Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Apoio:
Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Rua Visconde de Niterói, 1364 – Mangueira – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20943-001
Tel.: (21) 2334-1569 Fax: (21) 2568-0725
Presidente
Masako Oya Masuda
Vice-presidente
Mirian Crapez
Material Didático
Departamento de Produção
ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO
Alexis Toríbio Dantas EDITORA ILUSTRAÇÃO
Angela Moulin S. Penalva Santos Tereza Queiroz Sami Souza
COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO COORDENAÇÃO DE CAPA
INSTRUCIONAL PRODUÇÃO Sami Souza
Cristine Costa Barreto Jorge Moura
PRODUÇÃO GRÁFICA
DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL PROGRAMAÇÃO VISUAL Andréa Dias Fiães
E REVISÃO
Alexandre d'Oliveira Fábio Rapello Alencar
Alexandre Rodrigues Alves
Bruno Gomes
Anna Carolina da Matta Machado
Carlos Jorge S. Oliveira
COORDENAÇÃO DE LINGUAGEM Katy Araujo
Maria Angélica Alves Ronaldo d'Aguiar Silva
Cyana Leahy-Dios
COORDENAÇÃO DE AVALIAÇÃO DO
MATERIAL DIDÁTICO
Débora Barreiros
Copyright © 2005, Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
AVALIAÇÃO DO MATERIAL Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio
eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Fundação.
DIDÁTICO
Aroaldo Veneu D192f
REDATOR FINAL Dantas, Alexis Toríbio.
Ana Paula Abreu Fialho Formação Econômica do Brasil. v. 1./ Alexis Toríbio
Carlos Gustavo Barros Jaimovich Dantas; Angela Moulin S. Penalva Santos. - Rio de Janeiro:
Fundação CECIERJ, 2009.
Fernanda Veneu
149p.; 19 x 26,5 cm.
ISBN: 85-7648-150-2
1. Condições econômicas. 2. Economia cafeeira. 3. Crise
econômica. 4. República velha. I. Penalva, Angela Moulin
S. Santos. II. Título.
CDD: 330.981
2009/1
Referências Bibliográficas e catalogação na fonte, de acordo com as normas da ABNT.
Governo do Estado do Rio de Janeiro
Governador
Sérgio Cabral Filho
Universidades Consorciadas
Todos os dados apresentados nas atividades desta disciplina são fictícios, assim como os nomes de empresas que não
sejam explicitamente mencionados como factuais.
Sendo assim, qualquer tipo de análise feita a partir desses dados não tem vínculo com a realidade, objetivando apenas
explicar os conteúdos das aulas e permitir que os alunos exercitem aquilo que aprenderam.
1
AULA
Formação econômica
do Brasil colonial
Meta da aula
Apresentar a dinâmica da empresa colonial agrícola
no Brasil nos séculos XVI e XVII, destacando a
economia canavieira no Nordeste como modelo de
atividade típica.
objetivos
8 CEDERJ
COMO SURGIU A EMPRESA COLONIAL AGRÍCOLA?
1
PERÍODO FEUDAL/
AULA
FEUDALISMO
A empresa colonial agrícola, iniciada com a introdução da
Chamamos feudalismo
monocultura do açúcar no Nordeste pelos portugueses, foi uma ou sistema feudal o
experiência de grande sucesso e única durante o século XVI. Para modo com que a vida
em sociedade estava
que você possa entendê-la, vamos situar o contexto em que ela se organizada na Europa
durante a Idade Média.
desenvolve. Esta organização variou
A expansão comercial européia, iniciada em fins da Idade muito segundo a época
e o local. Em linhas
Média, rompeu com o isolamento econômico típico do PERÍODO gerais, podemos dizer
que a sociedade feudal
FEUDAL. O mar Mediterrâneo tornou-se a mais importante rota de tinha como bases o
poder descentralizado, a
comércio, beneficiando, principalmente, as cidades italianas, dentre
economia agropastoril e
elas Gênova e Veneza. Dado o elevado custo de transporte e de risco o trabalho dos servos.
Em termos de
do empreendimento comercial, apenas a comercialização de produtos organização social,
havia três estamentos:
de grande valor de mercado – com pouco volume e peso, como as clero, nobreza e servos.
especiarias orientais (pimenta-do-reino e canela, por exemplo) – era As relações entre
!
estes grupos eram
economicamente viável. extremamente desiguais.
Clero e nobreza ditavam
as regras sociais e
econômicas, bastante
Feudalismo hoje desfavoráveis para
os servos. A Igreja
Em junho de 2004, a Estação Católica controlava
Ciência, da Universidade de São Paulo as idéias religiosas da
(USP), reabriu a exposição O Castelo Medieval época e os reis ainda
e o Feudalismo, disponível em: não eram figuras fortes,
http://www.eciencia.usp.br/Exposicao/feudalismo/. seu poder era muito
descentralizado.
Leia, na apresentação da exposição, o texto do Prof. Saiba mais sobre o
Hilário Franco Junior, do Departamento de História feudalismo em http://
da Universidade de São Paulo (USP). Ele afirma que www.saberhistoria.hpg.ig
alguns tipos de relação social característicos .com.br/feudalismo1.htm
do feudalismo, como o favorecimento
de amigos em detrimento da lei,
perduram até hoje.
Veneza
Gênova
Constantinopla
Espanha
Portugal
Jerusalém
Figura 1.1: Você pode verificar que a tomada de Constantinopla dificultou o acesso ao Oriente pelo Mediterrâneo,
levando à busca por rotas alternativas, o que favoreceu os povos ibéricos em sua rota através do oceano Atlântico.
CEDERJ 9
Formação Econômica do Brasil | Formação econômica do Brasil colonial
?
Você deve estar se
perguntando por que Portugal
foi o primeiro país a desenvolver a
tecnologia naval necessária para grandes
navegações. O primeiro motivo está relacionado
à atividade econômica: a necessidade de pesca para
alimentar a população. A organização do grupo de
estudos chamado Escola de Sagres – integrando
cientistas e navegadores de diversos credos e
formações – foi, segundo os historiadores,
outra razão para o pioneirismo
português.
10 CEDERJ
!
Para saber mais sobre a
1
tecnologia desenvolvida para as
grandes navegações, veja os itens: Razões
AULA
do Pioneirismo e Os Instrumentos dos Pilotos,
em http://novaescola.abril.uol.com.br/ed/118_dez98/
html/multi.htm.
Agora, se você quiser saber as diferenças entre
caravelas, galeras e naus, viaje até http:
//educaterra.terra.com.br/voltaire/500br/
br_descoberta9.htm.
Atividade 1
Navegando com Fernando Pessoa
O poeta português Fernando Pessoa imortalizou a façanha de seus conterrâneos na
conquista dos mares em poemas como este:
Mar Portuguez
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão resaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Resposta Comentada
Versos como “Quanto do seu sal são lágrimas de Portugal” ou “Quem quer
passar além do Bojador tem que passar além da dor” sugerem a dificuldade
do empreendimento pela dor que causou. Essa dificuldade seria justificada pela
perspectiva dos ganhos comerciais que o descobrimento de novas rotas mercantis
poderia proporcionar aos controladores da nova rota comercial para as Índias.
Na verdade, se você prestar atenção, verá que, em quase todos os versos,
revela-se a dificuldade desse empreendimento português.
CEDERJ 11
Formação Econômica do Brasil | Formação econômica do Brasil colonial
M EERRCCAANNTTIILLIISSM
MOO
Política
Política econômica
econômica de de
caráter
caráter protecionista,
protecionista, oo
mercantilismo
mercantilismo se se desenvolveu
desenvolveu
na
na Europa
Europa ao ao longo
longo dosdos
séculos
séculos XVI,
XVI, XVII
XVII ee XVIII.
XVIII.
Sua
Sua base
base éé oo acúmulo
acúmulo de de
capital
capital –– representado,
representado,
naquele
naquele período,
período, por por Figura 1.2: O Monumento aos Descobrimentos foi construído à beira do
metais rio Tejo, em Lisboa, em 1960, como homenagem a D. Henrique, patrono
metais preciosos
preciosos (ouro
(ouro ee
prata, das navegações. Segundo os historiadores, desse lugar saiu, em março de
prata, principalmente),
principalmente),
1500, a esquadra comandada por Cabral que chegaria ao Brasil em 22 de
protecionismo
protecionismo alfandegário
alfandegário
abril do mesmo ano.
ee balança
balança dede comércio
comércio
favorável.
favorável. Com
Com oo
absolutismo,
absolutismo, formava
formava os os
alicerces
Portugal era, a essa época, uma monarquia absolutista.
alicerces do
do Antigo
Antigo Regime.
Regime.
Segundo
Segundo oo pensamento
pensamento que que Era um dos vários estados absolutistas europeus que surgiram
vigorava
vigorava àquela
àquela época,
época, osos
governos
governos precisavam
precisavam crescer,
crescer, como a estrutura política que a burguesia – que ascendia no
expandir-se,
expandir-se, ir ir além
além dasdas
fronteiras
fronteiras nacionais.
nacionais. Para Para
cenário econômico – encontrou para garantir o apoio oficial
isto,
isto, era
era preciso
preciso acumular
acumular a seus interesses comerciais. Esses interesses caracterizaram o
recursos.
recursos. Como
Como os os países
países
europeus
europeus nãonão dispunham
dispunham MERCANTILISMO, garantindo os lucros do comércio por meio de um
de
de ouro
ouro ee prata,
prata, planejaram
planejaram
conquistar
conquistar outros
outros territórios
territórios modelo de comércio exterior protecionista.
para
para obtê-los,
obtê-los, as as colônias.
colônias.
Lá,
Lá, poderiam
poderiam também
também
manter
manter sua
sua balança
balança
comercial
comercial favorável,
favorável,
forçando
forçando oo monopólio
monopólio ee
mantendo
mantendo taxas
taxas elevadas
elevadas de de
comércio
comércio para
para suas
suas colônias.
colônias.
Foi
Foi oo que
que aconteceu
aconteceu com com
Portugal,
Portugal, Espanha,
Espanha, França
França
ee Inglaterra,
Inglaterra, entre
entre outros
outros
países.
países.
12 CEDERJ
1
Estados
AULA
absolutistas
Ao final da Idade Média, o crescimento
da população, o desenvolvimento do
comércio e das cidades, assim como a ausência dos
senhores feudais – então nas Cruzadas – provocaram
o enfraquecimento do poder local e o fortalecimento do
poder dos reis.
Os estados absolutistas foram a nova organização política a partir
do século XV. Alicerçados no poder do rei e da Igreja, tiveram como
características a centralização do poder, o crescimento do nacionalismo
e a unificação territorial.
?
A burguesia comercial foi uma importante aliada neste processo, apoiando
política e financeiramente os monarcas. Em troca, estes criaram um sistema
administrativo mais organizado, unificando moedas e impostos, o que
proporcionou, à burguesia, facilidades no comércio.
Burguesia
Classe social que surgiu, na Europa, com o renascimento comercial e das cidades
ao fim do período feudal. Os que mais tarde foram chamados burgueses
– médicos, artesãos, comerciantes, entre outros – viviam em aglomerados à
volta dos castelos medievais, os burgos.
Segundo os historiadores, ao longo de toda a sua história, a burguesia
esteve associada ao poder. Aliada aos reis das nações que começavam a
formar-se no século XV, ajudou a diminuir a influência do clero e da
nobreza na sociedade. Financiou, entre outras realizações, as grandes
navegações do século XVI e as atividades artísticas do século XVII
(Renascimento).
A burguesia passou a dominar a vida social, política e
econômica após a Revolução Francesa, no século
XVIII, ocasião em que viu atendido seu principal
interesse de classe: a garantia dos direitos
de propriedade, fundamento de uma
sociedade capitalista.
Um
Umdos
doscompositores
compositoresmais
maispolêmicos
polêmicosda
dadécada
décadade de1980
1980no
noBrasil,
Brasil,Cazuza
Cazuzatrata
tratado
do
tema
temaem
emsua
suamúsica
música"Burguesia".
"Burguesia".Entre
Entreoutras
outrasafirmações,
afirmações,está
estáaade
deque
que“enquanto
“enquanto
houver
houverburguesia
burguesianão
nãovai
vaihaver
haverpoesia.”
poesia.”EEvocê,
você,ooque
queacha?
acha?
CEDERJ 13
Formação Econômica do Brasil | Formação econômica do Brasil colonial
14 CEDERJ
A divisão do
1
?
continente americano
AULA
Espanhóis e portugueses disputaram
as terras do novo continente americano. Essa
disputa foi mediada pelo papa – que, àquela época,
tinha autoridade equivalente à da Organização das Nações
Unidas (ONU) para dirimir conflitos internacionais.
O resultado dessa negociação foi a assinatura do tratado de
Tordesilhas (1494). Com esse documento, convencionou-se que
as terras a oeste do meridiano que corta o Brasil desde o Pará até
Santa Catarina ficavam sob o domínio espanhol. Já os portugueses
ficavam com as terras situadas a leste dessa linha imaginária.
Assinado seis anos antes da chegada de Pedro Álvares Cabral ao
Brasil, parecia que o tratado tinha beneficiado os espanhóis,
quanto às terras americanas. Estes imaginavam estar
cedendo apenas oceano aos portugueses. Entretanto,
o fato de os portugueses terem assinado o
tratado pode ser considerado um indicador
de que eles já deviam ter indícios da
existência do Brasil.
Figura 1.4: O Tratado de Tordesilhas dividia, com uma linha vertical, o Novo Mundo entre
Espanha (à esquerda da linha) e Portugal (à direita). Repare que a parte reservada para
Portugal era muito menor do que a área destinada à Espanha. Será que os portugueses
teriam aceito essa divisão totalmente desigual sem reclamar ou sem saber que havia outras
terras além das conhecidas pelos espanhóis? O mapa à esquerda é um planisfério de 1545,
disponível no site da Biblioteca Nacional de Lisboa. Repare que a linha do tratado passava
bem no meio do que hoje é o território brasileiro. Compare as figuras. No mapa à direita,
constam algumas cidades que ainda não existiam. Não se assuste, isto é só para você ter
uma noção de por onde passava a linha do tratado.
Fonte da figura à esquerda: http://bnd.bn.pt/ed/viagens/brasil/iconografia/antecedentes/
tratado_tordesilhas/index.html
Fonte da figura à direita: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Tordesilhas
CEDERJ 15
Formação Econômica do Brasil | Formação econômica do Brasil colonial
!
Quer ler o tratado de
Tordesilhas na íntegra? Ele está
disponível no site da Biblioteca Nacional de
Lisboa: http://bnd.bn.pt/ed/viagens/brasil/obras/
tratado_tordesilhas/index.html. Vale a pena dar uma
olhada. Repare a linguagem utilizada e como é
forte a presença de referências religiosas,
marca da época em que foi
16 CEDERJ
O historiador Fernando Novais (1990) destaca as principais
1
diferenças entre a instalação da empresa colonial agrícola no Nordeste
AULA
brasileiro e as tradicionais feitorias, entrepostos comerciais que
funcionavam como pontos de apoio dos comerciantes metropolitanos
ao longo das costas africana e asiática, onde eles recolhiam os produtos
nativos da região para serem revendidos na Europa. Em suas palavras:
?
O sentido da colonização
Deve-se ao historiador Caio Prado Junior a
noção de sentido da colonização. Em sua obra Formação
do Brasil Contemporâneo: colônia (1969), cuja primeira edição
data de 1942, ele defende a tese de que a estrutura da economia
colonial, baseada em três elementos principais – o latifúndio,
a monocultura e o trabalho escravo –, foi pensada com
um único sentido: fornecer gêneros tropicais
ao comércio europeu.
CEDERJ 17
Formação Econômica do Brasil | Formação econômica do Brasil colonial
18 CEDERJ
A existência da
escravidão caracteriza a
1
colonização do Brasil como feudal?
AULA
O uso de trabalho escravo na economia
colonial agrícola não pode ser interpretado como
?
uma manifestação da existência de relações feudais de
produção. O Brasil nunca foi feudal, ainda que sua ocupação
estivesse associada à empresa colonial agrícola, sustentada no
trabalho escravo. O sentido da colonização foi proporcionar lucros
mercantis aos comerciantes metropolitanos, favorecendo o acúmulo
de capitais na Europa e a afirmação da burguesia. A utilização do
trabalho escravo tinha a finalidade de baratear os custos de produção,
o que permitia à burguesia comercial ampliar seus lucros mercantis.
O conceito de produtividade
e o uso extensivo de recursos
O crescimento da produção pode ocorrer em decorrência de dois
fatores: aumento da produtividade, pelo uso mais eficiente dos
recursos ou aumento extensivo dos recursos, isto é, utilização de
mais trabalhadores, mais capital ou mais terras. Esse foi o caso
do Brasil. A empresa colonial agrícola contava com terras
abundantes, o que lhe permitia aumentar a produção
pela simples incorporação de territórios, em
vez de tornar mais eficiente o uso dos
recursos.
CEDERJ 19
Formação Econômica do Brasil | Formação econômica do Brasil colonial
20 CEDERJ
Atividade 2
1
AULA
Cana-de-açúcar no Nordeste: um negócio rentável? 2 3
Resposta Comentada
Produzir açúcar no Nordeste do Brasil era, de fato, uma atividade lucrativa para
os donos de terras na nova colônia. Em primeiro lugar, porque os custos de
produção eram baixos: em grandes parcelas de terra, cultivava-se cana utilizando
mão-de-obra escrava para o plantio e a colheita, além de gado como força motriz
dos engenhos. O solo era fértil, não precisando de cuidados especiais, e o clima
– tropical –, favorável.
Em segundo lugar, os lucros eram altos, já que a produção estava voltada para o
mercado externo, onde o açúcar era uma especiaria, alcançando preços elevados.
