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18/6/2014 O escravo da Casa Grande e o desprezo pela esquerda | Blog da Boitempo

O escravo da Casa Grande e o desprezo pela esquerda


Publicado em 16/06/2014 | 6 Comentários

Por Mauro Iasi.

Malcom X comparou, certa v ez, os negros que defendiam a integração na sociedade norte americana
com escrav os da casa. Para defender suas pequenas posições de acomodação na ordem escrav ista,
buscav am imitar seus senhores, copiar seus maneirismos, usar suas roupas, sua linguagem,
adotando o nome da família de seus senhores. Daí o “X” no lugar do sobrenome do rev olucionário
norte americano.

Não é de se estranhar que os escrav os da Casa Grande se incomodassem com as rev oltas v indas da
Senzala, pois poderiam atrapalhar sua instáv el acomodação, sua sobrev iv ência subserv iente.

Dois tex tos recentes me chamam a atenção, não sei se produzidos pela mesma pena, mas certamente
mov idos pelo mesmo ódio e desprezo contra a esquerda em nosso país. Um deles é de autoria do
sociólogo Emir Sader neste blog (“Não é a Copa, imbecil, são as eleições”), que recentemente

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comparou os manifestantes a cachorros v ira-lata, outro é o editorial do Brasil de Fato de


03/06/201 4 (“Eleições presidenciais e o papel do esquerdismo“) que, não contente em se aliar ao
campo de apoio a Dilma, abriu as baterias contra a esquerda – aquela mesma que em muitas
situações apoiou esse jornal, não apenas nas campanhas para sua sustentação, mas participando de
seu conselho editorial e apoiando nos momentos mais difíceis.

Tanto o sociólogo como o jornal têm o direito de apoiar quem quiserem, de emitirem suas opiniões,
mas o que nos chama a atenção é a necessidade de atacar a esquerda e a forma deste ataque. Como
em todo o debate que busca fugir do mérito da questão (talv ez pela dificuldade em realizar o debate
neste campo) lança-se mão de estigmas. É preciso caracterizar os oponentes como “esquerdistas”,
“minorias”, “intelectuais v acilantes da academia”, ou mais diretamente de “imbecis”.

Por v ezes dev emos aceitar o debate não pela qualidade dos argumentos ou a seriedade dos
adv ersários, mas em respeito àqueles que poderiam se beneficiar do bom debate. Para isso temos
que supor que o debate é sério e que há uma questão de fundo, ainda que para isso tenhamos que
separar uma grossa camada de retórica que v isa desqualificar o debate para não enfrentá-lo.

O argumento central da posição ex pressa nos tex tos citados, mas ex plícita e de forma mais clara no
editorial do Brasil de Fato, poderia ser assim resumida: os gov ernistas teriam uma “v isão ampla da
luta de classes”, que articularia três dimensões – a luta social, a ideológica e a institucional –
atuando com “firmeza ideológica e flex ibilidade tática”; enquanto os supostos esquerdistas “ignoram
a correlação de forças” no Brasil e na America Latina e concentram muito mais nas criticas do que
nas realizações dos gov ernos “populares”. Isso porque subordinam suas posições, como “v acilantes
intelectuais da academia” ou partidos “sem o mínimo peso eleitoral”, não a uma análise concreta de
uma situação concreta, mas a uma “fidelidade” ao marx ismo ortodox o.

O resultado desta premissa, segundo a posição ex pressa, é o seguinte:

“Por isso, para serem condizentes com uma análise concreta de uma situação concreta, os
partidos de esquerda sem o mínimo de peso eleitoral, que não conseguem enraizar sua
mensagem programática e nem contribuir para o av anço da consciência de classe das
massas populares durante as eleições dev eriam estar fortalecendo a candidatura de Dilma,
m esm o sabendo que o neodesenv olv im entism o em curso não é um a
alternativ a popular.”

