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C EN TR O UN IVERSITÁRIO A D V EN T IS T A DE S Ã O P A U L O
C U R S O DE A R Q U IT E T U R A E U R B A N IS M O
TÉCNICAS RETROSPECTIVAS I
RESTAURO EUROPEU
E n g e n h e iro C o e lh o
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Sumário
1. O PA TRIM Ô N IO C U LT U R A L................................................................................................................3
3. REFERÊNCIAS.................................................................................................................................... 21
1. O PATRIMÔNIO CULTURAL
A palavra p a trim ô n io está associada aos bens q ue tra n s m itim o s aos nossos h erd eiros. Eles
podem ser de v a lo r m o n e tá rio , co m o casas, joias, carros, etc., ou de v a lo r em o cio n al, co m o
um a foto , um livro de receitas, um o b je to de uso pessoal. Tu d o isso se co n stitu i o p a trim ô n io
de um in d ivíd u o. Há ta m b é m o p a trim ô n io im ateria l, q ue são os saberes, fazeres e práticas de
nossos an tepa ssa dos tra n s m itid o s para as fu tu ra s gerações. T o d o esse legado é de ord em
in dividu al, m as da m esm a fo rm a te m o s o p a trim ô n io co letivo .
"As co le tivid a d e s são co n stitu íd a s por g ru p os diversos, em co n sta n te m u tação, com interesses
d istin to s e, não raro, co n flitan te s. Um a m esm a pessoa p o d e p e rte n ce r a d iversos gru p os e, no
d e c o rre r do te m p o , m u d ar para outro s. [...] O qu e para uns é p a trim ô n io , para o u tro s não é.
A lém disso, os v a lo re s sociais m u dam com o te m p o " (FUNARI; PELEGRINI, 2009, p. 10).
O m o d e rn o co n ce ito de p a trim ô n io surgiu com a criação dos Estados N a cion ais (fo rm ação dos
países), no séc. XVIII, na Europa, q u an d o e n tão fo i necessária a "in v e n çã o de um co n ju n to de
cidadã os que d eve riam co m p a rtilh a r um a língua e um a cultura, um a origem e um te rritó rio " ,
ou seja, criar um a id e n tid a d e co letiva (FUNARI; PELEGRINI, 2009, p. 16).
M a s quem d e te rm in a o que é p a trim ô n io cu ltu ra l? Segundo Fonseca (2005, p. 22) "tra ta -se de
um a po lítica co n d u zid a por in telectu a is, q ue re q u e r um grau de esp e cialização em
d e te rm in a d a s áreas do saber (arte, história, arq u ite tu ra , arq u e olog ia, an tro p o lo g ia )" que
através da seleção de bens cu ltu rais, co n stro e m um a re p rese n ta ção dos g rupos sociais,
levan d o em co n ta a p lu ra lid a d e cu ltural, na te n ta tiv a de p ro p o rc io n a r um s e n tim e n to com um
de p e rte n cim e n to e re fo rçar a id en tid ad e.
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Essa escolh a dos bens que serão p re servad o s é fe ita com base em valores. Foi o h is to ria d o r da
arte au stríaco A lo is Riegl (1858-1905) qu e d efin iu os p rin cip ais v a lo re s de um m o n u m e n to : o
v a lo r h istó rico e o artístico . D eles d erivaram -se o u tro s v a lo re s qu e ju stifica m a p re servação dos
bens: a rq u ite tô n ico , arq u e o ló g ico , natural, paisagístico, cu ltu ral, relig ioso, p a le o n to ló g ico , etc.
2.1. Introdução
A o longo dos sécu lo s o co rreu um a evo lu ção e a lte ra çã o ta n to nos e stilo s a rq u ite tô n ic o s co m o
nos m étodo s, m atéria s e té cn ica s co n stru tiv a s q ue fu n d a m e n ta ra m novas co rre n te s artísticas
e arq u ite tô n ica s, in flu e n cia n d o d ire ta m e n te nas práticas de re cu p eraçã o e in te rv e n çã o em
co n stru çõ e s p ré-existen tes. Porém , a ideia de re sta u ro q ue se co n he cia an tigam en te, não era
ex a ta m e n te a m esm a que se te m hoje. Técn icas de re cu p e ra çã o eram em pregadas, m as não se
tin h a a p re o cu p ação em pre servar as ca ra cte rística s das co n stru çõ e s antigas e nem p ro m o ve r
a co n sciên cia histórica.
D u rante o sécu lo XVIII, na Europa, fo ram d ados os p rim e iro s passos para a in iciaçã o d e te o ria s
e a p ro fu n d a m e n to s sob re o re sta u ro v isa n d o a p reservação dos m o n u m e n to s históricos.
Johann W in ck e lm a n n (1717-1768) fo i um dos fu n d a d o re s da h istó ria da arte e da arq u e o lo g ia
clássica, in tro d u zin d o os co n ce ito s de e stilo s e cron olog ia. A té e n tão não havia d istin çã o e n tre
os p erío d o s e nem e n tre os im p é rio s e civilizaçõ e s antigas. As p rim eira s in terven çõ es
realizadas nos m o n u m e n to s arq u e o ló g ico s d e sco b e rto s nas escavações, p or vo lta d e 1700,
fo ra m a in serção de gram po s m etálico s para su ste n ta r as peças e a co n so lid a çã o das partes
com m antas e gram po s de fe rro . Porém so m e n te no sécu lo seg u in te é q ue surgiram duas
te o ria s: a A n ti-in te rv e n c io n ista ou P rese rvacio n ista e a Intervencionista, com vários
d e sd o b ra m e n to s para a restauração.
A R evolu ção Industrial co m eço u na Inglaterra em m ead o s do sécu lo XVIII. Foi ca racterizad a
pela passagem da m an u fatu ra à in d ú stria m ecânica, p o ssib ilita n d o a ascensão da burguesia às
esferas de poder, p ro d u zin d o m u dan ças p o líticas e e co n ô m ica s qu e m o d ifica ram a a titu d e dos
co le c io n a d o re s de arte, re su ltan d o na en tra d a dos g ru p os m en os fa v o re c id o s no m u n d o da
cultura. C e ntra da no pro gresso cie n tífic o e na in tro d u çã o de novos m ateriais, a R evolução
Industrial fa c ilito u o e n riq u e c im e n to cu ltu ra l de to d a s as classes sociais e propagou p rin cíp io s
cie n tífic o s e cu ltu rais graças a novas té cn ica s de im pressão , a u m e n ta n d o o in tere sse das
d ife re n te s classes sociais pela educação. Nessa fase surgiram novas ciên cias com cam p o s de
ação cla ra m e n te d e fin id o s e com m é to d o s p ró p rio s de tra b a lh o . Entre essas novas ciências,
nasceu - advin da do a p rim o ra m e n to das té cn icas e dos n ovos m ateria is - a co n se rvaçã o de
bens cu ltu ra is e a co n se rvaçã o preven tiva.
John Ruskin, v iv e n c ia n d o esse perío d o , fo i um dos p rin cip ais p erson ag en s para a co n stru çã o do
p en sa m e n to sob re con servação. R ep re sen tan te da re sta u raçã o com o p en sam e n to ro m â ntico,
d efen d ia a in to ca b ilid a d e do m o n u m e n to degradad o. Era p a rtid á rio da a u te n ticid a d e histórica,
a c re d ita n d o que os m o n u m e n to s m ed ie vais (arq u ite tu ra gótica), re p re se n ta tiv o s do antigo,
d eve riam ser m a n tid o s sem m o d ifica çã o algum a. Tinha a d e stru içã o co m o um a ideia em si
m esm a bela, d e fe n d e n d o "a m o rte da ed ificaçã o q u an d o chegar o m o m e n to " e acre d ita n d o
que "o ato de re sta u rar é tã o im p ossíve l q u a n to o ato de ressu scita r os m o rto s."
In d ire tam en te deu os p rim e iro s passos na d ire ção da co n se rvaçã o p reven tiva, ao d e fe n d e r que
as ed ifica çõ e s a n ce strais d eve riam ser tra ta d a s com m u ito cu id a d o e re sp eito, dessa m aneira
to rn a n d o -a s m ais d u ráveis ao p riv ile g ia r a in teg rid ad e e a u te n ticid a d e física do bem e ao
a te n ta r para o fa to de que a v igilân cia a um v e lh o ed ifício , p or m eio dos m e lh o re s cu id ad o s
possíveis, o salvaria de q u a lq u e r causa de degrad ação. Em sua te o ria previa, no en tan to , a
co n so lid a çã o do prédio, p or m eio da co lo ca ção de re forços e escoras e a a d ap tação co n tro la d a
do p ré d io para as necessidades da vida m odern a.
As sete lâm padas da a rq u ite tu ra fo i o livro escrito p or Ruskin, em 1849, o n d e ele ap resen ta
sete v alore s que ilu m in am a a rq u ite tu ra . São eles: o S acrifício, a V e rd ad e , a Potência, a Beleza,
a Vida, a M e m ó ria e a O b e d iên cia. A m ais re levan te para a A rq u ite tu ra é a L Â M P A D A DA
M E M Ó R IA . Ruskin in tro d u z o d iscu rso sob re a lâm pada da m e m ó ria a firm a n d o qu e p o d e m o s
so b re v iv e r sem a a rq u ite tu ra , m as que esta é essencial para nossa m em ória . "Q ua ntas páginas
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de registros d u vid o so s não p o d e ría m o s nós dispen sar, em tro ca de algum as pedras e m p ilh ad as
um as sob re as o u tra s" (RUSKIN, 2008, p. 54).
P rim e ira m e n te ele apre sen ta a n ecessid ad e de se co n fe rir um a d im en são h istó rica à
a rq u ite tu ra de "hoje", c o n te m p la n d o algum as p re o cu p a çõ e s para com o seu cu id ad o , para que
as fu tu ra s g eraçõ es possam u sufru ir delas (e d ificaçõ es re sid e n ciais e públicas). Já q u a n to as
e d ificaçõ es antigas, ele descre ve co m o pro teg ê-las m o stra n d o q ue d evem ser cu id ad as co m o
as m ais preciosas heranças da h u m a nid ade . Para Ruskin o re sta u ro é co n sid e ra d o a p io r das
destru ições. Justifica essa o p in iã o a firm a n d o qu e é im p ossíve l re co n stru ir o q ue fo i perdido.
No m áxim o o qu e a co n te ce ria é um a im ita ção do qu e existia e isso é um fa lso h istó rico , pois o
e sp írito da o bra nunca será o m esm o. P o d erão v ir o u tro s e sp íritos, m as o q ue já se foi, nunca
retorn ará . A o bra antiga possui um q u ê de vita lid a d e , de m iste rio so e sugestivo vestíg io do que
ela fo i e do que se perdeu. A suavida d e nas linhas m acias m o d e la d a s pelo v e n to e pela chuva
(pátina do tem p o ), qu e não p ode ser e n co n tra d a na b ru tal d ureza do novo (restauro). Segundo
ele, m e lh o r que o re sta u ro é a d e stru içã o do e d ifíc io e a u tiliza çã o de seus m ateria is em
q u a lq u e r o u tra coisa, m as não o eng an o de te n ta r repará-lo. Para ele, se to m a rm o s to d o o
cu id a d o com nossos m o n u m e n to s a n ecessid ade do re sta u ro deixará de existir.
D efen dia a re sta u raçã o in te rv e n cio n ista , p e rm itin d o ao a rq u ite to co m p le ta r e d ifício s através
de um a u n id a d e estilística, agregando p artes novas ainda q ue não te n h a m nunca ex istid o na
h istó ria da ed ificaçã o p o ssib ilita n d o sua co n clu sã o. Ele se ap o d e rava das ob ras e o que
pensava estar ruim , m odificava. V a lo riza va as ca racte rísticas estilísticas bu scan do a p erfeição
fo rm a l, m as d escon sid era va os asp e ctos h istó rico s. Em seus projetos, V io lle t - le - D u c
re co n stitu ía as partes desa p arecid as p or m eio d aq u elas ainda existen tes. Os a cab am en to s
eram tal qual o p ro je to o rigin al e não era possível p e rce b e r suas in terven ções. In terpretava a
a rq u ite tu ra de um a fo rm a bastan te racion alista.
C ro n o lo g ia de V io lle t-le -D u c
1863 - passa a ser p ro fesso r de h istó ria da arte e esté tica da A ca d e m ia de Belas A rtes
C atedral de A m ie n s
C atedral de Lausana
Saint C h ap e lle
San M ig u e l de Carcassonn e
P refeitu ra de San A n tô n io
P refeitu ra de N arbona
"R estau rar um e d ifício não é m an tê-lo, re p ará-lo ou refazê-lo, é re sta b e le cê -lo em um estado
c o m p le to que p ode não te r e x istid o nunca em um dado m o m e n to . [...] D issem os q ue a palavra
e o assu n to são m o d e rn o s e, com efeito , n en h u m a civilização, nen h u m povo, em te m p o s
passados, te v e a in ten ção de fa ze r re sta u raçõ es co m o nós as c o m p re e n d e m o s hoje. [... ] Esse
program a, antes de m ais nada, a d m ite p o r p rin cíp io qu e cada e d ifíc io ou cada p arte de um
e d ifíc io devam ser re sta u rad os no e stilo q ue lhes perten ce, não so m e n te co m o aparên cia, m as
co m o estrutura. São pou cos os e d ifício s que, d u ra n te a Idade M é d ia so b re tu d o , foram
co n stru íd o s de um a só vez, ou, se assim o fo ram , q ue não te n h a m so frid o m o d ifica çõ e s
notáveis, seja através de acréscim os, tra n sfo rm a çõ e s ou m u d an ças parciais. É, p ortanto ,
essencial, antes de q u a lq u e r tra b a lh o de reparação, co n sta ta r e x a ta m e n te a idade e o ca ráte r
de cada parte, co m p o r um a esp é cie de re la tó rio re sp ald ad o p or d o c u m e n to s seguros, seja p or
n otas escritas, seja p or le v a n ta m e n to s gráficos. A d em ais, na França, cada p ro vín cia possui um
e stilo qu e lhe é pró prio, um a escola da qual é n ecessário co n h e ce r os p rin cíp io s e os m eios
práticos. [...] O a rq u ite to e n carre g ad o de um a re sta u raçã o deve, pois, co n h e ce r ex a ta m e n te
não so m e n te os tip o s re fe re n te s a cada p e río d o da arte, m as ta m b é m os e stilo s p erte n ce n te s a
cada escola. Em geral os m o n u m e n to s ou p artes de m o n u m e n to s de um a certa época e de
um a certa escola foram rep arad o s diversas vezes, e isso p or artistas q ue não p erten ciam à
p ro vín cia o n d e fo i co n stru íd o o ed ifício . Daí as d ificu ld a d e s co n sid e ráveis. Em se tra ta n d o de
re sta u rar as partes p rim itiv a s e as partes m o d ifica das, deve-se não levar em conta as ú ltim as e
re s ta b e le ce r a u n ida de de e stilo alterada, ou re p ro d u zir e x a ta m e n te o to d o com as
m o d ifica çõ e s p o ste rio re s? A n te s de m ais nada, antes de ser arq u e ólog o, o a rq u ite to
e n carre g ad o de um a re sta u raçã o d eve ser um co n stru to r hábil e e x p e rim e n ta d o , não so m e n te
do p o n to de vista geral, m as do p o n to de vista particular; isto é, deve co n h e ce r os
p ro ce d im e n to s de co n stru çã o a d m itid o s nas d ife re n te s épocas de nossa arte e nas diversas
escolas. Esses p ro ce d im e n to s de co n stru çã o tê m um v a lo r re lativo e nem to d o s são
ig u a lm e n te bons. A lguns tive ra m até m esm o de ser ab a n d o n a d o s p o rq u e eram d efeitu osos.
A ssim , p o r exem plo, tal e d ifíc io co n stru íd o no sécu lo XII, e q ue não tin h a calhas sob o
e sco a m e n to dos telh ad o s, te v e de ser re sta u rad o no sécu lo XIII e m u n id o de calhas com
esg o ta m e n to co m bin ad o . Estando to d o o co ro a m e n to em m au estado, é p reciso re fazê-lo por
in teiro. S u prim ir-se -ã o as calhas do sécu lo XIII para re sta b e le ce r a antiga corn ija do sécu lo XII,
da qual se e n co n tra ria m , adem ais, os e le m e n to s? C laro q ue não; deve-se re sta b e le c e r a cornija
com calha do sécu lo XIII, co n se rv a n d o -lh e a fo rm a dessa época, um a vez q ue não se p od e ria
e n c o n tra r um a cornija com calha do sécu lo XII. O u tro exem plo: as ab ó bad as de um a nave do
sécu lo XII, p or co n se q u ên cia de um acid e n te q u alqu er, fo ra m p a rcia lm e n te d estru íd a s e
re feitas m ais tarde, não com sua fo rm a p rim eira , m as de aco rd o com o m o d o e n tão ad m itid o .
Essas ú ltim a s abóbadas, p or sua vez, am eaçam ruir; é p re ciso recon stru í-las. É preciso
re sta b elecê-las em sua fo rm a po sterio r, ou re sta b e le ce r as ab ó b a d as p rim itiv a s? Trata-se de
co n sid e ra r qu e a re sta u raçã o p o s te rio r fo i fe ita sem crítica, seg u in d o o m é to d o ap lica d o até
nosso sécu lo [... ] essas abóbadas, de ca rá te r a lh e io às p rim e ira s e q ue d evem ser
re con stru ídas, são n o ta v e lm e n te belas. P o ssib ilitara m a criação de jan elas g u arn e cid as de
belo s vitrais, e fo ra m co m bin ad a s de m od o a se o rd e n a r com to d o um sistem a de co n stru ção
e x te rio r de gran de valor. C om o ocorreu , p or exem p lo, na N o tre-D a m e de Paris no sécu lo XIV.
A o s u b stitu ir as suas partes, d e stru ire m o s esse tra ç o tã o in tere ssa n te de um p ro je to qu e não
fo i in te ira m e n te executado, m as qu e d e n o ta as te n d ê n cia s de um a e scola? Não; nós os
re p ro d u zire m o s em sua fo rm a m odifica d a, pois essas m o d ifica çõ e s p od em escla re ce r um
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p o n to da h istó ria da arte. Em um e d ifíc io do sécu lo XIII, cujo e sco a m e n to das águas se fazia
p or lacrim ais, co m o na catedral de Chartres, p or exem p lo, acho u -se q ue se devia, para m e lh o r
regu lar esse e sco am e n to , acrescen tar, d u ra n te o sécu lo XV, gárgulas aos canais. Essas gárgulas
estão em m au estado, é necessário su b stitu í-las. C o lo ca re m o s em seu lugar, sob o p re te x to de
unidade, gárgulas do sécu lo XIII? Não; pois d e stru iría m o s assim os tra ço s de um a d isp osição
p rim itiv a in tere ssa nte . Insistirem os, ao co n trá rio , na re sta u raçã o po sterio r, m a n te n d o seu
estilo. [...] M as, se fo r o caso de re fazer em estad o novo p o rçõ e s do m o n u m e n to das q uais não
resta tra ço algum , seja p or n ecessid ad es de co n strução, seja para co m p le ta r um a obra
m u tilada, e n tão o a rq u ite to en carre g ad o de um a re sta u raçã o deve im b u ir-se bem do estilo
p ró p rio ao m o n u m e n to cuja re sta u raçã o lhe é con fiad a. D eve-se p o rta n to p ensar duas vezes
q u an d o se tra ta de co m p le ta r partes fa lta n te s de um e d ifíc io da Idade M é d ia e estar b astante
im b u íd o da escala ad m itid a p elo co n stru to r p rim itiv o . Nas restau raçõ es, há um a co n d ição
d o m in a n te que se deve te r sem p re em m ente. É a de s u b stitu ir to d a p arte re tirad a so m e n te
p or m ateria is m e lh o re s e p or m eio s m ais eficazes ou m ais p erfeitos. É necessário q u e o ed ifício
re sta u rad o ten h a no fu tu ro , em co n se q u ê n cia da o p e ra çã o à qual fo i su b m e tid o , um a fru içã o
m ais longa do que a já deco rrid a. Não se p od e negar qu e to d o tra b a lh o de re sta u raçã o é um a
prova bastan te dura para um a con stru ção. Os an daim es, os esteios, aq u ilo que é necessário
arrancar, as ex traçõ es parciais da alven aria, causam na obra ab alo s q ue às vezes d e te rm in a ra m
a cide n tes m u ito graves. É, pois, p ru d e n te co n sid e ra r o a p e rfe iç o a m e n to s no sistem a
estru tu ral. Inútil d ize r que a escolh a dos m ateria is in flui em gran d e p arte nos tra b a lh o s de
restau ração. M u ito s e d ifício s so m e n te estão am eaçad o s de ru ir pela fra g ilid a d e ou q u a lid a d e
m e d ío c re dos m ateria is em pregados. Toda pedra a ser re tirad a deve, pois, ser su b stitu íd a por
um a pedra de q u a lid a d e su p erio r. [... ] Se o a rq u ite to e n carre g ad o da re sta u raçã o de um
e d ifíc io d eve co n h e ce r as form a s, os e stilos p e rte n ce n te s a esse e d ifíc io e à escola da qual
p ro ve io, d eve ainda m ais, se fo r possível, co n h e ce r sua estru tu ra, sua an atom ia, seu
te m p e ra m e n to , pois antes de tu d o é n ecessário qu e ele o faça viver. [... ] Os tra b a lh o s de
re sta u raçã o que, do p o n to de vista sério, prático, p erten ce m a nosso te m p o . Eles fo rça ra m os
a rq u ite to s a e ste n d e r seus co n h e cim e n to s, a p esq u isar m eios enérgicos, ex p ed itos, seguros; a
d e se n vo lv e r re laçõ es m ais dire ta s com os o p e rá rio s da con stru ção. [...] P ro v e n ie n te das m ãos
do a rq u ite to , o e d ifíc io não d eve ser m en os cô m o d o do qu e era antes da restauração.
