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ESPAÇO URBANO E CRIMINALIDADE:

UMA BREVE VISÃO DO PROBLEMA


Carlos Alberto Costa Gomes1

Resumo a criminalidade. A cidade, que na tam foguetes, foi engraçado: meu


O espaço urbano foi fragmentado em origem da humanidade teve a fina- pai perguntou se o Bahia estava
jogando” (aluna de uma Institui-
inúmeros territórios com caracterís- lidade de proteger, agora se trans-
ção de ensino superior de classe
ticas próprias e excludentes da ci- formou em um lugar inseguro, peri- média alta.)
dadania, favorecendo a instalação goso, repartido e fragmentado. Isto
da criminalidade e o enfraquecimen- se apresenta até mesmo em trechos Iniciamos explicitando o enten-
to da sociedade. A impossibilidade de entrevistas com vítimas da vio- dimento de espaço urbano utiliza-
de circulação inviabiliza parte das lência de diferentes classes sociais e do neste trabalho como sendo espa-
ações de policiamento e proporcio- locais da cidade de Salvador, que ço físico ocupado pela cidade, que
na condições de confronto com os poderiam ser recolhidos em qual- por sua vez entendemos como um
órgãos de segurança pública. O Mu- quer região metropolitana do Brasil: complexo demográfico formado, so-
nicípio e a Justiça não dinamizam cial e economicamente, por uma im-
ações que poderiam contribuir na “É muita consumição, vou mu- portante concentração populacional
redução da criminalidade. O tema é dar lá para uma lage na casa de dedicada a atividades de caráter
mãinha em Paripe, não tem jeito
confundido com situações de ordem mercantil, industrial, financeiro e
não, eu e meu marido construímos
econômica que tornam difuso o foco a casa com muito sacrifício, mas cultural.
sobre o problema. todo mundo já disse pr´á sair, por Cidade é a expressão palpável da
causa das crianças... eles já mata- necessidade humana de contato, comu-
Palavras chave: Desenvolvimento ram o cachorro e ficam jogando nicação, organização e troca ,.... numa
Urbano; Segurança Pública; Violên- pedra no telhado. Não dormimos determinada circunstância físico-social
cia; Criminalidade; Polícia Comuni- mais, chego a ficar com tonteira. É
e num contexto histórico (LÚCIO COS-
tária e Social; o fumo, eles ficam lá fumando e
acharam de querer minha casa, eles TA, 1995).
querem que a gente saia, tem de A característica relevante da ci-
Abstract
sair.” (ex-moradora da Vila Verde). dade para este estudo é o espaço
The urban space was fragmented in
antropizado, onde foi criada uma
innumerable territories with peculi- “Eu morava em casa, era linda,
nos construímos na Federação em estrutura física e social dinâmica,
ar characteristics and citizenships
um big terreno com todo o cari- em constante mutação, geradora de
exclusions, encouraging the ins-
nho, para ser a casa da família, ti- inúmeras formas de produção e re-
tallation of criminality and the debi- nha três pisos, um projeto muito produção de segregações, de forma
litation of the society. The impossibi- bem feito, muito espaço. Fomos intencional ou não (LEFEBVRE,
lity of the police circulation turns furtados duas vezes e na terceira
2000).
unviable parcel of the policing vez foi roubo mesmo, de arma na
mão, apontaram na cabeça de meu A cidade ocidental tem sua ori-
operations and offers conditions of
filho mais novo, levaram tudo. Ai gem na Antiguidade, com seus ali-
confront with the security publican’s
desistimos de nosso sonho e vim cerces cravados na família que pos-
organs. The Town and the Justice do morar aqui, neste apartamento. suía seu culto e seu altar familiar –
not adopt dynamic actions that Quando estou em Porto Alegre, Lar – em torno do qual se construía
could contribute to the reducing of Curitiba, São Paulo e o pessoal
a casa. Este altar posteriormente pas-
criminality. The subject is confoun- comenta que me inveja por morar
em Salvador eu vejo que não exis- sou a designar a própria casa (lar
ded with situations of economical
te paz em lugar nenhum” (mora- com o significado que hoje conhece-
order that turns diffuse the focus
dor do bairro da Graça pertencen- mos); cidade do cidadão sacerdote,
about the problem. te à classe média alta.) dos deuses particulares, da plebe
Key Words: Urban Development; “Lá em Vilas (do Atlântico) já composta por aqueles que não per-
Public Security; Violence; Criminali- avisam quando chega droga que tenciam às famílias fundadoras, sem
ty; Communitarian and Social Policy; nem no Rio (Rio de Janeiro), sol- religião e sem direitos; cidades for-
1
Professor do Mestrado em Análise Regional do Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Regi-
Introdução onal e Urbano. Coordenador do Grupo de Pesquisa “Segurança Pública, Violência e Cidade” registrado
Pensar o espaço urbano nos dias junto ao CNPq. Doutor em Planejamento, Estudos e Aplicações Militares pela Escola de Comando e
atuais gera imediata reflexão sobre Estado Maior do Exército Brasileiro.