Daí provinha o lucro. Para a metrópole, ainda era vantajoso pela possibilidade de
articular os interesses da Coroa portuguesa ao tornar interdependentes a cultura
do açúcar no Nordeste brasileiro e o abastecimento de mão-de-obra escrava
das colônias africanas.
CEDERJ 21
!
Formação Econômica do Brasil | Formação econômica do Brasil colonial
Atividade 3
Conseqüências econômicas da expulsão dos holandeses
O economista Celso Furtado afirmou que as conseqüências econômicas da expulsão
dos holandeses do Nordeste brasileiro, em 1654, foram muito mais duradouras do que
as conseqüências da vitória militar. Em sua opinião, quais as razões que o levaram a
sustentar essa afirmativa?
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Resposta Comentada
As conseqüências econômicas seriam mais duradouras, porque a expulsão dos
holandeses resultou na implantação de outra área agroexportadora de cana-de-
açúcar nas Antilhas, o que quebrou o monopólio do açúcar nordestino. A quebra do
monopólio destruirá um dos pilares sobre os quais estava sustentada a economia
colonial agrícola no Nordeste do Brasil.
22 CEDERJ
Nesse negócio, a renda interna ficava extremamente concentrada
1
nas mãos dos grandes proprietários fundiários. Esses proprietários
AULA
mantinham uma produção alimentar de subsistência, adquirindo
apenas animais e madeira no mercado interno. Tratava-se, assim,
de uma atividade em que prevalecia a pouca circulação de dinheiro
– o que lhe conferia alto grau de resistência a crises. Assim, mesmo
enfrentando declínio dos preços internacionais da cana, o produto seguia
sendo cultivado, pois os gastos monetários para manter em operação o
engenho eram modestos (animais e madeira).
Economia de
subsistência
?
x
economia mercantil
Economia de subsistência, como o próprio nome
sugere, é aquela produzida para autoconsumo, em que o
produtor não se distingue do consumidor, sendo desnecessário
o uso de dinheiro. Economia mercantil, ao contrário, é aquela em
que o produto é direcionado ao mercado; a conseqüente separação
entre produtores e consumidores torna necessária a intermediação
monetária.
Uma família de pequenos proprietários de terra pode produzir verduras
para sua alimentação, mas essa cultura será de pequenas proporções, já que
voltada apenas para o consumo da família. Não estará sujeita, portanto, a
crises econômicas, porque não haverá produção excedente para ser vendida
em mercado.
A economia colonial caracterizou-se pela baixa circulação interna de dinheiro,
já que a empresa que produzia a monocultura para exportação era auto-
suficiente, produzia quase todos os bens necessários para sua operação,
demandando apenas madeira e animais no mercado interno. Portanto, os
colonos que não fossem latifundiários agroexportadores, mas simples
criadores de gado, por exemplo, recebiam uma parte muito pequena
da renda que circulava na Colônia, resultante das compras internas
animais e madeira).
A maior parte da renda ficava concentrada nas mãos dos
colonos latifundiários (os senhores de engenho), o que
permitia que eles consumissem produtos de luxo
importados. Esta divisão não favorecia a
circulação de moeda, nem tampouco a
produção mercantil.
CEDERJ 23
Formação Econômica do Brasil | Formação econômica do Brasil colonial
CONCLUSÃO
24 CEDERJ
Atividade Final
1
AULA
Decidindo novos rumos para o seu reino 1 2 3
Europa, séculos XV e XVI. Imagine que você é um monarca e que precisa decidir sobre
os rumos do seu reino. Notícias de outras terras chegam até você. Surgem novas nações:
Portugal, Espanha, França, Inglaterra... Unificadas, elas criam exércitos, defendem seus
territórios e buscam expandir-se. Você sabe, porém, que organizar uma expansão
territorial desse porte não é tão simples quanto possa parecer.
Está lançado o desafio. De acordo com as idéias da sua época, os estados nacionais
deveriam se expandir, levando a salvação e a maneira européia de viver a outras
partes do mundo.
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_______________________________________________
CEDERJ 25
Formação Econômica do Brasil | Formação econômica do Brasil colonial
_______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Resposta Comentada
Como um bom soberano, dotado de direito divino, primeiramente você deve ter pedido
ajuda a Deus para orientá-lo neste trabalho. Em segundo lugar, ao avaliar a situação em
sua época, você deve ter pensado nos pontos a seguir:
1. com o surgimento dos estados nacionais, era preciso organizar e defender sua nação
(criação de exércitos). Uma ideologia que unisse os estamentos (veja o boxe sobre
feudalismo) ao redor de uma só figura ou personalidade, como a do rei, também ajudaria
bastante;
2. com a “casa” arrumada, você já pode pensar em expandir os seus domínios. Para
isso, você vai precisar de caravelas que possam enfrentar o mar Tenebroso sem afundar.
Instrumentos de navegação também serão úteis, e aperfeiçoá-los é uma medida prudente,
já que o mar, bravio e misterioso, “não estava para peixe”. Navegadores bem preparados
são fundamentais, e a idéia de uma escola de navegação pode ser interessante;
3. feito tudo isto, rumo à expansão! As colônias, territórios desconhecidos e ainda sem dono,
principalmente em outras regiões do mundo, são ideais para expandir seus domínios;
4, 5. lá, você poderia encontrar produtos para explorar – como os metais preciosos – ou
desenvolver monoculturas para exportação. No caso do Brasil, o que os portugueses
buscaram, em primeiro lugar, foi ouro e prata. Por não terem encontrado esse tipo
de riqueza, estabeleceram, no território conquistado, a empresa colonial agrícola. São
exemplos dessa exploração o pau-brasil (da mata nativa), e a cana-de-açúcar (monocultura
desenvolvida pelos colonos portugueses), em um primeiro momento. O Pacto Colonial
garantiria os lucros para a metrópole.
Para desenvolver as atividades agrícolas que vão trazer dividendos para a metrópole, é
necessário morar no território, o que resolve em parte o problema de proteger as terras
conquistadas. Fortificações em locais estratégicos também são fundamentais. Os fortes
construídos pelos portugueses em várias partes do país são, atualmente, atrações turísticas.
Para todas estas realizações, era necessário dispor de capital. Que política você iria adotar
para acumular o capital necessário?
O mercantilismo, apoio econômico do regime absolutista, deve ter sido a resposta
que você encontrou para a pergunta anterior. Por meio de acumulação de capitais,
protecionismo alfandegário e a busca por uma balança de comércio favorável em um
primeiro momento, e pela procura de metais preciosos – principalmente ouro e prata
– em uma segunda etapa, era possível conseguir os recursos necessários para expandir
sua nação. A burguesia desempenharia um papel fundamental, fornecendo o apoio
financeiro para sua empreitada.
26 CEDERJ
1
RESUMO
AULA
A ocupação do Brasil colonial foi uma das conseqüências da expansão
marítima portuguesa. O sentido da colonização brasileira foi produzir
especiarias e produtos tropicais (como a cana-de-açúcar) para comercialização
na Europa.
Os principais elementos da formação econômica colonial são o latifúndio,
a monocultura e o trabalho escravo. Alicerçada nesses três pilares, surgiu,
no Nordeste brasileiro, a economia canavieira, que teve seu auge entre os
séculos XVI e XVII. Esse modelo econômico entrou em crise após a invasão
holandesa, que terminou em 1654. Expulsos do Nordeste, os holandeses
utilizaram, em suas colônias nas Antilhas, os conhecimentos que haviam
adquirido na produção de açúcar, provocando a quebra do monopólio
brasileiro na oferta do açúcar no mercado mundial.
CEDERJ 27
Formação Econômica do Brasil | Formação econômica do Brasil colonial
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
Você pode ainda ampliar seus conhecimentos sobre o período colonial lendo
obras importantes, como Casa grande e senzala, de Gilberto Freyre. Uma
importante fonte adicional de consulta sobre a economia colonial pode ser
encontrada no Dicionário do Brasil Colonial, organizado pelo historiador
Ronaldo Vainfas e publicado pela Editora Objetiva.
28 CEDERJ
Atividades econômicas de
subsistência e mineração
AULA
auxiliam o povoamento
do interior
Meta da aula
Descrever a ocupação do interior do Brasil, dos séculos
XVI a XVIII, mostrando que houve transformações na
economia colonial que não se identificam apenas com
a empresa colonial agrícola.
objetivos
INTRODUÇÃO Você vai aprofundar ainda mais seu conhecimento sobre a dinâmica da
economia colonial brasileira, com ênfase em aspectos diferentes dos que já
vimos na Aula 1. Se, na aula passada, o objetivo foi apresentar o sentido da
colonização para a coroa portuguesa, situando-a no contexto da expansão
mercantil proporcionada pelas grandes navegações, nesta segunda aula, você
verá que, a partir do século XVII, o interior da colônia foi ocupado pelos colonos
que não exploraram a monocultura para exportação, mas atividades destinadas
à própria subsistência ou ao mercado interno.
Sugerimos, para complemento de sua leitura, a introdução do trabalho A Lei de
Terras de 1850, de Carlos Ignacio Pinto, estudante de História da Universidade
de São Paulo (USP), no site http://www.klepsidra.net/klepsidra5/lei1850.html.
Carlos Ignacio faz um histórico da ocupação portuguesa no Brasil, dos séculos XVI
a XVIII. Vale a pena dar uma olhada, para relembrar o conteúdo da Aula 1.
Introdução
O primeiro critério de distribuição do solo da colônia portuguesa na
América foi o regime de concessão de sesmarias. Este ordenamento
jurídico do território foi, antes de mais nada, uma transposição da
norma reguladora do processo de distribuição de terras em Portugal
para os solos coloniais. Sob este ponto, é preciso ressaltar que o
interesse primordial do processo de colonização portuguesa estava
aliado à extensiva exploração do território, com o intuito de campear
recursos minerais, principalmente o ouro. Em um primeiro momento,
esse propósito da coroa foi completamente frustrado, pois durante todo
o século XVI não houve a ocorrência de descoberta de metais preciosos
nos solos coloniais americanos de possessão portuguesa.
Desde o princípio, a empresa colonial percebeu que a colônia poderia
produzir outros tipos de riquezas que não a exploração mineral. Data
do ano de 1557 a instalação do primeiro engenho de produção de
açúcar no Brasil; os portugueses, que dominavam plenamente a técnica
30 CEDERJ
de plantio da cana e fabrico do açúcar, devido às suas possessões nas
2
ilhas do Atlântico, introduziram e incentivaram a produção da cana, que
AULA
possuía grande valor comercial.
Na colônia portuguesa, os séculos XVI e XVII marcaram o que a
professora Vera Lúcia Amaral Ferlini denomina de “a civilização do
açúcar”, uma economia baseada plenamente no cultivo da cana-de-
açúcar e no trabalho artesanal de produção do próprio açúcar por
meio dos engenhos. Nesse período, o incentivo agrícola foi dado à
produção em larga escala para abastecer o mercado europeu. Não havia
o interesse de construir na colônia uma produção agrícola de pequeno
porte e caráter diversificado, pois o elemento norteador das políticas
européias era o mercado europeu. Assim, a colonização do século XVI
foi fiel ao seu sentido original de “colonização de caráter absolutamente
mercantilista”, sem incentivo à pequena propriedade.
A partir do século XVIII, ocorre uma mudança nessa política econômica,
com um enorme crescimento da colônia: junto a um grande ciclo
migratório, verificou-se uma ampliação da economia devido,
principalmente, à descoberta das Minas Gerais. O ciclo do ouro foi
capaz de dinamizar novos setores da economia, como o de produção
de alimentos e do tráfico interno de mão-de-obra. A reivindicação pela
terra tornou-se mais difusa, e a política de doação por meio de sesmarias
fazia-se insuficiente às novas necessidades sociais. A confusa situação
de ocupação de território ditada pela debilidade da Lei de Sesmarias
aumentou ainda mais no final do século XVIII, quando ocorreu a
decadência da mineração e houve o que alguns autores denominaram
como um renascimento da atividade agrícola.
CEDERJ 31
Formação Econômica do Brasil | Atividades econômicas de subsistência e mineração auxiliam o
povoamento do interior
32 CEDERJ
!
2
AULA
Para
o apresamento de
índios, os alvos principais dos
bandeirantes foram os aldeamentos
jesuíticos. Estima-se que 300 mil
índios foram escravizados entre
1614 e 1639.
Você se lembra da minissérie A muralha, veiculada pela Rede Globo em 2000? Era justamente
sobre o período da história econômica brasileira que você está estudando nesta aula. A
minissérie teve como base o livro homônimo de Dinah Silveira de Queiroz. Ambos valem a
pena ser vistos. Lembre-se, ler o romance ou ver o filme pode ser uma excelente maneira
de estudar. Que tal aproveitar para aprender e se divertir ao mesmo tempo?
Atividade 1
Recuperando as origens do bandeirantismo
Resposta Comentada
Antiga Capitania de São Vicente, São Paulo não teve, nos primeiros tempos da
colonização, a importância que tem na economia brasileira atual. No entanto,
por sua localização mais próxima ao sertão, de lá partiram os bandeirantes,
como você já viu. Você já se deu conta de como esse movimento foi importante
para o que nós conhecemos hoje como Brasil? Entre as conseqüências mais
relevantes do bandeirantismo, está a expansão da fronteira da América
portuguesa em direção à América espanhola, rompendo o acordo assinado
em Tordesilhas em 1494.
CEDERJ 33
Formação Econômica do Brasil | Atividades econômicas de subsistência e mineração auxiliam o
povoamento do interior
OCUPAÇÃO DO SUDESTE
34 CEDERJ
Além de espanhóis, holandeses e ingleses conseguiram se
2
estabelecer no norte do continente, a partir de 1596. Naquela região,
AULA
desenvolveu-se o comércio com a produção extraída da floresta – como
as madeiras e o o urucum utilizado para tingir tecidos – e o pescado.
Portugal também passou a sofrer tentativas de invasão dos
tradicionais inimigos do império espanhol. Os portugueses conseguiram
expulsar franceses, ingleses e holandeses das margens do rio Amazonas
e fundaram, com objetivos de defesa, a cidade portuária de Belém, em
1616, a partir da construção do forte do Presépio, atualmente forte do
Castelo. Localizado na confluência do rio Guamá com a baía de Guarajá,
o forte estava situado em local estratégico, dificultando a entrada dos
invasores. O “fechamento” dessa porta de entrada da região conseguiu
mantê-la protegida.
Figura 2.2: Construído pelos portugueses no século XVII para defender a região
de invasões estrangeiras, o forte do Presépio foi um dos primeiros edifícios de
Belém (PA). A fortificação, atualmente chamada forte do Castelo, foi tombada
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1962 e é
um dos pontos turísticos da cidade.
CEDERJ 35
Formação Econômica do Brasil | Atividades econômicas de subsistência e mineração auxiliam o
povoamento do interior
36 CEDERJ
Tabela
2
Jesuítas:
AULA
instrumentos de ocupação e
empreendimentos comerciais
Diferentemente dos holandeses e ingleses, os
portugueses justificavam a colonização não somente
como instrumento de expansão comercial, mas também de
disseminação da fé cristã. Esse foi o propósito que moveu a
Companhia de Jesus, ordem religiosa responsável pela implantação
de missões na colônia.
Os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil em 1549. Ao longo do tempo,
a ordem foi responsável por missões no interior, catequizando indígenas,
e pela criação de colégios, entre outras realizações.
Em meados do século XVIII, o sucesso da empresa comercial organizada
pelos jesuítas feriu interesses de colonos espanhóis e portugueses em
uma região situada na fronteira entre Brasil e Paraguai. Interessados
em apropriarem-se daquele empreendimento, os colonos de
ambos os países conseguiram o apoio não só dos governos
espanhol e português, mas também da Igreja Católica,
chamada para arbitrar a disputa, o que resultou na
decisão do governo português de expulsar os
jesuítas da colônia em 1759.
A missão, filme
A missão, filme estrelado
estrelado por
por Robert
Robert de de Niro
Niro ee Jeremy
Jeremy Irons,
Irons, mostra
mostra oo contraste
contraste entre
entre os
os
interesses
interesses de de missionários
missionários jesuítas
jesuítas ee dos
dos colonos
colonos na
naocupação
ocupaçãodo dointerior
interiordodocontinente
continentesul-
sul-
americano.
americano. De De Niro
Niro representa
representa oopapel
papelde deum
umaprisionador
aprisionadorde deíndios,
índios,pago
pagopelos
pelosespanhóis,
espanhóis,
ee Jeremy
Jeremy Irons
Irons interpreta
interpreta um um padre
padre responsável
responsável pela
pela missão
missão jesuíta
jesuíta local.
local. Liam
Liam Neeson
Neeson éé
outro
outro integrante
integrante do do elenco.
elenco. Dirigido
Dirigido por
por Rolland
Rolland Toffé,
Toffé, oo filme
filme éé de
de 1986.
1986.
Anote
Anote aa ficha
ficha técnica,
técnica, procure
procure oo filme
filme em em alguma
alguma locadora
locadora perto
perto de
de você
você ee divirta-se!
divirta-se!
Filme:
Filme: A missão (The
A missão (The Mission)
Mission)
Inglaterra,
Inglaterra, 1986
1986
Direção:
Direção: Rolland
Rolland Joffé
Joffé
Roteiro:
Roteiro: Robert
Robert Bolt
Bolt
Duração:
Duração: 125125 min.
min.
Disponível
Disponível em em vídeo
vídeo ee DVD
DVD
Quer
Quer saber
saber mais
mais sobre
sobre os
os jesuítas
jesuítas ee aa ocupação
ocupação do do sul
sul do
do Brasil?