A d em ais, o m e lh o r m eio para co n se rv ar um e d ifíc io é e n c o n tra r para ele um a destin açã o, é
satisfazer tã o bem to d a s as necessidad es qu e exige essa d estin ação, q ue não haja m o d o de
fa ze r m o d ifica çõ e s. [...] Q u e um a rq u ite to se recuse a fa ze r com qu e tu b o s de gás passem
d e n tro de um a igreja a fim de e v ita r m u tila çõ e s e acide n tes é co m p re e n sív e l, pois é possível
ilu m in a r o e d ifíc io com o u tro s m eios; m as que ele não co n sin ta na in stalação de um ca lo rífe ro ,
p or exem plo, sob o p re te xto de que a Idade M é d ia não havia a d o ta d o esse sistem a de
a q u e c im e n to nos ed ifício s religiosos, q ue ele o b rig u e assim os fié is a se resfriar, isso cai no
ridículo. [... ] A fo to g ra fia , que a cada dia assu m e um papel m ais sério nos estu d os cien tíficos,
parece v ir a p ro p ó sito para aju dar nesse gran d e tra b a lh o de re sta u raçã o dos e d ifício s antigos
[... ] ela ap re sen ta essa vantagem de fo rn e c e r re la tó rio s irre fu tá v e is e d o c u m e n to s qu e podem
ser co n su ltad o s sem cessar, m esm o q u an d o as re sta u raçõ es m ascaram os tra ço s d eixa d os pela
ruína. [... ] Q u a n d o se trata, p o r exem p lo, de co m p le ta r um e d ifíc io em p arte arru in ad o ; é
n ecessário, antes de com eçar, tu d o buscar, tu d o exam inar, re u n ir os m en o res fra g m e n to s
te n d o o cu id a d o de co n sta ta r o p o n to o n d e fo ra m d escob e rtos, e so m e n te in icia r a obra
q u an d o to d o s esses re m an esce n te s tiv e re m e n co n tra d o lo g ica m e n te sua d estin açã o e seu
lugar, co m o os pedaços de um jo g o de p aciê n cia" (VIOLLET-LE-DUC, 2000, p. 27 a 70)
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2.4. Restauro Italiano - Cam illo Boito, Gustavo Giovannoni e Cesare Brandi
C am ilo Boito
2. Evitar acréscim o s e ren ovações, porém , se n ecessário, te r ca rá te r d ive rso do o rig in al sem
d e sto a r d o conjunto;
"O s m o n u m e n to s d everiam ser co n so lid a d o s antes de ser rep arad o s e m e lh o r rep arad o s qu e
re sta u rad os".
"A arte do re stau rador, v o lto a dizê-lo, é co m o a do cirurgião. Seria m e lh o r que o frágil co rp o
h u m a n o não precisasse dos a u xílios cirúrgicos; m as nem to d o s creem q ue seja m e lh o r ver
m o rre r o p are n te ou o am igo do qu e fa ze r com q ue lhes seja a m p u ta d o um d e d o ou qu e usem
um a pern a de pau. Disse no p rin cíp io q ue a arte de re sta u rar é re ce n te e q ue pod ia e n c o n tra r
as suas te o ria s so m e n te em um a socie d a d e q ue não tive sse nenhum e stilo seu na arte do Belo,
m as q u e fo sse capaz de co m p re e n d ê -lo s e, q u an d o o p o rtu n o , de am á-los tod os. En con tram o-
nos nesse caso há po u co m ais de m eio século; mas, ap esar de o te m p o ser breve, até m esm o
os crité rio s sob re o re sta u rar se tra n sfo rm a ra m , p rin cip a lm e n te nesses ú ltim o s anos. Nem eu,
senhores, con fesso-o, sin to -m e livre de algum a co n trad ição . Existe um a escola, já velha, mas
não m orta, e um a nova. O gran de leg islad o r da velh a fo i V io lle t-le -D u c, q ue com seus estu d os
h istó rico s e crítico s sob re a arte da Idade M é d ia na França fez p ro g re d ir a h istó ria e a crítica
ta m b é m na Itália. Foi ta m b é m a rq u ite to , m as de v a lo r co n trastan te, e re stau rad or, até há
po u co ele va d o aos céus por to d o s, agora a fu n d ad o no in fe rn o p o r m u ito s pelas suas m esm as
obras na antiga cid ad e de Carcassonne, no ca ste lo de P ie rre fo n d s e em o u tro s insignes
m on u m e n to s. Eis a sua te o ria , da qual d erivo u sua prática: "R estau rar um e d ifício q u e r d izer
re in te g rá-lo em um estad o co m p le to , q ue p od e não te r ex istid o nunca em um d ad o te m p o "
C om o fazer? C o lo ca m o -n o s no lugar do a rq u ite to p rim itiv o e a d iv in h a m o s a q u ilo q ue ele teria
fe ito se os a co n te c im e n to s o tive ssem p e rm itid o fin a liza r a con stru ção. Essa te o ria é cheia de
perigos. Com ela não existe d o u trin a , não existe en g e n ho qu e sejam capazes de nos salvar dos
a rbítrio s: e o a rb ítrio é um a m en tira, um a fa lsifica çã o do antigo, um a arm a d ilh a posta aos
v in d o u ro s. Q u a n to m ais bem fo r con d u zid a a restau ração, m ais a m en tira ven ce in sid iosa e o
engano, triu n fa n te . Q u e d iriam os sen h ores de um a n tiq u á rio que, te n d o d esco b e rto , digam os,
um novo m a n u scrito de D ante ou de Petrarca, in co m p le to e em gran d e p arte ilegível, se
p ro pu se sse a co m ple tar, de sua cabeça, astu tam en te, sab iam en te , as lacunas, de m o d o que
não fosse m ais possível d istin g u ir o o rig in al dos acréscim o s? Não m ald iriam a h ab ilid a d e
su p rem a desse fa lsá rio ? E até m esm o poucos p eríod os, p ou cos v o cá b u lo s in te rp o la d o s em um
te x to não lhes ench em a alm a de té d io e o cé re b ro de d ú vid as? [...] m as e agora? N ão p ode ria
alguém in te rro m p e r-m e , gritan do: "e n tre o d ize r e o o p e ra r existe em m eio ao m ar?" Assim ,
sob re as re sta u raçõ es a rq u ite tô n ica s, concluo: I. É necessário fa ze r o im possível, é n ecessário
fa ze r m ilagres para co n se rv ar no m o n u m e n to o seu v e lh o asp ecto a rtístico e pitoresco; II. É
n ecessário qu e os co m p le ta m e n to s, se in d isp en sáveis, e as adições, se não podem ser
evitadas, d e m o n stre m não ser o bras antigas, m as obras de h oje" (BOITO, 2002, p. 57 a 63)
G u stavo G io va n n o n i
através de seus m u ito s "p lan os d ire to re s " (Rom a, Bari, Bergam e, Ferrare), e ta m b é m sob re a
legislação italian a do p a trim ô n io e sob re o curso p o liv a le n te das escolas de a rq u ite tu ra . Na
Europa, suas ideias m arcaram a C o n fe rê n cia de A te n a s (1931) e a Carta de V en eza (1964). Suas
te o ria s estão na o bra Vecchie città ed edilizia nuova (Cidade velh a e nova habitação), de 1931.
"O s in o vad o re s dizem : as cidades não são m useus ou arq u ivos, m as são fe ita s para serem
vividas da m e lh o r fo rm a possível e nós não p o d e m o s c o m p ro m e te r o d e se n v o lv im e n to delas e
parar o ca m in h o da civilização, fe ch a n d o a vida nova d e n tro de ruas estre itas e tristes, apenas
p or um e q u iv o ca d o re sp e ito fe tic h ista em re lação ao passado. A s nossas exigências são
c o m p le m e n te diversas d aq u ela s dos nossos antepassados; e, a essas, nós não p o d e m o s m ais
nos ad a p ta r — da m esm a fo rm a qu e não sab e ríam o s m ais usar os seus vestid os, pitorescos,
m as in côm od o s. Ar, luz, co m o d id a d e , higiene, isso nós q u e re m o s! As h ab itaçõ es, sejam
cô m o d a s e abertas, as ruas, sejam am plas, úteis, de ráp id o p ercurso; e se, em seu traçad o,
e n co n tram -se e d ifício s im p o rta n te s e ob ras de arte que não possam ser re m ovid a s (a não ser
que não se tra te de m o n u m e n to s excepcionais), não há o u tra coisa a fa ze r além de d em o li-los,
e, no m áxim o, se h o u v e r te m p o , co n se rv a r a lem b ra n ça d ele s p o r m eio de d o cu m e n to s
gráficos. R espondem os co nservadores: a vida não p o d e ser m ovid a so m e n te p or um co n ce ito
m ateria l u tilitá rio , sem um ideal, sem um a busca de beleza; m en os ainda do qu e a vida de um
in d ivíd u o , p ode ser tal a vida co le tiva das cidades, que d eve co n te r em si os e le m e n to s de
ed u caçã o m oral e esté tica e que não p o d e p re scin d ir da tra d iç ã o na qual se en co n tra boa parte
da glória nacio nal. E a tra d iç ã o é o fe n d id a no dia em qu e se d e m o le ou se d etu rp a um
m o n u m e n to e se tira um te s te m u n h o de arte e de h istó ria ou qu e se tra n sfo rm a
v io le n ta m e n te a fisio n o m ia do a m b ie n te qu e os sécu lo s p a u la tin a m e n te im p rim ira m a to d o
um b a irro " (G IO VANN O NI, 2013, p. 95 e 96).
"U m n ovo e le m e n to revela-se d esde e n tão de um a im p o rtâ n cia ca p ita l para as cid ad es e
in tro d u z um a re vo lu çã o em m atéria de o rd e n a m e n to : o e le m e n to cin e m á tic o (m ovim en to). Os
m eios rápido s de co m u n ica çã o m od e rn os, linhas de fe rro , linhas de bonde, au tom óveis,
p e rm ite m d esd e e n tão à vida citad in a este n d e r-se bem além de seus antigos lim ite s e às novas
co n stru çõ e s d escen tralizar-se sob re vastos espaços, d e se n vo lv e n d o -se s im u lta n e a m e n te em
su p e rfície e em altura [...]" (G IO VAN N O N I, 2013, p. 106).
16
"In tro d u zir um sen tid o p ito re sco nas novas cidades, seja vale n d o -se das visu ais n atu rais e
m o n u m e n tais, seja estu d a n d o as linhas de circu la çã o e os esp aços a b e rto s não co m o linhas e
figu ras g eo m étrica s, m as co m o a g ru p am e n to s v ariad o s e vivos; lim ita r a ad o ção da reta para
as ruas aos casos necessários, m as p o ssiv e lm e n te d esvian d o-a e associan do-a a curvas, am plas
e breves, ou vale n d o -se de m o n u m e n to s e de jard in s para in te rro m p e r a c o n tin u id a d e
u n iform e; d e v o lv e r às praças prin cip ais o ca rá te r fe ch a d o d aqu elas dos nossos antepassados;
e, so b re tu d o , conservar, na co n cep ção geral e especial, o ca rá te r in d ivid u al da cid ad e ou do
bairro: estão aí os câ n o n es fu n d a m e n ta is da nova te n d ê n c ia [...]" (G IO VANN O NI, 2013, p. 108
e 109).
"Essas o b se rvaçõ es a p lica m -se aos novos b airros e n q u a n to org an ism o s sep arad os e peq u enas
cidades em si. M a s elas co n ce rn e m ta m b é m d ire ta m e n te ao p ro b le m a, fre q u e n te m e n te m u ito
grave, da re n ovação dos ce n tro s antigos e de sua a d ap tação às novas fu n çõ e s da vida
m oderna: com efeito , [...] o co m e ço de to d a um a nova fo rm a de o rd e n a m e n to a b re -lh e a
p o ssib ilid a d e de um d e se n v o lv im e n to racion al q ue p e rm ite e x clu ir a co n g estão e a co n fusão
[...]" (G IO VANN O NI, 2013, p. 112 e 113).
"N a m aio ria dos casos até aqui, a cid ad e antiga, d e s m e d id a m e n te au m en tad a pelo s novos
bairros, co n tin u o u a ser o n ú cleo ce n tral da cid ad e m od ern a, ela to rn o u -se o co ração da
aglom eração, ru m o a qual co n ve rge a circu laçã o e ela tran sfo rm a -se , d ificilm e n te , em bairro
de negó cios e de re sidê n cias de luxo. Esse d e se n v o lv im e n to ce n tríp e to , sem fre io nem direção,
pro vo cou um e n o rm e a u m e n to do v a lo r dos te rre n o s e das co n stru çõe s, d an d o lugar a ajustes
e ele va çõe s excessivas nos e d ifício s antigos e e n g e n d ran d o um a co n ce n tra çã o sem pre
cresce n te que apenas degrada a situação. Não se viu e n tão o u tro re m é d io q ue não sejam as
op e ra çõ e s cirúrgicas e a p icareta tra b a lh o u , quase sem p re sem sucesso, sacrifican d o
fre q u e n te m e n te o bras de arte e d e stru in d o a h arm on ia e o ca rá te r da cid ad e sem , e n tre ta n to
atin g ir os re su ltad o s que re spon dam aos seus o b je tiv o s" (G IO VANN O NI, 2013, p. 113).
"N ã o seria n ecessário p ô r o p ro ble m a assim ; pois q u e re r fa ze r p e n e tra r pela fo rça as form a s
m ais in ten sas da vida m o d e rn a em um o rg an ism o u rb an o co n ce b id o segu n d o c rité rio s antigos
faz re viv e r de m o d o irre m e d iá v e l o co n flito e n tre dois sistem as fu n d a m e n ta is d ife re n te s e não
resolvê-lo. Um a via in te ira m e n te o u tra deve ser seguida, e n q u a n to fo r possível. É n ecessário
d e sco n g e stio n a r o n ú cleo u rb an o antigo im p e d in d o qu e a nova u rb an iza ção não ven h a im p or-
lhe um a fu n çã o para a qual ele é to ta lm e n te inapto; co lo cá -lo fo ra dos g randes eixos de
tráfe go, re d u zi-lo em um m o d e sto b a irro m isto, associan d o co m é rcio s e re sid ê n cias não
luxuosas. E so m e n te sob essas co n d içõ e s qu e um o rd e n a m e n to local, sa b ia m e n te co n ce b id o e
re alizad o com p aciência poderá, no te c id o antigo, tra z e r caso a caso solu çõ es de co m p ro m isso
e n tre os novos d e sid e ra to s e as co n d içõ e s do passado" (G IO VANN O NI, 2013, p. 113 e 114).
hoje tã o prezados, que não são ditad os, co m o se p re ten d e, pelas co n sid e ra çõ e s de higiene,
m as pela re tó rica a rq u ite tô n ic a e pela esp e cu lação privada, ávida p or m o n o p o liza r os te rre n o s
situ a d os no ce n tro da cidade [...]" (G IO VANN O NI, 2013, p. 143).
"A ab e rtu ra de vias in tern as em ce n tro s an tig os é, p or vezes, m esm o ex clu in d o os m otivo s
a rtific io so s de n atu reza re tó rica ou fin an ce ira, um a tris te n ecessid ad e" (G IO VANN O NI, 2013, p.
148).
I. Os eixos re tilín e o s e de largura co n sta n te não são fo rço s a m e n te a m e lh o r solução. A nova via
d everá ce rta m e n te ter, nas suas p artes m ais estreitas, a largura m ín im a re q u erid a pelas
necessidades da circu laçã o [...], m as ta n to m e lh o r se seu tra ç a d o fo r sin u o so e se de te m p o s
em te m p o s seu eixo fo r d esviad o para ce d e r lugar a um m o n u m e n to [...].
II. O tra ç a d o das novas vias d eve seguir a fib ra do b airro antigo, no lugar de co rta r
a rb itra ria m e n te as vias lon g itu d in a is e tran sversa is já existe n te s [...]. D estruir-se-á assim o
m enos possível de m o n u m e n to s preciosos, d eixa n d o in te ira m e n te in tacto o a m b ie n te dos
o u tro s e d ifícios, co n ce b id o s para espaços estreitos.
III. Q u a n d o as re alizaçõe s novas p en e trare m nos b airros antigos, o sistem a co n stru tiv o dos
e d ifício s p re existen te s d everá ser re sp eitad o. Os im óveis gigantescos, tã o caros para a
esp e cu lação m o d e rn a nas grandes cid ad e s [...], co n stitu e m um a irre pará ve l nota falsa on d e
q u e r qu e o te c id o tra d ic io n a l seja co m p o sto de e d ifíc io s de p eq u enas d im en sões. [... ] em
te rm o s estilístico s tam b ém , é n ecessário m a n te r um a h arm o n ia e n tre o an tig o e o novo; m as
eu não gostaria de ser m al co m p re e n d id o sob re esse p on to. Não digo q ue os n ovos p ro jetos
devem ser sim ple s có pias de o bras p re e xiste n te s [...]. M a s cada cid ad e tem sua p ró pria
"a tm o sfe ra " artística, ou seja, um s e n tim e n to das p ro po rções, das co res e das fo rm a s qu e se
co n se rvara m ao longo da e v o lu çã o dos d ife re n te s e stilos e é necessário tê-la em conta. Os
n ovos e d ifício s devem m an ter-se no tom , m esm o q u an d o eles p ro ced e m de um a in spiração
nova e au daciosa [...]. A única solu ção capaz de c o n cilia r as exigências da circu laçã o local, do
aspecto a rtístico local e da h igien e é o o rd e n a m e n to p or d esb a ste (G IO VANN O NI, 2013, p. 148
153).
Eis, resum idos, os p rin cíp io s orgân icos do p lan o re g u la d o r da cid ad e de Roma:
3. T e n d e r a d eslo car pro gressiva m e n te o ce n tro da cid ad e antiga, o rie n ta n d o a urban ização, a
co n stru ção e o trá fic o p rin cip a lm e n te em um a única d ire çã o ru m o à qual as vias de
co m u n ica çã o co n ve rg iriam [...] (G IO VANN O NI, 2013).
"O o b je tiv o prin cip al da re sta u raçã o é co n se rv ar os m o n u m e n to s. [...] Não p od e ríam os, no
en tan to , ex clu ir os tra b a lh o s de re co m p o sição , de re in te g ra çã o e de lib era ção [...] com os
segu intes p rin cípios: re sp eito p or to d a s as fases da co n stru çã o qu e te n h a m um ca ráte r
a rtístico ou histórico; m ín im o possível de ob ras e de acréscim os; u tilização, para tra ta r as
lacunas e co m p le ta r as linhas, de m a te ria is novos, m as d e sp ro v id o s o q u an to possível de
o rn a m e n to s e co n fo rm e s às ca ra cte rística s de co n ju n to da co n strução; co n tin u a çã o das form a s
num e stilo sim ila r apenas em casos em q u e se tra te de exp ressões g e o m é trica s d esp ro vid a s de
o rig in a lid a d e decorativa; in d icação dos acréscim o s seja pelo em p re g o de m ateria is d iferen tes,
seja pela a d o ção de um sistem a de co m p le ta m e n to sem n en h u m a p re ten são o rn a m e n ta l, seja
p or m eio de epígrafes ou de siglas; re sp e ito pelas co n d içõ e s de am b ie n ta çã o do m on u m e n to;
d o cu m e n ta çã o precisa dos trab a lh o s, p or m eio de re la tó rio s a n a lítico s e de fo to g ra fia s
ilu stra n d o as diversas fase s" (G IO VANN O NI, 2013, p. 183-185).
