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CRÍTICA DE IMAGEM
ANÁLISE DA FUNÇÃO DO FOTOJORNALISTA ATRAVÉS DE IMAGENS
“Diante de uma cena, onde vemos um ser humano oprimido e às vezes a perder a sua
dignidade, por ser objeto de abuso violência ou injustiça, nove em cada dez pessoas desviam o
olhar. A única que vê e testemunha com a sua presença esta injustiça, deixando uma marca
inapagável que envia aos outros para ajudar a informá-los e a fazer com que reflitam sobre o que
está a acontecer, é o fotojornalista”
Don McCullin
Lisboa
Maio de 2017
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO …………………………………………………………………………………… 3
ANÁLISE DE CONTEÚDO
- CONTEXTO ……………………………………………………………………….……. 5
- ANÁLISE DO TEXTO VISUAL (SEMIÓTICA VISUAL DE BARTHES) …………… 6
- ANÁLISE DO TEXTO SOCIAL (SEMIÓTICA SOCIAL DE KRESS E LEEUWEN) .. 9
CONCLUSÃO …………………………………………………………………………………… 11
BIBLIOGRAFIA ……………………………………………………………………………..…. 12
ANEXO 1 E 2 ……………………………………………………………………………….…… 13
ANEXO 3 E 4 ………………………………………………………………………………….… 14
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INTRODUÇÃO
Numa primeira fase, o fotógrafo está “dependente” de políticas e mecanismos éticos que podem ser
tanto corporativos como culturais, mas também do seu próprio código ético e moral definido por
tudo, desde crenças religiosas ou seculares a origens étnicas e raciais.
Numa segunda fase, surgem agentes coletivos que publicam, distribuem, exibem e promovem estas
imagens de conflito e sofrimento. Dentro desta fase, estão as complexas influências sociais,
culturais, políticas e tecnológicas que têm em conta não só as decisões editoriais de censurar ou
publicar imagens particulares, juntamente com o contexto em que este tipo de fotografias circulam
dentro da esfera pública.
A metodologia que seguimos foi a seguinte: explicação do contexto da imagem, faremos uma
análise empírica semiótica visual da mesma, bem como uma análise do seu conteúdo e aplicaremos
a teoria da semiótica social.
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BASE TEÓRICA
A semiótica visual de Barthes estuda a imagem em si. Nesta semiótica o sociólogo francês estuda os
signos. Para chegar ao signo, o autor retira o significante mais o significado. Estes dois conceitos
conduzem-no ao tema da representação, ou seja, o que representam as imagens e como.
Sendo que os significados é “o que representam” e os significantes “como representam”.
Ele divide o processo de significação em dois momentos, a denotação que é a perceção simples e
superficial, “o quê, e/ou quem, é mostrado”, ou seja, levantamento dos significantes; E a conotação,
constituído por um sistema de códigos de natureza simbólica e cultural, que permitem a cada leitor
atingir vários signos, ou seja, “que valores e ideias se exprimem através do que é mostrado/
representado e através da maneira como é mostrado?”.
Neste trabalho de análise em que são levantados os significantes tem que se ter em conta todos o
que são referentes às imagens, e também os processos técnicos de os mostrar. Alguns indicadores
que nos podem ajudar na denotação são a categorização, grupos vs. indivíduos, distância e texto em
redor.
A Semiótica Social é uma variante da semiótica barthesiana, uma ciência que se encarrega de
analisar os signos na sociedade, com a principal função de estudar as trocas de mensagens. Nesta
perspetiva, dá particular atenção à relação criada pela imagem com os recetores. E nesse sentido,
destaca os aspetos da imagem que visam adequar-se a códigos sociais actuais nas relações humanas.
Para a semiótica social não há apenas códigos e regras, mas sim tipos de regras que se aplicam em
diferentes contextos. Estas regras apenas podem ser quebradas por pessoas com poder cultural.
Segundo Kress e Leeuwen existem três tarefas semióticas em ação simultânea numa imagem: a
tarefa representativa, interactiva e compositiva.
