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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE ARTES
CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

LEANDRO LEVY DE SOUZA DANTAS

A SAGA DE MONSENHOR EXPEDITO E SEU POVO, EM MURAL: UM RELATO


DE EXPERIÊNCIA COLABORATIVA EM ARTES VISUAIS.

NATAL
2017
1
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LEANDRO LEVY DE SOUZA DANTAS

A SAGA DE MONSENHOR EXPEDITO E SEU POVO, EM MURAL: UM RELATO


DE EXPERIÊNCIA COLABORATIVA EM ARTES VISUAIS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentada


à Universidade Federal do Rio Grande do
Norte como requisito parcial para a obtenção
do título de Licenciado em Artes Visuais.

Orientador: Prof. Dr. Tassos Lycurgo Galvão


Nunes

NATAL
2017
3

LEANDRO LEVY DE SOUZA DANTAS

A SAGA DE MONSENHOR EXPEDITO E SEU POVO, EM MURAL: UM RELATO


DE EXPERIÊNCIA COLABORATIVA EM ARTES VISUAIS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentada


à Universidade Federal do Rio Grande do Norte
- UFRN, Curso de Licenciatura em Artes
Visuais como parte dos requisitos para
obtenção do título de licenciado em Artes
Visuais.

Aprovado em: ___/___/2017.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________
Prof. Dr. Tassos Lycurgo Galvão Nunes
Orientador – Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

______________________________________________________
Prof. Mr. Artur Luiz de Souza Maciel
1º examinador – Universidade e departamento do examinador

______________________________________________________
Prof. Me. Ildisnei Medeiros da Silva
2º examinador – Universidade e departamento do examinador
4

RESUMO

O presente trabalho consiste em fazer um relato do processo de criação e de


produção de um Mural Pintado, de 5,10 m de altura por 13 m de largura, na parede
externa traseira da Igreja Matriz de São Paulo do Potengi – RN, com a participação
de alguns artistas do município, a partir da realização de um projeto de pesquisa em
arte, de minha autoria, cujo o tema central dar –se a partir de uma breve
investigação sobre algumas ações sociais do Monsenhor Expedito Sobral de
Medeiros, junto com o povo, desde sua chegada à Cidade, até os últimos anos de
sua vida. A pesquisa contou com consulta a referências bibliográficas e biográficas,
depoimentos de pessoas da confiança do Monsenhor Expedito e do acervo de
fotografias autorais de Maria Davina de Lima. Considera-se este trabalho importante,
por reforçar a importância do trabalho autoral e do processo criativo em arte
enquanto pesquisa e tratar de reproduzir alguns desses momentos marcantes, das
Campanhas de trazer água de boa qualidade, para a comunidade local e de poder
conhecer, relembrar e apreciar esses fatos, a partir da observação e da leitura de
imagens, das 7 cenas que compõem o Mural artístico.

Palavras-chave: Artes Visuais. Pesquisa em arte. Processo criativo. Mural.


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ABSTRACT

The present work consist of making a report of a creation of a wall painted, of 5,10 m
high by 13 m wide, on the outside behind wall of São Paulo do Potengi – RN mother
church, with the feat of some county artist, from a realization of a research art project,
of my own, whose main theme realize from a brief investigation about some
Monsenhor Expedito Sobral de Medeiros’ social actions, together with the people,
since his advent in the city, until the last years of his life. The research counted on
the bibliographical and biographical references, story of trusty people of Monsenhor
Expedito and Maria Davina de Lima photo collection’s. This work is consider
important, for reinforces the importance of the own work and the creative process in
art while research and trying to reproduce some of this defining moments, his
Campaign to bring good quality water, to the local community and of get knowing,
remember and appreciate this facts, from observation and reading image, of 7
scenes that compose the artistic wall.

Key words: Visual Art. Art research. Creative process. Wall.


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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - FOTO: Mapa da região, pertencente a paróquia São Paulo


Apóstolo. Arquivo pessoal............................................................. 15
Figura 2 - FOTO: Espaço destacado em vermelho: área em que será
pintado o mural. Arquivo pessoal.................................................. 22
Figura 3 - FOTO: Antes da aplicação da pintura. Arquivo pessoal.............. 23
Figura 4 - FOTO: Material doado pelo “Pé Direito da Construção” –
Arquivo pessoal.......................................................................... 26
Figura 5 - FOTO: Início dos reparos na parede. Arquivo pessoal.............. 27
Figura 6 - FOTO: Parede pronta para iniciar a pintura. Arquivo pessoal.... 27
Figura 7 - FOTO: Divulgação da entrevista na Web Rádio São Paulo.
Arquivo Pessoal......................................................................... 27
Figura 8 - FOTO: Entrevista realizada na web rádio São Paulo. Arquivo
Pessoal....................................................................................... 27
Figura 9 - FOTO: “Print” do acompanhamento da produção da pintura,
pela Web rádio São Paulo. Arquivo Pessoal.............................. 28
Figura 10 - FOTO: Início da pintura na parede. Arquivo pessoal................. 29
Figura 11 - FOTO: Pintura da parte superior do Mural. Arquivo Pessoal...... 29
Figura 12 - FOTO: Celebração por Monsenhor Expedito. Arquivo pessoal
de Maria Davina.......................................................................... 30
Figura 13 - FOTO: Esboço da primeira cena do Mural. Arquivo pessoal...... 32
Figura 14 - FOTO: Esboço na parede, da primeira cena do Mural. Arquivo
pessoal........................................................................................ 33
Figura 15 - FOTO: Desenvolvimento pintura, da primeira cena do Mural.
Arquivo pessoal........................................................................... 34
Figura 16 - FOTO: Últimos retoques da primeira cena do Mural. Arquivo
pessoal........................................................................................ 35
Figura 17 - FOTO: Finalização da primeira cena do Mural. Arquivo pessoal. 36
Figura 18 - FOTO: Visita do Monsenhor à comunidade rural. Arquivo
pessoal e Maria Davina.............................................................. 38
Figura 19 - FOTO: Esboço da segunda cena do Mural. Arquivo pessoal..... 39
Figura 20 - FOTO: Esboço na parede, da segunda cena do Mural. Arquivo
pessoal........................................................................................ 40
Figura 21 - FOTO: Desenvolvimento da segunda cena do Mural. Arquivo 40
pessoal
Figura 22 - FOTO: Finalização da segunda cena do Mural. Arquivo pessoal. 41
Figura 23 - FOTO: Coleta de água da cisterna. Arquivo pessoal de Maria
Davina......................................................................................... 44
Figura 24 - FOTO: Esboço da terceira cena do Mural. Arquivo pessoal....... 45
Figura 25 - FOTO: Desenvolvimento da terceira cena do Mural. Arquivo
pessoal....................................................................................... 47
Figura 26 - FOTO: Finalização da terceira cena do Mural. Arquivo pessoal... 48
7

Figura 27 - FOTO: Monsenhor abrindo uma torneira. Arquivo pessoal de


Maria Davina................................................................................ 51
Figura 28 - FOTO: Esboço da quarta cena do Mural. Arquivo pessoal.......... 52
Figura 29 - FOTO: Esboço do caminhão na parede. Arquivo pessoal........... 53
Figura 30 - FOTO: desenvolvimento da quarta cena do Mural. Arquivo
pessoal.......................................................................................... 53
Figura 31 - FOTO: Finalização da quarta cena do Mural. Arquivo pessoal.... 54
Figura 32 - FOTO: Monsenhor à margem das águas. Arquivo pessoal de
Maria Davina................................................................................. 56
Figura 33 - FOTO: Esboço da quinta cena do Mural. Arquivo pessoal.......... 57
Figura 34 - FOTO: Esboço da quinta cena do Mural. Arquivo pessoal.......... 58
Figura 35 - FOTO: Atividade experimental. Arquivo pessoal.......................... 58
Figura 36 - FOTO: Desenvolvimento da quinta cena do Mural. Arquivo
pessoal.......................................................................................... 58
Figura 37 - FOTO: Finalização da quinta cena do Mural. Arquivo pessoal.... 59
Figura 38 - FOTO: Primeira reunião, em Santa cruz. Arquivo pessoal de
Maria Davina................................................................................. 60
Figura 39 - FOTO: Esboço da sexta cena do Mural. Arquivo pessoal........... 62
Figura 40 - FOTO: Esboço na parede do Mural. Arquivo pessoal................. 63
Figura 41 - FOTO: Finalização da sexta cena do Mural. Arquivo pessoal...... 64
Figura 42 - FOTO: Monsenhor Expedito e o povo. Arquivo pessoal de Maria
Davina.......................................................................................... 66
Figura 43 - FOTO: Esboço da última cena do Mural. Arquivo pessoal.......... 67
Figura 44 - FOTO: Esboço na parede do Mural. Arquivo pessoal.................. 67
Figura 45 - FOTO: Desenvolvimento da última cena do Mural. Arquivo
pessoal.......................................................................................... 68
Figura 46 - FOTO: Últimos retoques no Mural. Arquivo pessoal.................... 68
Figura 47 - FOTO: Finalização da última cena do Mural. Arquivo pessoal..... 69
Figura 48 - FOTO: Mural Pronto e finalizado. Arquivo pessoal....................... 72
8

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 09
2 BREVE PESQUISA SOBRE OS TEMAS: FUNDAÇÃO DE SÃO
PAULO DO POTENGI E VIDA MISSIONÁRIA DE MONSENHOR
EXPEDITO.................................................................................................. 12
2.1 ENTREVISTAS........................................................................................... 16
3 O PROCESSO DE ELABORAÇÃO DO MURAL....................................... 22
3.1 DIVULGAÇÃO E PREPARATIVOS INICIAIS DO MURAL......................... 26
3.2 PRIMEIRA CENA: ATUAÇÕES SOCIAIS, SIGNIFICANTES PARA A
COMUNIDADE DE 1943 A 1953................................................................ 29
3.3 SEGUNDA CENA: ENCONTRO COM O “CASSACO” E O
COMPROME-TIMENTO EM ACABAR COM OS FLAGELOS 37
PROMOVIDOS PELA SECA NO PERÍODO DE 1953 A 1958...................
3.4 TERCEIRA CENA: CRIAÇÃO DE CISTERNAS COMUNITÁRIAS EM
1973............................................................................................................ 43
3.5 QUARTA CENA: AQUISIÇÃO DO CAMINHÃO PIPA EM 1973................. 50
3.6 QUINTA CENA: CONCLUSÃO DA BARRAGEM CAMPO GRANDE EM
1984............................................................................................................ 55
3.7 SEXTA CENA: REUNIÃO EM SANTA CRUZ, O INÍCIO DA CAMPANHA
EM 1993...................................................................................................... 60
3.8 SÉTIMA CENA: INAUGURAÇÃO DAS ADUTORAS EM SÃO PAULO
DO POTENGI/RN, 1999............................................................................. 65
3.9 CULMINÂNCIA E FINALIZAÇÃO DO MURAL........................................... 70
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 74
REFERÊNCIAS.......................................................................................... 77
APÊNDICE................................................................................................. 78
9

1 INTRODUÇÃO

Um dos objetivos do meu trabalho é contar a história do município de São


Paulo do Potengi e um pouco dos trabalhos comunitários realizados por Monsenhor
Expedito e o povo da cidade. Então, acredito que a leitura deste material possa
apresentar informações que possam somar e fundamentar meu trabalho de
pesquisa e a produção coletiva em forma de Mural Artístico.
Este meu trabalho consiste em três etapas que seguem a estrutura básica do
TCC, da seguinte maneira, primeiramente fiz uma sondagem sobre os temas que eu
poderia pesquisar, algo que fosse próximo de onde eu moro e fosse mais prazeroso
de se estudar, desta forma, eu voltei a morar no interior do Estado do Rio Grande do
Norte, especificamente em São Paulo do Potengi. Eu sempre quis fazer um trabalho
desta natureza e que fosse útil para minha comunidade, de origem, então eu fui à
procura de livros, vídeos e pessoas que pudessem contribuir para a minha pesquisa
e fora inevitável evidenciar o nome do Monsenhor Expedito, em todo o material
pesquisado.
Entre todos os trabalhos que ajudaram no desenvolvimento da Cidade,
sempre foram mencionados os problemas resultantes da seca e da falta de chuvas
na região Potengi, depois de ter estudado os materiais, que contam a história da
Cidade, eu me decidi, definitivamente, em tratar da questão da seca e
principalmente como a comunidade chegou a gozar de água potável e de qualidade.
Como o Monsenhor Expedito sempre esteve presente nessas causas, eu resolvi
contar essa história a partir de sua chegada à cidade, até o os últimos dias de sua
vida, que coincidiu com a inauguração da instalação do Projeto de Recursos
Hídricos, que tinha como objetivo transpor a água da lagoa do Bom fim, não só para
a cidade, como também para outras cidades vizinhas. Além dessa pesquisa, eu
procurei estudar o material de Autores, que me ajudassem a realizar essa pesquisa,
ou seja, pesquisa bibliográfica e imagética.
Na segunda etapa, eu procurei uma escola da Cidade, na qual eu pudesse
aplicar a ação pedagógica obrigatória, que associasse ao meu objeto de pesquisa,
que neste caso específico nem fora o relato do estágio na escola, tampouco a
História da cidade mencionada acima, mas fora sim, a produção coletiva de uma
obra de arte, que contasse através de imagens, um pouco da história e sobre
10

algumas ações sociais do Monsenhor, junto com a comunidade e que envolvesse os


alunos dessa Instituição escolar, escolhida por mim. Assim cheguei à escolha do
objeto de pesquisa, que faria parte principal desse trabalho de conclusão, o objeto
escolhido foi a produção coletiva de um Mural artístico de 13 metros de largura por 5
metros de altura, que é exatamente o tamanho da parede externa, parte de trás da
igreja (católica) matriz da Cidade. Após os estudos da pesquisa e a aplicação das
aulas na Escola Estadual Maurício Freire, eu junto com outras pessoas envolvidas
no projeto, mobilizamos as pessoas do município para realizar a pintura do Mural
Artístico.
Na terceira etapa eu considero meu objeto de pesquisa, o Mural, como projeto
de obra artística de minha autoria, cujo tema central é a imagem do Monsenhor
Expedito, como grande mobilizador social da região, julgo este trabalho como
relevante, na medida em que existe o reconhecimento pelo povo de São Paulo do
Potengi e do próprio RN, da figura do Monsenhor e do seu significado para os
mesmos, principalmente em relação às conquistas, que ele proporcionou para
aquele povo.
Nesse sentido, meu Trabalho de Conclusão de Curso permitirá a afirmação
da memória e ilustração dessa figura pública e notória, como patrimônio imaterial do
município e minhas obras como patrimônio material, tendo em vista que a maioria
delas se encontra no próprio município.
Para o campo das Artes Visuais, minha pesquisa se apresenta como
importante, na medida em que se percebe o artista como pesquisador, como sujeito
capaz de produzir conhecimento e discutir a realidade a partir de sua arte. Evidencia
a necessidade da produção da obra de arte estar atrelada à pesquisa,
desmistificando a ideia de “fazer arte pela arte”, mas de pensar a arte como
instrumento estético e político, de maneira que não seja apenas uma ilustração do
mundo, mas fruto de uma problematização e uma leitura do mundo.
Segundo Zamboni 2006, esse tipo de arte que realizamos tem um valor
significativo para o campo da educação, não se tratando apenas de uma ilustração
explicativa:
O tipo de explicação dado pela arte é diverso do científico, já que o
conhecimento fornecido pela ciência é sempre de caráter explicativo; é uma
explicação, e sempre faz parte da natureza da explicação o caráter racional.
(ZAMBONI, 2006, p. 23).
11

Para o Curso de Licenciatura em Artes Visuais, torna clara a importância do


desenvolvimento da problematização do trabalho autoral.
“Existe uma assertiva que diz “uma imagem vale mais do que mil palavras””.
(SILVA, 2008, p. 2). Mais uma vez, essa afirmativa nos aparece para usarmos como
diálogo, que nos colabora ao argumentar a importância da imagem, como veículo de
informação imediata ou não, de qualquer objeto que se queira falar. No caso do meu
trabalho, não se encontra apenas uma imagem, mas sim, muitas imagens em cenas
distintas, que tecem um roteiro histórico crescente, de um mesmo tema e ou assunto
único, a luta do povo junto com o Monsenhor Expedito contra os males causados
pela seca e a busca de água, de boa qualidade para a região Potengi,
principalmente São Paulo do Potengi/RN.
Neste caso então, a imagem era o texto naquele contexto histórico de
desenvolvimento humano, e a partir do momento que a imagem se torna parte de
uma representação anímica de religiosidade, estamos falando em cultura, que na
nossa concepção entendemos como resultante da relação do homem com outros
homens, e com a natureza, através do trabalho, - elemento diferenciador com os
animais - pois o homem não só adapta-se, mas transforma a natureza em seu
benefício, e, por conseguinte transforma-se a si mesmo nesta relação, segundo
Engels (1997). (SILVA, 2008, p. 3).
Esse parágrafo, acima, desmistifica e explica bem, boa parte de cada cena
exposta no Mural, pois é exatamente disso que se trata, as imagens representadas
nos sete momentos subdivididos no mural. Neste caso específico, a intenção é que
as imagens substituam frases, trechos ou textos, ou seja, a imagem é o próprio
texto, um tipo de linguagem específica. E além de todo o desenvolvimento humano e
da própria linguagem escrita, a imagem ainda se faz necessária como linguagem e
comunicação visual, nos dias de hoje. No entanto a escrita é a linguagem mais
esclarecida que o homem desenvolveu. Reconhecendo a importância da escrita, que
por muitas vezes, ela, se sobrepõe às interpretações errôneas, de uma imagem ou
imagens, nós também colocamos nas cenas do mural, algumas palavras como:
siglas, que identificam órgãos que foram citados na história, algumas datas
indicando ações sociais realizadas na época e frases de efeito, que intitulavam
iniciativas e projetos que beneficiaram a comunidade, naquela época.
12

A arte mural se destaca das outras formas de expressão artística por estar
vinculada a um espaço específico dificultando, portanto, qualquer tipo de
circulação e transporte das obras. Além disso, ela não ter um “valor
comercial” e geralmente é renegada a um plano secundário em função de
suas dimensões, localização e proposta. (Wilhelm, 2012, p. 2).

Interessante, a apresentação do trabalho da autora, citada acima, pra mim e


acredito que, para os que necessitam de um esclarecimento do que é Arte Mural, é
muito importante. A ansiedade em terminar o trabalho no prazo, a aprovação da
comunidade e da banca examinadora do TCC, se juntou com o receio, de como
fazer o desenho na superfície, desde o esboço até as primeiras pinceladas e
também de acontecer algum acidente, como derramar um balde de tinta ou qualquer
tipo de desperdício, por parte da minha equipe. A partir disso, eu comecei a
conversar com pintores profissionais de parede, a princípio, para saber qual a
melhor tinta, marca e sua durabilidade, já que uma das intenções do projeto era,
também, restaurar e conservar a obra pintada na parede, por bastante tempo.
Apesar de o meu trabalho estar totalmente envolvido com a Igreja Católica,
pessoas e com a natureza do local, ele não é uma intenção de doutrinamento
religioso, tampouco uma forma de trazer ou buscar mais fieis para a religião, isso
também não quer dizer que, qualquer pessoa não possa fazer uso da obra para
tanto, para esses fins mencionados, pois ela é pública, o objetivo é claro e não tem a
intenção de descriminar, de enaltecer uma religião e sim reconhecer a saga de um
povo, em busca de um bem comum para todos, a água de boa qualidade e retratar a
luta desse povo contra todas as adversidades naturais, políticas e sociais existentes,
principalmente contra a seca, a partir da década de 40 até os anos 2000, nesse
período em que se estabeleceu uma estrutura de tubulação de transposição de água
potável, fixa e aprovada por Lei, nomeada de Adutora Monsenhor Expedito,
conquista que julgamos como vitória da população e que contamos com orgulho e
felicidade.

2 BREVE PESQUISA SOBRE OS TEMAS: FUNDAÇÃO DE SÃO PAULO DO


POTENGI E VIDA MISSIONÁRIA DE MONSENHOR EXPEDITO

Neste capítulo do trabalho, descreverei como eu identifiquei meu objeto de


pesquisa, sua natureza e como eu a estruturei, segundo as orientações do autor que
busquei, para fundamentá-la.
13

Segundo as concepções do autor Silvio Zamboni (ZAMBONI, 2006), a


natureza da minha pesquisa é “pesquisa em arte”, pois o meu trabalho trata de uma
produção artística, que ainda não tinha sido feita, ou seja, “pesquisa em criação
artística” como a Resolução do Curso de Artes Visuais da UFRN exigi que o
graduando fizesse uma ação pedagógica, que associe ao Trabalho de Conclusão de
Curso, eu resolvi fazer, também, uma a interação com alunos da Escola Estadual
Maurício Freire (EEMF), ou seja, “quando o artista também se assume como
pesquisador” e faz do resultado da produção em obra de arte, o seu objeto de
pesquisa. A partir dessas premissas e das características da pesquisa, eu busquei
criar uma estrutura metodológica, de como eu iria realizar a “criação artística”, como
explica Zamboni: “O modelo deverá ser a síntese que dará resultados e respostas as
questões eminentemente práticas” (ZAMBONI, 2006, p. 7).
Para que se possa inicializar um trabalho de pesquisa ou um trabalho
artístico, que também pode ser considerado como um tipo de pesquisa, passei à
organizar as ideias seguindo as sugestões do autor, que se utiliza do pensamento
teórico racional de “Descartes”, que segundo ele, os conceitos básicos da estrutura
do método são: “Evidência, divisão, ordem e enumeração”. (ZAMBONI, 2006, p. 11).
Entendendo a lógica da sequência dada acima, eu passei a criar uma série
ações iniciais, como: consultar livros sobre o tema que faria parte da
contextualização do trabalho artístico, fazer entrevistas pessoais sobre o tema
escolhido, consultar livros que embasasse a fundamentação do tipo de arte que
seria realizada, caracterização da Escola onde seria realizada a ação pedagógica,
seleção do material bibliográfico que seria usado nessa ação.
Neste primeiro momento, eu tive que fazer uma investigação sobre os fatos e
sobre os documentos que evidenciassem a história da fundação de São Paulo do
Potengi e um pouco sobre a vida do Monsenhor Expedito, pois, nas primeiras
tentativas de pesquisa sobre o Monsenhor, percebi que o desenvolvimento da
cidade muito tem a ver com sua chegada à Cidade, de uma maneira que não se
pode dissociar uma coisa da outra. Então, passei a procurar a biblioteca local e/ou
pessoas, que tivessem registros escritos plausíveis como: livros, revistas, artigos etc.
Que comprovassem, empiricamente, tais acontecimentos e causos que ouvi falar,
apenas por boatos. Na sequência, eu passarei a argumentar sobre os temas, a partir
dos materiais bibliográficos pesquisados.
14

O município São Paulo do Potengi, segundo o próprio Monsenhor Expedito,


surgiu, por consequência de um desentendimento entre comerciantes de Juremal,
Bento Urbano e Avelino Pinheiro, esse último fora um representante do chefe
político do município, o Coronel Estevam de Moura, em 1912. (MEDEIROS, 1990, p.
15).
Ameaçados por uma cheia, em 1909, assim como outros membros da
comunidade, Bento Urbano foi obrigado a mudar-se de sua casa comercial, para a
margem da estrada, onde foi impedido de fixar sua residência e seu
estabelecimento, pelo “seu opositor”, Avelino. Em visita de negócios à cidade de
Macaíba, Bento Urbano conseguiu o apoio do Coronel Maurício Freire, para criar um
espaço e uma “feirinha” em frente ao Juremal, até então esse era o nome dado às
terras e ao povoado que vivia do lado esquerdo rio, do Vale do Potengi.
(MEDEIROS, 1990, p. 15).
A comunidade procurou chamar o lugar de Liberdade, tendo o povo essa
problemática, de qual nome dar para o lugar. Para que pudesse resolve-la então, por
José Quixaba, Bento Urbano enviou uma carta ao Padre Cícero, solicitando um
nome para a comunidade, o padre lhe respondeu: “São Paulo” e justificou a escolha
desse nome dizendo “que tinha sido um Santo muito combativo”. (MEDEIROS,
1990, p. 16). Vejamos o que o Monsenhor diz com suas próprias palavras:

Em outubro de 1943, Dom Marcolino me chamou a Natal. A gente já ia com


o coração na mão! Ele me comunicou que o interventor Fernandes Dantas,
a pedido de Dr. Juvenal Lamartine, Manuel Gurgel, Ulisses Medeiros,
Francisco Cabral e outros, ia criar um novo município, com território
desmembrado de São Gonçalo do Amarante e de Macaíba, com sede em
São Paulo do Potengi, também conhecido por São Paulo do Juremal. Ele ia
criar a paróquia, com os mesmos limites. O Dr. Nestor Lima, do instituto
Histórico, já lhe havia fornecido dados. Ficaria uma paróquia boa, com
aproximadamente 1.200 Km² começando, na direção Norte – Sul, no Sítio
“Mocó” até o serrote do “Urubu”, e na direção Leste - Oeste, da Serra da
“Formiga” até a “Cabeça do Boi”. Ele tinha se lembrado de mim, por ficar
mais perto de minha família... Aceitei, dizendo que via nisso a confirmação
da minha vocação de padre rural e vigário da roça, o que muito me honra,
pois a paróquia de São Rafael, começava no arapuá e terminava no Boi
Selado. (MEDEIROS, 1990, p. 14).
15

Figura 1- FOTO: Mapa da região, pertencente a paróquia São Paulo Apóstolo.