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talezas que sempre em mutação ter- rica e recai sobre as cidades, utili- e os espaços murados – os condomí-
minaram por frutificar na estrutu- zando-se a aproximação sobre o es- nios, formas que caracterizam terri-
ração da sociedade ocidental (COU- paço urbano de Salvador, apenas tórios separados e ao mesmo tempo
LANGES – 1864). como um exemplo de campo do que pertencentes ao mesmo espaço urba-
Este dinamismo próprio da cida- poderia ser observado, com facilida- no. Viver em condomínios, murados
de em suas formas de segregação de, em todas as grandes cidades bra- e vigiados, não garante a segurança
através dos tempos criou verdadei- sileiras. e em alguns casos cria as condições
ros territórios – muito mais que espa- Portanto, falar em espaço urbano similares às da favela para a exis-
ços delimitados encerram características significa falar de inúmeros territórios tência do crime: o território excluído
culturais, sociais e econômicas próprias justapostos, que até se interpenetram, da cidade – um pela pobreza o outro
(SILVA-2000) – os quais em conjun- mas na maioria das vezes não são pela riqueza. Um favorece o crime
to compõem a cidade atual, cujo es- integrados e que também são diferen- pela fragilidade da cidadania, o ou-
paço é objeto deste trabalho. tes da estruturação oficial – adminis- tro pela soberba (intencional ou não)
Quanto à outra componente do trativa – imposta. A maioria das do poder econômico que permite vi-
tema deste estudo – a criminalidade grandes cidades brasileiras possui ver à parte da cidade, fragilizando o
– será explorada como o conjunto de territórios dispostos desta forma, poder da sociedade ao abster-se de
crimes ou o “grau” existente de cri- como o Rio de Janeiro com a Zona participar.
mes, entendidos como violação cul- Sul e suas favelas; São Paulo com A proposta é estudar as dificul-
pável da lei penal ou, mais generi- seus condomínios e vilas; Belo Hori- dades da preservação do direito fun-
camente, qualquer ato que suscita a zonte com seus bairros e favelas. damental do cidadão e único dever
reação organizada da sociedade, Salvador é dividida em 17 Regi- inalienável do Estado – a Segurança4
caracterizado pela vontade, pelo ões Administrativas – RA: territóri- Pública.O assunto é vasto – socieda-
dolo. É o resultado da intenção de os como Ondina e Calabar ou Barra de, economia, sociologia, educação,
alguém em cometer a violação, seja e Calabar; Pituba e Nordeste de Ama- técnicas, estruturas, políticas públi-
contra o patrimônio seja contra a ralina que possuem características cas etc. O tema – espaço urbano e
vida de outros. Não faz parte do ob- totalmente diferentes embora sejam criminalidade – é multi e interdisci-
jeto o exame detalhado através das vizinhos. Diminuindo a escala ve- plinar, caracterizado pela realidade
variadas classificações existentes remos que existem diferenças maio- e não pela abstração, classificando-
mas a sua principal resultante: a in- res entre as partes da própria orga- se de acordo com Pardinas (1977)
segurança. nização administrativa oficial. Fo- como um problema de ação para o
A criminalidade é um fenômeno cando-se Salvador (empregada como qual recolhemos informações e as
social, já identificado assim no final exemplo) encontramos RA(s) extre- organizamos a favor da solução.
do século XIX (DURKHEIN 1897), mamente distintas; como Subúrbio O que se propõe neste artigo, a
como um fato próprio da existência Ferroviário e Brotas. partir de fontes secundárias, é reali-
humana, portanto fato social. O fato E ao nos afastarmos mais do zar uma aproximação inovadora
social é distinto do livre arbítrio e mapa da cidade, diminuindo ainda sobre as correlações existentes entre
conseqüência das forças coercitivas mais a escala, vemos que os limites o espaço urbano, concebendo – o de
da coletividade. É uma coisa mensu- (da cidade) são apenas legais, mas forma genérica (como é percebido
rável e difere da vontade humana não reais para aqueles que vivem em independente da cidade), porém uti-
individual, a qual encontra as estru- um dos seus vários territórios; tere- lizando como referência a cidade de
turas sociais prontas, não é decisão mos ai às diferenças entre os muni- Salvador e, ao mesmo tempo, a
do homem incorporar ou participar cípios que formam a cidade, agora criminalidade como um fenômeno
destas formas de convívio, elas exis- tecnicamente denominada Região com características supra – regio-
tem independente da vontade de Metropolitana, também, na pratica, nais ou semelhantes em todas as re-
cada um e obrigatoriamente somos apenas justapostos. giões metropolitanas, como de fato
integrado a elas. (GIDDENS, 1976) A criminalidade é multiforme, é o é sob o ângulo dos índices5.
A ex-moradora de Vila Verde e o crescente e paulatinamente encontra O método de abordagem, aproxi-
ex-morador da Federação que nos novas formas de infiltrar na estrutu- mação e pesquisa recaem sobre o
emprestaram suas falas na abertura ra social através das muitas oportu- Estudo de Caso – Espaço Urbano e
deste trabalho traduzem o entendi- nidades existentes no espaço urba- Criminalidade – o que enseja que as
mento de que existe uma situação no, fracionado entre espaços ocupa- categorias de análise serão necessa-
diferente, uma nova força que envol- dos de forma irregular – invasões – riamente a estrutura do trabalho.
ve a todos indistintamente e é acom-
2
panhada com ceticismo e fatalismo: Constrangimento físico ou moral; uso da força; coação.
3
a realidade da violência2, principal- Uso da violência para perpetrar um crime
mente da violência criminosa3 que é 4
O conceito de segurança será apresentado posteriormente.
o nosso foco – ela está em todo lugar 5
O principal índice de mensuração da criminalidade é o número de homicídios por grupo de cem mil habi-
e atinge a todos, indistintamente. A tantes. Segundo este índice as cidades da América Latina e em especial as brasileiras possuem um “índice”
limitação espacial do estudo é gené- bastante elevado.

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Foco
O fenômeno da criminalidade é
global, embora ocorra com diferen-
tes magnitudes, formas e com cau-
sas primárias aparentemente dife-
rentes. Em particular, as cidades da
América Latina 6 passam por uma
fase de acentuado crescimento de
diversas formas de crimes, destacan-
do-se os diretamente vinculados a
pessoas: latrocínio – tentativas de
homicídios – homicídios – agressões
– lesões corporais com uso de armas
de fogo e de armas brancas – tráfico
de drogas – prostituição – seqües-
tro, dentre outros. (WEYLAND 2003)
Coincidentemente as regiões que
possuem maiores taxas de cresci-
mento da criminalidade são as que
apresentam as menores taxas de de-
senvolvimento econômico (BID,
1999), o que tem levado alguns au-
tores a uma simplificação ilógica: se
Figura 1– Distribuição espacial da renda Municipal, segundo Regiões Administrativas –
existisse trabalho não haveria moti- Salvador – CRUZ (2000)
vo para o crime sendo, portanto, jus-
tificável que nas condições atuais as ta-
xas de criminalidade sejam crescentes.
Esta posição é incoerente, pois
implicitamente afirma, que o homem
é amoral, ou que o necessitado é pro-
penso a cometer crime para obter
aquilo que precisa. Estudiosos que
abordam o tema com isenção (ZA-
LUAR, 1985, 1994; COELHO, 1988,
PAIXÂO, 1988), consideram que
nada é mais falso que esta hipótese.
A constatação do número de habi-
tantes de tantas áreas pobres e que
sobrevivem abaixo da linha da pobre-
za sem cometer crimes, apesar de ex-
postos às mesmas oportunidades da-
queles que o cometem, mesmo que o
objeto da precisão seja relevante (como
a alimentação), é fato real que nega
esta linha de raciocínio. Outra con-
seqüência desta hipótese preconcei- Figura 2 – Distribuição espacial de homicídios, segundo RA (1991) – Salvador – Silva
(2003).
tuosa é dissipar a vontade de discutir
o problema real e encontrar soluções.
Seria simplificar a questão bus-
car nesta correlação a justificativa 2) demonstram que existe forte cor- ao indicador de violência (homicí-
para o problema, embora ela exista, relação entre renda – baixa renda – dio), com números quase idênticos
como comprovam os gráficos apre- e homicídio, mas a evidenciada na aos da RA VIII – Pituba, a mais rica e
sentados a seguir, relativos à cidade RA XV – Valéria indica que outros a de menor número de homicídios
de Salvador. Como toda correlação, fatores têm importância na questão da capital baiana. Nas demais RA’s
é necessário verificar a sua causali- abordada, porquanto a RA mais po- a correlação se impõe: menor renda,
dade, verificar a existência do nexo bre de Salvador é a segunda quanto mais homicídios.
causal que aponte o sentido verda- 6
O principal índice de mensuração da criminalidade é o número de homicídios por grupo de cem mil habi-
deiro do seu significado (STEVEN- tantes. Segundo este índice as cidades da América latina e em especial as brasileiras possuem um “índice”
SON, 1986). Os gráficos (figuras 1 e bastante elevado, igualando-as.

