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Nota: Adoção "intuitu personae" é aquela que ocorre quando os próprios pais biológicos
escolhem a pessoa que irá adotar seu filho. Essa modalidade de adoção não é expressamente
autorizada no atual ordenamento jurídico. Todavia, em que pese a inexistência de previsão
legal, há quem sustente que é possível, uma vez que não é vedada.
Nesse sentido, Maria Berenice Dias: "E nada, absolutamente nada impede que a mãe
escolha quem sejam os pais de seu filho. Às vezes é a patroa, às vezes uma vizinha, em
outros casos um casal de amigos que têm uma maneira de ver a vida, uma retidão de caráter
que a mãe acha que seriam os pais ideais para o seu filho. É o que se chama de adoção intuitu
personae, que não está prevista na lei, mas também não é vedada. A omissão do legislador
em sede de adoção não significa que não existe tal possibilidade. Ao contrário, basta lembrar
que a lei assegura aos pais o direito de nomear tutor a seu filho (CC , art. 1.729). E, se há a
possibilidade de eleger quem vai ficar com o filho depois da morte, não se justifica negar o
direito de escolha a quem dar em adoção". (DIAS, Maria Berenice. Adoção e a Espera do
Amor. Portal Jurídico Investidura, Florianópolis/SC, 12 Jan. 2009. Disponível
em: www.investidura.com.br/ufsc/110-direito-civil/2462-adocao-e-a-espera-do-amor. Acesso
em: 16 Set. 2017).
Júlia Morais Garcia Pereira Guimarães - Itaúna/MG aduz, inicialmente, que a adoção,
instituto previsto nos artigos 39 e seguintes do Estatuto da Criança e do Adolescente, é
uma modalidade de colocação em família substituta, sendo uma medida de caráter
excepcional e irrevogável, que atribui a condição de filho ao adotado, imputando-lhe
todos os direitos e deveres inerentes à filiação, rompendo definitivamente o vínculo com a
família biológica, salvo os impedimentos matrimoniais: “A adoção é instituto previsto nos
artigos 39 e seguintes do Estatuto da Criança e do Adolescente e tem como objetivo a colocação, de
forma irrevogável, de criança ou adolescente em família distinta da natural com a criação de vínculos
de filiação (artigo 28 do Estatuto da Criança e do Adolescente), com os mesmos direitos e deveres do
vínculo natural, desligando-se os laços com os pais biológicos, exceto os impedimentos matrimoniais.”
Por conseguinte, assevera que a adoção intuitu personae seria aquela em que os pais
biológicos interferem diretamente na adoção, indicando previamente a família substituta
que irá acolher seu descendente. Ou seja, é a modalidade de adoção em que os pais do
adotando escolhem os adotantes: “Neste diapasão, a adoção intuitu personae ocorre quando o
casal escolhe de forma prévia a criança a ser adotada ou quando os próprios pais biológicos do adotando
escolhem a quem entregar o filho, violando a estrutra normativa acima mencionada para o processo de
adoção.”
Em seguida, destaca que existe corrente doutrinária que não admite a adoção intuitu
personae, em razão da não observância ao cadastro nacional de adotantes e da viabilidade
dos genitores escolherem aqueles que poderão adotar seus filhos. Para tal corrente, a
entrega do adotando a pessoa não cadastrada poderia frustrar as expectativas daquele que
é previamente habilitado, podendo desestimular a habilitação de eventuais interessados,
além do risco de que a criança ou adolescente seja entregue a pessoas despreparadas.
