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A CATEDRAL, O BAZAR E O CONDOMÍNIO: UM ENSAIO SOBRE O MODELO DE

NEGÓCIO DO SOFTWARE LIVRE

ENSAIO – TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

Recebido em: 22/05/2007


Guilherme Finkelfarb Lichand
Mestrando em Economia na PUC-RJ Aprovado em: 28/02/2008
E-mail: glichand@colband.com.br

Eduardo H. Diniz
Doutor em Administração de Empresas pela EAESP-FGV
Professor da EAESP-FGV
E-mail: eduardo.diniz@fgv.br

Tania Pereira Christopoulos


Doutora pela EAESP da Fundação Getúlio Vargas
E-mail: tchristo@osite.com.br

RESUMO

Este ensaio tem como objetivo apresentar o software livre como objeto viável de estratégia de
comercialização no mercado de software. A partir da análise de seus efeitos sobre as receitas e o market
share das firmas dominantes, o F/LOSS (Free/Libre Open Source Software) emerge como alternativa de
modelo de negócio nos segmentos em que o software livre apresenta vantagens competitivas sobre o
software proprietário. Descrevemos as potencialidades e limitações, os aspectos tecnológicos, econômicos e
sociológicos da organização da produção de empresas que comercializam produtos ou serviços relacionados
ao F/LOSS.
Utilizando-se a perspectiva da Economia dos Custos de Transação e da Economia da Informação,
apresenta-se o modelo híbrido de desenvolvimento do F/LOSS nos mesmos moldes de um condomínio – em
que a administração central coordena a ação coletiva, enquanto a comunidade, ao mesmo tempo em que
integra o processo, monitora as ações da direção centralizada –, como estratégia competitiva alternativa aos
modelos de desenvolvimento aberto (Bazar) e proprietário (Catedral).
Palavras-chave: Software Livre, Open Source, Modelo de Negócios, F/LOSS.

THE CATHEDRAL, THE BAZAAR AND THE CONDOMINIUM: AN ESSAY ON A BUSINESS


MODEL OF FREE OPEN SOURCE SOFTWARE

ABSTRACT
Free Open Source Software is described as viable software for commercialization. Considering the
revenues and market shares of the dominant suppliers, this software emerges as an alternative business
model for segments in which open source software presents competitive advantages over the traditional
model. Potentials, limitations and technological, economic and sociological aspects of organizational
structures of companies that produce products and services related to Free Open Source Software are
described. From the transaction cost and information economy perspectives, a hybrid model to develop Free
Open Source Software is presented which is structured according to the concept of a condominium. That is,
a central administration coordinates collective action, while the community works and monitors the action of
the central direction. This model may be considered as an alternative competitive strategy to peer
production (Bazaar) and centralized (Cathedral) models.
Key words: Free Software, Open-Source Software, Business model, F/LOSS.

Revista de Gestão USP, São Paulo, v. 15, n. 1, p. 99-113, janeiro/março 2008


Guilherme Finkelfarb Lichand, Eduardo H. Diniz e Tania Pereira Christopoulos

1. INTRODUÇÃO Nas próximas seções apresentamos uma


discussão detalhada à luz da teoria econômica sobre
A conceituação de software livre como não as implicações da ascensão do F/LOSS no mercado
comercial, ainda que amplamente difundida, tem de software e sobre as particularidades associadas a
sido gradualmente revertida num período curto de esse modelo de negócio.
tempo. Corroboram esse resultado movimentos
Na seção 2 são detalhadas as dimensões básicas
como a substituição do termo free pelo francês libre
do software livre e explicitados alguns conceitos
– o que explicita o caráter libertário do termo em
tecnológicos e definições de licenciamento; na
detrimento da ilusória gratuidade do produto – e a
seção 3 abordamos a questão da viabilidade do
aderência de algumas firmas ao open source
software livre como modelo de negócio, avaliando
software como parte integrada de seu modelo de
as implicações da adoção dessa estratégia de
negócio.
produção; na seção 4 a discussão recai sobre os
Entretanto, permanece difusa a possibilidade de modelos de desenvolvimento de software: aberto,
adotar o F/LOSS como objeto de estratégia proprietário e híbrido, com especial ênfase nos
competitiva, em especial por suas implicações aspectos relativos à Economia dos Custos de
econômicas, pouco exploradas no universo Transação e à Economia da Informação. Com
multifacetado de contratação de software. relação ao modelo híbrido de desenvolvimento,
Adicionalmente, a questão relativa à estrutura discorremos sobre suas potencialidades e limitações
organizacional que melhor se adapta aos atributos em relação às demais estratégias competitivas;
tecnológicos, comerciais e sociológicos de um seguem-se as considerações finais, na seção 5.
modelo de negócio pautado no F/LOSS carece de
abordagem mais aprofundada na literatura que
2. CONCEITOS ECONÔMICOS E
avança rapidamente sobre esse fenômeno, tido por
TECNOLÓGICOS DO OPEN SOURCE
alguns autores como uma ruptura do entendimento
das fronteiras da firma na análise econômica.
2.1. Software Livre e Software Proprietário
Portanto, este artigo tem como objetivo
apresentar o software livre como objeto viável de Software Livre é o software cujo código-fonte
estratégia de comercialização no mercado de pode ser livremente acessado. O código-fonte é uma
software, demonstrando que o F/LOSS (Free/Libre linguagem de computação escrita pelos
Open Source Software) emerge como alternativa de programadores, com os comandos que determinam
modelo de negócio nos segmentos em que o o funcionamento dos aplicativos. Quando um
software livre apresenta vantagens competitivas programa é compilado para se tornar um programa
sobre o software proprietário. em funcionamento, esse código é embaralhado e se
torna ilegível.
Um debate recorrente na literatura sobre essa
tecnologia refere-se à sua denominação: free O modelo dominante de comercialização de
software ou open source software. Se, de um lado, a software, chamado de software proprietário, é dito
primeira forma é utilizada por alguns autores com fechado, uma vez que é distribuído apenas em
uma conotação político-ideológica, em resposta ao código binário, legível somente pelos
oligopólio das gigantes produtoras de software, de desenvolvedores da empresa proprietária. A esta
outro a segunda expressão estaria relacionada também é reservado o direito de proibir ou liberar
exclusivamente ao seu significado econômico e aos seu uso, cópia ou redistribuição, de acordo com seu
aspectos tecnológicos dessa produção. interesse e práticas comerciais.
Como nenhum dos dois fatores pode ser O modelo proprietário surgiu quando se
desconsiderado sem a adoção de um viés desenvolveu a indústria de TI e os softwares
ideológico, utilizaremos de forma abrangente o adquiriram valor de comercialização. No início do
termo Free/Libre Open Source Software (F/LOSS) desenvolvimento da indústria de informática o valor
ao longo do presente estudo. Conforme discute real estava nas próprias máquinas, porque havia
Cezar Taurion (2004), a abordagem pretendida poucos computadores, e não nos programas, de
considera o software livre como modelo de negócio, maneira que os softwares eram gratuitos e
em detrimento de “tecnicismos ou passionalismos”. livremente distribuídos em formato fonte. Quando

