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539/2012
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Art. 4º Este Decreto Legislativo entra em vigor na data de sua
publicação.
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juventude no Brasil, que o Estatuto da Criança e do Adolescente é promulgado em
1990 (lei 8.069). O ECA colocou a questão da infância e juventude no centro do
ordenamento jurídico brasileiro, em consonância com os movimentos internacionais
de direitos e proteção da criança e do adolescente colocando-os agora, como
sujeitos de direitos.
Mesmo com esses avanços o ECA é constantemente criticado por diferentes setores
da sociedade (meios de comunicação, deputados, organizações civis) por não
possuir medidas “punitivas”, mas “somente” as chamadas sócio educativas. Estes
setores reclamam que o ECA mantém impunes os adolescentes autores de atos
infracionais, motivo pelo qual se faria necessária a redução da idade penal para
conter supostas “ondas” de criminalidade em cuja atual configuração de violência
urbana seriam os jovens seus principais atores e responsáveis. Assim, crianças e
adolescentes brasileiros são vistos historicamente como objeto de intervenção das
instâncias de correção e das chamadas instituições de ortopedia social (ADORNO,
2002).
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executar ações que tenham a finalidade protetiva, que ampliem os
direitos das crianças e adolescentes (art. 5º, ECA)
2) reconhece que a resposta do Estado contra o adolescente comporta
privação de liberdade (art. 227, § 3°, V, CF): na democracias não há
prisão sem o devido processo legal e o sistema constitucional de garantias (art.
5º, incisos XXXVII a LXVIII, CF). AConstituição Federal, ainda,
guarda norma expressa sobre a reserva da prisão como conseqüência
de prática de crime (art. 5°, LXVII), sendo autorizadas apenas duas
exceções constitucionais, que não se aplicam, por definição, a crianças
e adolescentes3.
3 Prisão civil de curta duração para devedores de alimentos e depositários infiéis; situações jurídicas
nas quais crianças e adolescentes, porque são incapazes civilmente, nunca podem estar.
4 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2010.
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contrárias às conquistas históricas do povo brasileiro.II – O valor constitucional
dos documentos internacionais assinados pelo Brasil.A Convenção
Internacional sobre os Direitos da Criança – ratificada internamente pelo Decreto
99.710/90 – estabelece que criança (no Brasil, compreendida como as fases de
criança e adolescente) é o sujeito que se encontra até os 18 anos de idade. Trata-se
do primeiro marco etário para definições de direitos, deveres e políticas públicas
correspondentes. Esse documento internacional alinha-se a outros, como as Regras
Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça de Menores
(Regras de Beijing, 1985), e as Diretrizes das Nações Unidas para a
Prevenção da Delinquência Juvenil (Diretrizes de Riad, 1990). Todos esses
documentos confirmam que a idade penal deve dividir a fase adulta da fase infanto-
adolescente, e, portanto, distinguir os tratamentos estatais perante a prática
delituosa.A Constituição Federal, por sua vez, estabelece em seu art. 5º, § 3º, que: Os
tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais. Nesse sentido, se as premissas são:
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adolescente brasileiro, independentemente de ter cometido ato infracional. Nasce
com o direito de ser tratado de modo diferente, de receber, portanto, uma
discriminação positiva.
Segundo Machado5 (2006, p.107):“Neste passo, cumpre frisar que, se o direito de liberdade
da pessoa física criança ou adolescente possui as especificidades já referidas no item II supra, é de
ver que a imaturidade/vulnerabilidade do sujeito de direito, na Democracia não pode ser invocada
para discriminá-lo negativamente. A desequiparação jurídica que a Constituição de 1988 criou
para crianças e adolescentes é a desequiparação jurídica protetiva, que é própria da atual fase de
evolução da proteção aos direitos humanose que vem adotada na Convenção dos Direitos da
Criança e do Adolescente (ONU, 1989).”
Sobre esse aspecto, também nos diz Dallari: “A previsão de tratamento jurídico diferente
daquele que se aplica aos adultos é um direito dos menores de 18 anos, que são pessoas,
indivíduos,sujeitos de direitos. De acordo com o artigo 60, § 4º, da Constituição, não poderá ser
objeto de deliberação proposta de emenda constitucional tendente a abolir garantias individuais”
(DALLARI, 2001, p. 25).
6 SANTOS, Marcio Antonio Cabral dos. História das Crianças no Brasil. São Paulo: Contexto, 2006.
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novos modelos de Estado que acentuaram seu papel de executor de políticas
públicas sociais, fundamentais para o desenvolvimento humano.
Por último, vale citarmos mais uma característica importante acerca do debate sobre
a redução da inimputabilidade penal: o mito da irresponsabilidade penal do
adolescente. Segundo o Volpi8, esta idéia se baseia na concepção de que o
adolescente é incitado a cometer um ato infracional porque a atual legislação é
branda quanto a sua punição. Confunde-se então, inimputabilidade com impunidade
e se esquece que existem as medidas sócio-educativas que até o momento ainda não
foram implementadas integralmente em nosso país, para responsabilização dos
adolescentes.Assim sendo, estas propostas reafirmam uma perspectiva
criminalizadora dos jovens no Brasil, pois a educação para a cidadania defendida
pelo ECA continua em posição de subordinação à perspectiva punitiva e
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ECA: Apuração do Ato Infracional Atribuído a Adolescentes. Série Pensando o Direito, Nº
26/2010. Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Secretaria de Assuntos Legislativos do
Ministério da Justiça (SAL).
8 VOLPI, M. Sem liberdade, sem direitos: a privação de liberdade na percepção do adolescente. São Paulo:
Cortez, 2001.
