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Sraffa e a Economia dos anos 80

Autor(es): Ferreira, Rui Viseu


Publicado por: Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra
URL URI:http://hdl.handle.net/10316.2/26066
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Accessed : 1-Feb-2019 14:57:12

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Sraffa e a Economia dos anos 8 0*

II. As razões do impacto da obra de Sraffa no pen-


samento económico

1. A formulação rigorosa da análise clássica

A economia política é uma ciência que partindo de


bases científicas tem tomado partido a favor de classes ou
grupos sociais. A economia clássica surgiu da necessidade
de contrapor à visão económica da escola fisioclática dos
proprietários fundiários como os únicos agentes econó-
micos que produziam riqueza, uma visão em que a bur-
guesia em ascensão aparecesse com um papel determinante
no funcionamento da economia. A teoria marxista vem,
por seu lado, pôr a ênfase no papel produtivo dos traba-
lhadores como os únicos agentes criadores de riqueza.
A escola neoclássica, não sendo somente uma reacção ao
marxismo, não deixa de ser interpretada também como
tal e consequentemente não deixa de ser vista como uma
teoria visando a defesa da classe capitalista contra a teoria
marxista.
Esta visão das teorias económicas, centrada funda-
mentalmente nas questões ideológicas, pode constituir em
si um factor impeditivo de um maior avanço e consolida-

(*) Continuad o do número anterior.


11
162

ção da ciência económica, implicando ainda que os avan-


ços ciencificos tendam a cristalizar-se dentro de cada um
dos paradigmas exirtentes.
O grande mérito da obra de Sraffa, com a reinterpre-
tação da teoria clássica, onde as outras teorias foram bus-
car também o seu fundament , constitui sem dúvida um
passo decisivo para uma reformulação da teoria econó-
mica, tornando possível a mudança do debate ideológico
para onde este tem mais razão de ser e onde terá mais
hipóteses de ser frutuoso, que será no campo da política
económica.
Pode-se hoje em dia continuar a ser clássico, mar-
xista, neoclássico e até keynesiano, mas sem dúvida é
difícil permanecer seguidor de uma destas escolas tal como
se era antes da obra de Sraffa.
Consequentemente, é hoje possível reanalisar as dou-
trinas económicas com um sentido mais apurado do que
é a sua contribuição científica e compreender melhor as
proposições normativas existentes em todos os modelos,
proposições estas que inevitavelmente contêm, mesmo
quando os economistas procuram produzir teorias objec-
tivas e neutrais, pois a economia é uma ciência do homem
e não das coisas. É este o mérito da obra de Sraffa que
Napoleoni procura realçar.

2. A adequação à realidade de uma sociedade organizada


oligopolisticamente

Um outro aspecto fundamental para se compreender


o impacto da análise de Sraffa na ciência económica está
na adequação da análise económica a uma realidade em
que se desenvolvem relações de tipo monopolista. Ruzza
163

(1986) chama a atenção para o facto de o artigo de 1926


de P. Sraffa, optar por uma teoria do monop6lio:

<ltout cn reconnaissant d' ailleurs que la réalité cor-


respond à une situalion intermédiaire entre le monopole
et la livre concorrence» (27).

Sobre as razões desta escolha adianta duas hip6teses:


a primeira consiste em dizer que Sraffa escolheu a repre-
sentação monopolista com base em «critérios de utilidade
relativos aos paradigmas concorrentes, considerando que
a teoria do monop6lio era mais rigorosa que a teoria do
equilíbrio geral» (28); a segunda hip6tese refere-se à influên-
cia filosófica, política e científica sofrida por Sraffa no
início dos anos 20: encontrando-se muito pr6ximo dos
meios marxistas italianos, não podia ignorar, por exemplo,
os escritos de Lenine sobre os monopólios e a concentração,
levando-o a preferir o monopólio à concorrência (29).
Mesmo que a sua opção aparente tenha sido no sen-
tido de uma «teoria clássica do equilíbrio econ6mica geral»
em «Produção de mercadorias através de mercadoriaS»,
uma análise mais cuidada indica que em relação ao mo-
delo SIII, em que o salário passa a ser considerado como
participante no produto líquido, tal hipótese s6 seria pos-
sível numa sociedade em que se verificassem organizações
oligopolistas dos trabalhadores capazes de levar as empresas
a aceitar esta participação no produto líquido.

(27) RUZZA (1986), p. 915.


(28) . Estatese deve-se a LOASBY (1971), cHypothése et paradigme
dans la théorie de la firm<?, Ecollomic Joumal, citado por RUZZA (1986),
p. 15.
(29) Importa sublinhar que esta opção a favor do monopólio
não se mantém no resto da sua obra, levando Sraffa a uma crítica interna
à teori2 marginalista e não a uma crítica externa, a partir da sua ade-
quação à realidade'.
164

Daqui resulta que tendo Sraffa optado por criticar a


escola neoclássica a partir de uma crítica às suas hipóteses
e concepções não deixa de levar em conta no seu esquema
a presença na sociedade de elementos caracterizadamente
monopolistas, em particular a organização dos trabalha-
dores em organizações sindicais, pressuposto básico da
hipótese de os trabalhadores participarem na divisão do
produto líquido. Assim, a crítica de Sraffa à teoria neo-
clássica centrando- e num regresso às concepções clássicas
e em particular à de excedente, não deixa de ter em conta a
transformação operada naquele aspecto de uma fase con-
correncial pura a uma fase de mercado oligopolista.

IH. As limitações da análise de Sraffa

1. Sraffa e a noção be equj[(brio

1.1. A noção de equilíbrio em Sraffa


A análise de Sraffa baseia-se, sem dúvida, numa noção
de equilíbrio (30). O seu modelo estabelece as condições de
equilíbrio que prevalecem a partir de uma certa configu-
ração produtiva e sendo dado um valor para a variável
de repartição exógena. Mais, esta sua concepção de equi-
líbrio aparece ligada ao postulado de uma taxa de lucro
idêntica para todos os sectores industriais.
Sendo o modelo de Sraffa um modelo de equilíbrio,
importa analisar qual a relação entre a sua concepção de
equilíbrio e a da escola neoclássica.