M o n u m e n to s da A n tigu idade:
Cesare Brandi
1. "R estau ra-se so m e n te a m atéria (aspecto físico) da ob ra de arte " (BRANDI, 2004, p. 31).
2. "A re sta u raçã o d eve visar ao re sta b e le c im e n to da u n id a d e p ote n cia l da obra de arte, d esde
que isso seja possível sem c o m e te r um falso a rtístico ou um falso h istó rico , e sem ca ncelar
nenh u m tra ço da passagem da o bra de a rte no te m p o " (BRANDI, 2004, p. 33).
19
"C o m o p ro d u to da a tivid a d e hum ana, a obra de arte possui a instância esté tica e a instância
h istó rica [... ] a re sta u raçã o co n stitu i o m o m e n to m e to d o ló g ico do re co n h e cim e n to da obra de
arte, na sua co n sistên cia física e na sua d ú p lice p o la rid a d e e sté tica e h istórica, com vistas à sua
tra n sm issã o para o fu tu ro . [...] do p o n to de vista do re co n h e cim e n to da obra de a rte co m o tal,
te m pre va lê n cia ab solu ta o lado artístico , na m ed id a em q ue o re co n h e cim e n to visa a
co n se rvar para o fu tu ro a p o ssib ilid a d e dessa revelação, a co n sistên cia física a d q u ire p rim ária
im p o rtân cia . A m atéria [...] dá, p o rta n to , [...] e stru tu ra e asp e cto [...] com a p re va lê n cia do
aspecto sob re a e stru tu ra " (BRANDI, 2004, p. 12).
"[...] a o b ra de arte goza, com efeito, de um a sin gu laríssim a u n id a d e pela qual não p od e ser
co n sid e rad a co m o co m po sta de partes; com isso, é possível negar q ue se possa in te rv ir na obra
de a rte m u tilad a e redu zida a fra g m e n to s (ruínas) e [...] a in teg ração (das partes) d everá ser
sem p re e fa c ilm e n te re co n h e cív e l" (BRANDI, 2004, p. 46).
"R uína será, pois, tu d o a q u ilo que é te s te m u n h o da h istó ria hum ana, m as com um aspecto
bastan te d ive rso e quase irre co n h e cív e l em relação à q u e le de q ue se revestia antes. [...] a
restau ração, q u an d o v o ltad a para a ruína, só p od e ser a co n so lid a çã o e co n se rvaçã o " (BRANDI,
2004, p. 65).
A adiçã o fe ita sob re ob ras de arte "[...] se d etu rpa, desn atu ra, ofusca, su b trai p a rcia lm e n te à
vista a o bra de arte, essa adiçã o deve ser rem ovid a. [...] a p átina d o cu m e n ta a p ró pria
passagem da obra de arte no te m p o e, p o rta n to d eve ser co n se rvad a" (BRANDI, 2004, p. 84).
"A có pia é um falso h istó rico e um falso esté tico e não se p od e s u b stitu ir sem dano h istó rico e
esté tico ao o rigin al [... ] é um a ofensa à h istó ria e um u ltraje à estética, co lo ca n d o o te m p o
co m o re versível e a o bra de a rte co m o re p ro d u zíve l à v o n ta d e " (BRANDI, 2004, p. 88).
"A re sta u raçã o pre ve n tiva é ta m b é m m ais im p erativa, se não m ais necessária, do qu e aquela
de extrem a urgência, p o rqu e é v oltada, de fato , a im p e d ir esta ú ltim a " (BRANDI, 2004, p. 102).
"D ada à esp a cia lid a d e co n tra sta n te qu e p erson ifica a a rq u ite tu ra m od ern a, a in serção de um a
ve rd a d e ira a rq u ite tu ra m o d e rn a em um co n te xto an tigo é in a ce itá ve l" (BRANDI, 2004, p. 108).
20
3. REFERÊNCIAS
C A R T A DE B U R R A . C on se rva ção de Sítios com sig n ificad o cu ltu ral - ICOM OS, Internacional
C ou n cil on M o n u m e n ts and Sites, A u strália, 1988.
FONSECA, M a ria Cecília Londres. O P a trim ô n io em P rocesso. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ,
2005.
FUNARI, P. P.; PELEGRINI, S. C. A. P a trim ô n io H is tó ric o e C u ltu ra l. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.
VIOLLET-LE-DUC, Eugène Em m anuel. R estau ração. C otia SP: A te liê Editorial, 2000.
Carta de Atenas
DE OUTUBRO DE 1931
A - Conclusões Gerais
Qualquer que seja a diversidade dos casos específicos - e cada caso pode comportar uma
soluçõo própria - , a conferência constatou que nos diversos Estados representados predomina uma
tendência geral a abandonar as reconstituições integrais, evitando assim seus riscos, pela adoçõo
de uma manutenção regular e permanente, apropriada para assegurar a conservação dos edifícios.
Nos casos em que uma restauraçõo pareça indispensável devido a deterioraçõo ou destruiçõo, a
conferência recomenda que se respeite a obra histórica e artística do passado, sem prejudicar o
A conferência recomenda que se mantenha uma utilizaçço dos monumentos, que assegure a
continuidade de sua vida, destinando-os sempre a finalidades que o seu caráter histórico ou
artístico.
A conferência constatou que as diferenças entre essas legislações provinham das dificuldades
elas sejam adaptadas às circunstâncias locais e à opinião pública, de modo que se encontre a
menor oposição possível, tendo em conta os sacrifícios a que estão sujeitos os proprietários, em
beneficio do interesse geral. Votou-se que em cada Estado a autoridade pública seja investida do
uma resenha e um quadro comparativo das legislações em vigor nos diferentes Estados e os
mantenha atualizados.
cidades, sobretudo na vizinhança dos monumentos antigos, cuja proximidade deve ser objeto de
cuidados especiais.
preservadas.
postes ou fios telegráficos, de toda indústria ruidosa, mesmo de altas chaminés, na vizinhança ou
IV - Os Materiais de Restauração.
Especificam, porém, que esses meios de reforço devem ser dissimulados, salvo
monumental pelos métodos correntes, não se saberia, dada a complexidade dos casos no estado
A Conferência Recomenda:
casos diferentes.
empreendidos em cada país sobre essas matérias e lhes conceda espaço em suas publicações.
retirar a obra do lugar para o qual ela havia sido criada é, em princípio, lamentável. Recomenda, a
título de precaução, conservar, quando existem, os modelos originais e, na falta deles, a execução
de moldes.
VI - Técnica da Conservação
A conferência constata com s a tis fa ç o que os princípios e as técnicas expostas nas diversas
seus lugares dos elementos originais encontrados (anastilose), cada vez que o caso o permita; os
materiais novos necessários a esse trabalho deverão ser sempre reconhecíveis. Quando for
humanidade interessa à comunidade dos Estados, guardiã da civilização, deseja que os Estados,
agindo no espírito do Pacto da Sociedade das Nações, colaborem entre si, cada vez mais
concretamente para favorecer a conservação dos monumentos de arte e de história.
Jg fK f NSTUUTO 0 0
P a trim ô n io
H lS T Õ tlG Ò E
- (f lM f id k l A rtístico
N a c io n a l
Considera altamente desejável que instituições e grupos qualificados possam, sem causar o
menor prejuízo ao Direito Internacional Público, manifestar seu interesse pela salvaguarda das
obras-primas nas quais a civilização se tenha expressado em seu nível mais alto e que se
apresentem ameaçadas.
dos Estados.
dos estudos desenvolvidos nessa ocasião, muitos dos principais campos de escavações e dos
monumentos antigos da Grécia, foram unânimes em prestar homenagem ao governo grego que, há
muitos anos, ao mesmo tempo em que executava ele mesmo tr a b a lo s consideráveis, aceitou a
Nessa ocasião viram um exemplo que contribuiu para a realização das metas de cooperação
monumentos e obras de arte vem do respeito e do interesse dos próprios povos, considerando que
esses sentimentos podem ser grandemente favorecidos por uma ação apropriada dos poderes
danificar os monumentos, quaisquer que eles sejam, e lhes façam aumentar o interesse, de uma
e de in fo rm açe s;
2o - Cada Estado constitua arquivos onde serão reunidos todos os documentos relativos a
Havia sido previsto que uma das sessões da Conferência do EIM se detivesse na acrópole, e
os membros da conferência usufruíssem das facilidades que lhes haviam sido oferecidos por M.
Baianos, diretor dos trabalhos dos monumentos da Acrópole, que se pôs à disposição para prestar
opiniões.
individualmente, sua opinião sobre esse programa. Sob a orientação de M. Karo, os membros da
conferência procederam a uma longa troca de opiniões, especialmente sobre os seguintes pontos:
de recuperaçço da colunata norte do Partenon, assim como a recuperaçço parcial do peristilo sul,
segundo o projeto de M. Baianos, que não prevê qualquer re sta u ra ço além da simples anastilose.
satisfatórios dos primeiros ensaios feitos por M. Baianos nesse caso especial, se abstiveram de
A escolha do metal a ser empregado para os grampos prendeu a atenção dos técnicos, que
aproveitaram essa ocasião para expor suas experiências sobre o assunto. M. Baianos assinalou que
precauções tomadas e as c o n d iç e s climáticas peculiares no país. Por outro lado, alguns técnicos,
mesmo reconhecendo que as razões invocadas por M. Baianos justificam o emprego do ferro no
que diz respeito aos trabalhos da Acrópole, lembraram conseqüências às vezes desagradáveis
desse emprego para a conservação das pedras e manifestaram sua preferência por metais menos
projeto preconizado por M. Baianos, que consiste em proteger esse friso com uma cobertura
apropriada.
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P A TR I MÔ N IO
H istórico e
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A r t ís t ic o
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Carta de Atenas
DE NOVEMBRO DE 1933
Assembléia do CIAM
constitui a região.
região. O recorte territorial administrativo das cidades pode ter sido arbitrário desde o início ou
pode ter vindo a sê-lo posteriormente, quando, em decorrência de seu crescimento, a aglomera— o
principal uniu-se a outras comunidades e depois as englobou. Esse recorte artificial se opõe a uma
boa gestão do novo conjunto. De fato, certas comunidades suburbanas puderam adquirir
luxuosas, seja acolhendo centros industriais dinâmicos, seja reunindo miseráveis populações
operárias.
paralisantes. Uma aglomeração constitui o núcleo vital de uma extensão geográfica cujo limite é
constituído pela zona de influência de uma outra aglomeração. Suas condições vitais são
determinadas pelas vias de comunicação que asseguram suas trocas e ligam-se intimamente à sua
um papel determinante nessa questão: linhas de divisão de águas, morros vizinhos desenhando um
contorno natural confirmado pelas vias de circulação, naturalmente inscritas no solo. Nenhuma
atuação, pode ser considerada se não se liga ao destino harmonioso da região. O plano da cidade é
Entregue somente a suas forças, ele nada construiria além de sua choça e levaria, na insegurança,
uma vida submetida a perigos e a fadigas agravados por todas as angústias da solidão.
Incorporado ao grupo, ele sente pesar sobre si o constrangimento de disciplinas inevitáveis, mas,
em troca, fica protegido em certa medida contra a violência, a doença, a fome: pode aspirar a
melhorar sua moradia e satisfazer também sua profunda necessidade de vida social. Transformado
em elemento constitutivo de uma sociedade que o mantém, ele colabora direta ou indiretamente
nas mil atividades que asseguram sua vida fisica e desenvolvem sua vida espiritual.
Suas iniciativas tornam-se mais frutíferas, e sua liberdade, melhor defendida, só se detém
plano é sábio quando permite uma colaboração frutífera, propiciando ao máximo a liberdade
do solo, do clima.
Não se pode esquecer jam ais que o sol comanda, impondo sua lei a todo empreendimento cujo
objetivo seja a salvaguarda do ser humano. Planícies, colinas e montanhas contribuem também
para modelar uma sensibilidade e colinas e determinar uma mentalidade. Se o montanhês desce
transpõe os desfiladeiros. Foram os cumes dos montes que delimitaram as áreas de aglomeração
onde, pouco a pouco, reunidos por costumes e usos comuns, os homens se constituíram em
povoações.
A proporção dos elementos água e terra, quer atue na superfície, opondo as regiões
gordos pastos e, ali, pântanos ou desertos, conforma, ela também, atitudes mentais que se
(^sTiturooo /
jijh s Patrim ô nio
HlSTÓmCOE
Artístico
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parcela, a Terra não experimente ruptura, surgem inúmeras combinações, cada uma das quais com
seus caracteres particulares. Enfim as raças, com suas religiões ou suas filosofias variadas,
multiplicam a diversidade dos empreendimentos e cada uma propõe seu modo de ver e sua razão
de viver pessoais.
A situação econômica, riqueza ou pobreza, é uma das grandes forças da vida, determinando-
que, de acordo com a força de sua pulsações, introduz a, prodigalidade, aconselha a prudência ou
impõe a sobriedade; ela condiciona as variações que traçam a história da aldeia, da cidade ou do
país. A cidade cercada por uma região coberta de cultivos tem seu abastecimento assegurado.
quela que dispõe de um subsolo precioso se enriquece com matérias que lhe servirão como
moeda de troca, sobretudo se ela é dotada de uma rede de circulação suficientemente abundante
para permitir-lhe entrar em contato útil com seus vizinhos próximos ou distantes. A tensão da
modificada a cada momento pelo aparecimento de forças imprevistas, que o acaso ou a iniciativa
humana podem tornar produtivas ou deixar inoperantes. Nem as r iu e z a s latentes, que é preciso
querer explorar, nem a energia individual têm caráter absoluto. Tudo é movimento, e o econômico,
Fenômeno mais variável do que qualquer outro, sinal da vitalidade do país, expressão de
uma sabedoria que atinge seu apogeu ou já toca seu declínio. Se a política é de natureza
essencialmente variável, seu, fruto, o sistema administrativo, possui uma estabilidade natural que
lhe permite, ao longo do tempo, uma permanência maior e não autoriza modificações muito
freqüentes.
Expressão da dinâmica política, sua duração é assegurada por sua própria natureza e pela
própria força das coisas. É um sistema que, dentro de limites bastante rígidos, rege uniformemente
meios de comando, determina modalidades uniformes de ação em todo o país. Esse quadro
econômico e político, cujo valor embora tenha sido confirmado pelo uso durante um certo período,
pode ser alterado a q u a lu e r instante em uma de suas partes, ou em seu conjunto. Algumas vezes,
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basta uma descoberta científica para provocar uma ruptura de equilíbrio, para fazer surgir a
ocorrer que algumas comunidades, que souberam renovar seu quadro particular, sejam afixidas
pelo quadro geral do país. Este último pode, por sua vez, sofrer diretamente a investida das
grandes correntes mundiais. Não há quadro administrativo que possa pretender a imutabilidade.
A história está inscrita no traçado e na arquitetura das cidades. Aquilo que deles subsiste
forma o fio condutor que, juntamente com os textos e os documentos gráficos, permite a
representação de imagens sucessivas do passado. Os motivos que deram origem às cidades foram
de natureza diversa. Por vezes era o valor defensivo. E o alto de um rochedo ou a curva de um rio
viam nascer um pequeno burgo fortificado. Ás vezes, era o cruzamento de duas rotas, unia cabeça
A cidade era de formato incerto, mais freqüentemente em círculo ou semicírculo. Quando era
uma cidade de colonização, organizavam-na como um acampamento, com eixos de ângulos retos e
cercada de paliçadas retilíneas. Tudo nela era ordenado segundo a proporção, a hierarquia e a
direção de alvos distantes. Podemos encontrar ainda no desenho das cidades o primeiro núcleo
Aqui, regras profundamente humanas ditavam a escolha dos dispositivos; ali, constrangimentos
arbitrários davam origem a injustiças flagrantes. Sobreveio a era do maquinismo. A uma medida
milenar, que se poderia crer imutável, a velocidade do passo humano, somou-se uma medida em
de muralhas que se tornaram asfixiantes, novos meios de transporte ampliando a zona de trocas,
patrimônio de um grupo, seja ele cidade, país ou humanidade; a vetustez, não obstante, atinge um
A morte atinge tanto as obras como os seres. Quem fará a discriminação entre aquilo que
deve subsistir e aquilo que deve desaparecer? O espírito da cidade formou-se no decorrer dos
anos; simples construções adquiriram um valor eterno na medida em que simbolizam a alma
coletiva; constituem o arcabouço de uma tradição que, sem querer limitar a amplitude dos
progressos futuros, condiciona a forma— o do indivíduo, assim como o clima, a região, a raça, o
costume. Por ser uma pequena pátria, a cidade comporta um valor moral que pesa e que lhe está
indissoluvelmente ligado.
harmonias seculares, perturbando as relações naturais que existiam entre a casa e o locais de
de vida, opondo-se ao ajuste das necessidades fundamentais. As moradias abrigam mal as famílias,
corrompem sua vida íntima, e o desconhecimento das necessidades vitais, tanto físicas quanto
morais, traz seus frutos envenenados: doença, decadência, revolta. O mal é universal, expresso,
nas cidades, por um congestionamento que as encurrala na desordem e, no campo, pelo abandono
de numerosas terras.
Habitação - Observações
zonas de expansão industrial do século XIX, a população é muito densa (chega a mil e
A densidade, relação entre as cifras da população, e a superfície que ela ocupa, pode ser
totalmente modificada pela altura dos edifícios. Até então, porém, a técnica de construção tinha
limitado a altura das casas a aproximadamente seis pavimentos. A densidade admissível para as
construções dessa natureza é de 250 a 300 habitantes por hectare. Quando essa densidade atinge,
como em vários bairros, 600, 800 e até 1000 habitantes, tem-se o cortiço, caracterizado pelos
seguintes sinais:
ou no pátio);
O núcleo das cidades antigas, cerceado pelas muralhas militares, era em geral cheio de
qualidade. Ao longo dos séculos, foram sendo acrescentados anéis urbanos, substituindo a
vegetação pela pedra e destruindo as superficies verdes, pulmões da cidade. Nessas condições, as
pela falta de espaço suficiente destinado à moradia, pela falta de superfícies verdes
padrão de vida muito baixo, incapaz de adotar, por si mesma, medidas defensivas (a
É o estado interior da moradia que constitui o cortiço, cuja miséria, entretanto, é prolongada
no exterior pela estreiteza das ruas sombrias e total falta de espaços verdes, criadores de oxigênio
e que seriam tão propícios aos folguedos das crianças. A despesa comprometida numa construção
erguida há seculos foi amortizada há muito tempo; tolera-se, todavia que aquele que a explora
possa considerá-la ainda, sob forma de moradia, uma mercadoria negociável. Ainda que seu valor
de habitabilidade seja nulo, ela continua a fornecer, impunemente e às expensas da espécie, uma
renda importante. Condenar-se-ia um açougueiro que vendesse carne podre, mas a legislação
permite impor habitações podres às populações pobres. Para o enriquecimento de alguns egoístas,
tolera-se que uma mortalidade assustadora e todo tipo de doenças façam pesar sobre a
higiênica.
Quanto mais a cidade cresce, menos as "condições naturais" são nela respeitadas. Por
indispensáveis aos seres vivos: sol, espaço, vegetação. Uma expansão sem controle privou as
cidades desses alimentos fundamentais, de ordem tanto psicológica quanto fisiológica. O indivíduo
que perde contato com a natureza é diminuído e paga caro, com a doença e a decadência, uma
ruptura que enfraquece seu corpo e arruina sua sensibilidade, corrompida pelas alegrias ilusórias
da cidade. Nessa ordem de idéias, a medida foi ultrapassada no decorrer dos últimos cem anos, e
essa não é a causa menor da penúria pela qual o mundo se encontra presentemente oprimido.
naturais". O sol, que comanda todo crescimento, deveria penetrar no interior de cada moradia,
para espalhar seus raios, sem os quais a vida se estiola. O ar, cuja qualidade é assegurada pela
presença da vegetação, deveria ser puro, livre da poeira em suspensão e dos gases nocivos. O
espaço, enfim, deveria ser distribuído com liberalidade. Não nos esqueçamos de que a sensação de
espaço é de ordem psicofisiológica e que a estreiteza das ruas e o estrangulamento dos pátios
criam uma atmosfera tão insalubre para o corpo quanto deprimente para o espírito. O 4o Congresso
CIAM, realizado em Atenas, chegou ao seguinte postulado: o sol, a vegetação, o espaço são as três
matérias-primas do urbanismo. A adesão a esse postulado permite julgar as coisas existentes e
mal orientadas, setores invadidos por nevoeiros, por gases industriais passíveis de
inundações etc).
