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INTRODUCAO: A NOCAO DE FRICCAO
INTERETNICA
Ao concebermos a estrutura deste ensaio, algumas questées
de ordem tedrica se impuseram a refleX#6 e, praticamente, nos
guiaram na elaboragao ¢ na explanaga dos resultados da pesquisa
sobre as relagées entre indids ¢ brancos:no alto Solimées
Verificamos, assim, qués)éonstante bused de refinamento.meto-
dolégico e conceitial que se notands esttidos de contato interé-
nico, ainda qite possa ser coriderdda como o proces:
de desenvolvimento dequalquér ciéncia, pode ser eorsiderada
também — e sobrettide = Gdmo o resultado da-pérenesffilstr
em benvtompreende fiir eadinantiea das
relagdesentre povos de etnia-dlis a
determinada: a situagig@® Contato.» oo
Pouco se pode dies gyal sobre um asstinto to repisado e,
emregra, bem desényolvido porespegialistas de diferentes orien-
tagdes tedri€as. Yann spose rem trés di orientagSes, que
consideramos as maisimportantes para o conhecimento do fend-
meno do contato, parasém seguida, avaliarmos a influéncia dessas
orientagSes no estudo das relagées interétnicas no Brasil. Final-
mente, procuraremos desenvolver algumas considera sobre
aspectos desse contato que se recomendam ao analista em vista
de sua significagdo. Em sintese, tentaremos demonstrar que 0
conhecimento do contato interétnico sera aleangado de modo
i ‘mos as relagées interétnicas enquanto
33A ctnologia moderna conta com diversas tradigdes de estudo
do fenémeno das relagées entre povos de culturas diferentes,
fundadas — essas tradigdes — em pontos de vista especificos.
Esses pontos de vista é que desejamos explicitar. E devemos
acrescentar, ainda, que 0 alvo denossas indagag6es es
crito as relagSes entre grupos tribais ¢ sociedades nacionais,
deixando de lado, assim, uma série de fendmenos passivel de ser
encontrada em outros contextos, onde as populagées ou as cul-
turas em conjungao nao se caracterizam pelos componentes
mencionados: 0 tribal e o nacional. Nesse sentido, duas tradigdes
iniediatamente se impdem: a britanica, conhecida por social
change studies; e anorte-americana, divulgada pelos accultura-
tion studies. Ambas, ¢ principalmente a segunda, marcaram sua
presenga no Brasil, influenciando as pesquisas aqui conduzidas
sobre o mesmo tema. A terceira, menos conhecida entre nds — e
de formulagdo (moderna) mais recente — tem mostrado sua cfi-
cacia nos estudos africanistas realizados por.etno-sociélogos
franceses; poderemos chamé-los “estudos. de'situagao
Nos estudos britafticos de “muddnga social” — para nos
restringirmos aquiapenas a unetipo especifico de mudanga
(aquela resultante do contatginterstico, voltamos @ dizer) — a
nogio deynstituicdo social parece ocupar lugar predominante,
quando refletimos‘sobro, 6 sempre atual ec classico livro de
MalinowskipZhe Dyntimics of Culture Chdnge,publicado em
1945, maseujasidéias ja haviam side divulgadas em seu
ensaio introdutério aos Methods of Study of Culture Contact in
Africa, editado em 1938 pelo Instituto Internacional de Linguas
e CulturasA fricanas (Memoranda XVY-As idéias desenvolvidas
nesses trabalhos bem podem ser tomadas como a expr ‘ode
um ponto de.vista corrente na antropologia social britanica quan-
do esta se detémios estidos de mudanga social e de dinémica
cultural. A preocapagao em apreender a realidade resultante do
contato interétnico, valendo-se da analise de instituigdes
correspondentes — isto é, pela aceitagao tacita do principio de
que as instituigdcs atuam umas sobre as outras segundo suas
respectivas naturezas (as instituig6es religiosas tribais seriam
modificadas pela ago de instituigdo religiosa ocidental, as eco-
némicas por suas reciprocas, e assim por diante) —, leva o
A circuns-
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