(30) A distinção entre teorias do equilíbrio e teorias do desequili-


brio encontra-se também em ROBINSON (1962) com os conceítos de
ctempo lógico» c .tempo histórico».
165

Podem-se realçar as seguintes diferenças:


a) A ideia de livre concorrência subjacente à análise
neoclássica é a de um grande número de empresas que for-
mam o conjunto de uma dada indústria, e portanto a
impossibilidade, de uma delas influenciar o preço do pro-
duto. Enquanto para Sraffa o conceito de concorrência
depende da possibilidade de surgir, numa indústria, mais
uma empresa em relação às já existentes, o que significa a
existência de permeabilidade das fronteiras da indústria.
Esta concepção não entra em contradição com a existên-
cia de empresas oligopolistas, o que não acontece com a
concepção clássica. Note-se que esta concepção de Sraffa
está implícita na neoclássica, a diferença está que tomada
independentemente daquela permite considerar-se a exi~
tência de uma concorrência oligopolística.
b) No esquema de Sraffa, os preços de produção
não asseguram o equilíbrio entre as ofertas e procuras de
cada um dos bens: as quantidades produzidas são dadas,
a questão dos rendimentos não se põe, e por consequência
a pretensão neoclássica de determinar simultaneamente
preços e quantidades de equilíbrio é abandonada, como é
abandonada a concepção marshalliana (e walrassiana) de
equilíbrio como resultado de duas forças opostas num
mercado. De acordo com Neli (1972) a concepção de
equilíbrio em Sraffa realça a interdependência da pro-
dução, enquanto a noção de equilíbrio dos neoclássicos,
surge associada à interdependência dos mercados (31).

(31) NBLL (1972), p. 21. Este autor chama-nos ainda a atenção


para o tipo de agentes económicos considerados por cada uma das aná-
lises. A de Sraffa considera indústtias, sectores, processos ou actividades
definidas em termos tecnológicos e classes sociais em conflito pela repar-
tição do rendimento. A neoclássica considera os agentes económicos que
ttomam decisões,: as faoúlias e as empresas.
166

Esta rejeição da concepção de equilíbrio neoclássico


está intimamente ligada ao ataque de Sraffa à doutrina
neoclássica da soberania do consumidor (32).
Para Graziani (1986), o ataque à soberania do con-
sumidor não pode ser compreendido sem se ter em conta
o debate travado entre Sraffa e Hayek em 1932, que é
acima de tudo um debate entre a escola de Cambridge ~
a escola de Londres liderada por Lionel Robbins.
As ideias novas de Keynes e Robertson apresentadas
por volta de 1930 deviam-se a três concepções fundamen-
tais. A primeira deve-se à estrutura da sociedade capitalista,
que vem defInida como uma sociedade caracterizada pela
separação entre trabalho e meios de produção, e na qual
as empresas têm a possibilidade de fixar de forma aut6-
noma o nível do emprego (ideia que explica o facto do
investimento ser a variável estratégica na «Teoria Geral»
de Keynes). Está-se em presença da concepção do empre-
sário como elemento motor do funcionamento da eco-
nomia que se contrapõe à concepção dos neoclássicos que
relevam o papel do consumidor (33).

(32) GRAZlANI (1986), p. 191. Por soberania do consumidor


entende-se a escolha deste no mercado, entre produtos «substituíveis•.
Os efeitos da sua escolha condicionam a determinação das principais
variáveis do modelo. Na análise de Sraffa o consumidor é excluído
da análise.
(33) A análise do papel preponderante do produtor e o seu rela-
cionamento com o consumidor está em discussão na União Soviética
da era Gorbatchov. Depois de um período em que cabia ao Estado
(de forma centralizada) decidir o que produzir, parece caminhar-se
para uma maior autonomia das empresas quanto ao que produzir,
procurando-se articular melhor decisões de produção com as neces-
sidades dos consumidores. A decisão de produzir até ao presente era
determinada de forma centralizada e tendo somente em conta as neces-
sidades dos consumidores de forma indirecta. Havia somente «um.
produtor. A reforma, em curso, pretende «crian vários produtores
- descentralizando ao nível das empresas as decisões de produzir-,
167

o segundo ponto prende-se com a função da moeda.


Se os empresários podem fixar de maneira autónoma o
emprego e a produção, tal deve-se ao facto de poderem
dispor de crédito bancário, o que lhes permite deter um
poder aquisitivo sem qualquer produção prévia. A moeda
não é pois somente um simples intermediário geral das trocas.
O terceiro ponto diz respeito à teoria da inflação.
O nível dos preços monetários não é determinado pela
quantidade de moeda em circulação, mas pelo confronto
entre a despesa monetária no mercado de bens de consumo
em relação à quantidade de bens oferecida pelosem presários
derivada das suas decisões de investimento e produção.
A substância destas ideias vêm acolhidas em Sraffa na
sua polémica com Hayek, em 1932, a propósito de Prix et
Production deste. A ideia de Hayek era que de facto cabia
ao empresário um papel relevante decorrente da sua capa-
cidade de mobilizar o crédito antecipando a produção,
só que esta capacidade era válida somente no curto prazo,
já que dava origem a um desequilíbrio que implicava o
tomar-se em conta as opções dos consumidores para que
este desequilíbrio fosse debelado. A longo prazo a «sobe-

ao mesmo tempo que se procura introduzir de forma mais directa o


vector das necessidades de consumo, fazendo o comércio intervir na
esfera produtiva através de encomendas. O Estado continuará a ter um
contlOlo determinante na produção, agora através de contratos-enco-
mendas. ACANBECUIAN (1987), dedica mesmo um capítulo do seu livro,
em que descreve as reformas económicas em curso na União Soviética,
à articulação entre o plano e o mercado, defendendo que se procurará
fazer com que seja o mercado a rectificar socialmente a produção deste
ou daquele produto (p. 145). Parece, pois, assistir-se a uma mudança
de óptica de uma «soberania» absoluta do produtor-Estado para uma
visão em que se reconhece o papel determinante do produtor - daí a
descentralização da decisão do que produzir que passa para as empresas -,
mas de fonna nenhuma totalmente soberano como até aqui, pelo que
ao mesmo tempo se procura que o consumidor rectifique socialmente a
produção.
168