Mesmo na posição de um “v acilante intelectual do mundo acadêmico, fiel ao marx ismo e de um


partido sem peso eleitoral”, gostaria de iniciar o debate afirmando que nossos colegas dev eriam
seguir, antes de mais nada seus conselhos. Se não v ejamos. O erro do “esquerdismo”, que o
impediria de realizar uma análise concreta de uma situação concreta, é que “não conseguem
identificar frações de classes e seus div ersos interesses em torno do gov erno Dilma”.

Então v amos lá. Quais são as classes e frações de classe que se somam aos gov ernos do PT? O PT
produziu-se como ex periência histórica da classe trabalhadora que acabou por projetar-se numa
organização política que, sem perder a referencia passiv a desta classe, assumiu posturas políticas
que se distanciam dos objetiv os históricos dos trabalhadores. Não se trata de uma questão de
origem de classe, mas do caráter de classe da proposta política apresentada em nome dos
trabalhadores.

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É preciso ex plicar aos leitores que nós (intelectuais v acilantes fieis ao marx ismo) não concebemos a
classe social como mera posição nas relações sociais de produção e formas de propriedade, mas
como uma síntese de determinações que partindo da posição econômica, dev em se somar a ação
política, a consciência de classe e outros aspectos. Dessa forma, um setor da classe trabalhadora,
ainda que partindo originalmente deste pertencimento, pode em sua ação política e na sua
intencionalidade, afirmar outro projeto societário que não aquele que nossa ex periência histórica
constitui como meta – o socialismo –, sendo capturado pela hegemonia burguesa, naquilo que
Gramsci chamou de “transformismo”.

No caso do PT acaba por se consolidar um projeto que tem por principal característica quebrar as
reiv indicações sociais do proletariado e dar a elas uma feição democrática; despir as formas
puramente políticas das reiv indicações da pequena burguesia e apresentá-las como socialistas, e
tudo isso para ex igir instituições democráticas republicanas “não como meio de suprimir dois
ex tremos, o capital e o trabalho assalariado, mas como meio de atenuar a sua contradição e
transformá-la em harmonia.” (Karl Marx , O 1 8 de brumário de Luís Bonaparte, p. 63).

Assim o PT em seu projeto (e prática) de gov erno apresenta em nome da classe trabalhadora um
projeto pequeno-burguês. Mas o PT não gov erna sozinho, têm razão nossos colegas. É necessário
seguir nossa análise para responder quais classes e setores de classe compõem o gov erno Dilma.
Como o centro do projeto político foi deslocado para chegar ao gov erno federal e lá se manter, são
Seguir
necessárias alianças e até mesmo o programa de reformas democrático-populares é por demais
amplo (seria o que André Singer chama de “reformismo forte”), então, rebaix a-se o programa (um
“reformismo fraco”) e amplia-se as alianças. Seguir
Para qual “Blog
direção?da
Boitempo”
Não podemos confundir a sopa de letrinhasObtenha
do lequetodo
de alternativ
post novo as partidárias com segmentos de
classe, mas eles são um indicador das personificações
entregue na desses interesses.
sua caixa de As alianças inicialmente
pensadas como um leque entorno da classeentrada.
trabalhadora, setores médios e pequenos empresários,
se amplia bastante agora no quadro de um Pacto Social. V ejamos:
Junte-se a 1.830 outros
seguidores
“Um nov o contrato social, em defesa das mudanças estruturais para o país, ex ige o apoio
de amplas forças sociais que dêem suporte
Insira ao Estado-nação.
seu endereço de e-mailAs mudanças estruturais
estão todas dirigidas a promov er uma ampla inclusão social – portanto distribuir renda,
riqueza, poder e cultura. Os grandes rentistas e especuladores serão atingidos diretamente
Cadastre-me
pelas políticas distributiv istas e, nestas condições, não se beneficiarão do nov o contrato
social. Já os em presários produtivos de qualquer porte estarão contemplados com
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a ampliação do mercado de consumo de massas e com a desarticulação da lógica financeira
e especulativ a que caracteriza o atual modelo econômico. Crescer a partir do mercado
interno significa dar prev isibilidade para o capital produtiv o.”

