Você está na página 1de 3

José Esteves Evagelidis

RESENHA AULA DE 21/03/2019


METODOLOGIA DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO

BOURDIEU, Pierre (1983). O campo científico. In: ORTIZ, R. (org.). Pierre


Bourdieu. São Paulo: Ática, p. 122-155.

LOPES, Maria Immacolata V. (2014). Pesquisa em comunicação. 12 ed. São Paulo:


Loyola, p. 35-70.

LOPES, Maria Immacolata V., ROMANCINI, Richard (2014). Epistemologia. In:


CITELLI, Adilson; BERGER Christa; BACCEGA, Maria Aparecida; LOPES, Maria
Immacolata V.; FRANÇA, Vera (orgs.). Dicionário de Comunicação. Escolas, teorias,
autores. São Paulo: Ed. Contexto, p. 127-137.

Palavras-chave: Sociologia da Ciência; Epistemologia da Comunicação; Pesquisa em


Comunicação; Campo Científico; Campo da Comunicação; Ciências Sociais.

Introdução

No Capítulo II de Pesquisa em Comunicação, Lopes (2014) chama a atenção


para os três “modelos clássicos” de pensamento nas Ciências Sociais: o funcionalismo,
o weberianismo e o marxismo, personificados em Durkheim, Weber e Marx e seus
seguidores, respectivamente. Em seguida, a autora discorre sobre como tais paradigmas
estão sendo utilizados nas pesquisas em Comunicação Social no Brasil e na América
Latina.

No verbete temático Epistemologia, integrante do Dicionário de Comunicação,


Lopes e Romancini (2014) relatam que o interesse pela epistemologia como reflexão
sistemática sobre o conhecimento produzido no campo da Comunicação é relativamente
recente no Brasil e na América Latina, podendo ser situado a partir dos anos 1990, em
seminários e em números específicos de periódicos da área, nos quais foram
apresentadas questões que se iniciaram como reflexões em torno da história do campo
da Comunicação e que vêm evoluindo em torno da condição da Comunicação como
disciplina.

O texto O campo científico, de Bourdieu (1983), aplica o conceito de campo ao


mundo científico, um universo onde estão inseridos os pesquisadores e as instituições
2

que produzem, reproduzem ou difundem a ciência. Um campo social como outro


qualquer, com leis sociais próprias.

Objetivos

Lopes (2014) não tem intenção de fazer uma história do desenvolvimento teórico
dentro do campo da Comunicação Social no Capítulo II de Pesquisa em Comunicação:
a intenção da autora é, sobretudo, evidenciar quais são os principais desdobramentos
teóricos e metodológicos nas pesquisas que abordam os fenômenos culturais e da
Comunicação de Massa em países em desenvolvimento, levando-se em conta os
paradigmas centrais no campo das Ciências Sociais, atualizados na Europa e América
do Norte e ajustados à realidade do Brasil e outros países da América Latina (p. 51).

No verbete Epistemologia, Lopes e Romancini (2014) objetivam debater o


campo da Comunicação a partir de uma discussão estruturada em três eixos principais: a
disciplinarização que norteou o nascimento e desenvolvimento das Ciências Sociais; a
sociedade global como sociedade da comunicação e a complexidade e
transdisciplinaridade na Comunicação.

O objetivo do texto O campo científico, de Bourdieu (1983), é demonstrar que


o campo científico, aparentemente puro e desinteressado, tem as características gerais
de outro campo social qualquer, com suas relações internas de força, lutas, interesses e
lucros (p.122).

Análise dos textos e articulação entre os autores

Segundo Lopes (2014), em uma sociedade de classes, historicamente o papel do


cientista social tem sido atuar como “intelectual orgânico” junto às classes dominantes,
com suas visões de mundo traduzidas em discurso científico (p. 47). Nesse sentido,
Lopes e Romancini (2014) afirmam que o de um campo científico sempre resulta da
combinação de interesses sociais e interesses cognitivos na acumulação tanto de capital
simbólico como de capital epistêmico.

Para Bourdieu (1983), a ideia de uma ciência neutra é uma ficção, interessada
em fazer passar por científico uma forma neutralizada da representação dominante do
mundo social. Assim, ao desvendar os mecanismos sociais que mantém a ordem
3

estabelecida, cujo funcionamento eficaz depende do desconhecimento de sua lógica e


efeitos, a ciência social toma partido na luta política (p. 148).

Conclusões

A leitura e análise dos três textos nos leva a concluir que a escolha de um ou
outro paradigma pelo pesquisador depende do consenso do que se chamaria de
comunidade científica, integrante de um campo que abriga um espaço de lutas por
interesses específicos. Assim, a ciência tem o seu discurso necessariamente vinculado
ao seu contexto histórico-social e institucional.

No caso do Brasil, os estudos epistemológicos caminham no sentido de


pesquisas que têm relação com a existência social local, pois são estes os estudos que
têm maior capacidade de apresentar relevância e pertinência teórico-epistemológica
para fazer avançar o conhecimento no campo da Comunicação no país.

Você também pode gostar