rania» do consumidor viria restaurada. O ataque de Sraffa


a Hayek baseia-se na demonstração que ao empresário cabe
um papel determinante no funcionamento da economia:
numa economia de mercado, são os empresários que, tendo
o domínio dos fluxos monetários e a disponibilidade de
meios de produção, fixam a quantidade produzida de
qualquer mercadoria, fora da pretensa «soberania» do
consumidor.
c) Por fim, importa considerar a concepção de con-
junto da actividade económica: para Sraffa existe um
«processo circular de produção de mercadorias por mer-
cadorias»; para a visão neoclássica é um processo linear de
produção de bens por «factores» produtivos (34).

1.3. A noção de economia de Sraffa e a economia


dos anos oitenta.
A concepção de equilíbrio usada por Sraffa deve ser
avaliada enquanto meio apropriado ou não para abordar
a problemática económica que caracterizou a economia
do pós-guerra e se continua a ser pertinente para abordar
a economia dos anos oitenta.
Como se viu, já na década de trinta se tinha estabele-
cido a necessidade de abordar a problemática da moeda, e
da incerteza a ela associada, superando-se a concepção desta
como mero intermediário geral das trocas. Por outro
lado, tinha surgido desde logo a necessidade de abordar a
questão da inflação superando-se a teoria quantitativa da
moeda.
O jovem Sraffa tinha-se ocupado da moeda. Na sua
tese de licenciatura de 1920 abordara o tema da inflação,

(34) Esta diferença quanto à concepção de actividade económica


continua a manter-se na nova concepção neoclássica compatível com o
conceito de excedente, proposta por NAPOLEONI (1985).
169

dos seus efeitos redistributivos, e da alternativa entre


deflação e desvalorização (35).
A questão que parece pertinente pôr-se é o porquê
da exclusão destes temas da sua obra de maior fôlego?
Assim como que a razão porque Keynes acaba por conside-
rar na «Teoria GeraL> o problema da inflação como uma
extensão marginal da sua análise e somente num dos
capítulos finais (36) ?
A resposta a estas questões pode estar na prioridade
dada por cada um destes autores ao tratamento de proble-
máticas particulares. No caso de Sraffa, a crítica à teoria
dominante a partir da superação das limitações da análise
clássica (em particular Ricardo). Keynes sentiria a neces-
sidade de criticar a concepção não intervencionista do
Estado, numa época em que por todo o lado o Estado já
intervinha na prática, bastando ao autor uma análise de
curto prazo com a hipótese de preços invariáveis, como
primeira aproximação (37).
Mas a verdade é que na escola de Cambridge nin-
guém acabou por dar relevo ao problema da inflação. Assim,
entre os economistas de Cambridge, dos três pontos decor-
rentes das ideias de Keynes e Ro bertson por volta de 1930, só
dois acabaram por vir tratados de forma aprofundada, não
ganhando relevo a questão da inflação. Dos dois pontos
tratados a ideia do papel relevante do empresário é comum
às obras de Sraffa e Keynes, enquanto ta problemática da
monetarização da análise é somente tratada por Keynes.

(35) PANICO (1988) apresenta uma síntese das várias contribuições


de Sraffa relacionadas com a moeda.
(36) Referimo-nos ao capítulo 21 .
(37) DAVIDSON e K-REGBL (1980), consideram a existência em Key-
nes de um modelo estático, com expectativas inalteradas, e um modelo
dinâmico, em que se consideram alterações nas expectativas. O pri-
meiro tem sido o mais divulgado .
170

É de realçar que a tónica no papel relevante do empre-


sário que se contrapõe à «soberania do conswnidor» e da
moeda na sua função de reserva de valor que aponta para
a análise integrada das variáveis reais e financeiras que se
contrapõe à neutralidade da moeda e à dicotomia real!
!financeiro, representam duas «revoluções» no pensa-
mento económico sem que o método do equilíbrio (38),
venha posto em causa.
Para a consideração da inflação coloca-se desde logo
o problema do método. Se nas décadas de trinta, quarenta,
cinquenta e sessenta, o método do equilíbrio, mesmo
aquele decorrente da análise de Sraffa, que sendo menos
restritivo e compatível com o fenómeno da concorrência
oligopolística, não levantou problemas de maior, para as
décadas de setenta e oitenta, não se pode prescindir de um
método que permita superar as lin1itações da análise está-
tica de forma a se poder tratar a problemática da inflação
e da inovação tecnológica, ou seja, que permita uma maior
aproximação ao «tempo histórico».
O método de análise deve evoluir do equilíbrio para
o desequilíbrio, de forma a se passar do «tempo lógico»
ao «tempo histórico», caracterizando-se este pela possibi-
lidade de não compatibilização entre grandezas macroeco-
nómicas que vão explicar o comportamento de ajusta-
mento da economia.
Este método tem o seu embrião no próprio Keynes
e em Myrdal, da escola de Estocolmo (39), em que as variá-