Arquivo pessoal.

Segundo Aluízio Azevedo 2000, dois registros publicados, por Luís da


Câmara Cascudo, mereceram ser referenciados em seu livro, na História do Rio
Grande do Norte, trata-se da criação oficial do município de São Paulo do Potengi. A
primeira resolução de nº 15, datada em 3 de Julho de 1911, apresentava-se como
um documento que autorizava o presidente da Intendência do Município de Macaíba
solicitar a criação de uma comunidade no território da cidade. A segunda resolução
de nº 17, datada em 17 de janeiro de 1912 estabelecia, por lei, a primeira resolução
e fundação do Município com o aval do Sr. Manoel Maurício Freire. (AZEVEDO,
História de São Paulo do Potengi, 1983).
E assim instalou-se em janeiro de 1944, (MEDEIROS, 1990, p. 18) o
município de São Paulo do Potengi, com a benção e a nomeação dada pelo Padre
Cícero, com a ajuda e luta do povo pela tal “liberdade”, que buscavam no Vale do
Potengi, pela sensibilização dos Coronéis, que articulavam as terras daquele lugar, e
pela intervenção dos religiosos, que estavam cansados de ver o povo clamarem por
ajuda, e pela fé e esperança de conseguirem sobreviver diante a seca, que os
maltrataram naquela época. A cidade sobreviveu, cresceu e sua família vive e conta
a vitória conquistada, pela esperança e a união.
16

De acordo com as informações dadas no livro de seu amigo Aluísio,


começaremos a falar deste homem, que nasceu às 8h da noite do dia 13 de
dezembro de 1916 (dia de Santa Luzia), na fazenda de Serra Branca, nasce
Expedito Sobral de Medeiros, filho de João Batista de Medeiros (Joca Medeiros) e
Ubalina Sobral de Medeiros. (AZEVEDO, 2000).
Depois de finalizar seus estudos nos Seminários, em Natal e em Fortaleza,
em 1939 recebe sua ordenação Sacerdotal na Catedral de Nossa senhora da
Apresentação. De acordo com as informações coletadas no livro de AZEVEDO
2000, o Monsenhor recebe a primeira função, de coadjutor da Paróquia de Caicó,
cujo titular era o Cônego Walfredo Gurgel. No ano seguinte, foi nomeado para a
paróquia da cidade de Taipu e Touros e no mesmo ano, 1940, foi transferido para a
paróquia de Jardim do Seridó, onde permaneceu até o ano de 1941, ano em que foi
nomeado Vigário da cidade de São Rafael, sua cidade de origem. E finalmente foi
enviado a São Paulo do Potengi, como primeiro Vigário, onde permaneceu até seus
últimos dias de vida. Azevedo 2000 revela em seu livro, que nas primeiras paróquias
em que atuou e nas primeiras viagens feita a São Paulo do Potengi, o seu meio de
transporte era um cavalo. (AZEVEDO, 2000, pp. 18,19, 27, 28).

2.1 ENTREVISTAS

O objetivo da realização dessas entrevistas, além de elencar informações


extras e/ou semelhantes às que já foram coletadas, no material bibliográfico
pesquisado é que, elas tiveram, também, o papel fundamental de contribuir para a
escolha de 7 momentos, mais marcantes e significantes, em relação a luta e
iniciativas do povo, junto ao Monsenhor Expedito. Entre os Entrevistados, eu citarei
a Fotografa Maria Davina de Lima, como uma das pessoas que mais colaborou com
o Projeto, pois ela cedeu não só entrevistas e informações importantes sobre o
tema, mas também cedeu fotografias, de sua autoria, que serviram de inspiração
para a criação dos esboços, das 7 etapas que compõem o Mural Artístico, esse, que
veremos no desenvolvimento e na conclusão deste trabalho.
Meu primeiro entrevistado foi Alba Maria Belchior da Silva. As primeiras
pessoas que consultei, para que pudessem me indicar amigos próximos do
Monsenhor, os quais eu pudesse entrevistar, disseram-me: “ninguém melhor que
17

Alba, para dar-lhe essas informações”, pois se tratava de uma pessoa intima e de
sua confiança. Alba morou por alguns anos na casa do Monsenhor Expedito, por
isso, eu fui até seu encontro, para realizar essa entrevista.
Em relação as informações coletadas dos entrevistados, eu irei condensa-las
e sincronizá-las entre si, pois as informações dadas por todos os entrevistados
foram condizentes, umas com as outras e não foi difícil enumerar os momentos mais
marcantes.
Alba começou seu diálogo elogiando o meu trabalho, dizendo-me que essa
minha iniciativa era bastante interessante, porque, apesar de a História da Cidade
ser muito importante, haviam pessoas que não gostavam de saber e que achavam
esse assunto muito arcaico. Ela falou também, que eu não deveria parar apenas nos
depoimentos que ela me deu, ela também me indicou outras pessoas, ás quais eu
também poderia entrevistar.
Sobre as ações sociais realizadas pelo Monsenhor Expedito, ela citou a
construção de Centros Sociais e comentou que o Monsenhor conseguia, com os
proprietários das terras locais, um espaço, um pedaço de terreno e que junto com os
moradores da própria comunidade e outras pessoas de fora, formavam grupos de
trabalhadores, para construir um prédio, onde pudesse acontecer as atividades
pastorais e sociais, ou seja, um espaço para reunir o povo. Ela comentou que a
preocupação do Monsenhor era que, sempre ao lado desses prédios se instalasse
uma biqueira d’água, que pudesse escorrer água capitada das chuvas, para uma
cisterna, que era construída ao lado dos Centros. Essa água capitada serviria para
abastecer as casas da comunidade, esse projeto também realizou –se em São
Paulo do Potengi (SPP).
Outro entrevistado importante foi o Padre Severino dos Ramos Vicente,
conhecido pelo povo, como Padre Ramos. O padre, assim como Alba, é natural da
cidade vizinha, chamada de Riachuelo, na época pertencente a paróquia de SPP,
que era constituída de 5 municípios. Padre Ramos é o atual Padre da Paróquia de
SPP e ele reafirma, que as construções de Centros Sociais serviam para realizar
atividades educacionais, com o intuito de gerar uma consciência social, a partir da
educação. Nesses Prédios, também aconteciam: reuniões dos sindicatos; clube de
mães; curso de corte e costura; culinária etc. Ele também fala sobre um projeto do
governo Norte-Americano “Aliança para o Progresso”, esse projeto trazia alimentos
18

básicos como: Óleo, queijo, leite em pó e arroz etc., para o Brasil. Esses recursos,
segundo ele, eram trazidos para a comunidade Potengiense, através da
Comunidade Católica Cristã e outros órgãos, de forma voluntária e afirma, também,
que esses alimentos eram distribuídos, gratuitamente, para a região Potengi e que
existia uma balança que ajudava a pesar esses alimentos de forma justa, para todos
os beneficiados.
O terceiro entrevistado, que também relata essa mesma história é o Professor
Silvério Alves da Silva, nascido e criado em SPP. Ele também era amigo do
Monsenhor e o acompanhou, em quase todos os momentos da Campanha, de trazer
água para o município. O professor fala que o Monsenhor chegou na cidade no mês
de dezembro de 1943, trazendo consigo o “símbolo da água”, como meta religiosa,
pois ele era voltado para as questões da seca, “ele era um tipo de homem enviado
por Deus”, “Aquele que colocaria água de boa qualidade para as pessoas”.
Silvério também fala sobre as construções de cisternas comunitárias. Ele fala
que essa campanha foi realizada, principalmente, por freiras do Paraná, que eram
envolvidas com as ações sociais, promovidas pela comunidade cristã do município,
e pelos recursos dos cristãos Católicos da Alemanha.
Ele também relata que as irmãs do Paraná, lá fizeram uma campanha junto
com os alunos, segundo o depoimento de Silvério e do Padre Ramos, a Campanha
era feita nas escolas da seguinte maneira, os alunos que quisessem participar,
dariam uma contribuição simbólica, que não chegava a ser mais do que, o que eles
gastavam com o lanche na escola. Com essa arrecadação, junto com outros
recursos acumulados, a comunidade de São Paulo do Potengi foi contemplada, com
a compra de um Caminhão Pipa que, segundo as informações dadas por eles, veio
do Paraná com seu tanque “meio de água”, ou seja, já veio meio abastecido de
água, do Sul do País. Silvério conta que esse caminhão abastecia dezenas de
cisternas comunitárias rurais e a cisterna “Mãe”.
Alba reafirma que essa cisterna Mãe, ainda se encontra do lado da paróquia
de SPP, essa cisterna acumulava não só as águas trazidas pelo caminhão pipa,
mas, também, as águas captadas pelas chuvas, que eram transpostas por um cano,
acoplado à biqueira, instalada na Igreja Matriz da Cidade.
O Padre Ramos comenta que, naquela época, a partir das 3h da tarde, o
centro da Cidade era aglomerado por pessoas, indo e vindo em busca dessas
19

águas, em carroças, sobre jumentos, com carros de mão ou com galões de água,
nas costas.
Entre alguns depoimentos contados pelos entrevistados, eles enfatizam um
momento muito importante, que faz parte da vida missionário do Monsenhor e que
hoje, também, se fez importante, para toda a comunidade Potengiense. O Padre
Ramos conta que, em consequência de grandes adversidades advindas da seca do
ano de 1953, o Monsenhor, junto com outros Monsenhores e Bispos, preocupados
com a grande estiagem, foram conhecer a construção do Açude Pataxó, lá eles se
depararam com uma situação emergencial, na qual os trabalhadores se
encontravam. Segundo o depoimento de Silvério, esses trabalhadores eram
chamados de “Cassacos”, eram trabalhadores rurais, que prestavam serviços
braçais, na construção de açudes, em troca de alimentos que era distribuído pelos
barracões, de forma muito injusta. Esses homens ficavam trabalhando longe de suas
famílias e o que eles conseguiam trazer para suas casas, não dava para alimentar
sua família por uma semana, então, segundo os entrevistados, era uma situação de
calamidade. Tanto o Padre, quanto o Professor contam que os padres chegaram, no
local, em jipes, não se sabe ao certo, a quantidade de pessoas que foram visitar o
açude, mas o interessante é que esses trabalhadores não sabiam que eles fariam
essa visita, tampouco sabiam identificar quem eram esses padres, só sabiam que
eram padres, por conta das vestimentas, pois eles estavam de batina. Então,
quando os membros da Igreja se organizaram debaixo de um Juazeiro, alguns
desses trabalhadores foram ao encontro deles e um desses cassacos, anônimos, se
aproximou e disse –lhes: “Seu vigário, tire nós dessa escravidão”.
Segundo Padre Ramos, esse momento foi crucial na vida de Monsenhor
Expedito, foi o momento em que o Monsenhor “se converteu”, se sensibilizou e
decidiu, definitivamente, lutar pelas pessoas mais necessitadas. Já o Silvério fala
que, foi a partir desse momento, que o Monsenhor “passou a entender a realidade”,
pois, depois desse ocorrido, as autoridades foram informadas e os trabalhadores
passaram a ganhar dinheiro, ganhando também um pouco liberdade e um certo
poder de compra.
E em um determinado momento, em que eu estava entrevistando Alba, ela
me confessou que o Monsenhor era incansável, em relação a “água” e a questão da
seca. Ela relata que, por ser moradora da residência dele, na época, acabava
20

participando diretamente e indiretamente de conversas e reuniões, que aconteciam


na residência do Monsenhor, ela também fala que existiram planejamentos de
muitos outros projetos hídricos. Tanto o Padre Ramos, quanto o Silvério e ela
falaram de um Projeto, que tinha o objetivo de trazer água, da Lagoa do Bomfim –
São José de Mipibu para “Serra Azul”, mas, esse Projeto não saiu do papel.
Segundo o depoimento de Maria Davina de Lima, foi em 1984 que
construíram a Barragem Capo Grande, às margens do Rio Potengi, que perpassava
a Cidade, ela fala que o Monsenhor também teve a sua participação nessa obra,
mas, segundo os depoimentos, essa participação foi mínima.
O professor Silvério também relata outro momento muito importante, esse
momento descreve o primeiro grande passo, para a realização de instalações das
adutoras, que acabariam definitivamente com os problemas agravantes, causados
pela falta de água, de boa qualidade. O professor conta que o Monsenhor gostava
de ler jornais e assistia programas jornalísticos na TV. Então, um dia em que o
Monsenhor tomava seu café da manhã, assistindo o programa “Bom Dia RN”, ele vê
a entrevista dada pelo Dr. Elias Fernandes, Ex-Deputado na época, falando sobre
seu projeto de Recursos Hídricos e durante a entrevista, ele apresenta a proposta do
Projeto, que seria levado à Assembleia, para que pudesse ser aprovado.
Conforme o depoimento do professor Silvério, o Monsenhor imediatamente se
prontificou em entrar em contato com o Ex-Deputado, pedindo a Alba que
encontrasse o telefone da TV Cabugi, na Lista Telefônica, e antes que o Dr. Elias
Fernandes saísse da emissora, o Monsenhor conseguiu falar com ele, pelo telefone,
perguntando-lhe: “O senhor topa andar pelo Rio Grande do Norte, divulgando esse
seu projeto? E o Deputado respondeu-lhe - Topo na hora.
O momento importante, que eu estava querendo me referir, segundo Silvério,
era a primeira e grande Reunião na Cidade de Santa Cruz – RN, no dia 23 de março
de 1993. Mas, antes que houvesse essa primeira reunião, Alba conta que já vinham
sendo realizadas reuniões sobre a questão de como “conviver com seca”, essas
reuniões aconteciam uma vez por mês e eram chamadas de “Zonais”. Então,
houveram várias zonais em SPP, até chegar à essa parceria, com o Projeto de
Recursos Hídricos do Deputado. Segundo os depoimentos de Silvério Aves e Alba
Belchior, que estavam presentes na reunião, ambos contam que a Reunião foi
composta por aproximadamente 600 pessoas, inclusive 3 Bispos, 3 Senadores, 18
21

Deputados Estaduais, 14 Prefeitos da região Potengi e Trairi, 14 Presidentes de


Câmaras Municipais, Presidentes de Sindicatos, todos os Deputados Federais,
Vereadores de vários municípios, menos o Governador, que na época era o
Garibaldi Alves Filho.
Silvério conta que a reunião começou as 9h da manhã, e Padre Ramos fala,
também, que no início da Reunião o Monsenhor Expedito fez um apelo, a todos os
participantes, dizendo-lhes: “Durante a reunião, não distribuam água para ninguém”,
essa expressão deu a moral à essa reunião, disse e afirmou o Padre. Já o Silvério,
confessa que ele mesmo foi um dos que pregaram os avisos, nas paredes do salão,
com a frase “Aqui nesta sala não entra um copo de água” até terminar a reunião.
Alguém, em meio aos participantes, perguntou ao Monsenhor Expedito: Porque? E
ele respondeu dizendo: “É para as Autoridades saberem o que é passar sede”.
Segundo o Professor, houveram outras reuniões semelhantes, nas cidades de São
Tomé, Lajes do Cabugi, João Câmara, Caicó etc.
Segundo o depoimento da fotógrafa Maria Davina de Lima, que também era
amiga do Monsenhor e que também participou de todas as Campanhas das
Adutoras, a “Adutora Monsenhor Expedito” foi inaugurada em 1999, um ano antes
do falecimento do Monsenhor. Essa Adutora, junto às outras, do mesmo Projeto,
beneficiou mais de 1 milhão de pessoas.
Então, diante à todas as informações dadas pelos entrevistados anteriores, a
fotografa reafirmou a veracidade dos depoimentos e passamos a selecionar e
intitular os 7 momentos marcantes dessa trajetória, do Monsenhor Expedito e seu
povo, em busca de água boa. Depois de concluir as entrevistas, eu passei a
organizar cronologicamente a evidencia dos fatos, mais significantes, de acordo com
as respectivas datas, de cada acontecimento.
“O Papel de enumeração tem a função de restabelecer a continuidade do
pensamento que foi fragmentado”. (ZAMBONI, 2006, p. 13). Enfatizando o
pensamento do Autor e depois de alguns minutos de diálogo com a Fotografa, eu
cheguei a conclusão dos títulos de cada momento/ tema, que foram representados
em sete cenas, no Mural.
A fotografa Maria Davina cedeu 7 fotos de sua autoria, que me ajudaram a
compor a sequência dessa história. As fotos serão apresentadas durante as
descrições de cada cena com os seguintes Títulos:
22

1. Atuações sociais, significantes para a comunidade, de 1943 a 1953.


2. Encontro com o “Cassaco” e o comprometimento em acabar com os
flagelos promovidos pela seca no período de 1953 a 1958.
3. Criação de Cisternas Comunitárias em 1973.
4. Aquisição do Caminhão Pipa em 1974.
5. Conclusão da Barragem Campo Grande, em 1984.
6. Reunião em Santa Cruz, o início da campanha em 1993.
7. Inauguração das Adutoras em São Paulo do Potengi –RN, 1999.

3 O PROCESSO DE ELABORAÇÃO DO MURAL

Após coletar as informações para fundamentar e criar o projeto do Mural, eu


procurei o Padre Ramos, para que ele aprovasse e autorizasse a pintura na parede
da Igreja, a partir da previsão dos objetivos do Projeto, atendendo aos objetivos da
Obra de arte, ele o aprovou na hora. Para que o leitor possa fazer uma comparação
do “antes” com o “depois” da pintura do Mural, na sequência, eu mostrarei como era
a parede antes da reprodução da obra:

Figura 2 - FOTO: Espaço destacado em vermelho: área em que será pintado o mural.
Arquivo pessoal.

A pesquisa temática para a produção desta obra de arte se deu a partir de


investigações sobre a vida do Monsenhor Expedito, em biografias dele feitas por
diferentes autores como Aluízio Azevedo (2000) e Alcides Francisco Queiroz (2000),
23

fotografias constantes no acervo da fotógrafa Maria Davina de Lima, depoimentos de


pessoas próximas a ele, inclusive, seus registros escritos, entrevistas dadas por ele,
vídeos, áudios e objetos que lhe pertenciam, também dispostos no referido memorial
em sua homenagem.

Figura 3 - FOTO: Antes da aplicação da pintura. Arquivo pessoal.

Segundo o próprio Monsenhor Expedito, citado abaixo, em seu livro “Pelos


Caminhos do Potengi”, a Igreja Matriz ficou em condições de uso, no dia 25 de
Janeiro de 1954, então subtraindo os 28 anos de construção, mencionados na
citação acima, a Igreja começou a ser construída em 1926, dessa forma podemos
dizer que, hoje a Igreja tem 63 anos.

A construção levou 28 anos, sem um tostão vindo de fora. Festas e leilões,


com a boa vontade de todos, inicialmente com luz de lâmpada a querozene
e leilão no grito. Quem não se lembra de Calistrato Batista com seu dom de
animador de leilão? Dava gosto ver a comunidade em reboliço, angariando
donativos, envolvendo crianças jovens e adultos, para a obra que é de
todos! Só interrompíamos os trabalhos nas secas e nas campanhas
políticas. (MEDEIROS, 1990, p. 20).

Percebendo minha necessidade de aliar a realização prática à teoria,


corroboro o pensamento de Salles (2006) ao afirmar que:

Devem ser convocados de acordo com as necessidades do andamento das


reflexões, para que os documentos dos artistas não se transformem em
meras ilustrações das teorias (SALLES, 2006, p. 08).
24

O que pude perceber, segundo as observações dadas por Salles (2006, p.


19), é que estou propondo no projeto o que parece ser o cerne do tema abordado.
Nesse sentido, trata justamente e principalmente a importância da “interação”, do
autor com outros autores que discutem assuntos de naturezas semelhantes. De
maneira que, para buscar o desvendamento de documentos e registros de obras e
ou da própria obra, precisei dialogar com outros autores, a partir de leituras, para
que pudesse dar clareza ao que parece não estar explicito na apresentação imediata
da obra.
Nessa direção, revelou-se preciso investigar, além do objeto estudado,
também estabelecer relações com pensamentos que interagem com a mesma
finalidade da pesquisa, rumo ao melhor compreender o produto artístico.
E, em se tratando de elaborar discussões sobre minha própria obra, tenho a
chance de transparecer todo o processo da atividade artística para produção da obra
de arte, rompendo as barreiras dos limites impostos pelos registros de um outro
artista (anotações, rascunhos, etc.).

O artista, em geral, que escreve sobre o seu trabalho, não faz


obrigatoriamente pesquisa, pode fazer uma simples reflexão sobre sua
forma de trabalhar, de expressar seus conceitos, dúvidas, inquietações,
métodos de trabalho, preferências e opiniões, sem no entanto realizar
pesquisa. (ZAMBONI, 2006, p. 74).

Nesse sentido, para o artista, há uma grande vantagem na produção de um


trabalho científico, em que sua obra é o objeto de pesquisa, cabendo a ele, entre
outras atividades, relacionar-se com outros trabalhos científicos e artísticos, para
melhor esclarecer seus propósitos, junto às obras apresentadas. Nesse caso, as
fotografias de Maria Davina, os registros das entrevistas realizadas, as referências
bibliográficas consultadas, etc.
Em relação ao procedimento metodológico, eu como artista, autor e
pesquisador da obra em estudo, fiz algumas observações sobre a escolha dos
temas retratados, sobre os aspectos visuais e paisagísticos, sobre os elementos que
compõem a obra, de forma que identifique, relacione e familiarize as interpretações
dos fatos históricos, enfatizando a importância da investigação temática dentro do
processo de criação, como nos apresenta Salles:
25

Esta abordagem do movimento criador (...) reforça a contraposição à visão


da criação como uma inexplicável revelação sem história, ou seja, uma
descoberta sem passado, só com um futuro glorioso que a obra materializa
(SALLES C. A., 2006, p. 21).

Segundo as concepções de Salles (2006), entendo que alguns artistas


buscam realizar a pesquisa partindo de um determinado pressuposto, ou seja,
partindo da origem, da inspiração, de uma epifania que faz com que o artista
materialize seu pensamento em forma de obra. E o que seu argumento propõe é
que não é necessário partir dessa premissa, desse padrão de pesquisa, e sim da
obra em movimento, em processo.
Desta maneira, o artista detém para si um pensamento que relaciona infinitas
formas de concluir o seu trabalho. Em outras palavras, o trabalho não termina na
suposta conclusão, mas finaliza-se em sua etapa de pesquisa para dar continuidade
a outra seguinte. Seguindo essa linha de pensamento, pude fazer a pesquisa
utilizando a possibilidade de uma ordem de roteiro de produção, retomando
trabalhos anteriores. Não tendo essa continuidade, o trabalho fica um tanto restrito,
não permitindo ao pesquisador avançar novas formas de ver interpretar e se
relacionar com o objeto de pesquisa escolhido.
O diálogo com Cecília Salles (2006) marca um ponto de identificação do
pesquisador com seus próprios escritos, e essa relação acontece justamente para
facilitar a comunicação com um terceiro integrante, o leitor da obra de arte.
Cecília Salles (2006) trata de um fervor da influência cultural, no qual ela
justifica a intencionalidade da obra: o “porquê” desse calor que incita o artista a
produzir e se essa sua própria produção artística, não faz parte da cultura que o
rodeia, indubitavelmente, ela o fará, de qualquer maneira, fazer parte integrante do
contexto. A imparcialidade ou a falta de familiaridade com o contexto ou com as
obras e seus supostos temas, enfim, não permite que o pesquisador/ autor de uma
obra se expresse com veemência, com segurança ou com propriedade sobre aquilo
que ele está querendo explicitar e defender. Por isso, ele precisa interagir ao
máximo com os mais diferentes tipos de informações e registros que ele puder
coletar.
Em relação ao calor e ao “fervor cultural” dito acima, no meu caso, não é
apenas uma expressão de turbulência e sim uma realidade vivenciada, causada pelo
calor e pela falta de água. O calor é, portanto, literal, real e é parte inevitável dentro
26

de todo o contexto das composições. Estamos tratando especificamente da questão


da seca em si. Normalmente a delimitação do tema escolhido vem de uma ligação
direta com a problemática a ser desenvolvida.