Ademais, afirma que caráter selecionador e preventivo do cadastro confere segurança à
relação entre o adotante e o adotado, impedindo, principalmente, que crianças ou
adolescentes sejam expostos a riscos como o tráfico de crianças: “Os adeptos da corrente que
não admite a adoção intuitu personae entendem que para que seja possível a adoção de criança ou
adolescente sem que haja o prévio cadastro no cadastro nacional de adoção é preciso o enquadramento
em uma das três hipóteses elencadas pelo parágrafo treze do artigo 50 do Estatuto da Criança e do
Adolescente. Assim, o tipo de adoção em análise afronta o estabelecido pelo Estatuto, uma vez que
descumpre a fila, violando o direito dos supostos adotantes e adotados que nela aguardam. Defendem
também que é possível que se fomente a comercialização de crianças e adolescentes, posto que muitos
pais biológicos vendem seus filhos para casais que querem a adoção e já se encontram muitos anos na
fila de espera. Além do mais, o superior interesse da criança e do adolescente pode estar sendo violado
ao se permitir a adoção sem que haja um prévio período de convivência ou sem se verificar se os
candidatos a adotantes daquele menor específico estão aptos a exercer a medida.”
Em outra senda, uma corrente defende a aplicação da adoção intuitu personae, por
entender que não se pode considerar impreterível a obediência ao cadastro de adotantes,
tendo em vista que a criança ou adolescente não precisará aguardar em qualquer
instituição para ser adotado, considerando o sofrimento e as adversidades sofridas durante
o burocrático processo de adoção. A medida na qual há o consentimento dos pais
biológicos na colocação do menor em família substituta se apresenta como a mais benéfica
ao menor: “Por outro lado, a corrente que entende possível a adoção intuitu pernonae e a arrola entre
as exceções do parágrafo treze do artigo 50 da Lei n.º 8.069/90, bem como acham plenamente válida a
escolha dos pais biológicos dos adotantes de seus filhos, pois estes, ao entregar seu filho a uma pessoa
para que esta o crie, há a existência de uma grande relação de confiança e convicção de estas pessoas
serão os melhores pais para o menor. Dessa feita, se é possível que os pais escolham quem deve ficar
com os filhos no caso de sua morte, nada justifica a vedação desta escolha em vida. Contudo, em
qualquer caso pregam a necessidade de existência de vínculo afetivo entre as partes para que seja
possível a adoção.”
Por fim, destaca que o STJ se filiou à última corrente, assentando que a observância ao
prévio cadastro de adotantes, em hipóteses excepcionalíssimas, deve ser mitigada, máxime
quando bem demonstrado o vínculo afetivo e familiar existente entre os candidatos à
adoção e o menor: “O Superior Tribunal de Justiça se filiou a segunda corrente, entendendo possível
a adoção intuitu personae, afastando-se o cadastro prévio, desde que haja o vínculo de afeto entre os
adotantes e o adotado que seja capaz de justiçar a medida, bem como esteja presente o superior
interesse da criança e do adolescente.”
Júlia escreveu:
Além do mais, para que haja a seleção dos adotantes e adotados deve-se verificar o
superior/melhor interesse da criança e do adolescente, analisando se a medida lhe será
benéfica, além de que o adotante deve ter mais de dezoito anos e ser, pelo menos, dezesseis
anos mais velho que o adotado.
Neste diapasão, a adoção intuitu personae ocorre quando o casal escolhe de forma
prévia a criança a ser adotada ou quando os próprios pais biológicos do adotando escolhem
a quem entregar o filho, violando a estrutura normativa acima mencionada para o processo
de adoção.
Por outro lado, a corrente que entende possível a adoção intuitu pernonae e a arrola
entre as exceções do parágrafo treze do artigo 50 da Lei n.º 8.069/90, bem como acham
plenamente válida a escolha dos pais biológicos dos adotantes de seus filhos, pois estes, ao
entregar seu filho a uma pessoa para que esta o crie, há a existência de uma grande relação
de confiança e convicção de estas pessoas serão os melhores pais para o menor. Dessa feita,
se é possível que os pais escolham quem deve ficar com os filhos no caso de sua morte, nada
justifica a vedação desta escolha em vida. Contudo, em qualquer caso pregam a necessidade
de existência de vínculo afetivo entre as partes para que seja possível a adoção.