Brasil? Dê
Dê uma
uma olhada
olhada em em http:
http:
//www.riogrande.com.br/historia/couro/couro1.htm
//www.riogrande.com.br/historia/couro/couro1.htm ee em em http://www.riogrande.com.br/
http://www.riogrande.com.br/
historia/missoes.htm
historia/missoes.htm
CEDERJ 37
Formação Econômica do Brasil | Atividades econômicas de subsistência e mineração auxiliam o
povoamento do interior
38 CEDERJ
permitia que as culturas fossem transferidas de local. O conflito
2
acabou por empurrar a criação de gado cada vez mais para o
AULA
interior do Nordeste, e as fazendas fixaram-se na zona semi-árida
e no sertão, impróprios para o cultivo (p. 99).
Atividade 2
1
Modos de produção na colônia
Compare os tipos de atividades econômicas realizadas no Brasil do século XVII,
considerando o tamanho do terreno (latifúndio ou minifúndio), a mão-de-obra (escrava
ou livre) e o destino da produção (mercado interno ou externo).
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
Resposta
Na produção canavieira, voltada para o mercado externo, o sentido da atividade
econômica era produzir lucros mercantis, o que envolvia a necessidade de rebaixar
o máximo possível o custo de produção, daí a opção pelo trabalho escravo. Na
pecuária, voltada para o mercado interno, ao contrário, o sentido da atividade
era mais complementar ou alternativa à agroexportação, sendo muitas vezes
uma atividade de subsistência, em que não se justificava o “investimento” em
manutenção de escravos.
CEDERJ 39
Formação Econômica do Brasil | Atividades econômicas de subsistência e mineração auxiliam o
povoamento do interior
40 CEDERJ
defesa do patrimônio histórico e cultural. Essas cidades fazem parte hoje
2
das chamadas cidades históricas, destino de grandes fluxos de visitação
AULA
turística, e ícone do Estado de Minas Gerais.
Atividade 3
2 3
500 anos de ocupação do Brasil
Observe o quadro a seguir. Ele contém informações do mais recente censo demográfico,
realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2000:
Em sua opinião, por que as regiões Norte e Centro-Oeste são as menos povoadas, apesar
de constituírem quase 65% do território brasileiro? Você identifica alguma razão histórica
para este fato? Qual a diferença entre estas regiões e o Estado de Minas Gerais, também
localizado no interior?
CEDERJ 41
Formação Econômica do Brasil | Atividades econômicas de subsistência e mineração auxiliam o
povoamento do interior
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Resposta Comentada
Distantes do litoral, as duas regiões, historicamente, tiveram um acesso difícil. Em
uma época em que o transporte interno era baseado no uso da tração animal, foi
difícil povoar essas regiões, especialmente porque era a atividade agroexportadora
que dava o sentido da colonização e esta, como se sabe, localizava-se na costa.
No caso amazônico, outro fator importante foi a construção de fortificações como
o forte do Presépio para proteger a região de invasões estrangeiras, como você já
viu nesta aula. No caso específico de Minas Gerais, apesar de situada no interior,
a região foi ocupada depois da descoberta de ouro, em 1680.
42 CEDERJ
A riqueza do ouro suscitou o crescente controle sobre a exportação
2
do metal, mas coincidiu com o declínio da mineração. Após atingir o
AULA
auge na década de 1750, houve um rápido declínio na produção do
ouro, comprometendo as possibilidades de desenvolvimento da economia
colonial. Tal declínio não foi percebido, já que o ouro brasileiro era de
aluvião e não de mina, o que dificultava a estimativa de suas reservas.
Você vai conhecer as medidas econômicas tomadas por Portugal para
tentar sanar este problema na próxima aula.
Se você quiser mais informações sobre esse tema, pode consultar
sites como www.pesquisaescolar.com.br. Outra fonte importante é o
Dicionário do Brasil Colonial, organizado pelo historiador Ronaldo
Vainfas.
CONCLUSÃO
CEDERJ 43
Formação Econômica do Brasil | Atividades econômicas de subsistência e mineração auxiliam o
povoamento do interior
Atividade Final
Observe estes mapas. No primeiro, você pode ver as atividades econômicas realizadas no
Brasil durante a primeira fase da colonização. Veja, agora, o segundo mapa, referente
ao século XVIII. Que diferenças você pode notar entre eles, e a que você as atribui?
Lembre-se de considerar o tamanho do território brasileiro, a quantidade e o tipo de
atividades econômicas, bem como o local onde ocorrem. Registre a sua resposta e, se
puder, compare com as de seus colegas.
Natal
BRASIL
MERIDIANO DE TORDESILHAS
São Cristóvão
O
TI C
ÂN
TL
A
ANO
OCE
São Paulo
•
Cananéia Pau-brasil
Pecuária
Cana-de-açúcar
Entradas
44 CEDERJ
2
AULA
Macapá
MERIDIANO DE TORDESILHAS
Natal
João Pessoa
Olinda O
TI C
ÂN
Recife
T L
A
NO
Vila Boa Salvador
A
Vila Bela
OCE
Cuiabá
Diamantina Porto Seguro
Cáceres
Ribeirão
do Carmo Sabará
Vitória
Vila Rica S. J.Del Rei
São Paulo
Sorocaba Rio de Janeiro
Santos
Curitiba Cana-de-açúcar
Pecuária
Laguna
Mineração
Drogas do Sertão
Resposta Comentada
Como bom observador que é, você deve ter notado, logo de início, que o território brasileiro
cresceu, indo além do Tratado de Tordesilhas. Por que isso aconteceu? Lembra-se dos
bandeirantes e dos jesuítas? A participação deles foi fundamental para o aumento de
população no interior e para a expansão das fronteiras do país (bandeiras e missões
jesuíticas, respectivamente). Veja como aumentou o número de cidades!
As atividades econômicas se diversificaram. Diminuiu a extração de pau-brasil, cresceu a
cultura de cana-de-açúcar. A pecuária expandiu-se em direção ao interior, principalmente
no Nordeste, devido aos engenhos. Outra diferença importante é o surgimento da
mineração. Você vai ver como o descobrimento de ouro no Brasil afetou até a vida
política do país. Mas isto é uma outra história... Não perca a Aula 3.
CEDERJ 45
Formação Econômica do Brasil | Atividades econômicas de subsistência e mineração auxiliam o
povoamento do interior
RESUMO
46 CEDERJ
3
AULA
A crise da economia
colonial no Brasil
Meta da aula
Analisar os fatores externos e internos que
determinaram a ruptura das bases da eco-
nomia colonial agrícola, nos séculos XVIII e
XIX, bem como a independência do Brasil.
objetivos
Pré-requisitos
Para acompanhar melhor os conceitos trabalha-
dos nesta aula, você deve reler o verbete sobre
pacto colonial, na Aula 1, bem como as expli-
cações sobre a dinâmica colonial brasileira, na
Introdução da Aula 2.
Formação Econômica do Brasil | A crise da economia colonial no Brasil
INTRODUÇÃO Na aula passada, você estudou que, no período colonial, as atividades produtivas
e comerciais na economia brasileira não se esgotavam na empresa colonial
agrícola. A ocupação do Sul, do vale amazônico e o movimento de bandeiras
foram importantes para o desenvolvimento de atividades econômicas no interior
do país, assim como a pecuária e a mineração.
As colônias na América foram constituídas no momento de formação dos
estados nacionais europeus (absolutistas), em que predominavam as práticas
mercantilistas. Naquele período, os grandes mercadores (burgueses) e armado-
res associavam-se diretamente ao poder central desses Estados absolutistas.
Você viu também que a empresa colonial nasceu exatamente dessa associação,
em que os interesses da burguesia mercantil estavam absolutamente relacio-
nados aos da Coroa. Juntos, burgueses e monarcas buscavam novas fontes de
renda por meio de conquistas coloniais.
Conquistados os novos territórios, a classe burguesa mercantil, com o apoio da
Coroa, garantiu para si o monopólio comercial. Formava-se, assim, a base da
política mercantilista, bem como um sistema de comércio fundado no pacto
colonial (exclusivo comercial), garantindo à metrópole total intermediação nas
operações de comércio. Assim, os interesses metropolitanos convergiam estrei-
tamente com os da classe exportadora e importadora que atuava na colônia.
Como a produção e o mercado interno eram bastante reduzidos, o pacto
colonial impedia a concorrência e permitia os ganhos extraordinários da classe
burguesa e da metrópole.
Nesta aula, vamos analisar as conseqüências do aumento da produção e do
crescimento do mercado interno para essa estrutura de relações comerciais e
de poder político e econômico. Além disso, você irá perceber como o avanço
do capitalismo industrial e das idéias liberais na Europa serviu de anteparo para
a configuração da crise do sistema colonial.
O SENTIDO DA CRISE
48 CEDERJ
comercial e suas restrições à concorrência externa. Com o aumento
3
REVOLUÇÃO
da produção e o crescimento do mercado interno – sobretudo após o INDUSTRIAL
AULA
início do ciclo do ouro –, os interesses particulares da colônia foram “Conjunto das trans-
formações tecnológicas,
aumentando de maneira significativa. O pacto colonial passou a ser, econômicas e sociais ocor-
então, um empecilho à expansão dos negócios e, portanto, ao potencial ridas na Europa e parti-
cularmente na Inglaterra
de ganhos dos colonos. nos séculos XVIII e XIX
e que resultaram na ins-
O segundo aspecto, referente ao plano externo, eram os efeitos da talação do sistema fabril
R E V O L U Ç Ã O I N D U S T R I A L cada vez mais visíveis na Europa. O processo e na difusão do modo de
produção capitalista. O
de acumulação de capital, naquele contexto, centrava-se fortemente processo foi impulsiona-
do, numa primeira fase,
na esfera de produção da indústria, com uma rápida incorporação de pelo aperfeiçoamento
de maquinas de fiação e
novas técnicas produtivas que ampliavam largamente seu horizonte
tecelagem e pela invenção
de crescimento. O aumento da produtividade na atividade industrial da máquina a vapor, da
locomotiva e de numero-
era absolutamente fantástico. Para que você tenha uma idéia, segundo sas máquinas – ferramen-
tas (...). Da conjunção
dados disponíveis na home page da Escola Técnica de Bergen, em desses fatores, resultou a
Nova Jérsei (Estados Unidos), de 1790 a 1830, mais de cem mil teares indústria capitalista meca-
nizada tal como a conhe-
movidos a eletricidade foram postos em funcionamento, na Inglaterra cemos. A aceleração do
processo produtivo teve
e na Escócia. início na Inglaterra, entre
Assim, a necessidade de busca e incorporação de novos mercados 1750 e 1830, a partir de
inovações tecnológicas
pelas unidades industriais em formação tornou-se um traço típico da na atividade têxtil (...).
Apesar dessas profundas
dinâmica capitalista. transformações econômi-
co-sociais, a Revolução
Industrial foi um processo
contraditório. Ao lado da
elevação da produtividade
e do desenvolvimento da
divisão social do trabalho,
manifestava-se a miséria
de milhares de trabalha-
dores desempregados e de
homens, mulheres e crian-
ças obrigados a trabalhar
até 16 horas por dia, pri-
vados de direitos políticos
Figura 3.1: Iniciada na e sociais. Essa situação
Inglaterra, a Revolução de classe operária levou à
Industrial expandiu-se formação dos primeiros
pela Europa. Nesta foto, sindicatos, à elaboração
você pode ver a fábrica do pensamento socialista
construída pelo engenheiro e à irrupção de inúmeros
Julius Bruch em 1873 na movimentos, levantes e
Alemanha (então Império revoltas de trabalhadores
Germânico). Esta fábrica que marcaram toda vida
foi uma das maiores européia ao longo do
produtoras de vigas de século XIX”
aço no país e, em 1994, (SANDRONI, 2004:
foi tombada pela Unesco 528/529).
como patrimônio cultural
da humanidade.
CEDERJ 49
Formação Econômica do Brasil | A crise da economia colonial no Brasil
“A Revolução
Industrial desenvolveu
!
também uma nova sociedade: a (...)
capitalista, baseada na divisão dos indi-
víduos em duas classes: os capitalistas, deten-
ILUMINISMO tores dos meios de produção, e os trabalhadores,
O Iluminismo repre- homens livres que vendem sua força de trabalho em
sentou um movimen- troca de um salário. O capitalismo, consolidado com a
to cultural originado Revolução Industrial, gerou muita riqueza e um enor-
no Renascimento, me progresso material, mas criou também uma massa
sobretudo a partir
do século XVII. Do
de trabalhadores pobres, no campo e na cidade. Os
ponto de vista eco- economistas liberais, defensores da sociedade capi-
nômico, seu princi- talista sustentavam a idéia de que o Estado não
pal foco era a defini- precisa interferir na economia, que deve ser
ção de uma política regulada apenas pelo mercado”
econômica mais livre
das restrições típicas
(FONSECA; PEDRO, 1995).
do mercantilismo,
idéia defendida forte-
mente pela burguesia
emergente. Um dos
nomes importantes É fácil entender, então, que o monopólio comercial e produtivo
para o desenvolvi-
mento desta corrente formalizado no pacto colonial era uma barreira para o capital industrial
é o de René Des-
cartes (1596-1650),
e para a produção em grande escala. Isto explica o grande interesse da
matemático francês Inglaterra pelos movimentos de independência das Américas hispânica
considerado o pai do
racionalismo. Além e portuguesa. Em termos práticos, essas duas barreiras representavam
dele, destacam-se
os franceses Vol- o antagonismo entre os interesses ainda existentes no mercantilismo
taire (1694-1770) português e os novos acontecimentos políticos, sociais e econômicos
e Montesquieu
(1698-1755), além associados à Revolução Industrial.
dos ingleses Isaac
Newton (1642-1727) Essas transformações também estavam representadas no campo
e John Locke (1632-
institucional e das idéias pela crescente contestação às instituições
1704), entre outros
importantes pensa- absolutistas e o avanço do I L U M I N I S M O . Naquele momento, o PEN-
dores.
SAMENTO LIBERAL se rebelou contra as instituições do antigo regime.
LIBERALISMO
“Doutrina que serviu de substrato ideológico às revoluções antiabsolutistas que ocorreram na Europa (Inglaterra e França,
basicamente) ao longo dos séculos XVII e XVIII, e à luta pela independência dos Estados Unidos. Correspondendo aos
anseios de poder da burguesia, que consolidava sua força econômica ante uma aristocracia em decadência, amparada no
absolutismo monárquico, o liberalismo defendia: 1) a mais ampla liberdade individual; 2) a democracia representativa com
separação e independência entre três poderes (executivo, legislativo e judiciário); 3) o direito inalienável à propriedade;
4) a livre iniciativa e a concorrência como princípios básicos capazes de harmonizar os interesses individuais e coletivos,
e gerar o progresso social. Segundo o princípio do laissez-faire, não há lugar para a ação econômica do Estado, que deve
apenas garantir a livre concorrência entre as empresas e o direito à propriedade privada, quando esta for ameaçada por
convulsões sociais. O pensamento econômico liberal constitui-se, a partir do século XVIII, no processo da Revolução
Industrial, com autores como François Quesnay, estruturando-se como doutrina definitiva nos trabalhos de John Stuart
Mill, Adam Smith, David Ricardo, Thomas Malthus, J.B. Say e F. Bastiat. Eles consideravam que a economia, tal como
a natureza física, é regida por leis universais e imutáveis, cabendo ao indivíduo apenas descobri-las para melhor atuar
segundo os mecanismos dessa ordem natural” (SANDRONI, 2004, p. 347).
50 CEDERJ
Vale citar, em particular, o novo ideário difundido a partir da Revolução
3
Francesa e os princípios de liberdade e igualdade – considerados, pela
AULA
metrópole, como “os abomináveis princípios franceses”!
Nesse caso, um elemento-chave foi a contestação do conceito do
rei como um enviado divino: a nova visão determinava que seu poder
lhe era legado pelos homens e não por Deus, idéia que se disseminou
rapidamente na colônia por intermédio dos estudantes brasileiros, filhos
de famílias ricas, que iam cursar a universidade na Europa.
Quer
Quer saber
saber mais
mais sobre
sobre oo Iluminismo
Iluminismo ee os os principais
principais nomes
nomes desta
desta
corrente
corrente ideológica? Veja os os sites http://www.saberhistoria.hpg.ig.
sites http://www.saberhistoria.hpg.ig.c
com.br/nova_pagina_31.htm
om.br/nova_pagina_31.htm eehttp://www.conhecimentosgerais.com
http://www.conhecimentosgerais.co
m.br/historia-geral/iluminismo.html.
.br/historia-geral/iluminismo.html. Neste Neste mesmo
mesmo site,
site, você
você pode
pode ler
ler textos
textos dosdos pensadores
pensadores iluministras.
iluministras.
Atividade 1
2
Pacto colonial x capital industrial
a. “Laissez-faire é uma expressão francesa laissez faire, laissez passer, que significa
“deixem fazer, deixem passar”, e se refere a uma filosofia econômica que surgiu
no século XVIII, que defendia a existência de mercado livre nas trocas comerciais
internacionais, ao contrário do forte protecionismo baseado em elevadas tarifas
alfandegárias (...). (...) esta teoria (...) teve em Adam Smith um dos seus principais
defensores (...). O ‘laissez faire’ tornou-se o chavão do liberalismo na versão mais pura
de capitalismo de que o mercado deve funcionar livremente, sem interferência. Esta
filosofia tornou-se dominante nos Estados Unidos e nos países ricos da Europa, durante
o fim do século XIX e no início do século XX” (WIKIPEDIA, 2005).