{38} O método do equilíbrio pode ser estático {no caso walras-


siano} ou dinâmico {em Sraffa}. Contudo, esta análise dinâmica situa-se
sempre no ttempo lógico•.
(39) Cfr. FERREIRA {1987}. TEIXBIRA RIBEIRO, na sua obra A Teo-
ria Económica dos MO/lop6lios, de 1934, realça também o método dos
desequilibrios como elemento fundamental da sua crítica à hipótese de
concorrência pu,", e perfeita.
171

veis são vistas de duas perspectivas, ex-ante e ex-posto


O que interessa aos economistas são as grandezas ex-ante
que podem não se compatibilizar, pois que são estas que
vão condicionar a evolução da economia, sendo as gran-
dezas ex-post o resultado e não tendo qualquer influência
no comportamento dos agentes econ6micos no decurso
do período considerado. Existe, consequentemente, uma
mudança de abordagem da análise das situações de equilí-
brio para os factores que provocam o desequilíbrio e
como estes condicionam o possível processo de evolução
para um novo equilíbrio.
Este método é retomado pelas análises de Joan Robin-
son, Clower, Leijonhufvud e pelos modelos de cresci-
mento com moeda em desequilíbrio. Mas, importa
sublinhá-lo, este método deve ser aplicado num contexto
de reconhecimento do papel relevante do empresário e de
concorrência oligopolística, em que a concorrência está
na possibilidade de poder surgir sempre mais uma empresa
num sector produtivo qualquer. Não deve ignorar-se
também a monetarização da economia (40).
Pretende-se, pois, superar as limitações dos métodos
de Sraffa e Keynes (41) sem deixar cair os seus contributos
relevantes para a ciência econ6mica e que se afiguram
ainda cruciais para compreender a realidade dos nossos
dias; ou seja, pretende-se passar de um modelo de equilí-
brio de longo prazo a um modelo de acumulação de
capital, pelo que é necessário integrar na teoria dos preços
de produção todas as influências ligadas ao tempo hist6-

(40) K.RBCBL (1976), defende também como ponto unwcante da


análise de Sraffa e Keynes, a integração dos factores monetários e reais.
(41) ARENA (1987), apresenta-nos uma síntese excelente dos con-
tributos de vários autores, centrados no ,diálogo. entre as análises de
Sraffa e Keynes.
172

rico: o progresso técnico, a inflação, as expectativas infla-


cionistas e a raridade dos recursos naturais (42).
Este procedimento implica a reanálise do papel do
modelo de Sraffa como modelo de equilíbrio de longo
prazo. Este tenderá a tornar-se «na teoria da existência de
preços relativos no seio de um momento bem preciso do
ciclo (do capital), o da produção» (43).

2. A atlálise Schumpeter como ponto de partida para


superar as limitações da análise de Sraffa
Considera-se aqui a análise de Schumpeter como
ponto de partida para se superar as limitações da análise
de Sraffa, como podíamos ter considerado a de Keynes.
Optou-se pela de Schumpeter, na medida em que este
autor aparece menos estudado que Keynes, em relação a
este objectivo, e permite apresentar uma maior unidade

(42) Cfr. BHADURl e ROBINSON (1980), p. 111 e ARENA (1987),


p. 81. A partir de Sraffa, com base na produção conjunta e no método
dos sub-sistemas é possível tratarem-se algumas destas questões, nomea-
damente as alterações tecnológicas e a raridade dos recursos naturais
(o próprio SRAFFA (1960) trata a renda no seu capítulo 11). No entanto,
pela limitação do método subjacente ao modelo, o equilíbrio, não é
possível considerar estas questões em conjunto, como acontece no
.tempo histórico>.
(43) ARENA (1987), p. 102. Esta desqualificação da arúlise de
Sraffa, tendo subjacente o equilíbrio de longo prazo, permite superar
.algumas questões básicas que permaneceram não resolvidas no "regresso
à economia clássica". (HARrus (1988) , p. 139). Estas questões em aberto
na economia clássica têm a ver com a possibilidade de se poder demons-
trar a efectiva tendência para a perequação da taxa de lucro, ou seja
a possibilidade de o processo de gravitação dos preços de mercado em
tomo dos preços de produção gerarem o equilíbrio de longo prazo.
Estas questões têm também a ver com a adequação do conceito de
equilíbrio de longo prazo à existência de crises.
De facto, sendo o modelo de Sraffa uma explicação dos preços rela-
tivos numa fase bem precisa do ciclo, fica em aberto a possibilidade de
a montante e a jusante desta fase se encontrarem explicações para fenó-
menos como as <.rises.
173

entre as várias partes do presente trabalho. Contudo, esta


análise constitui um ponto de partida, significando que a
contribuição de qualquer deles não pode ser excluída
atendendo a que relevam problemáticas distintas.
Qualquer destes autores poderia servir como ponto
de partida para superar as insuficiências da análise de Sraffa,
na medida em que:
«Leur commum probleme est donc sortie de la sta-
tique ct Ieur accord réside dans un constant: si dans une
économie statique, ou stationnaire, le chaIlgemcnt est
ahscnt c' est parce que deux facteurs font défault; l' entre-
peneur ct Ie crédit» (44).

Mas se a saída da estática, proposta por Keynes e


Schumpeter, se efectua de forma semelhante:
«I' orientation prise pour entrer dam la dynamique est
cependant différent. Schumpeter s' app ui e sur l' évolution
entretenue par I'innovation dé Iaquelle découle la mise en
oeuvre de combinaisons nouvelles des facteurs de produc-
tion; Keynes prend pour Iigne directrice Ie comportment
des agents face à I'incertitude que receIe Ie futur et I'effecr
produit sur Ies décisions présents par Ies anticipations rela-
tíves à ce futur non probabilisable» (45).

Uma vez explicado que qualquer dos autores apresen-


tam análises que permitem superar a estática, ainda que
com contribuições complementares, importa referir a afi-
nidade que, à partida, os liga a análise de Sraffa: a preo-
cupação com a produção (46).

2.1. A análise de Schumpeter.


2.1.1. Napoleoni (1985) estabeleceu uma relação
entre os estados de equilíbrio da análise de Schumpeter e
(44) BARRÉRl! (1985),
p. 93.
(45) Ilib, p. 99.
(46) BARRW (1985), p. 92.
174

as três sucessivas hip6teses para a relacionação com o


esquema de Sraffa. Mas, com se referiu, mais lmp r-
tante agora é compreender quais os factore qu explicam
o desequilíbrio e o desenvolvimento deste até ser reabsor-
vido.
Bellofiori (1983), Barrére (1985) e Mess ri (1985)
apresentam análi es de Schumpeter em que é posto o
acento t6nico no processo de desequilíbrio e a forma
como este se desenvolve, precisamente a partir dos ele-
mentos considerados como relevantes para a compreensão
da economia dos anos oitenta: o papel fundamental da
inovação e da moeda enquanto factor propiciador da
inovação.