Nenhuma legislação interveio ainda para fixar as condições habitação moderna, que devem
não somente assegurar a proteção da pessoa humana mas também dar-lhe meios para um
distribuídos segundo a circunstância, ao sabor dos interesses mais inesperados e, às vezes, mais
baixos. Um geômetra municipal não hesitará em traçar uma rua que privará de sol milhares de
casas. Certos edis, infelizmente, acharão natural destinar à instalação de um bairro operário uma
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zona até então negligenciada porq ue as névoas a invadem, porq ue a umidade é excessiva ou
porque os mosquitos nela pululam. Ele considerará que uma encosta voltada para o norte, que, em
decorrência de sua orientação, nunca a t r a i ninguém, que um terreno envenenado pela fuligem,
pela fumaça de carvão, pelos gases, deletérios de alguma indústria, às vezes ruidosa, será sempre
bom o bastante para acomodar as populações desenraizadas e sem vínculos sólidos, a que
abrigo dos ventos hostis, com vista e espaços graciosos dando para perspectivas
As zonas favorecidas são geralmente ocupadas pelas habitações de luxo; provase assim que
as aspirações instintivas do homem o induzem, sempre que seus recursos lhe permitem, a procurar
condições de vida e uma qualidade de bem estar cujas raízes se encontram na própria natureza.
O zoneamento é a operação feita sobre um plano de cidade com o objetivo de atribuir a cada
função e a cada indivíduo seu justo lugar. Ele tem por base a discriminação necessária entre as
diversas atividades humanas, cada uma das quais reclama seu espaço particular: locais de
habitação, centros industriais ou comerciais, salas ou terrenos destinados ao lazer. Mas se a força
das coisas diferencia a habitação rica da habitação modesta, não se tem o direito de transgredir
regras que deveriam ser sagradas, reservando só para alguns favorecidos da sorte o benefício das
condições necessárias para uma vida sadia e ordenada. É urgente e necessário modificar certos
usos. É preciso tornar acessível para todos, por meio de uma legislação implacável, uma certa
sempre, por uma rigorosa regulamentação urbana, que famílias inteiras sejam privadas de luz, de
ar e de espaço.
independentes à habitação e à circulação. A casa, então não estará mais unida à rua por sua
calçada. A habitação se erguerá em seu meio próprio, onde gozará de sol, de ar puro e de silêncio.
A circulação se desdobrará por meio de vias de percurso lento para o uso de pedestres, e de vias
de percurso rápido para o uso de veículos. Cada uma dessas vias desempenhará sua função, só se
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0 alinhamento tradicional dos imóveis ao longo das ruas acarreta urna disposição obrigatória
escandalosas. Chega-se então a este triste resultado: uma fachada em quatro, seja ela voltada
para a rua ou para o pátio, está orientada para o norte e não conhece o sol, enquanto as outras
três, em conseqüência da estreiteza das ruas, dos pátios e da sombra projetada disso resultante,
são também parcialmente privadas de sol. A análise revela que nas cidades, a proporção de
fachadas não ensolaradas varia entre a metade e três quarto total. Em certos casos, essa
habitação.
A moradia abriga a família, função que constitui por si só todo um programa e coloca um
problema cuja solução - que outrora já foi, por vezes, feliz - está hoje entregue, em geral, ao
acaso. Mas a família reclama ainda a presença de instituições que, fora da moradia e em suas
de jogos adequados à satisfação das aspirações próprias dessa idade e, para completar, os
"equipamentos de saúde", as áreas próprias à cultura fisica e ao esporte cotidiano de cada um. 0
benefício dessas instituições coletivas é evidentes, mas sua necessidade é ainda mal compreendida
pela massa. Sua realização está apenas esboçada, da maneira mais fragmentária e desvinculada
em geral mal situadas no interior do complexo urbano. Muito longe da moradia, elas colocam a
criança em contato com os perigos da rua. Além disso, é freqüente que nelas só se dispense a
instrução propriamente dita, e a criança, antes dos seis anos, ou o adolescente, depois dos treze,
prestam-se mal às inovações por meio das quais a infância e a juventude seriam não somente
protegidas de inúmeros perigos, mas, ainda, colocadas nas únicas condições que permitem uma
formação séria, capaz de lhes assegurar, ao lado da instrução, um pleno desenvolvimento, tanto
Os subúrbios são descendentes degenerados dos arrabaldes. O burgo era outrora uma
unidade organizada no interior de uma muralha militar. O falso burgo contíguo a ele pelo lado de
fora, construído ao longo de uma via de acesso desprovido de proteção, era o escoadouro da
população excedente que, bom ou mau grado, devia acomodar-se em sua insegurança. Quando a
criação de uma nova muralha encerrava um dia o falso burgo, com seu trecho de via, no seio da
cidade, ocorria uma primeira alteração na regra normal dos traçados. A era do maquinismo é
caracterizado pelo subúrbio, área sem traçado definido, onde são jogados todos os resíduos, onde
se arriscam todas as tentativas, onde se instalam em geral os artesanatos mais modestos, com as
indústrias julgadas de antemão provisórias, algumas das quais, porém, conhecerão um crescimento
de onda batendo nos muros da cidade. No decorrer dos séculos XIX e XX, essa onda tornou-se
maré, e depois inundação. Ela comprometeu seriamente o destino da cidade e suas possibilidades
de crescer conforme uma regra. Sede de uma população incerta, destinada a suportar inúmeras
misérias, caldo de cultura de revoltas, o subúrbio é com freqüência, dez vezes, cem vezes, mais
extenso do que a cidade. Desse subúrbio doente, onde a função distância-tempo suscita uma difícil
questão que continua sem soluçço, alguns procuram fazer cidades-jardins. Paraísos ilusórios,
solução irracional. O subúrbio é um erro urbanístico, disseminado por todo o universo e levado a
suas conseqüências extremas na América. Ele se constitui em um dos grandes males do século.
imprevidente deixou que se estabelecessem, em toda sua extensão, direitos de propriedade por ela
declarados imprescritíveis. O proprietário de um terreno vago onde tenha surgido algum barraco,
galpão ou oficina não pode ser desapropriado sem inúmeras dificuldades. Sua densidade
populacional é muito baixa e o solo dificilmente explorado; entretanto, a cidade é obrigada a prover
a área dos subúrbios dos serviços necessários: vias públicas, canalização, meios transporte rápidos,
desproporção entre as despesas ruinosas causadas por tantas obrigações e a pequena contribuição
que pode dar uma populaçço dispersa. Quando a a d m in istra ço intervém para corrigir a s itu a ç o ,
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P atrim ô nio
H istó rico e
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§«=1? É&à N a c io n a l
choca-se com obstáculos insuperáveis e se arruina em vão. É antes do nascimento dos subúrbios
que a administração deve apro riar-se da gestão do solo que, cerca a cidade para assegurar-lhe os
Casinhas mal construídas, barracos de madeira, galpões onde se misturam bem ou mal os
materiais mais imprevistos, domínio dos pobres diabos que oscilam nos turbilhões de uma vida sem
disciplina, eis o subúrbio! Sua feiúra e sua tristeza são a vergonha da cidade que ele circunda. Sua
miséria, que obriga a malbaratar o dinheiro público sem a contraparte de recursos fiscais
suficientes, é uma carga sufocante para a coletividade. Os subúrbios são a sórdida antecâmara das
cidades; enganchados às grandes vias de acesso por suas ruelas, a circulação aí se torna perigosa;
vistos de avião, expõe aos olhos menos avisados a desordem e a incoerência de sua distribuiçço;
cortados por ferrovias, eles são, para o viajante atraído pela reputação da cidade, uma penosa
desilusão!
É preciso exigir!
As cidades, tal como existem hoje, estão construídas em condições contrárias ao bem público
e privado. A história mostra que sua criação e seu desenvolvimento obedeceram a razões
profundas, superpostas ao longo do tempo, e que elas não apenas cresceram, mas freqüentemente
se renovaram no decorrer dos séculos, e sobre o mesmo solo. A era da máquina, ao modificar
brutalmente determinadas condições centenárias, levou-as ao caos. Nossa tarefa atual é arrancá-
las de sua desordem por meio de planos nos quais será previsto o escalonamento dos
todos. Os melhores locais da cidade devem-lhe ser reservados; e se eles foram devastados pela
indiferença ou pela concupiscência, tudo deve ser feito para recuperá-los. Muitos fatores concorrem
para a quantidade da moradia. É preciso buscar ao mesmo tempo as mais belas paisagens, o ar
enfim, utilizar as superficies verdes existentes, criá-las, se não existem, ou recuperá-las, se foram
destruídas.
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§«=1? É&à N a c io n a l
higiene.
condições sanitárias das cidades. Não basta, porém, formular um diagnóstico e nem sequer
encontrar uma solução; é preciso, ainda, que ela seja imposta pelas autoridades responsáveis.
Bairros inteiros deveriam ser condenados em nome da saúde pública. Alguns, fruto de uma
especulação prematura, só merecem a picareta; outros, em função das memórias históricas ou dos
elementos de valor artístico que contêm, deverão ser parcialmente respeitados; há modos de
preservar o que merece ser preservado, destruindo implacavelmente aquilo que constitui um
perigo. Não basta sanear a moradia, mas é preciso, ainda, criar e administrar seus prolongamentos
exteriores, locais de educação física e espaços diversos para esporte, inserindo, antecipadamente,
As densidades populacionais de uma cidade devem ser ditadas pelas autoridades. Elas
poderão variar segundo a destinação do solo urbano e resultar, de acordo com seu índice, numa
cidade ou muito extensa ou concentrada sobre si mesma. Fixar as densidades urbanas é realizar
desenvolveram sem controle e sem freio. A displicência é a única explicação válida para esse
crescimento desmesurado e absolutamente irracional, que é uma das causas de seus males. Tanto
para nascer como para crescer, as cidades têm razões particulares, que devem ser estudadas e que
levarão a previsões que abarquem um certo espaço de tempo: cinqüenta anos, por exemplo.
Poder-se-á pressupor uma certa cifra de população. Será necessário alojá-la, sabendo-se em que
área útil, prever qual "tempo-distância" será seu quinhão cotidiano, fixar a superfície e a
q) Um número mínimo de horas de insolação deve ser fixado para cada moradia.
A ciência, estudando as radiações solares, detectou aquelas que são indispensáveis á saúde
humana e também aquelas que, em certos casos, poderiam ser-lhe nocivas. 0 sol é o senhor da
vida. A medicina demonstrou que a tuberculose se instala onde o sol não penetra; ela exige que o
indivíduo seja recolocado, tanto quanto possível, nas "condições naturais". 0 sol deve penetrar em
toda moradia algumas horas por dia, mesmo durante a estação menos favorecida. A sociedade não
tolerará mais que famílias inteiras sejam privadas de sol e, assim, condenadas ao definhamento.
Todo projeto de casa no qual um único alojamento seja orientado exclusivamente para o norte, ou
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privado de sol devido às sombras projetadas, será rigorosamente condenado. É preciso exigir dos
construtores uma planta demonstrado que no solstício de inverno o sol penetrará em cada moradia,
no mínimo 2 horas por dia. Na falta disso será negada a autorização para construir. Introduzir- o sol
r) O alinhamento das habitações ao longo das vias de com unicação deve ser
proibido.
As vias de comunicação, isto é, as ruas das nossas cidades, têm finalidades díspares. Elas
recebem as mais variadas cargas e devem servir- tanto para a caminhada dos pedestres, quanto
para o trânsito, interrompido por paradas intermitentes, de veículos rápidos de transporte coletivo,
ônibus ou bondes, ou para aquele ainda mais rápido, dos caminhões ou dos automóveis
particulares. As calçadas, criadas no tempo dos cavalos e só após a introdução dos coches, para
introduziram nas ruas uma verdadeira ameaça de morte. A cidade atual abre as inumeráveis portas
de suas casas para essa ameaça e suas inumeráveis janelas para os ruídos, as poeiras e os gases
nocivos, resultantes de uma intensa circulação mecânica. Esse estado de coisas exige uma
lOOkm horários, devem ser separadas. As habitações serão afastadas das velocidades mecânicas, a
serem canalizadas para um leito particular, enquanto o pedestre disporá de caminhos diretos ou de
construções elevadas.
Cada época utilizou em suas construções a técnica que lhe era imposta por seus recursos
particulares. Até o século XIX, a arte de construir- casas só conhecia paredes constituídas de
pedras, tijolos ou tabiques de madeira e tetos constituídos por vigas de madeira. No século XIX, um
período intermediário fez uso dos ferros perfilados, depois vieram, enfim, no século XX, as
construções homogêneas, todas em aço ou cimento armado. Antes dessa inovação absolutamente
que ultrapassasse seis pavimentos. O presente não é mais tão limitado. As construções atingem
sessenta e cinco pavimentos ou mais. Resta determinar, por um exame criterioso dos problemas
urbanos, a altura que mais convém a cada caso particular. No que concerne à habitação, as razões
que postulam a favor de uma determinada decisão são: a escolha da vista mais agradável, a busca
do ar mais puro e da insolação mais completa, enfim, a possibilidade de criar nas proximidades
imediatas da moradia instalações coletivas, áreas escolares, centros de assistência, terrenos para
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jogos, que serão seus prolongamentos. Apenas construções de uma certa altura poderão satisfazer
É preciso, ainda, que elas estejam situadas as distâncias bem grandes umas das outras, caso
contrário sua altura, longe de construir um melhoramento, só agravaria o mal existente; é o grave
erro cometido nas cidades das duas Américas. A construção de uma cidade não pode ser
abandonada, sem programa, à iniciativa privada. A densidade de sua população deve ser elevada o
bastante para validar a organização das instalações coletivas, que serão os prolongamentos da
moradia. Uma vez fixada essa densidade, será admitida uma cifra de populaçço presumível, que
permita calcular a superfície reservada à cidade. Decidir sobre a maneira como o solo será
ocupado, estabelecer a relação entre a superfície construída e aquela deixada livre ou plantada,
dividir o terreno necessário tanto para as moradias particulares quanto para seus diversos
prolongamentos, fixar uma superfície para a cidade que não poderá ser ultrapassada durante um
período determinado, constituir essa grave operação, da qual a autoridade está incumbida: a
promulgação do "estatuto do solo". Assim se construirá a cidade daqui para diante com toda
segurança e, dentro dos limites das regras estabelecidas por esse, estatuto, será dada toda a
Lazer - Observações
Existem, ainda, superfícies livres no interior de algumas cidades. Elas são a sobrevivência,
principescas, jardins adjacentes a casas burguesas, passeios sombreados ocupando a área de uma
muralha militar derrubada. Os dois últimos séculos consumiram com voracidade essas reservas,
autênticos pulmões da cidade, cobrindo-os de imóveis, colocando alvenaria no lugar da relva e das
árvores. Outrora os espaços livres não tinham outra razão de ser que o deleite de alguns
privilegiados. Não interviera ainda o ponto de vista social, que dá hoje um sentido novo a sua
destinação. Eles podem ser os prolongamentos diretos ou indiretos da moradia; diretos, se cercam
a própria habitaçço, indiretos, se estão concentrados em algumas grandes superfícies, não tão
próximas. Em ambos os casos, sua destinação será a mesma: acolher as atividades coletivas da
juventude, propiciar um espaço favorável às distrações, aos passeios ou aos jogos das horas de
lazer.
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Patrim ônio
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b) Quando as superfícies livres têm uma e X e n sã o suficiente, não raro estão mal
destinadas e, por isso, são pouco utilizáveis pela massa dos habitantes.
suficiente, tais áreas estão situadas ou na periferia ou no coração de uma zona residencial
particularmente luxuosa. No primeiro caso, distantes dos locais de habitação popular, elas só
servirão aos citadinos no domingo e não terão influência alguma sobre a vida cotidiana, que
multidões, sendo sua função reduzida ao embelezamento, sem que desempenhem seu papel de
prolongamentos úteis da moradia. Seja como for, o grave problema da higiene popular
A situação excêntrica das superfícies livres não se presta à melhoria das condições de
condições de vida que salvaguardem não somente sua saúde física mas, também, sua saúde moral
extenuantes, devem ser seguidas, a cada dia, por um número suficiente de horas livres. Essas
horas livres, que o maquinismo infalivelmente ampliará, serão consagradas a uma reconfortante
portanto, uma necessidade e constituem uma questão de saúde pública para a espécie. Esse é um
tema que constitui parte integrante dos postulados do urbanismo e ao qual os edis deveriam ser
obrigados a dedicar toda a sua atenção. Justa proporção entre volumes edificados e espaços livres,
As raras instalações esportivas, para serem colocadas nas proximidades dos usuários, eram
periferia das cidades um abrigo provisório; mas sua existência, não oficialmente reconhecidas é, em
geral, das mais precárias. Pode-se classificar as horas livres ou de lazer em três categorias:
cotidianas, semanais ou anuais. As horas de liberdade cotidiana devem ser passadas nas
viagens, fora da cidade e da região. 0 problema assim exposto implica a criação de reservas
verdes:
b) na região;
c) no país.
Os terrenos que poderiam ser destinados ao lazer semanal estão freqüentemente mal
articulados à cidade.
Uma vez escolhidos os locais situados nos arredores imediatos da cidade e próprios para se
tomarem centros úteis de lazer semanal, colocar-se-á o problema dos transportes de massa. Esse
problema deve ser considerado desde o instante em que se esboça o plano da região; ele implica o
É preciso exigir
o rg a n iz a ç o racional dos jogos e esportes das crianças, dos adolescentes e dos adultos.
Esta decisão só terá resultado se estiver sustentada por uma verdadeira legislaçço: o
outras. De qualquer modo, a textura do tecido urbano deverá mudar; as aglomerações tenderão a
tornar-se cidades verdes. Contrariamente ao que ocorre nas cidades-jardins, as superfícies verdes
cultivo de hortas, cuja utilidade constitui, de fato, o principal argumento a favor das cidades
jardins, poderá muito bem ser levado em consideração aqui; uma porcentagem do solo disponível
lhe será destinada, dividida em múltiplas parcelas individuais; mas certos empreendimentos
coletivos, como a aragem eventual e a irrigação ou a rega, poderão aliviar os encargos e aumentar
o rendimento.
Um conhecimento elementar das principais noções de higiene basta para discernir os cortiços
Dever-se-á aproveitar essa ocasião para substituí-los por parques que serão, pelo menos nos
bairros limítrofes, o primeiro passo no caminho do saneamento. Pode acontecer, todavia, que
edifícios indispensáveis à vida da cidade. Nesse caso, um urbanismo inteligente, saberá dar-lhes a
destinação que o plano geral da região e o da cidade tenham antecipadamente considerado a mais
útil.
As novas superfícies verdes devem servir a objetivos claramente definidos: acolher jardins de
infância, escolas, centros juvenis ou todas as construções de uso comunitário ligadas intimamente à
habitação.
inserido nos setores habitacionais, não por função única o de embelezamento da cidade. Elas
deverão, antes de mais nada, ter um papel útil, e as instalações de caráter coletivo ocuparão seus
intelectual ou de cultura física, salas de leitura ou de jogos, pistas de corrida ou piscina ao ar livre.
Elas serão o prolongamento da habitação e, como tal, deverão estar o subordinadas ao estatuto do
solo.