Os documentos registram muitos momentos de intensidade, nos quais


relações ficam claras: ele tudo olha, recolhe o que possa parecer de
interesse, acolhe e rejeita, faz montagens, organiza, ideias se associam,
formas alternativas proliferam e pesquisas integram a obra em construção.
(SALLES, 2006, p. 34).

Nesse caso específico, não foi diferente; o pesquisador do tema é justamente


parte integrante da pesquisa, ou seja, o artista das obras. O âmbito cultural não é
tão somente aquele em que me insiro, mas, aquele em que eu vivenciei em boa
parte de minha vida.
Depois da proposta do projeto ter sido aprovado pelo Padre Ramos, eu fui
apresentar a carta de apresentação aos gestores da Escola Estadual Maurício
Freire, eu também fui atrás de patrocínio para comprar as tintas, para poder realizar
a pintura na parede e por sorte, a empresa que vende materiais de construção, “Pé
Direito da Construção”, doou todo o material de pintura. Na sequência, me
prontifiquei de realizar a Ação Pedagógica Obrigatória.

Figura 4 - FOTO: Material doado pelo “Pé Direito da Construção” –


Arquivo pessoal.

3.1 DIVULGAÇÃO E PREPARATIVOS INICIAIS DO MURAL

No dia 4 de Novembro de 2016, as horas foram bastante produtivas, pois pela


manhã desse dia, eu apliquei a última aula, em sala de aula na Escola Estadual
Maurício Freire, nessa aula eu apliquei para os alunos uma oficina de pintura, que
27

preparou os alunos para a intervenção no mural que seria no dia 18 de novembro,


ainda pela manhã, eu fui verificar como estava o andamento da preparação da
parede, para que pudéssemos aplicar a arte, ou seja, a preparação do muro, ou
seja, trata-se de alguns reparos que os pintores, profissionais, estavam realizando
na parede, para que a parede ficasse lisa, sólida e que fizesse com que a arte
aplicada, na parede, tivesse uma maior durabilidade. Como podemos ver nas
imagens a seguir:

Figura 6 - FOTO: início dos reparos na parede. Figura 5 - FOTO: Parede pronta para iniciar a
Arquivo pessoal. pintura. Arquivo pessoal.

Nesse mesmo dia, eu tive com o professor, o último encontro, que


contabilizou 4h de orientação na EEMF, onde eu reorganizei os materiais produzidos
e estudados, para poder fazer a escrita do relatório reflexivo da experiência, no
estágio. Após sair da orientação eu fui, imediatamente, para a Web Rádio São Paulo
dar uma entrevista e falar sobre os anseios do projeto.

Figura 7 - FOTO: Divulgação da


Figura 7 - FOTO: Entrevista realizada
entrevista na Web Rádio São Paulo.
na web rádio São Paulo. Arquivo
Arquivo Pessoal. Pessoal.

A participação na web Rádio, trava-se de uma entrevista para o programa


“Questão Política”, apresentado pelo Locutor Lucas Tavares. Essa entrevista foi
muito importante para a produção do mural. Durante a entrevista, eu aproveitei para
28

fazer alguns agradecimentos, a todas as pessoas que estavam colaborando com a


realização do projeto e também aproveitei a oportunidade, para fazer um convite a
todos os artistas visuais da Cidade. Apesar do projeto ser de minha autoria, a
parceria e colaboração de todos os envolvidos na produção foi indispensável e muito
importante, pois, sem a participação deles e da comunidade, esse projeto perderia
boa parte dos seus objetivos. E a partir do dia seguinte, no sábado, começamos as
primeiras pinturas no mural, onde foram surgindo diversas indagações sobre como o
mural artístico poderia surgir na parede.

Tanto em arte como em ciência ou em qualquer atividade, o ato da criação


é o surgimento de algo original, uma ordenação que assume um caráter que
remete ao novo. (ZAMBONI, 2006, p. 35).

Os responsáveis pela Web rádio se comprometeram em acompanhar a


produção do Mural, passo a passo, enviando seus funcionários para fazer algumas
matérias e registros visuais do processo da pintura das cenas, do início até o fim.
Como podemos conferir nas imagens a seguir, que também mostram as primeiras
pinturas, feitas no fim de semana, que antecedem a primeira cena do mural, que
produzimos na Segunda Feira, dia 7 de novembro de 2016.

Figura 8 - FOTO: “Print” do acompanhamento da produção da pintura,


pela Web rádio São Paulo. Arquivo Pessoal.
29

Figura 10 - FOTO: Início da pintura na Figura 10 - FOTO: Pintura da parte


parede. Arquivo pessoal. superior do Mural. Arquivo Pessoal.

Todavia, ela é considerada por diversos artistas, autores e críticos de arte,


como a arte acessível, com grande representatividade social, política ou
como arte significativa enquanto expressão da identidade de um povo.
(Wilhelm, 2012, p. 2).

Esse trecho descreve bem um pouco da intenção da arte mural e a escolha


de onde ela seria realizada, neste caso, na parede mais visível da cidade.

3.2 PRIMEIRA CENA: ATUAÇÕES SOCIAIS, SIGNIFICANTES PARA A


COMUNIDADE DE 1943 A 1953

Nessa primeira cena eu tentei expor ao máximo e de forma nítida, de maneira


que qualquer pessoa pudesse ver e entender os desenhos existentes em cada cena.
Essa primeira cena é a que tem mais poluição visual, pois é a história de um período
de desenvolvimento da Cidade, que está sendo contada por imagens, trata–se de
algumas ações sociais, realizadas pelo o Monsenhor ou por influência dele, desde
sua chegada à cidade, em 1943 até o ano de 1953. Estas ações foram as mais
significantes, relatadas nas entrevistas e evidenciadas no material bibliográfico,
pesquisado.
Então, eu vou comentar um pouco sobre os elementos visuais, presentes nas
cenas, relacionando-os com os materiais estudados, para fundamentar a obra de
arte. O Mural foi subdividido em 7 partes, a primeira e a última cena tem um
tamanho maior que as outras, pois representam dois momentos mais significantes
da história pesquisada, que é a chegada do Monsenhor à cidade e suas primeiras
ações sociais e na última cena, a conclusão e inauguração das Adutoras na Cidade.
Mas, o mural também é subdividido na parte inferior e na parte superior, na parte
superior, por ser um pouco alto, eu preferi colocar apenas nuvens, essas nuvens são
30

brancas, semelhantes as nuvens que pairam sobre nossa região e na parte inferior,
busquei representar apenas a vegetação nativa, comum à realidade do nosso
Município. Outro motivo me levou a colocar apenas nuvens na parte de cima do
mural, a pesar dos Artistas convidados serem maiores de idade, foi o de não correr
nenhum risco, de coloca-los em uma situação perigosa, os andaimes foram muito
úteis para a produção do Mural, mas não eram suficientes para garantir que nenhum
dos participantes se machucassem ou acontecesse qualquer tipo de acidente, então,
por esse motivo o fizemos dessa maneira.
Nesta primeira cena apresento a primeira foto, que serviu de inspiração, de
autoria da Fotógrafa Maria Davina de Lima, a seguir.

Figura 11 - FOTO: Celebração por Monsenhor Expedito. Arquivo


pessoal de Maria Davina.

A primeira foto retrata bem a campanha da nomeação do Monsenhor


Expedito, como Padre Oficial do município de São Paulo do Potengi, na década de
40. Tanto as pessoas entrevistadas, quanto os referenciais bibliográficos
pesquisados contam que, o Monsenhor era um Padre do povo e para o povo e essa
Imagem representa bem essa ligação, que ele tinha com as pessoas. Lembrando
que, as fotografias de Davina serviram. Principalmente, para me inspirar a elaborar o
esboço da imagem do Monsenhor, e o conjunto das fotografias serviram para
elaborar o esboço geral, do mural artístico.
Com a ajuda e o apoio de Dom Eugênio, o vigário conseguiu um caminhão de
mercadorias e com isso pretendia abrir um “Posto de Revenda”, onde os preços dos
31

produtos ficariam equivalentes ao preço de custo, eles então passaram a “competir


com o barracão Tradicional”. A partir dessa iniciativa coletiva, em um mês, o
barracão fechou. Com o aval de Dom Eugênio, a mercadoria era trazida de graça
pelos caminhões da Base Naval e repassada a preço de custo. “Com 4.000
trabalhadores sob sua responsabilidade, nossa comissão viu a coisa preta!”.
(MEDEIROS, 1990, p. 27).
Azevedo (1983) afirma que por muitas vezes o Mons. Expedito se
apresentava na igreja nas manhãs de domingo com a “cabeça esbranquiçada” de
farinha de mandioca, ou seja, o vigário também contribuía com a força braçal, na
distribuição dos alimentos para as comunidades. Segundo ele, “em momentos
difíceis, como o da seca de 1958, com generosidade e ardor o missionário mobilizou
a comunidade para servir noite e dia os flagelados, distribuindo gêneros
alimentícios” (AZEVEDO, Monsenhor Expedito - O Profeta das Águas, 2000, p. 5).
Então, tendo em mão, a fotografia do Monsenhor Expedito, na época exata
das datas citadas, em cada etapa do mural e na cronologia das Cenas, passo a
descrever os grafismos apresentados na cena. No esboço, eu coloquei personagens
na parte superior, jogando futebol, representando o incentivo do Monsenhor à
criação de: Quadra de esporte, campo de futebol e clubes desportivos. Também na
parte de cima, eu coloquei casas que representam a criação de Centros Sociais e o
Posto de distribuição, de alimentos do DNOCS (Departamento Nacional de Obras
Contra as Secas) e um pouco abaixo, eu pus o caminhão das Forças Armadas,
representando o trabalho voluntário dos Fuzileiros Navais, que traziam de graça os
alimentos conseguidos pela Campanha da “Aliança para o progresso”, citada pelo
Padre Ramos, no centro da imagem.
Podemos fazer uma sutil comparação, com a fotografia do Monsenhor
Expedito e o Povo, e logo abaixo a representação de uma balança grande, nivelada
na horizontal, representando a justiça na distribuição dos alimentos. Abaixo da
balança e em forma de “V”, eu representei imagens de pessoas com baldes e latas,
encima de jumentos com caçoas, indo em busca do alimento e voltando depois de
recebe-los, entre esse “V” inverso, eu pus uma dupla de Violeiros e uma moça
cantando em meio a eles, pois, nos Centros Sociais, os jovens recebiam
instrumentos musicais para formar grupos de música.
32

Entre os personagens, para ajudar a entender melhor qual a intenção da


cena, eu também coloquei algumas “placas” com títulos de atividades sociais,
promovidas por sua influência. As respectivas descrições das atividades nas placas
são: DNOCS; Centro Social; 1952 – Fundação do Centro Social; Pastoral do tijolo;
Departamento Esportivo; Semanas Rurais; 1958 – serviço de Pronto socorro; 1953 –
Campo de Futebol; Escolas Radiofónicas; Escritório Emater “emergência”; 1955 –
Escola de Música e 1957 – Escola de Comércio. (AZEVEDO, 2000, pp. 43, 44, 45,
46).

Figura 12 - FOTO: Esboço da primeira cena do Mural. Arquivo pessoal.

Antes de fazer os esboços na parede, eu fiz um esboço de proporção menor,


feito com material simples, como cartolina, lápis e régua. Como podemos ver na
imagem anterior.
Esses esboços serviram de referência, mas as reproduções, tanto do
desenho na parede, quanto da pintura, após a aplicação do esboço eram feitos
pelos artistas convidados, por isso o desenho nem sempre era igual ao esboço
original. No entanto, fazer uma cópia fiel, não era objetivo principal da pintura do
33

mural. Na próxima imagem, começamos a mostrar um pouco da produção da cena


na parede.

Figura 13 - FOTO: Esboço na parede, da primeira cena do Mural. Arquivo


pessoal.

É importante pensarmos nessa expansão do pensamento criador, no nosso


caso, sendo ativada por elementos exteriores e interiores ao sistema em
construção. Essas conexões podem ser responsáveis pela inventividade...
(SALLES, 2006, p. 19).

Apesar de essas imagens não estarem contidas na fotografia de Maria


Davina, era exatamente disso que eu estava falando anteriormente, dessa
“ramificação de novas possibilidades” (SALLES, 2006, p. 19) e as fotografias
serviram, justamente, para nortear a imaginação, na hora da criação. As
informações dadas pelos entrevistados, foram de maior importância nesse momento
de abstração, pois é o momento em que a gente consulta nossa memória, para
achar referências do nosso imaginário, é através desses grafismos gravados em
nosso inconsciente, que conseguimos transpor para a superfície, aquilo que vemos,
quando escutamos uma história ou lemos um livro, por exemplo, por isso esse mural
ficou tão rico em formas e cores. Pois, não dá para identificar, o desenho ou o estilo
de um participante só na cena, todos interferiram em quase todas as imagens do
Mural, então a obra é única e exclusiva, genuína por ser feita coletivamente e pura
por não ter um único autor. Salles reafirma:
34

Não se pode deixar de levar em conta, por exemplo, as interações entre


indivíduos como um dos motores do desenvolvimento do pensamento:
conversas com amigos, aulas com mestres respeitados ou opiniões de
leitores ou espectadores particulares. (SALLES, 2006, p. 25).

Figura 14 - FOTO: Desenvolvimento pintura, da primeira cena do Mural. Arquivo


pessoal.

Será comum vermos, nos registros fotográficos do Mural, a aglomeração de


artistas e a ausência de alguns, em determinados momentos da produção, pois nem
todos tinham tempo integral para participarem, todos os dias, tampouco tinha a
obrigatoriedade de cumprir horários e de serem pontuais, apesar de todos estarem
bem envolvidos no projeto e de estarem sentindo-se orgulhosos de participar dele.
Essa nova experiência artística instigou a todos nós e isso é explicado pelos estudos
da autora Cecilia, que diz:

O artista, impulsionado a vencer o desafio, sai em busca da satisfação de


sua necessidade, seduzido pela concretização desse desejo que, por ser
operante, o leva à ação, ou seja, à construção de suas obras. (SALLES,
2006, p. 27).

Os horários de pintura eram basicamente pela manhã, das 8h às 11h,


retomando a pintura no anoitecer, aproximadamente ás 6h da noite, até as 10 ou
estendendo o horário, até no máximo meia noite. E assim foram estabelecidos os
horários de trabalho na obra.
35

Figura 15 - FOTO: Últimos retoques da primeira cena do


Mural. Arquivo pessoal.

O material utilizado era bem simples, era tinta lavável branca e nela
adicionávamos os pigmentos de cores variadas, o participante ia experimentando e
criando a cor desejada, na hora da pintura. O mais importante no ato de fazer esse
trabalho coletivo foi a troca de conhecimentos, na hora da pintura, a afinidade, o
respeito e o coleguismo, que surgiu de forma natural, como forma de sermos gratos,
pela oportunidade ímpar de fazer algo que ninguém teve coragem de fazer, ou que,
de repente, nunca imaginávamos fazer. Essas sensações são de suma importância,
para que o leitor possa ter uma ideia daquilo que de fato aconteceu, além de aplicar
tinta na parede, nós também aplicávamos nossos sentimentos.
Esse Projeto foi marcado pelo trabalho em equipe, sem esse pensamento
incomum, entre todos os participantes, esse trabalho não teria o mesmo aspecto e
talvez não teria tido sucesso. Como professor e instrutor do trabalho, as sensações
eram de proporção maior, era como se eu estivesse apenas cavando uma fenda por
onde a água iria escoar, e nem sempre a água escorria por onde foi feito a fenda, e
isso, foi o que fez do mural um trabalho tão belo. Todo trabalho tem planejamento,
ritmo e rotina e quando conseguimos pegar o ritmo da produção, com a experiência
do primeiro quadro, foi muito mais fácil reproduzir as outras cenas.
36

A criação como processo relacional mostra que os elementos


aparentemente dispersos estão interligados; já a ação transformadora
envolve o modo como um elemento inferido é atado a outro. Os elementos
selecionados já existiam, a inovação está no modo como são colocados
juntos, ou seja, na maneira como são transformados. (SALLES, 2006, p.
29).

O trabalho detém sobre si os limites da história, das imagens do homem


pesquisado, do ambiente, das estruturas físicas simples, da imagem das plantas e
vegetações da caatinga, impossibilitando invenções que ultrapassem a verdade, do
que se foi dito, do que se foi visto, vivenciado, registrado, fotografado, cabendo ao
artista abstrair sim, imaginar sim, mas todas essas atividades do processo de
produção dentro dos limites da coerência do que foi e do que é de fato. A
reprodução artística, independentemente de ser voltada as concepções das obras
ditas realistas ou outras semelhantes, busca a clareza das formas, a leitura imediata
e suas características estam fundamentalmente na singularidade das escolhas de
cada artista, na qualidade das formas, que se quis reproduzir, aquilo que quisesse
que fosse visto, mas, respeitando a memória do que foi e do que é retratado, para
que seus espectadores, apreciadores e pessoas que conviveram com o Monsenhor,
sendo moradores do município ou não, possam se identificarem com as imagens
que se apresentam dentro do quadro. Vejamos o resultado final dessa primeira
experiência, a seguir:

Figura 16 - FOTO: Finalização da primeira cena do Mural. Arquivo pessoal.


37

Já a Arte como forma de persuasão social e política pode ser vividamente


sentida no objeto dessa pesquisa, que é o movimento muralista mexicano, o
qual lançou mão das pinturas em murais para doutrinar a população
campesina analfabeta. De outra forma, essa população não teria como
aprender sobre a história de seu país e desenvolver um senso de
patriotismo que, em última instância, deu força para a sustentação de uma
ideologia política, forjada no seio de uma revolução popular: a Revolução
mexicana. (ADES, 1997). (NOBRE, 2011, p. 15).

A arte e como ela é feita numa comunidade, conta muito sobre as


características do povo local, seus hábitos e seus costumes estão ligados
diretamente com suas habilidades e criatividades. Apesar da tecnologia e da
violência evidente no mundo inteiro, ainda existe resquício de manifestação e
produções artísticas, por toda a cidade. É aí que a Igreja, sua comunidade e o Líder
comunitário principal, que fora o Monsenhor Expedito entraram, incentivando a
juventude. A igreja católica, neste caso específico e neste município foi a
organização social, política e religiosa responsável por boa parte da fundação da
Cidade e seu desenvolvimento.

3.3 SEGUNDA CENA: ENCONTRO COM O “CASSACO” E O COMPROME-


TIMENTO EM ACABAR COM OS FLAGELOS PROMOVIDOS PELA SECA NO
PERÍODO DE 1953 A 1958

Na segunda cena do Mural, nós representamos o encontro do Monsenhor e


os outros Padres, com o Cassaco anônimo, na visita em que fizeram, na intenção de
conhecer a construção do açude Pataxó. Esse momento, não obstante, em relação
às outras cenas, particularmente, parece ser um dos momentos mais marcantes,
pelo menos para a comunidade de SPP, pois, trata-se de um apelo feito por um dos
trabalhadores, que os Padres encontraram, quando foram conhecer como era e
como acontecia essa construção, pois os mesmos estavam preocupados com a
grande estiagem. Essas informações já foram mencionadas nos depoimentos dados
pelos entrevistados e a intenção dessa descrição é basicamente entender como eu
visualizei essa cena, pois não há registro fotográfico dessa viagem. Mas, junto a
fotografa Davina, selecionamos uma foto que serviu de referência, para que eu
pudesse transpor a cena imaginada para o papel, ou seja, para o esboço.
38

Vimos um formigueiro humano de cossacos, carregando barro em


caminhões e em costas de jumentos. Uma turma nos reconheceu, pois
andávamos de batina, e correu ao nosso encontro, debaixo de um juazeiro.
Um deles, parecendo ser o líder foi nos dizendo: “Seu vigário, tire a nós
dessa escravidão, pelo amor de Deus!” Aí passou a relatar as péssimas
condições de trabalho, pagamento em vale no barracão, longe da família; o
que levava para a família, no fim de semana, não dava para três dias!...
(LIMA, 1995, p. 2).

Sobre a questão da seca, na época e também em São Paulo do Potengi , em


1953 se abateu sobre o nordeste, uma devastadora seca e uma das consequências
foi o vigente regime da “Indústria da Seca”, onde alguns enriqueciam explorando a
miséria de muitos, a situação era a seguinte, o trabalhador era apelidado de
“Cassaco”, mediante a construções de açudes, trabalhava em troca de alimentos, no
“Barracão”, estabelecimento que normalmente era liderado por alguns
“espertalhões”, que a partir desse tipo de comércio, acabavam ficando muito ricos.
(MEDEIROS, 1990, p. 26). Veremos a fotografia de Davina a seguir.

Figura 17 - FOTO: Visita do Monsenhor à comunidade rural. Arquivo pessoal e


Maria Davina.

Maria Davina comentou, que essa foto foi tirada, no dia em que o Monsenhor
foi visitar uma mulher, em um sitio (zona rural) de SPP, que estava muito doente.
Então, eu achei a foto bem expressiva, pois a fotografa me confessou que nesse
mesmo momento, em que ela tirou a foto, ele voltava dessa casa chorando,
sensibilizado com a situação em que ela se encontrava.
39

Figura 18 - FOTO: Esboço da segunda cena do


Mural. Arquivo pessoal.

As interações são muitas vezes responsáveis por essa proliferação de


novos caminhos: provocam uma espécie de pausa no fluxo da continuidade,
um olhar retroativo e avaliações, que geram uma rede de possibilidades de
desenvolvimento da obra. (SALLES, 2006, p. 20)

E era exatamente essa cena que eu queria reproduzir, do Monsenhor


Expedito, compadecido com a situação de emergência em que aqueles
trabalhadores se encontravam, principalmente com o cassaco anônimo, que lhe fez
o apelo. Em relação aos resultados dessa “interação”, que a autora comenta acima,
eu usei a imagem do Monsenhor e os depoimentos dados nas entrevistas, para criar
um esboço e um cenário que compusesse a cena, que não foi registrada por foto,
como um certo tipo de ilustração. Assim como foi dito pelos entrevistados, eu fui fiel
aos depoimentos dados, como podemos perceber, na cena, o Monsenhor não está
40

sozinho, existem outros personagens, os outros Padres, e as pessoas que imaginei


no cenário entorno do Açude. Esse cenário era composto por: Duas casas;
(inspiradas nas casas, que vimos na fotografia de Davina); um Jipe; um Juazeiro
(arvores); pedras; águas e a caatinga. Nessa cena eu também inclui uma placa com
o nome Açude Pataxó, para que as pessoas entendessem de imediato, a situação
representada. Veremos como ampliamos esse esboço na parede e como a cena foi
concluída.

Figura 20 - FOTO: Esboço na parede, da Figura 20 - FOTO: Desenvolvimento da


segunda cena do Mural. Arquivo pessoal. segunda cena do Mural. Arquivo pessoal.

A obra não está só em cada uma das versões, mas também na relação que
é estabelecida entre essas diferentes versões. São processos -- com
informações não de bastidores -- que também nos instigam. (SALLES,
2006, p. 174).

Nesse momento de abordagem sobre a obra como processo, que é de


extrema importância para o rumo que estamos dando a compreensão do trabalho
em movimento, a autora afirma que a descrição da composição da pintura é peça
fundamental para a construção do processo em andamento, mas, ressalta a
importância do pensamento, que antecede a materialização da obra, ou seja, toda a
reflexão, as coletas de informações, as decisões do que vai ser exposto e o que foi
dispensado da lista de possibilidades do que pode vir a ser o projeto inicial da
produção: rascunhos, esboços, medidas, estruturas, enfim, ela nos adverte que o
planejamento é parte integrante e fundamental da obra como processo. Vejamos a
cena:
41

Figura 21 - FOTO: Finalização da segunda cena do


Mural. Arquivo pessoal.

Para Barbosa (2008, p.72): "Ao tecer uma diferenciação entre olhar e ver,
alguns teóricos e artistas ressaltam que começamos olhando para depois
chegarmos ao ato de ver. (Pletsch, 2013, p. 9).

