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Universidade Federal de São João del Rei - UFSJ

Trabalho de Transformadores Elétricos

ANÁLISE DE TRANSITÓRIO EM TRANSFORMADORES

DEPEL

São João del-Rei


2012
Universidade Federal de São João del Rei - UFSJ
Trabalho de Transformadores Elétricos

ANÁLISE DE TRANSITÓRIO EM TRANSFORMADORES

DEPEL

José Felipe Conde Furtado de Lima


Pedro Henrique Lopes de Menezes
Alunos do curso de Engenharia Elétrica
UFSJ, São João del Rei – MG

Teresa Cristina Bessa Nogueira Assunção


Professora da disciplina de Transformadores Elétricos.
Doutorado em Engenharia Elétrica – UFMG
Professora Adjunta II na Universidade Federal de São João del Rei – UFSJ
UFSJ, São João del Rei – MG

São João del-Rei


2012

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 4

2. DESENVOLVIMENTO ....................................................................................... 5

2.1. Tipos de Transitórios ............................................................................ 5

2.1.1. Corrente de Inrush ................................................................... 5

2.1.2. Corrente de Falta ...................................................................... 8

2.2. Simulações ......................................................................................... 10

2.2.1. Características de histerese do TRAFO ................................. 10

2.2.2. Obtenção da corrente de Inrush ............................................ 12

2.2.3. Obtenção da corrente de Falta .............................................. 17

2.3. Análise dos resultados ........................................................................ 22

3. CONCLUSÃO .................................................................................................... 22

4. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 23

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1. INTRODUÇÃO

O princípio de funcionamento do TRAFO foi inicialmente enunciado por


Michael Faraday, por volta de 1831. Desde então os sistemas em CA têm ganhado
força e prioridade no setor de geração e distribuição de energia. Isso porque com o
uso dos transformadores se torna viável a obtenção de altos valores de tensão, fato
que minimiza as perdas nas linhas de transmissão.
Com ao aumento da precisão e confiabilidade dos sistemas elétricos ao longo
dos últimos anos, o transitório dos transformadores tem se tornado um fenômeno
cada vez mais estudado por engenheiros e profissionais da área. A análise do
comportamento dos TRAFOS fora de seu regime permanente é de suma importância
para uma caracterização mais realística desses dispositivos. Nesse sentido, um
projeto adequado a inserção dessas máquinas estáticas em um sistema elétrico, deve
levar em consideração o estudo de seu estado transitório. Isso porque a
desconhecimento desses parâmetros pode acarretar em erros no dimensionamento
do sistema de proteção, redução da vida útil dos equipamentos e aumento das perdas
joulicas ao longo do circuito no qual o TRAFO está inserido. Esses prejuízos podem
ser ainda maiores quando se faz o uso de transformadores em sistemas elétricos
chaveados, uma vez que cada chaveamento faz com que esses dispositivos saiam do
regime permanente.
A análise do transitório de transformadores leva em consideração basicamente
dois parâmetros: a corrente transitória de magnetização (ou corrente de inrush) e a
corrente de falta (ou corrente de curto-circuito). A primeira delas diz respeito ao
momento em que o TRAFO é acionado, ou seja, é a corrente de magnetização que
aparece na partida do equipamento. Já a corrente da falta está condicionada a
existência de um curto-circuito na rede. Essa corrente advém de uma circunstância
em que o transformador trabalha em condições nominais e é submetido a um curto-
circuito entre os terminais de seu enrolamento secundário. Além disso, em ambos os
casos é possível verificar que essas correntes chegam a ser de 10 a 20 vezes o valor
da corrente nominal do TRAFO.
Nesse trabalho serão abordadas as principais características associados ao
aparecimento das correntes de inrush e das correntes de falta. A partir do Simulink,
software associado ao , pretende-se simular os possíveis casos que
ocasionam cada um desses transitórios. Ao longo dos experimentos será adotado um

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modelo específico para o transformador. A escolha do TRAFO deve levar em
consideração tanto seus aspectos construtivos como também os parâmetros elétricos
do equipamento.

2. DESENVOLVIMENTO
2.1. Tipos de Transitório
A análise do transitório de transformadores se restringe basicamente ao estudo
das correntes de inrush e das correntes de falta. Esses casos particulares evidenciam
o comportamento de um TRAFO submetido a duas situações distintas. A primeira
delas, diz respeito aos parâmetros observados no momento em que o equipamento é
energizado. Já a segunda situação, procura obter as características desses
dispositivos quando estão trabalhando em condições nominais e são submetidos a
um curto-circuito entre os terminais do secundário.