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os softwares passaram a constituir indústria 2.2. Catedral e Bazar


separada do hardware, emergiu um campo de
No artigo cujo título dá nome a esta seção, Eric
negócios bilionário e as empresas começaram a
Steven Raymond (2000) distingue dois modelos de
buscar mecanismos de proteção da propriedade
desenvolvimento de software: o modelo
intelectual. Constituindo o próprio conhecimento do
proprietário, cujo processo produtivo, isolado e
programa, o código-fonte passou a ser protegido.
centralizador se dá nos mesmos moldes da
Assim, o software proprietário surgiu para
construção de uma catedral, e o modelo de
preencher uma necessidade legítima do mercado
desenvolvimento aberto, que reúne diversas agendas
(TAURION, 2004).
e abordagens e aceita contribuições indiscriminadas,
Um programa é software livre se os usuários são da mesma forma que o mecanismo de constituição
livres para acessar seu código-fonte, alterá-lo e de um bazar.
redistribuir cópias, com ou sem modificações, de
Ao contrário da formalidade e do planejamento
graça ou cobrando uma taxa pela distribuição, para
presentes no modelo catedral, que tem definição de
qualquer um em qualquer lugar1. Ser livre para fazê-
implantação do software em fases, o bazar não
lo significa, entre outras coisas, que não é
prevê planejamento da execução; não há etapa de
necessário pedir ou pagar pela permissão.
desenho e este só fica evidente para a comunidade
É importante destacar que software livre não depois da elaboração de algumas versões.
significa de domínio público, mas sujeito a
Outras características próprias do bazar são a
licenciamentos que, em maior ou menor grau,
presença de lideranças que emergem naturalmente,
permitem a liberdade de usar, copiar, modificar e
a revisão e a seleção dos códigos feita pelos
redistribuir o programa.
próprios pares, o ritmo de desenvolvimento dado
“Software Livre” não significa “não comercial” pela disponibilidade de tempo e a contribuição
ou gratuito. Um programa livre deve estar voluntária dos desenvolvedores.
disponível para uso comercial, desenvolvimento
Para compensar as incertezas do modelo de
comercial e distribuição comercial, normalmente
contribuição voluntária, as comunidades
com custos reduzidos, uma vez que estes são
desenvolvedoras adotam alguns mecanismos como
diluídos entre todos que contribuem com a
a presença de um mantenedor, que é o líder;
comunidade do Software Livre, não havendo
direcionamento de tarefas mais complexas aos
necessidade de recuperação desse custo por meio da
desenvolvedores mais experientes; controle de
licença de uso.
versões por meio de softwares apropriados, a fim de
A questão central do F/LOSS relaciona-se à sua verificar quais versões estão prontas para a
dinâmica de desenvolvimento. A formulação de apresentação; modularidade, a fim de permitir o
software livre relaciona-se, tradicionalmente, a trabalho simultâneo de vários colaboradores; e
comunidades de desenvolvedores; sendo assim, um definição de regras claras de codificação, para
serviço de desenvolvimento pode ter acesso aos garantir homogeneidade no código.
diversos módulos disponibilizados com código
aberto e executar as implementações necessárias. 2.3. Open source x Software proprietário
Ao final do serviço, o novo código é devolvido à A força de expansão do software livre no
comunidade de desenvolvedores e aos usuários. panorama recente fomenta muitas vezes a idéia de
que o F/LOSS substituirá por completo o software
proprietário. O modelo tradicional de software tem
seu desenvolvimento muitas vezes pautado pela
estratégia do fornecedor, que constantemente cria
novas funcionalidades, em geral dessintonizado das
1
Os termos-chave de licenciamento essenciais para definir um necessidades dos usuários, além de um processo de
código como open source são (i) livre distribuição, (ii) código “obsolescência programada” (TAURION, 2004) e
legível e modificável, (iii) permissão de desenvolvimento uma possível incompatibilidade das novas versões
derivado e (iv) não responsabilização dos desenvolvedores por
quaisquer danos advindos da utilização do código licenciado
com as anteriores, impedindo a aquisição de versões
(FROST, 2005).

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anteriores, ainda que atendam perfeitamente às tenha duas licenças, uma livre e outra proprietária,
necessidades do usuário. proporcionando flexibilidade a modelos de negócios
que estejam baseados não apenas na utilização, mas
Todavia, a opção pelo software livre fica limitada
também nas receitas oriundas da venda de licenças
pelo aprisionamento gerado pelos elevados custos
proprietárias.
de troca dos softwares proprietários, seja em razão
da compatibilidade com a base de dados Evidentemente, o tipo de licença interfere no
estabelecida, seja pela necessidade de retreinamento modelo de comercialização do software e nos seus
do pessoal. efeitos econômicos. Analisaremos em mais detalhes
essas implicações na discussão sobre a interação
Outro fator que inibe a adoção do Software Livre
entre o modelo de negócio do F/LOSS e a estrutura
é que muitos softwares são de domínio de
de mercado.
conhecimento restrito ou envolvem questões
estratégicas. Nesse sentido, na visão de Taurion
(2004) e Whang (1992), empresas monopolistas ou 3. ANÁLISE DE VIABILIDADE DO
líderes em seus mercados tendem a adotar padrões SOFTWARE LIVRE COMO
proprietários, no intuito de manter sua posição. Em ESTRATÉGIA DE NEGÓCIO
contrapartida, empresas que estejam em busca de
competitividade e renovação constante tendem a 3.1. Natureza das transações
optar pelo software livre, com maior flexibilidade
para ajustes aos processos. O artigo Economia em Comunidades (DINIZ,
WILNER e CHRISTOPOULOS, 2005) comenta a
2.4. Modelo de licença e modelo de negócio ascensão de um fenômeno econômico: “grupos
organizados que se comunicam à distância pela
A prática do F/LOSS engloba duas dimensões Internet com o objetivo de trocar informações,
distintas: modelo de negócio e modelo de partilhar conhecimentos e realizar tarefas em
licenciamento, este último com implicações comum apresentam-se hoje como uma nova
relevantes na esfera econômica. proposta de produção econômica”. As comunidades
Há diversas modalidades de licença. Algumas de desenvolvedores de software são grupos reunidos
incorporam o princípio da reciprocidade – que em torno de um empreendimento comum, que
estabelece que qualquer desenvolvimento a partir de consiste em entregar um produto ou realizar uma
um código licenciado nesses termos deve, quando o tarefa por meio da troca de informações e
código for distribuído, empregar as mesmas conhecimentos.
definições legais do código original –, mas outras O fator determinante para o trabalho em
não. comunidade é a possibilidade de colaboração
As mais expressivas licenças de cada grupo são, fragmentada ou individualizada, por meio da qual
respectivamente, a GNU Public License (GPL) e a cada um contribui com partes específicas para a
Berkeley Software Distribution License (BSD), conclusão dos projetos.
segundo Fink (2003). Se, por um lado, a BSD é tida Esse fenômeno é descrito por Benkler (2002)
como modelo ‘liberal’ de licenciamento – uma vez como um campo de estudo absolutamente novo na
que permite tanto que qualquer peça de código Economia: uma estrutura produtiva que emerge
derivada de um trabalho fundamentado nessa independentemente de mercados ou de uma base
licença seja utilizada sem quaisquer obrigações hierárquico-empresarial – diferente, equivalentemente,
adicionais, quanto a liberdade do usuário de exibir da abordagem de forma híbrida apresentada pela
ou não o código-fonte quando este for distribuído, Economia dos Custos de Transação. O pensamento
abrindo espaço para a sua comercialização –, por tradicional sobre o comportamento econômico
outro, a GPL estipula que qualquer resistiria à idéia de que milhares de voluntários
desenvolvimento subseqüente deve ser licenciado poderiam colaborar em um complexo projeto
nos mesmos termos de acessibilidade do código e econômico e, ainda mais impressionante,
de liberdade de distribuição da peça original. ultrapassar as maiores e melhores financiadas
Há ainda a possibilidade de licenciamento duplo, empresas do mundo na sua própria área de atuação.
que se caracteriza por permitir que um produto

