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Social Psychology: Understanding Human Interaction – R. Baron e D.

Byrne (1994) 1

NONVERBAL COMMUNICATION: THE UNSPOKEN LANGUAGE

Em muitos casos, o comportamento social é fortemente afectado por causas ou factores


temporários, tais como, mudança de humor, emoções instáveis, fadiga, doença, consumo de
drogas. Assim, por exemplo, a maioria das pessoas está mais disposta a prestar favores aos
outros quando se sente bem-disposta, do que quando maldisposta (George, 1991; Isen, 1987).
Da mesma forma, muitas pessoas “perdem a cabeça” e “passam-se” com os outros mais
facilmente quando se sentem irritáveis do que quando se sentem relaxadas.
Como conhecer estes factores temporários? Como saber se uma pessoa está bem ou mal
disposta, se sente raiva, alegria ou pena; ou ainda como saber se ela não estará sob o efeito de
alguma droga que lhe afecte as capacidades de julgamento?
Uma resposta é óbvia: perguntar directamente à pessoa. Infelizmente, esta estratégia falha
porque as pessoas não estão na disposição de revelar os seus sentimentos mais íntimos e as
suas reacções aos outros. De facto, elas podem inclusivamente esconder ou dar aos outros a
ideia errada sobre as suas emoções (DePaulo, 1992). As razões para o fazerem são várias, por
exemplo, uma vendedora que revele, a potenciais compradores, a sua aversão aos produtos
que vendem, será provavelmente despedida.
Em situações nas quais se tente camuflar os verdadeiros sentimentos, não é necessário
entrar em desespero. Pelo contrário, podemos obter informação acerca dos sentimentos e das
reacções se prestarmos muita atenção aos comportamentos não-verbais – mudanças na
expressão facial, contacto visual, postura, movimentos corporais, entre outros. Como DePaulo
(1992) salientou, o comportamento não-verbal é relativamente irreprimível – difícil de
controlar, portanto mesmo quando as pessoas tentam encobrir os seus sentimentos, estes
acabam por se conhecer através de pistas não-verbais. Assim, podemos dizer que os
comportamentos não verbais constituem uma silenciosa mas eloquente linguagem.
Os significados latentes no comportamento não-verbal e o nosso esforço em os interpretar
designa-se por comunicação não-verbal.
A comunicação não verbal é muito complexa e tem sido estudada sob várias perspectivas.
Neste artigo, Baron e Byrne vão focar duas questões: quais os canais básicos nos quais
acontece a comunicação não-verbal e qual o papel da comunicação não-verbal na percepção
social e na subsequente interacção social.

1. NONVERBAL COMMUNICATION:THE BASIC CHANNELS


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As pessoas agem de várias maneiras quando experienciam estados emocionais fortemente


contrastantes. Em que é que essas várias formas de agir diferem? Que aspectos do
comportamento revelam as diferentes reacções e sentimentos? Esta é a questão mais básica da
comunicação não-verbal que tem sido estudada por investigadores, durante várias décadas.
As conclusões de tais pesquisas identificaram os canais básicos da comunicação não-verbal –
aspectos do comportamento que transmitem informação-chave sobre os estados emocionais e
afectivos – que envolvem expressões faciais, contacto visual, movimentos corporais e
postura, o toque.