2.1.1. Corrente de Inrush


Quando energizamos um transformador, verifica-se que há um fenômeno físico
no qual sua corrente inicial é relativamente maior do que a corrente a vazio e, até
mesmo, que a própria corrente nominal do transformador. Esse fenômeno é
chamado de corrente transitória de magnetização (ou corrente de inrush). Nesse
caso, onde a corrente se torna maior que a nominal, pode-se haver uma impressão
errada de que possa estar ocorrendo uma falta ou curto-circuito no transformador.
Esse fenômeno físico acontece devido ao aumento do fluxo magnético, que pode
atingir o dobro do fluxo magnético no transformador em regime permanente. Esse
aumento de fluxo depende da fase na qual a tensão se encontra no momento em que
ocorre o fechamento da chave que conecta a fonte de tensão e o transformador, e
igualmente para a polaridade e a amplitude do magnetismo residual.
Existem basicamente seis situações possíveis:
[1] Energização com tensão de 0 Volt e sem magnetismo residual.
[2] Energização com tensão de 0 Volt e máximo magnetismo residual com
polaridade oposta ao fluxo.
[3] Energização com tensão 0 Volt e máximo magnetismo residual com
polaridade do fluxo normal.
[4] Energização com máxima tensão e sem magnetismo residual.

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[5] Energização com máxima tensão e máximo magnetismo residual com
polaridade oposta ao fluxo normal.
[6] Energização com máxima tensão e máximo magnetismo residual com
mesma polaridade do fluxo normal.
Todas as situações anteriores estão associadas a relação entre a fase da tensão (θ)
e a fase do fluxo magnético (φ) no momento em que é feita a partida do TRAFO.
Fornecendo uma tensão senoidal ao enrolamento do
primário de um transformador, cria-se um fluxo magnético φ . Considerando que no
instante inicial θ é igual a 90º, tem-se que:

De acordo com a “Lei de Faraday” sabe-se que:

Substituindo [1.1] em [1.2], tem-se:

Verifica-se que o maior fluxo ocorre no regime permanente, uma vez que não há
transitório. Dessa forma, o valor máximo para a consideração inicial de
será:

Por outro lado, considerando que o valor no instante inicial de θ é igual a 0º,
tem-se:

Substituindo-se [1.5] na equação [1.2], tem-se que:

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Dessa forma, o fluxo máximo para será dado por:

Com isso, nota-se uma importante relação entre a magnitude do fluxo


magnético máximo e a fase onde a tensão é aplicada. No momento em que a
tensão é aplicada com a fase 90° o fluxo máximo originado será conforme
demonstrado pela equação [1.4]. No entanto, quando a tensão é aplicada com a fase
0º o fluxo máximo originado será de acordo com a equação [1.7], ou seja, duas vezes
maior que o fluxo máximo alcançado quando se aplica tensão com fase de 90°.
O fluxo residual também influencia na amplitude do fluxo magnético máximo.
Reconsiderando-se o valor do fluxo magnético máximo, sua amplitude poderá ser
aumentada ou reduzida, dependendo do valor do fluxo magnético residual. Caso o
fluxo magnético residual tenha a mesma polaridade do fluxo magnético máximo,
implicará em um aumento na amplitude. Caso tenha polaridade contrária, implicará
em uma redução da amplitude do fluxo magnético máximo.
Tem-se também a relação entre o fluxo magnético e a corrente de
magnetização . Observa-se por meio da Figura 1 que a corrente de
magnetização tem relação direta com o fluxo magnético. Nota-se que para um fluxo
magnético existe uma corrente de magnetização muito baixa em relação à
corrente de magnetização causada pelo fluxo magnético , pois há uma saturação
muito forte por causa desse último fluxo.

Figura 1: Relação entre Fluxo magnético e corrente de magnetização

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2.1.2. Corrente de Falta
Na eventual hipótese da ocorrência de um curto-circuito em um transformador,
verifica-se a existência de uma corrente de falta permanente e uma corrente de falta
transitória. Essas correntes aparecem quando o curto-circuito ocorre para um TRAFO
em suas condições nominais, ou seja, quando ele está alimentado em seu
enrolamento primário com sua frequência e tensão nominal. Por meio da Figura 2 é
possível verificar o modelo para o TRAFO sob condições de curto-circuito.