Nada ou quase nada foi ainda previsto para o lazer semanal. Na região que cerca a cidade,
amplos espaços deverão ser reservados e organizados, e o acesso a eles deverá ser assegurado por
meios de transporte suficientemente numerosos e cômodos. Não se trata mais de simples gramado
cercando a casa, com uma ou outra árvore plantada, mas de verdadeiros prados, de bosques, de
cidade. Toda cidade possui em sua periferia locais capazes de corresponder a esse programa e que
através de uma organização bem estudada dos meios de transporte, tornar-se-ão facilmente
acessíveis.
o passeio, solitário ou coletivo, em meio à beleza dos lugares; os esportes de toda natureza: tênis,
quadra e torneios diversos. Enfim, são previstos equipamentos precisos: meios de transporte que
demandem uma organização racional; locais para alojamento, hotéis, albergues ou acampamentos
e, enfim, não menos importante, um abastecimento de água potável e víveres, que deverá ser
Os elementos existentes devem ser considerados: rios, florestas, morros, montanhas, vales,
desempenha mais, no caso, um papel preponderante. Mais vale escolher bem, ainda que se tenha
que procurar um pouco mais longe. Trata-se não só de preservar as belezas naturais ainda
intactas, mas também de reparar as agressões que algumas delas tenham sofrido; enfim, que a
indústria do homem crie, em parte, sítios e paisagens que correspondam ao programa. Esse é um
outro problema social muito importante, cuja responsabilidade está nas mãos dos edis: encontrar
uma contrapartida para o trabalho estafante da semana, tornar o dia de repouso verdadeiramente
revitalizante para a saúde fisica e moral, não mais abandonar a população às múltiplas desgraças
da rua. Uma destinação fecunda das horas livres forjará uma saúde e um coração para os
Trabalho - Observações
0 s locais de trabalho não estão mais dispostos racionalmente no complexo urbano: indústria,
situadas uma perto da outra. A expansão inesperada do maquinismo rompeu essas condições de
harmonia, em menos de um século, ela transformou a fisionomia das cidades, quebrou as tradições
primas e das facilidades de escoamento dos produtos manufaturados. Foi, portanto, ao longo das
vias férreas introduzidas pelo século XIX, e às margens das vias fluviais, cujo tráfego a navegação a
das indústrias instalaram suas empresas na cidade ou em seus arredores, a despeito do mal que
disso poderia resultar. Implantadas no coração dos bairros habitacionais, as fábricas aí espalham
suas poeiras e seus ruídos. Instaladas na periferia e longe desses bairros, elas condenam os
agitação, fazendo-os perder inutilmente uma parte de suas horas de lazer. A ruptura com a antiga
organização do trabalho criou uma desordem indizível e colocou um problema para o qual, até o
presente, só foram dadas soluções paliativas. Derivou disso o grande mal dá época atual:
nomadismo das populações operárias.
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H istó rico e
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m põelpercursosldesmesurados.l
Desde então foram rompidas as relações normais entre essas duas funções essenciais da
que continua seu desenvolvimento sem limites, é empurrada para fora, para os subúrbios. Saturada
a cidade, sem poder acolher novos habitantes, fez-se surgir- apressadamente cidades suburbanas,
intercambiável, que absolutamente não está ligada por um vínculo estável à indústria, suporta de
desordenados.
em quatro momentos do dia. Nas horas de pico, a agitação é frenética, e os usuários pagam caro,
de seu próprio bolso, uma organização que lhes proporciona, diariamente, horas de sacolejo
cara; sendo a cota dos passageiros insuficiente para cobrir sua despesa, eles se tomam um pesado
encargo público. Para remediar semelhante estado de coisas foram sustentadas teses
contraditórias: fazer viver os transportes ou fazer viver bem os usuários dos transportes? É preciso
previsões, especulação com os terrenos, etc - a indústria se instala ao acaso, não obedecendo a
regra alguma.
O solo das cidades e o das regiões vizinhas pertencem quase inteiramente a particulares. A
própria indústria está nas mãos de sociedades privadas, sujeitas a todo tipo de crises e cuja
situação é ás vezes instável. Nada foi feito para submeter o surto industrial a regras lógicas; ao
contrário, tudo foi deixado à improvisação que, se às vezes favorece o indivíduo, sempre oprime a
coletividade.
instalado nos locais privilegiados da cidade, dotados da mais completa circulaçço, são logo presa da
especulação. Como são negócios privados, falta organização propícia para seu desenvolvimento
natural.
privada e comércio. Nada, nesse domínio, foi seriamente medido e previsto. É preciso comprar e
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vender, estabelecer contatos entre a fábrica ou a oficina, o fornecedor e o cliente. Estas transações
precisam de escritórios. Esses escritórios são locais que requerem uma instalação particularizada,
sensível, indispensável ao andamento dos negócios. Tais equipamentos, isoladamente, são caros.
mínimo.
Isto supõe uma nova distribuição, conforme um plano cuidadosamente elaborado, de todos
os lugares destinados ao trabalho. A concentração das indústrias em anéis em tomo das grandes
cidades pode ter sido, para certas empresas, uma fonte de prosperidade, mas é preciso denunciar
as deploráveis condições de vida que disso resultaram para a massa. Essa disposiçço arbitrária
criou uma promiscuidade insuportável. A duração das idas e vindas não tem relação com a
trajetória cotidiana do sol. As indústrias devem ser transferidas para locais de passagem das
matérias-primas, ao longo das grandes vias fluviais, terrestres ou férreas. Um lugar de passagem é
lineares.
Os setores industriais devem ser independentes dos setores habitacionais e separados uns
A cidade industrial se estenderá ao longo do canal, estrada ou via férrea ou, melhor ainda,
dessas três vias conjugadas. Tornando-se linear e não mais anelar, ela poderá alinhar, à medida
em que se desenvolve, seu próprio setor habitacional, que l e será paralelo. Uma zona verde
separará este último das construções industriais. A moradia inserida desde então em pleno campo,
estará completamente protegida dos ruídos e das poeiras, mantendo-se a uma proximidade que
suprimirá os longos trajetos diários; ela voltará a ser um organismo fam iliar normal. As "condições
naturais" assim reencontradas contribuirão para fazer cessar o nomadismo das populações
operárias. Três tipos de habitação estarão disponíveis para escolha dos habitantes: a casa
individual da cidade-jardim, a casa individual acoplada a uma pequena exploração rural e, enfim, o
ferrovia, o rio ou o canal, exige a criação de novas vias ou a transformação das já existentes. É um
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programa de coordenação que deve levar em conta a nova distribuição dos estabelecimentos
0 artesanato, intimamente ligado à vida urbana, da qual procede diretamente, deve poder
0 artesanato, por sua natureza, difere da indústria e requer disposições apropriadas. Ele
costura ou moda encontra na concentração intelectual da cidade a excitação criadora que lhe é
necessária. São atividades essencialmente urbanas e, portanto, os locais de trabalho, poderão ficar
boa comunicação, tanto com os bairros habitacionais quanto com as indústrias ou artesanato
0 s negócios assumiram uma importância tão grande que a escolha da lo c a liza ç o que lhes
será reservada exige um estudo muito particular. 0 centro de negócios deve encontrar-se na
confluência das vias de circulação que servem ao mesmo tempo os setores de habitação, os setores
Circulação - Observações
A rede atual das vias urbanas é um conjunto de ramificações desenvolvidas em torno das
grandes vias de comunicação. Na Europa, essas últimas remontam a um tempo bem anterior à
plano deliberado. Primeiro foi traçada uma muralha de forma regular; nessa muralha terminavam
as grandes vias de comunicação. A disposição interna tinha uma útil regularidade. 0utras cidades,
mais numerosas, nasceram na intersecção de duas grandes rotas que atravessavam a região ou no
ponto de cruzamento de vários caminhos radiais que partiam de um centro comum. Essas vias de
comunicação estão intimamente ligadas à topografia da região, que freqüentemente lhes impõe um
traçado sinuoso. As primeiras casas se instalaram à beira delas; assim tiveram origem as ruas
principais a partir das quais vieram ramificar-se, no decorrer do crescimento da cidade, artérias
secundárias cada vez mais numerosas. As vias principais sempre foram filhas da geografia; muitas
delas puderam ser corrigidas ou retificadas, mas sempre conservarão sua determinação
fundamental.
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As grandes vias de comunicação foram, concebidas para receber pedestres ou coches; hoje
As cidades antigas eram, por razões de segurança, cercadas por muralhas. Não podiam,
portanto, estender-se proporcionalmente ao crescimento de sua população. Era preciso agir- com
economia para fazer o terreno render o máximo de superfície habitável. É isso que explica sua
disposição em ruas e ruelas estreitas que permitiam servir- ao maior número possível de portas de
habitação. Além disso, essa organização das cidades teve como conseqüência o sistema de blocos
edificados a prumo sobre a rua, de onde eles recebiam luz, e perfurados, com a mesma finalidade,
por pátios internos. Mas tarde, quando as muralhas fortificadas foram sendo afastadas, ruas e
ruelas foram prolongadas em avenidas e alamedas além do primeiro núcleo, que conservava sua
estrutura primitiva. Esse sistema de construção, que não corresponde mais, há muito tempo, a
nenhuma necessidade, tem ainda hoje força de lei. É sempre o bloco edificado, subproduto direto
da rede viária. Suas fachadas dão para ruas ou para pátios internos mais ou menos estreitos. A
rede circulatória que o contém tem dimensões e intersecções múltiplas. Prevista para outros
tempos, essa rede não pôde adaptar-se às novas velocidades dos veículos mecânicos.
O dimensionamento das ruas, desde então inadequado, se opõe à utilização das novas
do cavalo, com as velocidades mecânicas dos automóveis, bondes, caminhões ou ônibus. Sua
mistura é fonte de mil conflitos. O pedestre circula em uma insegurança perpétua, enquanto os
veículos mecânicos, obrigados a frear com freqüência, ficam paralisados, o que não os impede de
Para atingir- sua marcha normal, os veículos mecânicos precisam do arranque e da aceleração
gradual. A freada não pode intervir- brutalmente sem causar um desgaste rápido de suas principais
órgãos. Dever-se-ia, portanto, prever uma unidade de extensão razoável entre o local do arranque
e aquele em que a freada torna-se necessária. Os cruzamentos das ruas atuais, situados a 100, 50,
20, ou mesmo 10 metros de distância uns dos outros, não convêm à boa progressão dos veículos
A largura das ruas é insuficiente. Procurar alargá-las é quase sempre uma operação onerosa
Não há uma largura-tipo uniforme para as ruas. Tudo depende de seu tráfego, em número e
natureza dos veículos. As antigas vias principais, impostas desde o início da cidade pela topografia
e pela geografia, e que formam o tronco da inumerável ramificação de ruas, conservaram quase
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sempre um tráfego intenso. Elas são geralmente muito estreitas, mas seu alargamento não é
sempre uma soluçço fácil e nem sequer eficaz. É preciso que o problema seja retomado bem mais
de am a.
Diante das velocidades mecânicas, a malha das ruas apresenta-se irracional, faltando
precisão, flexibilidade, diversidade e adequação.
A circulação moderna é uma operação das mais complexas. As vias destinadas a múltiplos
usos devem permitir, ao mesmo tempo: aos automóveis, ir de um extremo a outro; aos pedestres,
ir de um extremo a outro; aos ônibus e bondes, percorrer itinerários prescritos; aos caminhões, ir
veículos, atravessar a cidade em simples trânsito. Cada uma dessas atividades exigiria uma pista
preciso dedicar-se a um estudo profundo da questão, considerar seu estado atual e procurar
Aquilo que era admissível e até mesmo admirável no tempo dos pedestres e dos coches pode
ter-se tomado, atualmente, uma fonte de problemas constantes. Certas avenidas concebidas para
ordem arquitetônica deveriam ser preservadas da invasão de veículos mecânicos, para os quais não
foram feitas e à cuja velocidade nunca poderão ser adaptadas. A circulação tornou-se hoje uma
função primordial da vida urbana. Ela pede um programa cuidadosamente estudado, que saiba
prever tudo o que é preciso para regularizar os fluxos, criar os escoadouros indispensáveis e
Em inúmeros casos, a rede das vias férreas tornou-se, por ocasião da extensão da cidade,
um grave obstáculo à u rb an izaço . Ela isola os bairros habitacionais, privando-os de contatos úteis
Também aqui o tempo andou muito depressa. As estradas de ferro foram construídas antes
da prodigiosa expansão industrial que elas mesmas provocaram. Ao penetrarem nas cidades, elas
seccionam arbitrariamente zonas inteiras. A estrada de ferro é uma via que não se atravessa; ela
isola uns dos outros setores que, tendo-se coberto pouco a pouco de habitações, viram-se privados
de contatos para eles indispensáveis. Em certas cidades, a situação é grave para a economia geral
Devem ser feitas análises úteis, com base em estatísticas rigorosas do conjunto da
circulação na cidade e sua região, trabalho que revelará os leitos de circulação e a qualidade de
seus tráficos.
A circulaçço é uma fu n ç o vital cujo estado atual deve ser expresso em gráficos. As causas
mais fácil discernir os pontos críticos. Somente uma visão clara da situação permitirá realizar dois
progressos indispensáveis: dar a cada uma das vias de circulação uma destinação precisa, que será
receber seja os pedestres, seja os automóveis, seja as cargas pesadas ou os veículos em trânsito;
dar depois a essas vias, de acordo com a função para a qual forem destinadas, dimensões e
características especiais: natureza do leito, largura da calçada, locais e natureza dos cruzamentos
ou das interligações.
A rua única, legada pelos séculos, recebia outrora pedestres e cavaleiros indistintamente e só
no final do século XVIII o emprego generalizado de coches provocou a criação das calçadas. No
século XX, abateu-se como um cataclisma a massa de veículos mecânicos - bicicletas, motocicletas,
algumas cidades como Nova York por exemplo, provocou um fluxo inimaginável de veículos em
certos pontos determinados. Já é tempo de remediar, por meio de medidas apropriadas, uma
situação que caminha para ao desastre. A primeira medida útil seria separar radicalmente, nas
artérias congestionadas, o caminho dos pedestres e o dos veículos mecânicos. A segunda, dar às
cargas pesadas um leito de circulação particular. A terceira, considerar, para a grande circulação,
vias de trânsito independentes das vias usuais, destinadas somente à pequena ci^cul^ço.
mudanças de níveis.
cada cruzamento, que torna inutilmente lento seu percurso. Mudanças de nível, em cada via
transversal, são o melhor meio de assegurar-lhes uma marcha contínua. Nas grandes vias de
Isso constituiria uma reforma fundamental da circulação nas cidades. Não haveria nada mais
sensato nem que abrisse uma era de urbanismo mais nova e mais fértil. Essa exigência
( ws T i t u r o o o "7
P atrim ô nio
H is T Ó m c o (
A rtístico
N acional
concernente à circclação pode ser considerada tão rigorosa quanto aquela que, no domínio da
As ruas devem ser diferenciadas de acordo com suas destinações: ruas de residências, ruas
As ruas, ao invés de serem liberadas a tudo e a todos, deverão, conforme sua categoria, ,er
regimes diferentes. As ruas residenciais e as áreas destinadas aos usos coletivos exigem uma
paz que lhes são necessárias, os veículos mecânicos serão canalizados para circuitos especiais. As
avenidas de trânsito não terão nenhum contato com as ruas de circulação miúda, salvo nos pontos
de interligação. As grandes vias principais que estão relacionadas a todo o conjunto da região
afirmarão, naturalmente, sua prioridade. Mas serão também levadas em consideração as ruas de
passeio, nas quais, sendo rigorosamente imposta uma velocidade reduzida a todos os tipos de
Sendo as vias de trânsito ou de grande circulaçço bem diferenciadas das vias de circulaçço
miúda, não terão nenhuma razão para se aproximarem das construções públicas ou privadas. Será
urbanos).
A vida de uma cidade é um acontecimento contínuo, que se manifesta ao longo dos séculos
por obras materiais, traçados ou construções que lhe conferem sua personalidade própria e dos
quais emana pouco a pouco a sua alma. São testemunhos preciosos do passado que serão
respeitados, a princípio por seu valor histórico ou sentimental, depois, porque alguns trazem uma
virtude plástica na qual se incorporou o mais alto grau de intensidade do gênio humano. Eles fazem
parte do patrimônio humano, e aqueles que os detêm ou são encarregados de sua proteção, ,êm a
responsabilidade e a obrigação de fazer tudo o que é lícito para transmitir intacta para os séculos
a um interesse geral...
A morte, que não poupa nenhum ser vivo, atinge também as obras dos homens. É
necessário saber reconhecer e discriminar nos testemunhos do passado aquelas que ainda estão
bem vivas. Nem tudo que é passado tem, por definição, direito à perenidade; convém escolher com
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sabedoria o que deve ser respeitado. Se os interesses da cidade são lesados pela persistência de
determinadas presenças insignes, majestosas, de uma era já encerrada, será procurada a solução
capaz de conciliar dois pontos de vista opostos: nos casos em que se esteja diante de construções
outras demolidas; em outros casos poderá ser isolada a única parte que constitua uma lembrança
ou um valor real; o resto será modificado de maneira útil. Enfim, em certos excepcionais, poderá
ser aventada a transplantação de elementos incômodos por sua situação, mas que merecem ser
insalubres...
Um culto estrito do passado não pode levar a desconhecer as regras da justiça social.
certos velhos bairros pitorescos, sem se preocupar com a miséria, a promiscuidade e a doença que
eles abrigam. É assumir uma grave responsabilidade. 0 problema deve ser estudado e pode às
vezes ser resolvido por uma solução engenhosa; mas, em nenhum caso, o culto do pitoresco e da
história deve ter primazia sobre a salubridade da moradia da qual dependem tão estreitamente o
Se é possível remediar sua presença prejudicial com medidas radicais: por exemplo, o
então imutáveis.
0 crescimento excepcional de uma cidade pode criar uma situação perigosa, levando a um
impasse do qual só se sairá mediante alguns sacrifícios. 0 obstáculo só poderá ser suprimido pela
demolição. Mas, quando esta medida acarreta a destruição de verdadeiros valores arquitetônicos,
históricos ou espirituais, mais vale, sem dúvida, procurar uma outra solução. Ao invés de suprimir o
lhe-á uma passagem sob um túnel. Enfim, pode-se também deslocar um centro de atividade
intensa e, transplantando-o para outra parte, mudar inteiramente o regime circulatório da zona
A destruição de cortiços ao redor dos monumentos históricos dará a ocasião para criar
superfícies verdes.
algum monumento de valor histórico destrua uma ambiência secular. É uma coisa lamentável mas
mergulharão em uma ambiência nova, inesperada talvez, mas certamente tolerável, e da qual, em
O emprego de estilos do passado, sob pretextos estéticos, nas construções novas erigidas
nas zonas históricas, têm conseqüências nefastas. A manutenção de tais usos ou a introdução de
Tais métodos são contrários à grande lição da história. Nunca foi constatado um retrocesso,
nunca o homem voltou sobre seus passos. As obras-primas do passado nos mostram que cada
geração teve sua maneira de pensar, suas concepções, sua estética, recorrendo, como trampolim
para sua im a g in a ço , à totalidade de recursos técnicos de sua época. Copiar servilmente o passado
é condenar-se à mentira, é erigir- o "falso" como princípio, pois as antigas condições de trabalho
não poderiam ser reconstituídas e a aplicação da técnica moderna a um ideal ultrapassado sempre
alcançar uma impressão de conjunto e dar a sensação de pureza de estilo, chega-se somente a
uma reconstituição fictícia, capaz apenas de desacreditar os testemunhos autênticos, que mais se
Pontos de doutrina
A maioria das cidades estudadas oferece hoje a imagem do caos. Essa cidades não
correspondem, de modo algum a sua d e s tin a ço , que seria satisfazer as necessidades, primordiais,
Trinta e três cidades foram analisadas, por ocasião do Congresso de Atenas, por diligência
dos grupos nacionais dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna: Amsterdã, Atenas,
Bruxelas, Baltimore, Bandoeng, Budapeste, Berlim, Barcelona, Charieroi, Colônia, Como, Dalat,
Detroit, Dessau, Frankfurt, Genebra, Gênova, Haia, Los Angeles, Litoria, Londres, Madri, Oslo, Paris,
Praga, Roma, Roterdã, Estocolmo, Utrecht, Verona,Varsóvia, Zagreb e Zuriq ue. Elas ilustram a
história da raça branca sob os mais diversos climas e latitudes. Todas testemunham o mesmo
fenômeno: a desordem instituída pelo maquinismo em uma situação que comportava até então
essas cidades o homem é molestado. Tudo que o cerca sufoca-o e esmaga-o. Nada do que é
necessário a sua saúde física e moral foi salvaguardado ou organizado. Uma crise-de humanidade
assola as grandes cidades e repercute em toda a extensão dos territórios. A cidade não
Esta situação revela, desde o começo da era do maquinismo, o crescimento incessante dos
interesses privados.