Ademais, assevera que o princípio da reserva de administração guarda estrita relação com
o princípio fundamental da separação dos Poderes, sendo defeso ao Poder Legislativo
(invadir o campo da execução de lei, próprio do Poder Executivo: “Nesse contexto, o princípio
da reserva da Administração guarda a tônica do princípio fundamental da separação dos Poderes (CF,
artigo 2º), sob a perspectiva do Poder Executivo, ao vetar a ingerência do Legislativo sobre o exercício
da atividade administrativa e das competências constitucionalmente atribuídas ao Executivo.”
Por conseguinte, afirma que o princípio da reserva de administração visa limitar a atuação
legislativa em matérias sujeitas à competência administrativa do Poder Executivo. Dessa
forma, este postulado impede a ingerência normativa do Poder Legislativo em matérias de
competência executiva. Ou seja, vedam-se indevidas ingerências tanto de entidades do
Legislativo como do Judiciário nesse campo atribuído à Administração para o exercício da
função principal. Tal proteção não favorece somente ao Poder Executivo, mas sim à
Administração Pública como um todo. Em última análise, portanto, o princípio da reserva
de administração privilegia a separação dos poderes, corolário do Estado Federativo:
“Assim, à luz desse princípio, é vedado ao Poder Legislativo desconstituir, por lei, atos de caráter
administrativo que tenham sido editados pelo Poder Executivo, no estrito desempenho de suas
atribuições institucionais, sob pena de vir a incorrer em subversão do esquema constitucional de
repartição de competências e, consequentemente, em ofensa ao princípio da separação de poderes.”
Por fim, destaca que o STF já aduziu não caber ao Poder Legislativo, sob pena de grave
desrespeito ao postulado da separação de poderes, desconstituir, por lei, atos de caráter
administrativo que tenham sido editados pelo Poder Executivo, no estrito desempenho de
suas privativas atribuições institucionais. Como exemplo, o STF julgou inconstitucional
lei estadual que determinava drásticas alterações na política urbanística do município,
convertendo áreas particulares em logradouros públicos e imponto ao Estado o dever de
prestação de serviços públicos nessas áreas: “O STF, a propósito, já proferiu reiteradas decisões
com fundamento no princípio da reserva da Administração, tendo, a título de exemplo, declarado a
inconstitucionalidade de lei estadual que determinava drásticas alterações na política urbanística de
Município, convertendo áreas particulares em logradouros públicos e impondo ao Estado o dever de
prestação de serviços públicos nessas áreas.”
Caroline escreveu:
Com efeito, trata-se de atividade exercida em caráter atípico pelos Poderes Legislativo
e Judiciário, circunscrita aos respectivos espaços de atuação daqueles, a fim de viabilizar o
desenvolvimento das próprias funções típicas. Todavia, é na esfera do Poder Executivo que o
exercício da atividade administrativa surge em sua mais alta expressão, enquanto gestão dos
bens e interesses da coletividade, com extensão nacional, estadual, distrital ou municipal,
afetando, inclusive, os demais Poderes, sendo encabeçada por um titular, popularmente
eleito, com o auxílio de órgãos, agentes públicos e entidades dotadas de personalidade
jurídica, que, em seu conjunto, empreendem esforços no sentido da realização contínua do
bem comum e do interesse público.
Nesse contexto, o princípio da reserva da Administração guarda a tônica do princípio
fundamental da separação dos Poderes (CF, artigo 2º), sob a perspectiva do Poder Executivo,
ao vetar a ingerência do Legislativo sobre o exercício da atividade administrativa e das
competências constitucionalmente atribuídas ao Executivo.
Assim, à luz desse princípio, é vedado ao Poder Legislativo desconstituir, por lei, atos
de caráter administrativo que tenham sido editados pelo Poder Executivo, no estrito
desempenho de suas atribuições institucionais, sob pena de vir a incorrer em subversão do
esquema constitucional de repartição de competências e, consequentemente, em ofensa ao
princípio da separação de poderes.