Nesta semiótica , o significado representativo é fornecido pelos “participantes”. A semiótica social
acrescenta a sintaxe das imagens como fonte para o significado representativo. Os participantes
estão numa ordem sequencial, ou seja, conta “onde as coisas estão” e se outros elementos contam
para essa inter-relação.
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Kress e Leeuwen descrevem os padrões sintáticos visuais em termos da sua função em relacionar os
participantes visuais entre si de modo significativo. E há dois tipos de padrões sintáticos visuais em
termos da sua função de relacionar os participantes entre si: as estruturas narrativas (o que fazem os
participantes, o que lhes acontece) e as estruturas conceptuais representando os participantes em
termos das suas “essências” mais gerais, estáveis ou intemporais).
Estas estruturas narrativas reconhecem-se pela presença de um ou mais vetores (uma linha, amiúde
diagonal que liga “participantes”). Estes vetores exprimem um “fazer” ou “acontecer” dinâmico,
que nos coloca a questão “quem é o “fazedor”?”. Em geral, os fazedores são aqueles de onde
provêm os vectores ou são eles mesmos os vectores.. Existe também um tipo de vector especial
quando o olhar não é dirigido ao observador.
ANÁLISE DE CONTEÚDO
Imagem1 Imagem2
Também disponível no anexo 1 e 2
CONTEXTO
Em 2010, o Haiti foi abalado por um terremoto catastrófico de grande magnitude, ocorrido próximo
da capital Porto Príncipe. Enfrentando uma série de golpes de Estado e governos ditatoriais, o Haiti
tornou-se hoje o país mais pobre da América, em que mais da metade da população é subnutrida e o
nível de pobreza é elevado.
Esta tragédia natural trouxe ao país novos problemas: Ficou sem estruturas e ainda mais fragilizado.
O país passou por uma crise muito grave, principalmente devido à falta de alimentos e à violência
diária.
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No dia 19 de Janeiro de 2010, em cima do telhado de um edifico destruído, a menina Fabienne
Cheiram, de 15 anos, foi baleada na cabeça por um polícia, depois de roubar duas cadeiras de
plástico e algumas pinturas de uma loja, após o terremoto.
A fotografia de Paul Hansen (à esquerda) é extremamente elaborada. Devido ao céu nublado em
contraluz, que mais parece uma cena de um sonho, do que um cenário de guerra. Dispondo assim do
poder que tem a fotografia de mudar as coisas.
No entanto, essa fotografia não é o único testemunho do ocorrido. O fotojornalista americano
Nathan Weber expôs a cena do mesmo ponto de vista do sueco Paul Hansen. No entanto, acabou
por decidir mudar o ângulo e produzir uma outra imagem que conta um novo lado da história. Uma
fotografia que mostra o contexto em torno da produção fotográfica. Weber incluiu no quadro os
outros sete fotógrafos, alinhados lado a lado a tentar, como ele, o melhor ângulo possível da morte.
Começando por apenas descrever a Imagem 1 (aquilo a que Roland Barthes intitulou de mensagem
denotativa), vemos uma pessoa de raça negra e do sexo feminino, com sangue no rosto, deitada num
pavimento cinzento. Está morta e por baixo do seu corpo ababelado, encontramos algumas
molduras.
À medida que o nosso olhar sobe na imagem, vemos destroços no pavimento, fendas no solo e
vários fragmentos espalhados um pouco por toda a parte. Todo o ambiente está bastante danificado.
À direita, encontram-se dois homens, também eles de raça negra, que carregam alguns pertences.
No canto direito encontramos uma mancha cinzenta, que parece fumo.
Esta imagem remete-nos para o nosso tema principal, o dilema dos fotojornalistas, que pode ser
entendido conotativamente de duas perspectivas:
1. Este grupo de fotógrafos parece estar mais preocupado em fotografar a jovem do que em
perceber se a jovem sobreviveu ou se necessita de auxílio; A maneira como utilizam um cadáver
para contar as suas histórias, sem qualquer tipo de sensibilidade, acabando por não tratar os
sujeitos com dignidade e por representá-los de uma maneira pouco respeitosa; Tipo de profissão
que procura situações perigosas para documentar pessoas que, obviamente, precisam de ajuda.