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Segundo a teoria de Ronald Coase sobre os de análise e não simplesmente as commodities,


custos de transação e a emergência da firma como fazem outras teorias econômicas, para
(COASE, 1937 apud BENKLER, 2002)2, os agentes compreender a eficiência dos modelos de negócios.
recorrem aos mercados quando os ganhos de agir A eficiência é analisada com base nas estruturas de
dessa maneira, sujeitos aos custos de transação, governança adotadas e nos respectivos custos de
superam os ganhos de fazer o mesmo numa firma, transação gerados. Tratando-se do software livre, o
submetidos aos custos de organização. A firma que nos interessa é o custo da transação e, mais
emerge quando o oposto é verdadeiro. Qualquer especificamente, das estruturas de governança
firma individual estagnará quando seus custos de adotadas.
organização excederem os custos de organização de
Na ECT são abordadas três estruturas de
uma firma menor.
governança: mercado, formas híbridas e hierarquia.
Entretanto, a ascensão do F/LOSS como força A primeira e última formas contrapõem-se no trade-
substancial no mundo do desenvolvimento de off entre incentivo e controle. Se, por um lado, o
softwares coloca em xeque o entendimento mercado apresenta incentivos fortes, associando
tradicional da teoria das organizações: segundo essa esforço a remuneração e exercendo pouco controle
interpretação, F/LOSS não se baseia nem em sobre essas transações, essa associação se dá com
mercados nem em hierarquias empresarias para menos intensidade na firma, que, por outro lado,
organizar sua produção. Programadores, promove incentivos tênues a um comportamento
usualmente, participam de um projeto não porque cooperativo e adota controles internos capazes de
assim foram instruídos por um superior nem porque sobrepujar a ausência de incentivos fortes. As
alguém lhes oferece um preço. A massa crítica de formas híbridas são analisadas como estruturas que
participantes em projetos não pode ser explicada apresentam tanto as formas extremas do mercado
pela presença direta de um comando, um preço ou quanto a hierarquia, ganhando em incentivos e
mesmo um retorno monetário futuro, sobretudo com perdendo em controle à medida que se aproximam
relação à importante decisão quanto aos projetos de das primeiras e se afastam da segunda.
que esses indivíduos tomam parte.
Formas produtivas em que grupos de indivíduos
Segundo Watson et al. (2005), são os benefícios colaboram em projetos, estimulados por motivações
da transação (benefícios oriundos de transações outras que não a remuneração do mercado ou o
econômicas) que motivam os membros a comando gerencial, são denominadas peer
permanecerem contribuindo com as comunidades e production por Benkler (2002) e podem ser
que atraem novos talentos. Esses benefícios vão analisadas segundo as propriedades das formas
além dos benefícios financeiros comuns aos híbridas de estrutura de governança, o que conduz a
modelos da Firma e do Mercado. Entre esses implicações conclusivas para as potencialidades e
benefícios, destacam-se a reputação e o limitações da adoção desse modelo produtivo como
desenvolvimento intelectual e de habilidades. A estratégia competitiva.
existência e validade desses benefícios devem ser
consideradas relativamente à cultura, às 3.2. Efeitos sobre a estrutura de mercado
características individuais, às necessidades e à Os efeitos da ascensão do open source no
tecnologia de informação disponível (WATSON et mercado de software, em contraposição ao modelo
al., 2005). Em relação a este último aspecto, os proprietário, foram esboçados por Frost (2005), em
participantes são atraídos por projetos que termos de análise econômica, relativamente à
propiciam o desenvolvimento de novas habilidades. receita e ao market share. Mercados de tecnologia
Assim, projetos baseados em novas tecnologias apresentam por vezes elevadas barreiras à entrada,
tendem a atrair maior número de participantes. em virtude: 1) da necessidade de investimentos
A teoria da Economia dos Custos de Transação tidos como custos irrecuperáveis, do aprisionamento
(ECT) foi selecionada entre outras teorias dos usuários – derivado dos custos de troca
econômicas porque adota a transação como unidade inerentes à base de dados associada à tecnologia
operante e da necessidade de retreinamento de
pessoal e de custos de aquisição e renovação de
2
COASE, R. The Nature of the Firm. British Academic Journal licença –, e 2) da presença de externalidades de
Economica, v. 4, n. 16, Nov. 1937.