(http://geocities.yahoo.com.br/vinicrashbr/historia/brasil/colonizacaodobrasil.html)
CEDERJ 51
Formação Econômica do Brasil | A crise da economia colonial no Brasil
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
Resposta Comentada
O processo produtivo industrial caracterizava-se por uma grande capacidade de
ampliação da oferta de produtos, considerando a recorrente incorporação de
progresso técnico na atividade. A necessidade de encontrar mercados para escoar
a produção poderia ser inviabilizada pelas restrições do pacto colonial.
52 CEDERJ
Atividade 2
3
AULA
4
Liberdade, liberdade
Observe este selo, lançado em comemoração aos 200 anos da Revolução Francesa. Nele,
você pode observar a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, promulgada
pela Assembléia Nacional em 1789. Aqui seguem alguns trechos deste documento que
foi um marco na história das sociedades ocidentais.
IV – A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique a outrem. Assim, o
exercício dos direitos naturais do homem não tem limites senão aqueles que asseguram
aos outros membros da sociedade o gozo desses mesmos direitos; seus limites não
podem ser determinados senão pela lei.
(...)
(...)
VIII – A lei não deve estabelecer senão penas estritamente necessárias, e ninguém
pode ser punido senão em virtude de uma lei estabelecida e promulgada ao
delito e legalmente aplicada.
CEDERJ 53
Formação Econômica do Brasil | A crise da economia colonial no Brasil
(...)
(...)
Resposta Comentada
Os ideais de liberdade permeiam todo o texto da Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão, porém estão mais evidentes em alguns trechos. No item
1, por exemplo, você deve ter selecionado: “esses direitos são a liberdade, a
propriedade, a segurança e a resistência à opressão”. As liberdades individuais
e sociais estão contidas nos itens IV, VI e XI. No artigo XVII, a defesa ao direito
de propriedade está claramente enunciada em “A propriedade, sendo um direito
inviolável, e sagrado (...)”.
De todo modo, cabe uma observação importante. Apesar do caráter supostamente
libertário e igualitário desse processo, o movimento de rebeldia interno à colônia
dificilmente (quase nunca, na verdade) associava as revoltas à desumanidade da
escravidão. Assumia puramente um caráter rural, em que a escravidão não era
contestada – ao contrário, representava a única forma de relação de produção
praticada.
A aplicação das idéias liberais no Brasil apresentava, desta forma, limites importantes.
Primeiro, um limite físico, determinado pela proibição de sua propagação através da
censura a vários livros e publicações. Segundo, pela restrição das relações sociais,
pois as idéias liberais, no Brasil, eram usadas apenas no sentido de contestação às
relações metrópole/colônia. Na Europa, essas idéias representavam um escopo
mais amplo de apoio aos interesses da burguesia industrial emergente. Essa
mudança, de fato, inexistia no Brasil.
54 CEDERJ
AS MUDANÇAS NA METRÓPOLE E SUAS CONSEQÜÊNCIAS
3
PARA O BRASIL
AULA
O final do século XVIII foi um período de acirramento das contra-
dições de interesses colônia/metrópole. Em Portugal, o absolutismo seguia
DESPOTISMO
firme, em particular durante o reinado de Dom José I – conhecido pelo ESCLARECIDO
“D E S P O T I S M O ESCLARECIDO” representado por seu primeiro-ministro, Forma de manutenção
das práticas absolutis-
o Marquês de Pombal, que cumpria um papel-chave na definição das tas sem a associação
diretrizes políticas e econômicas. No Brasil, o período foi marcado por do rei ao poder divino
– dá um tom de racio-
dificuldades econômicas graves, resultantes da queda das exportações. nalidade ao absolutis-
mo, incorporando as
A exceção, nesse contexto, foi o Maranhão, em virtude dos incentivos idéias iluministas da
do Marquês de Pombal ao criar uma companhia de comércio altamente razão. Em Portugal,
D. José I encarnou este
capitalizada para explorar e ampliar a produção e exportação de algodão, espírito e teve como
principal articulador o
produto em alta substantiva no mercado internacional. Marquês de Pombal,
primeiro-ministro
O acirramento das crises internas e nas colônias, todavia, obrigou responsável pelas
medidas e articulações
o ministro a demitir-se em 4 de março de 1777. Neste mesmo ano o rei políticas.
faleceu, e o trono passou a ser ocupado por Dona Maria (sua filha, mãe
de D. João VI e conhecida na História como “a louca”), iniciando a
V I R A D E I R A . Na verdade, esse conjunto de mudanças não trouxe trans- VIRADEIRA
formações importantes, pois de maneira geral a POLÍTICA POMBALINA Desmonte das políti-
cas pombalinas ini-
ainda prevalecia, graças à tentativa de preservar as estruturas do exclusivo
ciadas por D. Maria
comercial. A diferença fundamental foi a redefinição de alguns laços I em 1877, incluindo
uma intensa perse-
formais que substanciavam sua existência, realizando ações como: guição ao Marquês
de Pombal até sua
(a) acabar com as companhias de comércio, permitindo uma maior morte em 1782.
Conjunto de medidas
(d) liberação do comércio e exploração do sal e da pesca da baleia, ter- visando ao fortaleci-
mento do poder real
minando o monopólio metropolitano nesse setor; em Portugal, como
a reforma do exér-
(e) proibição da manufatura têxtil no Brasil. cito e da burocracia
estatal. Tais medidas
Essas mudanças refletiam, em realidade, a crescente dependência subjugaram os inte-
resses da nobreza e
econômica, por parte de Portugal, da colônia brasileira (essa exploração reduziram fortemen-
te o poder do clero.
era condição básica para o desenvolvimento português) e, portanto, era
vantajoso, para a metrópole, fazer concessões. Refletiam, também, no
nível das relações internacionais, as condições impostas pela proteção
CEDERJ 55
Formação Econômica do Brasil | A crise da economia colonial no Brasil
Inconfidência mineira
Os inconfidentes queriam a independência do Brasil e instaurar a
República. Pretendiam incentivar as manufaturas, proibidas desde 1785,
e fundar uma universidade em Vila Rica, atual Ouro Preto. Integrado
por membros da elite intelectual e econômica da região – fazendeiros
e grandes comerciantes –, o movimento reflete as contradições desses
segmentos: sua bandeira traz o lema libertas quae sera tamem (Liberdade
ainda que tardia), mas não se propõe a abolir a escravidão.
Conspiradores: entre os conspiradores estão Inácio José de Alva-
renga Peixoto, ex-ouvidor de São João del Rey; Cláudio Manoel da Costa,
poeta e jurista; tenente-coronel Francisco Freire de Andrada; Tomás Antô-
nio Gonzaga, português, poeta, jurista e ouvidor de Vila Rica; José Álva-
res Maciel, estudante de Química em Coimbra que, junto com Joaquim
José Maia, procura o apoio do presidente americano Thomas Jefferson;
Francisco Antônio de Oliveira, José Lopes de Oliveira, Domingos Vidal
Barbosa, Salvador Amaral Gurgel, o cônego Luís Vieira da Silva; os
padres Manoel Rodrigues da Costa, José de Oliveira Rolim e Carlos
Toledo; e o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.
56 CEDERJ
Derrama: o momento escolhido para a eclosão da revolta é o
3
da cobrança da derrama, imposto adotado por Portugal no período de
AULA
declínio da mineração do ouro. A Coroa fixa um teto mínimo de 100
arrobas para o valor do quinto. Se ele não é atingido, os mineradores
ficam em dívida com o fisco. Na época, essa dívida coletiva chega a 500
arrobas de ouro, ou 7.500 quilos. Na derrama, a população das minas
é obrigada a entregar seus bens para integralizar o valor da dívida.
Devassa: o movimento é denunciado pelos portugueses Joaquim
Silvério dos Reis, Brito Malheiros e Correia Pamplona, em 5 de março
de 1789. Devedores de grandes somas ao tesouro real, eles entregam os
parceiros em troca do perdão de suas dívidas. Em 10 de maio de 1789,
Tiradentes é preso. Instaura-se a devassa – processo para estabelecer
a culpa dos conspiradores –, que dura três anos. Em 18 de abril de
1792, são lavradas as sentenças: 11 são condenados à forca, os demais
à prisão perpétua em degredo na África e ao açoite em praça pública.
As sentenças dos sacerdotes envolvidos na conspiração permanecem
secretas. Cláudio Manoel da Costa morre em sua cela. Tiradentes tem
execução pública: enforcado no Rio de Janeiro em 21 de abril de 1792,
seu corpo é levado para Vila Rica, onde é esquartejado e os pedaços
expostos em vias públicas. Os demais conspiradores são degredados.
Conjuração baiana
De caráter social e popular, a conjuração baiana, ou revolta dos
alfaiates, como também é conhecida, explode em Salvador em 1798.
Inspira-se nas idéias da revolução francesa e da inconfidência mineira,
divulgadas na cidade pelos integrantes da loja maçônica Cavaleiros da
Luz, todos da elite local – Bento de Aragão, professor; Cipriano Bara-
ta, médico e jornalista; o padre Agostinho Gomes e o tenente Aguilar
Pantoja. O movimento é radical e dirigido por pessoas do povo, como
os alfaiates João de Deus e Manoel dos Santos Lira, os soldados Lucas
Dantas e Luís Gonzaga das Virgens. Propõe a independência, a igualdade
racial, o fim da escravidão e o livre comércio entre os povos.
CEDERJ 57
Formação Econômica do Brasil | A crise da economia colonial no Brasil
Em
Emhttp://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo02/conj_baiana.html,
http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo02/conj_
você pode encontrar
baiana.html, você mais
podeinformações
encontrar sobre
mais ainformações
Conjuração Baiana.
sobre a
Atividade 3
Uns mais iguais do que outros? 3
(WKIPEDIA, 2005)
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
Resposta Comentada
O principal foco de descontentamento associava-se ao conflito de interesses de
elites provocado pelo pacto colonial. As restrições do pacto à atividade econômica
da metrópole impediam a ampliação dos negócios da elite colonial. Não havia,
portanto, uma proposta de mudança das relações sociais e econômicas em
curso no Brasil.
58 CEDERJ
O ACIRRAMENTO DOS CONFLITOS DE INTERESSES E O
3
PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA
AULA
Apesar das revoltas internas de cunho pseudoliberal, nada parecia
determinar o rompimento das antigas formas de relacionamento Brasil-
Portugal. As revoltas foram sufocadas na origem, implicando severas
punições aos rebeldes. Além disso, eram estritamente organizadas pelas
elites, com ignorância quase completa das camadas populares. O processo
de separação colônia/metrópole só viria a ser precipitado pela invasão
francesa a Portugal e a vinda da corte para o Brasil em 1808, na medida
em que determinou uma séria de mudanças institucionais de relevo para
que a colônia servisse de sede do governo no Rio de Janeiro, como a
abertura dos portos e a criação do Banco do Brasil. A situação portuguesa
de lucros extraordinários no comércio com a colônia foi então rompida,
especialmente após a formalização dos tratados com a Inglaterra.
A vinda da corte
portuguesa para o Brasil
A conjuntura européia no período
?
napoleônico teve reflexos significativos na história
portuguesa. Neste contexto, no início do século XIX,
observou-se uma importante deterioração das relações
diplomáticas entre França e Inglaterra, com quem Portugal
mantinha laços estreitos de aliança.
Em novembro de 1807, as tropas francesas invadiram o território
português, impondo uma transferência às pressas da corte portuguesa para
o Brasil, sua principal colônia, com apoio da esquadra britânica. Esse processo
determinou um aprofundamento ainda maior dos laços políticos e econômicos
de Portugal e Inglaterra.
As primeiras medidas tomadas com a chegada da corte ao Brasil foram:
(a) abertura dos portos (1808), já que Portugal estava ocupado e não poderia
exercer a função de entreposto comercial para as mercadorias brasileiras,
condição definida no pacto colonial;
(b) fomento à agricultura e fundação do Horto Real (Jardim Botânico) no Rio
de Janeiro;
(c) incentivo ao desenvolvimento das manufaturas, concedendo isenção
de impostos a matérias-primas importadas;
(d) permissão de acesso de estrangeiros às sesmarias, com
o objetivo de garantir fronteiras com a expansão do
povoamento;
(e) criação do Banco do Brasil, com objetivo
primordial de financiar os gastos
da Coroa.
CEDERJ 59
Formação Econômica do Brasil | A crise da economia colonial no Brasil
Os tratados com
a Inglaterra
?
O aumento da dependência de Portugal em relação
à Inglaterra, decorrente da invasão napoleônica de 1807,
trouxe conseqüências relevantes para o Brasil. No intuito de
garantir vantagens sobre outros países nas relações econômicas a partir
do Brasil, a Inglaterra impôs a assinatura de tratados que lhe afiançaram
uma posição extremamente favorável nas relações econômicas – em troca
de proteção e apoio na estratégia expansionista de D. João VI nas colônias
ultramarinas. Para a Inglaterra, essa era uma questão fundamental, pois o
Bloqueio Continental (fechamento dos portos europeus para a Inglaterra) lhe
impunha a necessidade de buscar novos mercados. Para Portugal, apesar de
saber das desvantagens para os comerciantes portugueses, os interesses no
aprofundamento da aliança pesaram mais. Os principais tratados foram:
1) Tratado de Aliança e Amizade: definia as condições de defesa
mútua e apoio ao ataque português à Guiana Francesa. Em
contrapartida, acordou-se o comprometimento de
Portugal com a redução do tráfico de escravos,
circunscrito à região abaixo da linha
do equador.
60 CEDERJ
3
?
2) Tratado de Comércio
AULA
e Navegação: definia vantagens
tarifárias para a Inglaterra, até mesmo sobre
Portugal, no comércio com o Brasil. A tarifa alfandegária
aplicada sobre os produtos ingleses seria de 15%, contra 16% para
os portugueses e 24% para os demais países. Além disso, os cidadãos de
origem inglesa no Brasil obtiveram o privilégio da extraterritorialidade, de
maneira que os atos cometidos por ingleses no país seriam julgados por juízes
da Inglaterra. No que se refere à questão religiosa, os cultos protestantes
foram liberados no Brasil. Finalmente, este tratado deu liberdade aos ingleses
para criar casas de comércio e negociar livremente tanto os produtos
brasileiros no exterior, quanto as vendas de importados para o Brasil.
Como será visto nas próximas aulas, este foi um fator-chave para
o processo de acumulação de capital na cultura cafeeira,
principal produto de exportação do Brasil a partir
do início do século XIX.
Atividade 4
1 2
Repensando a abertura dos portos
Diante do quadro vivenciado pela colônia no início do século XIX, é possível afirmar
que a abertura dos portos representou a efetivação da independência econômica do
Brasil em relação a Portugal?
__________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
CEDERJ 61
Formação Econômica do Brasil | A crise da economia colonial no Brasil
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Resposta Comentada
Sim, pois o fim do exclusivo comercial intensificou as relações de comércio entre
o Brasil e a Inglaterra, redundando nos tratados de 1810, em que a Inglaterra
garantia vantagens absolutas sobre o resto do mundo, inclusive Portugal.
62 CEDERJ
Atividade 5
3
AULA
3 4
Características do processo de independência
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Resposta comentada
Os acontecimentos históricos na Europa, em especial o Bloqueio Continental, deter-
minando a vinda da corte para o Brasil, além dos interesses econômicos da Ingla-
terra, tiveram um peso relevante e precipitaram o processo de independência do
Brasil. Assim, o exclusivo colonial perdia totalmente o sentido de permanência.
A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
CEDERJ 63
Formação Econômica do Brasil | A crise da economia colonial no Brasil
A História a ser
aprendida
Por Alexandre Barbosa*
!
É preciso ficar claro que, mais que a roupa usada por
D. Pedro ou a circunstância em que aconteceu a proclama-
ção, o importante é a ausência do povo deste processo históri-
co. A independência do Brasil, ao contrário de outras nações, foi
um pacto de elite: o poder passou da Coroa Portuguesa para a aris-
tocracia criada por ela no Brasil. Não houve uma guerra de indepen-
dência. O processo não se rompeu. A escravidão não acabou, o Brasil
continuou dependente de Londres e tecnologicamente atrasado. A
historiografia não deve apenas criticar o quadro de Pedro Américo
como um embuste, mas deve apontar o processo de independên-
cia formal política de Portugal passando para dependência do
capital inglês, e também evidenciar que a Proclamação da
República, a queda de Vargas, o fim da Ditadura, tudo
não passou de pactos de elite.
(BARBOSA, 2005)
CONCLUSÃO
64 CEDERJ
Atividades Finais
3
AULA
1. “A economia mineira foi a mais propícia à formação de um mercado interno (...) De
fato, longe da costa, em alguns casos, compensava à atividade local suprir necessidades
antes satisfeitas pela importação” (LACERDA et al., 2001, p. 24).
______________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Resposta Comentada
A criação de um mercado interno mais significativo e, portanto, da formação de uma
elite econômica cujos interesses estavam mais focados na colônia, minou as bases
fundamentais do pacto colonial; as decisões de investir passaram a estar mais
focadas nos interesses internos da colônia.
CEDERJ 65
Formação Econômica do Brasil | A crise da economia colonial no Brasil
2. Imagine que você é o editor do jornal Trem da História, que relata os principais
acontecimentos dos períodos estudados no seu curso de Administração. Neste primeiro
número, você tem uma tarefa muito importante: organizar a primeira página do jornal.
O título principal é: As causas da independência do Brasil.
Você deve organizar as matérias de maneira que as mais importantes fiquem na parte
superior do jornal. Os temas que estiverem relacionados podem ficar próximos, para
facilitar a compreensão do leitor. Mãos à obra!