Resoluções do 1 2.º Encontro Nacional (2001 ). Diretório Nacional do PT (São Paulo, 2001 ,
p. 38).

Este pacto social com “empresários produtiv os de qualquer porte” não deix aria de fora nem mesmo
os “rentistas”, como se comprov ou. A chamada gov ernabilidade ex igiria que as personificações
partidárias destes interesses estiv essem na sustentação do gov erno, de forma que o gov erno de
“centro” (pequeno-burguês) buscou e conseguiu se aliar com siglas da direita (PMDB, PTB, PP, PSC e
outras). Na composição física do gov erno v emos setores de classes diretamente representados,
como o caso dos interesses dos grandes monopólios no Ministérios da Indústria, dos bancos no
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Banco Central, do agronegógio no Ministério da Agricultura, assim como o controle das agências
reguladores e outros espaços formais e informais de definição da política gov ernamental.

Ev idente que hav erá participação dos “trabalhadores”, mas há aqui uma diferença essencial.
Enquanto os setores do grande capital monopolista lev am suas demandas à política de gov erno e as
efetiv am, as demandas dos trabalhadores são, por assim dizer, filtradas. Enquanto a CUT defendia
suas resoluções em defesa da prev idência pública, um ex -presidente da entidade assume o
ministério para implementar a reforma da prev idência, assim como a luta pela reforma agrária é
tolerada, mas filtrada e peneirada em espaços intermediários para que os militantes comprometidos
não cheguem aos espaços de decisão sobre a questão fundiária e agrária, estes reserv ados aos
representantes do agronegócio.

Podemos v er militantes e personificações de segmentos importantes da classe trabalhadora em


áreas como a saúde, a assistência social e outras, no entanto, o espaço efetiv o de implementação de
políticas ficaria constrangida pelas áreas de planejamento e a lógica da reforma do Estado para
produzir a subserv iência à lei de responsabilidade fiscal e a política de superáv its primárias que
tanto agrada aos banqueiros.

Recentemente a presidente Dilma, atrav és da deputada Kátia Abreu (aquela mesmo!!!) da bancada
ruralista, garimpav a apoio entre os diferentes setores do agronegócio (gado, soja, milho, etc.),
enquanto Paulo Maluf posav a sorridente ao lado do candidato do PT ao gov erno de São Paulo em
troca de alguns minutos no tempo de TV .

O gov erno de pacto social com os setores da grande burguesia monopolista e a pequena burguesia
que sequestrou a representação da classe trabalhadora, implica nos limites da ação de gov erno, isto
é, impedem o “reformismo forte” e impõe um “reformismo fraco”. Para atender as ex igências da
acumulação de capital dos div ersos segmentos da burguesia monopolista, as demandas dos
trabalhadores têm que ser contingenciadas, focalizadas, gotejadas, compensatórias.

Queria-se acabar com a fome e a miséria, mas dev emos nos contentar em combater as manifestações
mais agudas da miséria absoluta. Queríamos uma reforma agrária (e mais que isso, não é, uma nov a
política agrícola e de abastecimento, etc.), mas dev emos nos contentar com crédito para
assentamentos competirem com o agronegócio e assistência para os que não conseguem. Não se
rev ertem as priv atizações realizadas e cresce a lógica priv atista com as fundações público priv adas,
as OSs e outras formas diretas ou indiretas de priv atização.

O problema é que, mesmo assim, dando tanto à burguesia monopolista e tão pouco aos
trabalhadores, a burguesia sempre v ai jogar com v árias alternativ as, e, na época das eleições, v ai
ameaçar, chantagear e negociar melhores condições para dar sua sustentação. O leque de alianças da
gov ernabilidade petista não implica fidelidade dos setores do capital monopolista, adeptos do amor
liv re, entendem o apoio ao gov erno do PT como uma relação aberta. Por isso aparecem na época das
eleições na forma de suas personificações como partidos de “oposição”.

