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DIREITO DO CONSUMIDOR 18.02.

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Prof.: Leonardo Vieira
Conteúdo: 1 – Relação Jurídica de Consumo: identificar consumidor e
fornecedor: destinatário final, consumidor PF e PJ, consumidor por
equiparação: by standers.
2 – Objeto desta relação consumerista

1. Relação Jurídica de Consumo

1.1 – Sujeitos da relação consumerista


- A relação de consumo tem sempre os mesmos sujeitos: fornecer e
consumidor.
A - Consumidor standart ou stricto sensu:
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que
adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

OBS: o que significa ser destinatário final?


- é aquele que adquire o produto ou utiliza o serviço sem fins
profissionais. (Relação de consumo X atividade de consumo intermediária –
Resp. 541.867 de 2008).
- a contrário sensu pode-se afirmar que NÃO é consumidor quem
adquire produto para uma etapa da cadeia de produção. Por exemplo, quem
compra tinta para fazer parte do processo produtivo de brinquedos que fabrica.
- Correntes doutrinárias: finalista e maximalista
Consumidor é apenas aquele que
Finalista (corrente restritiva) aproveita dos produtos ou serviços
para si, sua família ou uso doméstico.
Também são consumidores aqueles
Maximalista que adquirem os produtos e os usam
profissionalmente (desde eu não seja
para revenda).
OBS: há precedentes do STJ mitigando a teoria finalista em situações em que
ocorra uma clara vulnerabilidade. Nesses casos, deve-se afirma que foi
adotada a “teoria finalista mitigada” ou “teoria finalista aprofundada”.
- É muito difícil definir o termo, é preciso analisar o caso concreto e a
jurisprudência do STJ.
- O STJ constantemente amplia o conceito de “destinatário final”.

B) Quando a pessoa jurídica pode figurar como consumidora?


- Diferentemente de outros países, o Brasil aceita que a PJ assuma o
papel de consumidora.
- EX: STJ, Resp. 468.148 (20.10.03) – “tratando-se de contrato de
adesão, sendo ré a microempresa, pertinente é a aplicação do art. 6º, VIII do
CDC, superando-se a cláusula de eleição de foro, com vistas à facilitação da
defesa”.
- STJ, Resp 476.428 (09.05.05) - “a relação jurídica qualificada por ser
„de consumo‟ não se caracteriza pela presença da pessoa física ou jurídica em
seus polos, mas pela presença de uma parte vulnerável de um lado
(consumidor), e de um fornecedor, de outro” (...)
- PRESUNÇÃO DE VULNERABILIDADE: a PF possui uma presunção
juris tantum, contudo em relação a PJ essa presunção não existe, devendo ser
demonstrada pelo interessado quando ela pretender figurar judicialmente como
consumidora. Nesse sentido, STJ, Resp 701.370 (05.09.05).
- A qualquer momento pode ser levantada a hipótese da não
vulnerabilidade de uma determinada empresa para figurar no processo como
consumidora? É caso de nulidade relativa ou absoluta?
RECURSO ESPECIAL - COMPETÊNCIA - AÇÃO DE
REVISÃO CONTRATUAL - EMPRESA REVENDEDORA DE
VEÍCULOS – DESTINATÁRIA INTERMEDIÁRIA - RELAÇÃO
DE CONSUMO - NÃO CONFIGURAÇÃO - CLÁUSULA
ELETIVA DE FORO - VALIDADE - DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL - SÚMULA 83/STJ.
1 - Conforme orientação adotada por esta Corte, a aquisição de
bens ou a utilização de serviços, por pessoa natural ou jurídica,
com o escopo de implementar ou incrementar a sua atividade
negocial, não se reputa como relação de consumo e, sim,
como uma atividade de consumo intermediária. Por outro lado,
a questão da hipossuficiência da empresa recorrente em
momento algum foi considerada pelas instância ordinárias, não
sendo lídimo cogitar-se a respeito nesta seara recursal, sob
pena de indevida supressão de instância.
2 - Assim sendo, na esteira da jurisprudência deste Tribunal, a
competência fixada pela cláusula de eleição de foro deve ser
observada. Incidência da Súmula 83/STJ 1.
3 - Recurso não conhecido.