2.1.2. O desenvolvimento é definido por Schum-


peter como uma modificação descontínua e qualitativa da
estrutura econ6mica induzida pela inovação, ou seja,
resulta da combinação de recursos produtivos diferentes
dos que se encontravam em uso anteriormente, que «rom-
pem» o equilíbrio geral existente e ao mesmo tempo
impõem uma mudança no comportamento dos sujeitos
econ6micos (47).
Em consequência do facto de no fluxo circular esta-
cionário de partida, os factores serem plenamente utiliza-
dos e não existir poupança, a inovação que causa o desen-
volvimento s6 poderá ter lugar com transferência de recur-
sos do velho uso para o novo. Numa economia caracte-
rizada pela propriedade privada e pela divisão do trabalho,
tal s6 se efectuará graças a uma compressão do poder
aquisitivo dos velhos produtos determinada pela criação
de crédito a favor dos empresários inovadores por parte

(41) efr. BE.LLOPlORJ (1985), p . 3.


175

do sistema bancário e devido ao facto de a maior quanti-


dade de meios de pagamento não encontrarem pela frente
imediatamente, mas somente num segundo momento, uma
nova produção. Resulta desta análise o carácter essencial
do crédito no processo de desenvolvimento (48).
A introdução da inovação, implica receitas superiores
aos custos, ou seja um lucro positivo (49), que permite ao
empresário pagar o juro à banca que lhe concedeu o cré-
dito. O juro é, pois, um fenómeno inteiramente mone-
tário (tal como em Keynes), e consiste no prémio do
poder aquisitivo presente sobre o futuro que o capitalista
(no sentido schumpeteriano) obtém por haver cedido de
empréstimo saldos monetários.
O aparecimento dos primeiros empresários a inova-
rem leva os outros a introduzirem também a inovação,
resultando uma procura de moeda acrescida enquanto a
oferta de bens não é aumentada; é ainda possível que a
composição da oferta se modifique a favor da produção
de bens de consumo. Aumentam, as~im, primeiro os pre-
ços dos meios de produção e os rendimentos, e depois os
preços dos bens de consumo. Chega-se a um ponto em
que a inovação se generaliza e anula-se o novo poder
aquisitivo resultante da procura de créditos pelos empre-
sários. O pagamento do crédito e a interrupção do pro-

(48) efr. MEssORI (1985), p. 234.


(49) Este lucro é um lucro extraordinário, resultado da introdu-
ção de uma inovação, logo semelhante a uma quasf'-renda. Quando este
lucro se anula permanece o lucro normal, que assegura uma remune-
ração idêntica para a mesma quantidade de capital. DUMÉNU. e Lsvy
(1985), poriam esta questão em telmos da diferença entre a taxa de
lucro do bem ou processo e a taxa de lucro do processo produtivo do
esp~ço económico em análise, que engloba o processo ou bem parti-
cular considerado. Existirá «superlucrot quando aquela é superior a esta
(pp. 334-335).
176

cesso inovador leva a uma queda de preços restaurando-se


o equillbrio estacionário, agora com a produção aumen-
tada e com composição diversa (50).
2.1.3. Importa referenciar que esta análise de Schum-
peter do processo de desenvolvimento depende de uma
concepção da moeda para além de meio de troca, que
inclua uma função de motor do processo de desenvolvi-
mento. A tese de Schumpeter é que o desenvolvimento,
em condições institucionais próprias do capitalismo, seria
simplesmente impossível se se prescindisse do crédito.
Assim, a não inclusão dos aspecto monetários na análise
de Sraffa está em parte superada, considerando-se a análise
de Schumpeter como explicação do que acontece a mon-
tante da produção (51).

2.1.4. Resta como factor [mal a introduzir o fenó-


meno inflacionista. A análise de Schumpeter do ciclo
económico encerra em si a possibilidade de uma inflação
pela procura quando um novo poder aquisitivo é injec-
tado na economia, o que vai aumentar a procura man-
tendo-se a oferta constante nwn primeiro momento. Mas,
relativamente à economia dos nossos dias, a consideração
de somente da inflação pela procura seria uma restrição
analítica. Importa, pois, considerar a inflação pelos custos.

(50) Existem outras duas aproximações a este esquema: com


comportamt"nto especulativo e com três ciclos interligados.
(51) Quanto à importância do papel da moeda no processo de
desenvolvimento as contribuiçõt"s de Wicksell e mesmo do próprio
Keynes do Tratado da Moeda - à semelhança da proposta de ARENA
(1987), em que a análise de Sraffa serviria para analisar a produção e a
análise mont"tária de Keynt"s explicaria os fenómenos a montante da
produção (p. 102) -, encontram-se na mem13 linha da de Schumpeter.
No entanto, a análise deste autor tem a vantagem de incorporar tam-
bém nesta o fenómeno da inovação tecnológica.
177

A inflação pelos custos aparece estritamente associada à


concentração e monopolização da economia, hip6tese esta
implícita no terceiro esquema de Sraffa. Esta inflação
pelos custos estaria dependente em parte dos salários rei-
vindicarem uma parcela maior na sua participação no pro-
duto líquido da sociedade e consequente reacção das
empresas procurando repercutir este aumento de custos
nos preços, o que pressupõe também, uma organização
oligopolista das empresas, dando-lhes a capacidade de
influenciar o preço de venda do produto produzido.
Introduzindo-se a possibilidade da inflação pelos cus-
tos, através do reconhecimento da atitude dos grupos oli-
golopolistas de influírem nos preços, automaticamente
surge a previsão dos seus comportamentos, ou seja, as
expectativas inflacionistas e desta forma introduziram-se
todos os elementos considerados fundamentais para supe-
rar as limitações do modelo de Sraffa, integrando-o num
esquema capaz de ser usado como instrumento de análise
da economia dos anos oitenta.

