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O aumento da dívida pública e, mais especificamente, da despesa em saúde têm vindo a obrigar os estados a
adoptar estratégias de contenção dos gastos. Com efeito, uma das medidas implementadas é a introdução de
Taxas Moderadoras (TM), uma forma de co-pagamento em saúde que visa moderar e racionalizar o consumo
desses serviços.
Taxas Moderadoras
O crescimento exponencial dos gastos com a saúde que tem ocorrido nas últimas décadas,
levou a que os diferentes governos adotassem medidas de contenção de custos e de
racionalização da procura de cuidados de saúde.
Abreu (2012) As alterações que levam ao aumento dos gastos e ao excesso de procura de
cuidados de saúde são devidos na sua maioria ao comportamento dos indivíduos e dos
prestadores (Medici (1995), Donaldson & Gerard (1993)). Assistimos, portanto, a um “risco
moral” dos prestadores que encoraja o “risco moral” dos doentes. Na verdade, se não
existissem medidas de racionamento impostas pelo governo, quer os prestadores, quer os
utentes não tinham qualquer incentivo para economizar no tratamento (Mossialos e Le Grand
2001).
Ainda segundo Mossialos e Le Grand (2001), os problemas que advêm do “risco moral”
podem ser reduzidos, através da execução de um co-pagamento pela utilização do serviço de
saúde público, uma vez que este reflete uma parte dos custos dos cuidados médicos prestados.
De acordo com os mesmos autores, os co-pagamentos poderão ter dois efeitos: a redução da
procura de cuidados “fúteis” ou “desnecessários” através das taxas moderadoras e o aumento
das receitas para a prestação de cuidados de saúde sob a forma de co-financiamento direto.
Co-pagamento é definido por Pereira (1993) como uma parte proporcional ou fixa do custo
total de determinada prestação de saúde, paga pelo utente, sendo então as taxas moderadoras
um dos exemplos mais comuns. A lógica do co-pagamento prevê que todo e qualquer serviço
deverá ser suportado em parte pelo consumidor.
Cuidados de saúde são um bem normal ou seja mais rendimento induz um acréscimo de
consumo (Barros, 2001) e como tal é necessário conceber mecanismos que moderem esse
consumo, nomeadamente as taxas de utilização enquanto forma de pagamento no ato de
consumo.
Lucas (1990) define a taxa moderadora como uma taxa reserva, isto é, uma taxa cujo
rendimento serve para financiar uma actividade específica do governo, neste caso a prestação
de cuidados de saúde, e que vem a desempenhar regularmente um papel marginal para o
Estado, enquanto fonte de receitas.
As Taxas Moderadoras (TM) são um tipo de co-pagamento definido por Pereira (1993) como
uma parte proporcional ou fixa do custo total de determinada prestação de saúde, paga pelo
utente.
Segundo »»»»»» Os economistas acreditam que os recursos são escassos e finitos ao contrário
dos desejos, logo qualquer sociedade necessita de mecanismos de racionalização da procura
de cuidados de saúde, idealmente mecanismos que favoreçam a utilização destes recursos
escassos, de acordo com os objetivos partilhados pela sociedade em questão. A consequência
da remoção das taxas de utilização é que o mecanismo de racionalização terá que ocorrer de
outras formas por exemplo se os recursos humanos forem deficitários haverá utentes que não
recebem os cuidados, se o orçamento para os medicamentos for diminuto, alguns utentes terão
falta destes medicamentos.
Segundo o autor, as taxas impostas são um mecanismo chave para a fixação de prioridades
por parte do governo, assim existirão serviços financiados pelo governo e serviços financiados
pelos utilizadores
Todas as instituições cobram ao paciente os serviços que prestam, a diversas escalas. Assim, a
prática real ultrapassou o antigo dogma da ‘saúde gratuita para todos’. Parece que este teve o
seu tempo e foi substituído por outro, segundo o qual, para serviços de um bem público, há
um preço a pagar, como em qualquer serviço público ou privado, seja ele abastecimento de
água, recolha de lixo, etc. É este aspecto, ou seja, um escalonamento de preços para diversas
escalas e qualidades dos serviços de saúde, que uma reforma do sector da saúde e uma nova
política de saúde precisam de ter em consideração e operacionalizar. (Weimer, 2010).
Argumentos a Favor
Dada a divergência de opiniões no que diz respeito à implementação das taxas moderadoras
far-se-á seguidamente uma abordagem dos principais argumentos, quer a favor, quer contra a
sustentabilidade e operacionalidade deste instrumento financeiro.
No que diz respeito ao racionamento da procura dos cuidados de saúde sabemos que o utente
ao ter de pagar um montante no momento do consumo dos cuidados, faz com que este tenha
uma maior consciência, ponderando se deve ou não proceder à sua utilização. Assim, poderá
permitir que cuidados de saúde desnecessários sejam efetuados, havendo portanto um maior
controlo dos gastos e por conseguinte uma maior efetividade.
Um outro efeito das taxas moderadoras, que representa um argumento a favor das mesmas, é
o possível aumento das receitas no setor da saúde. As taxas moderadoras são de fácil
implementação e compreensão, o que também constitui uma vantagem indiscutível.
Argumentos Contra
Não podemos deixar de parte a possibilidade da indução da procura por parte dos prestadores
de cuidados de saúde, visto que existe uma grande assimetria de informação neste setor. O
comportamento do médico é determinante, pois pode levar o utente a um maior consumo de
medicamentos, meios complementares de diagnóstico e consequentemente a um maior
número de exames e consultas. As taxas moderadoras “moderam” a procura excessiva, não a
procura induzida pelo médico ou por uma real necessidade de saúde. As taxas moderadoras
não “moderam” internamentos nem cirurgias, induzidas por orientação médica e que é
suposto ninguém utilizar em excesso, mas por necessidade
Ainda segundo o autor, a temática das taxas moderadoras gera então uma grande controvérsia,
levando a discussões feitas por diversos autores tanto em relação à sua existência como ao seu
real contributo para o sector da saúde. Defendidas por uns e contestadas por outros, a verdade
é que se têm mantido, surgindo na sua maioria inúmeros argumentos que questionam o
principal objectivo da sua implementação. Os argumentos a favor indicam principalmente a
eficiência que estas geram e os argumentos contra a sua iniquidade.
De acordo com o Correia, 2007, p. 17), “muitos Países em desenvolvimento que deseja
reduzir a magnitude de seu desmesurado sector estatal devem conceder prioridades máximas a
privatização”, deste modo, desresponsabilizando o Estado de oferecer serviços diretamente.
O autor defende que a iniciativa privada é sempre mais competente do que o Estado,
colocando frequentemente como prioridade a busca de eficiência e bons resultados, além de
ser imune à corrupção na prestação dos serviços e de procurar prestá-los da maneira menos
onerosa, impedindo desvios administrativos e despesas supérfluas.