvolve ações no sentido de minimizar os impactos
ambientais das atividades logísticas de seus negócios.
A pesquisa aponta ainda que 69% de clientes das empresas consultadas es-
tão exigindo um número mais denso de soluções ecológicas. Aproximadamente
70% das companhias relataram estar sofrendo também pressão do governo no
sentido de terem iniciativas sustentáveis. No setor automotivo, por exemplo, os
empresários estão destinando investimentos para o desenvolvimento de moto-
res com tecnologia mais limpa. Exatamente como na Europa, o governo brasilei-
ro está estimulando a indústria de automóveis a desenvolver produtos focando
harmonia com meio ambiente.
Portanto, por pressão do governo e dos clientes, as corporações acabam
por adotar estratégias que conduzem ao desenvolvimento de produtos mais
sensíveis à melhoria da eficiência logística, para que a mesma contribua com
o meio ambiente.
128 • capítulo 5
O Green Brands Global Survey realizou pesquisa em 2009 e concluiu que a
maioria dos brasileiros considera ter um aumento de gastos com produtos e ser-
viços sustentáveis. Em alguns casos, com disposição para pagar até 30% a mais so-
bre os mesmos. Essas informações denotam que o consumidor já reconhece uma
propensão a desembolsar mais dinheiro por um produto ou serviço, desde que por
uma causa sustentável. Esse comportamento é um importante direcionador para
as companhias, pois nota-se uma lacuna que pode ser preenchida no mercado por
novos produtos, que certamente será obtida por empresas com perfis sustentáveis.
Nesse momento sobrevém a necessidade das entidades exporem suas práticas. A
destinação de recursos para boas práticas sociais e ambientais é insuficiente caso
não seja comprovado de forma transparente, factível e confiável.
O assunto em pauta não é novidade, pois é tratado nos Princípios do Equador,
em 2003, um instrumento financeiro que promove práticas sustentáveis no que
concerne à atuação do sistema financeiro de maneira economicamente viável,
socialmente justa e ambientalmente correta. A utilização do poder fiduciário e a
alocação de capital como ativismo dos valores éticos iniciaram em 1960, com a for-
mação de fundos de investimentos vinculados à organizações que desencadearam
os investimentos socialmente responsáveis.
Na década de 90, instituições financeiras passaram a ser pressionadas
pela sociedade com campanhas sobre a responsabilidade do credor pela for-
ma de uso e aplicação dos recursos financeiros. A sociedade passou a questio-
nar as ações de intermediação financeira e as ações de sustentáveis ganharam
espaço dentro das corporações.
capítulo 5 • 129
Empresas, por exemplo, que sofrem processos trabalhistas ou são sus-
peitas de explorar mão de obra infantil e escrava ou poluir o meio ambiente
não têm chances de obter qualquer tipo de benefício ou investimento. Não
obstante, investimentos destinados na qualificação profissional de jovens
em situação de risco de comunidades do entorno de uma fábrica ou a imple-
mentação de mecanismos de redução de consumo da água e a redução de
perdas de matéria-prima em processos de manufatura podem ser transfor-
mados em ganhos institucionais e financeiros para as companhias.
130 • capítulo 5
• Uma Economia de Serviços e Fluxos: essa estratégia altera a relação fun-
damental entre produtor e consumidor. Transforma uma economia de
bens e aquisições em uma economia de serviço e fluxo. Uma mudança
do modelo de negócios, da venda de mercadorias ao leasing de um fluxo
contínuo de serviços para atender as necessidades dos clientes. Como
os clientes atuais exigem qualidade ambiental, os serviços ofertados po-
dem consumir menos recursos e por isso proteger o meio ambiente;
capítulo 5 • 131
• Categoria 4: resíduos constituídos por uma mistura variável e heterogê-
nea de substâncias que individualmente poderiam ser classificadas nas
categorias 2 ou 3.