Notícia 1 Notícia 2
Notícia 3 Notícia 4
Notícia 5 Notícia 6
66 CEDERJ
3
Triunfo do povo em Paris
AULA
No dia 14 de julho de 1789, em Paris, os cidadãos franceses rebelaram-se contra o rei
Luís XVI. Os manifestantes tomaram a prisão política da Bastilha, símbolo da monarquia
francesa, reivindicando “liberdade, igualdade e fraternidade”. A família real foi capturada
enquanto tentava escapar do país, sofrendo julgamento público.
Outros baluartes da monarquia estão sendo perseguidos. Muitos nobres preparam sua
fuga para a Inglaterra ou outros países em que a monarquia subsiste.
Em agosto, a Assembléia Nacional promulgará a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão, contendo as orientações do novo governo.
CEDERJ 67
Formação Econômica do Brasil | A crise da economia colonial no Brasil
Temos a alegria de dar, por meio desta publicação, notícias muito alvissareiras. As atividades
de subsistência crescem e se diversificam na Terra de Santa Cruz. Pecuária, cotonicultura,
entre outras, ajudaram a interiorização do país. Com a ocupação do interior da colônia,
aumentam a produção e o mercado interno.
Com a independência dos agora denominados Estados Unidos da América, estão abalados
os alicerces do sistema colonial no continente.
Resposta Comentada
Como bom editor, você deve ter colocado lado a lado, fatores internos e externos. No
alto da sua primeira página, logo após o título, a revolução francesa pode ser uma boa
matéria, principalmente se colocada ao lado das revoltas internas na colônia. Afinal, a partir
dela surgiram os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade defendidos nas revoltas e
que, mais tarde, seriam os alicerces para justificar a independência. A independência dos
Estados Unidos e a chegada da família real ao Rio de Janeiro podem ficar logo abaixo,
já que foram importantes, respectivamente, para provar que libertar-se da metrópole
era possível, e para fazer crescer o desejo por autonomia comercial da colônia. Esta é a
base do conflito entre as elites locais – os portugueses que moravam no Brasil – e as da
metrópole, que buscavam o máximo de lucro para si.
A revolução industrial pode vir para “fechar” a página, já que teve como conseqüências,
entre outras, o aumento da produção e o desenvolvimento do capitalismo industrial,
origens do liberalismo econômico.
Com todos estes elementos, estava configurada a crise no sistema colonial e,
posteriormente, a independência política do Brasil em relação a Portugal.
68 CEDERJ
3
RESUMO
AULA
O crescimento da atividade econômica no interior da colônia brasileira
determinou o surgimento de um intenso conflito entre as elites locais e
a metrópole. O foco central deste embate era o pacto colonial. O esforço
de manutenção das bases do pacto através da política pombalina piorou
significativamente o quadro. A vinda da corte portuguesa e a maior dependência
da tutela inglesa causaram o rompimento definitivo do pacto colonial, situação
formalizada com a assinatura dos tratados com a Inglaterra.
CEDERJ 69
4
AULA
Economia cafeeira escravista
Meta da aula
Analisar as origens da economia cafeeira,
sua importância para a recuperação
econômica brasileira na primeira metade do
século XIX, bem como os limites do uso da
mão-de-obra escrava na produção.
objetivos
1
Reconhecer o papel fundamental do café na
recuperação da economia brasileira no início
do século XIX.
LIVRE CAMBISMO CAMBISMO, que estendeu a outros países as vantagens comerciais concedidas
Conjunto de medidas à Inglaterra quando da assinatura dos tratados comerciais – que você viu com
direcionadas
para a liberação mais detalhes na Aula 3.
do comércio
internacional – a
redução das tarifas
alfandegárias,
por exemplo.
72 CEDERJ
4
Você já ouviu falar na cidade de Colônia do Sacramento? Situada à margem direita do Rio da
Prata, em frente a Buenos Aires, foi fundada por portugueses e ingleses em 1680 por ordem de D.
AULA
Pedro I. Os objetivos do monarca eram estender seus domínios até o estuário do Prata e continuar
captando a prata peruana. A cidade, inicialmente domínio português, acabou ficando em poder
dos espanhóis a partir de 1750. Em http://www.seol.com.br/mneme/ed12/119.pdf, você pode obter
mais informações sobre a importância estratégica de Colônia do Sacramento.
CEDERJ 73
Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira escravista
Atividade 1
As contas do café 1
Tabela 4.1: participação relativa dos principais produtos de exportação no Brasil (%)
Repare, agora, nas taxas relacionadas ao açúcar e ao algodão, vistos nas aulas anteriores,
e compare-as ao que aconteceu com o café. O que você pode verificar? Lembre-se de
incluir, nas suas observações, o contexto histórico do século XIX.
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Resposta Comentada
Em apenas 70 anos (de 1821 a 1890), o café passou a representar 61,5% das
exportações brasileiras – uma participação de peso, você não acha? Enquanto
a cultura cafeeira não parava de crescer, as do algodão e da cana-de-açúcar
atravessavam uma grande crise, causada pela redução dos preços de revenda
no mercado internacional. Você consegue perceber a dupla importância do
café nesse contexto?
74 CEDERJ
O início da produção de café para exportação no Brasil se deu
4
no Vale do Paraíba. Tratava-se de uma região de condições climáticas
AULA
propícias para o cultivo desse produto, com terras abundantes para o
plantio (você vai ver este assunto com mais detalhes na Aula 7, fique
atento!). Ao mesmo tempo, havia recursos ociosos da área da mineração
(em franca decadência em Minas Gerais), tanto de capitais como de
mão-de-obra escrava.
É importante ressaltar que o Vale do Paraíba já vinha sendo
ocupado, por ser caminho natural da área de mineração para o Rio
de Janeiro, que era a capital e principal porto de escoamento das
exportações.
Desta forma, havia um claro interesse na ocupação e plantio
dessa área para abastecer a capital, principalmente após a vinda da
corte portuguesa para o país em 1808. Veja, na Figura 4.1, a região do
Vale do Paraíba e a proximidade entre o Rio de Janeiro, Minas Gerais
e São Paulo. Na próxima aula, você verá a importância dessa trajetória
natural de expansão da cultura de café.
Além disso, havia uma razão favorável para esta localização,
em função da ausência de meios de transporte capazes de garantir o
escoamento da produção a ser exportada a partir do porto do Rio de
Janeiro. O café era então transportado por mulas, disponíveis em grande
quantidade e bastante resistentes para a atividade.
Figura 4.1: O Vale do Paraíba. Observando este mapa, é possível constatar que a
proximidade de Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo é notável.
CEDERJ 75
Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira escravista
SESMARIAS
“Grandes extensões de terras devolutas pertencentes à Coroa portuguesa e que
eram doadas pelo monarca, ficando os beneficiados na obrigação de cultivá-las
num prazo de três anos, sob pena de revogação da doação, e de pagar a sesma
(daí o nome de sesmarias) ou um sexto do que nela viessem a produzir para a
Coroa. A instituição das sesmarias deveu-se a uma lei promulgada em 1375 por
D. Fernando I de Portugal e serviu para beneficiar a burguesia comercial nascente
que não possuía terras. Inicialmente, o beneficiário se obrigava de uma sexta parte
dos lucros obtidos nas terras das sesmaria. A instituição foi transferida para o
Brasil, onde assumiu forma mais abrangente com o estabelecimento da Capitanias
Hereditárias: as doações de sesmarias eram feitas aos colonos pelos donatários e
pelos governadores – gerais. O sistema, só extinto em julho de 1822, deu origem à
grande propriedade rural (latifúndio) no Brasil, beneficiando apenas uma pequena
parte dos habitantes da Colônia, e contribuiu para a concentração da propriedade
fundiária no Brasil” (SANDRONI, 2004, p. 555).
76 CEDERJ
Atividade 2
4
AULA
Café e ouro: atividades interdependentes? 2
Resposta Comentada
Apesar da elevação dos preços internacionais do café e da abundância de
terras no Vale do Paraíba, a produção de café na região não seria viável sem
os recursos ociosos da decadente atividade mineradora, com destaque para
a oferta de mão-de-obra escrava e de capitais. Afinal, o ouro encontrado no
país parecia estar se esgotando rapidamente, e toda a infra-estrutura montada
para encontrá-lo, purificá-lo e vendê-lo estava disponível.
CEDERJ 77
Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira escravista
!
A Lei Eusébio
de Queiroz, de 1850,
determinando o fim do
tráfico, reduziu drasticamente
a oferta de escravos. Nem isso,
entretanto, causou uma mudança
de postura dos cafeicultores do
Vale do Paraíba, que mantiveram
a prática de trazer negros
de outras regiões
brasileiras.
78 CEDERJ
O resultado foi que, ao final de 1877, cerca da metade dos escravos
4
do país estava nessa região. Observe, na Tabela 4.2, o crescimento do
AULA
número de escravos no Rio de Janeiro. Esse comportamento tinha
uma raiz claramente cultural, pois já vinham ocorrendo, desde 1845,
experiências com mão-de-obra imigrante (esse assunto será tratado com
mais detalhe na próxima aula). Na verdade, os produtores não foram
capazes de vislumbrar, até por questões ideológicas, a necessidade de
uma forma alternativa de trabalho, considerando a iminente escassez
de escravos após a extinção do tráfico.
Ano Número
1844 119.000
1877 370.000
CEDERJ 79
Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira escravista
Atividade 3
Vendo e aprendendo: café também é cultura 2
80 CEDERJ
4
AULA
Café, de Candido Portinari, 1935
1,30m x 1,95m. Óleo sobre tela.
Exposta no Museu Virtual da Administração
Resposta Comentada
Resposta comentada: Você reparou a quantidade de pessoas trabalhando? São
tantas que Portinari nos faz ter a impressão de que não cabem na tela. E o
tamanho do terreno? Parece não ter fim, não é mesmo? Assim era a produção
cafeeira no Brasil: em grandes extensões de terra (latifúndios), utilizando a
mão-de-bra escrava. Repare nas feições dos trabalhadores. Homens e mulheres
têm características físicas dos negros. Eram ainda os escravos, remanejados
de várias partes do país.
Viu que não existem outros tipos de plantação ao redor? A monocultura
também era outro traço marcante da produção cafeeira da época.
CEDERJ 81
Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira escravista
CONCLUSÃO
82 CEDERJ
Atividade Final
4
AULA
Contradições da economia cafeeira 1 2
Imagine que você está arrumando sua prateleira para colocar seus livros de
Administração. Você tem de tirar do lugar materiais antigos, álbuns, coisas de que
você nem se lembrava...
De repente, cai no chão um álbum antigo. Quando você vai olhar, descobre que ele
pertencia aos seus bisavós. Ao pegá-lo, cai um recorte de jornal. Ele está envelhecido,
mal se pode ler o que ele contém. A data? 18... Tomado pela curiosidade, você começa
a ler. O único trecho legível é:
Que coincidência, não? Justo o que você estudou nesta aula. Já que você acabou de
ver este assunto em detalhes, é uma hora propícia para perguntar se você concorda
com essa afirmação.
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Resposta Comentada
Refeito do susto provocado pela grande coincidência – há quem diga que o acaso não
existe, principalmente nas suas aulas de FEB –, você deve ter concordado com o que se
disse no texto que você encontrou. Dois motivos contribuem, fundamentalmente, para
esse raciocínio. Primeiro, de maneira mais direta, a pouca especialização do escravo
para a lavoura cafeeira determinava o uso de técnicas precárias. Segundo, a reduzida
necessidade de buscar uma alternativa de mão-de-obra aos escravos, pois havia a
possibilidade de trazê-la de regiões onde se encontrava ociosa – mesmo após o
fim do tráfico negreiro – primeiro de Minas e depois do Nordeste.
CEDERJ 83
Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira escravista
RESUMO
84 CEDERJ
5
AULA
Economia cafeeira
com trabalho livre
Meta da aula
Descrever o início da utilização de mão-de-obra livre na
lavoura cafeeira do Brasil no final do século XIX.
objetivos
86 CEDERJ
associado à inevitável escassez de escravos – e da
5
necessidade de uma alternativa. Alguns eventos (veja na
AULA
Atividade 1) prenunciavam a Abolição da Escravatura;
(c) a coincidência de sua expansão com um forte crescimento
dos investimentos britânicos na América Latina, em
particular na construção de ferrovias. Esses investimentos
permitiram uma sensível redução dos custos de transporte
dos produtos para exportação (veja na Tabela 5.1 a
enorme expansão da malha ferroviária no Brasil a partir
da segunda metade do século XIX);
(d) o aumento da população dos Estados Unidos, provo-
cado pela grande imigração que houve para esse país.
Os norte-americanos passaram a importar muito,
incrementando significativamente o mercado para as
exportações brasileiras. Os Estados Unidos chegaram
a ser responsáveis por cerca de 60% das compras
internacionais do café brasileiro;
(e) a garantia, por parte do empreendimento cafeeiro
concentrado nessa região, das condições básicas para o
nascimento de uma nova classe, assentada em relações de
produção tipicamente capitalistas e capazes de organizar
com maior desembaraço seus interesses políticos e
econômicos, cujo papel consolidou-se na República
Velha, como você verá na próxima aula.
!
Abolição da Escravatura
Em 1888, foi abolida a escravidão no Brasil. As
conseqüências econômicas deste ato logo se fizeram sentir
na economia e na política nacional. No texto a seguir, você terá mais
detalhes sobre o tema.
“Dois conceitos históricos são entendidos por abolição da escravatura: o conjunto de
manobras sociais e políticas empreendidas entre o período de 1870 a 1888 em prol da
libertação dos escravos e a própria promulgação da Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel
em 13 de maio de 1888, promovendo a oficialização da abolição do regime escravista.
(...) a mão-de-obra proveniente das novas correntes imigratórias passou a ser empregada.
Os negros, por um lado libertos, não possuíam instrução educacional ou a especialização
profissional que passou a ser exigida, decorrendo desses aspectos a permanência dos
negros à margem da sociedade frente à falta de oportunidades a eles oferecidas.
A liberdade dada aos negros anteriormente escravizados é relativa: embora
não mais escravizados, nenhuma estrutura que garantisse a ascensão
social ou a cidadania dos negros foi oferecida.”
Fonte: http://www.historiaonline.pro.br/
historia/abolicao.htm
CEDERJ 87
Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira com trabalho livre
Tabela 5.2: Vinda de imigrantes para o Brasil por nacionalidade e períodos selecionados
88 CEDERJ
Atividade 1
5
AULA
Tabela 1
1
Escravidão e imigração no Brasil
Analise os dois fragmentos a seguir:
De acordo com estes dois fragmentos, o que você pode concluir sobre as razões que
motivaram a política brasileira de estímulo à imigração? Aborde em sua resposta:
a. as condições favoráveis ao processo (proporcionadas pelo governo);
b. a necessidade que seria sanada pela vinda dos estrangeiros;
c. o porquê da existência desta necessidade.
_______________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
Resposta Comentada
Contexto: No Brasil do século XIX, pressionado pelo poderio do governo inglês,
a escravatura se tornou uma situação insustentável. O mundo precisava a cada dia
mais de novos mercados consumidores, em decorrência do sucesso da Revolução
Industrial. A mão-de-obra assalariada, nesse contexto, se tornava muito
mais interessante do que a escrava.
CEDERJ 89
Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira com trabalho livre
Você deve ter escrito em sua resposta que havia muitos indícios para o
final da escravidão e, ao mesmo tempo, “pistas” de que haveria uma crise
econômica gerada pela falta de mão-de-obra para o trabalho nas lavouras.
O café, base da economia brasileira a partir da segunda metade do século
XIX, mostrava franca expansão em decorrência da qualidade do solo de terra
roxa para o plantio deste grão.
A Europa, passava nesse período por uma série de crises que amedrontavam
a população de seus países. Foi neste contexto que o Brasil começou não só a
acolher, mas a estimular a vinda de estrangeiros para nossas terras, para que
eles trabalhassem como empregados dos grandes latifúndios cafeeiros.
Isso aumentou ainda mais a produção cafeeira, que tinha à sua disposição formas
eficientes de escoamento: a malha ferroviária, que permitia maior acesso a zonas
portuárias, principalmente a santista.
90 CEDERJ
O OESTE VELHO PAULISTA: O SISTEMA DE PARCERIA
5
AULA
O ano de 1845 marca a primeira experiência de utilização da
mão-de-obra de imigrantes na monocultura exportadora do café, na
fazenda Ibicaba, do SENADOR NICOLAU VERGUEIRO, sob a forma de parceria. SSEENNAADDOORR
NNIICCOOLLAAUU
A princípio, o Senador Vergueiro exaltava as qualidades físicas e técnicas
V
V E RRGGUUEEIIRROO
E
dos imigrantes como um fator-chave para sua “importação” da Europa, (1778-1859)
(1778-1859)
em um momento de crescentes dificuldades para a compra e utilização Nasceu em
Nasceu em Portugal
Portugal
ee veio
veio para
para oo Brasil
Brasil
de escravos. com 25
com 25 anos,
anos, época
época
em que
em que começou
começou
O sistema consistia de uma proposta divulgada na Europa por
aa trabalhar
trabalhar como
como
agentes contratados por Vergueiro visando contratar trabalhadores advogado. Tornou-se
advogado. Tornou-se
político ee latifundiário
político latifundiário
dispostos ao serviço na lavoura, recebendo em troca lotes de pés de alguns anos
alguns anos depois,
depois,
dono de
dono de uma
uma empresa
empresa
café adultos – preparados, portanto, para a produção. Metade do valor chamada “Vergueiro
“Vergueiro
chamada
da colheita (cotas de pagamento) seria dos imigrantes, logicamente e eCia.”.