Júlia Morais Garcia Pereira Guimarães, Itaúna/MG aduz, inicialmente, que o STF
passou a assentar que a declaração de inconstitucionalidade, ainda que em sede de
controle difuso, gerava efeitos vinculantes e erga omnes, inclusive para normas que vierem
a serem publicadas no futuro: “Em recente decisão, o Supremo Tribunal Federal modificou o seu
entendimento e passou a adotar a teoria em análise, permitindo que os efeitos da controle difuso de
constitucionalidade passem de inter partes e não vinculantes, para erga omnes e vinculante, da mesma
forma que ocorre com o controle concentrado de constitucionalidade.”
Em seguida, frisa que amparado pela Teoria da Abstrativização, o dispositivo do art. 52,
inciso X, da CF sofreu mutação constitucional, na medida em que o Senado Federal apenas
deve dar publicidade ao ato suspendendo as leis e normas que estão ou serão publicadas.
Assim, quando o STF declara uma lei inconstitucional, mesmo em sede de controle difuso,
a decisão já tem efeito vinculante e erga omnes e o STF apenas comunica ao Senado com o
objetivo de que a referida Casa Legislativa dê publicidade daquilo que foi decidido: “Os
adeptos da abstrativização entendem que o preceito normativo previsto no artigo 52, X da Constituição
Federal sofreu uma mutação constitucional, pois a necessidade da resolução do Senado seria apenas
para dar publicidade à decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal e não mais para suspender a
norma declarada inconstitucional. Neste diapasão, o Supremo Tribunal Federal adotou o entendimento
acima mencionado, alterando a sua jurisprudência para a realização de mutação constitucional com
relação ao artigo 52, X da Constituição Federal, cabendo ao Senado, agora, apenas a competência de
dar publicidade à decisão da Corte e não mais a possibilidade de decidir se uma decisão do Supremo
proferida em controle difuso de constitucionalidade teria ou não efeito erga omnes e vinculante.”
Por fim, aduz que a teoria da abstrativização do controle difuso prestigia a força normativa
da Constituição e a segurança jurídica com a aplicação uniforme dos precedentes para
todos os seus destinatários. Ademais, destaca que não se pode afirmar que o STF passou a
adotar a teoria da transcendência dos motivos determinantes. Para esta teoria, além do
dispositivo, os motivos determinantes (ratio decidendi) da decisão também seriam
vinculantes: “Ocorre que muitas decisões proferidas por meio de controle difuso de
constitucionalidade ganharam relevo devido a importância dos temas tratados e por envolver casos de
massa, ou seja, diversas ações tratando sobre o mesmo assunto, gerando uma relativização dos efeitos
característicos deste tipo de controle. Em virtude disso, o Supremo atualizou sua jurisprudência,
adotando a abstrativização do controle difuso.”
Júlia escreveu:
O controle difuso é aquele que pode ser realizado por qualquer juízo ou tribunal do
Poder Judiciário. A constitucionalidade é questão incidental, sendo prejudicial à análise do
mérito e analisada no caso concreto, pois tal ação preocupa-se com direitos subjetivos.
Portanto, tal critério de controle se alinha ao critério incidental. Os efeitos produzidos são
inter partes, ou seja, atingem somente as partes que litigaram em juízo e ex tunc, retroagindo
desde o nascedouro da lei inconstitucional.
4 - (Direito Penal) Inquéritos policiais e ações penais em cursos podem ser utilizados para
afastar o benefício do tráfico privilegiado? Justifique.