2.2. A proposta de Goodwin: o culmatar das insu-


ficiências do «diálogo» Saraffa-Schumpeter.
Se a consideração do contributo de Schumpeter per-
mitiu superar algumas limitações do modelo de Sraffa,
outras permaneceram, em especial a não consideração do
que acontece a jusante da produção. As propostas mais
interessantes são sem dúvida as de Goodwin (1986) e de
Arena (1987), sendo mesmo a separação entre produção,
antes e depois desta sido proposta por este último autor.
A de Goodwin tem ainda o privilégio de realçar a contri-
buição de Schumpeter, o que permite manter uma certa
unidade do presente texto.

12
178

2.2.1. Goodwin (1986) propõe um sistema que inte-


gre as análises de Marx, Keynes e Schumpeter. Realça
nos contributos de Marx e Schumpeter:

~that cycles were endogen u t the sysnem ... lt fol-


lows therdore that in the Stl uture of capitalism itself must
be found the source of Huctuations» (52).

Mas, acrescenta que as teorias destes autores falham quanto


a este objectivo:

- Marx não consegue formular uma teoria unifi-


cada e explícita do ciclo;
- Schumpeter consegue fazê-Io, mas não consegue
explicar porque é que a inovação leva a flutuações
em vez de a um estado de crescimento estável.

o que a análise de Schumpeter precisa é de ser com-


plementada por uma explicação dos altos e baixos do capi-
talismo. Este complemento seria fornecido pela análise
de Keynes da procura efectiva e do acelerador (53).
Para tornar a inovação operacional é preciso que haja
investimento. O mecanismo de transmissão amplia e dis-

(52) GOODWIN (1986), p. 16.


(53) A posição de ArulNA (1987) não é contraditória com a aná-
lise de- Goodwin e estabelece que o sistema de Sraffa deve ser consi-
derado como uma teoria dos preços relativos num momento bem pre-
ciso do ciclo do capital. Como vimos Napoleoni relacionava a análise
de Sraffa com a de Schumpeter. Assim, o modelo de Sraffa seri2 com-
plementado a montante da produção com a análise de Schumpeter
(segundo a nossa proposta) ou com a de Keynes (para Arena). Por sua
vez a análise de Keynes e de Schumpeter estão relacionadas entre si no
contributo de Goodwin, mas neste autor não só a montante da pro-
dução mas também a jusante, ao analisar o impacto da procura efectiva
e do acelerador na produção.
179

tribui esta procura entre os outros sectores, ocorrendo um


aumento geral da produção, o qual ajuda à expansão do
novo processo. Se a inovação e os seus efeitos secundários
são suficientemente grandes, a economia pode ser levada
para a região de plena capacidade produtiva. Então o ace-
lerador torna-se efectivo, ou seja, o acréscimo da procura
gera novos investimentos na medida em que a procura
tende a ultrapassar a capacidade produtiva instalada. Só
que o acelerador pode conduzir a uma entrada na situação
de instabilidade, na medida em que a nova capacidade
produtiva resultante do investimento efectuado ultrapasse
a procura considerada estável.
De acordo com esta tese de Goodwin, a teoria de
longo prazo da estabilidade estrutural seria clássica. Den-
tro desta análise, as inovações schumpeterianas criam o
desequilíbrio, sem explicar, contudo, o desenvolvimento
do ciclo do capitalismo. Nem Schumpeter com as inova-
ções, nem a hipótese de Marx da queda tendencial da
taxa de lucro são perfeitamente convincentes. Aqui, a
teoria da procura de Keynes vem explicar como funciona
o mecanismo do acelerador, alterando a corrente estável
das inovações em altos e baixos cíclicos da actividade eco-
nómica. Este modelo é chamado de Marx-Schumpeter-
-Keynes (M-S-K) e é um sistema de oferta-procura sem
que haja uma tendência sistemática para o pleno-emprego.

2.2.2. Uma questão que se põe é saber se o sistema


é constrangido exogenamente pela oferta, ou endogena-
mente pela procura. Geralmente, capacidade, recursos
naturais e oferta de trabalho, se plenamente utilizados,
constituem restrições paramétricas. Contudo, infelizmente
para a teoria ortodoxa, a maior parte do tempo o sistema
180

não é constrangido do lado da oferta (54). A capacidade,


é claro, não é uma restrição no longo prazo: e pode ser
explicada pela análise da acumulação marxista (55). Os
recursos naturais, ao contrário da visão clássica, provaram
não ser uma séria restrição (embora tal possa ser alterado
no futuro). O trabalho é o elemento crucial e muito com-
plexo: é umas ezes uma restrição outras vezes não. No
decurso de uma vigorosa expansão, a oferta de trabalho
qualificada tende a ser empregada. Mas ao longo da his-
tória da economia capitalista, este tendeu a crescer durante
dois séculos de forma exponencial, sem que houvesse pro-
blemas de oferta de trabalho. No início com o excedente
populacional agrícola; depois com a diminuição da taxa
de mortalidade e com as emigrações em larga escala; e,
finalmente com o extraordinário progresso tecnológico.
Por outro lado, sempre houve períodos em que a procura
pressionou fortemente a oferta de trabalho, e outros em
que tal não se deu. Assim, se no curto prazo há sempre um
limite superior ao crescimento, dado pela oferta de traba-