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criminalizadora dos antigos Códigos de Menores, uma vez que a mentalidade
jurídica no Brasil permanece predominantemente encarceradora9.
Por outro lado, as taxas juvenis de vitimização quase duplicaram (ou mais) em
relação àpopulação total. Em 2010, enquanto a taxa de homicídio do total da
população negra foi de 36,0, a dos jovens negros foi de 72,0.Entre os jovens, a
diferença entre brancos e negros foi mais drástica: as taxas de homicídio de jovens
brancos caíram no período analisado de 40,6 para 28,3; enquanto a dos jovens
negros cresceu de 69,6 para 72,010.
Assim, a vitimização de jovens negros, que, em 2002, era de 71,7%, no ano de 2010
pulou para 153,9%: morrem, proporcionalmente, duas vezes e meia mais jovens
negros que brancos.Um fato que merece especial atenção no último Mapa da
Violência é a idade das vítimas. Observa-se que não há diferenças significativas de
taxas de homicídio entre brancos e negros até os 12 anos de idade. Entretanto, nesse
ponto inicia-se um duplo processo: por um lado, um íngreme crescimento da
violência homicida, tanto branca quanto negra, que se avoluma
significativamente até os 20/21 anos de idade das vítimas. Se esse crescimento
se observa tanto entre os brancos quanto entre os negros, nesse último caso, o
incremento é marcadamente mais elevado: entre os 12 e os 21 anos de idade, as
taxas brancas passam de 1,3 para 37,3 em cada 100 mil; aumenta 29 vezes. Já
as taxas negras passam, nesse intervalo, de 2,0 para 89,6, aumentando 46
vezes.
9 Segundo (Kosminsky, 1993, p. 179-80) a identidade da criança internada é construída por duas
forças contraditórias: o processo de padronização e domesticação imposto pela instituição, e pela
afirmação da sua individualidade. Ou seja, essa tensão produzida pelo processo de domesticação e
padronização e, simultaneamente, pela busca da resistência expressa em gestos de rebeldia, é gerada
em uma instituição rigidamente burocratizada, que delimita o campo da sociabilidade infantil. O
problema refere-se ao duplo abandono em que se encontra a criança, pois, impedida de viver com a
família, a criança passa a viver em uma estrutura estatal burocratizada, em que funcionários
entendem suas ações apenas como modalidade de prestação de serviços, de amparo material,
operando nos precários limites da racionalidade institucional. Imersos nesta racionalidade, os
funcionários da instituição ‘especializados’, tratam as crianças no quadro das relações impessoais e
assim, a instituição nega a possibilidade de um agir coletivo entre os jovens e reproduz o estigma de
“futuro marginal”, alimentando o que discursivamente ela procura negar: o abandono e a
marginalidade.
10Mapa da Violência 2012: A Cor dos Homicídios no Brasil / JulioJacoboWaiselfisz – Rio de
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CAMPOS, Marcelo da Silveira. Mídia e Política: a construção da agenda nas propostas de redução
da maioridade penal na Câmara dos Deputados. OPINIÃO PÚBLICA, Campinas, vol. 15, nº 2,
Novembro, 2009, p.478-509.
12 PASSETI, E. Crianças Carentes e políticas públicas. In: PRIORE, M. (Org). História da criança no
SPOSITO, M.P (Orgs). Juventude em Debate. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002.
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desigualdade social, de desigualdade de direitos, efeitos estes agravados num
contexto de globalização.
Esses jovens, imersos num processo da 'criança sem infância’, talvez não tenham o
dito discernimento que tanto o direito penal moderno, como os redatores das
propostas favoráveis a redução da idade penal, a mídia e outros setores da sociedade
afirmam veemente que os adolescentes já possuem. Mas, ainda assim, afirmamos
que possuem o discernimento necessário à vida, cujo exercício é prejudicado – e
então, algumas possíveis causas para as práticas infracionais – por fatores indiretos
costumeiramente denominados exclusão social, vulnerabilidade e risco social,
impossibilidade de participação política etc.Não foram esgotadas, no Brasil, as
formas de atenção que se pode oferecer a estes jovens, seja pelas escolas, pelas
instituições de assistência, pela família, pela maior distribuição da riqueza, pela
aplicação efetiva do ECA.
14 SOUZA, L.F. de. ; CAMPOS, M. S. . Redução da Maioridade Penal: Uma Análise dos Projetos
que tramitam na Câmara dos Deputados. In: Leonardo Sica (coord). (Org.). Revista Ultima Ratio.
1ed.Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2007, v. 1, p. 231-259.
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“Doutrina das Nações Unidas de Proteção Integral à Criança”, conforme Emílio Garcia Mendez, engloba
a Convenção das Nações Unidas dos Direitos da Criança, As Regras Mínimas das Nações Unidas
para Administração da Justiça de Menores, As Regras Mínimas das Nações Unidas para a proteção
dos jovens privados de liberdade e as Diretrizes das Nações Unidas para a prevenção da
delinqüência juvenil. Este corpo de legislação internacional modifica total e definitivamente a velha
doutrina da situação irregular. A Doutrina da Proteção Integral foi adotada pela Constituição da
República, que a consagra em seu art. 227, tendo sido acolhida pelo plenário do Congresso
Constituinte pela extraordinária votação de 435 votos contra 8.
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ECA é fundamental paraa construção de políticas de prevenção e enfrentamento à
criminalidade e, na forma mais gravosa, o homicídio dos jovens brasileiros.
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Nesse sentido, vale recordar a lição de Ferrajoli a respeito:
16Cf. Ferrajoli, Luigi. Direito e Razão: teoria do garantismo penal. São Paulo: EditoraRevista dos
Tribuanis, 2002. P. 693.
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