1.1. UNMASKING THE FACE: FACIAL EXPRESSIONS AS CLUES TO OTHER’S


EMOTIONS
O romano Cícero, há mais de duzentos mil anos, disse: -“A face é a imagem da alma”.
actualmente, os investigadores consideram válida a sua frase, porquanto significa que os
sentimentos e emoções ao se reflectirem na face, podem ser lidos por meio de expressões
específicas. Desde tenra idade que existem, pelo menos, 6 emoções básicas representadas pela
face: raiva, medo, tristeza, desagrado, felicidade e surpresa (Ekman, in press; Izard, 1991).
Cada uma destas emoções faciais variam em intensidade e em combinações (e.g. surpresa
juntamente com felicidade).
Será que as expressões faciais reflectirão, realmente, as emoções subjacentes? Afinal, a
maioria das pessoas aprendem a regular as suas expressões faciais, para que sorriam, franzam
as sobrancelhas ou mostrem surpresa apenas em situações consideradas pela sua cultura como
apropriadas (DePaulo, 1992).
Que provas empíricas existem para admitir que as expressões faciais são guias das
emoções?
Existem várias linhas de investigação dirigidas a este assunto mas, duas parecem ser as
mais relevantes:
A) (e.g. Cacioppo et al., 1988) Os sujeitos falaram de experiências que lhes provocaram
diferentes emoções. Estas emoções assumiram expressões faciais, que foram medidas pela
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a actividade eléctrica dos músculos Em seguida, os sujeitos relataram o que pensaram,


sentiram ou imaginaram ao assistir o vídeo com as suas próprias expressões faciais. Estes
relatos sobre sentimentos ao se relacionarem com os registos de actividade eléctrica dos
músculos faciais, revelaram padrões: determinados músculos mostraram máxima
actividade eléctrica quando os sujeitos sentiam tristeza, enquanto que quando sentiam
felicidade eram outros músculos a apresentar máxima carga eléctrica.
Conclui-se, portanto, que as experiências emocionais relacionam-se com expressões
faciais.
b) (e.g. Levenson, Ekman, & Friesen, 1990; Levenson et al., 1992) Os sujeitos moveram
várias partes das suas caras para que produzissem configurações semelhantes às expressões
faciais sem, no entanto, terem sentimentos. Apenas era pretendido que movessem partes da
sua cara. Por exemplo, foi-lhes pedido que enrugassem o nariz deixando a boca aberta
(expressão que lembra desaprovação). Enquanto os sujeitos moviam os seus músculos
faciais, eram gravadas reacções fisiológicas, tais como, batimento cardíaco, respiração,
temperatura das mãos e condutibilidade da pele. Por fim, os sujeitos descreverem os seus
pensamentos, memórias e emoções que tinham experienciado enquanto executavam os
movimentos faciais. Os resultados indicam que diferentes expressões faciais se associam a
mudanças fisiológicas. Por exemplo, a expressão facial de medo associa-se a elevada
frequência cardíaca e intervalos respiratórios curtos, enquanto que expressão facial de
felicidade se associa a baixa frequência cardíaca e a intervalos respiratórios mais longos.
Além disto, quanto mais as expressões faciais se pareciam com as emoções a que se
associavam, mais os sujeitos descreviam sentir essas mesma emoções.

Em conclusão, parece que há ligação entre experiências emocionais e certos aspectos das
expressões faciais. Quando os indivíduos experimentam várias emoções, a actividade
eléctrica em músculos faciais específicos aumenta, e quando os movem de acordo com os
padrões das expressões faciais, revelam alterações fisiológicas e descrevem experimentar
as emoções em questão. De acordo com DePaulo (1992, p.205), “a cara veste as emoções”.

1.2. GAZES AND STARES: THE LANGUAGE OF THE EYES


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Se já conversou com alguém que está a usar óculos de sol, sabe o quanto desconfortável
esta situação pode ser. Uma vez que não se podem ver os olhos da outra pessoa, fica-se na
dúvida sobre o modo como aquela reage. Já anciões poetas, notando a importância das pistas
fornecidas pelos olhos, consideraram-nos como “ espelhos da alma”. Sem dúvida que se
aprende muito acerca dos sentimentos dos outros através do seus olhos! Por exemplo, quando
alguém fixa o olhar em nós (to gaze) consideramos que a pessoa está agradada com o que vê
(Kleinke, 1986). Em contraste, se alguém evita o contacto visual connosco, concluímos que
essa pessoa é antipática, não gosta de nós, ou que é simplesmente tímida.
Todavia, há uma excepção há regra de que o alto nível de contacto visual seja sinal de
agrado ou de sentimentos positivos. Se uma pessoa fixa o olhar continuamente em nós,
mantendo esse contacto visual à medida que agimos (to stare), interpretamos isso como sinal
de zanga ou hostilidade, e podemos até terminar a interacção social que estejamos a ter ela ou
sair de cena (Greenbaum & Rosenfield, 1978).