(54) Não se justificando a definição de economia de Robbins, de


«ciência que estuda o comportamento hununo como uma relação entre
fins e meios escassos que têm usos alternativos •.
A análise desenvolvida neste ponto é complementar da de AIulNA
(1987) referente ao seu conceito de dinâmica de transperíodo (p. 104),
que visa estudar os factores explicativos da evolução económica em
vários períodos. Além desta, na dinâmica interperíodo, procede-se à
revisão e à fscolha do volume de procura efectiva, para uma técnica
dada, que implica o ruvel do emprego e da capacidade produtiva do
período seguinte, tendo em conta os desajustamentos verificados no
período anterior e as expectativas para o período seguinte. A dinâ-
mica intraperíodo descreve a articulação das fases da antecipação, da
produção e da troca do período em análise.
(55) Em FBRREIRA (1985) apresenta-se a análise marxista da acumu-
lação (capítulo I), bem como uma tentativa de a reproduzir com base no
sistema de Sraffa, tendo em conta o modelo de ABRAHAM-FROIS e
BERREBI (1976), procurando-se analisar as condições de compatibiliza-
ção das produções sectoriais (capítulo II) .
181

lho efectivo, no longo prazo este reduz-se ou desaparece:


o trabalho torna-se em maior ou menor escala uma variá-
vel end6gena, cujo crescimento é influenciado pela taxa
de acumulação. Como Marx indicou, a oferta diminuta
de trabalho e altos salários são um potente estímulo à
procura de inovações poupadoras de trabalho, levando a
força de trabalho a acomodar o crescimento. Este compor-
tamento complexo da força de trabalho claramente trans-
forma o problema e a solução: não se tem limites para o
crescimento do lado da oferta a não ser a taxa de acumu-
lação, a qual, como se viu, ajuda a explicar a grande varia-
ção da taxa de crescimento das economias capitalistas (56).
Desta análise de Goodwin e da devolução do «exército
industrial de reserva» de Marx pode infetir-se para a força
trabalho um papel específico no processo de desenvolvi-
mento, que pode ser transposto para a análise de Sraffa
em termos de evolução da participação do salário no pro-
duto líquido. Como se viu, esta participação pressupõe
uma organização oligopolista pela presença de organiza-
çoes sindicais. Esta organização oligopolista é facilitada
em períodos de dificuldade de resposta da oferta de traba-
lho à procura e dificultada no caso oposto. Desta maneira,
a análise do «exército industrial de reserva» de Marx, pode
também ser integrada como factor capaz de explicar a
evolução entre duas configurações produtivas de Sraffa.
Consegue-se, segundo Goodwin, uma integração das
contribuições de Sraffa, Keynes, Schumpeter e Marx.

(56) GOODW1N (1986), pp. 19 e 20.


182

Conclusões

1. A obra de Sraffa constituiu uma superação das


lacunas dos clássicos em especial de Ricardo, que permite
reformular o conceito de excedente independentemente
da questão da origem do excedente. Implicita ao modelo
de Sraffa não deixa de estar, contudo, a concepção clás-
sica do excedente: o salário determina-se independentemente
da grandeza do excedente; o lucro é o remanescente e é
um resíduo: o capitalista recebe um lucro somente como
consequência de uma posição de força na sociedade.

2. A análise de Sraffa constitui uma crítica à teoria


neoclássica pela desqualificação da teoria da repartição
marginalista.
Existirá a necessidade do abandono puro e simples da
teoria neoclássica? Napoleoni diz que não desde que haja
uma reconstrução desta com base nas contribuições de
Senior e Schumpeter que permita estabelecer uma expli-
cação do excedente, permanecendo a sua concepção de
«factores produtivos» desligada da teoria da repartição
marginalista, definitivamente rejeitada.
Poderá mesmo falar-se em complementaridade entre
a análise de Sraffa e a nova concepção «neoclássica», admi-
tindo-se que o conceito de excedente possa ser desligado
da explicação da sua origem. Assim, existirão duas expli-
cações do excedente: a dos clássicos (e de Sraffa) e dos
«neoclássicos» .

3. O grande mérito da obra de Sraffa, com a rein-


terpretação da teoria clássica que lhe permitiu chegar a
um conceito de excedente independente da questão da sua
origem (como resultado de uma escolha deliberada que
183

permitiu colocar o confronto entre os clássicos e neoclás-


sicos em terreno comum ?), foi o de ter dado um passo
decisivo para o «diálogo» entre várias teorias, tornando
possível separar com mais facilidade as contribuições cien-
tíficas dos pressupostos normativos, pressupostos estes sem-
pre presentes mesmo quando os economistas procuram
produzir teorias objectivas.

4. Apesar de Sraffa ter contribuído para o desen-


volvimento da teoria dos monopólios, como crítica da
concepção neoclássica do equilíbrio, com Robinson e
Chamberlin, opta por uma crítica da sua estrutura lógica
e não por uma crítica da sua adequação à realidade. Mas
não deixa de estar presente no seu modelo, com o facto
de o salário participar na repartição do produto líquido,
uma concepção de organização económica oligopolística,
uma vez que esta concepção de salário só é possível pres-
supondo-se uma organização oligopolista dos trabalha-
dores.

5. Daqui resulta uma concepção de equilíbrio subja-


cente ao modelo de Sraffa distinta da dos neoclássicos:
a) a concorrência depende da possibilidade de surgir,
numa indústria, mais uma nova empresa produtora;
b) a oferta e a procura globais não determinam os pre-
ços de produção, que dependem da dificuldade de produzir
e da regra de repartição do rendimento: à soberania do
consumidor neoclássica contrapõe-se o papel relevante
do empresário para explicar a produção; c) a concepção
de actividade económica é a de «um processo circular de
produção de mercadorias por meio de mercadorias» que
se contrapõe à neoclássica de um processo de produção
de bens por «factores produtivos». Esta última questão
1 4

não é compatível com a explicação do excedente segundo


a Jógica neoclássica, estando no centro da distinção entre
esta concepção e a dos clássicos.

6. Esta concepção de equilíbrio usada por Sraffa é


um método de análise económica pertinente para os anos
oitenta em que se assiste a urna revolução tecnológica e
à importância do fenómeno inflacionista? A resposta é
negativa e aponta para a consideração de um método
que supere as limitações do equilíbrio, o desequilíbrio,
mas que mantenha as rupturas operadas por Sraffa e Key-
nes em relação aos neoclássicos: papel relevante do empre-
sário que se contrapõe à «soberania do consumidor» e da
moeda na sua função de reserva de valor que implica a
análise integrada das esferas reais e financeiras e que se contra-
põe à neutralidade da moeda e à dicotomia real/monetário.