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Mudanças Tabela 1 – taxa de criminalidade (homicídios por 100.000 hab.)
Partindo do geral para o particu- – países selecionados.
lar, vemos que a taxa atual de mor-
tes por grupos de 100 000 habitan- Países industrializados – 5/100 000;
tes, forma internacional de aferição
da criminalidade, está acima do to- EUA (o mais violento do G-7) – 9/100 000;
lerável no país, (e mais ainda em Brasil (geral) – 25/100 000
Salvador), através de uma simples
comparação com as de outros paí- Salvador – 43/100 000
ses (tabela 1). Fonte- CEDEPLAR -2001
O risco de morrer por causa ex-
terna entre os jovens, particularmen-
te entre 10 e 29 anos, está próximo
de 50% para o Brasil como um todo,
e nas regiões metropolitanas de São
Paulo e Rio de Janeiro o número re-
lativo de óbitos nesta faixa etária já
é superior a este percentual (CER-
QUEIRA e LOBÃO 2004). Observe-
se no a seguir a soma dos óbitos por
causas externas (não doenças) na
faixa etária dos 10 até 29 anos, Já no
ano de 1991, desconsiderando-se o
erro de causa mortis decorrentes de
longo prazo de internação7; o soma-
tório dessas causas atinge 35 752,
enquanto o restante, englobando
todas as demais faixas etárias, atin-
ge uma soma muito próxima da or-
dem de 40 987 em um ano ( 92% do Figura 3 – Óbitos pelas 4 principais causas de morte masculina e grupos de idade – 1991
total de óbitos). Fonte: IBGE –IPEA :Como vai? População Brasileira ano I – vol. 4/ 1996
Nas últimas décadas, as regiões
metropolitanas brasileiras mais im-
portantes, apresentaram uma eleva- ria lado a lado, às vezes separados ainda o deslocamento da população
da taxa de crescimento das áreas por apenas um muro. para o litoral norte da Cidade.
ocupadas por moradias subnormais Outra característica da região A Prefeitura de Salvador admite
(ou subumanas) em relação ao res- metropolitana, aplicável a outras ci- que cerca de 40% do território é ocu-
tante da cidade. Como exemplo, en- dades do país, é a migração da clas- pado por construções executadas de
quanto a população de Salvador cres- se média em direção à orla oceânica forma irregular, e que nestes 40 %
ceu 22%, no período 1980/2000, nas ou condomínios de luxo, o que pro- habitam aproximadamente 70 % da
áreas nobres foi observado um au- move em seguida a atração da po- população, sendo crível concluir
mento populacional inferior a 5% da pulação mais pobre para as proxi- que os maiores adensamentos não
população. (SEPLAN-2000). midades. No caso de Salvador um ocorreram de forma legal, nem obe-
Nas cidades médias brasileiras exemplo é o surgimento do bairro da deceram às posturas municipais que
houve crescimento da renda per Paz (antiga Malvinas entre a Av. regulam as construções urbanas,
capita em torno de 3%, enquanto nas Paralela e a Av. Otávio Mangabeira)) principalmente as que determinam
periferias das grandes cidades, o – na busca de empregos domésticos a existência de arruamento.
movimento foi inverso, a renda caiu ou subempregos. Esta forma de crescimento da ci-
em 3% em 2001, decorrente de con- Territórios justapostos modifican- dade é comum às cidades brasileiras,
dições que não se alteraram e desde do a distribuição espacial de popu- como se depreende da transcrição das
então, ao contrário, pioraram: nível lação e renda dentro da cidade. palavras do Ministro das Cidades, Sr
de emprego, renda, inflação, baixo O mapa permite uma visão do Olívio Dutra, quando da abertura do
crescimento econômico etc. (VEJA, movimento populacional e de seu Fórum Social Mundial-2005: As cida-
2001, p. 86). Isto indica que as peri- adensamento: o “miolo” de Salvador des, sem exceção, enfrentam graves pro-
ferias estão ficando cada vez mais adquire elevada densidade e a anti- blemas como o crescimento desordenado,
populosas e mais pobres. E, além ga região da Barra revela decrésci- a falta de infra-estrutura urbana e a cres-
disso, a cidade periferiza-se, com o mo populacional, evidenciando-se cente onda de violência.
centro rodeado por áreas subnor-
mais, invadidas. O centro e a perife- 7 Pessoas vítimas de violência e que posteriormente vêm a morrer por falência múltipla dos órgãos.

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A alegação de que o Município
não pode regular a ocupação de ter-
renos invadidos é contrária ao espí-
rito da lei do uso e ocupação do solo
urbano, cujo foco é a ordenação e não
a posse do solo. Mesmo em casos sob
julgamento na justiça não se pode
alegar que o Município não teria e
não tem poder para regular a exis-
tência de arruamentos provisórios
com a devida numeração e denomi-
nação de logradouros, inclusive com
cadastramento e cobrança de taxas
municipais de coleta de lixo e insta-
lação de água e esgotos e ilumina-
ção pública. Estas ações não repre-
sentam o reconhecimento da posse,
mas sim a ordenação do uso do solo,
podendo, inclusive, constar da do-
cumentação o termo provisório ou
sub-júdice. Figura 4 - Mapa do adensamento populacional de Salvador
Fonte: Prefeitura Municipal do Salvador 2004
Para efeito de comparação, pode-
se verificar através de um gráfico
radial (figura 5) a imagem da trans-
formação que a cidade do Salvador
vem sofrendo (mais uma vez enfati-
zando que é representativa das de-
mais cidades e não objeto em si.),
demonstrando uma clara modifica-
ção do adensamento populacional,
em um movimento assimétrico entre
as Regiões Administrativas, com
fortíssimo direcionamento para as
RA’s X – Itapuã, XVI – Subúrbio Fer-
roviário, XIV – Cajazeiras e XIII –
Pau da Lima, e esvaziamento do
núcleo Centro-Barra (RA’s I e VI), em
paralelo ao adensamento em todas
as demais regiões da cidade.
Esta assimetria do crescimento
urbano é confirmada pela análise dos
dados de natalidade para o Rio de Figura 5 – Gráfico do crescimento vetorial por RA’s 2000.
Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador -2004
Janeiro, elaborada pelo economista
Marcelo Nery, do Centro de Políticas
mulheres. Isso acontece em todas e de modo inexorável apesar das me-
Sociais da Fundação Getúlio Vargas, as faixas de idade, mas foi mais didas tomadas. O que pode ser bem
válidos por similitude das condições forte entre as adolescentes. exemplificado pela fala abaixo, em-
sócio-econômicas para a maioria das
prestada por um comerciante:
cidades do país, sendo provavelmen- O economista cruzou dados do
te um fenômeno nacional: Censo 2000 com os números de re- “A minha loja foi roubada sete
cém-nascidos nas regiões adminis- vezes nos últimos dois anos e em
A taxa média de filhos por menina trativas da Prefeitura do Rio de Ja- todas registrei queixa na delega-
de 15 a 19 anos das Favelas da neiro. cia, nunca veio ninguém pr’á saber
Rocinha, da Maré, do Complexo do de nada, até as grades do terreno
Alemão, do Jacarezinho e da Ci- levaram e ninguém sabe nada”
Fato social
dade de Deus, em Jacarepaguá, é (proprietário de uma loja localiza-
de 0,266. Já a dos bairros da La-
Neste estudo o fato social é a vio-
da a 200m de uma Unidade da
goa, Ipanema, Botafogo, Copaca- lência advinda do crime ou a pró- PMBA e que após a entrevista con-
bana e Tijuca é de 0,054. O resul- pria ação criminosa, que constran- cedida ao jornal foi vítima de ou-
tado mostra que, quanto mais po- ge o cidadão em sua lide diária de tro “roubo” -usado aqui como sig-
bre maior é o número de filhos das forma independente de sua vontade nificado de furto e roubo).