A base desse lamentável estado de coisas está na preeminência das iniciativas privadas
inspiradas pelo interesse pessoal pelo atrativo do ganho. Nenhuma autoridade consciente da
danos pelos quais ninguém pode ser efetivamente responsabilizado. As empresas estiveram,
das rodovias, hidrovias ou ferrovias, tudo se multiplicou numa pressa e numa violência individual,
da qual estavam excluídos qualquer plano preconcebido e qualquer reflexão prévia. Hoje, o mal
está feito. As cidades são desumanas, e da ferocidade de alguns interesses privados nasceu a
A violência dos interesses privados provoca um desastroso desequilíbrio entre o ímpeto das
solidariedade social.
diariamente pela força viva e incessantemente renovada do interesse privado. Essas diversas fontes
de energia estão em perpétua contradição, e, quando uma ataca, a outra se defende. Nessa luta,
infelizmente desigual, o interesse privado triunfa o mais das vezes, assegurando o sucesso dos
mais fortes em detrimento dos fracos. Mas, do próprio excesso do mal surge, às vezes, o bem; e a
imensa desordem material e moral da cidade moderna terá talvez como resultado fazer surgir- enfim
conduzido sem precisão nem controle e sem que sejam levados em consideração os princípios do
técnicos da arte de construir, técnicos de saúde, técnicos da organização social. Eles foram objeto
de artigos, üvros, congressos, debates públicos ou privados. Mas é preciso fazer com que sejam
admitidos pelos órgãos administrativos encarregados de velar pelo destino das cidades e que, não
raro, são hostis às grandes transformações propostas por esses dados novos. É necessário, antes
de mais nada, que a autoridade seja esclarecida e, depois, que ela aja. Clarividência e energia
A cidade deve assegurar, nos planos espiritual e material, a liberdade individual e o benefício
da ação coletiva.
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Liberdade individual e ação coletiva são os dois polos entre os quais se desenrola o jogo da
vida. Todo empreendimento cujo objetivo é a melhoria do destino humano deve levar em
consideração esses dois fatores. Se ele não chega a satisfazer suas exigências, frequentemente
O dimensionamento de todas as coisas no dispositivo urbano só pode ser regido pela escala
humana.
A medida natural do homem deve servir de base a todas as escalas que estarão relacionadas
à vida e às diversas funções do ser. Escala das medidas, que se aplicarão às superfícies ou às
distâncias; escala das distâncias, que serão consideradas em sua relação com o ritmo natural do
homem; escala dos horários, que devem ser determinados considerando-se o trajeto cotidiano do
sol.
As chaves do urbanismo estão nas quatro funções: habitar, trabalhar, recrear-se (nas horas
livres), circular.
O urbanismo exprime a maneira de ser de uma época. Até agora, ele só atacou um único
problema, o da circulação. Ele se contentou em abrir avenidas ou traçar ruas, constituindo assim
quarteirões edificados cuja destinação é abandonada à aventura das iniciativas privadas. Essa é
uma visão estreita e insuficiente da missão que lhe está destinada. O urbanismo tem quatro
funções principais, que são: primeiramente, assegurar aos homens moradias saudáveis, isto é,
locais onde o espaço, o ar puro e o sol, essas três, condições essenciais da natureza, lhe sejam
largamente asseguradas; em segundo lugar, organizar os locais de trabalho, de tal modo que, ao
invés de serem uma sujeição penosa, eles retomem seu caráter de atividade humana natural; em
terceiro lugar, prever as instalações necessárias à boa utilização das horas livres, tornando-as
benéficas e fecundas; em quarto lugar, estabelecer o contato entre essas diversas organizações
mediante uma rede circulatória que assegure as trocas, respeitando as prerrogativas de cada uma.
Essas quatro funções, que são as quatro chaves do urbanismo, cobrem um domínio imenso, sendo
o urbanismo a conseqüência de uma maneira de pensar levada à vida pública por uma técnica de
ação.
condições habituais de vida, trabalho e cultura, disposições particulares que ofereçam a cada uma
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opressão esmagadora de usos que perderam sua razão de ser e abrirá aos criadores um campo de
ação inesgotável. Cada uma das funções-chave terá sua autonomia, apoiada nos dados fornecidos
pelo clima, pela topografia, pelos costumes; elas serão consideradas entidades às quais serão
atribuídos territórios e locais para cujo equipamento e instalação serão acionados todos os
deve assegurar a liberdade individual e, ao mesmo tempo, favorecer e se aproveitar dos benefícios
da ação coletiva.
regulamentado pelo urbanismo dentro da mais rigorosa economia de tempo, sendo a habitação
medidas.
aconselhar uma maior extensão horizontal das cidades; mas a necessidade de regulamentar as
diversas atividades segundo a duração do trajeto solar se opõe a essa concepção, cujo
inconveniente é impor distâncias que não têm r e la ç o com o tempo disponível. É a habitaçço que
está no centro das preocupações do urbanista e o jogo das distâncias será regulamentado de
acordo com a sua posição no planejamento, em conformidade com a jornada solar de vinte e
quatro horas, que ritma a atividades dos homens e dá a justa medida a todos os seus
empreendimentos.
higiene.
Os veículos mecânicos deveriam ser agentes liberadores e, por sua velocidade, trazer um
ganho apreciável de tempo. Mas sua acumulação e concentração em certos pontos tomaram-se, a
um só tempo, uma dificuldade para a circulaçço e a o ca siio de perigos permanentes. Além disso,
eles introduziram na vida citadina inúmeros fatores prejudiciais à saúde. Seus gases de combustão
difundidos no ar são nocivos aos pulmões e seu barulho determina no homem um estado de
cotidiana, para longe, na natureza, difundem o gosto por uma mobilidade sem freio nem medida e
sociedade. Elas condenam os homens a passar horas cansativas em todo tipo de veículos e a
perder, pouco a pouco, a prática da mais saudável e natural de todas as funções: a caminhada.
0 princípio da circclação urbana e suburbana deve ser revisto. Deve ser feita uma
chave da cidade, criará entre elas vínculos naturais para cujo fortalecimento será prevista uma rede
ordenará o território urbano. A circulação, esta quarta função, só deve ter um objetivo; estabelecer
uma comunicação proveitosa entre as outras três. São inevitáveis grandes transformações. A
cidade e sua re g iio devem ser munidas de uma rede exatamente proporcional aos usos e aos fins,
e que constituirá a técnica moderna da ci^cul^ço. Será preciso classificar e diferenciar os meios de
transporte e estabelecer para cada um deles um leito adequado à própria natureza dos veículos
utilizados. A circulação assim regulamentada torna-se uma função regular e que não impõe
0 urbanismo é uma ciência de três dimensões e não apenas de duas. É fazendo intervir o
elemento altura que será dada uma solução para as circulações modernas, assim como para os
edificados submetidos a três imperiosas necessidades: espaço suficiente, sol e aeração. Esses
volumes não dependem apenas do solo e de suas duas dimensões, mas sobretudo de uma terceira,
papel mais importante - das fu nções de circulação, as quais, utilizando apenas duas dimensões,
estão ligadas ao solo, para as quais a altura só intervém excepcionalmente e em pequena escala,
no caso, por exemplo, de mudanças de nível destinadas a regularizar certos fluxos intensos de
veículos.
A cidade deve ser estudada no conjunto de sua região de influência. Um plano de região
econômica.
0 s dados de um problema de urbanismo são fornecidos pelo conjunto das atividades que se
desenvolvem não somente na cidade, mas em toda a região da qual ela é o centro. A razão de ser
da cidade dever ser procurada e expressada em cifras que permitirão prever, para o futuro, as
para cada cidade envolvida por sua região um caráter e um destino próprios. Assim, cada uma
tomará seu lugar e sua cl^ ssificaço na economia geral do país. Resultará disso uma d d im it a ç o
clara dos limites da r e g io . Este é o urbanismo total, capaz de levar o equilíbrio à re g iio e ao país.
A cidade, definida desde então como uma unidade funcional, deverá crescer
harmoniosamente em cada uma de suas partes, dispondo de espaços e ligações onde poderão se
um planejamento geral. Sábias previsões terão esboçado seu futuro, descrito seu caráter, previsto
necessidades da região, destinada a enquadrar as quatro funções-chave, a cidade não será mais o
catástrofe, será um coroarnento. E o crescimento das cifras de sua população não conduzirá mais a
É da mais urgente necessidade que cada cidade estabeleça seu programa, promulgando leis
O acaso cederá diante da previsão, o programa sucederá a improvisação. Cada caso será
clara ordenação no empreendimento que será iniciado a partir de amanhã e continuado, pouco a
pouco, por etapas sucessivas. A lei fixará o "estatuto do solo", dotando cada função-chave dos
proveitosas. Ela deve prever também a proteção e a guarda das extensões que serão ocupadas um
dia. Ela terá o direito de autorizar - ou de proibir -, e favorecerá todas as inicatívas adequadamente
planejadas, mas velará para que elas se insiram no planejamento geral e sejam sempre
O programa deve ser elaborado com base em análises rigorosas, feitas por especialistas. Ele
deve prever as etapas no tempo e no espaço. Deve reunir em um acordo fecundo os recursos
valores espirituais.
A obra não será mais limitada ao plano precário do geômetra que projeta, à revelia dos
subúrbios, os blocos de imóveis na poeira dos loteamentos. Ela será uma verdadeira criação
suas funções essenciais. Os recursos do solo serão analisados e as limitações à quais ele se obriga,
fixada segundo o uso para o qual serão destinados. Uma ccrva de crescimento exprimirá o futuro
econômico previsto para cidade. Regras invioláveis assegurarão aos habitantes o bem-estar da
moradia, a facilidade do trabalho, o feliz emprego das horas livres. A alma das cidades será
Para o arquiteto, ocupado aqui com as tarefas do urbanismo, o instrumento de medida será
a escala humana.
A arquitetura, após a derrota, desses últimos cem anos, deve ser recolocada a serviço do
homem. Ela deve deixar as pompas estéreis, debruçar-se sobre o indivíduo e criar-lhe, para sua
felicidade, as organizações que estarão à volta, tornando mais fáceis todos os gestos de sua vida.
Quem poderá tomar as medidas necessárias para levar a bom termo essa tarefa, senão o arquiteto,
que possui o perfeito conhecimento do homem, que abandonou os grafismos ilusórios, e que, pela
justa adaptação dos meios aos fins propostos, criará uma ordem que tem em si sua própria poesia?
0 número inicial do urbanismo é uma célula habitacional (uma moradia) e sua inserção num
Se a célula é o elemento biológico primordial, a casa, quer dizer, o abrigo de uma família,
constitui a célula social. A construção dessa casa, há mais de um século submetida aos jogos
brutais da especulação, deve torna-se uma empresa humana. A casa é o núcleo inicial do
urbanismo. Ela protege o crescimento do homem, abriga as alegrias e as dores de sua vida
cotidiana. Se ela deve conhecer interiormente o sol e o ar puro, deve, além disso, prolongar-se no
exterior em diversas instalações comunitárias. Para que seja mais fácil dotar as moradias dos
proporções adequadas.
A primeira das funções que deve atrair a atenção do urbanismo é habitar e... habitar bem. É
preciso também tr a b a la r , e fazê-lo em condições que requerem uma séria revisão dos usos
capazes de assegurar o bem-estar necessário ao desempenho desta segunda função. Enfim, não se
pode negligenciar a terceira, que é recrear-se, cultivar o corpo e o espírito. E o urbanista deverá
Para realizar essa grande tarefa é indispensável utilizar os recursos da técnica moderna. Esta
com a ajuda de seus especialistas, respaldará a arte de construir com todas as garantias da ciência
A era do maquinismo introduzir técnicas novas, que são uma das causas da desordem e da
confusão das cidades. É a ela, no entanto, que é preciso pedir a solução do problema. As modernas
técnicas de construção instituíram novos métodos, trouxeram novas facilidades, permitiram novas
construções serão não somente de uma amplitude, mas, ainda, de uma complexidade
desconhecidas até aqui. Para realizar a tarefa múltipla que t e é imposta, o arquiteto deverá
sociais e econômicos...
Não basta que a necessidade do estatuto do solo e de certos princípios de construção seja
admitida. É preciso, ainda, para passar da teoria aos atos, o concurso dos seguintes fatores: um
poder político tal como se o deseja, clarividente, convicto, decidido a realizar as melhores condições
de vida, elaboradas e expressas nos planos; uma população esclarecida para compreender, desejar,
reivindicar aquilo que os especialistas planejaram para ela; uma situação econômica que permita
empreender e prosseguir os trabalhos, alguns dos quais serão consideráveis. Pode ser, todavia, que
mesmo em uma época em que tudo c a i ao nível mais baixo, em que as condições, políticas,
apareça de repente como uma imperiosa obrigação, e que ela venha dar ao político, ao social e ao
A arquitetura preside aos destinos da cidade. Ela ordena a estrutura da moradia, célula
essencial do tecido urbano, cuja salubridade, alegria, harmonia são subordinadas às suas decisões.
Ela reúne as moradias em unidades habitacionais, cujo êxito dependerá da justeza de seus
cálculos. Ela reserva, de antemão, os espaços livres em meio aos quais se erguerão os volumes
trabalho, as áreas consagradas ao entretenimento. Ela estabelece a rede de circulação que colocará
em contato as diversas zonas. A arquitetura é responsável pelo bem-estar e pela beleza da cidade.
É ela que se encarrega de sua criação ou de sua melhoria, e é ela que está incumbida da escolha e
da distribuição dos diferentes elementos, cuja feliz proporção constituirá uma obra harmoniosa e
A escala dos tr a b a lo s a empreender com urgência para a organização das cidades, de outro
lado, o estado infinitamente parcelado da propriedade fundiária são duas realidades antagônicas.
Devem ser empreendidos, sem demora, ^ a b a lo s de importância capital, uma vez que todas
as cidades do mundo, antigas ou modernas, revelam os mesmos vícios advindos das mesmas
thWlíUTO00 35
P a t r im ô n io
H is T Ó m c o (
A rtístic o
N a c io n a l
causas. Mas nenhuma obra fragmentária deve ser empreendida se ela não se insere no contexto da
cidade e no da região, ,ais como eles terão sido previstos por um amplo estudo e um grande plano
de conjunto. Esse plano, forçosamente, conterá partes cuja realização poderá ser imediata e
outras, cuja execução deverá ser remetida para datas indeterminadas. Inúmeras parcelas fundiárias
deverão ser expropriadas e serão objeto de transações. Então, será preciso temer o jogo sórdido
pela preocupação com o bem público. O problema da propriedade do solo e de sua possível
requisição se coloca nas cidades, em sua periferia, e se estende até a zona, mais ou menos ampla
A perigosa contradição aqui constatada sustica uma das questões mais perigosas da época: a
urgência de regulamentar, por um meio legal, a disposiçço de todo o solo útil para equilibrar as
estatuto petrificado da propriedade privada. O solo - território do país - deve tornar-se disponível a
qualquer momento, e por seu justo valor, avaliado antes do estudo dos projetos. O solo deve ser
povos que não souberam medir com exatidão a amplitude das transformações técnicas e suas
anarquia que reina na organização das cidades, no equipamento das indústrias. Por se ignorarem
industriais se fizeram ao acaso, as moradias operárias tornaram-se cortiços. Nada foi previsto para
que deve superar. Pelo contrário, se está submetido a muitas obrigações coletivas, sua
personalidade resulta sufocada. O direito individual e o direito coletivo devem, portanto, sustentar-
se, reforçar-se mutuamente e reunir tudo aquilo que comportam de infinitamente construtivo. O
direito individual não tem relação com o vulgar interesse privado. Este, que satisfaz a uma minoria
condenando o resto da massa social a uma vida medíocre, merece severas restrições. Ele deve ser,
em todas as partes, subordinado ao interesse coletivo, tendo cada indivíduo acesso às alegrias
1928 - Fundação dos Ciam Em 1928 um grupo de arquitetos modernos se reunia na Suíça, no
castelo de La Sarraz Vaud, graças à generosa hospitalidade de Madame Hélène de Mandrot. Depois
de ter examinado, a partir de um programa elaborado em Paris, o problema colocado pela arte de
edificar, firmaram um ponto de vista sólido e decidiram reunir-se para colocar a arquitetura diante
Moderna, os CIAM.
Declaração de La Sarraz
arquitetura e sobre suas obrigações profissionais. Insistem particularmente no fato de que construir
arquitetura é o de exprimir o espírito de uma época. Eles afirmam hoje a necessidade de uma
vida presente. Conscientes das perturbações profundas causadas pelo maquinismo, reconheceram
serviço da pessoa humana. É assim que a arquitetura escapará da dominação esterilizante das
academias. Firmes nesta convicção, eles declaram associar-se para realizar suas aspirações.
Economia Geral
A noção de "rendimentos", introduzida como axioma da vida moderna, não implica absolutamente
o lucro com ercial máximo, mas uma produção suficiente para satisfazer plenamente as
normatização (aplicada com flexibilidade tanto nos projetos arquitetônicos como nos métodos
industriais de execuçço). Urge que a arquitetura, ao invés de recorrer quase que exclusivamente a
um artesanato anêmico, sirva-se também dos imensos recursos que lhe oferece a técnica industrial,
mesmo quando uma tal decisão conduza a realizações muito diferentes daquelas que fizeram a
Urbanismo
0 urbanismo é a administração dos lugares e dos locais diversos que devem abrigar o
rurais. 0 urbanismo não poderia mais estar exclusivamente subordinado às regras de um estetismo
gratuito. Por sua essência, ele é de ordem fundonal. As três funções fundamentais pela realização
das quais o urbanismo deve velar são: I o habitar; 2o trabalhar; 3o recrear-se. Seus objetivos são:
a) a ocupação do solo;
b) a organização da circulação;
c) a legislaçço.
As três funções fundamentais acima indicadas não são favorecidas pelo estado atual das
aglomerações. As relações entre os diversos locais que lhes são destinados devem ser recalculadas
de maneira a determinar uma justa proporção entre volumes edificados e espaços livres. 0
do solo, fruto de partilhas, de vendas e da especulação, deve ser substituído por uma economia
necessidades presentes, assegurará aos proprietários e à comunidade a justa distribuiçço das mais-
É indispensável que os arquitetos exerçam uma influência sobre a opinião pública e a façam
público, e não raro os problemas autênticos da habitação sequer são levantados. A opinião pública
está mal informada e os usuários, em geral, só sabem formular muito mal seus desejos em matéria
de moradia. Além disso, essa moradia tem estado há muito tempo excluída das preocupações
gerações possuidoras de uma concepção saudável da moradia. Essas gerações. futura clientela do
arquiteto, seriam capazes de lhe impor a solução do problema da habitação, por tanto tempo
negligenciado.
A Arquitetura e o Estado
moradia em benefício de uma arquitetura puramente suntuária, entravam o progresso social. Por
sua apropriação do ensino, elas viciam desde a origem a vocação do arquiteto e, pela quase
exclusividade que têm dos cargos do Estado, elas se opõem à p e n e tra ç o do novo espírito, o único
que poderia vivificar e renovar a arte de edificar.
Objetivos do CIAM
idéia arquitetônica moderna; fazer essa idéia penetrar nos círculos técnicos, econômicos e sociais;
Os Congressos do CIAM
Desde o momento de sua fundação, os CIAM avançaram pelo caminho das realizações
foram assembléias de trabalho, escolheram sucessivamente diferentes países para se reunir. A cada
vez, eles provocaram, nos centros profissionais e na opinião pública, uma agitação fecunda, uma
urbanismo.
Carta de Veneza
DE MAIO DE 1964
perduram no presente como o testemunho vivo de suas tradições seculares. A humanidade, cada
vez mais consciente da unidade dos valores humanos, as considera um patrimônio comum e,
dos monumentos sejam elaborados em comum e formulados num plano internacional, ainda que
Ao dar uma primeira forma a esses princípios fundamentais, a Carta de Atenas de 1931
sensibilidade e o espírito crítico se dirigem para problemas cada vez mais complexos e
Definições
bem como o sítio urbano ou rural que dá testemunho de uma civilização particular, de uma
( ws Ti t ur o 0 0 2
jijh s Pa t r i m ô n i o
Hl S TÓ mC O E
- llM il A r t ístic o
N a c io n a l
mas também às obras modestas, que tenham adquirido, com o tempo, uma significaçço cultural.
reclama a colaboraçço de todas as ciências e técnicas que possam contribuir- para o estudo e a
Finalidade
Conservação
Artigo 50 - A conservaçÇo dos monumentos é sempre favorecida por sua destinação a uma
funçço útil à sociedade; tal destinação é portanto, desejável, mas não pode nem deve alterar à
disposiçço ou a decoração dos edifícios. É somente dentro destes limites que se deve conceber e se
escala. Enquanto subsistir, o esquema tradicional serV conservado, e toda construção nova, toda
destruição e toda modificação que poderiam alterar as relações de volumes e de cores serão
proibidas.
situa. Por isso, o deslocamento de todo o monumento ou de parte dele não pode ser tolerado,
monumento não lhes podem ser retirados a não ser que essa medida seja a única capaz de
Restauração
Artigo 90 - A restauração é uma operação que deve ter carVter excepcional. Tem por objetivo
material original e aos documentos autênticos. Termina onde começa a hipótese; no plano das
- llM il A r t ístic o
N a c io n a l
e histórico do monumento.
monumento pode ser assegurada com o emprego de todas as técnicas modernas de conservaçço e
construçço cuja eficácia tenha sido demonstrada por dados científicos e comprovada pela
experiência.
devem ser respeitadas, visto que a unidade de estilo não é a finalidade a alcançar no curso de uma
quando o que se elimina é de pouco interesse e o material que é revelado é de grande valor
julgamento do valor dos elementos em causa e a decisão quanto ao que pode ser eliminado não
Artigo 13@ - Os acréscimos só poderão ser tolerados na medida em que respeitarem todas as
partes interessantes do edifício, seu esquema tradicional, o equilíbrio de sua composição e suas
Sítios Monumentais
Artigo 14@ - Os sítios monumentais devem ser objeto de cuidados especiais que visem a
trabalhos de conservação e restauração que neles se efetuarem devem inspirar-se nos princípios
Escavações
e proteção permanente dos elementos arquitetônicos e dos objetos descobertos. Além disso,
devem ser tomadas todas as iniciativas para facilitar a co m p re e n so do monumento trazido à luz
l rl„ / \ IN H iv r ò m c o f
A r t ís t ic o
N a c io n a l
Todo trabalho de reconstrução deverá, portanto, deve ser excluído a p rio ri, admitindo-se
elementos de integração deverão ser sempre reconhecíveis e reduzir-se ao mínimo necessário para
formas
Documentação e Publicações
acompanhadas pela elaboração de uma documentação precisa sob a forma de relatórios analíticos
e críticos, ilustrados com desenhos e fotografias. Todas as fases dos trabalhos de desobstrução,
ao longo dos trabalhos serão ali consignados. Essa documentação será depositada nos arquivos de
Carta do Restauro
DE 6 DE ABRIL DE 1972
Governo da Itália
Itália divu lgou o Documento sobre Restauração de 1972 (Carta do Restauro, 1972) entre os
Artigo 1% - Todas as obras de arte de qualquer época, na acepção mais ampla, que
fragmentados, e desde o período paleolítico até as expressões figurativas das culturas populares
salvaguarda e restauração, são objeto das presentes instruções, que adotam o nome de Carta do
Restauro 1972.
Artigo 2% - Além das obras mencionadas no artigo precedente, ficam assimiladas a essas,
especial importância.
Artigo 3% - Ficam submetidas à disciplina das presentes instruções, além das obras incluídas
intervenção direta sobre a obra; entende-se por restauração qualquer intervenção destinada a
tnüTIÍUTO00 2
P at r im ô n io
H istórico e
A rtístic o
N a c io n a l
a serem empreendidas, seja por conta do Estado ou de outras instituições ou pessoas, que será
aprovado pelo Ministério da Instrução Pública, mediante parecer favorável do Conselho Geral de
referidas no artigo 1% deverá ser ilustrada e justificada por um parecer técnico em que constarão,
além do detalhamento sobre a conservação da obra, seu estado atual, a natureza das
Esse informe será igualmente aprovado pelo Ministério de Instrução Pública com parecer
prévio do Conselho Superior de AntiüicJades e Belas Artes, nos casos de emergência ou dúvida
previstos na lei.
Artigo 6% - De acordo com as finalidades a que, segundo o artigo 4%, devem corresponder as
existirem documentos gráficos ou plásticos que possam indicar como tenha sido ou deva resultar
que se trate de alterações limitadas que debilitem ou alterem os valores históricos da obra, ou de
3 - remoção, reconstrução ou traslado para locais diferentes dos originais, a menos que isso
4 - alteração das condições de acesso ou ambientais em que chegou até os nossos dias a
etc.;
para todas as obras a que se referem os a r t io s 1%, 2% e 3%, admitem-se as seguintes operações
ou reintegrações:
jijh s tnüTIÍUTO 0 0 O
P atrim ôn io
Hl S TÓ mC O E
- llM il A r t ístic o
N a c io n a l
partes verificadas historicamente, executadas, se for o caso, com clara determinação do contorno
distinguível ao olhar, particularmente nos pontos de enlace com as partes antigas e, além disso,
2 - limpeza de pinturas e esculturas, que jam ais deverá alcançar o estrato da cor,
respeitados a pátina e eventuais vernizes antigos; para todas as outras categorias de obras,
nunca deverá chegar à superfície nua da matéria de que são constituídas as obras;
identidade com técnica claramente distinguível ao olhar ou com zonas neutras aplicadas em nível
diferente do das partes o rp n a is, ou deixando à vista o suporte original e, especialmente, jamais
obra;
ou no substrato ou suporte, desde que, uma vez realizada a operação, na aparência da obra vista
artigo 4%, deve ser realizada de tal modo e com tais técnicas e materiais que fique assegurado
que, no futuro, não ficará inviabilizada outra eventual intervenção para salvaguarda ou
restauração. A é m disso, qualquer intervenção deve ser previamente estudada e justificada por
escrito (último parágrafo do artigo 5o) e deverá ser organizado um diário de seu
No caso das limpezas, se possível em lugar próximo à zona interventora, deverá ser deixado
um testemunho do estado anterior à operação, enquanto que no caso das adições, as partes
eliminadas deverão, sempre que possível, ser conservadas ou documentadas em um arquivo-
relação aos procedimentos e matérias de uso vigente ou de algum modo aceitos, deverá ser
autorizada pelo Ministro da Instrução Pública, de acordo com parecer justificado do Instituto
Central de Restauração, a quem também competirá atuar ante o mesmo ministério no que disser
sugerir novos métodos e ao uso de novos materiais, a definir as investigações que se devam
prover com equipamentos e com especialistas alheios ao equipamento e à planilha de que dispõe.
3% não deverão alterar sensivelmente o aspecto da matéria e a cor das superfícies, nem e x iiir
historicamente. Se, contudo, forem indispensáveis modificações de tal gênero com vistas ao fim
superior de sua conservação, essas modificações deverão ser realizadas de modo que evitem
qualquer dúvida sobre a época em que foram empreendidas e da maneira mais discreta possível.
históricos e, até mesmo, para a realização de escavações, estão especificados nos anexos a, b, c
Artigo 12% - Nos casos em que houver dúvida sobre a atribuição das competências técnicas,
ou em que surgirem conflitos a respeito do assunto, decidirá o ministro, a partir dos pareceres
Anexo A
Além das regras gerais contidas nos artigos da Carta do Restauro, é necessário, no campo da
arqueologia, ter presentes exiiê n cia s particulares relativas à salvaguarda do subsolo arqueológico
diferentes medidas a serem tomadas nos diversos casos, será sempre necessário efetuar um
eventua Imente aflorado, com recorrência também à ajuda da fotografia e das prospeções
possível da natureza arqueológica do terreno permita diretrizes mais precisas para a aplicação
das normas de salvaguarda, da natureza e dos limites das relações, para o estabelecimento de
urbanização.
esculturas fundidas, impõem-se medidas muito precisas, que começam pela exploração
sistemática das costas italianas por pessoal especializado, com o objetivo de chegar à consecução
de uma forma mais com indicação de todos os restos e monumentos submersos, seja para efeito
dos restos de uma embarcação a n t ia não deverá ser iniciada antes que hajam sido dispostos os
função do estado concreto dos restos, levando-se também em conta as experiências adquiridas
internacionalmente nesse campo, sobretudo nos últimos decênios. Entre essas condições
concretas do resgate - assim como nas habituais prospecções arqueológicas terrestres - deverão
com sua categoria e sua matéria; com os materiais cerâmicos e com os utensílios, por exemplo,
antigüidade; além disso, dever-se-á dedicar especial atenção ao exame e fixação de possíveis
documentação abordam mais especificamente o esquema das normas relativas à metodologia das
durante o seu traslado, mantê-los unidos com encolados de gesso, com ataduras e adesivos
recuperação de vidros, é aconselhável não proceder a limpeza alguma durante a escavação, por
causa da facilidade com que podem quebrar-se. No que respeita às cerâmicas e Terracota é
fragmentos de metal, principalmente se estão oxidados, devendo-se recorrer não apenas aos
susceptíveis de deterioração através de pastas adesivas de gesso aplicadas nas cavidades que
Para os efeitos da aplicação destas instruções é preciso que, durante o desenvolvimento das
Deverá ser considerado com especial atenção o problema de restauração das obras
pinturas e mosaicos. Têm sido experimentados com êxito vários tipos de suportes, de entelado e
o contato direto com a parede e proporcionando, em troca, uma montagem fácil e uma
entonação similar à do reboco grosso, assim como há que evitar o uso de vernizes ou ceras para
reavivar as cores, pois sempre são susceptíveis de alteração, sendo suficiente uma limpeza
Quanto aos mosaicos, é preferível, sempre que possível, sua reinstalação no edifício de que
provêm e de cuja decoração constituem parte integrante e, em tal caso, depois de sua retirada -
que, com os métodos modernos pode ser feita inclusive em grandes superfícies sem realizar
cortes - o sistema de cimentação com recheio metálico inoxidável resulta, até agora, no sistema
mais idôneo e resistente aos agentes atmosféricos. Para os mosaicos que, ao contrário, destinam-
climática, os interiores com pinturas parietais in situ (grutas pré-históricas, tumbas, pequenos
recintos); nesses casos, é necessário manter constantes dois fatores essenciais para a melhor
conservação das pinturas: o grau de umidade ambiental e a temperatura ambiente. Esses fatores
aparelhos de climatização interpostos entre o ambiente antigo a ser protegido e o exterior. Tais
Tarquínia).
Para a restauração dos monumentos arqueológicos, além das normas gerais contidas na
"Carta do Restauro" e nas Instruções para os critérios das Restaurações Arquitetônicas, dever-se-
iam ter presentes algumas exigências em relação às peculiares técnicas antigas. Em primeiro
seu estudo histórico - seja necessário efetuar prospeções de escavação para o descobrimento das
fundações, as operações terão que se realizar com o método estatigráfico que pode oferecer
utiliza a mesma qualidade de pedra e os mesmos tipos de peças; as partes restauradas deverão
oportuno marcar com incisões ou raias a superfície dos la d rillo s modernos. Para a restauração de
reproduzir- os silla re s nas medidas antigas, utilizando lascas do mesmo material cimentado com
argamassa misturada na superfície com pó do mesmo material para obter uma entonação
cromática.
pode-se fazer uma fresta que siga o seu contorno e delimite a parte restaurada ou inserir uma
franja sutil de materiais distintos. Da mesma forma pode ser recomendável em muitos casos um
tratamento superficial de novos materiais, diferenciado pela lavradura de incisões nas superfícies
modernas.
Finalmente, será adequado colocar em todas as zonas restauradas placas com as datas, ou
ser restaurado pode se mostrar útil para a reintegração de tambores de colunas antigas de
relação ao tipo de monumento; na arte romana, o mármore branco pode ser reintegrado com
Arco de Tito). Nos monumentos antigos e particularmente nos da época arcaica ou clássica, deve
ser evitar a combinação de materiais diferentes e anacrônicos nas partes restauradas, que resulta
ostensiva e agressiva, inclusive do ponto de vista cromático, ao mesmo tempo em que se podem
utilizar diversos sistemas para diferenciar o uso do mesmo material com que foi construído o
em ruínas, sobretudo nos em que é preciso manter a linha irregular do perfil da ruína; foi
experimentada a aplicação de uma capa de argamassa de alvenaria que parece dar os melhores
resultados, tanto do ponto de vista estético, como de sua resistência aos agentes atmosféricos.
livre, devem-se evitar experimentações com métodos não suficientemente comprovados, que
também devem ser estudadas em função das variadas e xiiências climáticas dos diferentes locais,
Anexo B
longa vida aos monumentos, encarece-se o maior cuidado possível na viiilânci^ contínua dos
imóveis para a adoção de medidas de caráter preventivo, mclusive para evitar intervenções de
maior amplitude.
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A r t ís t ic o
N a c io n a l
espaços internos.
A realização do projeto para a restauração de uma obra arquitetônica deverá ser precedida
estabeleçam a análise de sua posição no contexto territorial ou no tecido urbano, dos aspectos
tipológicos, das elevações e qualidades formais, dos sistemas e caracteres construtivos, etc),
relativos à obra original, assim como aos eventuais acréscimos ou modificações. Parte integrante
desse estudo serão pesquisas bibliográficas, iconográficas e arquivísticas, etc., para obter todos
fotográfica, interpretada também sob o aspecto metrológico, dos traçados reguladores e dos
condições de estabilidade.
A execução dos trabalhos pertinentes à restauração dos monumentos, que quase sempre
a empresas especializadas e, quando possível, executada sob orçamento e não sob empreitada.
segurança sobre sua boa execução e para que se possa intervir- imediatamente no caso em que
especialmente quando intervêm o piquete e o maço, para evitar que desapareçam elementos
de raspar uma camada de pintura, ou eliminar um eventual reboco, o diretor dos trabalhos deve
constatar a existência ou não de qualquer marca de decoração, tais como os grumos e coloridos
elementos construtivos. Este princípio deve sempre guiar e condicionar a escolha das operações.
exigências de gravidade.
necessárias e nos limites mais restritos, deverá ser sempre distinguível dos elementos originais,
persistente, que mostre os limites da intervenção. Isso poderá ser conseguido com uma lâmina
de metal adequado, com uma série contínua de pequenos fragmentos de ladrilho, ou com frestas
Deverão ser tomadas todas as precauções para evitar o agravamento da situação; deverão ser
postas em prática, igualmente, todas as intervenções necessárias para eliminar as causas dos
danos. Enquanto, por exemplo, se observarem silhares rasgados por grampos ou varas de ferro
que se incham com a umidade, convém desmontar a parte deteriorada e substituir o ferro por
bronze ou cobre, ou, m e lo r ainda, por aço inoxidável, que apresenta a vantagem de não
manchar a pedra.
As esculturas em pedra colocadas no exterior dos edifícios, ou nas praças, devem ser
vigiadas, intervindo-se sempre que seja possível adotar, a partir da prática anteriormente
Para a boa conservação das fontes de pedra ou de bronze, é necessário descalcificar a água,
A pátina da pedra deve ser conservada por evidentes razões históricas, estéticas e também
técnicas, já que ela desempenha uma função protetora como ficou demonstrado pelas corrosões
que se iniciam a partir das lacunas da pátina. Podem-se eliminar as matérias acumuladas sobre
as pedras - detritos, pó, fuligem, fezes de pombo, etc., usando apenas escovas vegetais ou jatos
ao mesmo tempo em que se devem excluir, em geral, os jatos de areia, de água e de vapor com
Anexo C
Operações preliminares
reconhecimento se inclui a comprovação dos diferentes estratos materiais de que venha a estar
re d iir-se -á uma inventário que constituirá parte integrante do programa e o começo do diário da
documentar seu estado precedente à intervenção restauradora, devendo essas fotografias serem
obtidas, além de sob luz natural, sob luz monocromática, com raios ultravioletas simples ou
filtrados e com raios infravermelhos, conforme o caso. É sempre aconselhável tirar radiografias,
inclusive nos casos em que, à simples visão, não se percebam superposições. No caso de pnturas
Se, a partir dos documentos fotográficos - que serão detalhados no d iírio da restauração - se
Depois de haver tirado as fotografias, dever-se-ão retirar amostras mínimas, que abarquem
todos os estratos até o suporte, em lugares não capitais da obra, para efetuar as seções
preparação.
Deverá ser assinalado na fotografia de luz natural o ponto exato das provas e, além disso,
No que se refere às pnturas murais, ou sobre pedra, Terracota ou outro suporte (imóvel),
será preciso ter conhecimento preciso das condições do suporte em relação à umidade, definir se
análises microbiológicas.
O problema mais peculiar das esculturas, quando não se trata de esculturas envernizadas ou
seria o mais importante no que diz respeito à pintura, entretanto - determinação da técnica
empregada -, nem sempre poderá ter uma resposta científica e, portanto, a cautela e a
No que concerne à limpeza, poderá ser realizada, principalmente, de dois modos: por meios
mecânicos ou por meios químicos. Há de se excluir qualquer sistema que oculte a visualização ou
a possibilidade de intervenção ou controle direto sobre a pintura, como a câmera Pethen Koppler
e similares.
Os meios mecânicos (bisturi) deverão sempre ser utilizados com o controle do pinacoscópio,
Os meios químicos (dissolventes) deverão ser de tal natureza que possam ser imediatamente
neutralizados e também que não se fixem de forma duradoura sobre os estratos da pintura e
sejam voláteis. Antes de usá-los, deverão ser realizadas experimentações para assegurar que não
possam atacar o verniz original da pintura, nos casos em que das seções estratigráficas haja
Antes de proceder à limpeza, qualquer que seja o meio empregado, é necessário, ainda,
poderá ser realizado, conforme o caso, de forma localizada ou com aplicação de um adesivo
estendido uniformemente, cuja penetração seja assegurada com uma fonte de calor constante e
que não apresente p e r io para a conservação da pintura. Mas, sempre que se tenha realizado um
Para isso, atrás do assentado, deverá ser feito um exame minucioso com a ajuda do
pinacoscópio.
Quando for necessário proceder à proteção geral do anverso da pintura por causa de
necessidade de realizar operações no suporte, é imprescindível que tal proteção se realize depois
da consolidação das partes levantadas ou desprendidas, e com uma cola de dissolução muito fácil
Se o suporte é de madeira e está infestado por carunchos, térmitas, etc., a pintura deverá
ser submetida à ação de gazes inseticidas adequados, que não possam danificar a pintura. Deve-
necessário que a imprimação antiga seja levantada integralmente a mão com o bisturi, já que
adelgaçá-la não seria suficiente, a menos que seja apenas o suporte a parte debilitada e a
Na substituição do suporte lenhoso, quando for indispensável, deve se evitar substituí-lo por
suporte rígido quando se tiver absoluta certeza de que ele não terá um índice de dilatação
trasladada deverá ser facilmente solúvel, sem danificar a capa pictórica nem o adesivo que une
Quando o suporte lenhoso original estiver em bom estado, mas seja necessário retificá-lo ou
colocar reforços ou rebocos, deve-se ter presente que, como não é indispensável para a própria
fruição estética da pintura, é sempre melhor não intervir- em uma madeira antiga e já
estabilizada. Se intervier, é preciso fazê-lo com regras tecnológicas muito precisas, que respeitem
o movimento das fibras da madeira. Dever-se-á retirar uma amostra, identificar a espécie
botânica e a v e r iu a r seu índice de dilatação. Qualquer adição deverá ser realizada com madeira
já estabilizada e em pequenos fragmentos, para que resulte o mais inerte possível em relação ao
O reboco, qualquer que seja o material de que for feito, deve assegurar principalmente os
No caso de pinturas sobre tela, a eventualidade de um traslado deve ser efetuada com a
destruição gradual e controlada da tela deteriorada, enquanto que para a possível imprimação
(ou preparação) deverão ser seguidos os mesmos critérios utilizados para as pranchas. Quando
se tratar de pinturas sem preparação, nas quais se tenha aplicado uma cor muito diluída
diretamente sobre o suporte (como nos esboços de Rubens), não será possível o traslado.
Os teares deverão ser concebidos de modo a assegurar não apenas a justa tensão, mas,
pinturas murais
Nas pinturas móveis a determinação da técnica pode, às vezes, gerar uma in v e stia çã o sem
pintura a têmpera, a óleo, a encáustica, a aquarela ou a pastel; nas pinturas murais, realizadas
sobre preparação, ou mesmo diretamente sobre mármore, pedra, etc, a definição do aglutinante
utilizado não será às vezes menos problemática (como no que se refere às pinturas murais da
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época clássica), mas, ao mesmo tempo, ainda mais indispensável para proceder a qualquer
especialmente ao arranque, antes da aplicação das telas protetoras por meio de um adesivo
Além disso, se tratar de uma têmpera e, de um modo geral, das partes em têmpera de um
afresco, em que certas cores não podiam ser aplicadas a fresco, será imprescindível um
assentamento preventivo.
Quanto ao assentamento da cor, deve-se procurar um fixador que não seja de natureza
orgânica, que altere o mínimo possível as cores originais e que não se torne irreversível com o
tempo.
A cor pulverulenta será analisada para ver se contém formações de fungos e a que causas
pode atribuir o seu desenvolvimento. Quando se puderem conhecer essas causas e se encontrar
um fungicida adequado, será preciso certificar-se de que não danificará a pntura e de que possa
afrescos e também porque libera a película pictórica de restos do estuque degradado ou em mau
estado.