Nota: A Lei 11.343/06 inovou na ordem jurídica em diversos fatores, dentre eles, inseriu uma
causa de diminuição de pena para o delito de tráfico de drogas e equiparados, prevista no §
4º do artigo 33. Os requisitos cumulativos previstos para diminuição de pena são: i)
primariedade; ii) bons antecedentes; iii) não se dedicar às atividades criminosas; iv) não
integrar organização criminosa. A inserção no ordenamento dessa causa de diminuição teve
por escopo diferenciar aquele que não é dedicado a ilícitos penais, daquele que efetivamente
se dedica ao tráfico de drogas com maior potencialidade lesiva à sociedade. Assim, a regra
não deve ser a aplicação da benesse de forma desmedida, mas sua aplicação somente deve
ocorrer em casos singulares, quando preenchidos os requisitos, os quais merecem
interpretação restritiva, de modo a prestigiar quem efetivamente mereça redução de pena.
É consabido que inquéritos e ações penais em curso não podem ser valoradas como
maus antecedentes, de modo a agravar a pena do réu quando das circunstâncias judiciais
avaliadas em dosimetria de pena na primeira fase, para fins de aumentar a pena-base.
Contudo, na espécie, não se trata de avaliação de inquéritos ou ações penais para agravar a
situação do réu condenado por tráfico de drogas, mas como forma de afastar um benefício
legal, desde que existentes elementos concretos para concluir que ele se dedique a atividades
criminosas, sendo inquestionável que em determinadas situações, a existência de
investigações e/ou ações penais em andamento possam ser elementos aptos para formação
da convicção do magistrado.
Com efeito, é importante salientar que não se pretende tornar regra que a existência
de inquérito ou ação penal obste o benefício em todas as situações, mas sua avaliação para
concluir se o réu é dedicado a atividades criminosas também não pode ser vedada de forma
irrestrita, de modo a permitir a avaliação pelo magistrado em cada caso concreto.
Destarte, é possível a utilização de inquéritos policiais e/ou ações penais em curso
para formação da convicção de que o réu se dedica a atividades criminosas, de modo a
afastar o benefício legal previsto no artigo 33, § 4º, da Lei 11.343/06.
Júlia Morais Garcia Pereira Guimarães - Itaúna/MG aduz, inicialmente, que a Lei n.
11.343/06 inseriu a figura do tráfico privilegiado como causa de diminuição de pena, tendo
por escopo diferenciar aquele que não é dedicado a ilícitos penais, daquele que
efetivamente se dedica ao tráfico de drogas com maior potencialidade lesiva à sociedade.
Para que seja aplicada a diminuição, é preciso o preenchimento de quatro requisitos
cumulativos, quais sejam, primariedade, bons antecedentes, não se dedicar a atividades
criminosas ou integrar organização criminosa: “O tráfico privilegiado permite, ante a presença
dos pressupostos exigidos pela Lei, a redução de um sexto a dois terços na condenação imposta. Trata-
se, na verdade, de uma causa de diminuição e não de um privilégio, pois o legislador não alterou o
mínimo e o máximo de pena prevista. Para que seja possível a sua incidência é preciso que estejam
presentes, de forma cumulativa, a primariedade do agente, que ele tenha bons antecedentes, não se
dedique a atividades criminosas e não integre organização criminosa.”
Por fim, aduz que para que possa negar a aplicação da referida minorante em razão do
exercício de tráfico como atividade criminosa, deve o juiz basear-se em dados concretos
que indiquem tal situação, sob pena de toda e qualquer ação descrita no núcleo do tipo ser
considerada incompatível com a aplicação da causa especial de diminuição de pena:
“Portanto, a priori, a presença de inquéritos policiais e ações penais em cursos afasta a incidência do
tráfico privilegiado, salvo se, ante as peculiaridades do caso concreto, ficar provado que o agente não se
dedica às atividades criminosas.”
Júlia escreveu:
O tráfico privilegiado permite, ante a presença dos pressupostos exigidos pela Lei, a
redução de um sexto a dois terços na condenação imposta. Trata-se, na verdade, de uma
causa de diminuição e não de um privilégio, pois o legislador não alterou o mínimo e o
máximo de pena prevista. Para que seja possível a sua incidência é preciso que estejam
presentes, de forma cumulativa, a primariedade do agente, que ele tenha bons antecedentes,
não se dedique a atividades criminosas e não integre organização criminosa.