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Como fato social, as característi- tre espaços públicos e priva- Na cidade de São Paulo, entre
cas da criminalidade já foram cons- dos e sem marcos referenciais 1981 e 1984: apenas 18,5% das ocor-
tatadas em seminários e estudos de claros, de tal forma que fica rências resultaram em inquérito po-
organizações reconhecidas, como o prejudicada a orientação das licial; 89% dos casos de roubo dei-
CEDEPLAR da UFMG e o Núcleo de pessoas no local; xaram de ser investigados; 81% dos
estudos estratégicos da USP 8. g) o grau de escolaridade dos casos de estupro não foram investi-
As características da violência moradores é menor e a taxa de gados. Estas informações não estão
criminosa assim se apresentam: analfabetismo maior; a taxa de disponíveis para Salvador.
a) quanto a meio utilizado: a ocupação no mercado infor- Dos casos investigados em 1982
maior parte dos homicídios é mal é alta; (SP), apenas 65% resultaram em de-
cometida com armas de fogo; h) ao contrário dos homicídios, núncia, visto que os promotores ale-
b) gênero: o homicídio é um fe- os crimes contra o patrimônio gam, muitas vezes, que os inquéri-
nômeno especialmente mascu- concentram-se nas regiões tos não oferecem condições para se
lino; mais ricas ou no centro da ci- fazer à denúncia. No mesmo ano,
c) faixa etária: se comparado com dade, com forte concentração apenas 22% dos inquéritos resulta-
acidentes e outros tipos de temporal dos delitos, vez que ram em condenação.
morte por causas externas, as a maioria ocorre à noite ou nos
taxas de homicídio crescem finais de semana, períodos em O crime organizado
significativamente a partir dos que o policiamento é relaxado. Uma das componentes mais ca-
15 anos e diminuem depois racterísticas da criminalidade moder-
dos 30 anos; Quanto à coerção social nos lo- na é sua transfiguração em atividade
d) hábitat: o homicídio é um fe- cais de risco a arma dá status ao jo- constante, diária, repetitiva e de cer-
nômeno tipicamente urbano, vem e, portanto, quanto maior e ta forma organizada, semelhante às
ou seja, municípios com mai- mais poderosa, maior a atração; a empresas, onde aqueles que exercem
or índice de urbanização ten- mudança na organização familiar e as funções executivas ocupam o car-
dem a apresentar maiores ta- social local afrouxou o controle so- go de “gerente”; A este tipo de cri-
xas de homicídio; cial informal tradicionalmente exer- minalidade foi atribuída a denomi-
e) renda: o problema afeta, fun- cido pelos mais velhos em relação nação de crime organizado. É uma
damentalmente, a população aos mais jovens. expressão usada intensivamente pela
de baixa renda, ao contrário de Pesquisa realizada em 1999, em mídia, incorporada ao vocabulário
outros tipos de violência, como dez capitais brasileiras, sobre a ques- nacional, mas é importante observar
a ocorrência de roubos e fur- tão da exposição das pessoas à vio- que não existe a necessidade de uma
tos, cuja probabilidade é maior lência mostra que nos doze meses única “organização”, para tratar-se
em áreas de melhor nível socio- que antecederam a entrevista 35% de crime organizado, e sim de um
econômico. não há efeito agre- das pessoas viram alguém ser agre- conjunto de delinqüentes buscando
gado significativo na compa- dido fisicamente; 14% das pessoas obter ganho de forma independente
ração do impacto do desem- viram alguém levar um tiro; 13% vi- e que acabam por criar condições9 em
prego em geral sobre a violên- ram alguém ser morto; 11% viram o tudo semelhante à iniciativa empre-
cia; a maioria dos homicídios corpo de alguém assassinado; 52% sarial na economia formal – “várias
está relacionada ao crime or- viram alguém usando drogas. (I empresas”.
ganizado, mas há uma boa SEMINÀRIO NACIONAL SOBRE Outra característica importante é
parcela vinculada a fatores SEGURANÇA PÚBLICA, 2000) tratar-se de uma estrutura que não
como vingança e bebida; Quanto a responsabilização pe- busca assumir o controle do poder
f) localização: a violência urba- nal de homicídios de crianças e ado- político, busca somente o lucro. A
na é concentrada espacial e so- lescentes, de um total de 290 casos estratégia de sua difusão (entenden-
cialmente, mas a favela, por si acompanhados entre 1991 e 1994 do-se aqui como forma de desenvol-
só, não é fator determinante da (São Paulo): apenas 48,97% tiveram vimento) e obtenção das condições
violência ou do homicídio; as autoria identificada; em 27,58% hou- de maior rentabilidade – marketing –
favelas mais violentas são ve oferecimento de denúncia; houve é casual, mas verdadeira, pois en-
aquelas em que o Poder Públi- pronúncia do réu em 9,31% dos ca- contra nas fases, listadas abaixo, a
co mostra-se mais ausente, em sos; apenas 3,3% foram condenados forma de sobreviver e crescer. Três
que a infra-estrutura urbana, em primeira instância. (2002) idealizou o seguinte resumo
equipamentos ou serviços pú- Em Salvador o Centro de Defesa sobre o crime organizado, de extre-
blicos praticamente não exis- da Criança e do Adolescente (Cede- ma precisão, podendo ser verifica-
tem ou são de má qualidade, a ca) apresenta números piores: 1 460 do a sua adequação às novas regras
condição de habitabilidade homicídios de adolescentes tiveram do método sociológico (GIDDENS,
das moradias é muito ruim, o somente 50 inquéritos conclusos,
desenho urbano é desorgani- com um número ainda menor de 8
Seminário Nacional sobre Segurança
zado, sem distinção nítida en- indiciados, no período 1980/2000. Pública de 2001.

