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A loucura do trabalho

Article · December 1989


DOI: 10.1590/S1414-98931990000100012

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Júlia Issy Abrahão


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emergência dos MS tem sido relacio- articulações entre categorias derivadas cuna sobre o tema em seu campo e a
nada às contradições sociais, desen- de diferentes teorias psicológicas ou de distancia daquelas ciências que vêm
volvendo-se, então, uma tradição de- outras áreas de conhecimento. A enfrentanto as questões colocadas pe-
rivada dos estudos de Castells (1) e omissão da Psicologia aumenta a la- lo comportamento coletivo.
Lojkine (6) que tem marcado a produ-
ção no país entre os movimentos so- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ciais urbanos. Recentemente, a cate- 1. CASTELLS. M. Lutas urbanas e poder políti- harmony and tension. New York. Harper Co Lt-
goria "contradições sociais" vem sen- co. Porto, Gráfica Firmeza, 1976. da, 1953.
do revista em termos de condição sufi- 2. CARWRIGHT, D. e ZANDER, A. Dinâmica 11. STEINER, I. D. Whatever happened to the
de grupo. São Paulo, EPU, 1975. group in social psychology? Journal of Experi-
ciente ao aparecimento dos MS (5), a- 3. DUCHAC. R. Sociologia e Psicologia. Lisboa, mental Social Psychology. 10,94-108, 1974.
pontando-se também para fatores cul- Livraria Berlrand, 1975. 12. TAJFEL, H. Differentiation between social
turais. 4. DURHAM, E.R. Movimentos sociais: a cons- groups. New York Academic Press, 1978.
trução da cidadania. Novos Estudos — CE- 13. TAJFEL, H. Human groups and social cate-
Questões ainda em discussão na BRAP. 10:24-30, 1984. gories. New York Cambridge University Press,
literatura sobre os MS parecem deri- 5. KOWARICK, L. Os caminhos do encontro: 1981.
var da necessidade de intercâmbio en- as lutas sociais em São Paulo na década de 70. 14. TOCH, H. The social psychology of social
tre as áreas de estudo: Tal intercâmbio Presença. 2: 65-78, 1984. movements. Londres Methuen & Co LTD. 1965.
6. LOJKINE. J. O Estado capitalista e a questão 15. TOCH, H. e MILGRAN, S. Collective beha-
é defendido por autores de vertente urbana. São Paulo, Martins Fontes, 1981. viour: crowds and social movements. In LIND¬
antropológica (4) e sociológica (8). A 7. MELUCCI, A. The new social movements: a ZEY, G. and ARONSON, E. (eds) Handbook of
Psicologia, como reconhece Melucci theoretical approach Social Science Information Social Psychology. Addison-Wesley, Reading,
(7), poderia igualmente contribuir — Sur les Sciences Sociales, 2, (19): 199-226, Mass Kiesler, C.A. 1969.
1980. 16. TURNER, J.C. Social identification and
com o seu nível de análise. 8. NUNES, E. Carências urbanas e reivindica- psychological group formation. Em: TAJFEL,
Defende-se, aqui, que o fenôme- ções populares — Notas. Ciências Sociais. Hoje. H. (ed). The social dimention. New York Cam-
no do comportamento coletivo seja 37-52, 1986. bridge University Press, 1984.
9. REICHER, S.D. The St. Pauls' riot; an expla- 17. TURNER, J.C. e GILES, H. Introduction:
reassumido como objeto de estudo da nation of the limits of crowd action in terms of a the social psychology of intergroup behaviour.
Psicologia. Embora o quadro teórico social identity model. European Journal of Social in: TURNER, J.G. e GILES, H. (eds). Inter-
possa não dar conta da complexidade Psychology. 14: 1-21, 1984. group behaviour. Chicago, The University of
inerente a esse objeto, a pesquisa em- 10. SHERIF, M. e SHERIF, C.W. Groups in Chicago Press, 1981.
pírica poderia suscitar necessidades de

Leitura
conteúdo significativo e do ca, na medida em que ela
A loucura do trabalho. conteúdo engonômico do
trabalho.
pode bloquear os esforços
do trabalhador para ade-
Júlia Abrahão
Na relação do traba- quar o modo operatório às
Instituto de Psicologia Universidade de Brasilia. lhador com a organização necessidades de sua estrutu-
Encontramos nesta mo sofrimento é recuperado do Trabalho, além das es- ra mental. Nós pensamos
obra de Cristophe Dejours- pelas empresas em prol da tratégias defensivas, do so- que por aí se abre um gran-
A loucura do Trabalho, Obo¬ produtividade. frimento e da sua explora- de campo de investigação
ré Editorial, 1987 — uma ção, é interessante observar para a verificação dessas hi-
abordagem do trabalho até É interessante ressal- ainda a identificação do me- póteses, com a vantagem de
então pouco usual entre os tar da análise do autor a do presente em diferentes si- agrupar diferentes campos
profissionais da área de Psi- identificação não só dos me- tuações de trabalho; e esse de atuação da psicologia,
cologia Organizacional — o canismos de defesa ocupa- medo se desdobra de forma indispensáveis a um melhor
binômio organização do cional defensiva de caráter diferenciada conforme a re- conhecimento das relações
trabalho - saúde. O axe cen- individual, mas também a lação tarefa-organização do homem-situação de traba-
tral sobre o qual se cons- ideologia ocupacional cole- trabalho. lho.
truiu o livro traz em sua ba- tiva vigentes em determina- Resta como ponto O livro traz, em seu
se o pressuposto que: "a or- das áreas de produção. Ao fundamental da psicopato- anexo, um modelo de meto-
ganização do trabalho exer- resgatar a dimensão coletiva logia do trabalho a questão: dologia em psicopatologia
ce, sobre o homem, uma do sofrimento e as regras a exploração do sofrimento do trabalho, útil na opera¬
ação específica, cujo impac- impostas pelo grupo para a pode ter repercussões sobre cionalização e bom guia no
to é o aparelho psíquico". execução das tarefas, De- a saúde dos trabalhadores, desenvolvimento de uma in-
Através de pesquisas jours nos remete diretamen- do mesmo modo que pode- tervenção, deixando eviden-
realizadas em diferentes se- te a um questionamento da mos observar com a explo- temente um espaço para a
tores da produção, Dejours forma como o trabalho é or- ração da força física? adaptação à nossa realidade
ilustra de forma clara os di- ganizado. Contrariamente ao brasileira com peculiarida-
ferentes mecanismos de de- Crítico ferrenho do que parece sugerir o título des diferentes da francesa.
fesa utilizados pelos traba- Taylorismo e seus múltiplos da obra, não se pode provar A proposta que per-
lhadores. Esses mecanismos desdobramentos em matéria uma patologia mental de- meia todo o livro não é a de
permitem sobreviver ao so- de organização do trabalho, corrente do trabalho. Uma criar novos homens, mas en-
frimento imposto pela orga- o texto ilustra com exemplos das hipóteses do trabalho de contrar soluções que permi-
nização do trabalho vigente. oriundos do cotidiano do Dejours coloca a organiza- tiriam pôr fim à desestrutu¬
Em outras situações o autor trabalho, aspectos tais como ção do trabalho como causa ração de um certo número
demonstra como esse mes- a insatisfação oriunda do de uma fragilização somáti-
View publication stats deles, pelo trabalho.

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