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rede, que consistem em payoffs crescentes Com efeitos inegáveis sobre as receitas e o
associados à crescente utilização de uma diretriz market share das firmas dominantes, o F/LOSS é
tecnológica. Essas duas variáveis fornecem aos uma alternativa de estratégia competitiva nesse
padrões de mercado uma base de autoconservação. mercado. Analisaremos na próxima seção suas
potencialidades e limitações como modelo de
Comunidades organizadas em torno da peer
negócio.
production deparam-se com reduzidos custos
irrecuperáveis, dados o perfil não monetário de
3.3. Firmas de F/LOSS e estratégia competitiva
incentivos dos programadores e a diluição dos
custos entre eles. Associada a um desenvolvimento A questão central no debate acerca de um modelo
potencialmente mais rápido dos códigos a partir da de negócio para o F/LOSS é a capacidade de auferir
confluência de múltiplos e simultâneos processos lucros a partir da adoção dessa estratégia
criativos, essa configuração estaria vinculada a um competitiva.
processo mais acelerado de desvalorização (FINK, Uma esfera de atuação proeminente e que vem
2003), o que postaria um desafio às receitas e ao sendo incorporada mesmo por grandes corporações
market share das firmas preestabelecidas. ícones do modelo proprietário, tais quais a IBM, é o
Como vantagem adicional, o software livre uso do open source software como plataforma de
apresenta a propriedade fundamental de redução da desenvolvimento (FROST, 2005). Essas empresas
especificidade de ativos – dimensão que atrela o atuam desenvolvendo soluções (proprietárias ou
valor de um ativo determinado à continuidade de não) para necessidades de negócio específicas de
uma relação à qual ele é específico. Assim, ativos cada empresa, expressas por meio de avanços sobre
específicos são aqueles não reempregáveis sem o código original ou adaptações às particularidades
perda de valor, o que, associado ao oportunismo e à de demanda.
incompletude dos contratos, imputa custos de As licenças têm um papel importante na
transação ao investimento nesses ativos. Essa comercialização do Software Livre, pois muitas,
característica expressa que para a firma contratante dentre elas a BSD, abrem espaço para a
do serviço de desenvolvimento de software os comercialização e distribuição dos avanços ou
custos de troca são menores, uma vez que não há implementações do produto original sem
custos de renovação de licença (VARIAN e disponibilização do código-fonte, em sintonia com
SHAPIRO, 1999). as necessidades comerciais de uma firma baseada
Em uma dimensão mais abrangente, a no modelo open source. Mesmo a GLP pode
especificidade de ativos tem impacto sobre a conviver lado a lado com o código licenciado
estrutura de governança (WILLIAMSON, 1985). À (FINK, 2003), ainda que careça de jurisprudência
medida que se eleva a especificidade de ativos, mais (FROST, 2005).
controle é demandado sobre a transação, de maneira A adoção desse modelo de negócio e a redução
a evitar o comportamento oportunista, potencial às da especificidade de ativos intrínseca à dinâmica do
partes envolvidas. Com isso em mente, tanto mais F/LOSS tendem a conduzir a estruturas de mercado
próxima da hierarquia será a estrutura ótima quanto mais competitivas ao diminuírem a rigidez das
maior a especificidade de ativos da relação relações contratuais.
envolvida. Nesse sentido, a redução da
especificidade de ativos inerente à inserção do open
source no mercado de software pode também ter 4. MODELOS DE DESENVOLVIMENTO DE
efeitos reversos sobre a concentração nesse SOFTWARE
mercado.
Por fim, a aceleração do processo de 4.1. Modelo de desenvolvimento aberto
desvalorização põe em cheque a política de Nesta seção, analisaremos a situação em que a
“obsolescência programada”, própria à indústria de firma se insere como mais um elemento em uma
software, e desafia o modelo de negócio tradicional comunidade de prática virtual, integrando a forma
desse mercado. produtiva do peer production, em condição
equivalente a qualquer um dos demais

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desenvolvedores. Analisamos a decisão de dado que essa problemática se reflete na maior parte
contratação de um desenvolvedor por parte de um dos custos de transação. “Nesse ponto entra em
consumidor (sob a figura de indivíduo, organização cena a especificidade dos ativos, em cuja presença
ou Estado) e as relações envolvidas no processo verifica-se uma dependência bilateral e, portanto, a
produtivo. necessidade de uma adaptação do tipo cooperativa”
(AZEVEDO, 1996).
A literatura da ECT aborda amplamente a
construção de modelos teóricos, no intuito de O mercado, por gerenciar informações com
comparar a eficiência relativa das diversas menos custos e por apresentar incentivos de alto
estruturas de governança em cada tipo de transação. poder, tem maior capacidade de adaptação na
O modelo de Williamson (1985) aqui apresentado resolução de problemas autônomos.
como uma ilustração à discussão subseqüente é Alternativamente, a hierarquia apresenta vantagem
retirado de Azevedo (1996): “apresenta a essência na emergência de problemas cooperativos, em que
dos argumentos da ECT em uma forma analítica há dependência multilateral.
reduzida, em que a variável-chave é a
A incerteza, dimensão das transações introduzida
especificidade dos ativos3. A escolha da forma
anteriormente, precisa ser compreendida de forma
organizacional reflete, sobretudo, essa dimensão das
mais depurada em razão da conceituação
transações. As demais dimensões – incerteza e
diferenciada das comunidades de desenvolvedores
freqüência – e elementos do ambiente institucional
de software como formas híbridas.
– como garantia de direitos de propriedade,
disponibilidade de informações, códigos de ética, A importância da incerteza na definição dos
etc. – representam parâmetros de deslocamento das mecanismos de governança refere-se à
funções da forma analítica reduzida do modelo”. suscetibilidade da capacidade de adaptação a cada
um dos problemas analisados previamente à
A distinção mais fundamental se refere ao
variação dos eventos. O ponto é que as estruturas
contraponto entre a descentralização do mercado,
intermediárias tendem a ser mais sensíveis aos
em que partes autônomas transacionam, e a
efeitos da incerteza, em razão dos custos de
centralização da firma, em que o proprietário
renegociação. Assim, na iminência de uma querela
conserva o poder de fiat (“faça-se”), resolvendo
contratual, diante de uma elevação da incerteza, que
desavenças contratuais internamente, sem
acentua as lacunas ex ante à transação, os custos de
necessidade de recorrer a instâncias judiciais. Ainda
renegociação do mercado sobem, mas não
que essa necessidade exista no caso do mercado, as
significativamente, dado que as partes são
partes são autônomas para negociar.
autônomas para negociar. Há que considerar aqui
A capacidade de adaptação definirá o critério que se está tratando de uma análise econômica da
fundamental para avaliar as estruturas de forma híbrida sem a possibilidade de fixação de
governança ótimas para cada transação específica, regras ex ante. Na seção 4.3 serão apresentadas
evoluções do modelo, que minimizam a incerteza
entre as partes.
3
Seis tipos de especificidade de ativos são identificados por
Williamson (1985): i) especificidade locacional – a localização
Do ponto de vista da hierarquia, em razão da
próxima de firmas de uma mesma cadeia produtiva economiza existência do poder de fiat decorrente do controle
os custos de transporte e armazenagem e significa retornos central, uma situação nos mesmos moldes que a
específicos a essas unidades produtivas; ii) especificidade de apresentada no modelo aberto também eleva de
ativos físicos; iii) especificidades de ativos humanos, ou seja, forma pouco significativa os custos de
toda forma de capital humano específico a uma determinada
atividade; iv) ativos dedicados – relativos a um montante de renegociação. Já quanto às formas híbridas, as
investimento cujo retorno depende da transação com um agente partes são interdependentes, o que resulta em uma
particular e, portanto, relevante individualmente; v) elevação substancial dos custos de renegociação
especificidade de marca, que se refere ao capital – nem físico diante de um cenário de incerteza, quando não são
nem humano – que se materializa na marca de uma empresa,
sendo particularmente relevante no mundo das franquias; e f)
regulamentadas as transações, exigindo consenso
especificidade temporal, onde o valor de uma transação bilateral.
depende sobretudo do tempo em que ela se processa, sendo
especialmente relevante no caso da negociação de produtos
perecíveis.

