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O fato social
Durkheim parte da idéia de que o indivíduo é produto da sociedade. Como cita Aron,
“[...] o indivíduo nasce da sociedade, e não a sociedade nasce do indivíduo” (2003, p.
464). Logo, a sociedade tem precedente lógico sobre o indivíduo. Durkheim definiu
como objetivo da sociologia o fato social, o entende como fato social, “[...] todos os
fenômenos que se dão no interior da sociedade, por menos que apresentem, com certa
generalidade, algum interesse social” (DURKHEIM, 1999, p. 1). Porém, dessa maneira
poderíamos ver todos os acontecimentos como sendo um fato social, pois como
Durkheim “[...] todo o indivíduo come, bebe, dorme, raciocina, e a sociedade tem todo o
interesse em que essas funções se exerçam regularmente” (DURKHEIM, 1999, p. 1).
Logo, se considerarmos esses objetos como sendo fatos sociais a sociologia perde o seu
domínio próprio. Assim, “[...] só há fato social quando existe uma organização
definida” (DURKHEIM, 1999, p. 4), como regras jurídicas, dogmas religiosos, morais,
etc.
[...] toda maneira de fazer, fixado ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma
coerção exterior; ou ainda, toda maneira de fazer que é geral na extensão de uma
sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma existência própria, independente de
suas manifestações individuais. (DURKHEIM, 1999, p. 13).
Para Durkheim o modo como o homem age está sempre condicionado pela sociedade,
logo a sociedade é que explica o indivíduo, as formas de agir apresentam um tríplice
caráter: são exteriores (provem da sociedade e não do indivíduo); são coercitivos
(impostas pela sociedade ao indivíduo); e, objetivas (têm uma existência independente
do indivíduo). Portanto, os fatos sociais são exteriores, coercitivos e objetivos.
Durkheim entende que Spencer e Comte declararam que os fatos sociais, são fatos
naturais, porém não trabalharam os fatos sociais como coisas. Logo, para Durkheim a
primeira regra é considerar os fatos sociais como coisas.[2] Dentro do pensamento
positivista, deve-se eliminar completamente a influência dos fatos subjetivos e
individuais, dessa maneira garantiria a imparcialidade e a neutralidade, portanto esse é o
motivo de considerar o fato social como “coisas”.[3]
Em relação a este método, cabe assinalar duas coisas. Em primeiro lugar, que Durkheim
compara a sociedade a um “corpo vivo” em que cada órgão cumpre uma função. Daí o
nome de metodologia funcionalista para seu método de análise. Em segundo lugar,
como se repete novamente a idéia de que o todo predomina sobre as partes. Para
Durkheim, isso implica afirmar que a parte (os fatos sociais) existe em função do todo
(a sociedade). (SELL, 2001, p. 136).
O suicídio
O suicídio como problema contemporâneo atravessa civilizações, nações passam por
problemas, as pessoas sofrem de depressão e vêem como última alternativa o suicídio.
[4] Ato improvável e indireto. O ser humano é um ser suicida. Duvido de seis bilhões de
seres humanos na terra, qual não pensou em suicídio.[5]
Uma pessoa que está existencialmente insegura sobre seus diversos eus, ou se os outros
realmente existem, ou se o que é realmente percebido existe, pode ser inteiramente
incapaz de habitar o mesmo universo social como os outros seres humanos. (GIDDENS,
1991, P. 96).
Emili Durkheim preocupou-se com o fato do suicídio na Europa, pesquisou o que ele
considerou com sendo um fato social, estudou de forma concisa, propondo questões e
elaborando sérias diferenças quanto ao suicídio. Durkheim entendia que o suicídio
possui causas sociais. Segundo ele, “É nos grandes centros industriais que os crimes e
os suicídios são mais numerosos [...]” (DURKHEIM, 1999, p. 15).