Em geral, “olha-se sem ver” (Pletsch, 2013, p. 9). Neste caso houve uma
visualização premeditada, de como seria o mural, antes mesmo de qualquer tipo de
alteração na parede. Depois de feita a cena, podemos olhar e em seguida ver, de
maneira crítica, avaliando detalhes relevantes que surgiram de forma inédita, no ato
de “fazer” o mural. Construindo esses significados, em forma de imagens, sob posse
42

dos conhecimentos, que são adquiridos, também como um processo de


alfabetização visual, pela prática.
Há trechos do texto que não posso deixar passar despercebido, pois se
relaciona exatamente com os objetivos do meu trabalho, por exemplo, em relação as
citações sugeridas anteriormente e a situação atual do conhecimento do povo, sobre
a história de sua própria cidade, o povo fundamentava-se em boatos, histórias
contadas verbalmente e de uma maneira não institucional ou informal, que por
muitas vezes acabava em conflitos e contradições. Sobre a dúvida e a veracidade
dos fatos contados, pra isso, alguns autores se disponibilizaram em lançar livros,
sobre esses fatos, que contassem a história da cidade. Entre os autores que
descrevem e contam essa história, nos livros pesquisados, posso mencionar o
escritor Aluísio Azevedo, que foi amigo íntimo do Monsenhor. O que eu quero dizer,
com todo esse diálogo é que, a maioria das pessoas não sabiam, de fato, sobre a
história de seu próprio povo e da sua região, por falta de estudo ou simplesmente de
interesse e essas informações, apesar de terem sido publicadas, não estão, hoje, a
disposição do povo, quero dizer, não há mais exemplares à venda, nem livros novos
que registrem esses acontecimentos.
Tendo em vista essa problemática existente, eu a usei também para justificar,
um dos objetivos do meu projeto, que foi facilitar e propiciar de forma rápida, pública
e gratuita a história de nossa Cidade, a luta do povo, junto com o Monsenhor
Expedito. Do ponto de vista da persuasão política social e religiosa, da arte mural do
projeto, não teve, por mim, nenhuma intenção maldosa ou de impor algum poder
sobre o povo, para isso, me certifiquei de saber se os documentos tinham sidos
aprovados por instituições seguras.
Sem dúvidas, essa segunda cena fora uma das melhores cenas reproduzidas
pelo grupo, o que se imagina quando você vê uma obra artística, produzida por
vários artistas é uma confusão, pois, você não imagina o resultado final. A ideia era
que se tivesse liberdade, na hora de passar a tinta para a parede. Os participantes
eram pessoas diferentes, com egos diferentes e com anseios diferentes. Mas o
resultado final dessa experiência foi surpreendentemente positivo e interagiu
perfeitamente com o texto da autora:

A criação alimenta-se e troca informações com seu entorno em sentido


bastante amplo. Damos destaque, desse modo, aos aspectos
comunicativos da criação artística. (SALLES, 2006, p. 26).
43

O mural, em algumas cenas, tem em si uma espécie de releitura de outras


obras minhas, assim facilitou a criação das cenas, dentro do contexto do projeto,
quero dizer que, as outras obras que fiz foram me dando mais segurança e
maturidade, para realizar uma boa reprodução da imagem do Monsenhor, entre os
cenários criados, nas cenas reproduzidas do mural.
No livro do Monsenhor, que afirma que na seca de 58 “a coisa foi diferente”,
“sem autorização” foi criado um posto de abastecimento nomeado DNOCS, com isso
o “Centro social São Paulo”, enquanto as autoridades tomavam suas providencias
para atenuar a calamidade e a miséria que se alastrava pelo Estado, tomou a
iniciativa urgente, de lutar por essa causa, para melhorar a qualidade de vida do
povo oprimido. (MEDEIROS, 1990, p. 27). Podemos conferir o que aconteceu,
depois desse episódio, na cena seguinte.

3.4 TERCEIRA CENA: CRIAÇÃO DE CISTERNAS COMUNITÁRIAS EM 1973

Esse terceiro momento trata, em especial de reproduzir e comentar sobre as


construções de cisternas comunitárias e das atividades realizadas após o encontro
do Cassaco anônimo com o Monsenhor Expedito, que já não era mais o mesmo,
segundo Padre Ramos e Silvério Alves, ele, definitivamente, estava determinado a
dedicar a sua vida às causas dos mais necessitados e principalmente às questões
da seca, ou seja, ele sabia que, se conseguisse água de boa qualidade para o povo,
os flagelos causados pela seca diminuiriam, as pessoas poderiam permanecer em
sua comunidade. O próprio Monsenhor escreveu:

Foi possível realizar muita coisa, com a ajuda espontânea do povo, sem
nenhum prejuízo para minha missão estritamente religiosa. Eu mesmo me
considerava feliz e realizado, pois, naquela época, já se dizia que isso fazia
parte da missão supletiva da igreja, quer dizer, a igreja supria com sua ação
social aonde o poder público não chegava ou se omitia. (MEDEIROS, 1990,
p. 28).

Eu me baseei na fotografia de Davina e criei uma cena em que algumas


atividades fossem evidenciadas, a partir de desenhos simples que podemos verifica-
los, na conclusão da cena. Vejamos a fotografia escolhida:
44

Figura 22 - FOTO: Coleta de água da cisterna. Arquivo pessoal de Maria


Davina.

A questão da seca, na época, foi algo que marcou a vida de muitos


nordestinos e principalmente a de Monsenhor Expedito, que tomou para si a missão
de ajudar a acabar com a escassez de água da região e “Em 1973, ocorre a
construção de uma cisterna comunitária, na cidade, com a capacidade para 328
metros cúbicos de água. No mesmo ano já funcionavam as cisternas de São Pedro
e Riachuelo.” (AZEVEDO, 2000, p. 44).
Com a agravante situação das secas e as tentativas de conviver com as
estiagens, na espera de surgir novas possibilidades, de o que fazer para amenizar a
falta de água na região, segundo os depoimentos de Alba, Silvério e do Padre
Ramos, foram se desenvolvendo modelos de cisternas, para acumulação de água, o
problema é que nem todo cidadão tinha condições de construir uma cisterna, em sua
morada, dessa forma, os mais pobres continuavam a usar a água do rio, através de
potes e galões de água, correndo todos os riscos que se pode sofrer, consumindo
uma água salobra e sem saber do grau de contaminação, em que ela se encontrava.
Então, relacionando os depoimentos com o contexto pesquisado, o
Monsenhor junto às Freiras de SPP e do Paraná e os Cristãos Católicos da
Alemanha, entre outras parcerias, se uniram em função de realizar Projetos Sociais
e Campanhas em prol do povo, da região Potengi. Entre esses projetos podemos
citar o “Projeto Relógio”, na década de 60. A ideia era manter as atividades sociais,
45

de uma forma que não parasse, ou seja, que fossem trabalhadas como um relógio.
Vejamos um trecho da monografia de Maria do Céu:

O Projeto Relógio. No final da década de 1960, a Irmã Natália Peres, d


“Congregação Divina Providência”, com a ajuda de outros membros da
comunidade, fazia um trabalho de assistência social que consistia em
“procurar serviço para os mais necessitados, no tempo da seca”. Eram
trabalhos de olaria para fazer tijolos para construir centros sociais e casas,
hortas comunitárias, creches, incentivo a criação de pequenos comércios de
roupas e gêneros alimentícios (dindins, doces e salgados) , trabalhos
artesanais em gesso, palha etc.. (LIMA, 1995, p. 5).

Estando cientes desta situação, alarmante para a saúde comunitária, segundo


informações do Livro escrito pelo Monsenhor, podemos constatar mais uma iniciativa
da comunidade cristã, desta vez, por influência da irmã Natália, “a embaixada dos
Cavaleiros de Malta” doou CR$ 3.000,00 para que fosse construída uma cisterna,
capaz de armazenar 330.000 de água, captadas da Igreja Matriz. (MEDEIROS,
1990, p. 42). Vejamos a criação do esboço a seguir:

Figura 23 - FOTO: Esboço da terceira cena do Mural. Arquivo


pessoal.
46

Segundo Jacqueline Chanda (1999), o estudo da Arte sob o prisma social


subdivide-se em três níveis:
[...] o causal, o expressivo e o anedotal. A abordagem causal indica que a
arte é causada diretamente por uma classe ou sistema social específico. A
abordagem expressiva postula que obras de arte expressam alguma forma
de valor cultural ou crise. Na abordagem anedotal uma obra de arte é
equiparada a circunstâncias sociais, condizentes com um certo aspecto
social, que podem ser relacionadas a um artista ou obra de arte. (NOBRE,
2011, p. 13).

Eu acredito que as características do meu projeto pedagógico em artes


visuais se encaixam com as premissas dos níveis das subdivisões do estudo da
Arte, que sugere a autora citada no TCC de Susy Margaret. Pois, o meu trabalho se
relaciona com o estudo causal, pelo fato de o projeto ter a intenção de promover os
alunos envolvidos, do anonimato para o reconhecimento dos seus nomes e seus
talentos, pela comunidade, eles também fazem parte de um grupo social, são
carentes em sua maioria e como artistas são uma minoria, que precisava de uma
grande exposição, de suas qualidades para o público geral. O “mural” possibilitou
isso para eles e em relação ao estudo expressivo, que tem como abordagem
evidenciar um “valor cultural ou crise”, se manifesta no roteiro da produção do Mural,
por justamente tratar de valores sociais e culturais de um povo de uma região
específica, neste caso, do município de São Paulo do Potengi – RN. É evidente, que
a partir das estratégias de organização social, dos responsáveis comunitários da
cidade, junto com o povo, conseguiram com que, apesar da situação de emergência,
advindas da seca na qual se encontravam, se articulassem entre si e em prol de um
bem estar social geral, por exemplo, a distribuição de água potável, que era
armazenada nas cisternas construídas pela iniciativa da comunidade religiosa da
cidade, junto com o Monsenhor Expedito. E por fim a Anedotal, pois algumas cenas
são releituras de outras obras minhas, facilitando o processo de produção e dando
mais intimidade e uma certa apropriação das técnicas de desenho e pintura, isso
resultou em um grafismo misto e sem identidade particular, uma beleza única de
uma obra feita por várias pessoas.

Nas concretizações das obras, hipóteses são levantadas e postas à prova.


É nesse momento de testagem que novas possibilidades podem ser
levadas adiante ou não. São interações responsáveis pela proliferação de
novos caminhos, que geram seleções, opções e concretizações de novas
formas. (SALLES, 2006, p. 58).
47

Há, no entanto, junto às outras problematizações que vão se desenrolando, a


dicotomia entre comentar os trabalhos que já foram apresentados ao público, ou
seja, os trabalhos acabados e os que estavam se desenvolvendo, durante a
produção, que também tomam forma de ilustrações, no desenvolvimento do projeto.
Vejamos como ficou esse trabalho, depois de passar por uma produção coletiva.

Figura 24 - FOTO: Desenvolvimento da terceira cena do Mural.


Arquivo pessoal.

Algumas obras, incluindo todo o potencial que as mídias digitais oferecem,


parecem exigir novas abordagens. Ao mesmo tempo, muitas dessas obras
exigem novas metodologias de acompanhamento de seus processos
construtivos e não somente a tradicional coleta de documentos, no
momento posterior à apresentação da obra publicamente, isto é, a abertura
das gavetas dos artistas para conhecer os registros das histórias das obras.
(SALLES, 2006, p. 9).

Como podemos ver, a autora trata não só de discutir sobre o processo da


criação, mas das possíveis formas de dialogar com o espectador, então procurei
utilizar de uma linguagem simples, para melhor poder descrever as cenas. Então, o
grande retângulo branco, foi sendo preenchido com figuras bastante coloridas,
mesmo não sabendo ao certo o que são essas figuras, vistas de longe, esse mural
aos poucos foi ganhando formas e um espaço na arquitetura urbana.
48

Figura 25 - FOTO: Finalização da terceira cena do Mural. Arquivo


pessoal.

“Somente o homem possui a capacidade de elaborar imagens nas mais


variadas situações também imaginárias.” (ZAMBONI, 2006, p. 66). Esse trecho
citado justifica o processo de criação da imagem, e como eu imaginei essa cena. Os
desenhos mostram como o Projeto Relógio funcionava, em sentido horário,
podemos ver que há um círculo, no centro da cena, que tem a intenção de
representar um relógio, nele vemos os números 12, 3, 6 e 9, semelhante aos
relógios de ponteiros, que costumamos ver. No meio desse círculo há uma figura de
49

um prédio que representa os centros sociais que foram construídos, para que
houvessem atividades educacionais diversas e reuniões dos grupos comunitários,
há também uma placa em cima desse prédio com a seguinte descrição: Década de
60 “Projeto relógio”, ao lado do número 3, no relógio, vemos homens trabalhando em
uma obra, que parece um alicerce de um prédio, que pode representar também a
construção de cisternas, como foi mencionado pelos entrevistados anteriormente,
abaixo, no número 6 representamos a figura do monsenhor Expedito entregando
água, coletada das cisternas, essa foi uma forma de mostrar o quanto o Monsenhor
era humilde e que essa água era distribuída de forma justa, a direita ao lado do
número 9, vemos a imagem de um homem transportando, em galões, água em
cima de um jumento, e na parte de cima, acima do número 12 vemos mais um
benefício provindo dessa água, tratasse de um trabalhador cuidando de uma
plantação, de uma horta. Essa foi uma cena que tentou explicar, através de imagens
simbólicas, os trabalhos diretos e indiretos promovidos por essas iniciativas e o
quanto as pessoas foram beneficiadas por esse projeto.

Esse programa deveria trabalhar como “um relógio”,ou seja 24 horas sem
parar. Assim como as peças e engrenagens de um relógio, a comunidade
deveria trabalhar em conjunto para o bem comum. (LIMA, 1995, p. 5)

Assim como os outros intelectuais da época, o Monsenhor Expedito projetava


e depositava suas esperanças em ideias, para diminuir a seca do nordeste, além da
espera da chuva cair do céu, ou seja, ele via na tecnologia uma grande oportunidade
de acabar com o sofrimento do povo sertanejo, no livro cujo o subtítulo era “O
apóstolo da esperança”, o padre responde à mais uma questão interessante, a
pergunta foi a seguinte: “Vê solução viável para o problema cruciante das estiagens
no nordeste?” ” (Alcides Francisco Vilar de Queiroz, 2000, p. 66). Ele respondeu:

Com o progresso da tecnologia e o que já se vem fazendo em outras


regiões, é perfeitamente viável a solução do problema das secas, com
adutoras e irrigação por gotejamento, o gerenciamento das águas dos
grandes reservatórios, enfim, uma política de recursos hídricos. (Alcides
Francisco Vilar de Queiroz, 2000, p. 66)

Então na década de 70 surge, segundo informações do livro de Alcides e


Henriqueta, o que eles chamaram de “ideia-embrião” do projeto das Adutoras. Essa
ideia trata das primeiras aspirações, de um dia poder realizar o sonho de trazer água
da Lagoa do Bonfim, para o Município de SPP e Cidades vizinhas, mas infelizmente,
50

por falta de condições financeiras, o Projeto tão sonhado não foi aprovado. (Alcides
Francisco Vilar de Queiroz, 2000, p. 73).

3.5 QUARTA CENA: AQUISIÇÃO DO CAMINHÃO PIPA EM 1973

A quarta cena é a que se encontra no centro do mural, ou seja, apresentam-


se três cenas à esquerda e três cenas à direita, podemos dizer, também, que cada
cena tem sua identidade, por ser uma obra inédita e única.
Depois da Campanha para construir cisternas, alguns anos depois, as Irmãs
do Paraná realizaram a “Campanha do Copo d’água” e doaram para a paróquia de
SPP, um caminhão (pipa), até o Governo tomar posse, assumir o projeto e essa
iniciativa. A comunidade, contemplada com o benefício da água, ajudava com os
gastos da manutenção do veículo e com o pagamento do motorista do caminhão.
(MEDEIROS, 1990, p. 42).

No período de chuvas as cisternas enchiam e garantiam água-doce durante


algum tempo, no período da seca. Constatou-se então que as cisternas em
parte saciava a sede do povo mas, quando a água armazenada no período
no período de chuva acabava a comunidade ficava a mercê dos chefes
políticos e poderosos, proprietários dos carros-pipas. (LIMA, 1995, p. 6).

Esse quarto momento retrata o resultado de campanhas árduas e


incansáveis, criadas pelo povo do município, junto ao Monsenhor Expedito, em
parceria com diversos colaboradores, em especial, o próprio povo da Cidade, porque
os benefícios advindos desses projetos eram voltados especialmente para ele, o
povo, para as pessoas mais necessitadas.

A irmã Natália lançou então a campanha “Dai-me de beber”, procurando


angariar recursos para comprar um caminha-pipa, objetivando livrar a
comunidade do julgo dos proprietários e chefes políticos. (LIMA, 1995, p. 6)

Nesse terceiro momento, segundo as informações de todos os entrevistados,


trata-se da aquisição de um caminhão pipa, no ano de 1974. O que aconteceu na
época foi o seguinte, o Projeto Relógio, a partir da organização da comunidade,
conseguiu construir muitos prédios, principalmente nas zonas rurais. Junto a esses
prédios também foram construídas cisternas comunitárias, mas havia um outro
problema, do tipo: como encher essas cisternas? Eram pelas águas das chuvas,
captadas pela biqueira dos prédios, eram pelas águas compradas, ou seja, a água
51

vinha de cidades vizinhas, como Macaíba e Parnamirim por exemplo, trazidas em


caminhões pipa, para abastecer as cisternas, ou seja, a água não era de graça, e o
povo não tinha recursos financeiros suficientes, para adquirir essa água, para
manter a manutenção básica de suas vidas. Lembrando que essas informações
foram coletadas pelas entrevistas e pelo material bibliográfico pesquisado, então
segundo essas informações, as freiras da comunidade cristã, o povo e outros
colaboradores criaram outras campanhas para melhorar a qualidade de vida das
pessoas da região Potengi. A foto que usei, do acervo de Maria Davina, para
reproduzir a imagem do Monsenhor Expedito foi a seguinte:

Figura 26 - FOTO: Monsenhor abrindo uma


torneira. Arquivo pessoal de Maria Davina.

A ideia de usar essa foto, como referência, foi para ajudar na criação do
esboço e representar o Monsenhor abrindo a torneira do caminhão pipa, para
abastecer as cisternas comunitárias da região. Os outros grafismos criados para
compor a cena foram frutos da imaginação dos fatos relatados, nos depoimentos
das entrevistas. Como se fosse uma metáfora imagética, que se explica no texto da
autora:
Essa abordagem do processo criativo talvez seja responsável pela
viabilização de leituras não lineares e libertas das dicotomias, tais como:
intelectual e sensível, externo e interno, autoria e não autoria, acabado e
inacabado, objetivo e subjetivo e movimento prospectivo e retrospectivo.
(SALLES, 2006, p. 10)]
52

Figura 27 - FOTO: Esboço da quarta cena do


Mural. Arquivo pessoal.

“A pintura pode fazer pelos analfabetos o que a escrita faz pelos que sabem
ler”. (MAGNO apud GOMBRICH, 2000, p.135) (NOBRE, 2011, p. 27). Para mostrar
como eu relacionei o trecho citado acima, com a criação da cena, veremos a
descrição do esboço. Eu tentei representar uma espécie de mapa de “cabeça para
baixo”, ou seja, com o seu sentido inverso, do mapa do Brasil. A ideia era expor o
percurso percorrido pelo caminhão, até o Município de SPP. Na cena, como eu
mencionei, eu representei a figura do Monsenhor abastecendo uma cisterna, com a
água advinda do caminhão pipa, na mesma cena também se encontram, outros
personagens, que representam o povo da comunidade local.

Uma memória criadora em ação que também deve ser vista nessa
perspectiva da mobilidade: não como um local de armazenamento de
informações, mas um processo dinâmico que se modifica com o tempo.
(SALLES, 2006, p. 12)
53

Essa flexibilidade do ato da criação, mencionada pela autora, acima, pode ser
entendida pela minha estratégia do esboço, da seguinte maneira, eu representei o
caminhão meio cheio de água, como se seu tanque fosse transparente, assim, as
pessoas poderiam imaginar a cena e o que aconteceu naquela época. Outras ideias
foram surgindo no ato da pintura, como podemos ver nas imagens a seguir:

Figura 28 - FOTO: Esboço do caminhão na


parede. Arquivo pessoal.

Figura 29 - FOTO: desenvolvimento da quarta


cena do Mural. Arquivo pessoal.

Segundo as informações coletadas da Monografia de Maria do Céu, dessa


vez, a ideia da Campanha era adquirir um caminhão pipa para a comunidade,
segundo os entrevistados, assim diminuiria os gastos, ao trazer água para o
Município. O Monsenhor e as irmãs criaram o projeto “Dai-me de beber”, na tentativa
de arrecadar quantias em dinheiro para conseguirem comprar o caminhão, mas a
iniciativa não conseguiu chegar no seu objetivo final, pois, as pessoas que poderiam
contribuir, eram pessoas da própria região, ou seja, eram pessoas humildes, e esse
54

projeto não foi suficiente para poderem realizar a tal compra, segundo o Padre
Ramos, as Irmãs envolvidas nesse projeto, levaram essa campanha para o sul do
País, para as escolas do Paraná.
Chegando lá, essa campanha foi intitulada de “Um copo d’água para o povo
do Nordeste”, a ideia era arrecadar dos alunos e outros voluntários, quantias
simbólicas, em dinheiro, para juntar e comprar o caminhão, outra expressão relatada
na campanha realizada, lá no Paraná foi “Deixe de ir ao teatro, ao cinema e dê sua
colaboração para fazer feliz o povo do nordeste”, essa segunda iniciativa, junto aos
recursos financeiros doados pelos Cristãos Católicos Alemães e de outros
colaboradores, fez com que eles conseguissem adquirir um caminhão pipa, que,
segundo os depoimentos dos entrevistados, veio meio cheio de água. Esse
momento, de fato foi uma grande conquista, da comunidade, e mereceu seu espaço
na composição do mural, esse momento foi intitulado de “Aquisição do Caminhão
Pipa, em 1974”. (LIMA, 1995, p. 7).

Figura 30 - FOTO: Finalização da quarta cena do Mural.


55

No dia primeiro de Janeiro de 1974, chegou em São Paulo do Potengi,


vindo do Estado do Paraná, o Caminhão-pipa, com uma faixa onde estava
escrito “O Paraná de Mãos dadas com São Paulo do Potengi”. Vieram
conduzindo o veículo dois motoristas (LIMA, 1995, p. 7).

3.6 QUINTA CENA: CONCLUSÃO DA BARRAGEM CAMPO GRANDE EM 1984

Essa quinta cena retrata a conclusão da Barragem Campo Grande, em 1984,


que foi construída as margens do Rio Potengi, que perpassava a Cidade e outras
cidades vizinhas, segundo o depoimento de todos os entrevistados.
Antes da construção da Barragem, o Monsenhor tinha, em mente, outros
Projetos de captação e de distribuição de água, também para as cidades vizinhas,
mas, infelizmente esses projetos não saíram do papel, pois, um dos meus objetivos
é reproduzir momentos de glória, ou seja, de conquistas, do povo junto ao
Monsenhor Expedito.

A Barragem tem suas vantagens e desvantagens: beneficiou a população,


pois nas margens da mesma são cultivadas cereais e verduras, além da
atividade da pesca que, mesmo sendo predatório, é realizado com
frequência sendo um meio de sobrevivência dos pescadores da região.
Quanto as vantagens: desapareceu o plantio de batatas, de capim para o
gado e a salinidade da água que não é apropriada para beber. Sendo que a
população carente foi muito beneficiada, não dispondo de terra para plantar,
faz uso da água não apenas a gasto diário, mas também para beber. (LIMA,
1995, p. 10)

Segundo as informações coletadas, nos depoimentos, o Monsenhor participou


sim da obra de construção da Barragem, mas foi uma contribuição mínima, em
relação aos projetos de sua iniciativa. “Momentos históricos diversos são associados
e travam diálogo em nome dos interesses e indagações de um determinado artista”.
(SALLES, 2006, p. 47). Interessante esse comentário da autora, pois, ele serviu
como justificação das minhas escolhas e de solução, para as problemáticas que
possivelmente vamos presenciar no fluir do trabalho, mas, tive a responsabilidade de
distinguir as descrições históricas e suas respectivas datas de acontecimentos, no
processo de produção da feitura do trabalho em Mural. Foi preciso identificar bem e
com clareza as datas do que foi pesquisado nos registros históricos, que serviu de
material intelectual inspirador e que embasa as etapas da produção, ou seja, para
realização da obra de arte, de uma forma que o leitor não se confunda e
principalmente, não se complique em relação a produção deste trabalho, que teve a
56

responsabilidade de distribuir todas as informações que foram coletadas, em cada


cena, em busca de uma melhor compreensão no ato da leitura das imagens.
Então, para criar o esboço, eu associei essas informações com a fotografia
de Davina, que mostra o Monsenhor as margens de um rio. Na foto a seguir:

Figura 31 - FOTO: Monsenhor à margem das águas. Arquivo pessoal de Maria


Davina.