Viver com a culpa de documentar este tipo de tragédias sem poder encontrar soluções;
2. Ser fotógrafo é visto como uma profissão que mostra a realidade; Interpretam o papel de
testemunha tão objetiva quanto possível e necessária, porque a história precisa de ser contada.
Também dão voz aqueles que talvez nunca a tiveram antes, através das suas fotografias;
Este tipo de imagens podem levar os observadores a ter presentes as atrocidades cometidas.
Recordar e ter presentes estes atos é, um ato ético que é intrínseco e positivo;
Estas imagens, também podem ajudar a manter o sofrimento daqueles que estão
geograficamente distantes na mente dos observadores, e desta forma garantir que os seus
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infortúnios não sejam ignorados; É impossível que um só fotógrafo consiga ajudar todas estas
pessoas;
Passando para o ângulo e ponto de vista, na Imagem1, o ponto de vista (de baixo para cima)
exprime superioridade do fotógrafo em relação à jovem e retira-lhe qualquer tipo de
individualidade. Para completar esta teoria de separação, o enquadramento desta imagem é aberto, o
que dá uma impressão de distanciamento do fotógrafo.
Em relação à objetiva escolhida é uma objetiva de grande foco, pois o segundo plano aparece
desfocado, ao contrário do primeiro no qual se encontra a rapariga. São estas diferenças que fazem
com que o olhar se focalize na posição central e se acabe por criar a “zona de atenção privilegiada”.
Em termos de composição, pode afirmar-se que a Imagem1 tem uma composição linear e diagonal.
Como se existisse uma linha vectorial na diagonal (Anexo4) no meio que vai desde o canto inferior
esquerdo da imagem (lemos as imagens da esquerda para a direita), passa pelo corpo da rapariga,
depois pelos dois homens e termina na nuvem de fumo. Todos os elementos mais importantes da
imagem estão organizados e encontram-se nesta linha de visão.
A composição da Imagem2 também é horizontal mas os elementos mais importantes estão
colocados da esquerda para a direita. Neste caso, o nosso olhar vai dos fotógrafos para Cherisma.
Considerando que a jovem é a figura central da Imagem1 verificamos que esta se encontra com a
cabeça a três quartos (da direita para a esquerda) dado o posicionamento das suas pernas e da
silhueta do corpo (especialmente da cabeça). Por estar disposta lateralmente, trata indirectamente o
observador, sendo o seu corpo e a cabeça o foco da narrativa visual.
Na Imagem2, sendo os fotógrafos a figura central, verificamos que a sua posição é lateral ou de
perfil, dado o posicionamento dos seus corpos. Isto permite que o leitor crie uma espécie de linha
vetorial que “puxa” o leitor dos fotógrafos para a rapariga. Um dos objectos que também ajuda este
movimento são as câmaras fotográficas.
Através da utilização da regra dos três terços (Anexo3) para a Imagem1, as quatro esquinas do
quadrado central revelam quatro pontos de interesse da imagem, ou seja, são nestas zonas que se
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devem posicionar os elementos mais atraentes da fotografia: Cherisma morta, os destroços e os dois
homens.
1. Cherisma morta: O nosso olhar é naturalmente conduzido para o primeiro terço da imagem, e
isto acontece por dois motivos. Primeiro porque é nesse ponto que se encontra Cherisma morta,
e segundo, porque as cores da sua roupa cor-de-rosa destacam-se do resto do cenário cinzento.
Os factores que aqui actuam são portanto, a cor e as dimensões dos elementos visuais.
3. Dois homens: Embora um pouco ao lado, no terço à direita observamos mais duas das
personagens da fotografia. Apesar de funcionar como um elemento que dá um pouco de
profundidade à imagem, estes dois homens são extremamente importantes porque permitem um
equilíbrio visual da fotografia.