Cia”. Essa
Esta empresa
empresa
firmava firmava contratos
contratos com
após a dedução dos custos de transporte, impostos e comissões – daí a com estrangeiros
estrangeiros para para
que
que eles
eles viessem
viessem para
para o
definição de parceria. Ao trabalhador caberia ainda a exploração de lotes o Brasil
Brasil trabalhar
trabalhar na
de subsistência – e, se houvesse excedentes, seriam também repartidos lavoura.na Oslavoura.
imigrantes Os
eram imigrantes
convencidos eram
de
com o proprietário. Apesar do conceito de parceria, todo o processo de que convencidos
teriam terradepara que
teriam terra
cultivar para
produtos
comercialização e contabilidade ficava a cargo do proprietário. que cultivar produtos
lhes retornariam
que lhes retornariam
subsistência e lucro.
No entanto, o que acontecia era uma situação completamente
Osubsistência
Senador Vergueiroe lucro.
distinta daquela apregoada pelos agentes de Vergueiro no recrutamento O senador foi o Vergueiro
principal
foi o principal
personagem do
dos imigrantes na Europa. Começava pelas péssimas condições do traslado. sistema personagem
de parceria,do
sistema de parceria,
realizado na sua
Muitos imigrantes morreram antes de chegar ao Brasil, devido à falta de que executava na sua
fazenda (Ibicaba), em
higiene, que proporcionava o desenvolvimento de uma série de doenças. fazenda (Ibicaba),
Limeira, SP.em
CEDERJ 91
Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira com trabalho livre
Atividade 2
Imigrantes 3
Aqueles que estão bem na Itália, como vocês meus filhos, não devem deixá-la,
digo-lhes isto como pai (...). Não acreditem naqueles que falam bem da América (...).
É preferível estar numa prisão na Itália do que numa fazenda aqui.
Zuleika Alvim, Brava Gente
De acordo com o que você leu até agora nesta aula, liste três razões que contribuíram
para o fracasso do sistema de parceria:
_______________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
Resposta Comentada
Você pode ter mencionado em sua resposta que as péssimas condições de
transporte foram um fator de descontentamento para os imigrantes. Além deste,
os estrangeiros não encontraram, por ocasião de sua chegada, nada do que lhes
havia sido prometido: não havia terras para que eles cultivassem seu próprio café,
e sim muito trabalho na lavoura do fazendeiro. Estes imigrantes nunca alcançariam
suas expectativas, pois deviam enormes somas em dinheiro ao proprietário da
fazenda, devido aos altos custos da viagem. Some-se a isso o fato de que os
imigrantes precisavam fazer compras no armazém da fazenda, onde os produtos
tinham preços a sabor da vontade do latifundiário, as dívidas só aumentavam
e o trabalho passava a ser um regime de semi-escravidão, como você verá
a seguir nesta aula.
92 CEDERJ
SISTEMA DE PARCERIA: A ESCRAVIDÃO DISFARÇADA E
5
SEUS LIMITES
AULA
O grande problema do sistema de parceria dizia respeito à
relação fazendeiros/colonos, que era na verdade uma continuação das
condições de escravidão nas bases do trabalho e do nível de vida. Não
houve uma mudança ideológica por parte dos fazendeiros no que se
refere ao trabalho: consideravam e tratavam os imigrantes realmente
como escravos. Para isso, utilizavam má-fé nos contratos, já altamente
desvantajosos para os imigrantes, de maneira que a insatisfação tornava-se
crescente tanto para os colonos quanto para os fazendeiros.
Da parte dos colonos, a insatisfação era óbvia. Do sonho de uma vida
melhor, com novas perspectivas de realizações, idéia fartamente divulgada
na Europa no momento de seu recrutamento, passavam a uma realidade
absolutamente distinta. As cláusulas contratuais, em realidade, prendiam os
imigrantes à fazenda eternamente, sob rigoroso controle e supervisão dos
fazendeiros – como era a função dos capatazes para os escravos africanos.
Diversos direitos do colono, mesmo previstos em contrato, eram suprimidos
sem qualquer pudor. Como exemplo, sair da fazenda e receber visitas
eram atividades proibidas. A moradia dos imigrantes era, em geral, uma
“adaptação” das antigas instalações das senzalas.
Os fazendeiros impunham ainda rigorosas punições aos colonos, sob
a argumentação de vadiagem, embriaguez e outras situações semelhantes.
Tudo isso apoiado em uma situação de endividamento eterno dos imigrantes
junto aos patrões fazendeiros – à custa de manipulação desonesta dos livros
de contabilidade da fazenda, práticas de subfaturamento da produção e
até aumento indiscriminado da dívida registrada.
Pelo lado dos fazendeiros, havia uma insatisfação cultural e
ideológica. Acostumados com o trabalho escravo, que lhes caracterizava
uma propriedade, não toleravam o aparecimento de questões trabalhistas,
que causavam deserções e greves organizadas por camadas de imigrantes
mais esclarecidos, em particular os italianos. Somava-se a isso o início da
queda de receita de exportação, determinada, sobretudo, pelo substancial
aumento da produção no Brasil – maior exportador mundial do produto.
Para os fazendeiros, os colonos representavam a ralé da população dos
países de origem, gente desordeira e pouco afeita ao trabalho – como os
escravos, mas agora disfarçados na pele branca. Tratava-se, portanto,
de uma situação insustentável.
CEDERJ 93
Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira com trabalho livre
?
O preço de um produto
é baseado na relação entre disponi-
bilidade e procura deste produto (lei da oferta e
demanda). Se há muita procura de um determinado produto
escasso, este normalmente se torna mais caro. Ao contrário, se um
produto está disponível em grandes quantidades, em geral seu preço
cai, pois há mais mercadoria à venda do que consumidores para ela.
Houve um momento da história da comercialização do café como base
da economia brasileira (como você verá mais à frente) em que isso
aconteceu. A eficiência na produção e a dificuldade de venda do
produto fizeram com que enormes quantidades de café
tivessem que ser incineradas, na tentativa de manter
o preço da mercadoria em alta.
94 CEDERJ
Além da criação de uma forma de pagamento direto ao colono, pelo
5
menos em parte do total que era devido pelo seu trabalho na lavoura, o
AULA
fazendeiro foi obrigado a arcar com despesas de viagens e do primeiro
ano de trabalho. Também era concedida ao imigrante uma fatia de terra
para o plantio de artigos para subsistência.
Um passo fundamental para a dinamização do sistema de
colonato foi a utilização do governo da província de São Paulo para
custear o transporte para o Brasil, além da instalação dos estrangeiros. O
governo paulista participava diretamente na contratação de imigrantes,
principalmente através da Sociedade Promotora de Imigração, em 1886,
por iniciativa de ANTÔNIO DE QUEIROZ TELLES, o conde de Parnaíba. Nesse ANNTTÔÔNNIIOO DDEE
A
QUUEEIIRROOZZ TTEELLLLEESS
Q
período, o contingente mais importante da imigração era de italianos
(1831-1888)
(1831-1888)
(cerca de 510.000, entre 1884 e 1893), vindos principalmente devido Bacharel
Bacharelem emdireito
Direitoe
ao violento processo de unificação da Itália. cafeicultor. Presidiu
e cafeicultor. Presidiu
aa província
Província de de São
São
Foram gastas pelo governo, a título de subsídios para a vinda Paulo, onde
Paulo, onde teve
teve
especial importância
especial importância
destes imigrantes, aproximadamente 1.600.000 libras esterlinas. Os na época
na época dodo sistema
sistema
resultados foram altamente satisfatórios. No último quartel do século dede colonato.
colonato. Ficou
Ficou
conhecido também
conhecido também
XIX, algo em torno de 800 mil imigrantes entraram no Brasil para a como Apóstolo
como Apóstolo
da Imigração
da Imigração
produção de café, garantindo definitivamente as condições básicas do Italiana. Trabalhou
Italiana. Trabalhou
arduamente para
arduamente para aa
crescimento de sua produção.
implantação de
implantação de uma
uma
A atividade a seguir vai auxiliá-lo a diferenciar o sistema de ferrovia que
ferrovia que ligasse
ligasse
Jundiaí –– grande
Jundiaí grande
colonato do sistema de parceria. pólo de
pólo de produção
produção de de
café da
café da época
época –– aoao
Porto de
porto de Santos.
Santos.
Atividade 3
2
CEDERJ 95
Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira com trabalho livre
Resposta Comentada
Ao contrário do sistema de parceria, o colonato não impunha condições de vida
tão degradantes aos imigrantes para a atividade produtiva. O financiamento
de sua vinda pelo Estado e a possibilidade de manter aceso o sonho de
progredir em uma terra nova favoreceram fortemente o aumento do fluxo de
imigrantes para o país.
No sistema de parceria, o imigrante arcava com todos os custos da viagem e
estadia, acumulando uma dívida praticamente impagável, e sofria com condições
de vida extremamente precárias, o que determinou um fim muito rápido para
sua utilização.
No colonato, com a participação do Estado no financiamento do fluxo migratório,
aliada a um processo mais geral de imigração européia para o resto do mundo, a
imigração encontrou condições bem mais favoráveis para deslanchar.
CONCLUSÃO
96 CEDERJ
Atividade Final
5
AULA
A atividade final é um pouco diferente das atividades que você realizou até então
na disciplina Formação Econômica do Brasil. Você não precisará de papel e nem de
caneta para executá-la, mas tenha em mente sua relevância: fazê-lo reconhecer a
importância da entrada dos imigrantes como mão-de-obra para a lavoura, o que foi
nossa meta para esta aula. Gaste com esta atividade, ao menos, dois minutos. Pare e
pense antes de passar à leitura do comentário!
Propomos que, neste momento, você reflita sobre o que teria acontecido à economia
nacional daquela época se não tivesse ocorrido a entrada de um enorme contingente
de imigrantes para trabalhar na lavoura de café. Mais ainda, propomos que você
pense em que conseqüências poderíamos vivenciar atualmente se o café não tivesse
sustentado nosso país durante mais de meio século.
Comentário
Desde que o Brasil foi descoberto, parte expressiva de seus recursos (quer para a metrópole
portuguesa, quer para a pátria independente) foi gerada a partir da exportação de
produtos do setor primário. Houve exploração do pau-brasil, cana-de-açúcar, ouro, café.
O esgotamento de um determinado produto levava à busca de um novo que rendesse
o sustento da economia (metropolitana ou nacional).
A impossibilidade de produzir o café por falta de mão-de-obra numa época em que esta
mercadoria era tão valorizada no mercado internacional decerto promoveria uma
alteração muito grande nas trilhas seguidas pela nossa economia.
RESUMO
CEDERJ 97
Políticas de sustentação
AULA
da renda da cafeicultura
na República Velha
Meta da aula
Apresentar a evolução da política econômica
brasileira no período da República Velha,
destacando sua estreita associação com os
interesses da cafeicultura.
objetivos
Pré-requisitos
A Aula 5 trata da organização e
implantação da cafeicultura na Província
de São Paulo. Os fatores envolvidos nesse
processo são essenciais para esta aula.
Por isso, você deve relembrá-los
antes de iniciar o seu estudo.
Formação Econômica do Brasil | Políticas de sustentação da renda da cafeicultura
na República Velha
100 C E D E R J
A grande entrada de mão-de-obra imigrante garantiu a manutenção de taxas
6
salariais em um nível bastante reduzido. Como mão-de-obra é um dos principais
AULA
determinantes do preço de um produto, foi possível haver aumento da produção
sem aumento associado dos custos médios. Dessa forma, a cafeicultura
experimentou grande aumento na acumulação de capital, persistindo, em
conseqüência, o aumento sistemático da produção.
!
Quando falamos de mão-
de-obra, se há muitos funcionários
disponíveis, eles competem pelo emprego. Os
contratadores podem, então, oferecer salários mais
baixos, que serão certamente aceitos por alguns dos candidatos
ao posto. Por esse motivo, o grande número de imigrantes
(que chegavam ao Brasil sem ter onde morar e em que
trabalhar) teve, como conseqüência, a redução dos
salários pagos pelo cultivo do café.
C E D E R J 101
Formação Econômica do Brasil | Políticas de sustentação da renda da cafeicultura
na República Velha
Taxa de câmbio e
mercado cambial
Antes de entender o que significam estes
dois conceitos, você precisa ter em mente que
as transações financeiras e comerciais entre países
diferentes sempre acontecem usando uma moeda como
referência.
Nos dias de hoje, o dólar é esta moeda, por ser o dinheiro do país
!
economicamente mais forte do mundo, os EUA. Na época da Primeira
República, as negociações aconteciam em libras, pois estas eram (e ainda
são) a moeda da Inglaterra.
Taxa de câmbio é o valor da moeda nacional em relação a uma moeda estrangeira
(quantos reais custa um dólar, por exemplo). Ela é determinada, fundamentalmente,
pelas transações de compra e venda de moeda estrangeira, que acontecem em um
“ambiente virtual”, o mercado de câmbio. Os agentes envolvidos neste mercado são,
em geral, demandantes e ofertantes de moeda estrangeira. As fontes de demanda por
moeda estrangeira são:
• gastos com importações de bens e serviços;
• pagamentos de dívidas contraídas anteriormente com outros países;
• remessas de lucros para matriz de empresa multinacional;
• aplicações financeiras no exterior.
Já a oferta de moeda estrangeira caracteriza-se por:
• receitas de exportação de bens e serviços;
• dívidas contraídas;
• rendas recebidas;
• aplicações financeiras de estrangeiros no Brasil.
Mas o maior e mais importante ator desse mercado é o Banco Central (suas origens e atribuições
serão vistas na Aula 14). O Banco Central é o gestor da política cambial, pois aumenta ou diminui
a oferta de moeda estrangeira, podendo controlar, por esse mecanismo de oferta e procura, as
taxas de câmbio. Suas principais atribuições no mercado de câmbio são:
• a regulamentação do mercado cambial;
• a aplicação de medidas relativas ao regime cambial (fixo ou flutuante) definidas pela
política governamental.
Uma desvalorização da taxa de câmbio representa o aumento do preço da moeda
estrangeira, encarecendo os produtos importados e aumentando as receitas de
exportações em moeda nacional. Ao contrário, uma valorização cambial reduz o preço
da moeda estrangeira e, conseqüentemente, o preço pago por produtos importados
– ao mesmo tempo que diminui as receitas de exportações em moeda nacional.
O principal instrumento de análise dos efeitos das operações no mercado cambial
para o país é o Balanço de Pagamentos. Nesse balanço, são registradas todas
as operações realizadas entre empresas ou pessoas residentes em um país
e aquelas não residentes. É uma razão entre as operações de bens e
serviços (transações correntes) e as de natureza financeira (conta
de capital e conta financeira). Tem importância fundamental
para a organização das transações de um país com o
resto do mundo, permitindo a análise da situação
externa do país e um controle maior dessas
transações.
102 C E D E R J
A partir de 1891, no entanto, o contínuo avanço da produção
6
entrou em descompasso com o crescimento do mercado externo,
AULA
principalmente após o início da prolongada crise econômica que passou
a assolar a economia norte-americana em 1893 (sentida, pelo menos,
até meados de 1897).
Nosso país produzia mais café (aumentava a oferta) e não havia
resposta da economia mundial na mesma medida. Houve uma queda
sensível do preço internacional do café, revertendo a tendência de alta
dos preços até então registrada, determinando uma redução da receita
das exportações. Cabe destacar que o Brasil, àquela altura, dependia
fortemente das receitas em moeda estrangeira oriundas das vendas
externas do café, nosso principal produto de exportação desde a metade
do século XIX.
Em decorrência da queda de preços do café, o Balanço de
Pagamentos sofreu um impacto importante, promovendo mudanças na
condução da política econômica do Brasil. Esse movimento provocou o
início de um ciclo de desvalorização da taxa de câmbio que marcou de
maneira expressiva os primeiros anos da República Velha.
!
A queda do preço do
café representou um grande
impacto na economia brasileira do século
XIX. Um dos problemas associados a essa queda
do preço é o que chamamos inelasticidade-preço da
demanda por café. Uma queda de preço não implica
aumento proporcional da demanda pelo produto. Ou
seja, estar mais barato não fará com que as vendas do
café aumentem de forma a manter a receita constante,
independentemente da quantidade de produto
negociada. Do mesmo modo, o aumento
do preço não reduz seu mercado na
mesma proporção.
C E D E R J 103
Formação Econômica do Brasil | Políticas de sustentação da renda da cafeicultura
na República Velha
p p
Aumento dos Desvalo- Redução da Queda da receita
preços internos e da rização oferta de moeda de exportações
receita em moeda cambial estrangeira do café
p
p
p
nacional no Brasil
Figura 6.1: O processo de manutenção das receitas dos produtores e exportadores de café.
104 C E D E R J
Observe a Tabela 6.1. O que está acontecendo com os preços
6
externos em relação aos preços internos?
AULA
Tabela 6.1: Índice de preços internacionais (externos)
e internos do café (1889 =100)
1898 41 163
Atividade 1
Crise de superprodução do café 1
Analise as informações a seguir:
a. A exportação do café sustentou a economia brasileira durante o final do Segundo
Reinado e início da Primeira República. A alta mundial dos preços estimulou o aumento
da produção. A alta mundial da oferta reduziu os preços internacionais do café (veja
novamente a Tabela 6.1).
b. A redução dos preços do café no cenário econômico internacional demandou, do
governo brasileiro, medidas que protegessem os cafeicultores da falência, que envolveram
o ajuste das taxas de câmbio.
Com base nessas duas afirmações e no que você leu até agora nesta aula, como você
explicaria a frase: “A desvalorização cambial sustentou a renda dos cafeicultores no final
do século XIX.”