Tal dinâmica produz um mov imento interessante. Amor e união com a burguesia monopolista
durante o gov erno e pau na classe trabalhadora (combinada com apassiv amento v ia políticas
focalizadas e inserção como consumidores); e briga com a burguesia e promessas de amor com os
trabalhadores na época de eleição!

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A abertura da Copa e a hostilização v inda da área V IP contra a presidente funciona aqui como uma
metáfora perfeita: eles fazem a festa para os ricos, enchem o estádio com a elite branca e rica,
esperando gratidão, mas a elite x inga a presidente.

A artimanha gov ernista é circunscrev er a propalada análise concreta de uma situação concreta à
conjuntura da eleição e não do período histórico em que esta conjuntura se insere. Graças a esta
mágica, desaparece o gov erno real entre no lugar um mito que resiste ao neoliberalismo contra as
forças do mal igualmente mitificadas e descarnadas de sua corporalidade real. É o odioso
“neoliberalismo”, que v ai retroceder nos incrív eis ganhos sociais alcançados e desestabilizar os
gov ernos progressistas na America Latina. V ejam, nos dizem, como são piores que nosso gov erno,
precisamos derrotá-los para ev itar o retrocesso e as priv atizações. Mas uma v ez derrotados
eleitoralmente os adv ersários de direita… quem priv atizou o Campo de Libra? Colocando ex ército
para bater em manifestantes? Quem aprov ou a lei das fundações público-priv adas que abriu
caminho para a priv atização da saúde e outras? Quem aprov ou a lei dos transgênicos, o código
florestal e de mineração?

Não são iguais, é v erdade. São duas v ersões distintas disputando a direção do projeto burguês no
Brasil. Um o capitalismo com mais mercado e menos Estado, outro o capitalismo com mais Estado
para garantir a economia de mercado.

Precisamos circunscrev er a análise da correlação de forças ao momento eleitoral para ev itar a


derrota do gov erno Dilma, v ejam, “mesmo sabendo que o neodesenv olv imentismo em curso não é
uma alternativ a popular”!

Então, comecemos por aí: o atual gov erno NÃO É UM ALTERNATIV A POPULAR! Já é um bom
começo. Mas tenho uma péssima notícia… também não é neodesenv olv imentista, seja lá o que isso
queira dizer. É um gov erno de pacto social que, partindo de um programa e uma concepção
pequeno-burguesa, crê ser possív el manter as condições para a acumulação de capitais o que lev a a
uma brutal concentração de renda e riqueza nas mãos de um pequeno grupo, ao mesmo tempo em
que, pouco a pouco e muito lentamente, apresenta a limitada intenção de diminuir a pobreza
absoluta e incluir os trabalhadores na sociedade v ia capacidade de consumo (bolsas, salários e
crédito, etc.).

Ora, o que dev e fazer a esquerda “sem o mínimo de peso eleitoral, que não consegue enraizar sua
mensagem programática e nem contribuir para o av anço da consciência de classe das massas
populares”? Dizem os gov ernistas: v otar na Dilma. No entanto, desculpe a insistência de quem faz
análise concreta de situação concreta não só quando chegam as eleições e água bate na bunda; mas,
e se for ex atamente este processo de pacto social e de implementação de um social-liberalismo que
está impedindo o “av anço da consciência de classe”? Depois de 1 2 anos de gov ernos desta natureza a
consciência de classe está mais av ançada que estav a nos anos 80 e 90? Nos parece que não.

Se somos tão insignificantes, irrelev antes e idiotas… por que é necessário bater desta forma na
esquerda? Pelo simples fato que nossa ex istência, a ex istência de uma ESQUERDA (não a pecha de
esquerdismo que tenta se impor contra nós como estigma), é a denuncia ex plícita dos limites e
contradições que o gov ernismo e seus lacaios querem jogar para debaix o do tapete.