132 • capítulo 5
• Transformar resíduo em insumos: gerenciar o resíduo de tal forma a de-
compô-lo em novos insumos, como no caso de estação de tratamento de
efluente que permite o reuso da água residual. Verdadeiros sistemas de
recirculação da água. Outro exemplo pode ser o uso de metano para ge-
ração de energia;
5.000,00
4.000,00
Qtde. 3.000,00
m3 2.000,00
1.000,00
0,00
1990 (a) 2000 2001 (b) 2002 2003 (c) 2004
capítulo 5 • 133
Segundo COPESUL (2004) os resíduos reciclados são os resíduos separados
na central de triagem e destinados a processos externos à empresa. Os recupe-
rados compreendem aqueles aproveitados internamente. O principal resíduo
aproveitado é a borra oleosa. Recolhida nos separadores água-óleo ela é enca-
minhada como combustível para queima nas caldeiras. Nota-se que a empresa
transforma um resíduo em insumo e gera assim, energia para uso interno a par-
tir de um detrito. De acordo com o gráfico 1, a COPESUL implantou a coleta se-
letiva em 1989. A partir de 2002 a empresa destina seus resíduos mais para suas
operações internas do que a outros processos produtivos. Com isso, consegue
aumentar os benefícios econômico-financeiros com a manutenção de ações
ecológicas que visam transformar resíduos em insumos.
O gráfico a seguir demonstra os ganhos obtidos pela manutenção de ações
ecológicas pela COPESUL:
Observa-se que quanto mais a COPESUL destina seus resíduos para uso interno
mais aufere ganhos econômico-financeiros. No gráfico 1 há indicadores ambien-
tais físicos do processo de reciclagem dos resíduos sólidos da empresa COPESUL
e o gráfico 2 evidencia o ganho econômico por manter ações ecológicas que atuam
sobre esses resíduos. Econômico porque ao deixar de comprar insumo (energia)
economizou. Utilizou o resíduo borra oleosa para gerar energia. Não houve entrada
134 • capítulo 5
de recursos, por isso não é financeiro.
Essas duas ilustrações demonstram que a contabilidade pode fornecer in-
formações sobre atividades ambientais por meio da divulgação de indicadores
físicos e monetários. Almeida (2002) explica que os indicadores ambientais po-
dem servir de parâmetro para as empresas gerenciarem seu desempenho am-
biental e defende esses indicadores podem ser utilizados para medir os avan-
ços na ecoeficiência dos negócios.
Os indicadores ambientais físicos e monetários divulgam informações úteis
e relevantes sobre a atuação ecológica da empresa e seus esforços para promo-
ver a ecoeficiência. São os principais instrumentos de medida para as empresas
avaliarem a relação de suas operações com os ecossistemas. Indicadores am-
bientais servem para prover os executivos da gestão ambiental de informações
úteis para tomadas de decisões. Podem indicar se as metas estabelecidas são
alcançadas, presença de situações de não conformidade, possíveis soluções
para os problemas ecológicos, além da consequência econômico-financeira do
gerenciamento ambiental.
Tais indicadores podem ser utilizados internamente na gestão ambiental e
externamente para divulgar os gastos e resultados envolvidos com a proteção
do meio ambiente. Segundo Lodhia (1999) a contabilidade ambiental é cons-
tituída por dois elementos: o gerenciamento ambiental (conhecimento dos
problemas ambientais, estimação dos riscos decorrentes, elaboração e implan-
tação de sistemas de gestão ambiental para saná-los) e a comunicação desse ge-
renciamento (evidenciação de informação sobre a proteção do meio ambiente
no Relatório Anual).
Para possibilitar o gerenciamento e sua comunicação, a contabilidade
da gestão ambiental pode se organizar e se estruturar para possibilitar o for-
necimento de informações úteis para tomadas de decisões. Por exemplo,
Ribeiro e Lisboa (2000) ressaltam que é importante evidenciar os passivos
ambientais nas grandes reorganizações societárias para não gerar infor-
mação equivocada sobre a situação econômico-financeira de determinada
entidade no momento de alguma negociação. Para evidenciar, necessita-se
registrar, acumular e principalmente organizar os eventos contábeis rela-
cionados com a gestão ambiental e estruturar a contabilidade.