O suporte em que se instalará a película pictórica tem que oferecer garantias máximas de
estabilidade, inércia e neutralidade (ausência de ph); além disso, será necessário que ele possa
ser construído nas mesmas dimensões da pntura, sem junções intermediárias, que,
inevitavelmente, viriam à superfície da película pictórica com o passar do tempo. O adesivo com
que se irá fixar a tela grudada à película pictórica sobre o novo suporte terá que poder dissolver-
se com a maior facilidade com um dissolvente que não traga danos à pntura.
bastidor deverá ser construído de tal modo - e com materiais tais - que tenha a máxima
estabilidade, elasticidade e automatismo para restabelecer a tensão que, por qualquer razão,
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Quando, em vez de pinturas, trate-se de arrancar mosaicos, deverá ficar assegurado que
onde as tesselas não constituem uma superfície completamente plana, sejam fixadas e possam
consolidá-las. Deverá ser dedicado cuidado especial à conservação das características tectônicas
da superfície.
esculturas (se em mármore, em pedra, estuque, cartão-pedra, Terracota, louça vidrada, argila
crua, argila crua e pintada, etc.) em que não haja partes pintadas e seja necessária uma limpeza,
deve ser excluída a execução de aguadas que, apesar de deixarem intacta a matéria, ataquem a
pátina.
Por isso, no caso de esculturas encontradas em escavações ou na água (mar, rios, etc.), se
houver incrustações, deverão ser separadas preferivelmente através de meios mecânicos, ou, se
com dissolventes, de natureza tal que não ataquem o material da escultura e tampouco se fixem
sobre ele.
Se a madeira estiver infectada por caruncho, cupins, etc, será preciso submetê-la à ação de
gases adequados, mas sempre que possível, há de se evitar a impregnação com líquidos que,
ser escolhido metal inoxidável. Para os objetos de bronze, recomenda-se um cuidado particular
quanto à conservação da pátina dupla (atacamitas, malaquitas, etc.) sempre que por debaixo
Como linha de conduta geral, uma obra de arte restaurada não deve ser posta novamente
em seu lugar original, se a restauração tiver sido ocasionada pela situação térmica e higrométrica
do lugar como um todo ou da parede em particular, ou se o lugar ou a parede não vierem a ser
Anexo D
antigos centros urbanos, assim tradicionalmente entendidos, como também, de um modo geral,
tenham transformado ao longo do tempo, hajam se constituído no passado ou, entre muitos, os
Sua natureza histórica se refere ao interesse que tais assentamentos apresentarem como
enquanto ambiente, que podem enriquecer e ressaltar posteriormente seu valor, ,á que não só a
arquitetura, mas também a estrutura urbanística, têm por si mesmas um significado e um valor.
urbanístico completo e de todos os elementos que concorrem para definir- tais características.
Para que o conjunto urbanístico em questão possa ser adequadamente salvaguardado, tanto
reorganizados em seu mais amplo contexto urbano e territorial e em sua relações e conexões
com futuros desenvolvimentos; tudo isso, além do mais, com o fim de coordenar as ações
exterior da cidade, através de um planejamento físico territorial adequado. Por meio de tais
ambiental mais geral do território, principalmente quando lhe houver assumido valores de
especial significado, estreitamente unidos às estruturas históricas tal como têm chegado até nós
No que respeita aos elementos individuais através dos quais se efetua a salvaguarda do
conjunto, há que serem considerados tanto os elementos edílicos como os demais elementos que
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constituem os espaços exteriores (ruas, praças, etc.) e interiores (pátios, jardins, espaços livres,
etc.) e outras estruturas significativas (muralhas, portas, fortalezas, etc.) assim como eventuais
Os elementos edílicos que formam parte do conjunto devem ser conservados não apenas
quanto aos aspectos formais, que determinam sua expressão arquitetônica ou ambiental, como
ainda quanto a seus caracteres tipológicos enquanto expressão de funções que também têm
tipológicos, construtivos, etc., qualquer intervenção de restauração terá que ser precedida de
uma atenta leitura histórico-crítica, cujos resultados não se dirigirão tanto a determinar uma
diferenciação operativa - posto que em todo o conjunto definido como centro histórico dever-se-á
traçado, conservação da rede viária, de perímetro das edificações, etc.); e, por outro lado, a
manutenção dos caracteres gerais do ambiente, que comportam a conservação integral dos perfis
substituições, ainda que parciais, dos elementos, e apenas na medida em que sejam compatíveis
eventualmente, a corrigi-las onde houver necessidade, com a estrutura territorial ou urbana com
as quais forma unidade. É de particular importância a análise do papel territorial e funcional que
tenha sido desempenhado pelo centro histórico ao longo do tempo e no presente. Nesse sentido
é preciso dedicar especial atenção à análise e à reestruturação das relações existentes entre
diretoras.
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caótico e degradante.
fluxos de tráfego a que a estrutura estiver submetida, com o fim primordial de reduzir- seus
c) Revisão dos equipamentos urbanos - Isso afeta as ruas, as praças e todos os espaços
livres existentes (pátios; espaços interiores, ,ardins, etc.) com o objetivo de obter uma conexão
1) Saneamento estático e higiênico dos edifícios, que tende à manutenção de suas estruturas
e a uma utilização equilibrada; essa intervenção se realizará em função das técnicas, das
2) Renovação funcional dos elementos internos, que se há de permitir somente nos casos em
que resultar indispensável para efeitos de manutenção em uso do edifício. Nesse tipo de
significativos;
Declaração de Amsterdã
DE OUTUBRO DE 1975
Conselho da Europa
reunindo delegados vindos de toda parte da Europa, que acolheram calorosamente a Carta
Europa, reconhece que a arquitetura singular da Europa é patrimônio comum de todos os seus
povos e afirma a intenção dos Estados-membros de cooperar entre si e com os outros países
integrante do patrimônio cultural do mundo inteiro e nota com satisfação o engajamento mútuo
ano.
c) Essas riquezas são um bem comum a todos os povos da Europa, que têm o dever
excessiva.
d) A conservação do patrimônio arq uitetônico deve ser considerada não apenas como
e) Os poderes locais, aos q uais compete a maioria das decisões importantes em matéria
de informações.
f) A reabilitação dos bairros antigos deve ser concebida e realizada, tanto quanto
uma maneira tal que todas as camadas da sociedade se beneficiem de uma operação
particulares; além disso, para estes últimos, incentivos fiscais deverão ser previstos.
h) O patrimônio arquitetônico não sobreviverá a não ser que seja apreciado pelo
j) Uma vez que a arquitetura de hoje é o patrimônio de amanhã, tudo deve ser feito
que cabe ao Conselho da Europa assegurar a coerência da política de seus Estados Membros e
promover sua solidariedade, é essencial que sejam produzidos relatórios periódicos sobre o
- llM il A r t ístic o
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cidadãos, para q ue dêem total apoio aos objetivos desta declaração e façam todo o possível para
Nossa sociedade poderá, brevemente, ser privada do patrimônio arquitetônico e dos sítios
que formam seu quadro tradicional de vida, caso uma nova política de proteção e
conservação integradas desse patrimônio não seja posta em ação imediatamente. O que hoje
arquitetônicos só pode ser concebida dentro de uma perspectiva global, tendo em conta
todos os edifícios com valor cultural, dos mais importantes aos mais modestos, sem esquecer
os da época moderna, assim como o ambiente em que se integram. Essa proteção global
antigos. Mas descobre-se também que a conservação das construções existentes contribui para a
economia de recursos e para a luta contra o desperdício, uma das grandes preocupações da
sociedade contemporânea. Ficou demonstrado que as construções antigas podem receber novos
conservação atrai artistas e artesãos bem qualificados, cujo talento e conhecimento devem ser
arquitetônico apareça hoje com uma força nova, é necessário fundamentá-la sólida e
definitivamente; ela deve, portanto, abrir espaço às pesquisas de caráter fundamental e ser
parcial ou como um elemento secundário, como foi o caso num passado recente. Um diálogo
0 s urbanistas devem reconhecer que os espaços não são equivalentes e que convém tratá-
los conforme as especificidades que lhes são próprias. 0 reconhecimento dos valores estéticos e
culturais do patrimônio arquitetônico deve conduzir- à fixação dos objetivos e das regras
particulares de organização dos conjuntos antigos. Não basta sobrepor as regras básicas de
planejamento às regras especiais de proteção aos edifícios históricos, sem uma coordenação.
construções, dos conjuntos arquitetônicos e dos sítios, o que compreende a delimitação das
zonas periféricas de proteção. Seria desejável que esses inventários fossem largamente
difundidos, notadamente entre autoridades regionais e locais, assim como entre os responsáveis
pela ordenação do espaço e pelo plano urbano como um todo, a fim de chamar sua atenção para
as construções e zonas dignas de serem protegidas. Tal inventário fornecerá uma base realista
patrimônio arquitetônico e para elas contribuir. Ela pode, particularmente, incitar novas atividades
a serem implantadas nas zonas em declínio econômico a fim de sustar seu despovoamento e
contribuir para impedir a degradação das construções antigas. Por outro lado, as decisões
tomadas para o desenvolvimento das zonas periféricas das aglomerações devem ser orientadas
de tal maneira que sejam atenuadas as pressões que são exercidas sobre os bairros antigos. Com
essa finalidade, as políticas relativas aos transportes, aos empregos e a uma melhor repartição
dos pólos de atividade urbana podem incidir mais profundamente sobre a conservação do
patrimônio arquitetônico.
responsáveis pela conservação, em todos os níveis (centrais, regionais e locais) onde são
arquitetônico não deve ser tarefa dos especialistas. 0 apoio da opinião pública é essencial. A
Enfim, a conservação do patrimônio se insere numa nova perspectiva geral, atenta aos novos
critérios de qualidade e de medida, e que deve permitir inverter, de hoje em diante, a ordem das
escolhas e dos objetivos, freqüentemente determinada pelo curto prazo, por uma visão estreita
patrimônio arquitetônico. Aplicando os princípios de uma conservação integrada, eles devem levar
em conta a continuidade das realidades sociais e físicas existentes nas comunidades urbanas e
rurais. O futuro não pode nem deve ser construído às custas do passado.
Para pôr em ação tal política, respeitando com inteligência, sensibilidade e organização o
basear-se numa análise da textura das construções urbanas e rurais, notadamente no que
diz respeito às suas estruturas, suas complexas funções, assim como às características
atribuir- às construções funções que, respeitando seu caráter, respondam às condições atuais
estar atentos ao fato de que os estudos prospectivos sobre a evolução dos serviços públicos
dedicar uma parte apropriada de seu orçamento a essa política. Nesse contexto, eles
arquitetônico;
instaurar órgãos de atividade pública, criando um elo de ligação direta entre os utilizadores
de reabilitação.
Os poderes locais devem aperfeiçoar suas técnicas de pesquisa para conhecer a opinião dos
grupos envolvidos nos planos de conservação e levá-la em conta desde \a elaboração dos seus
projetos. Em relação à política de informação ao público, eles devem tom ar suas decisões à vista
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de todos, utilizando uma linguagem clara e acessível, a fim de que a população possa conhecer,
discutir e apreciar os motivos das decisões. Locais de encontro para reunião pública deveriam ser
previstos.
canais da mídia e a todos os outros meios apropriados, deveria se tom ar uma prática coerente.
A educação dos jovens em relação ao domínio do meio ambiente e sua associação a todas as
integrada.
O esforço de conservação deve ser calculado não somente sobre o valor cultural das
construções, mas também pelo seu valor de utilização. Os problemas sociais da conservação
integrada só podem - ser resolvidos através de uma referência combinada a essas duas escalas
de valores.
operação necessariamente mais onerosa que a de uma construção nova, realizada sobre uma
cujas conseqüências sociais são diferentes, não omitir o custo social. Isto interessa não somente
aos proprietários e aos locatários, mas também aos artesãos, aos comerciantes e aos
estado.
Para evitar que as leis do mercado sejam aplicadas com todo o rigor nos bairros restaurados
o que teria por conseqüência a evasão dos habitantes, incapazes de pagar aluguéis majorados, é
locatários, para diminuir ou mesmo completar a diferença existente entre os antigos e os novos
aluguéis.
Essa participação toma-se ainda mais importante na medida em que não se trate apenas da
épocas mais recentes, constitui condição prévia para uma ação eficaz uma reforma profunda da
Essa reforma deve ser dirigida pela necessidade de coordenar, por uma parte, a legislação
patrimônio arquitetônico.
Essa última deve fornecer uma nova definição do patrimônio arquitetônico e dos objetivos da
conservação integrada.
à delimitação das zonas periféricas de proteção e dos locais de utilidade pública serem
previstos;
programas no planejamento;
Por outro lado, o legislador deveria tom ar as medidas necessárias a fim de:
conceder, aos cidadãos que decidam reabilitar uma construção antiga vantagens financeiras,
integrada.
necessário rever a estrutura administrativa de maneira tal que os setores responsáveis pelo
É difícil definir uma política financeira aplicável a todos os países e avaliar as conseqüências
das diferentes medidas que intervêm nos processos de planejamento, em razão de suas
repercussões recíprocas.
Esse processo está, por outro lado, submetido a fatores externos resultantes da estrutura
atual da sociedade.
Compete, pois, a cada estado pôr em prática seus próprios métodos e instrumentos de
financiamento.
Todavia, pode-se estabelecer com certeza que não existe país na Europa cujos recursos
Além do mais, parece que nenhum país europeu jam ais elaborou um mecanismo
de conservação integrada.
este é um fator determinante - que seja elaborada uma legislação que submeta as novas
construções a certas restrições no que diz respeito a seus volumes (altura, coeficiente de
É necessário criar métodos que permitam avaliar os custos adicionais impostos pelas
dispor de meios financeiros suficientes para ajudar os proprietários, que efetuam trabalhos de
Se tal ajuda para fazer face aos custos adicionais for aceita, será necessário naturalmente
cuidar para que essa vantagem não seja amenizada pelo imposto.
Também é preciso aplicar este mesmo principio em proveito da reabilitação dos conjuntos
social.
Por ora, as vantagens financeiras e fiscais oferecidas pelas novas construções de veriam ser
concedidas nas mesmas proporções para a manutenção e conservação das construções antigas,
forneçam os meios necessários às coletividades locais e às associações sem fins lucrativos. Isso
vale particularmente para as zonas onde o financiamento de tais programas poderá ser
resultante da forte demanda que se aplica aos proprietários que dispõem de um tal incentivo.
excepcional resultado alcançado em associam com os poderes públicos, tanto em nível nacional
quanto local.
aplicados
execução, e convém, ao mesmo tempo, reunir- uma documentação completa sobre os materiais e
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as técnicas e proceder a uma análise dos custos. Essa documentação deveria ser reunida em
centros apropriados.
Os materiais e técnicas novas não devem ser aplicados sem antes se obter a concordância de
instituições científicas neutras. Seria necessário arrecadar dados para confecção de um catálogo
de métodos e de técnicas utilizados e, para isso, criar instituições científicas que deveriam
cooperar estreitamente entre si. Esse catálogo deveria ser posto à disposição de todos os
emprego e o status social deveriam ser suficientemente atraentes para incentivar os jovens a se
atividade.
da conservação.
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Carta de Burra
DE 1980
1. Definições
o termo bem designará um local, uma zona, um edifício ou outra obra construída, ou um
de um bem e não deve ser confundido com o termo reparação. A reparação implica a
conhecido.
sejam novos ou antigos. A reconstrução não deve ser confundida, nem com a recriação, nem
orientações.
o uso compatível designará uma utilização que não implique mudança na significação cultural
impacto mínimo.
2. Conservação
deve implicar medidas de segurança e manutenção, assim como disposições que prevejam sua
futura destinação.
desde que se assentem em bases científicas e que sua eficácia seja garantida por uma certa
experiência acumulada.
de indicadores de sua significação cultural; nenhum deles deve ser revestido de uma importância
ser previamente definidas com base na compreensão de sua significação cultural e de sua condição
material.
compatíveis para o bem. As d e s tin a ç e s compatíveis são as que implicam a ausência de qualquer
modificação, modificações reversíveis em seu conjunto ou, ainda, modificações cujo impacto sobre
as partes da substância que apresentam uma significação cultural seja o menor possível.
apropriado, no plano das formas, da escala, das cores, da textura, dos materiais, etc. Não deverão
ser permitidas qualquer nova construção, nem qualquer demolição ou modificação susceptíveis de
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Artigo 9o - Todo edifício ou qualquer outra obra devem ser mantidos em sua localização
parte, não pode ser admitido, a não ser que essa solução constitua o único meio de assegurar sua
sobrevivência.
Artigo 10o - A retirada de um conteúdo ao qual o bem deve uma parte de sua significaçço
cultural não pode ser admitida, a menos que represente o único meio de assegurar a salvaguarda e
a segurança desse conteúdo. Nesse caso, ele deverá ser restituído na medida em que novas
circunstâncias o permitirem.
3. Preservação
estado em que se encontra, oferece testemunho de uma significação cultural específica, assim
como nos casos em que há insuficiência de dados que permitam realizar a conservação sob outra
forma.
substância existente. Não poderão ser admitidas técnicas de estabilização que destruam a
4. Restauração
Artigo 13° - A restauração só pode ser efetivada se existirem dados suficientes que
restauração deve ser empreendida sem a certeza de existirem recursos necessários para isso.
Artigo 14o - A restauração deve servit para mostrar novos aspectos em relação à
disponíveis, sejam materiais, documentais ou outros, e deve parar onde começa a hipótese.
5. Reconstrução
Artigo 17° - A reconstrução deve ser efetivada quando constituir condição sine qua non de
perdida.
completar uma entidade desfalcada e não deve significar a construção da maior parte da
substância de um bem.
características são conhecidas graças aos testemunhos materiais e/ou documentais. As partes
Artigo 20° - A adaptação só pode ser tolerada na medida em que represente o único meio
Artigo 22° - Os elementos dotados de uma significação cultural que não se possa evitar
6. Procedimentos
Artigo 23° - Qualquer intervenção prevista em um bem deve ser precedida de um estudo
dos dados disponíveis, sejam eles materiais, documentais ou outros. Qualquer transformação do
aspecto de um bem deve ser precedida da elaboração, por profissionais, de documentos que
escavações arqueológicas só devem ser efetivados quando forem necessários para a obtenção de
Artigo 25° - Qualquer ação de conservação a ser considerada deve ser objeto de uma
proposta escrita acompanhada de uma exposição de motivos que justifique as decisões tomadas,
Artigo 26° - As decisões de orientação geral devem proceder de organismos cujos nomes
serão devidamente comunicados, bem como o de seus dirigentes responsáveis, devendo a cada
Artigo 27° - Os trabalhos contratados devem ter acompanhamento apropriado, exercido por
profissionais, e deve ser mantido um diário no qual serão consignadas as novidades surgidas, bem
Artigo 28° - Os documentos consignados nos artigos 23, 25, 26 e 27 acima serão
Artigo 29° - Os objetos a que se refere o artigo 10 acima serão catalogados e protegidos de
Conferência de Nara
De 6 de novembro de 1994
Preâmbulo
mundo contemporâneo.
4. Num mundo que se encontra cada dia mais submetido às forças da globalização e da
respeito, por parte de outras culturas e de todos os aspectos inerentes a seus sistemas de
pensamento. Nos casos em que os valores culturais pareçam estar em conflito, o respeito à
expressões tangíveis e intangíveis, as quais constituem seu patrimônio e que devem ser
respeitadas.
que o gerou, e secundariamente àquela que cuida dele. Entretanto, além destas
por estas preconizados. Equilibrar suas próprias necessidades com aquelas de outras
culturas é, para cada sociedade, algo extremamente desejável, desde que, ao alcançar este
fundamentada nos valores atribuídos a esse patrimônio. Nossa capacidade de aceitar estes
quanto de seu significado, constituem requisitos básicos para que se tenha acesso a todos
os aspectos da autenticidade.
12. Autenticidade, considerada desta forma e afirmada na Carta de Veneza, aparece como o
um bem, assim como a credibilidade das pesquisas realizadas, podem diferir de cultura
para a cultura, e mesmo dentro de uma mesma cultura, não sendo, portanto, possível
14. É da mais alta importância e urgência, portanto, que no interior de cada cultura, o
15. Dependendo da natureza do patrimônio cultural, seu contexto cultural e sua evolução
fontes de pesquisa permite delinear as dimensões específicas do bem cultural que está