1.3. BODY LANGUAGE: GESTURES, POSTURE AND MOVEMENTS


Os nossos gestos, posturas e movimentos do corpo variam consoante as emoções: basta
pensar numa situação de tristeza e noutra de raiva, com certeza que nelas assumimos
diferentes comportamentos não-verbais, designados por linguagem corporal.
A linguagem corporal também revela muito do que nos vai na alma! Muitos dos nossos
movimentos – especialmente aqueles em que uma parte do corpo faz alguma coisa a outra
parte do corpo (e.g. tocar, arranhar, esfregar)- sugerem estimulação emocional. Quanto maior
a frequência de tal comportamento, maior o nível de excitabilidade do sistema nervoso
(Harrigan, 1985; Knapp, 1978).
Efectuar determinados movimentos poderá ser igualmente revelador. Num estudo
realizado por Harrigan e seus colegas (Harrigan et al., 1991), os sujeitos visionaram vídeos
nos quais uma pessoa entrevistava outra. As várias pessoas entrevistadas individualmente
dividiam-se naquelas que não se auto tocavam (self-touching) e nas que exibiam um dos
seguintes comportamentos: uma mão a tocar na outra, tocar no nariz, ter uma mão a tocar o
braço. Os sujeitos pontuaram os entrevistados de acordo com várias dimensões e os resultados
indicaram que os movimentos da mão afectaram essas pontuações. Assim os entrevistados
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foram considerados como: os mais calmos, quando não se auto tocavam; menos calmos,
quando tocavam no nariz ou na outra mão; os menos calmos, quando tocavam no braço. Os
entrevistados avaliados como mais expressivos foram os que tocavam o nariz e os menos
expressivos os que não apresentaram nenhum movimento (situação controlo). Portanto,
poder-se-á concluir que não é só o número total de movimentos que fornece informação sobre
os sentimentos ou traços dos outros mas, também o seu padrão e a sua natureza.
Os movimentos que envolvem todo o corpo também são muito informativos. Frases
como “ele adoptou uma postura ameaçadora” ou “ela recebeu-o de braços abertos” indicam
que diferentes orientações corporais ou posturas mostram duas reacções emocionais
contrastantes. Aronoff, Woike e Hyman (1992) estudaram os efeitos que a postura ou o
movimento têm na percepção social utilizando um método engenhoso. Primeiro identificaram
personagens, no ballet clássico, conhecidas pelos seus papéis ou ameaçadores (Macbeth) ou
simpáticos e calorosos (Romeu e Julieta). Depois analisaram em excertos desses ballets a
quantidade de poses diagonais, angulares vs. redondas, a percentagem de tempo que os
bailarinos apresentavam braços em posições redondas vs. angulares e a percentagem de tempo
gasta em movimentos redondos vs. angulares. Os resultados confirmaram a existência de
diferentes posturas e movimentos mediante o tipo de personagem representada (calorosa vs.
ameaçadora). As personagens ameaçadoras utilizaram 3 vezes mais posições diagonais, do
que as personagens calorosas, estas que mostraram 4 vezes mais posturas redondas.
Por fim, há a considerar os gestos que também nos fornecem informação específica
acerca dos sentimentos dos outros. Das várias categorias de gestos, talvez a mais importante
seja a dos gestos simbólicos ou emblemáticos (emblems) – movimentos com significação
específica em dada cultura. Por exemplo, em algumas culturas levantar a mão com o dedo
polegar esticado para cima é um sinal de “okay”. Embora os gestos simbólicos variem
grandemente de cultura para cultura, há em cada sociedade humana sinais para descrever
vários tipos de estado físicos, insultos, saudações e despedidas / partidas.
Outra categoria de gestos importante na comunicação não-verbal é a dos gestos da mão
que se fazem durante uma conversa. Tais gestos são utilizados para enfatizar ou clarificar e
ocorrem frequentemente durante uma conversa face-a-face. Segundo estes efectuados, os
gestos realizados com as mãos ajudam, ainda que em pequeno grau, a compreender as
mensagens faladas (Graham & Argyle, 1975; Krauss, Morrel-Samuels & Colasante, 1991).
Até o modo de andar (gait) pode servir de importante fonte de informação não-verbal
acerca dos outros. Uma investigação levada a cabo por Montepare e Zebrowitz-McArthur
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(1988) indica que o modo de andar altera-se com a idade: pessoas jovens balançam mais as
ancas, dobram mais os joelhos, mexem mais as articulações e são mais vigorosos que as
pessoas mais velhas. Assim, o modo de andar é uma pista não-verbal para a idade da pessoa.
Além disso, consideramos melhores em vários aspectos – incluindo na felicidade e no poder -
as pessoas com um andar mais jovial.