A ONU (2001) categoriza os gastos ambientais em quatro tipos: tratamento
de emissões e resíduos; prevenção e gestão ambiental; valor de compra dos ma-
teriais output não produto; custos de processamento do output não produto;
capítulo 5 • 135
e as receitas ambientais em dois tipos: subsídios, prêmios; e outros ganhos.
Observa-se que os gastos ambientais podem ser calculados em relação aos cus-
tos de tratamento dos resíduos, às despesas envolvidas com a supervisão do
processo de gestão das atividades ambientais e ao valor contido no desperdício.
Os benefícios podem surgir de incremento de receitas, redução de custos e be-
nefícios intangíveis como melhor imagem.
Basicamente, a gestão ambiental pode ser dividida em prevenção, recupe-
ração e reciclagem. Ferreira (2003) desenvolve um modelo para atender as três
principais áreas da gestão ambiental: prevenção, recuperação e reciclagem, além
de atividades ambientais relacionadas com a produção. Os gastos ambientais
podem ser incorridos com intuito de prevenir poluição, recuperar áreas contami-
nadas e reciclar resíduos. Com base nos tipos de atividades ambientais mantidas
pelas empresas os sistemas de contabilidade ambiental podem ser organizados
para prover informações sobre o desempenho ecológico da empresa.
Hansen e Mowen (2001) consideram que dois tipos de relatórios sobre os
gastos ambientais são essenciais para toda organização que pretende melhorar
seu desempenho ambiental. No primeiro tipo de relatório, há classificação dos
gastos ambientais em quatro tipos de atividade: de prevenção, de detecção, de
falhas internas e de falhas externas. Mensuram-se os gastos em cada tipo de
atividade e os compara com os outros gastos operacionais.
No segundo tipo de relatório, há a confrontação entre os gastos ambientais
e os benefícios gerados pelo investimento em atividades ecológicas. Os benefí-
cios ambientais são classificados em cinco tipos: reduções de custos, contami-
nantes; reduções de custos, eliminação de resíduos perigosos; receita de reci-
clagem; economias de custos da conservação de energia; e reduções dos custos
da embalagem. Mais detalhes ver Hansen e Mowen (2001).
De forma diferente Vellani (2004), baseado em Ribeiro (1998), propõe três
categorias para gastos ambientais e três para benefícios ambientais. Os gastos
ambientais são classificados em atividades: preservar; recuperar; e controlar;
os benefícios ambientais em: redução de gastos, uso eficiente de recursos; re-
dução de gastos, eliminação de multas e taxas; venda de reciclados.
Vellani (2004) também relaciona a abordagem gerencial com a contábil, vi-
sando auxiliar os gestores na elaboração do planejamento estratégico da em-
presa. Tal correlação almeja visualizar a consequência econômico-financeira
do investimento em cada tipo de atividade ambiental e identificar o efeito con-
tábil de investir em determinada ação ecológica. Gastos incorridos em ativida-
136 • capítulo 5
des preservar tendem a ser contabilizados como custos, atividades controlar
como despesas e atividades recuperar como perdas. FEE (2000) explica que o
relatório ambiental deve fornecer ao usuário da informação contábil uma com-
preensão geral de eventos ambientais e os riscos relacionados ao negócio.
Os relatórios com informações provenientes da contabilidade da gestão
ambiental devem ser capazes de auxiliar os executivos na escolha da alternati-
va com melhor custo-benefício para tratar os problemas ecológicos. Segundo
Ribeiro (1998), os gastos na área ambiental podem ter significativos impac-
tos sobre o patrimônio das empresas e assim afetar sua continuidade. Nesse
sentido, deve ser alvo de criteriosas estratégias para garantir o sucesso dos
sistemas de gerenciamento ambiental.