Assim, apesar de inquéritos policiais e ações penais em curso não servirem como
maus antecedentes, garantido o respeito ao princípio da presunção de inocência, a norma em
análise visa beneficiar o agente que não se dedica às atividades criminosas e seja merecedor
da redução da pena. Sua situação não pode ser igualada àquele que faz do crime sua forma
de vida, ou pratica atividades criminosas com habitualidade. O privilégio deve ser
interpretado de forma restritiva, sob pena de beneficiar réus que não cumprem os requisitos
legais, banalizando o sistema.
Além do mais, o artigo 5º, inciso XLIII da Constituição Federal prevê um mandado
constitucional de criminalização ao estabelecer que são inafiançáveis e insuscetíveis de graça
ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e
os definidos como crimes hediondos, devendo a lei dar tratamento mais severo a estes casos.
Dessa forma, permitir a aplicação do benefício do artigo 33, parágrafo quarto da Lei de
Drogas de forma ampliativa viola este mandado, bem como o princípio da vedação de
proteção deficiente.
Frisa, ainda, que o valor residual garantido (VRG) trata-se de valor, contratualmente
garantido pela arrendatária, como mínimo que será recebido pela arrendadora na venda a
terceiros do bem arrendado, na hipótese da devolução do bem. Ademais, informa que é
corriqueira a cobrança antecipada do valor residual garantido, paga com as prestações
relativas ao arrendamento do bem: “Nesta senda, surge o valor residual garantido (VRG) como a
obrigação assumida pelo arrendatário, quando da contratação do arrendamento mercantil, no sentido
de garantir que o arrendador receba, ao final do contrato, a quantia mínima final de liquidação do
negócio, caso o arrendatário opte por não exercer o seu direito de compra ou de renovação do contrato.
É de praxe que os contratos de "leasing" financeiro prevejam a antecipação do valor residual
garantido, pago pelo arrendatário durante a vigência do negócio, juntamente com as prestações
relativas ao arrendamento do bem.”
Caroline escreveu:
O arrendamento mercantil é espécie de negócio jurídico realizado entre pessoa
jurídica arrendadora e pessoa física ou jurídica arrendatária, que tem por objeto o
arrendamento de bens adquiridos pela primeira, segundo especificações e para uso próprio
da segunda, conforme definição trazida pelo artigo 1º, parágrafo único, da Lei n. 6.099/1974.
Nesta senda, surge o valor residual garantido (VRG) como a obrigação assumida pelo
arrendatário, quando da contratação do arrendamento mercantil, no sentido de garantir que
o arrendador receba, ao final do contrato, a quantia mínima final de liquidação do negócio,
caso o arrendatário opte por não exercer o seu direito de compra ou de renovação do
contrato. É de praxe que os contratos de "leasing" financeiro prevejam a antecipação do
valor residual garantido, pago pelo arrendatário durante a vigência do negócio, juntamente
com as prestações relativas ao arrendamento do bem.
Não foi esse, porém, o entendimento adotado pelo Superior Tribunal de Justiça, que,
ao editar a Súmula 293, firmou orientação no sentido de que a cobrança antecipada do VRG
não descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil. Isso porque, no entender da Corte,
o pagamento antecipado do VRG não implica, necessariamente, na opção de compra, de
modo que, caso decida o arrendatário pela devolução do bem, ou mesmo em caso de
reintegração de posse por inadimplemento contratual, poderá reaver a diferença havida
entre a soma da importância paga antecipadamente com o valor de venda do bem, e o total
do VRG previsto contratualmente, consoante dispõe a Súmula 564 do STJ, sob pena de
incorrer a arrendadora em enriquecimento sem causa, na forma do artigo 884 do Código
Civil.