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1976), quanto aos limites da atua- bem próxima ou já alcançada a fase ciais, garantindo o exercício pleno
ção e os modos em que os processos da abençoação, com os jovens que da cidadania nos limites da lei.
de produção e reprodução podem ser enxergam no crime, no uso de armas, As ações que hoje são denomina-
examinados: no ganho fácil e totalmente desvin- das da esfera da segurança pública
culado do trabalho ou esforço pró- são, de fato, apenas as ações correti-
I.III – ESTRATÉGIAS DE CON- prio, uma forma de viver “bem” o
QUISTA DO CRIME ORGANI- vas de um sistema que deveria estar
pouco de vida que terá. impedindo a vitimização.
ZADO
Fragilizar a probidade funcional; Um fato é claro, o crime instala- O sistema que se depreende deve
penetrar e corromper múltiplos ór- do em áreas de favela não acumula prover um conjunto de medidas pró-
gãos do governo, valendo-se da capital nestas áreas, não existem in- ativas – a favor do objetivo que é
apatia e da inércia de setores pas- dícios de qualquer melhoria das con- manter o cidadão livre do perigo; um
síveis de promoverem uma reação, dições de vida nestes locais, o di-
promovendo a cultura do laxismo outro conjunto de medidas preven-
nheiro amealhado (principalmente tivas para evitar vitimar o cidadão e
e da conivência; financiamento e
doações; chantagem; infiltração; com tráfico de drogas) é canalizado finalmente um conjunto de medidas
corrupção ativa; terrorismo. para “outros” destinos como, no corretivas, executadas quando um
I.IV – ESTÁGIOS DA CONQUIS- linguajar carioca – para o asfalto; no fato ultrapassa as barreiras do siste-
TA DO CRIME ORGANIZADO linguajar científico: para os territó- ma e atinge um cidadão, estas duas
Pré-corrupção; experimentação 10 ; rios legais.
acostumação 11 ; conceitualização12 ; últimas enquadrando-se conceitual-
Também é um fato irrefutável que mente no sistema de Foucault (1977)
imposição 13; abençoação 14 .
Sintetizando, pode-se dizer que uma vez instalado é muito difícil – vigiar e punir.
crime organizado é a pessoa jurí- desarticular o crime em favelas, é o As medidas pró-ativas existem e
dica do delito, ou seja, sociedade efeito da adoção de uma solução estão previstas na CF ao enumerar
que tem por objeto atividade cri- para as necessidades materiais que os direitos e garantias ali relaciona-
minosa. concomitantemente gera a dissolu-
Regra geral: Visa objetivos econô- das como, moradia, alimentação e
ção da moral, da cidadania. É fácil ensino. A existência de acesso a to-
micos, lucro, business, locupleta-
mento ilícito (v.g., roubo de car- corromper, muito mais fácil é cor- das as partes dos territórios urbanos
gas, corrupção de verbas públicas, romper quem passa por necessida- (que nega oportunidade para a ins-
narcotráfico, falcatruas no sistema des reais nas áreas médica e odonto- talação da atividade criminosa) está
financeiro, etc.). Porém, nem sem- lógica, na assistência social e de se- implícita já que existe a garantia de
pre, a exemplo do terrorismo, é gurança.
derivado de motivações raciais, re- ir e vir para todos os cidadãos. Tais
ligiosas, etc. prescrições, se cumpridas, permiti-
Em suma, o delito, até então con- A Estrutura espacial da riam abjurar a falta de opção frente
cebido como ato episódico, ocasi- segurança pública à “acostumação” com o crime e a
onal, improvisado, circunscrito a A Constituição Federal (CF) não atração que o mesmo exerce em áre-
breves reiterações, inclusive sob a é clara quanto ao conceito de segu- as carentes, notadamente entre as
ótica dogmático-penal – fato típi- rança pública: garante direitos, mas
co; Direito Penal do fato – passa a crianças e adolescentes.
não define o termo, aplicando-o ge- O Estatuto da Criança e do Ado-
ter foros de empreendimento pre-
ordenado, galgando a otimização nericamente ao conjunto de ações lescente introduziu uma visão mo-
própria a qualquer atividade or- necessárias à aplicação da lei e da derna do trato com a criminalidade
ganizada. ordem. destas faixas etárias, no entanto trou-
Tal qual a evolução da atividade A Secretaria Nacional de Segu- xe medidas totalmente distintas de
econômica comercial / industrial, rança Pública (Senasp) define:
ab initio singular, de mera subsis- nossa realidade na tentativa de aca-
tência, escambo, evoluiu às gran- bar com os maus tratos a que esta-
Segurança Pública é uma ativida-
des corporações, fatores reais de vam sujeitas nos centros de acolhi-
de pertinente aos órgãos estatais e
poder, a delinqüência traçou itine- mento ou fundações de amparo ao
à comunidade como um todo, rea-
rário semelhante. menor, geridas por profissionais re-
lizada com o fito de proteger a ci-
dadania, prevenindo e controlan- conhecidamente incompetentes na
Em outras metrópoles brasileiras do manifestações da criminalidade reabilitação ou educação de órfãos
podemos afirmar que nos encontra- e da violência, efetivas ou poten- ou delinqüentes menores de idade.
mos na fase “estratégica” ou de “de-
9
senvolvimento” correspondente ao Descritas pelo Procurador da República Celso Antônio Três no Seminário sobre Inteligência no combate
terrorismo, com uso generalizado de ao crime organizado (2002)
10
Experimentação - fase correspondente ao “teste” da estrutura do Estado que deveria ser empregada na
armas potentes e confrontos com as eliminação e prevenção do crime organizado;
polícias. Isto tipifica que já superou 11
Acostumação – atos genéricos de demonstração de poder e controle do território, o crime e as vítimas do
a fase da acostumação, ou seja, a crime passam a compor o dia a dia como um fato normal;
12
sociedade já convive com as priva- Conceitualização – fazer a sociedade crer na existência de uma força maior que a capacidade da estru-
tura do Estado
ções dos seus direitos de ir e vir a 13
Imposição – ostentação de armas e controle do trânsito da população;
qualquer hora, já não se escandali- 14
Abençoação – colocar-se como solução para incompetência do Estado em resolver problemas
za com tiroteios e mortes. Estando socioeconômicos; assemelhar-se a luta de classes aos olhos da população do local.

RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano VII • Nº 11 • Janeiro de 2005 • Salvador, BA 63