O que é comum a todas as formas possíveis dessa renuncia suprema é que o ato que a
consagra seja completado com conhecimento de causa; que a vitima, no momento de
agir, saiba o que deve resultar de sua conduta, qualquer que seja a razão que a haja
levado a se conduzir dessa maneira. [...] Chama-se de suicídio todo o caso de morte que
resulta, direta ou indiretamente de um ato, positivo ou negativo, executado pela própria
vitima e que ela sabia que deveria produzir esse resultado. (DURKHEIM, 1984, p. 103)
O suicida sabe o que vai acontecer, como ira lesar o seu ato, qual será o resultado de sua
ação. Durkheim procura explicar que o suicídio além de uma causa psicológica,
psicopatológica ou mesmo causa de imitação, também possui causa social. Durkheim
distingue 3 tipos de suicídio:
O que Durkheim deixa claro nos tipos de suicídio estudados é a relação indivíduo-
sociedade, o suicídio ocorre tanto pela falta da ação do indivíduo em determinada
sociedade como pela pressão que está sociedade acarreta sobre ele. Adam Smith
considerado o fundador da economia, século anteriores entendia que havia duas ações
que levariam os homens a ampliar seus talentos, a busca de estima e o medo de
desaprovação, talvez a falta do primeiro e a excessividade no segundo levaria a uma
generalização do ego e tornaria frutífero o pensamento leviano nas pessoas. Porém, as
causas do suicídio segundo Durkheim sempre são sociais. Durkheim considerava o
crime como um fato social normal, já “[...] o suicídio era para ele um fato social
patológico que evidenciava que havia profundas disfunções na sociedade moderna”
(SELL, 2001, p. 146).
Mas a divisão do trabalho não é específica do mundo econômico: podemos observar sua
influência crescente nas regiões mais diferentes da sociedade. As funções políticas,
administrativas, judiciárias especializam-se cada vez mais. O mesmo ocorre com as
funções artísticas e científicas. Estamos longe do tempo em que filosofia era a ciência
única; ela fragmentou-se numa multidão de disciplinas especiais, cada uma das quais
tem seu objeto, seu método, seu espírito. (DUKHEIM, 1999, p. 2).
Assim, Durkheim identificava que a divisão do trabalho não se dava apenas pelo
processo econômico, mas também em outras organizações, como nas funções artísticas,
administrativas e políticas. Durkheim inicia discutindo qual é a função da divisão do
trabalho. A divisão do trabalho tem como objetivo principal tornar a civilização
possível, caso não fosse estaria tornando a moralidade neutra.[9]
Durkheim citando Heráclito a respeito das diferenças no qual entendia que a discórdia é
o principio do de todo devir. Assim, parte da divisão em outras categorias, que “A
dessemelhança, como a semelhança, pode ser uma causa de atração mutua”
(DUKHEIM, 1999, p. 20). Logo, procuramos em nossos amigos as qualidades que nos
faltam, que o homem e a mulher possuem suas diferenças, logo tanto a divisão do
trabalho determina a relação de amizade, como a divisão do trabalho sexual é a fonte da
solidariedade conjugal. [10]
Primeiramente é necessário buscar se existe uma solidariedade social que esteja sendo
proveniente da divisão do trabalho. Dessa forma, é necessário determinar a
solidariedade que ela produz interfere na integração da sociedade, assim para perceber
até que ponto essa solidariedade é necessário.[11]
A solidariedade social, porém, é um fenômeno totalmente moral, que, por si, não se
presta à observação exata, nem, sobretudo, a medida. Para proceder tanto a essa
classificação quanto a essa comparação, é necessário, portanto, substituir o fato interno
que nos escapa por um fato externo que o simbolize e estudar o primeiro através do
segundo. (DURKHEIM, 1999, p. 31).
Há dois tipos de sanções. Umas consistem essencialmente numa dor, ou, pelo menos,
numa diminuição infligida ao agente; elas têm por objeto atingi-lo em sua fortuna, ou
em sua honra, ou em sua vida, ou em sua liberdade, privá-lo de algo de que desfruta.
Diz-se que são repressivas – é o caso do direito penal. É verdade que as que se prendem
às regras puramente morais têm o mesmo caráter, só que são distribuídas de uma
maneira difusa por todo o mundo indistintamente, enquanto as do direito penal são
aplicadas apenas por intermédio de um órgão definido: elas são organizadas. Quanto ao
outro tipo, ele não implica necessariamente um sofrimento do agente, mas consiste
apenas na reparação das coisas, no restabelecimento das relações perturbadas sob sua
forma normal, quer o ato incriminado seja reconduzido à força ao tipo de que desviou,
quer seja anulado, isto é, privado de todo e qualquer valor social. Portanto, devemos
dividir em duas grandes espécies as regras jurídicas, conforme tenham sanções
repressivas organizadas ou sanções apenas restitutivas. A primeira compreende todo o
direito penal; a segunda, o direito civil, o direito comercial, o direito processual, o
direito administrativo e constitucional, fazendo-se abstração das regras penais que se
podem encontrar aí. (DURKHEIM, 1999, p. 37).