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Gráfico 1: Especificidade de ativos e custos de transação associados às estruturas de governança

Fonte: AZEVEDO (1996).


O gráfico anterior remete às três estruturas de Esse efeito é explicitado mediante um shift up em
governança exploradas em detalhe, identificando os todas as curvas (mercado, hierarquia e formas
custos de transação associados a cada nível de híbridas), com maior intensidade para esta última
especificidade de ativos (k) – M correspondendo à estrutura. Em última instância, o resultado amplia a
curva de mercado, que apresenta custos de área das formas extremas e reduz a da estrutura
transação mais reduzidos se a especificidade de intermediária à medida que aumenta o nível de
ativos é nula, e custos que se elevam mais incerteza. Altera-se, subseqüentemente, o nível de
rapidamente quando cresce k, comparativamente às especificidade de ativos que determina para que
demais formas organizacionais (primeira derivada grau de especificidade das transações cada uma das
mais elevada, M’); H representa hierarquia, formas configura estrutura ótima de governança
indicada por comportamento inverso, uma vez que (com uma nova curva envelope).
apresenta os mais elevados custos de transação se a
Sob esse aspecto, a incerteza configura elemento
especificidade é nula, e o menor incremento (H’) à
determinante para a escolha da forma
medida que k aumenta; X representa de maneira
organizacional. Adicionalmente, a conceituação de
abrangente as formas híbridas de comportamento
incerteza associada à assimetria informacional
intermediário entre as estruturas extremas.
também acrescenta à discussão a diferença entre
Embora não explicitado no modelo, Williamson resultados observáveis e resultados verificáveis. Se
sugere que as mudanças nos parâmetros de parte ou todos os participantes de uma transação
deslocamento afetam de modo diferente cada desconhecem o parâmetro de avaliação ou
mecanismo de governança. O aumento da incerteza, monitoramento, isso impede a construção de
por exemplo, tenderia a aumentar relativamente esquemas de incentivos adequados (AZEVEDO,
mais os custos da forma híbrida, uma vez que, de 1996).
um lado, adaptações que exigem cooperação – o
que não acontece com a forma de mercado – 4.2. Modelo de desenvolvimento proprietário
estariam mais sujeitas a atitudes oportunistas, e, de Nesta seção analisamos as implicações
outro, os problemas impostos pelas contingências econômicas da estrutura de governança própria da
necessitam de uma solução consensual – o que não opção do modelo de desenvolvimento fechado
acontece na forma hierárquica (AZEVEDO, 1996). cathedral-like.

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A Catedral, o Bazar e o Condomínio: um ensaio sobre o modelo de negócio do Software Livre

Há alguns riscos inerentes ao modelo proprietário quando comparado ao modelo de desenvolvimento


de software que, segundo Watson et al. (2008), aberto.
podem ser minimizados em outros modelos. O
Apesar de os custos relativos à incerteza poderem
primeiro desses riscos é a ofensa a direitos autorais.
ser minimizados em razão de sua previsibilidade no
Uma ofensa a direitos de propriedade de um
contrato, há outros custos relevantes que oneram o
software proprietário só será descoberta muito
modelo proprietário, comparativamente a outros
tempo depois, podendo causar danos que não
modelos. O primeiro é o custo da infra-estrutura
ocorrem em estruturas de mercado em que o
necessária para desenvolvimento e distribuição do
código-fonte é aberto e disponível para todos e no
software. Na indústria tradicional de software, que
qual uma ofensa a direitos de propriedade poderia
adota o modelo proprietário, o desenvolvimento do
ser mais facilmente descoberta (WATSON et al.,
software ainda exige a presença física dos
2008). A impossibilidade relativa de rastreabilidade
desenvolvedores, elevando custos de infra-estrutura
do código do software alterado eleva os custos do
comparativamente a outros modelos de
modelo, pois as corporações que o desenvolvem e
desenvolvimento remoto de software, como em uma
comercializam devem prever em seus preços perdas
estrutura de mercado, por exemplo, em que cada um
relativas às conseqüências de ofensas a direitos
pode trabalhar desenvolvendo o código em seu
autorais.
próprio ambiente.
Esse risco pode ser minimizado com uma
Na próxima seção investigaremos uma
definição contratual de eventuais indenizações ao
configuração intermediária capaz de fornecer os
contratante. A estrutura geral de contratos de
incentivos adequados a ambas as partes envolvidas
software usualmente consiste em três partes:
na relação contratual e que corresponde a um
definição do produto, proteção de propriedade
modelo de negócio alternativo aos demais modelos.
intelectual e estrutura de pagamento. Esses aspectos
podem ser respaldados por definições estabelecidas 4.3. Análise do modelo de desenvolvimento
na Lei brasileira no 9.609/98. Entretanto, por se híbrido
tratarem de aspectos contratuais, nem sempre são
definidos de acordo com o que a lei define. Assim, 4.3.1. Justificativa econômica
com relação à proteção da propriedade intelectual,
como os contratos requerem especificação das Nos tópicos anteriores, vimos que custos de
definições pelas partes, há sempre um campo renegociação elevados associados ao
potencial de conflito acerca da pertença ou licença desenvolvimento segundo o modelo aberto e
da propriedade intelectual do ativo desenvolvido, e elevados custos de monitoramento, próprios de
o risco de que informações estratégicas de uma das ambos os modelos de negócio, emergem como
partes sejam reveladas à outra. limitações demarcadas da estratégia competitiva
delineada pela adoção dessas estruturas
Quanto ao pagamento, grande parte dos contratos organizacionais.
especifica os pagamentos segundo o licenciamento,
serviço, treinamento, manutenção e documentação Um modelo de negócio que vinculasse seu
e/ou segundo os módulos do projeto, mas a processo produtivo a uma comunidade de prática
especificação de um plano contingencial em caso de virtual, organizada sob o modelo peer production,
fracasso depende de definições prévias das partes, o não como um desenvolvedor adicional, em
que nem sempre ocorre. Para reduzir as incertezas condição equivalente a todos os demais, mas na
relativas, todo contrato deve, portanto, definir posição de coordenador do desenvolvimento
explicitamente um plano contingencial (WHANG, contratado, responsável por todas as implicações
1992), garantindo a parte do contratante e também a legais e financeiras do projeto, incorporando seus
do fornecedor. membros na sua execução, seria uma alternativa aos
modelos anteriores.
A partir dos riscos analisados, pôde-se verificar
que maior incerteza é um parâmetro associado à Nesse contexto, a responsabilidade de
construção de incentivos adequados para a desenvolvimento recai sobre uma gestão
construção de software no modelo proprietário, centralizada, menos sensível à incerteza e com
margem para renegociação, ao mesmo tempo em