Ao verificar-se a incapacidade
das organizações dedicadas ao aco-
lhimento e educação dos menores
optou-se por casas abertas, onde a
“criança de rua” pode pernoitar, ali-
mentar-se e sair quando quiser. Um
pai ou uma mãe trataria seu filho
desta forma, deixando ao critério da
criança a escolha de perambular
pelas ruas (ou territórios da cidade)?
A inimputabilidade destes jo-
vens, na forma em que está aplicada
tem gerado um efeito contrário ao da
proteção – espírito da Lei – centran-
do-se sobre os jovens o aliciamento
para as atividades criminosas mais Figura 6 – Razão de crescimento da criminalidade – Homicídios SSA
violentas e arriscadas. É o contra- Fonte: Apolinário 2004
senso do cidadão menino, que pode
votar, mas não pode ser penalizado ritos de obras que a maior parte da sulta aos Órgãos de Segurança Pú-
por um crime como cidadão, que é. população não tem condições de blica – OSP15 sobre a implantação de
Não deve ser internado em orfana- cumprir, mas através do simples equipamentos públicos que conso-
tos ou na FEBEM para não sofrer ordenamento, fazendo com que exis- mem o efetivo e meios policiais,
maus tratos, mas pode ser explora- ta, sem estabelecer ou penetrar na alvarás para empreendimentos pri-
do na rua por outros contraventores área do direito à propriedade, espa- vados que alteram a concentração de
ou criminosos, às vezes a própria ços para posterior urbanização – pessoas e perfil do pessoal que fre-
família – é o reconhecimento da in- arruamento nas invasões ou favelas. qüenta uma área, obras particulares
competência relativa do Estado e Já as medidas preventivas estão ou públicas que geram necessidade
não do menor. diretamente ligadas ao policiamen- de equipamentos especiais para
Uma breve apreciação do arca- to ostensivo, a presença da autori- salvagem. Os OSP são informados
bouço legal do Estado brasileiro per- dade no espaço urbano para evitar do que está acontecendo e não do
mite verificar que se legisla sobre a ação de uma pessoa com intenção que vai acontecer.
Segurança Pública na esfera federal, criminosa, assim como a existência Na Prefeitura Municipal do Sal-
com algumas concessões aos esta- de iluminação, a limpeza de vegeta- vador, o Conselho da Secretaria de
dos, e se executa nas esferas estadu- ção que permite a surpresa, o reco- Planejamento era composto (2002)16
al e federal. O Município aparente- lhimento de menores abandonados por uma vasta gama de entidades,
mente é uma esfera do Poder Públi- entre outras. escolas grêmios, blocos e afoxés, mas
co isenta de responsabilidade judi- O afastamento do Município de não possuía um representante da
ciárias e policiais na esfera dos cri- suas responsabilidades para com a Secretaria de Segurança Pública.
mes contra a pessoa e o patrimônio, segurança gera situações realmente
podendo apenas contribuir com um caóticas, como no Rio de Janeiro e Resultados das ações dos
policiamento complementar de Par- São Paulo onde o tiroteio na Roci- órgãos de segurança pública
ques e Jardins e instalações do pró- nha (RJ) ou Na Zona Leste (SP) não O problema do crescimento e
prio Município. é problema do Município, ou seja: transformação da criminalidade
A alienação do Município da es- uma área ocupada por cem mil pes- vem sendo enfrentado de diversas
trutura de segurança pública é real, soas (onde não existiria espaço para formas ao longo das últimas déca-
porém não na esfera legal, porque a dez mil) ou a falta de ruas em espa- das pelos OSP e Secretarias de Segu-
responsabilidade efetiva municipal ços contínuos (equivalentes a cida- rança Pública dos Estados.
é clara, inequívoca, ele é o detentor des de porte médio) impedindo a cir- O insucesso dos planos econômi-
do poder de polícia para legislar e culação da Polícia e favorecendo o cos e a globalização dos mercados,
fiscalizar o uso e ocupação do solo. isolamento de áreas não é assunto mas não dos empregos, além de pro-
É ele que organiza o espaço da cida- do Município? vocar em todas as Regiões Metropo-
de, a ele cabe a integração dos varia- A inexistência de compromissos litanas do país elevados níveis de
dos territórios urbanos em suas fun- claros da estrutura municipal com a desemprego e em Salvador o mais
ções dentro do organismo vivo que é segurança pública pode ser clara- alto do país, comprometeu a capaci-
a cidade. mente explicitada na falta de con- dade dos Estados em investir no
É o Município que deveria enfren- 15
Órgãos de Segurança Pública para efeito deste trabalho são as Delegacias de Polícia, especializadas ou
tar a desobediência civil caracteri- não; Unidades de Polícia Militar; Corpo de Bombeiros; Polícia técnica e as respectivas chefias, comandos
zada pelas construções subumanas. e superintendências que os enquadram.
16
Não será, é lógico, através de gaba- Palestra do Secretário Municipal de Planejamento no Curso de Mestrado em Análise Regional 2002.

64 Ano VII • Nº 11 • janeiro de 2005 • Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO


aumento de efetivos, na moderniza- tão próximos da realidade dos Esta- da Criminalidade em Ambiente Ur-
ção dos equipamentos, em melhoria dos brasileiros, notadamente os do bano (TerraCrime). Se a sua imple-
da formação e remuneração de seus Nordeste. Porém, o número de hoje, mentação possibilitar agregar dados
policiais. aproximadamente 50.000 policiais da base do IBGE e de outras fontes
Do estudo do planejamento e para todo o Estado da Bahia, está poderá realmente contribuir para a
metas das Unidades de Policiamen- muito aquém das necessidades, im- melhoria das condições de gerencia-
to da Polícia Militar na Região Me- possibilitando a prevenção e restrin- mento do sistema, economia de mei-
tropolitana de Salvador17, relativos gindo o trabalho à captura de infra- os e maior velocidade de resposta.
aos anos de 2003/2004 é possível tores após os fatos; quanto à deman-
perceber que as ações da polícia mi- da reprimida por segurança públi- O custo econômico e social
litar estão centradas nos territórios ca é projeto do Grupo de Pesquisa da violência
legais, ou ocupados de forma legal. em Segurança Pública Violência e Ci- As relações entre espaço urbano
(planejamento das Unidades de Po- dade – G.Seg realizar uma pesquisa e criminalidade foram indicadas
lícia Militar – 2003). com amostragem probabilística na pelos sociólogos da Escola de Chi-
É provável que a maior vulnera- RMS para encontrar este dado. cago (1920 e 1930) principalmente a
bilidade da ação preventiva do poli- A adequação dos meios existen- distribuição geográfica do crime no
ciamento nas grandes metrópoles e tes à necessidade da população pas- espaço urbano e suas características.
por similitude em Salvador, seja a sa pelo conhecimento do que existe Esta escola passou por transfor-
existência de áreas onde a circula- na área de atuação das Unidades de mações, mas foi a criadora da preven-
ção dos meios de segurança é nega- Polícia. Infelizmente a nossa cultu- ção ao crime através do desenho
da. No caso de Salvador, ainda pela ra não está voltada para a consoli- ambiental urbano e da apologia da
falta de ruas; em outras cidades, além dação de informações, interna aos teoria da escolha racional do compor-
da falta de ruas, pela criminalidade próprios órgãos como as dos demais tamento, gerando o fundamento teó-
que se instalou nas áreas de favelas órgãos da administração pública. rico da chamada política de tolerân-
de difícil acesso, e impede a presen- Usam-se limites diferentes para cada cia zero implementada em New York.
ça da polícia pelo seu poderio bélico órgão ou gestão, gerando uma per- As críticas elaboradas por Wac-
e domínio logístico do espaço. da considerável de conhecimento quant (2000)21 e por Freitas (2002) à
sobre os territórios urbanos. política de tolerância zero são de
Efetivo e meios Em 2004, segundo a SSP-BA, já difícil defesa. O primeiro mostra que
A ação policial deveria depender foi consolidada a adoção de limites outras formas de ação resultaram
na maioria dos casos do encontro que facilitaram o entrosamento en- nos mesmos ou em resultados me-
com um delito em andamento ou, na tre Polícia Civil e Militar em Salva- lhores com um custo muito menor.
pior hipótese de uma solicitação do dor, porém, ainda não se apropria- O segundo realça as principais
cidadão vitimado. Estes dois fatores ram as informações municipais, es- críticas feitas à Escola de Chicago,
nos levam as considerações sobre a taduais e federais sobre os territóri- apontando a incoerência de propa-
proporção de policiais por habitan- os da cidade. gar a idéia de uma cultura unificada,
tes e a demanda reprimida por se- Uma boa fonte de dados seria a não diferenciadora dos habitantes
gurança. adequação aos setores censitários de uma cidade fragmentada em clas-
Para a primeira questão a previ- do IBGE, os quais podem fornecer ses, gênero ou etnia, como de fato o
são da ONU para um número ade- elevada quantidade de dados sobre é; de ter desenvolvido noções con-
quado é de um policial para cada cada área20 da cidade. trárias de crime com o comportamen-
duzentos habitantes (1/200) 18 (este Outra questão já apontada, mas to individual sendo visto como de-
é o praticado em New York), para também objeto de pesquisa do gru- terminado pela desorganização so-
tal proporção teríamos só na Região po - GSeg, é o número percentual de cial e, ao mesmo tempo, resultado da
Metropolitana de Salvador, a neces- inquéritos concluídos ou o resulta- liberdade individual de ação.
sidade de 150.000 mil policiais, que do de ocorrências registradas. Lem- Caldeira (2002) aponta que os
divididos em três turnos correspon- brando a fala do proprietário da loja, condomínios fechados constituem-
deriam a 50.000 policiais por turno. que por sete vezes vítima de furto e rou- se em um novo padrão de segrega-
Se de um lado temos a estimativa bo, nunca recebeu uma equipe de inves- ção espacial e desigualdade social
do número de policiais por grupo de tigação ou soube de alguma ação em de- na cidade22. Ao que acrescentamos:
200 habitantes, encontramos em tra- corrência de suas queixas. além de não proteger gera a concen-
balhos especializados 19 a provável A SENASP apresentou em-- 2004 tração, cria um novo território com
existência de 70.000 mil pessoas vi- o Sistema de Avaliação e Controle leis e percepções próprias.
vendo, direta ou indiretamente, da
17
renda do crime na cidade do Rio de Envolve todas as Unidades da PMBA de Salvador.
18
Janeiro, não se conhece estimativa Prof Ronaldo Leão Correia NEE da UFF
19
Como o do geógrafo Marcelo Lopes de Souza, em seu livro o Desafio Metropolitano de 2002.
para Salvador. 20
CONDER: Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia.
Sem dúvida, os especialistas que 21
Em seu livro: Prisões da Miséria.
22
apontam números como este não es- Tereza Pires Caldeira (2002), da Universidade da Califórnia e autora do livro Cidade de muros.

RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano VII • Nº 11 • Janeiro de 2005 • Salvador, BA 65


Ainda conforme Caldeira (2002) clusiva os seguintes elementos para j) o Estatuto da Criança e do
um novo modelo de segregação subs- reflexão: Adolescente necessita ser re-
titui, aos poucos, a dicotomia cen- a) a adoção do modelo neoliberal visto ou reinterpretado;
tro-rico x periferia-pobre, caso claro de Estado, que redunda no seu k) é necessário investir mais em
de adequação a organização e dis- encolhimento, agrava a situa- equipamentos técnicos e for-
tribuição social e econômica da ci- ção atual do planejamento ur- mação de especialistas para
dade do Salvador. bano e qualidade de vida nas elucidação dos inquéritos;
A expansão de empreendimentos grandes cidades; l) é necessário ajustar o planeja-
fechados faz parte de estratégias b) no contexto da globalização a mento à demanda, criando me-
imobiliárias e de marketing que uti- violência assumiu grandes di- canismos claros de interação
lizam a questão da segurança mensões estando particular- entre as SSP’s e os planejamen-
como apelo principal. Persuadem mente associada às mudanças tos municipais no interesse da
consumidores, que são bombarde-
observadas no mundo do tra- Defesa Civil e do policiamento;
ados pela mídia diariamente, com
relatos sensacionalistas sobre cri- balho, ao declínio e à orienta-
mes violentos, (Denise Mônaco ção neoliberal do Estado. (Wie- Listadas estas considerações su-
USP – 2004) viorka 1997); gere-se que se estude as seguintes
c) o planejamento urbano passou questões:
Segundo dados do Banco Intera- a ignorar o crescimento da 1) Polícia comunitária e social
mericano de Desenvolvimento (BID), criminalidade que foi minimi- Integração da ação policial com
apenas em um ano, em 1997, o Bra- zado diante de outros fatores – a de assistência social, criando nú-
sil perdeu 10,5% do Produto Interno a capacidade de retorno do in- cleos de defesa da cidadania nas
Bruto (PIB) em razão da falta de se- vestimento, hipótese de difícil áreas de risco, com a presença de
gurança. comprovação na área de segu- médicos, dentistas e assistentes so-
O cálculo inclui despesas com rança e que dificulta a obten- ciais da PM, custeados por uma com-
serviços decorrentes da violência, ção de recursos necessários; posição entre as secretarias munici-
como hospitais, polícia, aparatos de d) existe um considerável distan- pais e estaduais. A presença da po-
segurança e sistema judicial. Valor ciamento entre população e lícia ao lado população nas áreas de
subestimado, segundo os especialis- polícias estaduais; risco criminal, prestando apoio e
tas, pois não leva em conta perdas e) as vítimas não são informadas conhecendo a população, pode tra-
com turismo, atividades econômicas sobre o resultado das ações de- zer mais retorno para a imagem da
noturnas, investimentos externos, correntes do registro das ocor- polícia por real empregado do que
entre outras receitas indiretas afeta- rências; campanhas publicitárias.
das pelo crime. Recentemente, levan- f) até onde se sabe, não existe 2) Cenários prospectivos como
tamento do BIRD indicou que só o controle das ocorrências por balizadores do planejamento
município do Rio de janeiro perdeu parte das SSP’s, com perma- Pesquisas científicas que pros-
um bilhão de dólares em empreen- nente e continuada verificação pectem as transformações urbanas
dimentos devidos à criminalidade. das ações decorrentes; em cenários a médio e longo prazo
Em 1995 o país contava com g) as SSP assumem a responsa- para a adequação do planejamento
148.760 presos, elevando-se o núme- bilidade, perante a sociedade, estratégico de segurança pública, em
ro para 170.602 em 1997 e 194.074 por toda a segurança pública, função do atendimento da deman-
em 1999, de acordo com levantamen- sendo ela gestora de apenas da no futuro, eliminando-se as ações
to feito pelo Ministério da Justica. uma parte; emergenciais de adequação. A pre-
Somente neste período a população h) o Município se exime de sua cisão deste instrumento de planeja-
prisional do país aumentou em 46 responsabilidade frente à cri- mento estratégico foi muito melho-
mil presos, ou cerca de 11.500 pre- minalidade, direcionando para rada com o uso da informática, sen-
sos por ano. Seria necessário cons- o Estado, via SSP, a responsa- do de uso corrente sem investimen-
truir 14 presídios por ano para abri- bilidade pela insegurança; tos vultuosos.
gar os novos condenados. Para se ter i) a justiça é parte integrante do 3) Sistemas de informações
uma idéia da dimensão do proble- sistema, porém mantém dis- geográficas
ma, este acréscimo de presos entre tância do problema, sem si- Implementação do uso de siste-
1995 e 1999 equivale simplesmente à nais de dotar ou criar mecanis- mas de informação geográfica para
soma da população carcerária de toda mos processuais mais céleres, o planejamento e controle do polici-
Grécia, Irlanda, Noruega, Dinamarca, e muitas das vezes posicionan- amento, criando condições para o
Suécia, Bélgica, Áustria, Irlanda do do-se contra os OSP no desem- diálogo com as comunidades de
Norte e Escócia.(Cano, 2001) penho de suas atribuições, cri- cada território, pela exposição da
ando as condições para o localização das ocorrências e con-
Considerações finais enfrentamento da autoridade seqüentes medidas a serem tomadas,
Do quanto apreciado neste arti- legal da polícia, o que propa- trazendo a comunidade para parti-
go, apresenta-se como síntese con- ga a idéia de impunidade; cipar através do conhecimento da