Figura 2: Modelo para o TRAFO com o curto-circuito entre os terminais do secundário

De acordo com a representação apresentada na Figura 2, tem-se que:


Pela substituição da equação [2.7] em [2.6] obtêm-se que:


( )

Para encontrar o valor de C, faz-se t = 0, ou seja:




Dessa forma, fazendo as devidas substituições na equação [2.3] tem-se que:

√ [ ⁄ ]

8
A partir da equação [2.10] torna-se possível presumir o valor máximo da
corrente de falta, isto é:

√ [ ]

Sabe- se também que:

⁄ ⁄ ⁄ ( )( )

Deve ser observado que foi usado que:

Com isso, a equação [2.11] pode ser redefinida como:

√ [ ] √ [ ]

Além disso, supondo que o valor de é muito alto, verifica-se que:



Na prática, para transformadores de baixa potência verifica-se que:

Já para transformadores de alta potência observa-se que:

Portanto, podemos supor um valor médio de aproximadamente 1.8, ou seja:

De modo geral, a corrente de falta faz com que haja esforços mecânicos
elevados entre as espiras. Para minimizar esse efeito é necessário que os
enrolamentos estejam muito ancorados por uma cautelosa disposição de cabos e
amarrações, de forma a tornar o conjunto mais rígido. Além disso, enquanto a
corrente de falta transitória afeta o transformador de maneira mecânica, a corrente
de falta permanente afeta de maneira térmica. Os esforços mecânicos advindos da
corrente de pico são mais poderosos em transformadores que possuem a ligação
zig-zag, que por sua vez faz com que somente metade de cada enrolamento de uma
fase seja percorrido pela corrente induzida da outra fase.

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2.2. Simulações
As simulações referentes a análise do transitório de transformadores foram
realizadas no Simulink, que é um programa agregado ao . A obtenção da
corrente de inrush e corrente de falta foram estimadas com base na escolha de um
TRAFO padrão. Para esse trabalho foi adotado um transformador 1ϕ de 2200/220 V,
com frequência de 60 Hz e potência nominal de 50 kVA. A partir do modelo
fornecido pelo próprio software utilizado nas simulações, foram mantidos os valores
das resistências e reatâncias do núcleo e do enrolamento, uma vez que esses
parâmetros são dados em valores por unidade (pu).

2.2.1. Características de Histerese do TRAFO


Em prol de se conhecer melhor os parâmetros do TRAFO em análise, foi feito
inicialmente o levantamento de suas características de histerese. Isso porque a partir
dessa propriedade verificam-se algumas distorções na corrente de excitação e na
corrente de magnetização.
Por meio da Figura 3 é possível verificar o circuito elaborado para o
levantamento das características associadas à histerese do equipamento. Nesse caso,
foram obtidas as correntes de magnetização e excitação para o TRAFO a vazio, ou
seja, na ausência de carga ligada no enrolamento secundário.

Figura 3: Circuito elaborado para obtenção das características de histerese

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Já na Figura 4 está retratada a curva de histerese do TRAFO em análise. Esse
gráfico pode ser facilmente obtido por meio das funções habilitadas dentro da caixa
de ferramentas da powergui.

Figura 4: Curva de histerese para o TRAFO estudado

Além disso, a Figura 5 e Figura 6 exibem as distorções das correntes de


magnetização e excitação devido presença da histerese no equipamento.

Figura 5: Corrente de Magnetização para o TRAFO a vazio

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Figura 6: Correte de excitação para o TRAFO a vazio

2.2.2. Obtenção da Corrente de Inrush


A simulação referente a determinação da corrente de inrush foi embasada no
circuito representado pela Figura 7.

Figura 7: Representação do modelo utilizado para obtenção da corrente de inrush

Para dar partida no TRAFO foi utilizado uma chave Breaker configurada para
operar com uma capacitância nula. Além disso, foi desabilitada a função que
permite a temporização da chave a partir de um controle externo. Além disso, foi

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considerado que o Breaker está inicialmente aberto e após 10 vezes o período a
chave se fecha. Para isso, basta alterar o parâmetro interno Switching time(s) para
[10/60], pois a frequência fundamental da tensão é de 60 Hz.
Levando em consideração que a corrente no TRAFO não pode variar
instantaneamente com o fechamento da chave, deve-se colocar uma resistência de
alto valor em paralelo com o enrolamento primário do transformador. Com isso,
evitam-se os possíveis erros do método numérico ao longo da simulação. Para essa
análise em particular foi considerado que .
A partir das simulações realizadas com o circuito retratado na Figura 7 foram
obtidos os seguintes resultados:
i) Para partida com ̇ , ou seja, tensão de 0 V na energização.

Figura 8: Resultados obtidos para partida com ̇

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ii) Para partida com ̇ .

Figura 9: Resultados obtidos para partida com ̇

14
iii) Para partida com ̇ .

Figura 10: Resultados obtidos para partida com ̇

15
iv) Para partida com ̇ , ou seja, tensão máxima na
energização.

Figura 11: Resultados obtidos para partida com ̇

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2.2.3. Obtenção da Corrente de Falta
Para a análise das correntes de falta foi utilizado o modelo do circuito retratado
pela Figura 12.

