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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

ALEXANDRE SOARES CAVALCANTE

TRABALHO DE SOCIOLOGIA II
OS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA AMERICANA

Trabalho apresentado como


avaliação parcial da disciplina SOA002 –
Sociologia II, ministrada pelo Prof. Dr.
Alexandre Cardoso.

BELO HORIZONTE
2010
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CHARLES HORTON COOLEY

1) De que modo o caso “Hellen Keller” sustenta a teorização proposta por


Cooley? Que teorização é essa?

O caso de “Hellen Keller”, apresentado por Charles Cooley para sustentar sua
teoria, trata de uma garota que ficou aproximadamente sete anos fora do convívio
com outras pessoas, não estando, portanto, até então inserida em contexto social de
comunicação, aspecto principal de sua teoria.
Para Cooley, a comunicação é “o mecanismo pelo qual existem e se
desenvolvem as relações humanas” (p. 168). Neste sentido, não necessariamente
está ligada a uma representação simbólica de objetos, mas também forma de
difusão do pensamento.
Nesta perspectiva, o ser humano somente consegue desenvolver sua mente,
e de fato constituir-se como tal, a partir da comunicação, desse intercâmbio
cognitivo, que se torna a estrutura mais observável do pensamento, causa e
consequência da consciência humana.
No caso de Hellen Keller, pela falta de convívio com outras pessoas, em
decorrência da perda de visão e audição, a mesma não era capaz de expressar-se
logicamente, ou de formular uma linha de raciocínio, tendo comportamentos tidos
como primitivos e incontrolados. De fato, somente depois que foi introduzida à
convivência com outras pessoas mais intensamente é que aprendeu a simbolizar,
por meio de nomes, os objetos, e assim conseguir transmitir seus pensamentos aos
outros.
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Como resultado, Cooley consegue respaldo para sua teoria a partir deste
exemplo mostrando que a falta de comunicação, no caso de Hellen, era a
responsável por tornar a mesma uma espécie de não-humano. Afinal, nenhum traço
do que pode ser considerado humano era observado até Hellen ser exposta ao
convívio social e à comunicação, aproximando-a de um estágio animalesco.

2) Cooley fala de uma certa insuficiência semântica da palavra


democracia para caracterizar o processo de desenvolvimento das sociedades
modernas. Que palavra você propõe no lugar de democracia? Por quê?

Cooley, ao dizer que a palavra democracia não tem alcance suficiente para
simbolizar o movimento político moderno, a ampliação e a rapidez do pensamento
comum, o fez pelo fato de a mesma não abranger em seu significado os fluxos
informacionais e de pessoas, e esse alastramento por todas as estruturas sociais.
No lugar da palavra democracia, eu proporia o uso do termo globalização, por
observar uma abrangência capaz de dar conta, em seu significado, dos processos
modernos de redução das distâncias, aumento da comunicação e dos fluxos de
informação. Nesse sentido, o que se verifica é o maior acesso das pessoas aos
pensamentos e informações em nossa sociedade, permitindo uma interligação não
mais presa à geografia. Com efeito, a idéia que Cooley traz ao falar democracia
seria, de fato, uma consequência esperada, em termos políticos, dos processos
globalizantes.
Não obstante, observa-se, em alguns estudos sociológicos, outros tipos de
“resultado” que a globalização traz, tais como (na visão de alguns teóricos) a
produção de uma cultura global, novas formas do capitalismo, novas éticas
religiosas híbridas etc.
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THORSTEIN VEBLEN

1) Como Veblen interpreta as seguintes características das instituições


educacionais americanas?

Em seu texto “A cultura superior como expressão da cultura pecuniária”,


Veblen utiliza elementos das instituições educacionais para mostrar as relações que
os mesmos têm com a manutenção ou não de uma estrutura desejosa de adquirir
respeitabilidade e legitimidade como classe ociosa, ou seja, desligada do mundo
laboral, e mais voltada á cultura, ao ócio pecuniário.

a) Escolas profissionalizantes X universidades


Veblen afirma que as escolas mais voltadas à prática, aos estudos
profissionalizantes (de setores imediatamente úteis) são projetos de imitação das
universidades, detentoras de maior respeito escolástico. Essas, as universidades,
são mantidas pela classe ociosa, no sentido de manter a cultura da mesma.
Neste aspecto, as escolas de ensino profissionalizante tentam conformar-se o
máximo possível em relação às universidades e, com efeito, pareceria haver um
processo de transformação delas em instituições de cultura superior.