A barragem “Campo Grande” foi o golpe mortal nos anseios da comunidade


de ter água potável de primeira qualidade. Dez anos depois a Igreja resolve
fazer nova Campanha em busca da água-doce, reivindicando a implantação
do “Plano estadual de Recursos Hídricos, aprovado pela Assembleia
Legislativa. (LIMA, 1995, p. 11)

A ideia, da criação do esboço, era representar mais uma conquista da


comunidade sobre a seca, que os afligiam, mas, também era de representar o
Monsenhor refletindo sobre os seus projetos, que veremos nas próximas cenas.
Como podemos perceber, o esboço tem traços simples e como se trata da
conclusão da Barragem em si, eu procurei não abstrair muito e representar sua
beleza paisagística, valorizando os elementos visuais: cor, textura, forma e
perspectiva. Então, sempre, antes de começar a fazer o esboço na parede, eu
orientava os participantes, informando-os qual era a intensão principal da cena.
Vejamos na imagem a seguir a criação do esboço da quinta cena do Mural.
57

Figura 32 - FOTO: Esboço da quinta cena do Mural.


Arquivo pessoal.

“... o artista e sua obra alimentam-se de tudo que os envolve e indiciam


algumas escolhas”. (SALLES, 2006, p. 37). No texto a autora vai aplicando
suavemente o que é que ela quer dizer sobre a “Rede” de criação e a relação dessa
criação com o mundo. O que o artista tem é a sua obra em crescimento, ela se
alimenta de tudo o que ele permite que absorva em sua composição, ela vai
agregando formas, volumes, linhas e tonalidades e, principalmente, com a ajuda da
apropriação intelectual, de estudos sobre ela mesma, ela se enriquece, se
enrobustece cria raízes e se perpetua para estudos posteriores, ou seja, se ramifica,
cria galhos que alcançam outros espaços, e por fim dá frutos, a colheita desses
frutos são justamente o máximo que o próprio artista ou outros interessados
conseguem extrair de melhor e significante em sua essência. Estuda-se a obra, a
compreende, identificá-la e distingui-la no meio ao qual ela pode se inserir, depois
desmembra-la, aprofunda-se em cada parte separada do seu corpo estrutural geral,
em seguida a agrupa novamente, agrega-lhe valor cultural, que só pode ser
adicionado a sua criação, a partir da relação do homem com essa cultura, o artista
58

nesse caso é um filtro, que destila tudo o que passa por ele, inclusive a “tradição
cultural”, até chegar ao momento em que ela o alimenta.
A partir da compreensão do raciocínio da autora, nós começamos o trabalho,
observemos as imagens a seguir, para entendermos um pouco dessa intenção.

Figura 34 - FOTO: Esboço da


quinta cena do Mural. Arquivo
pessoal.
Figura 34 - FOTO: Atividade
experimental. Arquivo pessoal. Figura 34 - FOTO:
Desenvolvimento da quinta
cena do Mural. Arquivo
pessoal.

O espaço se amolda a sua vontade e em função das obras em construção.


A forma como cada um se apropria de seu espaço fala de sua obra em
construção e do próprio sujeito. Podemos, assim, compreender o modo
como o artista relaciona-se com esse espaço como uma forma de obtenção
de conhecimento sobre a obra em construção, sobre aquilo que o artista
quer e sobre ele mesmo, pois nesse sentido o espaço pode ser visto como
uma exteriorização da subjetividade. (SALLES, 2006, p. 51).

É incrível como, de repente entre os argumentos da autora, sobre situações


diversas, consegui um gancho, no qual pude sustentar meus próprios argumentos,
assim, fazendo esse entrelaçamento de textos, o interlocutor pode entender o que
de fato quero sugerir no diálogo. A citação fala por si só, como se a autora tivesse a
intenção de justificar o meu trabalho diretamente, pois, realmente há essa “relação”
do artista com o espaço, neste caso específico, com a cidade de origem, que é São
Paulo do Potengi. Há também essa vontade do Artista, de estabelecer uma
expressão clara, sobre aquilo que ele quer, de maneira que, além da apresentação
de sua subjetividade nas obras, ele possa, também como escritor de sua pesquisa
de processo de produção, ser bem sucedido em seus argumentos.
59

Figura 35 - FOTO: Finalização da quinta


cena do Mural. Arquivo pessoal.

A escolha dos elementos, cenas ou fatos a serem retratados na arte mural


permite a maior ou menor proximidade das pessoas com a obra do artista,
por meio de uma identificação com o que está sendo retratado e isso, em
uma escala de grandes dimensões torna-se essencial para a aceitação e
reconhecimento pelo povo da obra executada. (Wilhelm, 2012, p. 3).

Em relação a escolha dos elementos visuais que que ajudaram a compor a


cenas, como referências, em toda a obra, não foi difícil de pesquisa-las, tampouco
de achá-las, pois, nós temos nas proximidades da cidade, vários exemplos visuais,
que ajudaram na composição, como: a vegetação local, os animais (cavalos) e as
estruturas físicas da própria cidade, que ainda se conservam na sua forma de
origem. Fora o Monsenhor Expedito, existem outros personagens representando os
agricultores e pescadores, na cena também se encontram duas caixas de textos,
com as respectivas descrições: “Cereais e verduras” e “Pesca”.
60

Os participantes conseguiram ampliar os desenhos com primazia, e podemos


perceber isso na presença das técnicas de perspectiva, aplicadas pelos ex-alunos
da EEMF, no tamanho dos personagens e em relação aos outros objetos, que
compõem o cenário. Sobre a cor, vemos que há uma harmonia, entre uma cor e
outra, que eles conseguiram fazer misturas, com as tintas que resultaram em uma
cena rica em diversidade de cores, resultando em texturas inimagináveis, que fazem
um efeito especial nas formas dos objetos, que estão sobrepostos na estrutura geral
da cena.

3.7 SEXTA CENA: REUNIÃO EM SANTA CRUZ, O INÍCIO DA CAMPANHA EM


1993

Esta é a penúltima cena, que compõe o Mural artístico, esse momento


também é um dos mais importantes, pois, trata-se da tão falada “Reunião de Santa
Cruz”, em 23 de março de 1993, segundo o depoimento de Silvério Alves, que
estava presente na reunião. Existiam muitos boatos e muita falácia sobre a tal
reunião, que eu não vou comentar neste documento, pois, estamos tratando de fatos
empíricos e vivenciados pelos entrevistados, que escolhi, que eram amigos de
confiança do Monsenhor Expedito.
Maria Davina de Lima me cedeu uma foto, do dia da reunião, para que eu
pudesse imaginar e reproduzir a cena em desenho, ou seja, no esboço. Vejamos a
fotografia escolhida, a seguir.

Figura 36 - FOTO: Primeira reunião, em Santa cruz. Arquivo


pessoal de Maria Davina.
61

No dia 23 de março de 1993, a população de Santa Cruz, martirizado pela


cólera e quase em pânico pela escassez d’água, ocorreu em massa ao
Centro pastoral da paróquia, para ouvir a exposição sobre o Plano de
Recursos Hídricos do estado que inclui uma adutora partindo da Lagoa do
Bonfim à Santa Cruz. (LIMA, 1995, p. 20)

Entre os acontecimentos marcantes da Reunião, segundo o depoimento de


Silvério, descreverei de maneira simples, como eu imaginei a cena que reproduzi,
em desenho. Silvério comenta que o Monsenhor era um homem que gostava de
estar sempre bem informado e atualizado, gostava de ler jornais físicos (papel) e
assistia os programas jornalísticos na televisão, e numa manhã, enquanto o
Monsenhor tomava o seu café, ele viu a entrevista dada pelo Ex- Deputado Elias
Fernandes, que estava apresentando as propostas do seu projeto de recursos
hídricos, no programa Bom dia RN, da TV Cabugi e no momento em que ele estava
assistindo o programa, ele falou para sua companheira, amiga, Alba “É isto que eu
estou procurando”, segundo a própria Alba falou, ele imediatamente pediu- lhe para
verificar a agenda telefônica e conseguir o número da Emissora de televisão, para
que pudesse entrar em contato com o Deputado, no mesmo momento o Monsenhor
conseguiu falar com Elias Fernandes e lhe perguntou: “ O senhor topa andar pelo
Rio Grande do Norte pregando o seu projeto”? segundo Silvério, o deputado topou
na hora. A partir disso, ambos divulgavam esse Projeto, simplificadamente falando, o
projeto era transpor água da Lagoa do Bom Fim, São José de Mipibu, para as
regiões Potengi e Trairi, a princípio.

Poucos dias após o encontro do IV Zonal, o programa de TV Bom Dia RN,


mostrava uma entrevista com o Deputado Elias Fernandes que apresentava
o Projeto de Recursos Hídricos do RN, de sua autoria. Expedito, que
assistia a entrevista, vibrou dizendo: “É isto que eu estou procurando.
(LIMA, 1995, p. 19).

Vamos ao momento principal e em seguida eu farei a descrição da cena no


Mural. Segundo Silvério, no dia da Reunião, fazia muito calor, aproximadamente 35º
e antes que a reunião começasse, o Monsenhor falou “durante esta reunião ninguém
bebe água nesta sala”, e justificou seu apelo dizendo “é para as autoridades
saberem o que é passar sede”, a reunião ficou famosa por essa atitude do
Monsenhor, e assim deram continuidade a reunião. Essa reunião foi a primeira de
muitas, até o projeto ser aprovado.
62

Monsenhor Expedito iniciou a Reunião falando: “Vamos esquecer as


Mágoas passadas. Não estamos em Campanha Política. Vamos fazer um
bloco unido. Que tenha força, que os políticos sejam realmente
representantes do povo. O povo que está aqui não veio só para assistir,
veio para participar. É uma novidade no Brasil o povo participar, agora. Mas,
isso é Democracia. (LIMA, 1995, p. 21)

A partir das informações coletadas, eu imaginei a cena e a desenhei da


seguinte maneira, de cima para baixo, eu reproduzi a imagem da Igreja de São José
de Mipibu e um cano representando as adutoras, que se prolonga até a parte inferior
da cena, onde eu reproduzi a estátua de Santa Rita de Cassia, para representar a
cidade de Santa Cruz. Entre a parte superior e a inferior da cena, eu tentei
reproduzir os dois episódios sugeridos anteriormente nesse texto, que representam
Monsenhor em sua casa e o outro, Monsenhor junto a outros personagens, na
reunião de Santa Cruz. Na parte inferior da cena, assim como em todas as outras
cenas, eu reproduzi a vegetação nativa. Em meio aos grafismos existentes na cena,
coloquei duas placas identificando as Cidades, a primeira “São José de Mipibu” e a
segunda “Santa Cruz”, também há “balões de diálogos” expressando as frases: “É
isto que eu estou procurando”; “conviver com a seca”; “Plano de Recursos Hídricos
do Estado”. Vejamos o esboço a seguir:

Figura 37 - FOTO: Esboço da sexta


cena do Mural. Arquivo pessoal.
63

O Monsenhor também estimulou as pessoas, para que divulgassem a ideia


por todos os tipos de meios possíveis, inclusive para as pessoas mais simples, para
que elas pudessem ter “entendimento” do projeto, através de “cordéis” e “vídeos”,
assim foi lançada a “campanha” para a implantação do “Programa de recursos
hídricos do estado”, esse programa pretendia atender boa parte do estado, a
princípio, através de 1.200km de tubulações, que beneficiaria aproximadamente um
milhão de pessoas. Podemos sentir “o vigor do seu sonho” tornar-se realidade.
(Alcides Francisco Vilar de Queiroz, 2000, pp. 73, 74) E também, a partir do seu
discurso, quando ele respondeu à entrevista feita por (Orlando Rodrigues – DN,
30/01/1997):
Trata-se de uma grande obra, triunfal, vitoriosa, de grande alcance social,
que beneficiará milhares de pessoas por onde passará, e não será uma
meia dúzia de sibaritas de barriga cheia, que utiliza o imenso manancial de
Bonfim exclusivamente para o lazer de fim de semana, que irá impedir a sua
concretização. (Alcides Francisco Vilar de Queiroz, 2000, p. 75).

Vejamos o processo de reprodução da Cena, nas imagens a seguir:

Figura 38 - FOTO: Esboço na parede do Mural. Arquivo pessoal.

Em quase todas as cenas, eu tento demostrar essa surpresa que se sente,


gerada por impulsos intuitivos do artista. Quando se vê realizar uma obra de arte
coletiva. Percebe-se isso quando comparamos o esboço com o resultado final, quero
dizer, o resultado é incrivelmente inimaginável.
64

Figura 39 - FOTO: Finalização da


sexta cena do Mural. Arquivo pessoal.

Tomando a continuidade do processo e a incompletude que lhe é inerente,


há sempre uma diferença entre aquilo que se concretiza e o projeto do
artista que está por ser realizado. (SALLES, 2006, p. 13).

Refletindo sobre o pensamento da autora, podemos ter uma noção do quanto


é difícil chegar até essa arte final, pois, primeiro foi preciso fazer uma busca
bibliográfica, em revistas, jornais etc., que pudessem contar um pouco da história da
Cidade e de uma figura pública, em seguida foi feito uma coleta de depoimentos,
através de uma pesquisa de campo e muito mais difícil ainda é juntar um grupo de
Artistas Visuais e conseguir a aval do proprietário do Muro, para poder realizar a
Arte Mural. Todo esse processo faz com que a gente fique um tanto surpreso com o
65

resultado final. No caso dessa penúltima cena, especificamente, podemos perceber


a originalidade, nos tons das cores dos grafismos reproduzidos, como se fosse a
reprodução gráfica de um sonho.

É no Antigo Egito, portanto, que surge a Arte com um sentido utilitário


claramente determinado e identificável, de cunho religioso e ritualístico.
Inicialmente bastante limitada, a temática foi se enriquecendo e teve
agregada aos murais a representação de fauna e da flora, além de cenas de
caça e pesca e atividades cotidianas relacionadas à agricultura e à
construção de barcos. (GOMBRICH, 2000). (NOBRE, 2011, p. 18)

Especulando rapidamente as imagens da pré-história e algumas indagações


duvidosas sobre elas, dos autores que as pesquisaram, eu percebi que essas
imagens muito pouco tem a ver com os objetivos do meu trabalho, pois ele tem uma
direção objetiva, não se trata de fazer observações sobre grafismos soltos na
superfície e muito menos produzidos por pessoas ignorantes, digo, não fizeram
apenas por fazer, sem vontade ou por outro motivo qualquer, para os participantes,
eu deixem bem claro as intenções do projeto e para o quê ele serviria, para cada um
de nós. Como a maioria das consequências, previstas para a realização do Mural,
assim o fizemos, voluntariamente e com determinação e após o término do trabalho,
a repercussão nos surpreendeu positivamente. Mas, em relação ao trecho citado
acima, o Mural tem sim, todo um cunho utilitário, desde os primeiros dias de
produção, a iniciativa melhorou a qualidade da segurança do ambiente, não que o
local fosse inóspito e sim, porque era um pouco “esquecido”, mal iluminado e por
isso, a maioria dos jovens e grupos familiares não costumavam frequentar o
ambiente, cujo, em torno dele, há uma Praça chamada de Irmã Dominícia, nela
também se encontra uma imagem, em forma de escultura, da Irmã. Além de
melhorar a imagem urbana, nos aspectos físicos e de socialização, as imagens
correspondem aos objetivos das representações dos murais do Egito Antigo, como
diz no texto acima, o meu projeto, em todas a cenas, tem um pouco de religiosidade,
pois em todas elas há a imagem do Monsenhor Expedito, apesar de, nem em todas
elas ter a representação de rituais religiosos. Porém, em todas elas são
representadas atividades cotidianas ou colaborativas sociais, da comunidade, seja
nas distribuições de alimentos, seja nos momentos de lazer, em construções de
estruturas em prol da comunidade, pesca e/ou na agricultura. Além de ser bem
evidenciado a flora e os animais, como o jumento, que era utilizado como o meio de
transporte mais comum, na época, inclusive para o transporte de água.
66

3.8 SÉTIMA CENA: INAUGURAÇÃO DAS ADUTORAS EM SÃO PAULO DO


POTENGI/RN, 1999

Enfim chegamos à descrição da última cena reproduzida no Mural, que se


refere a inauguração das adutoras em São Paulo do Potengi – RN. Nesse último
momento, eu vou relatar um pouco do processo da produção do Projeto, da
culminância e participação dos alunos do 2º ano da Escola Estadual Maurício Freire
e da finalização da Pintura do Mural Artístico, em Homenagem a Monsenhor
Expedito e seu Povo.
Além de todos os feitos verificados durante sua trajetória de missões
religiosas e sociais, agora ele ganha a honra, por ter vencido várias etapas e
batalhas, na luta pela causa de trazer água boa, para a região especialmente para o
município de São Paulo do Potengi.
E a partir da sua árdua e extensa campanha em favor da água, inaugura-se
em 1997 a “Adutora Monsenhor Expedito” em São Paulo do Potengi, cujo sistema
hídrico “tem uma extensão de 315,68 km, que previa atender a 20 sedes municipais
e mais de 28 localidades rurais, com uma população de 129 mil habitantes”
(AZEVEDO, 2000, p. 66).
Para começar a elaboração da criação dessa última cena, eu apresento a foto
de autoria de Maria Davina, que serviu de referência para a reprodução do desenho
que representa o Monsenhor Expedito.

Figura 40 - FOTO: Monsenhor Expedito e o povo. Arquivo


pessoal de Maria Davina.
67

Aquilo que para muita gente parecia apenas um ideal inatingível de um


sonhador, hoje se materializa com a entrega, ao povo das regiões Agrestes,
Trairi e Potengi, da Adutora Monsenhor Expedito. (AZEVEDO, 2000, p. 67)

Nessa última cena, eu tentei reproduzi-lo o mais simples possível e próximo


das pessoas, do povo, pois essa conquista foi, acima de tudo, do povo e para o
povo, segundo o depoimento de Silvério, o projeto das Adutoras beneficiou, em
média, 1 milhão de pessoas, com sua água. Segundo Maria Davina de Lima, as
adutoras foram inauguradas em Março de 1999 e no ano seguinte, Monsenhor
Expedito Faleceu. Veremos, nas Próximas imagens, como foi feito o esboço no
papel e na parede.

Figura 41 - FOTO: Esboço da última cena do Mural. Arquivo


pessoal.

...a adutora recebeu seu nome, na cidade de São Paulo do Potengi, na noite
de maio de 1999”. Nesta mesma ocasião festejou junto com o povo que
aglomerou para celebrar a grande conquista e que proferiu com emoção o
seu último discurso a seu povo amado. (AZEVEDO, Monsenhor Expedito -
O Profeta das Águas, 2000, p. 10).

Figura 42 - FOTO: Esboço na parede do Mural. Arquivo


pessoal.
68

A imagem do esboço original está com pouca visibilidade, porque nós


usávamos os esboços diariamente, durante a produção do Mural e isso fazia com
que o papel se desgastasse ou rasurasse, com o tempo. Na criação do esboço, eu
tentei representar grafismos muito simples, e tentei poluir ao mínimo, a composição
da cena, no esboço e na composição final do Mural. Como podemos observar nas
imagens a seguir:

Figura 43 - FOTO: Desenvolvimento da última cena do


Mural. Arquivo pessoal.

O assunto da seca, “Este realmente, é um dos assuntos que aparecem em


primeiro plano dentre as grandes realizações do monsenhor Expedito de
Medeiros, aqui na terra, nos seus últimos anos de vida” (AZEVEDO, 2000,
p. 61).

Figura 44 - FOTO: Últimos retoques no Mural. Arquivo pessoal.

A ideia era a seguinte, tentar fazer uma imagem diferente das outras, mais
tranquila, mais clara e com mais espaços, pois, o acumulo de elementos visuais,
confunde a interpretação do espectador, e como se tratava de uma conquista, de
69

uma vitória e principalmente da realização de um sonho pessoal do Monsenhor


Expedito, eu preferi tentar reproduzir uma cena suave, representando o fim de uma
luta, a luta contra a seca, através da transposição de água pelos canos das Adutoras
nomeada de “Adutoras Monsenhor Expedito” pela Lei nº 7.029, de 18 de junho de
1997. (AZEVEDO, 2000, p. 66).

Figura 45 - FOTO: Finalização da última cena do Mural. Arquivo pessoal.

Podemos confirmar a ideia de criação, observando a cena acabada, de fato,


ela se apresenta muito simples, com um céu de cor azul claro, com apenas uma
nuvem em forma de mapa, do RN, nele se encontra as ramificações das ligações
das regiões beneficiadas pelas adutoras, na época, pois existem outras adutoras, e
o projeto das adutoras foram ganhando novas ramificações. Em seguida, vemos que
na cena existem alguns cactos e palmas, vegetação muito comum, encontrada na
70

zona rural e em torno do Monsenhor Expedito há algumas pessoas, algumas sem


face, para não gerar algum tipo de identificação, de alguma pessoa especifica, ou
seja, para que não parecessem com ninguém da Cidade ou de outro lugar, outro
detalhe é o da mão do Monsenhor sobre o cano, simbolizado um gesto de conquista.

Os antigos egípcios criaram seus murais a fim de proporcionar aos mortos a


passagem da vida terrena para outra vida pós-morte, por isso, sua temática
incluía a jornada para o outro mundo ou divindades protetoras que deveriam
apresentá-los aos deuses do pós-morte. O que mais importava não era a
beleza dos murais, e sim sua plenitude. (GOMBRICH, 2000). (NOBRE,
2011, p. 18).

O que torna interessante essa relação da arte Mural Egípcia com o meu
trabalho são as mínimas coincidências, que me deixa feliz como estudante e
professor/pesquisador, por exemplo, nem em todas as cenas a imagem do M.
Expedito é o personagem de tamanho maior no quadro, muitas vezes parece ser
bem menor, então, a obra foge muito dos padrões rígidos de representações da arte
Egípcia. Mas, por outro lado, em relação do Faraó com o Monsenhor, podemos fazer
uma alusão à questão da comparação, da Igreja com a Pirâmide do Faraó, apesar
de o Monsenhor ser uma pessoa bastante humilde e justa, segundo seus amigos
mais próximos. Eu refleti um pouco sobre a cultura Egípcia com a cultura cristã
católica de SPP, podemos perceber algo em comum, é que o seu corpo foi
enterrado dentro da Igreja Matriz, assim como os Faraós eram sepultados em suas
Pirâmides, mas, isso chega a ser minimamente questionador, comparado com a
cultura e as crenças da religião Egípcia. Na última cena podemos perceber a
representação da imagem do Monsenhor, que, por coincidência, apresenta algumas
caracterizas da representação da arte Egípcia, por exemplo, no desenho, ele tem o
tamanho maior, em relação aos outros personagens e o seu rosto, na cena do
Mural, obedece, um pouco, aos aspectos da “lei da frontalidade”, características
típicas da arte mural egípcia, o que eu quero dizer é que, apesar de o mural ter sido
feito coletivamente e por grafismos mistos, podemos encontrar referencial imagético,
de comparação, para fundamentar a produção. (NOBRE, 2011, p. 18)

3.9 CULMINÂNCIA E FINALIZAÇÃO DO MURAL

Refletindo sobre a arte mural e o seus objetivos, tanto no início de sua


ascensão, quanto nos dias atuais, eu lembrei de uma situação que evidencia a
71

repercussão positiva da visibilidade do mural e a interpretação das imagens contidas


nele, o Mural Memorial que conta um pouco da história do Monsenhor Expedito e da
conquista de água potável para a cidade de são Paulo do Potengi. Eu estava na fila
para fazer pagamento de um boleto, referente a uma inscrição para trabalhar
temporariamente na Prefeitura Municipal, o funcionário, que estava cadastrando os
candidatos paras as vagas ofertadas no processo seletivo me reconheceu, logo
falou a respeito do mural, para as pessoas que estavam na sala perguntando-lhes:
Vocês já viram um mural que há por trás da Igreja Católica? Na parede mesmo,
atrás da igreja? As pessoas confirmaram que viram sim, acharam interessante o
trabalho, o funcionário logo retrucou: “pois é, o realizador desse projeto é esse cara
aqui, o mural conta um pouco da história da cidade e do Monsenhor Expedito, esse
projeto faz parte do Trabalho de conclusão de curso dele, legal né? Eu fiquei um
pouco envaidecido, mas eu fiquei mais, admirado por saber que uma pessoa soube
me apresentar, e deixar claro a intenção do projeto para aquelas pessoas, que mal
me conheciam, isso é muito importante para a situação geral dos arte educadores e
para significação do quanto as artes visuais são importantes, dentro de uma
comunidade, nesse contexto especificamente, pois muitos dos admiradores e
moradores, idosos principalmente, não tiveram uma boa alfabetização para poderem
apreciar uma história contada em palavras num livro, digo, alguns não sabem ler e
se sabem já estão com a visão um pouco debilitada, por conta da idade, então a
história contada em partes, por imagens simples pintadas a pincel, por artistas da
própria cidade facilitou e muito a representação da história do Município, a partir de
uma grande ilustração urbana e pública. O que o funcionário disse foi “...ele contou a
história da cidade apenas com imagens” e isso para mim foi o suficiente para eu
poder ter a certeza que, o projeto foi bem sucedido e que ele não é uma obra minha
e sim do povo e para o povo, pois qualquer um que conhece um pouco da história
da cidade pode chegar em frente ao mural e reconta-la para as outras pessoas.
Esse mural não é apenas uma obra decorativa, mas sim educativa político e social.
A pintura mural (ou afresco) é uma das formas mais antigas e importantes de
expressão política e social na História. (NOBRE, 2011, p. 8). Visibilidade,
acessibilidade, inclusão e interação são as palavras que mais representam e
descrevem, no meu entendimento, a Arte em Mural para a comunidade, este tipo de
obra também faz parte dos objetos de valores das pessoas, ela está disposta 24
72

horas por dia, para quem quiser apreciar, tirar fotos e discutir sobre ela, a arte mural
não é apenas patrimônio da cidade, mas do povo, pois conta a história dos seus
antecedentes e do seu lugar de origem.