Figura 12: Representação do modelo utilizado para obtenção da corrente de falta

A elaboração do circuito exibido na Figura 12 foi fundamentada na hipótese de


que o TRAFO está inicialmente alimentando uma carga nominal. Dessa forma, o
circuito deve ser ajustado de modo a fazer com que o equipamento esteja sob suas
condições nominais.
Para a simulação da corrente de falta, é necessário considerar que em algum
momento ocorre um curto-circuito entre os terminais do secundário. Nesse caso,
essa ocorrência é provocada pelo Breaker em paralelo com a carga. De modo
análogo ao que foi feito no circuito da Figura 7, a função de chaveamento externo
desse bloco foi desabilitada e o parâmetro interno Switching time(s) foi ajustado
para [10/60]. Com isso, verifica-se que para a chave inicialmente aberta, ocorrerá o
curto-circuito depois de decorridos 10 vezes o período correspondente a frequência
fundamental de 60 Hz.
Com base nas simulações realizadas por meio do circuito exibido na Figura 12
foram obtidos os seguintes resultados:

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i) Para curto-circuito com ̇ , ou seja, tensão de 0 V no
fechamento da chave.

Figura 13: Resultados obtidos para curto-circuito com ̇

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ii) Para curto-circuito com ̇

Figura 14: Resultados obtidos para curto-circuito com ̇

19
iii) Para curto-circuito com ̇ .

Figura 15: Resultados obtidos para curto-circuito com ̇

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iv) Para curto-circuito com ̇ , ou seja, tensão de máxima no
fechamento da chave.

Figura 16: Resultados obtidos para curto-circuito com ̇

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2.3. Análise dos resultados
Após a obtenção da corrente de Inrush e da corrente de Falta para diferentes
situações de chaveamento, fica evidente a relação entre a amplitude das correntes
transitórias e o ângulo de defasagem entre a tensão de alimentação e o fluxo. Em ambos
os casos é observado que o aumento do ângulo da tensão reflete diretamente no estado
transitório das correntes.
Por meio da Figura 8 é possível observar que a corrente de Inrush é máxima no
momento em que a energização do TRAFO ocorre com a tensão mínima, ou seja, 0 V.
Por outro lado, na Figura 11 verifica-se que a corrente de magnetização transitória é
praticamente nula para o caso em que a energização ocorre com a tensão máxima, ou
seja, 2200 V.
Já na Figura 13 está evidenciado que a corrente de falta é máxima para o caso
em que o curto-circuito ocorre no momento em que a tensão é mínima. Por outro lado, a
corrente de falta mínima aparece quando o curto-circuito ocorre no instante em que a
tensão é máxima, conforme demonstrado pela Figura 16. Para essa situação a corrente
de curto-circuito resultante é praticamente a corrente observada em seu estado
permanente.
Além disso, ambos os casos de transitório analisados no TRAFO estão de acordo
com o equacionamento proposto nas seções 2.1.1 e 2.1.2. Também deve ser considerada
a influência da histerese, visto que esse fenômeno influência diretamente no
comportamento do transformador. Para o equipamento em análise foi possível observar
distorções consideráveis na corrente de magnetização e corrente de excitação.

3. CONCLUSÃO
Com o estudo da corrente de Inrush e da corrente de falta fica evidente a
necessidade de seu conhecimento em situações práticas, sobretudo, no que diz respeito a
análise de falhas e dimensionamento dos sistemas de proteção. Além disso, conforme
foi observado ao longo do trabalho, a amplitude das correntes transitórias estão
diretamente vinculadas ao estado em que ocorre o evento que a origina. Nesse sentido,
deve-se procurar conhecer o ângulo de defasagem entre a tensão e o fluxo magnético do
TRAFO no momento da energização e na eventual ocorrência de um curto-circuito.
Esse cuidado deve ser ainda maior na elaboração de circuitos chaveados alimentados
por transformadores, uma vez que o chaveamento tende a fazer com que o equipamento
saia de seu estado permanente.

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4. BIBLIOGRAFIA
- P.C.Sen. – Eletric Machines e Power Eletronics, Capítulo 9: Transient e Dynamics,
2° Edição.
- Análise do Fenômeno de Inrush em transformadores monofásicos: simulador
Saber versus resultados experimentais – Arnulfo Barroso de Vasconcellos, Herivelto S.
Bronzeado, José Carlos de Oliveira e Roberto Apolônio.
- SimPowerSystems for use with Simulink – User’s Guide
- Dissertação: Estudo dos Efeitos da Corrente de Magnetização (Inrush) de um
Transformador sobre um gerador síncrono – Hugleydson Thom Proescholdt.
- http://pt.scribd.com/doc/40337199/Calculo-Da-Corrente-de-Curto-Circuito,
(acessado em 06 de novembro de 2012).
- Notas de aula disponibilizadas por meio do Portal Didático da UFSJ: Disciplina de
Transformadores Elétricos (acessado em 06 de novembro de 2012).

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