b) Capelo e beca
Esse processo, de transformação das escolas profissionalizantes em
instituições de cultura superior, seria comprovado pela mudança que se verifica para
uma vida mais ritualística no interior dessas. Veblen diz que as escolas passaram a
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dar maior atenção ao ritual escolástico e à conformidade com formas antigas de


vestimentas e solenidades. O capelo e a beca são exemplos claros, uma vez que
ambos “foram adotados como insígnia cultural por muitos colégios” (p. 178).
Ao falar desses colégios, Veblen se refere àqueles situado em locais em que
a comunidade passou a acumular riqueza, criando assim um sentimento de voltar-se
aos costumes e pensamentos da classe ociosa, numa tentativa de obter maior
legitimidade na mobilidade social. De fato, “tal reversão ritualística não podia efetuar-
se no esquema de vida escolar até que a acumulação de dinheiro nas mãos de uma
classe abastada chegasse ao ponto de proporcionar o requisito de base pecuniária
para um movimento que deveria elevar as escolas do país ao nível de exigências de
cultura superior requeridas pela classe ociosa” (p. 179).
Dessa forma, o capelo e a beca são símbolos utilizados para formalizar essa
tentativa de transformar as escolas em instituições de cultura superior. Esses
símbolos não estão aí à toa: segundo Veblen, são utilizados para mostrar uma
predileção a elementos arcaicos, por seu impacto simbólico, e também para mostrar
poder de consumo, nesse caso conspícuo. O uso do capelo e da beca parece ter
voltado com tanta força por conta justamente desse sentimento de adquirir
conformidade e respeitabilidade por parte do mundo escolástico.

c) Incorporação das mulheres


Na proposição de Veblen, as mulheres faziam parte de uma classe
subserviente, continuando nessa condição mesmo depois das transformações
sociais ocorridas. Nesse sentido, percebe-se que para a cultura superior não seria
interessante a admissão das mulheres, uma vez que sua condição não lhes
assegurava respeitabilidade para acessar a formação cultural superior.
Não obstante, o conhecimento que seria destinado às mulheres poderia ser,
em linhas gerais, de dois tipos: conhecimentos que melhorassem o serviço
doméstico, e conhecimentos considerados quase cultos ou quase artísticos. Essas
definições se davam por haver consideração de que o próprio conhecimento, em sua
forma mais pura (e portanto mais digno da classe ociosa), era pouco feminino. Às
categorias femininas estariam encaixados aqueles conhecimentos que servissem
para melhorar aspectos da vida dos elementos da classe ociosa, no âmbito
doméstico.
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d) Esportes
No tocante aos esportes, observa-se um apoio por parte das escolas, e isso
se dá por conta da atenção que as mesmas têm dado à devoção pela instituição, um
espírito de defender a mesma. E, para isso, nada melhor que o esporte, justamente
por sua base psicológica de competição e efeito disciplinar.
No entanto, faz uma reticência ao caráter do comportamento esportivo:
segundo o autor, a idéia de barbárie que transparece muitas vezes no esporte, deve
ser direcionada ao corpo estudantil. Ou seja, o temperamento bárbaro deve ser
separado da imagem de instituição, que procura manter-se até mesmo conservadora
e com bases religiosas (dão atenção inclusive a denominar-se segundo alguma
religião). Inclusive, define-se os esportes escolares como “principalmente uma
expressão do mero impulso predatório” (p. 181).

e) Mecenas
O mecenato aparece como uma cultura de sustentação dessa estrutura de
classe ociosa, uma vez que os ex-alunos, mais abastados, ajudam financeiramente
a instituição pela qual são formados (o mesmo se aplica às repúblicas estudantis).
Essa função mostra-se de suma importância na disseminação e no desenvolvimento
intelectual e artístico, por meio dos patrocínios.
No entanto, percebe-se que de forma geral o maior caráter do mecenato é de
ordem cultural e honorífica. Ou seja, não se trata especificamente de um auxilio ou
interesse econômico. Portanto, trata-se de uma relação de status. Passa a ser uma
relação em que os estudantes patrocinados tem o dever de conferir reputação ao
patrono, tendo uma obrigação de obter proficiência nos estudos de cultura superior.

f) Clássicos
Quanto aos clássicos na educação, Veblen fala que servem para formar uma
atitude intelectual que dá bases para a manutenção de um ideal arcaico do ser
varonil, e também para sustentar idéias do que seja bom ou ruim, digno ou não para
o conhecimento (o valor estético nas artes, por exemplo). Esse processo de produzir
tal atitude é feito a partir de duas formas: incentivando uma aversão ao que seja
puramente útil de imediato, e consumindo tempo do estudante para aprender tais
códigos e simbolizações da intelectualidade.
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Com efeito, é observável então o porquê de uma pessoa ser identificada com
intelectual assim que demonstra algum conhecimento clássico, de uma língua morta,
por exemplo. Ora, claramente demanda uma boa quantidade de tempo para
aprender os clássicos, e essa demonstração já faz o papel de provar que o indivíduo
teve tempo suficiente para desperdiçar em um conhecimento a priori inservível.
Logo, ele já adquire status intelectual, atingindo objetivos da classe ociosa, de
legitimar-se como tal.