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Guilherme Finkelfarb Lichand, Eduardo H. Diniz e Tania Pereira Christopoulos

que os desenvolvedores pulverizados no sistema de mil artigos já produzidos. O que difere a Wikipedia
peer production devem ser capazes de prover de outros modelos de enciclopédia on-line é o
monitoramento do desenvolvimento do projeto. caráter autoconsciente dos voluntários que se
dedicam ao projeto de forma produtiva e a baixa
Ao mesmo tempo, conserva-se a flexibilidade da
quantidade de tentativas de deturpar o objetivo do
estrutura de governança – por meio da interação
projeto.
com a comunidade de desenvolvedores –, relevante
diante de outras formas de incerteza, como a Benkler (2002) cita o projeto Kuro5hin, ou K5,
imprevisibilidade tecnológica (HARRIGAN, 1987 como o “estado-da-arte” do peer production. O K5
apud AZEVEDO e ROCHA, 2000). é uma comunidade que, em 2002, abrigava 25 mil
colaboradores de artigos nas áreas de cultura,
Adicionalmente, o risco do projeto é diluído entre
tecnologia, política e comunicações, enfatizando a
a corporação e a comunidade de desenvolvimento
qualidade do material publicado. O controle de
de F/LOSS, minimizando o problema da
qualidade é executado por um software em código
degeneração do mercado, também segundo essa
aberto, reforçado pelos mecanismos de peer-review
perspectiva. É a estrutura não monetária de payoffs
antes da publicação e peer-commentary após a
dos desenvolvedores – guiados pela busca de
publicação.
reputação, aprendizado ou contribuição para um
grande projeto – que possibilita essa interação Watson et al. (2005) corroboram os exemplos de
híbrida entre as culturas voluntária e capitalista. Benkler (2002), argumentando que o sistema de
produção que vem sendo definido como próprio do
Raymond (2000) associa o modelo de
Open Source pode ser visto desde há muito tempo
desenvolvimento proprietário ao processo de
em qualquer organização em forma de comunidade,
construção isolado, centralizador, de uma catedral, e
pois esta corresponde a um grupo organizado de
o modelo de desenvolvimento aberto, reunindo
pessoas trabalhando coletiva e voluntariamente para
diversas agendas e abordagens e aceitando
alcançar um objetivo comum. Entre vários
contribuições de virtualmente qualquer um, ao
exemplos, a Wikipedia é citada por Watson et al.
mecanismo de constituição de um bazar. O modelo
(2005) como exemplo de organização em
híbrido de desenvolvimento proposto neste artigo
comunidade.
pode ser associado a um condomínio, em que a
administração central coordena a ação coletiva Atualmente, verificam-se variações do modelo de
enquanto a comunidade integra o processo e comunidades de software livre, na tentativa de
monitora as ações da direção centralizada. viabilizá-lo. Segundo Watson et al. (2008), há
quatro modelos já operacionalizados no mercado de
Em primeiro lugar, cabe ressaltar que esse
software livre:
esquema produtivo é adequado tão-somente a um
escopo limitado de projetos de software: aqueles • Comunidade aberta: o desenvolvimento e suporte
que não apresentam restrições a informações do software é feito por voluntários. Não há
estratégicas ou compartilhamento de dados e são interesse comercial e este modelo parece dominar
relativos a dimensões pouco concentradas do o mercado, pois há mais de 150 mil projetos na
mercado de software, em que o modelo tradicional SourceForge (2008).
não apresenta vantagens competitivas em razão de
• Distribuição corporativa: empresas identificam
ganhos baseados exclusivamente em licenciamento,
produtos com potencial para o Mercado e
por exemplo.
interagem com a comunidade desenvolvedora,
Há evidências da viabilidade do modelo de peer investindo no desenvolvimento de habilidades de
production, apresentadas no estudo de Benkler serviços de suporte. Exemplos dessas empresas
(2002): o projeto da Wikipedia Project envolve são: RedHat, SpikeSource e OpenOSX, que
milhares de voluntários que colaboram para nasceram criando valor e gerando receita por
escrever uma enciclopédia. O projeto é meio da identificação de projetos interessantes
desenvolvido por meio de um software em código para o mercado e melhorando os métodos de
aberto, cujo foco é permitir múltiplas colaborações distribuição e de suporte desses produtos.
na edição dos documentos. Em 2002, com 18 meses
• OSS patrocinado: corporações e/ou fundações
de operação, havia 2 mil pessoas colaborando e 30
patrocinam projetos de OSS. Os projetos são

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A Catedral, o Bazar e o Condomínio: um ensaio sobre o modelo de negócio do Software Livre