Em relação aos padrões sintáticos, a narrativa da imagem mostra a menina caída no chão em cima
do cimento e sozinha. Ao fundo estão a andar dois homens (no canto superior direito)
aparentemente indiferentes ao que se passou, como se fosse algo habitual. Em termos conceptuais o
cinzento do cimento juntamente com o cinzento das nuvens ainda realça mais a posição da menina
na imagem e a carga negativa da situação.
Os vetores da imagem leva-nos a imaginar uma menina a correr da direita para a esquerda
carregando alguns objetos e de repente é atingida, acabando por cair em cima das molduras.
Aparentemente, teve a preocupação de não largar os objetos mesmo quando foi forçada a cair.
toda a naturalidade aparente que existe, por vezes, por detrás das câmeras em situações trágicas.
Num cenário de tragédia, está uma menina morta no meio do nada com somente jornalistas à volta
dela, com o objetivo de conseguir a melhor foto e com isso lucrar, quando ela esta completamente
indefesa.
Em relação aos padrões sintáticos desta Imagem2, mostra a menina morta, mas caída no chão,
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aparentemente como se fosse uma coisa normal. Com uma narrativa que mostra os fotógrafos a
fazer o seu trabalho e as outras pessoas a levar a vida com indiferença. Em termos conceptuais, os
fotógrafos estão incomodados e sensíveis à situação, mas ao mesmo aparentam estar a actuar
friamente perante a situação.
Os vetores desta imagem, levam a imaginar a situação da jovem a ser atingida e a aproximação dos
fotógrafos que estão todos a olhar para ela. Isto faz com que haja um vector que os liga ao corpo da
menina. Ambas as imagens, transmitem um certo movimento e um certo dinamismo, tanto pela
parte dos fotógrafos, na segunda imagem, como pelos homens ao fundo, na primeira.
Quando a vida da menina terminou e o seu corpo caíu no chão, aparentemente tudo parou. No
entanto, os fotógrafos continuam o trabalho e as outras pessoas continuam a sua vida.
CONCLUSÃO
Desta forma, qual é a solução para este conflito? O fotojornalismo deveria deixar de existir e o
sofrimento humano ficar sem ser documentado? Devemos todos sentarmo-nos nos nossos
confortáveis sofás e tapar os olhos deliberadamente para zonas críticas do mundo, enquanto estamos
num ambiente perfeitamente seguro?
Após a análise destas imagens (através da semiótica, do texto visual e da semiótica social), ficamos
um pouco mais informadas sobre o papel dos fotojornalistas. A nossa questão de investigação inicial
não foi totalmente respondida, mas acreditamos que conseguimos elucidar-nos um pouco mais
sobre esta temática, que causa tantas questões e divide opiniões.
Foi através de uma observação objetiva e do facto de estarmos constantemente a contrastar duas
ideias distintas (do fotógrafo e do observador) que conseguimos entender o papel do fotojornalista.
Nos dias de hoje a profissão de fotógrafo é muito mais do que fotografar. Os fotojornalistas têm de
ter em conta preocupações estéticas, éticas e políticas que raramente estão em harmonia.
Como seres humanos, os fotojornalistas devem seguir a mesma ética que todos os outros, o que
significa fazer tudo o que for possível para ajudar pessoas em sofrimento. No entanto, tendo em
conta a natureza do fotojornalismo, isto remete a vária discrepâncias, uma vez que as características
da fotografia documental, levam a que os fotógrafos se encontrem mais frequentemente em áreas de
conflito, que desafiam a ética do fotojornalismo.
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Os fotojornalistas não são responsáveis pelo sofrimento das pessoas que fotografam, são
simplesmente o mensageiro que documenta a vida como ela é. Não podemos censurar o mensageiro
por expôr a realidade. O que a foto fornece é a consciência e a pressão a instituições e pessoas que
podem realmente ajudar. Não publicar estas imagens e "censurar" cada imagem do sofrimento
humano, não significaria que o mundo fosse ficar um lugar melhor.\
Os fotógrafos fazem o seu melhor para ajudar, mas sua ferramenta é a câmara, que lhes permite
aumentar a consciência pública mais do que qualquer outra coisa.
BIBLIOGRAFIA
Livros:
Suporte Digital: