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CENTRO UNIVERSITÁRIO FIPMOC


ARQUITETURA E URBANISMO
CONFORTO AMBIENTAL

EDUARDO RIBEIRO
EVERTON MEDEIROS
MARIANA NERYS
JULIANA DE PINHO

INTROSPECTUM: O USO
DA LUZ NATURAL EM UM
AMBIENTE DE PRÁTICAS
TERAPÊUTICAS

Montes Claros
Abril/2019
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INTROSPECTUM: O USO DA LUZ NATURAL EM UM AMBIENTE DE


PRÁTICAS TERAPÊUTICAS

1. INTRODUÇÃO

A luz é o elemento através do qual o mundo se descortina ante a nós. Em


conjunto com outros fatores ela nos possibilita o sentido da visão. No tangente à
arquitetura, o aspecto visual dum espaço – edificado ou não – é o primeiro contato
da pessoa com a obra, da qual decorre a formação de primeiras impressões que
podem impactar positivo ou negativamente o expectador. Pode-se dizer, nesse
sentido, que a luz é a responsável pelo processo de ajuizamento estético de uma
obra. Contudo, além disso, a luz ou sua ausência, quando pensada como parte
integrante de um projeto arquitetônico, aliado a decisões projetuais (forma,
materiais, gabarito, paisagismo, etc.) pode proporcionar experiências que remeta o
usuário a uma outra esfera. Assim que, uma arquitetura bela terá um espaço interno
atraente, que nos eleve e enleve espiritualmente, o contrário, uma arquitetura feia,
enfastiará e repelirá (ZEVI, 1998).
De capital importância para a arquitetura, a luz promove o encontro entre
pessoa e obra. Nessa perspectiva "a arquitetura é o jogo sábio, habilidoso e
grandioso de volumes expostos à luz. Nossos olhos são feitos para ver formas na
luz; a luz e a sombra revelam essas formas [...]" (CORBUSIER apud CHING, 1998).
Além dos benefícios já citados, a luz traz vantagens fisiológicas, já que atenua o
esforço dos órgãos visuais de modo a diminuir sua fadiga. Outrossim, apresenta
vantagens técnicas quando viabiliza procedimentos de precisão, melhorando a
qualidade da tarefa executada e prevenindo acidentes. Agrega valor estético a
espaços e objetos lhes realçando e, não menos importante, suscita sentimento de
bem-estar e segurança (SOUZA, 2008).
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Todos esses fatores são de extrema relevância quando se pensa num


espaço destinado a práticas terapêuticas de cunho meditativos e contemplativos,
como é o caso do Introspectum.

2. O Introspectum

A prática meditativa é uma das atividades humanas mais antigas do mundo


que, segundo Jhonson (1982), remonta ao período de domesticação do fogo, há
800.000 mil anos atrás. A meditação pode ser entendida como exercício da atenção
à consciência do momento presente, onde, através de métodos diversos, o
indivíduo logra estado tal de enlevo associado ao bem-estar físico, mental e
espiritual. Atualmente a meditação tem sido foco de muitas pesquisas e utilizada
como vertente da psicologia cognitivo-comportamental. Além de influenciar
mudanças comportamentais, como a redução do estresse e ansiedade (MENEZES;
DELL’AGLIO, 2009).

O Introspectum é um espaço de práticas terapêuticas para promoção da


saúde mental, espiritual e psicológica como forma de bem-estar e qualidade de
vida. Contempla atividades contemplativas e meditativas. Sua configuração
morfológica apresenta de modo implícito, como o silêncio que ali se cultivará,
significados que rementem a uma experiência metafísica que, sobretudo, leve o
usuário a uma introspecção que produza transcendência.

2.1. Concepção projetual

Os espaços de práticas meditativas e contemplativas comumente


apresentam uma configuração simples, amplo, sem muitos adornos (para não
dispersar a atenção), com pouco ou nenhum mobiliário, e com elementos naturais.
Quando não realizadas num espaço natural, as atividades sucedem em espaços
de planta livre, flexível e adaptável. Como as atividades pedem um mínimo de
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conforto, mormente são feitas em almofadas, tapetes ou colchonetes. De grande


importância são as condições ambientais do local, sobretudo para a questão do
conforto do usuário. Nesse sentido, o tratamento acústico, soluções de conforto
térmico e luminotécnico devem ser adequados afim de propiciar uma boa
concentração.

Inspirado nas obras de Tadao Ando, cujo uso da luz e sombra são
embasados em estudos de Da Vinci e para quem a luz é símbolo comum a diversas
crenças, sendo inclusive necessária a sociedade atual (SOARES, 1965) o
Introspectum é um espaço que visa utilizar a dinâmica luz e sombra como parte
integrante do projeto para colaborar no melhor desempenho da meditação, no
sentido de criar uma atmosfera propício para isso.

De modo especial o projeto tem como referência a Casa Koshimo, em


Ashiya no Japão (Em anexo) que está construída em uma área residencial,
suburbana, num ponto mais elevado da cidade. É formada basicamente por dois
volumes e sua estrutura comunica-se com o ecossistema local, de forma que o
concreto remete à natureza e auxilia na utilização lúdica da luz.

Nessa residência é perceptivo a dinâmica da luz e sombra como elementos


integrados ao projeto. Tadao pondera que nas obras dele
a luz é um fator de controle importante. Principalmente para eu criar
espaços fechados por meios de grossas paredes de concreto. A razão
principal é criar um lugar para o indivíduo, uma zona para si dentro da
sociedade. Quanto os fatores externos da cidade um ambiente requer a
parede sem aberturas, o interior deve ser especialmente pleno e
satisfatório (ANDO apud KROLL, 2011).

Esses mesmos princípios nortearam o projeto do Introspectum, cujo minimalismo,


formas retas e limpas materializaram o conceito e o partido.

Tal como a Koshino House, O Introspectum contém dois volumes, um


corredor, com iluminação vertical e um grande salão com iluminação zenital. O tipo
da iluminação foi escolhido para criar as sensações pretendidas, isto é, no corredor
dar sentimento de direção e no salão de contemplação.
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O interior é de estilo minimalista e rústico. O concreto torna-se o adorno do


lugar, harmonizando-se com um jardim interno que circunda todo o salão e uma
árvore, elemento principal, que recebe iluminação a partir de um átrio. No salão a
dinâmica luz e sombra precisava ser melhor evidenciado para atingir a finalidade
de se criar uma espera meditativa. Por isso, a iluminação zenital.

A entrada principal, o corredor, está voltado para o norte, enquanto o salão


está voltado para o leste. Isso possibilita criar um dinâmica luz-sombra no edifício.

Luz e sombra, concreto e elementos naturais buscam auxiliar o usuário a


terem um ambiente que excite o desejo de se meditar e contemplar, de modo a
gozar do bem-estar holístico que essa prática possibilita.

2.2. Partido e Conceito

A prática da contemplação e da meditação requer paciência, dedicação e


perseverança para criar o hábito de meditar de forma a usufruir o máximo dos
benefícios que essas atividades podem oferecer, abandonando ou dominando as
distrações que desviam a atenção. Em outros termos, requer tempo.

Por isso o conceito do projeto é “Paciência”, e o partido formam ponteiros


de um relógio que marcam 3 horas (FIGURA 1).

Partido e conceito vão ao encontro do que é a função do Introspectum, além


de serem representação daquilo que exige a prática da meditação ou da
contemplação.
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FIGURA 1 - Croqui – Conceito e Partido Arquitetônico

2.3. Efetivação da luz no projeto

O Introspectum é composto de dois volumes: um corredor e um salão.

No corredor a iluminação escolhida foi a lateral, em forma de rasgos na


parede. Imita os corredores da Koshino House, sendo, porém, adaptado para os
dois lados do corredor, no caso do Introspectum. O efeito esperado se dará
aproximadamente das 09:00 as 10:00 e das 15:00 as 16:00, quando o sol está
inclinando-se e declinando-se.