muitas vezes iniciados por empresas que liberam serviços que incluem suporte, treinamento e
o código fechado e encorajam seus funcionários a consultoria.
continuar trabalhando no novo projeto aberto. A
A segunda diferença é que, enquanto a Trolltech,
Sun Microsystems criou sua comunidade de
a MySQL e a Sleepycat são proprietárias de seu
desenvolvedores para aquisição de informações e
código-fonte, a fim de poderem oferecer seu modelo
colaborações ao seu sistema (DINIZ, WILNER e
de licença dupla, a JBoss não o é, mas apesar disso
CHRISTOPOULOS, 2005). A Zope.corporation,
controla o código mais rigidamente que outras OSS
por exemplo, estimula o desenvolvimento de uma
com outros modelos de licença.
comunidade de desenvolvedores voluntários de
software de gestão de conteúdo, com base em um Três importantes características trazem vantagens
software livre, com o objetivo de incrementar seu ao modelo das OSSg2: 1) atribuição clara de
poder de consultoria no mercado de softwares. responsabilidades, pois, como o código é aberto,
Apesar de voluntários, esses desenvolvedores alterações e tentativas de “ataque” ao código-fonte
estão inseridos numa estrutura de incentivos das podem ser descobertas mais cedo que aquelas feitas
empresas-clientes da Zope.corporation, o que é aos códigos proprietários e podem ser corrigidas a
um ponto-chave de diferenciação em relação ao tempo; 2) base de talentos desenvolvida com
problema enfrentado na contratação direta de menores riscos e custos de contratações erradas,
desenvolvedores independentes ou de uma porque os contratados devem ter sido voluntários e
corporação organizada nos moldes proprietários. demonstrado que são capazes de desenvolver o
sistema e dar-lhe manutenção; e 3) ecossistema
• Segunda geração: também chamado Professional
desenvolvido assegura qualidade e rastreabilidade
Open Source ou OSSg2. É um híbrido dos
do software. O ecossistema inclui todas as entidades
modelos Distribuição corporativa e OSS
que ganham com a presença das OSSg2 no
patrocinado. As corporações que distribuem não
mercado, como serviços de suporte, autorias,
cobram pelo código, mas controlam seu
educação, publicidade, sócios e comunidades de
desenvolvimento e retêm para si o que há de
usuários. Isso se traduz em múltiplos web sites, e-
melhor em qualidade de serviços de manutenção
mails, listas, newsgroups, conferências e outros
desses códigos. Exemplos de empresas de OSSg2
materiais com informações atualizadas sobre
são: JBoss, MySQL, Trolltech e Sleepycat.
produtos das OSSg2. Assim, o ecossistema provê
Segundo Watson et al. (2008), as OSSg2 têm um um efetivo suporte de pré-vendas. Além disso,
modelo de negócios que emergirá como dominante enquanto o produto é lançado, há milhares de
para o desenvolvimento de OSS nos próximos anos. pessoas fazendo testes, volume muito maior que os
Esse modelo aproxima-se do proposto por nós neste testadores oficiais dos softwares proprietários. Esses
tópico – o Condomínio –, pois vincula seu processo benefícios contribuem para a redução de três riscos
produtivo a uma comunidade de prática virtual, estratégicos específicos do modelo OSSg2, que
organizada sob o modelo peer production, no qual a devem ser discutidos: demanda, eficiência e
corporação ocupa uma posição de coordenação do inovação.
desenvolvimento.
• Demanda: o risco de baixa demanda, derivado de
Watson et al. (2008) acreditam que há diferenças um modelo relativamente novo de negócios, é
nos modelos de negócios das empresas OSSg2 que compensado porque, com o custo baixo,
merecem ser citadas. A primeira diferença é que resultado da eficiência operacional devida às
algumas são baseadas na estratégia da licença dupla, características acima mencionadas, o preço
oferecendo opções de licença OSS ou comercial aos também pode ser baixo, atraindo novos clientes.
clientes. Esta última opção é para prover clientes
• Eficiência: o risco de ausência de eficiência é
que desejam que suas modificações não sejam
minimizado pela utilização da Internet como base
liberadas para a comunidade. As empresas que
para transferir os softwares aos computadores dos
adotam a licença dupla acreditam que esse modelo
desenvolvedores e dos clientes, reduzindo custos
permite competir com os fornecedores de SW
operacionais.
proprietários. Outras, no entanto, preferem basear-
se apenas na Lesser General Public License (LGPL) • Inovação: riscos de baixa inovação não existem.
– caso da JBoss – e recebem receitas somente de Ao contrário, falhas podem ser corrigidas mais

Revista de Gestão USP, São Paulo, v. 15, n. 1, p. 99-113, janeiro/março 2008 109
Guilherme Finkelfarb Lichand, Eduardo H. Diniz e Tania Pereira Christopoulos

rapidamente e sugestões de mudanças também configuram centralmente um mecanismo para que


são feitas por pessoas do mundo todo. mais atores se engajem no processo de inovação do
open source, englobando o máximo de
Verifica-se que há uma considerável redução de
desenvolvedores nessas redes sociais, de maneira a
riscos e custos do modelo híbrido na versão
potencializar o processo criativo – ainda que
Condomínio, em razão das evoluções nos modelos
algumas licenças, como a GPL, restrinjam sua
de negócios que o Software Livre vem
interação com o software proprietário. Assim, as
experimentando nos últimos anos. A ausência de
licenças servem para incrementar a colaboração
segurança, que parecia ser uma grande desvantagem
entre firmas de F/LOSS e comunidades de
da adoção do Software Livre em um modelo de
desenvolvedores.
mercado, por exemplo, revela-se uma vantagem,
dados o rápido e fácil acesso ao código-fonte e a Certamente, entretanto, a interação entre essas
coordenação de uma corporação que pode assumir diferentes culturas organizacionais não é isenta de
responsabilidades por esse código, respaldada pela conflitos. Na próxima seção, analisaremos
reciprocidade na cooperação e coordenação dos limitações relevantes à adoção do modelo do
desenvolvedores, como é o caso do modelo das condomínio.
OSSg2.
4.4. Novo trade-off
4.3.2. Fundamentos sociológicos
Cabe retomar a questão pouco definida de
Em Yuwei Lin (2006), uma das entrevistas com incentivos aos desenvolvedores. Se a ideologia é
um programador de empresa de F/LOSS de porte componente importante da motivação dos
intermediário traz o seguinte relato: “I think the programadores que constituem as comunidades de
company should go closer to the Linux community. prática virtuais, esses incentivos podem
We would like to keep some information comprometer o envolvimento em projetos
confidential for business, but we should not forget coordenados por uma firma pautada por um modelo
the open source ideology”. A citação expressa que o de comercialização de software, ainda que open
modelo do condomínio já é encarado como modo de source (STEWART e GOSAIN, 2003).
organização da produção por diversas corporações.
Adicionalmente, existe a possibilidade de, uma
O que o presente artigo procura afirmar,
vez vinculado o desenvolvimento à configuração da
alternativamente, é que esta estrutura de governança
peer production, um grupo assumir o software e
é preferível às demais formas extremas e, portanto,
gerar uma variante diferenciada e mesmo
referenciada como estratégia de comercialização,
incompatível com o código original (TAURION,
pode constituir vantagem competitiva no processo
2004). Não obstante, algumas inovações podem não
de contratação de projetos de desenvolvimento de
ser incorporadas ao projeto de software, em razão
software.
do não-compartilhamento de conhecimentos
Mais ainda, diversos aspectos da interação entre específicos ou idéias inovadoras pela comunidade
essas diferentes culturas de gestão do conhecimento desenvolvedora, que pode acoplá-los a um novo
e organização da produção corroboram para uma algoritmo, gerando uma nova oferta no mercado –
mútua dependência entre comunidades de mormente sob os moldes proprietários.
desenvolvedores de software e corporações, como
É importante ressaltar que questões de cultura e
por exemplo a detecção de bugs e a contribuição
política locais e necessidades individuais e da
com patches por parte da comunidade, muitas vezes
tecnologia de informação disponível para gerar
pautadas no desejo de inovação dos
novas habilidades deverão influenciar na agregação
desenvolvedores (LIN, 2006). É evidente que essa
de comunidades para a realização de um objetivo
dinâmica é erigida sobre os riscos intrínsecos às
comum (WATSON et al., 2005).
relações informais, mas firmas de F/LOSS
efetivamente economizam muito tempo e recursos Entretanto, as questões desagregadoras
quando vinculadas a comunidades de prática anteriormente detalhadas podem ser minimizadas
virtuais ligadas a corporações. com o advento da estrutura produtiva híbrida.
Assim como abordado na discussão sobre o caso da
Sob a ótica dessa interdependência, Lin (2006)
Zope.corporation, o controle da gestão por parte de
analisa que as diversas licenças de F/LOSS