Para manter a “imagem” do gov erno petista (Sader está preocupado com a imagem) é preciso uma
operação perv ersa: atacar quem denuncia os limites desta ex periência, não importando o quanto
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desqualificado e hipócrita seja o ataque, estigmatizando, despolitizando o debate. Primeiro foi


necessário destruir a esquerda dentro do PT e sabemos os métodos que foram usados nesta guerra
suja. Na v erdade o que v emos agora contra a esquerda fora do PT é uma projeção do ataque v il e
brutal que companheiros da esquerda petista sofreram e (aqueles que ainda resistem lá no PT) ainda
sofrem (esquerdistas, isolados das massas, sem ex pressão eleitoral, irresponsáv eis, etc.). E depois
que conseguirem isolar, estigmatizar e satanizar a crítica de esquerda a essa ex periência centrista e
rebaix ada de gov erno? Quando forem atacados pela direita que não guarda nada a não ser desprezo
para com os escrav os da casa grande?

As manifestações seriam, segundo os gov ernistas, uma ofensiv a da direita para sujar a imagem bela e
idealizada do gov erno e o esquerdismo joga água neste moinho. Interessante que a necessidade de
uma análise concreta de uma situação concreta, da correlação de forças e das classes não é
necessária quando se trata das manifestações. MTST, garis, metrov iários, professores, são todos
imbecis marionetes da direita, manipulados por ela e quando pensam lutar por seus direitos e
demandas estão fazendo o jogo da direita. Somos nós que fazemos o jogo da direita… tem certeza?

De nossa parte, não nos incomodamos, porque não esperamos nada mais que isso como
consequência do progressiv o, e triste, processo de descaracterização e rebaix amento político. Não
será a primeira v ez que a política pequeno-burguesa, que se diz representante de todo o pov o, se alia
ao trabalho sujo da direita para combater a esquerda.

Respondemos àqueles que acreditam que estamos isolados com as palav ras de Lenin, com quem
aprendemos a fazer análise concreta de uma situação concreta:

Pequeno grupo compacto, seguimos por uma estrada escarpada e difícil, segurando-nos
fortemente pela mão. De todos os lados, estamos cercados de inimigos, e é preciso
marchar quase constantemente debaix o de fogo. Estamos unidos por uma decisão
liv remente tomada, precisamente a fim de combater o inimigo e não cair no pântano ao
lado, cujos habitantes desde o início nos culpam de termos formado um grupo à parte, e
preferido o cam inho da luta ao cam inho da conciliação. Alguns dos nossos gritam:
V amos para o pântano! E quando lhes mostramos a v ergonha de tal ato, replicam: Como
v ocês são atrasados! Não se env ergonham de nos negar a liberdade de conv idá-los a seguir
um caminho melhor? Sim, senhores, são liv res não somente para conv idar, mas de ir para
onde bem lhes aprouv er, até para o pântano; acham os, inclusiv e, que seu lugar
v erdadeiro é precisam ente no pântano, e, na medida de nossas forças, estamos
prontos a ajudá-los a transportar para lá os seus lares. Porém, nesse caso, larguem-nos a
mão, não nos agarrem e não manchem a grande palav ra liberdade, porque também nós
somos “liv res” para ir aonde nos aprouv er, liv res para combater não só o pântano, como
também aqueles que para lá se dirigem!
(Lenin, Que fazer?, São Paulo: Ex pressão Popular, 62).

***

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Confira o dossiê especial sobre a Copa e legado dos megaev entos, no Blog da Boitempo, com artigos
de Christian Dunker, Bernardo Buarque de Hollanda, Mauro Iasi, Emir Sader, Fláv io Aguiar, Edson
Teles, Jorge Luiz Souto Maior e Mike Dav is, entre outros!

***

Mauro Iasi é professor adjunto da Escola de Serv iço Social da UFRJ, pesquisador do NEPEM
(Núcleo de Estudos e Pesquisas Marx istas), do NEP 1 3 de Maio e membro do Comitê Central do PCB.
É autor do liv ro O dilema de Hamlet: o ser e o não ser da consciência (Boitempo, 2002) e colabora
com os liv ros Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do
Brasil e György Lukács e a emancipação humana (Boitempo, 201 3), organizado por Marcos Del
Roio. Colabora para o Blog da Boitempo mensalmente, às quartas.