No salão a iluminação é zenital. Aqui o contrate luz e sombra serão


responsáveis por criar um clima transcendental, observado já em diversos edifícios,
onde a luz de cima invade o ambiente por uma passagem estreita, de modo que as
sombras permaneçam e proporcione um ambiente de introspecção, no sentido de
encontro consigo mesmo. O efeito dessa iluminação poderá ser observado
sobretudo ao meio-dia. Os rasgos que circundam a cobertura deixam passar ar, luz
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e chuva, elemento que colaborarão não só para o surgimento de uma haura mística,
como para manutenção do jardim que possui a mesma configuração. O átrio porá
em destaque a árvore, símbolo adotados por várias religiões com diversos
significados, mas sobretudo representação vida.

FIGURA 2 - Iluminação do Edifício

Fonte: Acervo Pessoal


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FIGURA 2.1 - Efeitos da Iluminação

Fonte: Acervo Pessoal

FIGURA 2.2 - Esquema de Insolação no Edifício

Fonte: Acervo Pessoal


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3. Conclusão
O Introspectum é um espaço de práticas terapêuticas voltadas para a
meditação e contemplação. Seu conceito e partido traduzem aquilo que essas
atividades mais exigem: paciência e tempo. A materialização desses elementos se
dá através de dois volumes, em forma de ponteiros marcando 15:00 h. A iluminação
vertical e zenital, conjuntamente com os materiais e o paisagismo interior buscam
cumprir a finalidade de criar um ambiente propício ao exercício meditativo e
contemplativo.

Portanto, seguindo a linha projetual de Tadao Ando, espera-se que luz e


sombra relevem a beleza do lugar possibilitando um outro lugar: o do encontro
consigo mesmo.
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BIBLIOGRAFIA

CARVALHO, Joana Teixeira Farias Meira de. A luz na obra de Tadao Ando: o
papel da matéria e da proporção na sua valorização. Lisboa: [s.n.], 2014. -
Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, Faculdade de Arquitectura e
Artes da Universidade Lusíada de Lisboa.
CHING, Francis D. K. Arquitetura, forma, espaço e homem. São Paulo: Martins
Fontes, 1998.
JOHNSON, Willard. Do Xamanismo à Ciência: Uma História da Meditação. São
Paulo: Editora Cultrix, 1982.
KROLL, Andrew. “Clássicos DC: Igreja da Luz / Tadao Ando. Acessado em 29 de
março de 2019. Disponível em: <
https://www.archdaily.com.br/br/793152/classicos-da-arquitetura-igreja-da-luz-
tadao-ando>
MENEZES, Carolina Baptista; DELL’AGLIO, Débora Dalbosco. Por Que Meditar?
A Experiência Subjetiva Da Prática De Meditação. Psicologia em Estudo,
Maringá, v. 14, n. 3, p. 565-573, jul./set. 2009.
MEYCALF,Taylor. Clássicos da Arquitetura: Casa Koshino / Tadao Ando.
Acessado em 30 de março de 2019. Disponível em:
<https://www.archdaily.com.br/br/804046/classicos-da-arquitetura-casa-koshino-
tadao-ando >
SOUZA, Roberta Vieira Gonçalves (2008). Luz Natural no Projeto Arquitetônico.
Revista Lume, v.31, pg.72-77, 2008.
ZEVI, Bruno. Saber ver a arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
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ANEXOS

KOSHINO HOUSE

IMAGEM 1 - Planta Baixa E Cortes

Fonte: http://arquiscopio.com/archivo/2012/10/03/casa-koshino/ .
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IMAGEM 2 - Vista Superior da Residência

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/804046/classicos-da-arquitetura-casa-koshino-tadao-
ando
IMAGEM 3 - Vista Panorâmica da Residência

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/804046/classicos-da-arquitetura-casa-koshino-tadao-
ando
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IMAGEM 4 – Iluminação interior – Aberturas verticais

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/804046/classicos-da-arquitetura-casa-koshino-tadao-
ando

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