Nas sociedades primitivas, cada indivíduo é o que são os outros; na consciência de cada
um predominam, em número e intensidade, os sentimentos comuns a todos, os
sentimentos coletivos. (ARON, 2003, p. 459).
[...] Durkheim, optou pelo estudo das normas jurídicas que, segundo ele, são um dos
meios pelo qual a sociedade materializa (ou torna concreta) suas convicções morais, que
são um dos elementos da consciência coletiva. De acordo com a forma pelo qual ele é
organizado, o direito é o símbolo visível do tipo de solidariedade que existe na
sociedade. Assim, nas sociedades de solidariedade mecânica temos o predomínio do
direito repressivo, [...] o predomínio da punição. De acordo com a explicação de
Durkheim, isto mostra a força da consciência coletiva sobre a vida dos indivíduos.
(SELL, 2001, p. 140-41).
É, pois, uma lei da história a de que a solidariedade mecânica, que, a princípio, é única
ou quase, perde terreno progressivamente e que a solidariedade orgânica se torno pouco
a pouco preponderante. Mas quando a maneira como os homens são solidários se
modifica, a estrutura das sociedades não pode deixar de mudar. A forma de um corpo se
transforma necessariamente quando as afinidades moleculares não são mais as mesmas.
Por conseguinte, se a proposição precedente é exata, deve haver dois tipos sociais que
correspondem a essas duas sortes de solidariedade. (DURKHEIM, 1999, 17).
Como conclusão, Durkheim afirma que a divisão do trabalho social não pode ser
reduzida apenas a sua dimensão econômica, no sentido de que ela seria responsável pelo
aumento da produção, sendo está a sua função primordial. Ao contrário, a divisão
trabalho social tem antes de tudo uma função moral, no sentido de que ela passa a ser o
elemento chave para a integração dos indivíduos na sociedade. (SELL, 2001, 144).
Dessa maneira Durkheim entende que a verdadeira função da divisão do trabalho social
possui como fator principal o sentimento de solidariedade entre os indivíduos de
determinada sociedade. Porém, com a crescente diversificação das funções, cresce
também o sentimento de individualidade entre os indivíduos, a consciência coletiva
acaba perdendo seu papel de interação social. Portanto, os “[...] efeitos produzidos pela
divisão do trabalho, contribuindo para manter o equilíbrio da sociedade” (DURKHEIM,
1999, p.223). Quanto mais o trabalho for dividido, maior rendimento terá.[16]
Mas, se a divisão do trabalho produz a solidariedade, não é apenas porque ela faz de
cada indivíduo um “trocador”, como dizem os economistas; é que ela cria entre os
homens todo um sistema de direitos e deveres que os ligam uns aos outros de maneira
duradoura. (DURKEHIM, 1999, P. 429).
Volume
Densidade material
Densidade moral
[3] SELL, Carlos Eduardo. Sociologia Clássica. 4º ed. Itajaí: Ed. UNIVALI, 2002,
p.132.
[4] O suicídio foi identificado como a terceira maior causa de morte (depois dos
acidentes com veículos a motor e os homicídios) no grupo de 15 a 24 anos de idade
(Murray & Zentner, 1997). A freqüência de suicídio em adolescentes triplicou nos
últimos 30 anos (Murphy, 1994). Um dos principais fatores que contribuem pra este fato
é o aumento dos distúrbios depressivos entre os jovens (Ghosh & Victor, 1994). Outros
fatores de risco associados ao suicídio em adolescentes incluem a religião (menor
probabilidade nos casos de católicos e judeus), ter pais portadores de doenças
psiquiátricas (especialmente uso excessivos de drogas ou álcool), uma história de
suicídio na família, desemprego paterno e ausência do pai ou da mãe (Slaby, Lieb &
Tancredi, 1986). In: TOWNSEND, Mary C. Enfermagem Psiquiátrica: conceitos de
cuidados. [tradução: Fernando Diniz Mundim]. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2002,
p. 206.
[5] Embora as pessoas com idade superior a 65 anos representem apenas 12 por cento
da população, elas incluem uma taxa desproporcionalmente elevada de pessoas que
cometem suicídio. De todos os suicidas, 17 por cento pertencem a esta faixa etária, e o
suicídio é agora uma das primeiras 10 causas de morte entre a população idosa. In:
TOWNSEND, Mary C. Enfermagem Psiquiátrica: conceitos de cuidados. [tradução:
Fernando Diniz Mundim]. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2002, p. 642.
[8] SELL, Carlos Eduardo. Sociologia Clássica. 4º ed. Itajaí: Ed. UNIVALI, 2002,
p.138.