66 Ano VII • Nº 11 • janeiro de 2005 • Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO


gestão, eliminando-se críticas funda- do profissional em Segurança Públi- CANO, Ignácio, SANTOS, Nilton. Vio-
das em desconhecimento. ca. lência letal, renda e desigualdade so-
4) Integração – presença da SSP nos A Universidade pode contribuir cial no Brasil. Rio de Janeiro: 7 Letras,
órgãos municipais e estaduais que com a construção de cenários pros- 2001.
regulam as atividades no espaço pectivos e de cursos presenciais ou CASTRO, M. M. P. de. Assassinatos de
urbano à distância de formação específica crianças e adolescentes no Estado de
A presença de representantes da em áreas não cobertas pela forma- São Paulo. Revista Crítica de Ciências
SSP nos órgãos que regulam o pla- ção hoje existente. O Mestrado em Sociais. Coimbra: Centro de Estudos
Sociais /ICES, 36: 81-102 fev. 1993.
nejamento e licenças de atividade Análise Regional pode contribuir
nos Municípios pode contribuir com a capacitação na área de Plane- COELHO, Edmundo C. (1988), A crimi-
para melhorar a eficácia do planeja- jamento Urbano e Regional, agre- nalidade urbana violenta. Dados: Re-
vista de Ciências Sociais, Rio de Janei-
mento e previsões ao longo prazo, gando àqueles componentes das SSP
ro: IUPERJ, 31(2), pp. 145-83
agregando a noção de custo da se- que devem participar do planeja-
gurança para determinados investi- mento regional e urbano a mesma COSTA,Lúcio. Registro de Uma vivên-
mentos que irão modificar a situa- formação e titularidade dos demais cia. Rio de Janeiro. Empresa das Artes,
1995.
ção de segurança em determinado participantes dos fóruns e órgãos
território do espaço urbano. encarregados. COULANGES, Fustel. A Cidade Anti-
5) Interação com a cidade Ao final, citamos Santos (1997, ga (1864). Martin Claret, São Paulo.SP.
A sociedade como um todo, atra- p. 213) Não existe homogeneidade no 2000.
vés da imprensa livre ou mesmo atra- espaço, pois, para cada área, são múlti- CRUZ, Rossine Cerqueira da. Cenário
vés de um canal de televisão ou ho- plos os graus e modalidades de combi- Sócio-Econômico para a Cidade de
rário adquirido em canal de televi- nações.Portanto, o planejamento deve Salvador. Relatório Final. Salvador,
são deve ser informada das ações de contemplar as peculiaridades de cada 2000.
enfrentamento da criminalidade, território. CERQUEIRA, Daniel e LOBÃO, Wal-
com o emprego de gravação e trans- dir. Criminalidade, ambiente socioeco-
missão de imagem. nômico e polícia: desafios para os go-
6) Uso de tecnologias novas Referências vernos: Revista de Administração Pú-
blica – RAP. Vol. 38 - nº 3-Mai./
O uso de novas tecnologias pode
Jun.2004.
agilizar, economizar, tornar eficazes ARÁUJO Herton Ellery; CAMARANO
as rotinas policiais e implementar Kaizô I. Beltrão; AMÉLIA Ana; Pinto DURKHEIM, Émilie. As Regras do
possibilidades de relatórios para a Marly dos Santos. O efeito da mortali- Método Sociológico. São Paulo: Mar-
dade por determinadas causas no tem- tins Fontes, 1999.
mensuração de resultados ou da efi-
po passado na atividade econômica: ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA
ciência de processos. A compra de
uma análise para 1991. COMOVAI. (ESG). Fundamentos doutrinários da
equipamentos dedicados à investi- Ano I · Nº 4 Brasília, DF, Nov/Dez 96.
gação técnica pode produzir maior Escola Superior de Guerra. Rio de Ja-
BID - Inter-American Development neiro: Luzes – Comunicação, Arte &
velocidade de perícia com provas
Bank, (1999) Pobreza y Desigualidad Cultura, 2000.
decisivas para a condenação. O uso
en América Latina y el Caribe. Ten- ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO. IP 85-
de gravação de comunicações; de dencias de la pobreza en la décade de
Gps portátil; máquinas de fotografi- 1 Operações de Garantia da Lei e da
1990. Departemento de Desarrollo Ordem, 1ª e 2ª parte. 1ª ed. 2000.
as digitais; “laptop” ligado a Internet Sostenible, Diálogo “Por un desarrollo
via celular com host dedicado são para todos”, Washington, D.C., 8 y 9 FAJNZYLBER, Pablo e Araújo Pablo,
formas viáveis de modernização, em de noviembre. Texto 167 -CEDEPLAR/FACE/UFMG
curto espaço de tempo, que permiti- Belo Horizonte. 2001.
BRASIL. Constituição da República
riam a um custo reduzido modificar Federativa do Brasil de 1988. 27 ed. São FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir.
a forma de atuação das polícias. Paulo: Editora Saraiva, 2001. Petrópolis, 1977.
7) Parcerias BUCCI, Mª Paula Dallari. Políticas pú- FREITAS, Wagner. Espaço urbano e
As universidades podem e devem blicas e direito administrativo. In Re- criminalidade: lições da Escola de Chi-
contribuir para a solução do proble- vista de Informação Legislativa. Brasí- cago. São Paulo: IBCCRIM, 2002.
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diária na área da Segurança Públi- CALDEIRA Tereza Pires.Cidade de do Método Sociológico. Zahar edito-
ca é caracterizada pelo domínio dos muros. Zahar. São Paulo. SP. 2002 res, Rio de Janeiro. 1978.
fatos do cotidiano, do domínio da CÂMARA DOS DEPUTADOS. Audiên- GOMES, Carlos Alberto da Costa. O uso
rotina das ações, o que não quer di- cias Públicas e Relatório da Comissão do sistema de instrução militar do Exér-
zer que sejam normais; vários des- Especial de Segurança Pública, no 2º cito brasileiro nas escolas de formação
ses fatos “diários” desencadeiam semestre de 2000. como incentivo à formação de uma
crises que consomem tempo e capa- Câmara dos Deputados. Seminário mentalidade prática, A Defesa Nacio-
cidade, dificultando a possibilida- Nacional sobre Segurança Pública de nal, Brasília, ECEME.Nr 1/1997.
de de discutir o futuro, de agregar 2001. Comissão de Desenvolvimento LEFEBVRE, Henri. La producción de
conhecimento humano à formação Urbano e Regional. 2001. l’espace. Paris: Anthropos, 2000.

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68 Ano VII • Nº 11 • janeiro de 2005 • Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

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