C E D E R J 105
Formação Econômica do Brasil | Políticas de sustentação da renda da cafeicultura
na República Velha
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Resposta Comentada
O café experimentou uma crise de superprodução no final do século XIX. Isso fez
com que os preços despencassem no cenário internacional. Para conter a onda de
falências que aconteceria caso essa queda fosse repassada para os cafeicultores,
o governo brasileiro adotou uma política de desvalorização cambial. Isso significou
reduzir o valor da nossa moeda em relação à libra, a fim de manter elevada a renda
dos cafeicultores em moeda local.
A desvalorização do câmbio fazia os preços do café aumentarem em moeda nacional,
embora estivesse ocorrendo uma rápida queda dos preços internacionais. Dessa
forma, os cafeicultores recebiam uma remuneração maior em mil-réis, mesmo com
a redução do preço no mercado internacional.
de produtos importados
com moeda nacional
Necessidade de
p
da produção do café
106 C E D E R J
Tabela
De maneira mais dramática em curto e médio prazos, a
6
desvalorização cambial afetava também as finanças públicas. A redução
AULA
nas importações diminuía sistematicamente a receita do governo, que
tinha nas arrecadações de impostos sobre os produtos importados sua
maior fonte.
O fim da TARIFA-OURO aplicada sobre as importações em 1891 TA R I F A - O U R O
Imposto cobrado pelo
agravava esse quadro, corroendo a capacidade de arrecadação do governo em ouro.
Estado. Ao mesmo tempo, a maior fonte de financiamento público Este procedimento
evitava que o governo
era o endividamento externo, cujo pagamento é efetivado em moeda perdesse dinheiro
na troca de moeda,
estrangeira – a desvalorização cambial implicava, portanto, aumento aumentando as
das necessidades de gasto do governo. reservas do Estado.
Além disso, por
Sustentar por muito tempo essa situação poderia levar as finanças se manter à parte
do mercado de
públicas à bancarrota, pois a possibilidade de obter novos empréstimos câmbio, minimizava
a especulação em
externos reduzia-se à medida que as receitas de exportações caíam. Quanto
cima das trocas de
menor a entrada de moeda estrangeira no país, maior o risco de não pagar moedas, evitando,
por conseqüência, o
as dívidas e, obviamente, menor a oferta de novos empréstimos. aumento do preço de
moeda estrangeira
no país. No governo
de Campos Sales,
O GOVERNO CAMPOS SALES (1898-1902) E O esta tarifa foi
“SANEAMENTO MONETÁRIO” DE JOAQUIM MURTINHO instituída (1901)
por seu ministro da
Quando a República foi proclamada, instaurou-se um governo Fazenda, Joaquim
Murtinho, e começou
provisório, comandado pelo marechal Deodoro da Fonseca. Deodoro se representando
10% do valor da
manteve no poder até novembro de 1891, quando tentou dar um golpe mercadoria. Pouco
tempo depois, já
de Estado e dissolver o Congresso. A campanha legalista de Floriano
significava 25%.
Peixoto, outro militar, derrotou as pretensões de Deodoro colocando
Floriano Peixoto no poder, o que prolongou até 1894 a República da
Espada.
Figura 6.3: Marechal Manoel Deodoro da Fonseca, Figura 6.4: Marechal Floriano Vieira Peixoto,
presidente do Brasil no período presidente do Brasil no período
de 15/11/1889 a 23/11/1891. de 23/11/1891 a 15/11/1894.
C E D E R J 107
Formação Econômica do Brasil | Políticas de sustentação da renda da cafeicultura
na República Velha
Figura 6.5: Prudente José de Moraes e Barros, Figura 6.6: Manoel Ferraz de Campos Sales,
presidente do Brasil no período presidente do Brasil no período
de 15/11/1894 a 15/11/1898. de 15/11/1898 a 15/11/1902.
108 C E D E R J
O objetivo principal da nova política econômica era bastante
6
claro: definir uma trajetória de saneamento monetário capaz de impor
AULA
uma inversão dos movimentos da taxa cambial, permitindo a valorização
da moeda nacional. Por trás disso estava o firme propósito de garantir
condições para o pagamento da dívida externa consolidada no início
do governo.
Para isso, o governo empreendeu esforços significativos buscando
a redução do déficit e a retirada de circulação de moeda no valor
equivalente à dívida a ser paga (de acordo com a taxa cambial definida na
época). Havia ainda a necessidade de depositar esse montante em bancos
estrangeiros predeterminados no acordo firmado com os credores.
Do ponto de vista fiscal, foi novamente aplicada a tarifa-ouro
para as compras de importados, o que garantia para o governo uma
receita em moeda estrangeira. Esta tarifa sofreu aumentos importantes
a partir de 1900.
Os efeitos dessa política foram bastante sentidos pela população,
com destaque para uma pesada diminuição do nível de atividade
econômica decorrente de uma forte retração da oferta de moeda e crédito
e da DEFLAÇÃO associada a essa retração (cerca de 30%). DEFLAÇÃO
Em conseqüência, o câmbio foi efetivamente valorizado e mantido Ao contrário da
inflação, uma
sob controle durante a vigência dessas medidas de política econômica. deflação significa
uma queda do índice
Em contrapartida, a economia brasileira acabou sofrendo os efeitos dessa geral de preços de
política com o PÂNICO BANCÁRIO NO RIO DE JANEIRO EM 1900 (dada a retração um país, geralmente
associada a uma
da oferta de moeda) e uma importante recessão – afetando os negócios retração do nível de
atividade econômica.
em geral e, particularmente, os cafeicultores, que pressionavam para
uma mudança nos rumos da política adotada.
C E D E R J 109
Formação Econômica do Brasil | Políticas de sustentação da renda da cafeicultura
na República Velha
Atividade 2
Até aqui tudo bem? 1
Analise as afirmativas a seguir. Qual (quais) dela(s) é (são) verdadeira(s)?
I – No final do século XIX, os altos preços atingidos pelo café no mercado internacional
estimularam o crescimento das lavouras deste produto. A superprodução teve como
conseqüência a queda dos preços nos mercados consumidores.
II – Em resposta à desvalorização do café, o governo valorizou seguidamente a moeda
brasileira: embora o café rendesse menos em moeda estrangeira, a moeda nacional
passou a valer mais, e os cafeicultores tiveram seu poder de compra de produtos
internacionais aumentado.
III – O aumento no poder de compra de produtos internacionais por parte dos
cafeicultores fez com que estes consumissem mais produtos importados. Essa atitude
diminuiu o ritmo da economia nacional que, para ser novamente movimentada, recebeu
uma injeção de fundos do governo Campos Sales. Este presidente obteve recursos através
do Funding Loan, um empréstimo feito com credores internacionais. Além disso, Campos
Sales aumentou as tarifas sobre os produtos importados a fim de reduzir o consumo
destes e privilegiar a produção (ainda pequena) nacional.
IV – A desvalorização do café no cenário internacional exigiu uma desvalorização cambial, a
fim de manter alta a renda dos cafeicultores em moeda nacional. Por causa dessa medida
econômica, o poder de compra de produtos importados ficou prejudicado, gerando uma
crise econômica. Na tentativa de resolver este problema, o então presidente Campos Sales
assinou o Funding Loan, um empréstimo feito com credores internacionais. Além disso,
ele aumentou as tarifas sobre os produtos importados com o objetivo de aumentar a
receita do governo em moeda estrangeira e arcar com os custos da dívida externa e dos
juros gerados por ela.
V – O alto poder de compra dos cafeicultores no cenário internacional promoveu uma
baixa de moeda nacional (que era trocada por moeda estrangeira para a compra de
produtos). Esta diminuição na quantidade de dinheiro circulante teve, como conseqüência,
a estabilização da taxa de câmbio.
VI – Campos Sales retirou moeda nacional de circulação, com o intuito de cumprir os
termos do pacto assinado com credores internacionais e numa tentativa de estabilizar as
taxas de câmbio.
Marque aqui as respostas que você considera verdadeiras:
( )I
( ) II
( ) III
( ) IV
( )V
( ) VI
110 C E D E R J
6
Resposta Comentada
AULA
As opções corretas são I, IV e VI.
As opções erradas estão listadas a seguir, com os trechos que as tornam
falsas em negrito:
II – Em resposta à desvalorização do café, o governo valorizou seguidamente
a moeda brasileira: embora o café rendesse menos em moeda estrangeira,
a moeda nacional passou a valer mais, e os cafeicultores tiveram seu poder
de compra de produtos internacionais aumentado.
III – O aumento no poder de compra de produtos internacionais por parte dos
cafeicultores fez com que estes consumissem mais produtos importados. Essa
atitude diminuiu o ritmo da economia nacional que, para ser novamente
movimentada, recebeu uma injeção de fundos do governo Campos Sales.
Este presidente obteve recursos através do Funding Loan, um empréstimo feito
com credores internacionais. Além disso, Campos Sales aumentou as tarifas sobre
os produtos importados a fim de reduzir o consumo destes e privilegiar a
produção (ainda pequena) nacional.
V – O alto poder de compra dos cafeicultores no cenário internacional promoveu
uma baixa de moeda nacional (que era trocada por moeda estrangeira para
compra de produtos). Esta diminuição na quantidade de dinheiro circulante teve,
como conseqüência, a estabilização da taxa de câmbio.
C E D E R J 111
Formação Econômica do Brasil | Políticas de sustentação da renda da cafeicultura
na República Velha
C AIXA DE (c) o gasto com a compra do excedente de café seria coberto pela
CONVERSÃO criação de um imposto em ouro aplicado a cada saca exportada
Instrumento utilizado de café;
para a estabilização
da taxa cambial.
(d) um fundo seria criado para estabilizar a taxa de câmbio,
Funcionava emitindo
bilhetes que eram impedindo sua constante valorização – que funcionaria na
garantidos por
lastro (reserva de forma de uma CAIXA DE CONVERSÃO;
garantia) em moedas
de ouro nacionais ou (e) seriam tomadas medidas para desencorajar a expansão
estrangeiras, como o das lavouras no longo prazo, como a definição de taxas
dólar e a libra, por
exemplo. Essa conversão proibitivas.
tinha uma paridade
fixa e predeterminada, Essas medidas mudariam significativamente a orientação da
impedindo valorização política econômica do país no que diz respeito às exportações de café.
ou desvalorização
cambial. Foi criada no O Convênio de Taubaté determinou, nesse sentido, a institucionalização
governo Campos Sales
exatamente para impedir da prática de controle de estoques para regular o preço internacional,
uma maior valorização
do mil-réis. artifício permitido pela enorme parcela do mercado internacional
ocupada pela produção brasileira.
112 C E D E R J
Todavia, apesar do sucesso alcançado na estabilização dos preços
6
internacionais, a prática acabou induzindo uma forte concentração na
AULA
atividade cafeeira. Os maiores lucros acabaram direcionados para os
operadores do mercado financeiro, com destaque para os banqueiros
internacionais e as casas comissárias, que compravam o produto na
baixa e vendiam na alta.
Os banqueiros internacionais, inclusive, passaram a dominar
o comércio do café, credenciados pela dívida externa crescente, e
adquiriram grandes fazendas dos produtores nacionais.
Além disso, a manutenção de altos preços e da receita de expor-
tação inviabilizava qualquer tentativa de desestimular o crescimento das
lavouras, tornando o problema insolúvel no longo prazo.
Atividade 3
Medidas para valorização do café 1
Liste as duas principais causas da preocupação dos cafeicultores em estabelecer
medidas de valorização do café no início de 1906. Em seguida, assinale aquela que
tem relação direta com o saneamento financeiro de Campos Sales, justificando sua
resposta.
_________________________________________________________________________ ( )
_________________________________________________________________________ ( )
Justificativa
_______________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Resposta Comentada
A previsão de uma grande safra de café e a conseqüente expectativa de queda
significativa dos preços internacionais, em um cenário de câmbio estável, fariam
despencar os rendimentos da atividade cafeeira.
A manutenção das taxas de câmbio estáveis, parte do processo chamado de
saneamento financeiro de Campos Sales, preocupava os cafeicultores, pois,
naquele momento de nossa economia, nada asseguraria a renda que os grandes
senhores do café estavam acostumados a manter.
Com as medidas defendidas no Convênio de Taubaté, a oferta de café seria
reduzida, mantendo estável o preço internacional do produto.
C E D E R J 113
Formação Econômica do Brasil | Políticas de sustentação da renda da cafeicultura
na República Velha
CONCLUSÃO
114 C E D E R J
Atividade Final
6
AULA
O preço do café experimentou, ao longo da última década do século XIX, uma queda
brusca no cenário internacional. Observe novamente a Tabela 6.1 (já apresentada
nesta aula):
A crise dos preços do café se manteve também nos primeiros anos do século XX,
promovendo quedas expressivas do preço desta mercadoria. Esta alteração no valor do
produto apresentava relação direta com a sua oferta. Assim, quanto maior a produção,
menor o valor do café.
C E D E R J 115
Formação Econômica do Brasil | Políticas de sustentação da renda da cafeicultura
na República Velha
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Resposta Comentada
Na Tabela 6.2, você pôde observar como a política de desvalorização cambial favorecia
a receita das exportações de café, pois o preço interno da saca de café aumentou
significativamente, apesar da queda do preço internacional, como está na Figura 6.1.
Nessa tabela, você viu, também, a manutenção do preço internacional do café
apesar do enorme aumento da produção. Isso só foi possível através da compra dos
excedentes de produção pelo governo, o que foi acordado no Convênio de Taubaté.
Por meio dessa atitude, o Brasil reduzia a oferta de café no mercado internacional
e mantinha, assim, os preços constantes em vez de em queda.
RESUMO
116 C E D E R J
SITES RECOMENDADOS
6
AULA
FUNDAÇÃO CASA RUI BARBOSA. Disponível em: <http://www.casaruibarbosa.gov.br>. Acesso
em: 15 set. 2005.
C E D E R J 117
7
AULA
Origens dos desequilíbrios
regionais no Brasil
Meta da aula
Descrever os determinantes históricos dos
desequilíbrios regionais no Brasil.
objetivos
Pré-requisito
Para acompanhar esta aula, é importante reler os
boxes “O sentido da colonização” e “Economia
de subsistência x economia mercantil”, da Aula 1,
bem como as Aulas de 4 a 6.
Formação Econômica do Brasil | Origens dos desequilíbrios regionais no Brasil
120 C E D E R J
A maneira como a população está distribuída no território também
7
CENSO
é um indicador dos desequilíbrios regionais do país. Observe com atenção DEMOGRÁFICO
AULA
a Tabela 7.1, que contém as informações mais recentes sobre o tema, Realizado em média
a cada dez anos, o
obtidas durante o CENSO DEMOGRÁFICO de 2000. Nela, você pode verificar censo demográfico
que 42,6% da população brasileira vivem na Região Sudeste. Nas regiões é uma ferramenta
muito importante
Norte e Centro-Oeste, correspondentes a duas terças partes do território, para acompanhar
!
a evolução de
residem apenas 14,5% da população. uma sociedade.
Com os dados
que essa pesquisa
disponibiliza,
No Brasil, o próximo podemos traçar um
retrato da situação
censo demográfico vai ser
do país, em relação
realizado em 2010. Fique atento a população,
aos resultados. Você estará terminando o concentração de
curso de Administração, e estas informações renda, desemprego,
podem ser úteis em sua profissão. Enquanto isso, fecundidade,
migrações internas,
se você quiser ter mais informações sobre o Censo
entre outros temas.
Demográfico mais recente do Brasil (2000), acesse A partir dos
o site do Instituto Brasileiro de Geografia e resultados do censo,
Estatística (IBGE), responsável pela podem-se elaborar
pesquisa em nosso país: http: políticas públicas
mais adequadas à
//www.ibge.gov.br
realidade do país.
C E D E R J 121
Formação Econômica do Brasil | Origens dos desequilíbrios regionais no Brasil
Tabela 7.2: Distribuição do Produto Interno Bruto (PIB) por regiões – 2001
Atividade 1
Em busca do emprego ideal
Imagine que um amigo seu lhe pede ajuda. Ele vive em uma cidade pequena e tem
um emprego razoável, mas, para ele, isto não é o bastante: ele quer mudar de vida,
ganhar mais, morar em uma cidade maior, com mais oportunidades. Para ajudá-lo, você
conseguiu os dados a seguir:
• Os valores do rendimento médio dos responsáveis pelos domicílios (em reais,
no ano de 2000), residentes nas cidades com mais de 100 mil habitantes (cidades
médias) localizadas em regiões metropolitanas ou no interior estadual das cinco
macrorregiões.
122 C E D E R J
7
• A distribuição do valor do rendimento médio dos responsáveis pelos domicílios (em
AULA
reais) segundo classes de tamanho dos municípios.
Brasil 768,83
Até 5.000 habitantes 424,08
De 5 a 10.000 habitantes 409,66
De 10.000 a 20.000 habitantes 416,32
De 20.000 a 50.000 habitantes 479,55
De 50.000 a 100.000 habitantes 612,80
De 100.000 a 500.000 habitantes 810,48
Mais de 500.000 habitantes 1.190,00
Fonte: IBGE.Indicadores Sociais Municipais (2003)
• A distribuição das cidades com mais de 100 mil habitantes segundo localização nas
macrorregiões.
Norte 6,3%
Centro-Oeste 5,4%
Nordeste 20,2%
Sudeste 50,7%
Sul 17,4%
Fonte: IBGE. Censo Demográfico (2000)
Em sua opinião, em qual tipo de cidade e região seu amigo pode encontrar mais facilmente
um emprego com rendimento mais elevado? Por quê?
________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
Resposta Comentada
Os municípios com mais de 500 mil habitantes situados na Região Sudeste são os
melhores lugares para o seu amigo encontrar o que procura. As cidades localizadas
fora das regiões metropolitanas também são uma boa alternativa para ele. O
motivo é que o rendimento cresce à medida que aumenta a população, e é mais
elevado nas cidades do Sudeste, onde, além disso, existe um número bem
maior de cidades com mais de 100 mil habitantes.