Com a arte muralista, a população tem acesso à “arte pública”, uma vez que
o acesso a galerias e museus de arte é difícil para uma parte da população.
A pintura mural leva a arte para a esfera pública, onde muitas vezes os
espaços urbanos tornam-se verdadeiras galerias de arte a céu aberto.
(Pletsch, 2013, p. 5).

Figura 46 - FOTO: Mural Pronto e finalizado. Arquivo pessoal.

Uma interação de interferências, modificações, restrições e compensações


conduz gradualmente à complexidade do todo da composição. (SALLES,
2006, p. 26).

A relação do meu trabalho com os textos de Cecilia Salles, me ajudaram não


só no processo de produção do trabalho de conclusão, como também na inter-
relação com as ideias de outros artistas e autores que tratam desse mesmo foco de
estudo de processos de produções artísticas, os textos da autora juntamente com
outros autores de outros temas, que nos ajudam a compreender um pouco mais do
proposito das obras e da pesquisa que elas proporcionam. Falo da análise do
processo de feitura, das consultas e do aproveitamento dos registros, dos
depoimentos sobre o contexto pesquisado, da origem das ideias que culminaram na
concepção dos trabalhos artísticos, ou seja, que geram os primeiros diálogos
73

internos sobre o que fazer, como fazer e com que finalidade. Assim os textos vão
concordando, ou não, com os objetivos do trabalho acadêmico.
74

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A importância deste trabalho arte mural e o legado principal de minha


pesquisa, para São Paulo do Potengi, foi para que as pessoas do Brasil e do Mundo
saibam, a partir da leitura de imagens existentes no mural, o que o Monsenhor
Expedito junto com o povo, Líderes comunitários e os políticos envolvidos fizeram,
em benefício, principalmente de buscar água de boa qualidade, para o nosso
município e para as adjacências, cidades vizinhas, que aos poucos foram se
emancipando.
A partir dessas pequenas estratégias, dessas pequenas atividades e
iniciativas sócias, que fizeram com que muitas pessoas saíssem de uma situação
emergencial, eu considerei, particularmente, esses feitos como conquistas
significantes, que deveriam ser citadas durante o desenvolvimento do TCC e na
fundamentação das etapas de produção do Mural.
A identificação das pessoas da comunidade, com as imagens no Mural foi
exatamente o resultado daquilo que me motivou à realização dele, que foi
apresentar, representar e devolver a história deles para eles mesmos, ou seja, a
Arte Muralista, neste caso específico, apresenta muito mais do que uma arte
decorativa, pois ela também tem seu caráter funcional, à medida que se utiliza dela
pra diversificados fins, pelo próprio povo, ou seja, uma produção de arte sobre a
história da comunidade, para a própria comunidade, que para alguns tornou-se um
grande retrato de suas origens, o que reafirma a ideia, de que uma imagem vale
mais que mil palavras.
Então a problemática, a de que algumas pessoas ainda não sabem sobre sua
própria história, me levou a uma solução, que foi projetar esses fatos, em forma de
um grande Mural, onde eu transformei problemática, motivação e hipóteses em
esboço, planejamento e realização.
Vale ressaltar que toda a investigação feita, tanto sobre os livros existentes e
sobre os conteúdos que haviam neles, seja para a fundamentação teórica ou para
embasar e justificar o processo de criação do mural, foi necessária para a realização
da pesquisa. E é a partir dessa pesquisa, eu acredito, que as pessoas e
principalmente alguns moradores da cidade, tiveram acesso a essas informações
que, em partes, já foram registradas em monografias, livros e outros tipos de mídias
75

e que agora, nós artistas, as reproduzimos em artes visuais, até para que de repente
algum idoso, criança ou adulto, que não saiba ler, possam apreciar, também, um
pouco desses acontecimentos marcantes, sendo esses verbalmente falados ou não,
por qualquer uma pessoa, que saiba um pouco dessa história, a partir das cenas do
Mural.
Para os artistas e estudantes convidados, a repercussão desse projeto lhes
deram outras perspectivas, experiências com pinturas, que somaram com os seus
conhecimentos existentes, sobre Artes Visuais. E foi a partir dessa exposição fixa e
da divulgação de suas qualidades, que as pessoas passaram a procura-los, para
começar a comercializar seus próprios trabalhos artísticos, sejam eles em qualquer
tipo de superfície. Além de absorverem novas técnicas e de divulgarem seus
trabalhos, eles, também, puderam conhecer um pouco mais da história de sua
própria Cidade, sobre o que aconteceu no passado e porquê, hoje, eles gozam
desses benefícios.
Para os participantes, segundo seus próprios comentários, depois desses 15
dias de produção do Mural, o resultado foi maravilhoso e uma das coisas mais
significativas, para eles, foi poder participar de uma obra de arte, de grande
dimensão, não só pelo tamanho, mas principalmente por ser artística e histórica,
pela valorização da história do Monsenhor Expedito, que com certeza foi um dos
objetivos alcançados, para somar à história do Rio Grande do Norte.
Doravante o local onde o Mural foi reproduzido, se tornou um novo ponto
turístico da cidade, o local tornou-se ponto de encontro para a população, para
passeios recreativos e para visitações, onde as pessoas podem interagir com a
obra, tirando selfies, etc. Independentemente às questões religiosas, a obra de arte
é convidativa para todos os tipos de pessoas, pois trata-se de representações de
fatos que remetem às conquistas realizadas pelo povo e para o próprio povo.
A realização desse projeto contribuiu muito para minha formação acadêmica,
cientifica, artística, profissional e também me instruiu como cidadão, do próprio
Município. A partir dessa realização, eu pude comprovar minha competência e
minhas habilidades, como artista visual e arte educador, em diversas áreas desse
mesmo curso. Para tanto, eu tive que desenvolver um bom trabalho de pesquisa e
defende-lo, para que pudesse ser aprovado e, também, elaborar um bom projeto de
76

ação pedagógica, para que enfim pudesse agrega-los ao meu Trabalho de


Conclusão de Curso.
77

REFERÊNCIAS

ALCIDES FRANCISCO VILAR DE QUEIROZ, H. r. (2000). Monsenhor Expedito


Sobral de Medeiros: O apóstolo da esperança. Natal.

AZEVEDO, A. (1983). História de São Paulo do Potengi. Natal - RN: CERN.

AZEVEDO, A. (2000). Monsenhor Expedito - O Profeta das Águas. Natal - RN.

LIMA, M. d. (Fevereiro de 1995). A Campanha da Igreja na Busca D'água. São


Paulo do Potengi .

MEDEIROS, M. E. (1990). Pelos Caminhos do Potengi. São Paulo do Potengi.

NOBRE, S. M. (2011). ARTE REVOLUCIONÁRIA: A FUNÇÃO SOCIAL DA


PINTURA MURAL. Itapetinga.

PLETSCH, L. I. (2013). ARTE MURALISTA E POPULAR. “OLHAR ALÉM DO


VER”. OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA
DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas. Guarapuava.

SALLES, C. A. (2006). Redes da Criação: Construção da obra de arte.

SILVA, S. A. (s.d.). OMUNDO DO TRABALHO NA ARTE MURAL DE POTY


LAZZAROTTO: Um estudo inicial sobre as possibilidades de trabalho com a
imagem artística no ensino de História.

WILHELM, V. R. (2012). A Arte mural em Goiânia. VIII EHA - Encontro de


História da Arte - 2012.

ZAMBONi, S. (2006). A pesquisda em arte: um paralelo entra arte e ciência.


Campinas, SP.: Autores Associados.
78

APÊNDICE
79

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE ARTES
CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS
AÇÃO PEDAGÓGICA OBRIGATÓRIA
ESCOLA ESTADUAL MAURÍCIO FREIRE

Breve estudo sobre a fotografia:


Desenvolvimento de atividades preparatórias
para intervenção no “Mural em memória do
Monsenhor Expedito”.
Estagiário: Leandro Levy de Souza Dantas

Natal
2017
80

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE


DEPARTAMENTO DE ARTES
ESCOLA ESTADUAL MAURÍCIO FREIRE

Breve estudo sobre a fotografia:


Desenvolvimento de atividades preparatórias
para intervenção no “Mural em memória do
Monsenhor Expedito”.

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Turma 2º A – Ensino Médio/ Turno Matutino


Professor: Helder José
Coordenadores: Jean Resende e Alana Gleisse

Trabalho consiste basicamente em realizar uma relação harmoniosa entre as propostas e o tema de
pesquisa do meu Trabalho de Conclusão de Curso, com o material, didático, oferecido pela Escola
Estadual Maurício Freire e a participação da turma na produção e finalização do Mural.
81

LISTA DE FOTOS

FOTO 1 e FOTO 2 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.


FOTO 3 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo da instituição.
FOTO 4, 5, 6 e 7 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.
FOTO 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14 e 15 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.
FOTO 16, 17, 18, 19 e 20 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.
FOTO 21 e 22 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.
FOTO 23, 24, 25, 26 e 27 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.
FOTO 28, 29, 30, 31 e 32 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.
FOTO 33, 34, 35 e 36 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.
FOTO 37, 38, 39 e 40 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.
FOTO 41, 42 e 43 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.
FOTO 44, 45, 46 e 47 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.
FOTO 48 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.
FOTO 49, 50, 51, 52 e 53 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal do aluno
FOTO 54, 55, 56, 57 e 58 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.
FOTO 59, 60, 61 e 62 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.
FOTO 63, 64, 65, 66 e 67 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.
FOTO 68 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.
82

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Primeira fotografia: Joseph Nicéphore Niepce - Arquivo do Professor.


Figura 2 - Slides de apresentação - Arquivo do Professor.
Figura 3 - Slides de apresentação - Arquivo do Professor.
Figura 4 - Slides de apresentação - Arquivo do Professor.
Figura 5 - Slides de apresentação - Arquivo do Professor.
Figura 6 - Slides de apresentação - Arquivo do Professor.
Figura 7 - Slides de apresentação - Arquivo do Professor.
Figura 8 - Slides de apresentação - Arquivo do Professor.
Figura 9 - Slides de apresentação - Arquivo do Professor.
Figura 10 - Figura 1 - Pintura parietal do período Aurináceo.
Figura 11 - Figura 40 - Cândido Portinari. Café, 1938. Pintura mural a afresco. 280 x
297cm
Figura 12 - Tabela do cronograma de atividades - Arquivo do professor.
83

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO83
2. CARACTERIZAÇÃO86
2.1 INSTALAÇÕES
3. ESTUDO
3.1 OBSERVAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROJETO PARA A TURMA
3.2 PRIMEIRA AULA
3.3 PLANEJAMENTO COM O PROFESSOR DA TURMA.
3.4 PRIMEIRA APRESENTAÇÃO DA TURMA
3.5 SEGUNDA APRESENTAÇÃO DA TURMA
3.6 TERCEIRA APRESENTAÇÃO DA TURMA
3.7 BREVE AULA SOBRE MURAL
3.8 OFICINA DE PINTURA E PREPARAÇÃO PARA A INTERVENÇÃO
3.9 ORIENTAÇÃO DA ESCRITA DO RELATÓRIO REFLEXIVO DA
EXPERIÊNCIA
3.10 ESCRITA DO RELATÓRIO REFLEXIVO DA EXPERIÊNCIA
4. CULMINÂNCIA E INTERVENÇÃO NO MURAL ARTÍSTICO
5. REFERÊNCIAS
6. ANEXO
83

1. INTRODUÇÃO

Este relatório teve como objetivo apresentar as atividades e o trabalho


desenvolvido dentro da sala de aula, durante a produção do TCC I “Trabalho de
Conclusão de Curso I”, onde buscamos relacionar os conhecimentos construídos no
curso de Licenciatura em Artes Visuais, durante minha graduação, capacidades e
habilidades necessárias ao fazer docente, no campo das Artes Visuais, com a
proposta de ensino da instituição escolhida, para a realização de um estágio, que é
exatamente a tal “Ação pedagógica” obrigatória, que deverá ter no mínimo 8h de
atividades registradas, que será associado ao trabalho de conclusão, segundo o Art.
13.º da Resolução N° 001/2015 – CCLAV. (TAVARES, 2015, p. 4)
O estágio ocorreu na Escola Estadual Maurício Freire – São Paulo do
Potengi - RN, onde o trabalho de intervenção desenvolvido foi realizado na turma do
2º ano, do ensino médio, do turno matutino, com o objetivo de construir e aprofundar
conhecimentos referentes ao fazer docente no Ensino Médio, buscando a realização
de um trabalho que contribuísse com a proposta e ao trabalho que já estava sendo
realizado com turma, com o professor Helder José, durante o trimestre.
O tema desse semestre se apresentou como: “Fotografia e Produção em
Artes Visuais”. A organização do estágio seguiu corretamente com os planos de
“estágio supervisionado”, ofertados pelo professor de Artes, partindo das fazes e
etapas distribuídas na carga horária, que veremos no cronograma. Então, de acordo
com o cronograma que é dado ao estagiário, iniciamos as atividades com um
encontro presencial de nome “caracterização”, no dia 25 de agosto de 2016, o qual
foi apresentado por um dos coordenadores da instituição, Alana Gleisse. O encontro
consiste, resumidamente, em apresentar um pouco das características da Escola,
suas estruturas físicas, seus objetivos, aos quais os estagiários devem adaptar e
sincronizar com os objetivos específicos de seus cursos, nesse mesmo momento, a
mim fora apresentado o Projeto Político Pedagógico da escola. Na segunda etapa
do cronograma, o estagiário disponibiliza-se para participar de dois encontros de
estudos, contabilizados em 4h cada, sendo um no dia 25 de agosto e o último no dia
23/11, que ocorreu na Sala de Informática (Laboratório). Esses estudos fazem parte
da “Atividade extraescolar (leitura para fundamentar planejamento e escrita do
relato) ”, nessa etapa o aluno realiza leituras que são necessárias para o seu
84

aprendizado e para a fundamentação e construção do relatório. A terceira etapa


consistiu na apresentação pessoal do estagiário, que inicia sua observação em sala
de aula. Esse momento me possibilitou ver, pessoalmente, como são as práticas e
atuações do professor, como também a rotina da turma e como são distribuídas as
atividades. Após a apresentação pessoal instalamos o projetor multimídia, da
instituição, para que pudéssemos dar continuidade à apresentação da proposta de
ensino feita por mim, incluindo o cronograma de atividades, que seriam ministradas
no decorrer dos encontros. Para que possamos entender melhor a proposta do
projeto pedagógico e de intervenção será inserido, logo ao término desta
apresentação, a descrição das atividades, do cronograma. Na quarta etapa
começamos a nossa primeira aula, ministrada por mim sob a supervisão do
professor Helder, em relação ao texto dessa apresentação, percebi que a
enumeração das etapas, no início de cada parágrafo ajudam a nortear o leitor e a
localizar bem as informações, apresentadas no cronograma e sugeridas pelo meu
projeto de intervenção, no estágio.
Dando continuidade, na primeira aula eu apresentei conhecimentos básicos
sobre a fotografia, partindo dos conhecimentos da área das Artes Visuais, como os
“Elementos Visuais”, os elementos específicos foram: texturas, formas, cores e
perspectivas. Vale salientar que, esse estágio não fora uma oficina e tampouco um
curso aprofundado de Fotografia, como diz o título e tema do estágio, trata-se de um
“Breve estudo sobre a fotografia: Desenvolvimento de atividades preparatórias para
intervenção no “Mural em memória do Monsenhor Expedito”, ou seja, precisamos
dessa base de conhecimentos prévios sobre o Tema, pois as atividades propõem
justamente que os alunos participantes se baseassem em imagens existentes
(fotografias), produzidas por eles ou não, para que eles possam reproduzir imagens
desenhadas e pintadas, de suas próprias autorias. Na quinta etapa, eu junto com o
professor da turma, passei a planejar como seria a regência das aulas seguintes.
Esses encontros com o professor contabilizaram 8h no total, 4h nos dias 07/09 e
08/11 de 2016. E chegamos à conclusão que a nossa estratégia de ensino e
aprendizagem seria da seguinte maneira, o conteúdo aplicado na aula do dia serviria
de tema para apresentação da turma na aula seguinte, ou seja, durante o
desenvolvimento da aula, o professor já iria orientando a turma para dividi-la em
grupos, dessa forma, os alunos teriam que prestar bem atenção na aula, gravar
85

áudios, vídeos ou fotografar, pois o tempo era bastante curto e a cada término das
apresentações dos alunos, eles receberiam novos conteúdos. Para que possamos
melhor entender proposta de ensino, a ideia era que, em uma aula o professor
apresentaria um conteúdo sobre um determinado estudo e na aula seguinte, seria a
turma e seus respectivos grupos quem apresentaria o mesmo conteúdo, em uma
atividade prática, na qual mostrassem suas habilidades de apresentação e
desenvoltura, conhecimentos absorvidos durante as aulas e suas criatividades na
produção do trabalho, assim, demos-lhes autonomia e facilitamos a avaliação geral
da turma. Na sexta etapa, como já fora mencionado, a turma apresentou seus
respectivos trabalhos, assim os trabalhos sucederam-se na 7º e na 8º etapa do
estágio, nos dias 23/09 e 07/10, os detalhes da cada aula e das apresentações, eu
irei descreve-las no desenvolvimento do relatório. Na nona etapa, eu apresento aos
alunos uma breve aula sobre Arte Muralista, essa aula antecede a décima etapa
desse trabalho, que trata fazer de fazer uma oficina de desenho e pintura, na qual
eles tiveram a oportunidades de experimentar a o manejo da tinta com o pincel,
enquanto iam se preparando para a intervenção artística, na produção do Mural
planejado por mim, que estava sendo realizado na parede externa e traseira da
igreja Matriz de São Paulo do Potengi – RN. Tanto essa ação pedagógica, em forma
de estágio, quanto a produção do mural fazem parte de um único projeto, que é o
meu Trabalho de Conclusão de Curso.
Na etapa de décima primeira, inicia-se as orientações dessa experiência, que
dão início a essa escrita, chamada de relatório reflexivo. E para finalizar as etapas,
apresentei a décima terceira etapa desse trabalho, que é a culminância do estágio e
o registro de observação da turma, que participou, diretamente, da finalização da
pintura do mural, no dia 18/11 de 2016.
86

2. CARACTERIZAÇÃO.

Nome: Escola Estadual Maurício Freire


Endereço: Rua José Claudino, nº 35, Bairro Santos Dumont - São Paulo do Potengi-
RN. CEP 59.460 – 000.
Direção: Jean Carlos Rezende
Vice Direção: Alana Gleise Dantas Silva de Moura
Coordenação: Maria Francinete Ribeiro

FOTO 1 e FOTO 2 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.

Esta caracterização se fundamenta e se consolida nas informações


pesquisadas no Projeto Político Pedagógico da Escola Estadual Maurício Freire
(atualização do ano de 2015) (VASCONCELOS, 2015), e nas entrevistas informais,
de pessoas que conhecem a história da escola, fotos feitas por mim e outras
imagens sem autores identificados.
Segundo as informações contidas no Projeto Político Pedagógico, a Escola
Estadual Maurício Freire foi instituída em 09 de Janeiro de 1970 (Diário Oficial), mas
o Ato de sua autorização fora no fim dos anos 70 e reconhecida em 20 de maio de
1980 (Ato de Reconhecimento: 521/80).
87

FOTO 3 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo da instituição.

A Escola atende as modalidades de Ensino: Fundamental, Médio Inovador,


Médio Diferenciado, EJA - Educação de Jovens e Adultos e Banca Supletiva. E aos
programas: Mais Educação, Pacto pelo Fortalecimento do Ensino Médio, Formação
continuada para os professores do Ensino Médio, Oficinas do (contra turnos) e
Jovem Empreendedor.
De acordo com as informações dos arquivos de registro da instituição, a
escola escolhida para executar a Ação Pedagógica acolhe uma média de 750
alunos, distribuídos por 8 turmas nos turnos matutino, vespertino e noturno somando
um total de 24 turmas.
A escola Também oferta uma educação especial para a comunidade, abrindo
as portas da instituição, nos finais de semanas, para o público estudante em geral,
promovendo o funcionamento de cursos preparatórios e de especialização e
formação continuada para docentes.

3.1 INSTALAÇÕES

A Escola possui 8 salas de aula, 1 sala de informática e laboratório de


ciências, 1 sala de Direção, 1 sala de Secretaria, 1 Sala de professores e de
88

coordenação pedagógica, 1 sala de Biblioteca comunitária, 1 cozinha (copa), 3


banheiros, 1 almoxarifado, 1 refeitório (Tipo Auditório), 1 quadra de poliesportiva
(sem cobertura), 1 cisterna, 1 “Dispensa” (para guardar a merenda escolar), 1
Lanchonete particular, 1 espaço para cultivo de Hortas e uma quadra de areia. Para
facilitar a o conhecimento das instalações físicas e os ambientes de convívio, da
instituição acrescentarei fotos que seguem as descrições mencionadas
anteriormente.

FOTO 4, 5, 6 e 7 - Registro da instalações – Fonte: Arquivo pessoal.


89

FOTO 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14 e 15 - Registro das instalações – Fonte: Arquivo pessoal.
90

FOTO 16, 17, 18, 19 e 20 - Registro das instalações – Fonte: Arquivo pessoal.