As informações trazidas pela contabilidade da gestão ambiental devem
constar no Relatório Anual da empresa, essencialmente, aquelas que envolvem
cifras relevantes. Lodhia (1999) reforça isso, pois entende que a contabilidade
ambiental envolve o estabelecimento de sistemas de contabilidade internos
cuja informação pode ser evidenciada no relatório anual da companhia. A in-
formação fornecida pela contabilidade da gestão ambiental tem valor quando
evidencia ao gestor os gastos e resultados incorridos nas ações ecológicas com
capacidade de contribuir à Sustentabilidade Empresarial. Isto é, atividades am-
bientais que aumentam a ecoeficiência do negócio.
capítulo 5 • 137
estímulo para participar da implementação do Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo. Conforme os critérios estabelecidos nos projetos de desenvolvimento lim-
po, os mesmos devem atender as condições:
a) participação voluntária;
b) implicar em redução adicional à que ocorreria sem a sua implementação;
c) contribuir para o desenvolvimento sustentável do país em que seja im-
plementada;
d) demonstrar benefícios reais, mensuráveis a longo prazo relacionados
com a mitigação da mudança do clima.
138 • capítulo 5
Perspectivas
Corporações que se enquadram no grupo de países industrializados sofrem um
relevante impacto, diante dos desafios desenhados em Kyoto, haja vista que de-
verão atingir metas de emissão de gases potencialmente poluentes.
Em havendo o não cumprimento das metas, uma alternativa concedida a es-
ses países é o uso do mecanismo de compensação acordado no Protocolo, que
permite que as companhias dos países industrializados comprem os chamados
“créditos de carbono” de empresas localizadas em países em desenvolvimento.
Acredita-se que muitos dólares serão transacionados em virtude das metas não
atingidas em esfera mundial. O Brasil, por sua vez, detém potencial para absorver
um grande volume de créditos através de empresas que exploram atividades que se
adéquam nas normas do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
ATIVIDADE
1. O que você entende por mecanismo de desenvolvimento limpo?
2. Como você avalia o reaproveitamento dos resíduos sólidos como uma ação voltada para
a educação ambiental?
REFLEXÃO
Como vimos neste capítulo, a preocupação mundial relacionada à sustentabilidade
e sua implementação tem sido cada vez mais objeto de estudo e debate na socie-
dade contemporânea. Fomos capazes também de refletir a respeito dos limites e
das possibilidades para a eficiência deste processo, considerando a atuação dos
organismos mundiais, dos grupos empresariais e da sociedade como um todo. Afi-
nal, os impactos positivos da efetivação da sustentabilidade são resultados deste
envolvimento coletivo com a causa tratada nesta disciplina. Façamos o nosso dever!
capítulo 5 • 139
LEITURA
LAYRARGUES, Philippe Pomier. Sistema de Gerenciamento Ambiental, Tecnolo-
gia Limpa e Consumidor Verde: a delicada relação empresa / meio ambiente no
ecocapitalismo. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/rae/v40n2/v40n2a09>.
Acesso em: 16 maio 2014.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Fernando. O Bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.
HANSEN, Don R.; MOWEN, Maryanne M. Gestão de custos. São Paulo: Pioneira Thomson
Learning, 2001.
HAWKEN, Paul; LOVINS, Amory; LOVINS. Hunter. Capitalismo natural: criando a próxima
revolução industrial. São Paulo: Cultrix, 1999.
LODHIA, Sumit K. Environmental Accounting in Fuji: an extende case study of the Fuji Sugar
Corporation. Journal of Pacific Studies - Banking, Finance and Accounting Special Issue, v.
23, n. 2, p. 283- 309, November 1999.
ROMM, Joseph J. Um passo além da qualidade: como aumentar seus lucros e produtividade
através de uma administração ecológica. Tradução. Caetano Manuel Filgueira Pimentel. São
Paulo: Futura, 1996.
140 • capítulo 5