C E D E R J 123
Formação Econômica do Brasil | Origens dos desequilíbrios regionais no Brasil
7
AULA
Período Preço por tonelada (libras)
Início do século XVII 120
Início do século XVIII 72
Início do século XIX 30
Metade do século XIX 16
Início do século XX 9
Fonte: REGO; MARQUES (2003)
Pecuária
C E D E R J 125
Formação Econômica do Brasil | Origens dos desequilíbrios regionais no Brasil
126 C E D E R J
Atividade 2 Tabela
7
AULA
O Nordeste nosso de hoje em dia
Observe, no quadro a seguir, a evolução do ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH) do Brasil e
suas macrorregiões em 1991 e 2000.
Pessoas Pessoas
com renda com renda
IDH IDH per capita per capita
IDH IDH
Educação Educação inferior a inferior a
1991 2000
1991 2000 1⁄2 salário 1⁄2 salário
mínimo em mínimo em
1991 (%) 2000 ( %)
Norte 0,656 0,725 0,705 0,827 48,792 45,359
Nordeste 0,580 0,676 0,600 0,754 67,092 57,153
Centro-
0,725 0,793 0,786 0,881 31,398 24,792
Oeste
Sudeste 0,730 0,791 0,797 0,877 30,837 33,851
Sul 0,737 0,808 0,804 0,896 30,243 19,875
Fonte: www.ipeadata.gov.br – IPEA/PNUD/Fundação João Pinheiro –
Desenvolvimento Humano e Condições de Vida: Indicadores Brasileiros.
Com base nesta tabela, analise a situação atual da Região Nordeste, considerando o IDH. Compare-a
com a das demais regiões, tomando por referência a dificuldade da região em superar a crise da
economia canavieira.
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
Resposta Comentada
O IDH da Região Nordeste melhorou ao longo da década de 1990, mas ainda continua
sendo o mais baixo entre todas as regiões, refletindo a incapacidade da região para superar
a crise na economia canavieira e encontrar alternativas economicamente mais dinâmicas
para a sua economia, o que iria refletir-se em melhores índices de desenvolvimento humano.
O elevadíssimo percentual de residentes com renda inferior a meio salário mínimo é um
indicador da fraca circulação de renda na região, dificultando o surgimento de novas
atividades econômicas.
IDH
Criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é composto
da conjugação de três indicadores: a renda per capita; o número de anos de escolaridade e a taxa de expectativa
de vida. Trata-se de um índice criado para comparar o desenvolvimento entre países, introduzindo indicadores
de condições de vida ao tradicional cálculo do PIB e da renda per capita.
No Brasil, este indicador foi calculado nos anos em que houve Censo Demográfico a partir de 1970. Estes
dados estão disponíveis no site www.ipeadata.gov.br.
C E D E R J 127
Formação Econômica do Brasil | Origens dos desequilíbrios regionais no Brasil
128 C E D E R J
7
AULA
O povoamento da Região Sul é o pano de fundo no filme brasileiro O quatrilho,
indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, no ano de 1996. Nesse filme, os quatro
personagens principais formam dois casais, todos imigrantes italianos ou portugueses,
tendo um deles conseguido ultrapassar a condição de pequeno proprietário agrícola,
tornar-se comerciante e depois transformar-se em banqueiro.
C E D E R J 129
Formação Econômica do Brasil | Origens dos desequilíbrios regionais no Brasil
130 C E D E R J
7
AULA
Figura 7.2: A riqueza gerada pela
economia da borracha permitiu a
construção do monumental Teatro
Amazonas, um símbolo daquele
período ainda preservado pelo
Patrimônio Histórico.
C E D E R J 131
Formação Econômica do Brasil | Origens dos desequilíbrios regionais no Brasil
132 C E D E R J
Com a entrada de outros países produtores de borracha, nas
7
primeiras décadas do século XX, veio a crise, sem que o dinamismo tivesse
AULA
se instalado em bases sustentáveis. A economia amazônica voltou a se
isolar: sua participação na produção industrial, que em 1907 atingira
4,3% do total nacional, seria de apenas 1,3%, em 1919.
Atividade 3
Tamanho não é documento
Segundo o IBGE, a participação percentual do estado do Amazonas no PIB do país era
equivalente a 1,7%, em 2000. Quando se considera que o estado ocupa uma grande
parte do território nacional, sua participação no PIB brasileiro parece insignificante. Já
Minas Gerais, com um território muito menor, tem uma participação de 7,7% no PIB do
Brasil. Como você explicaria estes resultados? Para responder a esta pergunta, lembre-se
de como foi a ocupação destas áreas e em que época. O tipo de atividade desenvolvida
em cada região também é um fator muito importante.
Resposta Comentada
A economia amazônica teve seu auge durante o ciclo da borracha, entre fins
do século XIX e início do século XX. Neste período, por ser o principal produtor,
o Amazonas foi beneficiado com elevados preços internacionais. A situação
se modificou com a entrada de produtores concorrentes, o que fez declinar o
preço da borracha e levou à crise da economia estadual. As características dessa
atividade extrativista não concorreram para a fixação da população nem para que
surgissem cidades – e o mercado consumidor que poderia viabilizar o surgimento
de atividades manufatureiras.
No Estado de Minas Gerais, o ciclo do ouro levou à intensificação da ocupação
do território, à criação de cidades e ao estímulo à atividade manufatureira. Esta,
contudo, foi bloqueada pela Coroa Portuguesa. Após a independência de Portugal,
a região pôde experimentar maior desenvolvimento.
C E D E R J 133
Formação Econômica do Brasil | Origens dos desequilíbrios regionais no Brasil
Figura 7.4: São Paulo: um pequeno burgo, em fins do século XIX, transforma-se,
aproximadamente cem anos depois, na maior cidade da América Latina.
134 C E D E R J
São Paulo foi a única região em que uma atividade agroexportadora
7
teve sua crise superada pelo surgimento de uma atividade mais dinâmica: a
AULA
indústria. Esta, por sua vez, transformou São Paulo na “locomotiva” do PIB
brasileiro, atingindo um percentual equivalente a 39,4%, em 1970. Tamanha
polarização econômica transformou a capital estadual – que, no século XIX,
não passava de uma pequena cidade, se comparada com as maiores cidades
brasileiras da época – na maior metrópole sul-americana.
Observe, na Tabela 7.5, os números que confirmam essa tendência.
O Rio de Janeiro, então capital do país, tinha aproximadamente 43
mil habitantes em 1790, ao passo que São Paulo contava com apenas
15 mil. Salvador e Recife, na mesma época, tinham por volta de 40
mil e 25 mil habitantes, respectivamente. A população de São Paulo
aumentou quase 40 vezes deste período até 1920, ao passo que a de
Salvador cresceu apenas sete vezes, a de Recife, quase 10, e a do Rio de
Janeiro, 27 vezes.
C E D E R J 135
Formação Econômica do Brasil | Origens dos desequilíbrios regionais no Brasil
!
Iniciada a partir da
década de 1870, a expansão da
cafeicultura no Oeste Paulista provocou
o deslocamento do eixo econômico do Rio de
Janeiro e do Vale do Paraíba para esta região. Por
este motivo, o Oeste paulista passou a desempenhar um
papel central na economia brasileira. Entre as condições
favoráveis, estavam as condições geoclimáticas adequadas
(terra roxa, relevo predominantemente plano, temperatura
e distribuição de chuvas adequadas para o cultivo do café),
utilização de técnicas mais modernas, além de utilização
de mão-de-obra assalariada, incluindo os imigrantes
europeus. A produção era escoada pelo porto de
Santos e, com isto, surge a necessidade de um
transporte mais moderno entre ele e as
áreas produtoras: o trem.
!
Floresta da Tijuca, um
antigo cafezal
Uma das maiores florestas urbanas do
mundo, a Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro,
já foi uma área de plantio de café e cana-de-
açúcar. O desgaste causado pelo uso irracional do
solo com estas atividades fez com que, em 1861, o
imperador D. Pedro II ordenasse o reflorestamento
da região, em iniciativa pioneira na América
Latina. Atualmente, a floresta é uma das
atrações turísticas da cidade.
136 C E D E R J
A partir de 1880, São Paulo tornou-se o maior produtor do país.
7
Esse desempenho está associado a quatro fatores principais: técnicas de
AULA
produção que sustentavam a fertilidade do solo por mais tempo do que
no cultivo da província fluminense; disponibilidade de terras, implantação
da malha ferroviária e mão-de-obra livre.
Segundo Gala (2003):
C E D E R J 137
Formação Econômica do Brasil | Origens dos desequilíbrios regionais no Brasil
!
como no caso da Amazônia.
138 C E D E R J
Isso significa que a atividade cafeeira, apesar de liderar o processo
7
de acumulação, contribuiu fortemente também para a ampliação
AULA
industrial. Nos momentos de bonança, as indústrias se beneficiavam
da renda gerada pelas exportações de café – aumento de demanda
por alimentos, por máquinas de beneficiamento, sacarias, transporte
etc. –; nos momentos de crise, a atividade industrial surgia como
um refúgio para a aplicação do capital, principalmente nos setores
urbanos (p. 243).
Atividade 4
Industrialização: quem ganha e quem perde?
Observe este quadro com a distribuição, em termos percentuais, do Produto Industrial
Brasileiro em alguns estados.
Em sua opinião, que estados foram os principais beneficiários e quais os que mais
perderam com o processo de industrialização no país. Por que isto aconteceu? Na
sua resposta, lembre-se de considerar a história econômica de cada estado.
C E D E R J 139
Formação Econômica do Brasil | Origens dos desequilíbrios regionais no Brasil
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Resposta Comentada
O principal beneficiário foi, sem dúvida, o estado de São Paulo, que em 1970
atingiu quase 60% do PIB industrial brasileiro. O maior perdedor foi o estado
do Rio de Janeiro. Um dos principais motivos desse resultado relaciona-se à
economia cafeeira: enquanto no Rio a cafeicultura foi realizada com utilização de
trabalho escravo, em São Paulo teve sua produtividade melhorada com a utilização
de mão-de-obra livre (imigrantes europeus) e aumentando o investimento em
infra-estrutura de apoio, como a malha ferroviária. O aumento da rentabilidade
do negócio permitiu o financiamento das atividades manufatureiras que, ao se
estabelecerem em São Paulo, atraíram mais investimentos industriais, ampliando
o mercado e consolidando esse estado como locus preferencial da indústria
no País.
CONCLUSÃO
140 C E D E R J
Atividade Final
7
AULA
As regiões Sudeste e Nordeste são aquelas de ocupação mais antiga no Brasil e
constituem as regiões de maior percentual na população do País. No caso do PIB,
entretanto, estas regiões têm indicadores extremamente diferentes. A participação
do Sudeste é maior no PIB (57,12%) do que na população brasileira (42,6%). Já a do
Nordeste é de 13,12% e corresponde à metade da participação na população (28,1%).
Qual a origem deste desequilíbrio?
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Resposta comentada
Durante o período colonial, o Nordeste foi a principal região econômica do País, pois lá
desenvolveu-se a economia canavieira. Pela condição de economia colonial dependente
dos interesses metropolitanos (Coroa Portuguesa), introduziu o trabalho escravo para
baixar custos de produção e permitir lucros mercantis com a exportação. Após o declínio
dos preços internacionais da cana-de-açúcar no século XVII, a região enfrentou uma
crise que não foi superada pelo dinamismo interno pois a frágil ligação entre o setor
externo (a agroexportação canavieira) e o setor de economia interna (abastecimento de
animais e madeira) não permitiu a formação de um mercado interno que estimulasse
o surgimento de novas atividades voltadas para a economia interna.
Na economia cafeeira foi diferente, especialmente após o fim do tráfico escravo e o
abastecimento de trabalhadores por meio da imigração européia. Foi constituído um
mercado de trabalho que favoreceu o surgimento do mercado consumidor, em numa
época em que o Brasil já deixara de ser colônia portuguesa (livre, portanto, do
Pacto Colonial) e a industrialização já se tornara na principal estratégia de
desenvolvimento econômico.
C E D E R J 141
Formação Econômica do Brasil | Origens dos desequilíbrios regionais no Brasil
RESUMO
142 C E D E R J
Formação Econômica do Brasil
Referências
CEDERJ 143
Aula 1
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 15. ed. São Paulo: Cia. Editora
Nacional, 1995.
MELLO, João Manuel C. O capitalismo tardio. São Paulo: Brasiliense, 1982. 177 p.
NOVAIS, Fernando A. O Brasil nos quadros do antigo sistema colonial. In: MOTTA,
Carlos Guilherme (Org.). Brasil em perspectiva. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
1990.
REGO, José Márcio; MARQUES, Rosa Maria. Formação econômica do Brasil. São
Paulo: Saraiva, 2003. 336 p.
SANDRONI, Paulo (Org). Novíssimo dicionário de economia. São Paulo: Best Seller,
2000.
SITES RECOMENDADOS
144 CEDERJ
NATALI, João Batista. Não podemos nos transformar em índios. Entrevista com
Fernando Novais. Folha Online, 24 abr. 2000. Disponível em: <http://www1.uol.com.br/
fol/brasil500/entre_16.htm>. Acesso em: 27 jun. 2005.
PIMENTEL, Spensy. Alça é uma manobra dos Estados Unidos: as palavras de Furtado
no dia do renascimento da Sudene. Entrevista de Celso Furtado, jul. 2003. Revista
Novae. Disponível em: <http://www.novae.inf.br/pensadores/celso_furtado_entrev-
ista_abr.htm>. Acesso em: 27 jun. 2005.
LEITURA RECOMENDADA
FREYRE, Gilberto. Casa grande e senzala. 47.ed. São Paulo: Global, 2003.
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil colonial. São Paulo: Objetiva, 2000. 599 p.
Aula 2
DIAS, Manuel Nunes. Expansão européia e descobrimento do Brasil. In: MOTA, Carlos
Guilherme. Brasil em perspectiva. 19. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990.
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 15. ed. São Paulo: Cia. Editora
Nacional, 1995.
PINTO, Carlos Ignácio. A lei de terras de 1850. Revista Virtual de História, São Paulo,
USP. Disponível em: <http://www.klepsidra.net/klepsidra5/lei1850.html>. Acesso em:
27 jun. 2005.
CEDERJ 145
PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1970.
SITES RECOMENDADOS
BRASIL: cronologia de 500 anos de mineração: ouro, ferro e diamante – período (1494-
1803). Disponível em: <http://paginas.terra.com.br/educacao/br_recursosminerais/1494_
1803.html>. Acesso em: 27 jun. 2005.
COURO e calçado: A importância das Missões, O inicío dos Sete Povos das Missões e
primórdios do aproveitamento do couro. Disponível em: <http://www.riogrande.com.br/
historia/couro/couro1.htm>. Acesso em: 27 jun. 2005.
HISTÓRIA das Missões: visão geral, lendas e expulsão. Disponível em: <http://
www.riogrande.com.br/historia/missoes.htm>. Acesso em: 27 jun. 2005.
146 CEDERJ
WIKIPEDIA: a enciclopedia livre. Laissez-faire. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/
wiki/Laissez-faire>. Acesso em: 18 ago. 2005.
Aula 3
COSTA, Emilia Viotti da. Da Monarquia à República. São Paulo: Brasiliense, 1983.
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Cia. Editora Nacional,
1959.
PRADO JR, Caio. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1970.
SANDRONI, Paulo. Novíssimo dicionário de economia. São Paulo: Best Seller, 2004.
Aula 4
CANABRAVA, Alice Piffer. A grande lavoura. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de (Org.).
História geral da civilização brasileira. São Paulo: Betrand Brasil, 1997. v. 1, t. 2.
COSTA, Emilia Viotti da. Da senzala à Colônia. São Paulo: Brasiliense, 1989.
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Cia. Editora Nacional,
1959.
CEDERJ 147
PRADO JUNIOR, Caio. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1970.
SANDRONI, Paulo. Novíssimo dicionário de economia. São Paulo: Best Seller, 2004.
Aula 5
ALVIM, Zuleika M. F. Brava gente: os italianos em São Paulo. São Paulo: Brasiliense,
1986.
BRASIL: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro: IBGE, 2000. Apêndice: Estatísticas
de 500 anos de povoamento.
DEAN, Warren. Rio Claro: um sistema brasileiro de grande lavoura (1820-1920). Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Cia. Editora Nacional,
1959.
PRADO JUNIOR, Caio. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1970.
Aula 6
DEAN, Warren. Rio Claro: um sistema brasileiro de grande lavoura (1820-1920). Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
DELFIM NETTO, Antônio. O problema do café no Brasil. São Paulo: Faculdade de Ciências
Econômicas e Administrativas da USP, 1981.
148 CEDERJ
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Cia. Editora Nacional,
1959.
MELLO, João Manuel Cardoso. O capitalismo tardio. São Paulo: Brasiliense, 1982.
PRADO JUNIOR, Caio. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1970.
SANDRONI, Paulo. Novíssimo dicionário de economia. São Paulo: Best Seller, 2004.
Aula 7
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Ed. Nacional, 1987.
GALA, Paulo. Origens do desequilíbrio regional no Brasil. In: REGO, José Márcio; MARQUES,
Rosa Maria (Org.). Formação econômica do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2003.
MELLO, João Manuel Cardoso. O capitalismo tardio. São Paulo: Brasiliense, 1984.
REGO, José Marcio; MARQUES, Rosa Maria. Formação econômica do Brasil. São
Paulo: Saraiva, 2003.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Cia.
das Letras, 2000.
CEDERJ 149
I SBN 85 - 7648 - 150 - 2
9 788576 481508