O Corpo de funcionários geral da Instituição, segundo as informações do


PPP, é composto por um Diretor - Jean Carlos de Rezende, uma Vice-diretora -
91

Alana Gleise Dantas Silva de Moura, uma Coordenadora Pedagógica - Maria


Francinete Ribeiro (graduada em Teologia e Pedagogia Licenciatura Plena e
Especialista em Psicopedagogia, História e Gestão Educacional), uma
Coordenadora Financeira - Josefa Soares Lopes de Araújo e uma Secretária Escolar
- Dauria Maria de Jesus Macêdo.
O corpo docente da Escola Estadual Maurício Freire conta no seu quadro 29
professores, segundo as informações institucionais, todos com graduação na área
específica, alguns com qualificações especiais. Em relação aos outros membros que
compõem a equipe de funcionamento da instituição temos o corpo técnico com uma
secretária e dois auxiliares de secretaria, três bibliotecárias (nos turnos: matutino,
vespertino e noturno), dois Porteiros, duas merendeiras e quatro ASGs.
Gestão Escolar é basicamente o que procuramos no PPP, ou o que se pode
encontrar de fato, ou seja, é todo o recurso financeiro, todos os programas que
estão inseridos na grade curricular da instituição, todas as parcerias educacionais,
todo o plano de ação da escola, incluindo as reuniões com o conselho de classe, se
houver, reuniões com os familiares e/ou responsáveis pelo educando, todas as
iniciativas de inclusão, nos seus diferentes níveis e classificações, toda a estrutura
física como já fora mencionada na caracterização institucional e na descriminação
de todo o corpo de funcionários e colaboradores, todos os recursos materiais, toda
organização, mobilização e articulação dentro e fora da instituição, inclusive as
práticas sócio políticas como o cronograma de atividades extras, se houver, tudo
isso para que haja uma promoção afetiva da aprendizagem pelos alunos, ou seja,
tudo isso para garantir que o alunos recebam e absorvam o aprendizado da melhor
forma que existir.
Tendo em vista esses preceitos básicos fundamentais, para que haja o
funcionamento de uma gestão escolar, condensarei e apresentarei um pouco da
Gestão da Escola em pesquisa, pois esse documento não trata apenas da
caracterização da escola em si, e sim de uma ação pedagógica nessa escola, pra
isso se faz necessário a apresentação da instituição para os professores da Banca
Examinadora do Trabalho de Conclusão de Curso II, eu quero dizer com isso que,
esse trabalho não se aprofunda integralmente na pesquisa sobre a escola, para isso
precisaria de muito mais informações, o que não é o caso, isso é apenas
informações básicas para que posamos enfim fazer uma reflexão sobre o estágio.
92

Uma das características que mais me chamou a atenção e me instigou em


querer poder fazer essa ação pedagógica, na instituição, foi a flexibilidade que ela
apresenta, também, no seu plano de ação do PPP (VASCONCELOS, 2015). Essa
proposta de ensino inovador com a intenção de melhorar sempre mais a práticas no
âmbito pedagógico, essa filosofia de promover o eventos, de incluir o educando nas
práticas educacionais, valorizando suas qualidade e mantendo-o nesse patamar de
forma continua, ou seja, incluindo e engajando-o, de maneira que ele permaneça
sempre entusiasmando com o aprendizado facilita e muito as propostas dos
estagiários voluntários, entre essas qualidades do Plano de Ação institucional
podemos relacionar bem essas ideias com os seus temas, por exemplo o “Estudo
cooperativo”, onde você pode observar a interação com do aluno com o outro, na
intenção de auxiliar, na “Pesquisa de satisfação” na qual o aluno é consultado, para
fazer valer sua opinião, entre essa comunhão de direitos e autonomias dadas aos
alunos e até mesmo aos Pais, na “Reunião com pais e mestres” onde os mesmos
podem acompanhar o desenvolvimento da aprendizagem ou tirar alguma dúvida em
relação a isso, que está ligada diretamente a ação “integração da comunidade
escolar”, outra ação importante é a “inclusão”, pois quando se tem inclusão, tem
interação sem discriminação e se não tem discriminação as chances de acontecer
“Bullying” são mínimas.
Fazendo algumas considerações importante e analisando as entrevistas e os
depoimentos do Vice-diretora e da professora, podemos perceber que a instituição
tem um bom espaço para funcionamento do trabalho docente e um bom apoio de
equipe pedagógica. Vale salientar que a característica dessa análise de pesquisa é
voltada para a reconhecer o perfil institucional e da turma do 2º ano, do ensino
médio, do turno matutino.
A entrevista e pesquisa foi bastante satisfatória e foi muito enriquecedor poder
fazer essa pesquisa sobre a instituição, onde eu também fui aluno. Sobre os pontos
negativos e positivos da instituição, durante essas semanas de atuação como
estagiário, um dos pontos positivos que é a Escola tem uma boa localização, pelo
Bairro onde ela se situa ser “nobre”, e um ponto negativo é que apesar das ruas
serem bem iluminadas e asfaltadas, a segurança municipal ou a polícia militar
deveria fazer uma ronda de rotina, não porque existe um grande índice de violência,
93

e sim para evitar possíveis incidentes na entrada da escola, nos intervalos e na


saída da instituições escolares que existe em torno da Escola também.

3. ESTUDO

Esse momento trata de um estudo individualizado realizado por mim, de 8h de


reflexão, divididos em dois dias de 4h aula, nele e posso dar continuidade a leitura
do Projeto Político Pedagógico, dos livros didáticos oferecidos pela instituição, dos
materiais que vou precisar para elaborar as aulas e oficinas que irei aplicar na sala
de aula e conciliar esse estudo com as exigências da Resolução do Trabalho de
Conclusão de Curso. Esta etapa do cronograma é uma atividade extraescolar e esse
estudo servirá para fundamentar essa reflexão do relatório, ou seja, é uma
preparação às outras etapas que se apresentaram na sequência, portanto não vou
evidenciá-las nesse momento porque a síntese do estudo se relacionará com o
desenvolvimento de todo o trabalho.

3.1 OBSERVAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROJETO PARA A


TURMA.

Deixo bem esclarecido, diante essa apresentação, que a soma de todas as


atividades, dentro e fora da sala de aula, resulta no trabalho total do estágio, para a
escola, mas, apenas as atividades realizadas por mim, ou regência das aulas como
professor faz parte do meu projeto individual de TCC, que se fundirá, na sequência,
com a produção do mural que fora feito paralelamente ao trabalho da escola. A
culminância é justamente essa experiência, esse encontro é a atividade final, que
junta a turma do 2º ano do ensino médio com outros ex-alunos e artistas da cidade,
que foram convidados, para participarem da produção do Mural, assim, a
culminância das atividades da escola é a participação dos alunos do ensino médio,
na finalização da pintura da Obra, esse momento servirá como registro de avaliação
geral da Turma e em especial para a própria Instituição.
Neste primeiro encontro, junto com o professor Helder José, nos
apresentamos como “ex-professor” e “ex-aluno”, fazendo um breve comentário e
comparações sobre as aulas de Artes, na época em que eu cursava o primeiro e o
94

segundo ano e que o Professor Helder era o meu professor de artes, na Escola
Estadual Aluízio Azevedo, em 2001 e 2002, que anteriormente era intitulada de
CENEC e que sob a mesma estrutura fora renomeada, atualmente, em homenagem
a Luiz Antônio de Azevedo, ao (Falecido EX- Vereador da cidade), tudo isso para
fazer uma comparação e reflexão sobre o ensino de Artes Visuais, à
aproximadamente uma década passada, com as atividades em Artes Visuais, nos
dias atuais, principalmente na turma do 2º ano do “Maurício Freire”, do turno
matutino e também contribuir e corresponder às propostas do plano de ensino do
Professor de Artes.
Esta turma é composta por 27 adolescentes. Trata-se de jovens bastante
ativos, participativos, questionadores que se integram e se entregam em todas as
atividades que lhe são propostas, sempre opinando e contribuindo com suas ideias e
sugestões, por isso ela foi escolhida e sugerida pelo professor Helder.
O tema desse trimestre, como já foi dito, foi “Fotografia e produção em Artes
Visuais”, a partir dele foi aplicada uma leitura de um pouco da história da fotografia,
técnicas básicas para explicar as “peculiaridades” entre os elementos visuais,
esclarecendo essas diferenças para que os alunos pudessem melhor se expressar e
descrever suas obras. Reconhecendo essas diferenças de inspiração e criatividade
entre as produções individuais de cada um deles, essa foi uma forma de identifica-
las e internaliza-las.
A partir dessa breve analise sobre o perfil da turma e alguns sinais dados
pelos alunos mais interessados, tomamos a decisão de optar pelo viés da
aprendizagem que se utiliza de “Apresentações”, ou seja, “aprender explicando”,
uma das estratégias sugeridas pela própria instituição, para essa faixa etária
(VASCONCELOS, 2015).
A decisão sobre a escolha do direcionamento das atividades que foram
abordadas durante os 13 encontros, se deram a partir das observações realizadas,
buscando se adequar ao tema de pesquisa realizado na turma e das características
dos alunos.
Estando ciente dos trabalhos desenvolvidos pelo professor responsável por
esta turma e tendo em vista as concepções para o Ensino Médio, propostas pela
Escola, em relação à aprendizagem, ao ato de fotografar, de pesquisar, de produzir,
de interagir e aprender com as atividades de campo, apresentações e as atividades
95

em Artes Visuais percebemos que, essas ações proporcionaram a responsabilidade,


o comprometimento com as atividades, a intimidade com o significado das imagens,
dos alunos, com os contextos históricos e da região onde vivem os alunos, ou seja,
a pesquisa e a similaridade de leituras de imagens, depoimentos discutidos
oralmente, simbologia das (imagens) e de produção artesanal, resultando em
aprendizagens sobre a cultura local, sobre o Patrimônio municipal e a Vegetação
Nativa.

Dessa forma buscamos evidenciar um pouco das características dessa


Cultura Local, que se difundi entre a nossa Cultura Brasileira, por diversos tipos de
aspectos que não há como menciona-los neste documento. Então, a partir de uma
breve observação de algumas estruturas físicas de nossa região selecionamos uma
dessas, para a realização de nossas atividades, por exemplo, a vegetação nativa e
outras paisagens que veremos a seguir, nas propostas de intervenção.

O projeto, como qualquer outro, não é tema acabado, nem assume forma
definitiva. A permanente revisão é parte integrante do processo de execução,
permitindo assim, a inclusão de novas ideias e soluções em um mundo em
constante transformação. Desse modo, haverá um dinamismo constante para
que a Escola Estadual Mauricio Freire, atinja seus objetivos na construção do
saber integral. (VASCONCELOS, 2015, p. 3).

E esse pensamento coincidiu inteiramente com as ideias que surgiram


durante a elaboração das atividades que foram abordadas na intervenção do
estagiário. Pois ela discute o desenvolvimento dos alunos, de acordo com cada nível
aos quais eles estão classificados, dentro desse processo de construção dos níveis
de conhecimento, encontram-se três áreas do desenvolvimento das atividades: A
pesquisa, a produção e a apresentação. A avaliação será ressaltada nas
Considerações Finais. Essa relação entre as ideias da autora e as possíveis
propostas estudadas por nós, na escolha das atividades foram simplificadamente
evidenciadas no momento em que determinamos os subtemas coordenados pelo
tema principal, ou seja, a nossa intenção foi buscar elementos visuais, que também
fossem identificados em nossa cultura e que também, de certa forma, fosse de
interesse dos alunos, então o desenvolvimento da “Sociabilidade” surge exatamente
no momento em que eles desenvolvem a construção de sua autonomia, da
percepção do “eu” com o “meio”, assim percebemos esse efeito no momento em que
96

eles se entusiasmaram ou não com as atividades, essa que por sua vez faz parte do
“desenvolvimento da criatividade” (área da educação visual), essa experiência
possibilitou descobrir os limites do próprio imaginário deles, a interação com o outro
e com o meio e na utilização da linguagem visual e como ferramenta de produção
artística, os próprios aparelhos celulares, máquinas digitais, etc.

Todas essas atividades extracurriculares permitem o desenvolvimento de


novas potencialidades e respeitam o ritmo de aprendizado dos alunos, suas
habilidades, suas competências e seus interesses, além de permitir,
principalmente no Ensino Médio, o desenvolvimento da comunicação e da
liderança dos alunos nas relações interpessoais. (VASCONCELOS, 2015, p.
16).

Então, para que possamos entender as sequências diárias das atividades da


turma e como funciona as dinâmicas e estratégias do professor, nos orientamos pela
quantidade de minutos que temos por aula.
Primeiramente iniciam-se as chamadas de presença, neste mesmo momento
faz-se a entrega das atividades passadas na aula anterior, enquanto os alunos
discutem sobre o andamento dos estudos e sobre o que vão fazer na aula que
segue. Na sequência pode acontecer “O primeiro momento de trabalho” para
conferência de trabalhos e primeiras orientações e apresentações.
Em seguida, “A arrumação”, nesse momento espera-se que os alunos ajudem
na arrumação e que também façam desse costume uma parte de sua participação e
colaboração no desenvolvimento das atividades.
No terceiro momento, “O lanche”, são 15 minutos reservados para os jovens
se alimentarem, descansar e interagir entre si. Esta aula é a única da semana, a
segunda aula do dia das sextas feiras, que antecede ao momento da refeição, cada
aula tem a duração de 45 minutos, desta forma, cada segundo é muito valioso, tanto
para o estudante, quanto para o professor e/ou estagiário. Por isso, evidenciamos a
importância da ajuda do aluno no início e no fim de cada aula.
Nos últimos minutos restantes da aula, enquanto os alunos juntamente com o
professor recolhem o material didático, sejam livros ou até mesmo um Projetor
“multimídia”, o professor dita verbalmente as atividades, que seriam realizadas na
próxima aula, o aluno pôde escrever ou gravar essas orientações da maneira que
quiser, pois já estão, automaticamente liberados para a refeição, as orientações para
a aula seguinte, neste caso, após sete dias. As aulas eram realizadas conforme as
97

orientações do calendário, tirante às datas comemorativas ou qualquer outro tipo de


imprevisto, todas as sextas feiras.

3.2 PRIMEIRA AULA

Sequência da rotina na Lousa.


EEMF, SPP, 2 de setembro de 2016. Professor Leandro Levy
Rotina.
1. Coleta de frequência
2. Instalação do equipamento (multimídia)
3. Apresentação oral
4. Diálogo com a turma
5. Apresentação de Slides
6. Orientações
7. Organização do material
8. Saída
Na primeira aula sobre o tema “Breve estudo sobre a fotografia”, de acordo
com a sequência da proposta de intervenção, apresentada e aprovada pelas
professoras, descrevi um pouco do resultado e algumas observações, sobre o
aproveitamento da minha atuação como estagiário.
A partir dessa breve analise que fiz, sobre o perfil da turma e alguns sinais
dados, tomei a decisão de optar pelo viés da aprendizagem a partir de Fotografias,
ou seja, “aprender fazendo”, a ideia foi muito interessante para o professor da turma,
a partir dessa aceitação, eu dei continuidade ao planejamento de aula. Em relação
com e ao ensino/aprendizagem, no ato de: fotografar, pesquisar, entrevistar,
produzir, interagir e experimentar formas diferentes de fotografar, as atividades em
Artes Visuais proporcionaria o conhecimento sobre leitura e o significado de cada
imagem, de cada contexto, de cada depoimento e de cada objeto, tudo feito por eles
mesmos, ou seja, resultando numa aprendizagem sobre um pouco da cultura
Potengiense, especificamente da cidade de São Paulo do Potengi – RN e da
participação indispensável do Monsenhor Expedito de Medeiros, na construção e
desenvolvimento da cidade, num âmbito geral.
98

Sobre a intervenção da sexta feira, 18 de novembro de 2016, tratei de explicar


um pouco do que nós iriamos estudar, sobre o surgimento da Arte Muralista e outras
concepções. No primeiro momento tivemos um breve diálogo sobre as atividades
que iriamos realizar e sobre o que eles sabiam sobre o tema. Apresentei- lhes a
possível primeira fotografia, imagem coletada no site: http://p.dw.com/p/2ADh.
Segundo as informações do site, a primeira experiência fotográfica aconteceu no
ano de 1816, usando materiais químicos, como uma caixa de madeira, o francês
Joseph Nicéphore Niepce conseguiu gravar uma imagem em um papel usando
produtos químicos, mas esse processo não foi fácil, tampouco rápido, ele só
conseguiu reproduzir a imagem depois de muitas tentativas e a revelação levou
horas para ser concebida (Möderler, 2017).

Figura 47 - Primeira fotografia: Joseph Nicéphore Niepce - Arquivo do Professor.

Na sequência, eu fiz uma apresentação oral sobre os exercícios que iriamos


executar e depois apresentei as descrições das atividades expostas na lousa, sobre
os subtemas que remetem ao tema principal. Assim apresentei um material em
slides (material didático do professor), que diz respeito a fotografia, o ato de
fotografar e algumas técnicas, a seguir.
99

Figura 48 - Slides de apresentação - Arquivo do Professor.

Figura 49 - Slides de apresentação - Arquivo do Professor.

Figura 50 - Slides de apresentação - Arquivo do Professor.


100

Figura 51 - Slides de apresentação - Arquivo do Professor.

Figura 52 - Slides de apresentação - Arquivo do Professor.


101

Figura 53 - Slides de apresentação - Arquivo do Professor.

Figura 54 - Slides de apresentação - Arquivo do Professor.


102

Figura 55 - Slides de apresentação - Arquivo do Professor.

Na sequência, eu apresentei a tarefa de produção “artística visual”, que fora a


produção de fotografias, inspiradas na aula de Elementos Visuais na fotografia,
feitas nos seus próprios celulares ou aparelho compatível. As exigências mínimas
para a apresentação da atividade, para o próximo encontro foi: Identificar o aparelho
que foi usado para fazer a foto (Marca/ modelo e série); Dar um título à imagem;
identificar o autor, e fazer um breve comentário, em grupo ou individualmente e
identificar na imagem os elementos visuais: cor, perspectiva, textura e forma.
Essa primeira aula foi uma experiência inesquecível, tanto para mim quanto
para os alunos, pois trata-se de um conjunto de orientações e atividades que
culminariam na primeira apresentação, que se utilizava dos aparelhos deles e
produzidos por eles, dando-lhes liberdade de expressão e de criatividade, enfim,
momento em que eles começam a exercerem suas autonomias nas produções
artísticas. Depois da pedi pra eles lerem uma coletânea de textos, do Livro Tudo
Sobre Arte. (FARTIHNG, 2011, pp. 356, 357, 658, 359, 360, 361, 362 e 363). Essa
leitura seria para que eles pudessem enriquecerem seus conhecimentos, sobre
fotografia e embasarem suas apresentações.
103

3.3 PLANEJAMENTO COM O PROFESSOR DA TURMA.

O Professor Helder José já me conhecia como aluno, como amigo e agora


estávamos tendo a oportunidade de trabalhar juntos, ele observou a minha aula e
apesar de serem apenas 45 min de aula, tinha muito conteúdo e apresentações, nós
vimos que a ideia da proposta de estágio tinha boas chances de serem um sucesso,
pois os alunos estavam empolgados e colaborando com a aula e isso era o
suficiente para que as aulas fluíssem naturalmente, o professor achou a minha
postura em sala de aula muito persuasiva e eficiente e me deu total liberdade dentro
de sala de aula e disse que participaria das aulas apenas como supervisor
observador para que melhor pudesse avaliar os alunos e a mim.
Boa parte das estratégias do plano de ensino elaborados por mim e o
professor foram descritas na apresentação deste documento, nesses encontros dos
dias 07/09 e 08/11, pela tarde, tivemos a oportunidade de ajustarmos alguns
detalhes das aulas, e refazermos alguns planos de aula, pois nesse primeiro
semestre do ano de 2016, dentro do calendário e fora a programação de aulas do
calendário acadêmico tinha muitos feriados e outros tipos de recesso, pelo o motivo
das aulas serem nas sextas feiras, mas, isso não impediu que o estágio fosse
realizado do começo ao fim. Outras peculiaridades do planejamento de aulas foram
readaptadas, tipo, nem todos os alunos são bons em pinturas ou fotografias, então,
dentro dos seus respectivos grupos eles poderiam contribuir de outras formas ou
com outros tipos de habilidades ou talentos, seja numa pesquisa de campo ou na
edição das apresentações de Slides etc. A ideia era que os alunos fossem
amadurecendo suas concepções sobre a produção de imagens, até se apropriarem
das técnicas e fazerem desse exercício algo natural ou automático, que eles
também pudessem ler mais sobre os temas. A soma de todas as atividades foi uma
série de exercícios preparatórios para participarem da culminância do estágio,
atividade final e participação avaliativa do projeto. No último encontro, organizamos
os documentos burocráticos que tanto o departamento de artes da UFRN, quanto a
EEMF exigiram para regulamentar o processo de avaliação, tipo: Ficha de
frequência, termos consentimento, carta de apresentação etc.
104

3.4 PRIMEIRA APRESENTAÇÃO DA TURMA.

Rotina
EEMF, SPP, 16 de setembro de 2016. Professor Leandro Levy
Rotina.
1. Coleta de frequência
2. Instalação do equipamento (multimídia)
3. Apresentação oral
4. Diálogo com a turma
5. Apresentação da Turma
6. Orientações
7. Organização do material
8. Saída

FOTO 21 e 22 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.

A aluna justificou seu trabalho dizendo que teria feito a foto um pouco antes
da aula, a mesma não tinha participado da aula passada. Mas seu trabalho apesar
de ter sido feito quase no momento da aula, a imagem tinha bastante qualidade e
apresentava características básicas dos elementos visuais, cor, textura, forma e
perspectiva. Outros colegas também não sabiam da apresentação e se
comprometeram em apresentar na próxima aula. Em sua apresentação e dialogando
sobre a imagem, com os outros alunos, a aluna descreveu informações sobre a
imagem de acordo com as perguntas que eu proferia. Seu trabalho e sua
apresentação foram excelentes.
105

FOTO 23, 24, 25, 26 e 27 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.

As apresentações foram intercaladas com diálogos sobre as imagens, sobre as


formas como eles viam as imagens e suas interpretações foram levadas em conta,
como fator de participação, que serviu de avaliação geral da turma, de certa forma
foi bastante interessante, os alunos não estarem totalmente preparados para a aula
e/ou apresentação, como praticamente metade da turma estava desinformada sobre
as aulas que iriam ser ministradas por mim, essa primeira apresentação de serviu de
base para as apresentações e aulas seguintes. No entanto, tendo em vista o saldo
total da aula acredito que fora bastante positivo que que a empolgação e as
expectativas para a aula seguinte aumentaram.

3.5 SEGUNDA APRESENTAÇÃO DA TURMA.

Rotina
EEMF, SPP, 23 de setembro de 2016. Professor Leandro Levy
Rotina.
106

1. Coleta de frequência
2. Instalação do equipamento (multimídia)
3. Apresentação oral
4. Diálogo com a turma
5. Apresentação da Turma
6. Orientações
7. Organização do material
8. Saída

Este segundo encontro oportunizou a apresentação dos alunos que faltaram


as aulas anteriores, com isso quebramos um pouco da sistematização das aulas e
reestruturamos da seguinte maneira, todos os alunos receberiam os conteúdos que
estavam dentro do programa, sendo que independente do aluno poder participar ou
não das apresentações, não era a base primordial da avaliação, pois nem todos os
alunos moravam no centro da cidade ou na própria cidade, nem todos tinham um
aparelho para produzir as fotos, e seria constrangedor forçar o aluno a fazer uma
atividade sem o mínimo de condições pessoais, além de alguns alunos trabalharem-
nas horas em que não estavam na sala de aula, mas sua participação dentro de sala
de aula era imprescindível e muito importante para o desenvolvimento do projeto do
estágio, a partir dessa compreensão, os alunos escolhiam um ou mais entre e dos
quatro elementos visuais, para se inspirarem, reproduzirem e contextualizarem suas
imagens. Assim todos conseguiram fazer uma boa participação durante as aulas de
estágio supervisionado. Na sequência veremos a participação de outros grupos de
alunos e suas respectivas fotografias.
107

FOTO 28, 29, 30, 31 e 32 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.


108

FOTO 33, 34, 35 e 36 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.


109

FOTO 37, 38, 39 e 40 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.


110

Nessa segunda apresentação já podemos perceber a colaboração deles, no


momento da explicação, de como iriamos realizar as atividades e quais materiais
seriam utilizados. Essa atenção voluntária, para nós, foi um grande passo na
conquista dos objetivos idealizados pelo estágio, pois, além de eles se dedicarem e
s (VASCONCELOS, 2015) (TAVARES, 2015) e concentrarem nas produções
artísticas, cada um deles colocou um pouco de seus sentimentos na produção e
ornamento das suas imagens.
Por questões de ética, eu, junto com o professor da turma resolvemos não
expor os nomes dos alunos neste documento, caso os orientadores do TCC, precise
dessas informações, elas serão entregues junto com outros documentos que são
obrigatórios para a realização do estágio.

3.6 TERCEIRA APRESENTAÇÃO DA TURMA.

Rotina
EEMF, SPP, 07 de outubro de 2016. Professor Leandro Levy
1. Rotina.
2. Coleta de frequência
3. Instalação do equipamento (multimídia)
4. Apresentação oral
5. Diálogo com a turma
6. Apresentação da Turma
7. Orientações
8. Organização do material
9. Saída
111

FOTO 41, 42 e 43 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.


112

Após a descrição da atividade na lousa, eu apresentei a rotina, à qual demos


início. Na observação da apresentação eu fiz algumas perguntas sobre, quais
elementos visuais eles quiseram apresentar com a imagem, para ter uma noção de
qual seria o grau de dificuldade e desenvoltura da turma, ou se existia alguma.
Este encontro trata da última apresentação dos alunos, na qual demos
continuidade ao aprendizado de alguns aspectos da cultura Potengiense. Neste
encontro, tivemos a oportunidade de conhecer um pouco da criatividade deles além
das paisagens, podemos perceber em algumas fotos dessa última apresentação que
os alunos não só registram a natureza e a vegetação nativa, mas ultrapassam os
limites do óbvio, eles se projetam no cenário e na perspectiva, assim a gente pode
confirmar que eles estão não apenas entendendo o conteúdo como também
estavam experimentando o domínio das técnicas, não são somente imagens de
coisas e de horizontes, mas estão começando a produzir arte de fato e
argumentando com propriedade a intensão no planejamento da foto e o que eles
quiseram expressar com a imagem. Então, o projeto de intervenção do estagiário
alcançou um dos seus principais objetivos, que é passar o conhecimento específico,
fazendo com que o aluno se aproprie das técnicas, dando-lhe autonomia e
independência criativa e contextualizada. Pois, não basta apenas ensinar a arte, ou
melhorar as habilidades existentes nos alunos, também é preciso ensinar-lhes a
entender e explicar a sua própria arte.
Após organizar, separar e conferir o material usado nas aulas, eu os informei
que na próxima aula eles teriam uma oficina de desenho e pintura de observação,
ministrada por mim, em seguida saímos.