110 Revista de Gestão USP, São Paulo, v. 15, n. 1, p. 99-113, janeiro/março 2008
A Catedral, o Bazar e o Condomínio: um ensaio sobre o modelo de negócio do Software Livre

uma empresa implica vinculação diferenciada a uma Equivalentemente, a gestão hierárquica da


comunidade de desenvolvedores de software – no informação no projeto de software permite a
caso, composta de desenvolvedores voluntários diluição de parte da insegurança gerada pela
estimulados a participar pelas próprias empresas em possibilidade de omissão estratégica de
que trabalham, clientes da Zope.corporation. Esse conhecimentos ou idéias pelos desenvolvedores
design funcional minimiza a questão dos incentivos, organizados sob a peer production.
providos por uma firma (estrutura integrada
É evidente que isso faz emergir um novo trade-
verticalmente, em termos da comunidade de
off, entre monitoramento e segurança, cuja decisão
desenvolvedores de software que corresponde a
de balanceamento depende sobretudo das
seus funcionários) que, de acordo com a literatura
características do software contratado, conforme
da ECT, representa o caso extremo do trade-off
mostra a tabela a seguir.
entre controle e incentivo, em contraposição ao
mecanismo de mercado.

Tabela 1: Trade-off entre monitoramento e segurança nos modelos produtivos de software


Modelo de
Estrutura de Governança Trade-off
NEGÓCIO
Catedral Firma nos moldes proprietários Controle – incentivo
Firma como desenvolvedor
Bazar adicional numa comunidade Controle – incentivo
peer production
Firma como coordenadora do
Condomínio desenvolvimento vinculada a uma Monitoramento – segurança
comunidade peer production
Fonte: Elaborada pelos autores.

Diante disso, um movimento estratégico da


5. CONSIDERAÇÕES FINAIS corporação consistiria na adoção de um modelo de
negócio que vinculasse seu processo produtivo a
Ao longo do presente estudo, apresentamos o uma comunidade de prática virtual, organizada sob
software livre como objeto viável de estratégia de o modelo peer production, não como um
comercialização no mercado de software. Com desenvolvedor adicional, em condição equivalente a
efeitos inegáveis sobre as receitas e o market share todos os demais, mas na posição de coordenador do
das firmas dominantes, o F/LOSS apresenta-se desenvolvimento contratado, responsável por todas
como alternativa de modelo de negócio nesse as implicações legais e financeiras do projeto,
mercado, nos segmentos em que o software livre incorporando a comunidade à sua execução,
apresenta vantagens competitivas sobre o software possivelmente vinculada a uma organização.
proprietário e que não sejam de informação restrita
ou estratégica. O modelo híbrido de desenvolvimento de
F/LOSS nos mesmos moldes do que aqui se
Na comparação entre os modelos de convencionou chamar de condomínio – em que a
desenvolvimento aberto e proprietário, observa-se administração central coordena a ação coletiva
que tanto um quanto outro apresentam restrições enquanto a comunidade, ao mesmo tempo em que
importantes. Vimos que custos de renegociação integra o processo, monitora as ações da direção
associados ao desenvolvimento de software centralizada –, em detrimento do bazar ou da
segundo o modelo aberto, risco elevado de perdas catedral, apresenta-se como estratégia competitiva
derivadas de ofensas a direitos autorais e elevados superior. Essa avaliação é derivada das vantagens
custos de monitoramento, inerentes a ambos os da gestão centralizada, que reduz a sensibilidade à
modelos de negócio, emergem como limitações incerteza, ao mesmo tempo em que conserva a
demarcadas à estratégia competitiva delineada pela flexibilidade da interação com a comunidade de
adoção dessas estruturas organizacionais. desenvolvedores, relevante diante de outras formas
de incerteza, como a imprevisibilidade tecnológica.

Revista de Gestão USP, São Paulo, v. 15, n. 1, p. 99-113, janeiro/março 2008 111
Guilherme Finkelfarb Lichand, Eduardo H. Diniz e Tania Pereira Christopoulos

Adicionalmente, os desenvolvedores BENKLER, Y. Coase’s Penguin, or, Linux and The


pulverizados no sistema de peer production devem Nature of the Firm. The Yale Law Journal, v. 4, n.
ser capazes de prover monitoramento do 3, Ago. 2002.
desenvolvimento do projeto, cujo risco é diluído
entre a corporação e a comunidade de DINIZ, E.; WILNER, A.; CHRISTOPOULOS, T.
desenvolvimento do F/LOSS, minimizando o Economia e Comunidade. GV Executivo, São Paulo,
problema da degeneração do mercado. v. 4, n. 2, p. 16-21, maio-jul. 2005.
Ainda, essa estrutura de governança pode servir a FINK, M. The Business and Economics of Linux
outros propósitos de cunho comercial, como a and Open Source. Upper Saddle River, NJ: Prentice
divulgação de novos produtos ou a provisão de Hall PTR, 2003.
garantias. Não obstante, a interação entre as culturas
voluntária e do modelo proprietário está associada a FROST, J. F. et al. Some Economic & Legal
ganhos na detecção de bugs e na contribuição para o Aspects of Open Source Software. University of
desenvolvimento de patches, e a incentivos próprios Washington. Department of Economics, 2005.
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desenvolvedores de software que concorrem <http://opensource.mit.edu/papers/frost.pdf>.
favoravelmente aos objetivos da firma adepta do Acesso em: 20 jan. 2006.
modelo do condomínio.
Por outro lado, existe a possibilidade de LIN, Y. Hybrid Innovation: How Does the
comprometimento da participação de Collaboration Between the FLF/LOSS Community
desenvolvedores organizados em comunidades em and Corporations Happen? Knowledge, Technology
projetos coordenados por firmas com orientação and Policy Journal, v. 18, n. 4, 2006.
comercial, em razão de componentes ideológicos,
ainda que minimizados pela vinculação diferenciada RAYMOND, E. S. The Cathedral and the Bazaar,
da firma a uma comunidade de prática virtual. 2000. Disponível em:
Surge ainda um novo trade-off, entre segurança e <http://www.catb.org/~esr/writings/cathedral-
monitoramento. bazaar/cathedral-bazaar/index.html>. Acesso em:
20 jan. 2006.
Por fim, diversos modelos de licenciamento são
desenvolvidos de maneira a se adaptarem às STEWART, K.; GOSAIN, S. The impact of
especificidades comerciais, tecnológicas ou ideology on effectiveness in open source software
ideológicas de cada firma, mas ainda assim development teams, 2003. University of Maryland.
conservam-se fiéis aos princípios do código aberto. Disponível em:
A questão central reside na escolha de um modelo <http://globalequality.info/goi.php?id=87>. Acesso
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