1.4. TOUCHING: THE MOST INTIMATE NONVERBAL CUE


O tocar em alguém durante uma conversa veicula determinado tipo informação,
dependendo de quem toca (se uma amigo ou um estranho; se do sexo feminino ou masculino),
da natureza do contacto físico (se rápido ou prolongado; se gentil ou agressivo) e do contexto
em que ocorre (se num contexto social ou profissional; se num consultório médico).
Dependendo destes factores, o toque pode sugerir afeição, interesse sexual, dominância,
carinho ou até agressão.
Apesar destas complexidades, há um crescente corpo teórico de evidências que indica
que quando uma pessoa toca outra num modo considerado aceitável no contexto corrente,
geralmente acontecem reacções positivas (Alagna, Whitcher &Fisher, 1979; Gier & Willis,
1982). Este facto foi claramente ilustrado pelos investigadores Crusco e Wetzel em 1984:
pediram a uma empregada de mesa que trabalhava em dois restaurantes, que desse o troco aos
clientes de três formas diferentes – não tocava nos clientes, tocava-lhes por breves momentos
na mão ou tocava-lhes longamente no ombro. Os investigadores mediram os efeitos destes
tratamentos diferenciais através da quantia de gorjeta deixava à empregada. Os resultados
foram claros: a gorjeta foi maior no toque rápido na mão (meio segundo) e no toque longo no
ombro ( um minuto e meio), do que na situação controlo de nenhum toque.
Em adição, outros estudos revelam que ser tocado de modo inócuo e não ameaçador
gera reacções não negativas mas, positivas. Note-se que o tocar nem sempre tem que produzir
tais efeitos – se o toque for percepcionado como uma demonstração de status ou de poder, ou
se demasiadamente prolongado ou muito íntimo num contexto em que tal intimidade não é
permitida, o tocar pode provocar ansiedade, raiva ou outras reacções negativas.
Gender differences in touching: Who touches whom, and when? O toque é afectado
fortemente pelo contexto social e pelas regras culturais que ditam quando e quem pode tocar.
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Todavia há um outro aspecto que merece atenção – as diferenças sexuais no toque. De acordo
com Henley (1973) num espaço público o sexo masculino toca mais o feminino do que vice-
versa. Todavia, pesquisas mais recentes (e.g. Stier & Hall, 1984) sugerem que a relação entre
o género sexual e o toque é mais complexa do que isto. Em saudações e despedidas, as
diferenças sexuais no toque não ocorrem (Major, Schmidlin & Williams, 1990) e a idade
parece ser um factor decisivo sobre quem é que toca em quem.
Até agora [note-se 1994] o estudo que mais elucidativo foi sobre os efeitos da idade no
toque foi o de Hall e Veccia (1991). Estes investigadores observaram e gravaram os toques de
centenas de pessoas em grandes espaços públicos - em centros comerciais, filas de compra do
bilhete do cinema, em salas de hotéis e em aeroportos- bem como as idades destas pessoas.
Segundo as suas conclusões, em todas as idades (desde a adolescência até à meia-idade) os
homens põem o braço em volta das mulheres, ao passo que estas juntam os seus braços aos
deles. Relativamente à frequência de toque não houve diferenças entre homens e mulheres
mas, o mesmo não se pode dizer quanto à idade. Entre jovens casais, os homens tocam muitas
mais vezes as mulheres todavia, em casais mais velhos esta disparidade não se observa, sendo
elas quem mais toca nos homens.
Qual o motivo para esta reversão da situação com o avanço da idade? Uma
possibilidade mencionada por Hall e Veccia (1991) é que entre pessoas mais novas
(especialmente entre adolescentes) as relações não estejam bem estabelecidas, de tal forma
que os papéis sexuais encorajem nos sexo masculino gestos visíveis de possessividade. O
contrário acontecerá, à medida que as relações se desenvolvam, e serão os papéis sexuais
femininos a requerer uma maior demonstração de possessividade.