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RELA CIONA DO

A paz de Denis Thatcher A forma dialética da Intelectuais e processos


Em "Colunas" dependência políticos
Em "Colunas" Em "Colunas"

Esse post foi publicado em Colunas, Mauro Iasi e marcado conserv adorismo, Emir Sader,
megaev entos, MTST, pt. Guardar link permanente.

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6 RESPOSTAS PARA “ O ESCRAVO DA CASA GRANDE E O DESPREZO PELA ESQUERDA”

Aline Abreu | 16/06/2014 às 21:30 | Resposta


Muito bom o tex to!!! Neguemos o pântano e a apatia. Força !!

Juliano Carlos Bilda | 16/06/2014 às 23:26 | Resposta


A lucidez e coerência do Iasi é surpreendente.

Vilson Gil | 17/06/2014 às 1:07 | Resposta


com o Mauro Iasi não há hipocrisia que resista.
grande tex to.

Débora Corrêa Gomes | 17/06/2014 às 2:37 | Resposta


“Primeiro foi necessário destruir a esquerda dentro do PT e sabemos os métodos que
foram usados nesta guerra suja. Na v erdade o que v emos agora contra a esquerda fora do
PT é uma projeção do ataque v il e brutal que companheiros da esquerda petista sofreram
e (aqueles que ainda resistem lá no PT) ainda sofrem (esquerdistas, isolados das massas,
sem ex pressão eleitoral, irresponsáv eis, etc.). E depois que conseguirem isolar,
estigmatizar e satanizar a crítica de esquerda a essa ex periência centrista e rebaix ada de
gov erno? Quando forem atacados pela direita que não guarda nada a não ser desprezo
para com os escrav os da casa grande?”

Interessante o que se passa aqui no RS, com o retorno do Olív io Dutra para a disputa pelo
Senado: Olív io, que sempre foi oposição às alas mais “liberais” do PT e sempre manifestou
o seu descontentamento com determinadas ações políticas, foi, até bem pouco tempo,
massacrado pela crítica impiedosa de setores do partido – e entre eles intelectuais nada
v acilantes na sua busca por manter o poder – e, no entanto, com o “perigo” oferecido
nesta disputa pelos candidatos do PDT e PP, v oltam atrás e fazem de Olív io um herói
redentor. A situação não é só patética; é desolador perceber o quanto a memória dos
militantes é frágil e o quanto esses mesmos militantes se permitem manipular. Diante
disto, eu realmente espero que a resposta ao teu questionamento no ex certo copiado não
seja uma v olta atrás em busca das parcerias originais. Que se afoguem no pântano em que
buscaram a sua luz.

Miguel de Oliveira | 17/06/2014 às 13:39 | Resposta


Análise muito lúcida e sagaz do Mauro Iasi. Infelizmente o PT se “transformou” e se aliou
à Casa Grande para a manutenção do status quo. Temos que deix ar que o PT v á para o
pântano e seguirmos adiante, construindo uma nov a alternativ a política realmente
socialista.

Luiz Rodolfo Viveiros de Castro | 17/06/2014 às 17:21 | Resposta


“Capitalismo com mais mercado e menos estado” v ersus “capitalismo com mais estado
para garantir a economia de mercado”. Perfeita a equação que sintetiza a disputa
presente… O mais grav e é que a primeira opção, embora mais “pura” ideologicamente, é

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18/6/2014 O escravo da Casa Grande e o desprezo pela esquerda | Blog da Boitempo

menos eficaz para reproduzir o que querem as elites… A, ainda ex istente, capacidade de
cooptação do lulopetismo é o que ainda garante alguma subordinação de setores
oriundos da esquerda e de mov imentos sociais – para ser bem claro: “comprados” pelos
fav ores das migalhas redistribuídas.
O canto de sereia que chama o v oto na ex -esquerda – atual centro direita -para barrar a
direita não pode nem ser considerada por nós que entendemos que o primeiro div isor de
águas para definir o que é ser de esquerda é, sem nenhuma dúv ida, o anticapitalismo!

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