7. Propõe-se, assim, que o modelo de Sraffa seja


considerado somente como urna fase do ciclo económico,
a da produção, sendo a situação a montante e a jusante
desta fase analisada com recurso às contribuições de outros
autores, nomeadamente Schumpeter, que permite consi-
derar a inovação tecnológica e o papel do crédito. A com-
patibilização teórica entre os esqlllCmas destes dois autores,
passará ou por desligar a análise de Schumpeter da inova-
ção da explicação do processo produtivo, peculiar da tra-
dição neoclássica, substituindo esta pela concepção clássica
reformulada por Sraffa - a nossa opção -, ou pela reaná-
lise da teoria da produção neoclássica, deixando-se cair a
teoria da repartição marginalista e aceitando-se a existên-
cia de um excedente, explicado pela interpretação de
Napoleoni da análise neoclássica, com base nos contributos
de Senior e Schumpeter.
185

A articulação da análise de Sraffa com os contributos


de Key nes e de Wicksell, no que se refere à análise do ciclo
económico a montante da produção onde os fenómenos
monetários ganham relevância enquanto meios necessá-
rios à produção, é também possível e complementar em
relação à compatibilização entre Schumpeter e Sraffa.
Relativamente a Keynes importa reter a monetarização da
economia (e a procura efectiva) desligando-as dos resíduos
marginalistas da sua obra, em particular a teoria da pro-
dução, como propõem os neokeynesianos. Relativamente
a Wicksell retém-se a sua teoria monetária desligando-a
da teoria da produção (57).

8. Se a análise de Schumpeter explica os ciclos de


forma endógena, não explica porque a inovação provoca
flutuações em vez do estado de crescimento estável ou
regular. A superação desta insuficiência do mecanismo de
transmissão deve ser feita com o recurso à teoria da pro-
cura efectiva de Keynes, que com o acelerador permite
explicar a instabilidade.
Por outro lado, a concepção de Marx do «exército
industrial de reserva» permite explicar as flutuações da
participação do salário no excedente criado. Consegue-se,
assim, uma integração das contribuições de Sraffa, Keynes,
Schumpeter e Marx capaz de explicar o funcionamento
das economias dos anos oitenta, mantendo-se os factores
que estiveram na base da revolução keynesiana, agora
integrados num método, o desequilíbrio, que permite
levar em conta os fenómenos relacionados com a mo-
vação tecnológica e com a inflação.

(57) Sobre a análise monetária deWicksell. veja-se FBRR.BlRA (1987).


186

9. Concluindo, a descrição do ciclo das sociedades


capitalistas passa pela utilização dos contributos de vários
autores, que pode ser esquematizado com recurso à des-
crição do processo produtivo de Marx:

montante jusante

I
I
salários Sraffa
M_ Marx
meios de produção

Schumpeter Sraffa Keynes


Keynes
Wieksell

A articulação entre a produção de bens de produção


e de bens de consumo é feita com base nos esquemas de
reprodução marxistas.
Se foi possível caminhar-se no sentido de se articular
os contributos de vários autores num todo coerente, com
vista a se compreender a economia dos anos oitenta, importa
reconhecer que de forma alguma se chegou a uma teoria
totalmente satisfatória, no sentido de que as partes se encon-
tram completamente articuladas.
É necessário, ainda, percorrer um longo caminho, não
totalmente livre de obstáculos. Contudo, a existência de
uma via de investigação que se apresenta razoável à par-
tida, representa em si um estímulo para o desenvolvimento
de uma teoria do ciclo capitalista coerente.
Importa referir que a compatibilização da análise de
Sraffa com os contributos dos autores (cneoclássicoS* refor-
mulados segundo Napoleoni implica no esquema apre-
sentado não considerar a concepção de Sraffa complemen-
187

tada pela análise de Marx do salário baseada no «exército


industrial de reserva». Esta via, sendo uma possibilidade,
não corresponde à nossa opção.

10. Por último, importa esclarecer que o realce da


análise keynesiana não implica a colocação exclusiva do
acento tónico na questão da procura para a solução das
crises à luz dos anos oitenta, uma vez que numa situação
de estagninflação, a utilização dos convencionais estímulos
monetários e financeiros para reanimar a economia (tra-
tando da estagnação), corre o risco de estimular a inflação.
É, pois, de considerável importância o lado da oferta,
entendendo-se este num sentido lato, ou seja, não somente
na versão de Kemp-Roth de redução dos impostos. Pro-
põe-se como concepção do lado da oferta, urna visão em
que a política a implementar se proponha levar em consi-
deração os problemas estruturais que tornam o aumento
da procura num acréscimo da inflação, devido aos estran-
gulamentos produtivos. Seriam, assim, necessárias polí-
ticas específicas, de âmbito mesoeconómico e desta forma
pondo a ênfase numa estratégia de orientação da oferta (58).
Assim, o esquema proposto, na medida em que a
parte produtiva é analisada com base no modelo de Sraffa,
que é um modelo desagregado, permite ter em conta o
lado da oferta (59), no sentido de esta complementar as

(58) Esta é a posição de KI.mN (1983). Para este autor, a economia


do lado da oferta não seria a redução dos impostos, mas um conjunto
de medidas com vista a resolver os problemas demográficos, de produ-
tividade, da energia, da alimentação e da ecologia, que considera serem
os problemas do seu país actuais.
(59) Em FBRREIRA (1985), utilizou-se o modelo de SrafTa como
factor de análise da estrutura industrial. Neste artigo estabeleceu-se
ainda uma via possível de articulação entre o modelo de Sraffa e de
Leontief.
18

medidas tomadas do lado da procura de forma a se evi-


tar que haja um aumento de inflação (60). Hudson (1988),
propõe uma visão mais abrangente do lado da oferta em
que a parte jurídica desempenha um papel relevante na
rapidez de adequação da oferta à procura n' fase de retoma
ap6s a crise.

RUI VISEU FERREIRA


Faculdade de Economia de Coimbra

(60) Que tipo de medidas macroeconómicas devem ser tomadas


com vista a se estimular a procura de forma a aumentar a produção
sem provocar um acréscimo da inflação, deve ter em conta o debate
entre keynesianos e monetaristas, aplicado às cancterísticas institucionais
próprias do país em análise.
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