NONVERBAL BEHAVIOUR AND SOCIAL INTERACTION:


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SELF-PRESENTATION AND THE DETECTION OF DECEPTION

As pistas não verbais, ao serem uma importante fonte de informação acerca dos outros,
possuem um papel em diversas formas de interacção social. Um dos seus mais importantes
papéis neste processo é a auto-imagem (self-presentation) (Schlenker & Weigold, 1989). A
auto-imagem envolve um efeito de regulação do comportamento próprio no sentido de criar
uma particular impressão (geralmente favorável) nos outros (Jones & Pittman, 1982). Num
processo semelhante – gestão das impressões (impression management)-, as pessoas usam
várias tácticas para se “pintarem” favoravelmente em situações sociais. Como fez notar
DePaulo (1992), uma das tácticas de auto-imagem é a utilização de pistas não-verbais:
a) mostrar surpresa quando, na realidade, já se conhece a surpresa;
b) sorrir ou dar a imagem de que se gosta de uma pessoa quando, de facto, a se odeia;
c) refrear o riso quando alguém cai ou faz uma outra figura patética
Nestas ou noutras situações tenta-se gerir as expressões faciais, o contacto visual, os
movimentos corporais e outras pistas não-verbais para que se crie a impressão desejada.
Obviamente que existem grandes diferenças nos recursos utilizados, por cada indivíduo, para
alcançar aquele objectivo: pessoas atractivas tendem a ser melhores do que as não atractivas
(DePaulo et al., 1988); as mulheres são geralmente mais eficazes do que os homens (Hall,
1984) embora, à medida que se envelhece, se melhore essa eficácia (Saarni, 1988).
Em adição, existem certas características pessoais que também desempenham um papel
na auto-imagem não verbal, nomeadamente, a expressividade – tendência para mostrar fortes
e claras pistas não-verbais- que faz com que as pessoas altamente expressivas sejam melhores
a criar uma auto-imagem, do que aquelas que demonstram baixa expressividade (e.g.Tucker
& Riggio, 1988).
Outro aspecto em que as pistas não-verbais têm um papel importante é a detecção do
logro (detection of deception) – esforços em determinar se os outros estão a ser verdadeiros
ou se estão a mentir. Muitas pistas não-verbais possibilitam reconhecer o logro, o engano,
quando ele ocorre com, pelo menos, moderada eficácia (e.g. DePaulo, 1992; DePaulo, Stone
& Lassiter, 1985; Ekman, 1985). Para este efeito existem variadas pistas não-verbais –
microexpressões, discrepâncias inter-canais, correcções nas frases e aspectos do contacto
visual.
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As microexpressões são expressões faciais fugazes que apenas duram décimos de