3.7 BREVE AULA SOBRE MURAL.

O “Mural” ao qual se refere o título, trata de substituir coloquialmente a


expressão “arte muralista” ou muralismo, de acordo com a pesquisa realizada , por
mim, a esse tipo de arte muito se aproxima do “grafite” que vemos em nosso
cotidiano, nos muros das ruas, das praças, das instituições, em forma de protesto ou
não, nas periferias ou não, essa arte faz parte de um contexto visual urbano e é
considerado hoje como uma das artes populares no mundo inteiro, a arte tem uma
relação primeira com a arte rupestre e com as revoluções e cultura do povo de uma
113

determinada região, como por exemplo nos países da America Latina. Para resumir
esse primeiro parágrafo, esse estudo serviu de contextualização das aulas aplicadas
aos alunos e de referência na produção do relatório.
A intenção principal dessa aula é fazer com que os alunos tivessem um
conhecimento prévio daquilo em que iriam participar, nesse caso, na finalização da
produção do mural artístico. Os alunos da turma da EEMF, participaram da pintura e
finalização da ultima cena, que representa a instalação e inauguração das adutoras
que transpoem água da Lagoa do Bomfim, da cidade de São José de Mipibu, para
município, nesse mesmo dia também se encerrou pintura do mural. Então, para que
possamos entender melhor como foi a aula, vamos descreve-la como a fizemos na
rotina.

Rotina
EEMF, SPP, 14 de outubro de 2016. Professor Leandro Levy
Rotina.
1. Coleta de frequência
2. Instalação do equipamento (multimídia)
3. Apresentação oral
4. Diálogo com a turma
5. Apresentação dos Slides
6. Orientações
7. Organização do material
8. Saída

Para que os alunos pudessem ter uma dimensão visual da proposta da aula,
eu tive que fazer uma pequena pesquisa de campo na cidade de Natal - RN,
procurando imagens nas paredes, ou alguma arte Muralista, para que nós
pudessemos nos familiarizar às ideias da intervenção e sabermos que esse tipo de
arte existe em nosso Estado, então, eu caminhei pelo Bairro de Mirassol, nas
proximidades da UFRN e consegui identificar uma arte, que serviu de referência
para ilustrar a minha apresentação, tratasse de uma arte em graffiti, que veremos
nas imagens a seguir.
114

FOTO 44, 45, 46 e 47 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.

FOTO 48 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.


115

Essas fotografias serviram de referência para os alunos saberem, mais ou


menos, como seria suas participações na produção do mural, para dar continuidade
eu vou falar um pouco da pesquisa que eu fiz para poder realizar essa aula.
Antes de dialogar com eles sobre o material que pesquisei, para que
pudessem realizar a intervenção no Mural, eu disponibilizei uma coletânea de textos,
do Livro Tudo Sobre Arte. (FARTIHNG, 2011, pp. 436, 552, 553,). Essa leitura seria
para que eles pudessem entender um pouco sobre arte urbana, e o que essa
intervenção significaria para eles e para a.

Conceituar o que é a imagem e a palavra, não é tarefa das mais simples, pois
depende do referencial teórico e da visão de mundo de cada pesquisado.
(Silva, p. 2).

Quando se estuda Arte Muralista é normal que o leitor se depare quase


sempre com o princípio da arte como comunicação, ou seja, a imagem como escrita,
como desejo de conquista ou celebração de conquistas, enfim, o leitor quase
sempre se deparará com a Arte Rupestre como base inicial do estudo da arte em
muros. “Ou seja, a imagem registrada era a palavra escrita que não tinha sido ainda
desenvolvida” (Silva, p. 2).
No entanto, em relação aos estudos e as dúvidas que sobre caem a Arte
Rupestre e na reprodução das imagens como forma de comunicação visual, mesmo
que os grafismos sejam feitos por crianças, essas mesmas podem ser desvendadas
e compreendidas por profissionais da área da educação, sem tantos mistérios. Mas,
de fato não podemos dispensar os primeiros grafismos do homem, como base para
um melhor entendimento, daquilo que estamos investigando, a arte Muralista.

As primeiras pinturas murais - ou parietais - de que se tem registro são as


encontradas nas paredes de cavernas e em rochas, as mais antigas feitas
aproximadamente há 40.000 anos a.C., no período Paleolítico Superior (Fig.
1). Essas manifestações primitivas consistem em desenhos que variam de
traços simples, como as impressões palmares feitas por meio da aplicação
nas mãos de um pó colorido obtido pela trituração de rochas, a alguns mais
complexos, como a representação de animais. As mãos e os dedos foram,
provavelmente, as primeiras ferramentas artísticas utilizadas pelo homem,
embora, mais tarde, haja indícios da utilização de pincéis rudimentares feitos
de pelos de animais e penas de aves. (GOMBRICH, 2000). (NOBRE, 2011, p.
16).
116

Figura 56 - Figura 1 - Pintura parietal do período Aurináceo.


Altura: 100cm. Caverna de Chauvet, França.
http://www.bradshawfoundation.com/chauvet/chauvet_cave_art.php

Sobre a Arte mural, no Brasil, posso citar, entre tantos artistas renomados que
fizeram parte do quadro de artistas Muralista, artistas que substituíram o cavalete
por suportes maiores, por exemplo, os muros e/ou paredes internas de instituições
importantes para a sociedade, o artista Candido Portinari, pelo seu grafismo, por sua
maneira de democratizar os personagens, nas obras e pela tendência que ele
estava seguindo e reproduzindo nas décadas de 30 e 40.

Em 1936, o artista é convidado pelo então Ministro da Educação e Saúde,


Gustavo Capanema Filho, a realizar um ciclo de afrescos – Os Ciclos
Econômicos (p. 64, fig. 40-41) – para o edifício do ministério, no Rio de
Janeiro, trabalho que foi finalizado em 1944. Com essas obras, Portinari
reafirmaria a sua opção pela temática social. (FABRIS, 1990). (NOBRE,
2011, p. 63).

Para entender melhor tal identificação, vejamos o trabalho do artista. A seguir.


117

Figura 57 - Figura 40 - Cândido Portinari. Café, 1938. Pintura mural a afresco. 280 x 297cm.
Série Ciclos Econômicos. Palácio Gustavo Capanema, Rio de Janeiro.
http://www.portinari.org.br/IMGS/jpgobras/OAa_1755.JPG (NOBRE, 2011, p. 64)

Muita gente estranha à sua obra poderá pensar que o muralismo foi apenas
um eco retardado do formidável movimento mexicano. Não o foi. Pela própria
evolução interior de sua arte pode-se ver que foi por assim dizer
organicamente [...] que Portinari chegou diante do problema do mural. [...]
Depois das figuras monumentais isoladas e do segundo Café a experiência
com o afresco se impunha naturalmente, como próximo passo. (NOBRE,
2011, p. 65).

Então, o trabalho fluiu naturalmente. Mas deixo claro aqui que a ideia de fazer
uma arte mural veio de uma crítica construtiva do professor Everardo Ramos,
orientador do curso de Artes Visuais, apesar de me sentir um pouco receoso, por ter
que refazer e mudar o rumo do meu projeto de T.C.C, não saiu de minha cabeça a
ideia de fazer algo maior do que eu já tinha feito e durante o projeto pedagógico
obrigatório, que eu estava realizando na Escola Estadual Maurício Freire, eu
juntamente com os diretores da instituição já estávamos conversando sobre uma
culminância desse porte, mas dentro da instituição. A partir de alguns encontros com
o professor Everardo, pude entender que eu teria de fazer algo grande, novo e que
atingisse o maior número de espectadores, que o trabalho fosse significante para o
departamento, para a Universidades e para os colegas de classe, principalmente
para a comunidade em que eu estava realizando o meu projeto, dessa forma,
chegamos a este fim, com muito sacrifício e diálogos demorados, assim fora a
118

escolha da produção coletiva e pedagógica de um mural como objeto de pesquisa e


de trabalho de conclusão de curso.

Fabris descreve a interpretação histórica de Portinari privilegiando a


dimensão humana em detrimento da dimensão épica dos acontecimentos e
evitando a glorificação individual (a história feita pelo homem do povo e não
pelo herói). (NOBRE, 2011, p. 70).

Para finalizar o diálogo sobre a justificação e afirmação da minha intenção


para com a representação da imagem constante do Monsenhor Expedito e povo,
como cidadãos comuns e iguais, utilizo-me dos argumentos de uma autora
mencionada no projeto de Suzy, que fala da característica do trabalho do pintor
Candido Portinari, que se assemelha ao meu trabalho em mural.

Assim, talvez possamos dizer, com a segurança que nos dá a história


documentada, que a Arte transforma o homem porque tem o poder de
capacitá-lo a incorporar em si aquilo que ele talvez ainda não seja, mas
poderá vir a ser, e instruí-lo sobre aquilo que ele talvez ainda não saiba, mas
poderá vir a saber. (NOBRE, 2011, p. 72).

Muito sábias as palavras da autora, pois ao longo do seu trabalho e nas


considerações finais, ela trata justamente da questão que responde as primeiras
intenções do meu trabalho em forma de Mural. Ele é sim educativo, é sim explicito, é
simples e para o povo, nada de enigmas ou mensagens subliminares, tampouco
sarcasmo, esse trabalho foi totalmente voluntário, tirante apenas os pintores que
prepararam a parede, para que pudéssemos aplicar a arte, eles também aplicaram o
líquido brilho para conservar a obra de arte, diante isso, ficamos contentes com o
resultado, uma imagem vale sim por muitas palavras e no mural, as imagens falam
por si uma história de luta e persistência, de um povo que resistiu a muitas
adversidades para permanecer em seu lugar. Eu precisei mencionar o mural, nessa
etapa do relatório como se ele já estivesse pronto, estava quase pronto, e de fato foi
necessário que houvesse essa reflexão ele.
119

3.8 OFICINA DE PINTURA E PREPARAÇÃO PARA A


INTERVENÇÃO.

Rotina
EEMF, SPP, 04 de novembro de 2016. Professor Leandro Levy
Rotina.
1. Coleta de frequência
2. Apresentação oral
3. Diálogo com a turma
4. Oficina de Pintura
5. Orientações
6. Organização do material
7. Saída

Nessa aula os alunos foram beneficiados com uma oficina de pintura de


observação, ministrada por mim, a ideia da oficina é começar a praticar as
produções em artes visuais, a partir de reproduções de pinturas inspiradas em
imagens, fotografias feitas por eles ou não, mas a intenção da oficina é familiarizar
os conhecimentos, habilidades e criatividades deles com alguns grafimos que já
estavam sendo realizados no Mural Artistico. Eu junto com a equipe de produção do
mural deixamos alguns espaços reservados, para que a turma do 2º ano do
“Maurício Freire” pudecem aplicar seus seus conhecimentos, adquiridos ou
aprimorados durante o estágio. No mural, eles tiveram a oportunidade de pintar
flores e plantas de nossa região local. A seguir apresentarei algumas fotografias
feitas pelos alunos, para que pudessem se inspirar nelas e treinar para a intervenção
no Mural.
120

FOTO 49, 50, 51, 52 e 53 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal do aluno.
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Uma das orientações, da aula anterior, foi pedir aos alunos que tirassem fotos
de vegetação nativa, com isso gerou uma dúvida neles, qual era essa vegetação
nativa? Pois bem, na nossa Cidade não grandes plantações e as poucas arvores
que produzem frutos estão dentro de terrenos particulares, ou seja, existem algumas
hortas e cultivo de capim nas proximidades do município, mas nada muito além
disso. Expliquei para eles, principalmente para os alunos que moram na Zona
Urbana, que a vegetação nativa é toda planta que surge ou não com ajuda do
homem, algumas plantas nativas ainda existem, porque as pessoas ainda não
descobriram seu valor medicinal ou serventia, como Cactos e outras plantas
silvestres. Algumas flores nascem entre o próprio asfalto, então, essas plantas
podem ser ditas como nativas e podem serem usadas como referência visual para o
nosso projeto. A partir desse entendimento os alunos trouxeram essas imagens e
outros preferiram pintar algo de sua própria imaginação, para facilitar a intimidade
com o pincel e a tinta, como vemos nas imagens a seguir.

FOTO 54, 55, 56, 57 e 58 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.


122

Este último encontro foi mais tranquilo, foi um momento de atividade, mas foi
um momento de acalmar os ânimos, relaxar, abstrair, conversar, refletir e se divertir
também. A turma do 2º ano da EEMF é composta de alunos sinceros e
comprometidos com as tarefas que lhes são dadas, para mim foi uma satisfação
sem descrição. Apesar do tempo ser curto, pudemos produzir bastante, durante
essa oficina e já começamos a discutir como seria a intervenção da turma, no
Projeto do Mural Artístico, alguns alunos já foram me comunicando que não queriam
ou não poderiam participar da intervenção, algumas características do plano de ação
da Escola incluir, mas não forçosamente, o aluno em todas as atividades,
independentemente de suas capacidades. A partir dessa premissa, eu e os alunos
decidimos que, participariam da pintura apenas os alunos que tinham o desejo de
pintar, no entanto era imprescindível que todos os alunos presentes, em sala de
aula, no dia da intervenção fossem participar indiretamente na produção do mural,
seja fotografando, apreciando, conversando ou ajudando os alunos que estavam
pintando. Todos concordaram, em seguida nós organizamos o material de pintura e
saímos.

3.9 ORIENTAÇÃO DA ESCRITA DO RELATÓRIO REFLEXIVO


DA EXPERIÊNCIA.

Este é um momento em que o estagiário entrega os últimos documentos que


diz respeito ao Estágio, que contabiliza 4h de trabalho no dia 04 de novembro de
2016. Também é o momento em que eu começo a organizar todo o material
produzido, os encontros, as leituras, o registro das atividades e apresento ao
coorientador e orientador do Trabalho de Conclusão, esses materiais vão somar,
posteriormente, com outros que fazem parte do desenvolvimento do TCC. A Escola
disponibiliza o Laboratório de Informática para que o estagiário realize a reflexão
sobre a experiência geral.

3.10 ESCRITA DO RELATÓRIO REFLEXIVO DA EXPERIÊNCIA.

A escrita do relatório reflexivo da experiência faz parte de todas as fazes da


criação e da produção do relatório, a escrita do relatório começa desde o momento
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em que o estagiário começa a traçar os planos iniciais para o estágio, desde a


escolha da instituição, das primeiras observações feitas sobre o perfil da turma e da
Escola, dos primeiros esboços de como seria a estrutura dos encontros e o que eu
poderia oferecer, como Professor/ estagiário de Artes Visuais.
A produção do relatório é a organização de tudo que já foi escrito, de tudo que
foi lido e feito, para embasar e fundamentar a pesquisa, as aulas e a própria reflexão
sobre a experiência. A reflexão é o raciocínio sobre todas as ações realizadas antes,
durante e depois do estágio e é, de fato, um trabalho intelectual que precisa de todo
aparato, de um ambiente propício para o estudo, de tecnologia e de um computador,
se possível com internet, pois o graduando precisa estar conectado integralmente
com tudo que favorece a escrita do documento.

4. CULMINÂNCIA E INTERVENÇÃO NO MURAL ARTÍSTICO.

De acordo com as orientações dadas na última aula, em sala de aula, e com o


que foi combinado com a turma, nós cumprimos com o que foi prometido, no último
encontro, antes da turma se retirar da sala, eu falei para os alunos como seria a
intervenção na manhã de 18 de novembro de 2016, a ideia era que a turma saísse
na primeira ou segunda aula, pra que pudéssemos ter bastante tempo, para os
alunos realizarem a pintura na finalização do mural, ou seja, das 7h da manhã até as
11h, pois, depois desse período de tempo, o sol ficava sobre nossas cabeças e no
intervalo entre 11h e 17h da tarde, eu e os participantes da pintura do Mural não
pintávamos, por consequência da temperatura que era muito alta. Eu fiquei
responsável em reunir os alunos, na Escola e virmos caminhando até a Praça Irmã
Dominícia, que localiza-se por trás da igreja matriz, onde estávamos fazendo o
mural, na sequência eu reuni os alunos em círculo, dando-lhes as últimas
orientações de como manejar o material de pintura e apresentando os Ex-alunos da
EEMF, esses alunos ficariam responsáveis em auxiliar os alunos da turma do 2º ano
e tirar alguma dúvida que houvesse, o restante dos alunos também ficaram dando
assistência aos alunos que estavam participando da pintura. Vejamos as imagens
desse momento, da intervenção.
124

FOTO 59, 60, 61 e 62 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.


125

FOTO 63, 64, 65, 66 e 67 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.


126

FOTO 68 - Registro da atividade – Fonte: Arquivo pessoal.

Essa interação dos Alunos do 2º com os Ex-alunos da EEMF foi muito


enriquecedor, tanto pra eles quanto pra mim, pois eu também sou Ex- aluno da
Escola, a troca de conhecimentos, de vivência e experiência lá no Ato da produção
foi muito interessante, principalmente para os alunos que estavam participando
indiretamente da Obra. Os alunos que estavam observando foram muito importantes
para a intervenção, alguns deles faziam parte do Jornal da Escola e eles fizeram
fotos e filmagens que repercutiram dentro e fora da instituição, ou seja, para o
município e fora dele, em relação aos alunos, que estavam auxiliando na pintura,
enquanto os colegas pintavam o muro, eles faziam observações e relações das
aulas com essa culminância, relatando que essa atividade era inovadora, na
verdade essa foi a primeira arte urbana, em forma de Artes visuais, que eles
presenciaram na cidade, então, tudo fazia parte de uma grande novidade, de uma
experiência única e que ficaria guardada na lembrança de todos os participantes.
Eu fico muito feliz e contente em poder ter criado esse projeto ousado e em
saber que, de certa forma, todas as pessoas incluindo os espectadores ficaram
muito satisfeitos com a realização do projeto, com o sucesso do trabalho. Para mim,
isso foi mais que recompensador, por exemplo, o estagiário não sabe ao certo o que
poderá acontecer durante as etapas da proposta de ensino, por mais que tudo
127

pareça estar sobre o controle do cronograma, por mais organizado que seja o
graduando.
Essa reflexão é embasada em pensamentos de terceiros que os autores
apresentam, faz-nos fazer analogias que explica o resultado magnifico que uma obra
coletiva representa, quero dizer que quando o professor, instrutor ou responsável
junta uma turma de uma escola ou um grupo de artistas, para fazer um trabalho de
grande dimensão, como a pintura de um mural, é normal que ele se surpreenda com
o resultado, nesse caso específico, do meu projeto, por sugestões e também dos
professores orientadores. Dobre os participantes, eu os deixei livres, não totalmente
desorientados, mas que pudessem exprimir da melhor forma, seus sentimentos e
talentos no painel. A palavra “imagem” surge da palavra magia, acredito que nesse
mural a magia se apresenta como um sonho lúcido, ou seja, de abstrações
pessoais, de cada um dos participantes, seja no estilo do traço ou na tonalidade das
cores e nesse caso, eu não tentei interferir, pois, apesar de não ser um trabalho
voltado pra reprodução de imagens realistas ou um tipo de cópia fiel de uma foto, o
mural apresenta grafismos únicos, apesar de ser gerado de um esboço feito por
mim, o resultado final fez surgir imagens inimagináveis por mim, pois o meu esboço
não apresentava cor, apenas formas e traços, um esboço simples, que todos os
participantes pudessem reproduzir na parede. Então, se há algo de mágico na
composição das imagens que estão no mural é de fato fruto da imaginação de cada
um dos participantes e é isso que o fez belo e genuíno.
Sobre as considerações, em relação a experiência vivenciada do Estágio
posso afirmar que, ao chegarmos nesta fase, analisamos o paradigma do contexto
das formas de se tratar as artes visuais, ou seja, uma breve investigação sobre elas,
seja, como objeto de estudo, seja, como práticas interdisciplinares. E principalmente,
sobre o desenvolvimento cógnito – instintivo dos alunos, valorizando a produção dos
mesmos, a partir da supervisão capacitada do professor.
A palavra “desenvolvimento” é traduzida pela prática de arte, particularmente,
como um tipo de reorganização das concepções de ensino aprendizagem. Neste
caso, quanto mais experiências artísticas os alunos vivenciarem mais elementos
elas apropriaram em seu acervo imaginário.
128

Em relação à importância da leitura de imagens, o aluno toma esta atividade,


não como forma de tentar copiar, e sim faz uma ressignificação, a partir das obras
dos autores apresentados durante o processo de produção.
A breve pesquisa sobre o tema afirma a importância das ciências, da
tecnologia e da cultura popular no universo dos jovens, na atualidade, para o
desenvolvimento do “saber” deles e de sua educação. O trabalho abrange alguns
aspectos das Artes Visuais e sua importância na nossa cultura.
O estudo fora significativo exclusivamente por ter sido escolhido, em partes,
por eles e pelo corpo docente, em relação ao saldo das práticas pedagógicas, esse
fora positivo, avaliadas durante todo o processo de aprendizagem. Cada momento
registrado foi significante para composição do relatório, como também os trabalhos
anteriores, pesquisa, as fotos e observações diárias.
Em relação a auto - avaliação podemos dizer que fora positiva, observando as
orientações e objeções diárias feitas pelo corpo docente, pela Coordenação e/ou
Direção da escola. Assim, pela aceitação das propostas pedagógicas e pelo
resultado conseguido pelas intervenções, vimos que fomos bem sucedidos nas
aulas, dessa forma o estudo foi bastante significativo, observando o interesse da
turma, a sua motivação e entusiasmo para que as atividades fossem realizadas com
tamanha primazia, a partir de seus conhecimentos, fazendo com que os mesmos se
ampliassem. Quanto à avaliação individual dos alunos e suas vozes, a partir dessa
faixa etária podemos assim dizer, que a sua aceitação, empolgação e carinho
para/conosco, os professores são as maneiras de dizer, com gestos, como e o
quanto eles gostaram de realizar os trabalhos, o fato de permanecerem em sala de
aula, de procurarem o professor e de tirar uma foto conosco foi para nós,
educadores, formas de nos gratificar e nos parabenizar pelo trabalho ter sido bem
sucedido.
No entanto, em relação à avaliação pessoal do processo de intervenção,
posso afirmar que o resultado dos trabalhos ultrapassou as minhas expectativas e
as minhas intenções como estagiário, pois meu comprometimento era voltado
inteiramente para o desenvolvimento do aprendizado dos alunos e o objetivo
principal era saber como planejar um projeto pedagógico, juntamente com o
professor, que sincronizasse com os seus saberes já existentes.
129

Paralelamente aproveitamos para retomar as ideias, procurando interligar os


conhecimentos produzidos na oficina com as subjetividades dos educandos,
a fim de que percebessem as relações que foram sendo estabelecidas entre
as temáticas propostas. Tramando laços não só educacionais, mas afetivos
que vão além das relações tradicionais de professor e aluno, vínculos
importantes à formação pessoal e educacional (FIGUEIREDO, 2009). (Uberti,
p. 12).

De fato, após todos esses dias vivenciados, quebramos a barreira da


hierarquia educacional, que há, comumente, dentro da sala de aula, tornando-nos
amigos acima de qualquer interesse. Após o stress do pouco tempo para se
produzir, o término e inauguração da obra, os participantes puderam relaxar, sorrir e
comemorar, relevando momentos difíceis de como manipular o material e como foi
proveitosa a experiência de superação e novos conhecimentos adquiridos. A
experiência os levaram a uma nova perspectiva, novas possibilidades, novos planos
e outros projetos artísticos. Enfim, abriu seus olhos para uma gama extensa de
novas possibilidades de produções artísticas visuais.
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5. REFERÊNCIAS

FARTIHNG, S. (2011). Tudo Sobre Arte. Rio de Janeiro: Sextante.

GUIMARÃES, L. M. (1996). Desenho, desígnio, desejo: sobre o ensino de


desenho. Teresina: EDUFPI.

MÖDERLER, C. (25 de Agosto de 2017). DW.COM. Fonte: Deutsche Welle:


http://p.dw.com/p/2ADh

NOBRE, S. M. (2011). ARTE REVOLUCIONÁRIA: A FUNÇÃO SOCIAL DA


PINTURA MURAL . Itapetininga.

SILVA, S. A. (s.d.). O MUNDO DO TRABALHO NA ARTE MURAL DE POTY


LAZZAROTTO: Um estudo inicial sobre as possibilidades de trabalho com a
imagem artística no ensino de História.

TAVARES, R. J. (2015). RESOLUÇÃO N° 001/2015 – CLAVC.


UBERTI, M. T. (s.d.). Pintura mural como experiência educacional em uma
oficina de arte educação.

VASCONCELOS, C. (2015). PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA ESCOLA


ESTADUAL MAURICIO FREIRE.
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6. ANEXO

Figura 58 - Tabela do cronograma de atividades - Arquivo do professor.

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