C) - Consumidor por equiparação ou bystanders


- É uma forma de ampliação da aplicação do CDC para alcançar
pessoas que não se enquadram na definição do art. 2º da lei.
- São três hipóteses possíveis:
C.1 – Art. 2º, parágrafo único: “Equipara-se a consumidor a coletividade
de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de
consumo”.
Por exemplo, se um cidadão compra um litro de leite e ao chegar em
casa percebe que na verdade não há um litro de leite, mas apenas 900 ml.
Nesse caso, todos os membros da família são considerados consumidores,
mesmo aqueles que não figuraram em um contrato de consumo.
- STJ, Resp. 437.649 (06.02.03) – “a jurisprudência deste tribunal não
faz distinção entre o consumidor que efetua a compra e aquele que apenas vai
ao local sem nada despender. Em ambos os casos, entende-se pelo cabimento
da indenização em decorrência de furto de veículo”.

C.2 – art. 17 “... equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do


evento”.
- Trata da responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço (acidente
de consumo). Nesse caso, qualquer pessoa que tenha sofrido dano poderá
buscar reparação judicial no prazo do art. 27.
- STJ, Resp. 1.281.090 (15.03.12); AResp 1.076.833 (09/10/2017)-
calçada molhada;

C.3 – art. 29: “ (...) equiparam-se aos consumidores todas as pessoas


determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas”.

1
Sumula 83 - não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do tribunal se
firmou no mesmo sentido da decisão recorrida.
- Esse dispositivo pode ser usado como mecanismo para coibir o
exercício abusivo do poder econômico.
- Para fins didáticos, Felipe Braga Netto assevera uma distinção entre os
três tipos de consumidores por equiparação:
(...) poderíamos ensaiar uma distinção entre as três
figuras do consumidor por equiparação previstas no CDC.
A primeira delas, prevista no art. 2º teria aplicação
genérica a qualquer tipo de relação de consumo. A
segunda, consagrada no art. 17, guardaria relação com os
art. 12 à 14. A terceira, do art. 29, estaria limitada ao
capítulo V do CDC, práticas comerciais.

OBS: a previsão legal redundante da figura do consumidor por equiparação


existe como artifício contra veto presidencial no processo legislativo de
aprovação do CDC.

D) Fornecedor
- O CDC é bastante abrangente quanto ao conceito de fornecedor:

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública


ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação,
importação, exportação, distribuição ou comercialização
de produtos ou prestação de serviços.

- Inclui qualquer pessoa, física ou jurídica, inclusive entes


despersonalizados.
- Não é preciso que a pessoa jurídica estrangeira tenha sede no Brasil
para ser considerada fornecedor:
Fornecedor real Fabricante
Fornecedores presumidos comerciante ou importador.

- Importante ressaltar a habitualidade


- STJ, AgRg no Ag 1.215.680 (10.03.08): “entidade sem fins lucrativos,
de caráter beneficente e filantrópico, pode ser considerada fornecedora de
serviços, à luz do CDC, se desempenha atividade no mercado de consumo
mediante remuneração.

OBS: os profissionais liberais são considerados fornecedores?


- conceito: aquele que exerce com autonomia, sua tarefa, sem
subordinação técnica a outrem. Não é preciso que a profissão seja
regulamentada, apenas que haja habitualidade no ofício, habilitação técnica e
independência. Tem a característica de ser intuito personae.
- Possui responsabilidade subjetiva, segundo o art. 14, 4º:

§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será


apurada mediante a verificação de culpa.

- STJ, Resp. 731.078 (13.08.06): “o fato de existir comprovação de culpa


para poder responsabilizar o profissional liberal pelos serviços prestados de
forma inadequada, não é motivo suficiente para afastar a regra da prescrição
do artigo 27 (...)”
- Resp. 731.078 de 13.02.06
- Serviço médico, prestado individualmente será regulado pelo CD,
caracterizando, assim, uma relação de consumo. (Resp. 80.276 – 12.02.96).
- Contudo, a relação entre advogado e cliente não incide o CDC. Assim,
decidiu o STJ no Resp 532.377 (21.08.03) ou Resp. 1.123.422 (15.08.11)
- Conclusão: aos profissionais liberais se aplica o CDC, são
considerados fornecedores. Porém quanto a responsabilidade pessoal só será
apurada mediante culpa.
Exceção: relação entre advogados liberais e clientes.

1.2 - O objeto desta relação


- Produtos ou serviços.
O artigo 3º define o objeto da relação consumerista nos seus parágrafos,
vejamos:
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou
imaterial.
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de
consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza
bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as
decorrentes das relações de caráter trabalhista.

- Empresas de factoring NÃO são instituições financeiras, e a relação de


consumo existe apenas em caso de uma das partes poder ser considerada
destinatária final do produto. (STJ, Resp. 938.823, 23.08.10).
- O CDC não incide nas relações travadas entre estudantes e programa
de financiamento estudantil, por não configurar serviço bancário e se tratar de
política governamental de fomento à educação. (STJ, Resp. 1.155.684,
18.05.10).

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