Assim, Veblen toma como base a educação para exemplificar sua teoria da
classe ociosa, em que vários aspectos são analisados a partir de uma perspectiva
do quanto contribuem ou não para a manutenção dessa cultura. Para Veblen, pode-
se situar, de maneira geral, as universidades (instituições de cultura superios), a
ritualização acentuada, o mecenato, os esportes e a incorporação dos clássicos na
educação como aspectos que contribuem positivamente para o ideal de classe
ociosa, enquanto que a incorporação das mulheres contribui negativamente para
isso, uma vez que não está no escopo desse ideal as mulheres tendo acesso aos
conhecimentos da cultura superior.
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LOUIS WIRTH

1) A definição de cidade proposta por Wirth procura relevar, sobretudo, o


modo de vida urbano. Que modo é esse? Pela sua percepção, você acha que as
características definidas por Wirth há 73 anos valem hoje em dia?

Para definir cidade, Louis Wirth utiliza a idéia de que a mesma seja o local
característico do urbanismo, fenômeno que trata do crescimento populacional,
aumento da densidade e congregação de diferentes tipos de pessoas num local
geográfico, dotado de relativa perenidade.
Dessa forma, entende-se que o modo de vida urbano, com efeito, seja
manifesto nesse contexto de agregados populacionais. No entanto, Wirth afirma que
não é suficiente colocar tais características para definir o modo de vida urbano, uma
vez que esse tem efeito controlador na política, economia e cultura.
Logo, na visão de Wirth, o modo de vida urbano pode ser abordado segundo
três perspectivas:
• Uma estrutura física que forma uma base populacional, uma tecnologia
e uma ecologia;
• Um sistema de organização social, que envolve uma série de
instituições sociais e modelos típicos de relações sociais;
• Um conjunto de atitudes, idéias e personalidades coletivas que estão
sujeitas aos mesmos mecanismos característicos de controle social.
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Veja que, assim, abrange-se a noção do modo de vida urbano a partir do local
físico, da estrutura social e da psicologia dos indivíduos. Para Wirth, o modo de vida
urbano significa viver em núcleos relativamente grandes, compactos (alta densidade,
por assim dizer) e permanentes de indivíduos heterogêneos. A partir dessa
perspectiva, e com conhecimentos da sociologia sobre formação e dinâmica de
grupos sociais, muitos são os aspectos que podem ser levantados (tais como
supercialidade nas relações, anonimato, transitoriedade, conflitos sociais, economia,
divisão do trabalho etc.), o que de fato acaba por constituir uma área da Sociologia.
De fato, a concepção que Wirth faz de cidade e do modo de vida urbano tem
validade mesmo depois de 73 anos em razão de oferecer abordagens diferenciadas
para poder explicar diferentes locais urbanos e suas peculiaridades. O que me
parece comum a todos os ambientes urbanos que é explicitado na assertiva de Wirth
ao falar da densidade e da heterogeneidade dos indivíduos (p.102:106), e que
parece diferenciar-se do modo de vida rural, é a multiplicidade de identidades dos
indivíduos. No meio rural os indivíduos exercem papéis que basicamente giram em
torno de três campos: religião, família e vida social (muito relacionada ao gênero, em
geral).
Já no ambiente urbano, justamente pelo compacto de tipos heterogêneos de
pessoas e instituições, o papéis são mais negociáveis e múltiplos. A mobilidade
social e cultural também se mostra como algo em evidência no modo de vida
urbano. Assim, pode-se perceber como corolário, que se supõe uma relação cada
vez mais imbricada entre as instituições sociais no modo como agirão sobre o
indivíduo. Também os papéis das instituições parecem ter maior mobilidade, e
podem ter influências em campos que tradicionalmente não faziam parte de seu
escopo.
Por fim, o que me parece poder concluir a partir da perspectiva de Wirth são
as grandes possibilidades que há nas cidades, no modo de vida urbano. Ora, uma
vez que tal modo pode criar atitudes, pensamentos e comportamentos comuns aos
que ele vivem, também permite verificar diferenças enormes, modos de viver e
pensar a vida muito díspares, além de grande mobilidade social e cultural. De fato,
esse jogo entre as construções mais ou menos coletivas, mais ou menos absorvidas
é o que cria um meio tão rico para o estudo sociológico, que provavelmente não teria
sido criado senão por meio do urbanismo.

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