segundo. Tais reacções surgem na face muito rapidamente após um acontecimento
emocionante e são difíceis de suprimir (Ekman, 1985). Consequentemente, podem ser
bastante reveladoras dos sentimentos e das emoções que outros experienciam.
As discrepâncias inter-canais (e.g. DePaulo et. al., 1985) são inconsistências entre
pistas não-verbais emitidas por diferentes canais básicos, resultantes da dificuldade, que se
sente quando se está a mentir, em controlar todos os aspectos do comportamento não-verbal.
Por exemplo, um negociante que esteja a mentir a um oponente pode ser bem sucedido em
manter uma expressão de honestidade e pode também conseguir preservar uma alto nível de
contacto visual. Todavia, poderá simultaneamente trocar de posturas ou executar movimentos
corporais que alertem o oponente de que algo se está a passar.
Mudanças no discurso verbal, tais como elevação da voz (Zuckerman, DePaulo &
Rosenthal, 1981), menos fluência, discurso mais lento e correcções de frases - momentos em
que os sujeitos iniciam a frase, interrompem-na e reiniciam de novo- detectam que o sujeito
está a mentir.
A logro é também revelado por vários aspectos do contacto visual: os enganadores
pestanejam mais e dilatam mais as pupilas, e ou têm, paradoxalmente, um baixo nível de
contacto visual ou têm um alto nível de contacto visual – para fingir honestidade olham os
outros nos olhos (Kleinke, 1986).
Claro que esta nossa capacidade está longe de ser perfeita pois, indivíduos hábeis na
mentira conseguem enganar-nos. Todavia, ao atentarmos sobre todas as pistas não-verbais,
dificultamo-lhes a tarefa de mentir.
Como dito anteriormente, as pessoas tentam regular o seu comportamento não-verbal
por outras razões que não a de mentir. Mas como é que elas procuram realizar essa regulação
e que traços, ou características, são úteis na concretização dessa regulação?
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2. SHOWING LESS THAN WE REALLY FEEL:


SELF-MONITORING AND THE SUPPRESSION OF GLOATING IN PUBLIC

Existem muitas situações nas quais se tenta controlar ou gerir as expressões faciais mas,
outras pistas não-verbais, não para enganar os outros mas, porque existem “regras de estar”
(display rules) culturais que indicam que é inapropriado demonstrar determinada emoção em
público. Por exemplo, não é suposto que os atletas vencedores mostrarem satisfação triunfante
sobre os seus adversários, enquanto que os perdedores devem mostrar-se sorridentes e
graciosos, e não inveja. As crianças não devem sorrir quando estão a ser castigadas; um
médico legista não deverá mostrar horror ao examinar os seus cadáveres, etc. (DePaulo,
1992).
O facto de quase todas as pessoas tentarem regular o seu comportamento não-verbal em
certas situações, todavia, não implica que todas sejam bem sucedidas. Pelo contrário, segundo
Friedman e Miller-Herringer (1991), existem traços pessoais que contribuem para a eficácia
da auto-regulação.
Primeiramente estes investigadores analisaram a auto-monitorização (self-monitoring)
(Snyder, 1987) - grupo de características intimamente relacionadas com a capacidade de
adaptar um comportamento à situação social em ocorrência. Os indivíduos com um alto grau
de auto-monitorização costumam ser designados por camaleões sociais (social chameleons),
dado que conseguem rapidamente ajustar o seu comportamento social às exigências da dada
situação. Em contraste, uma pessoa com baixa auto-monitorização tende a mostrar um alto
grau de consistência: ela é a mesma pessoa em várias situações. Friedman e Miller-Herringer
previam que indivíduos com alto nível de auto-monitorização seriam melhor sucedidos na
camuflagem das suas verdadeiras emoções, em situações nas quais não seriam apropriadas
mostrá-las, do que as pessoas com baixo nível de auto-monitorização.
Para estudar esta hipótese, os investigadores seleccionaram sujeitos com alta e outros
com baixa auto-monitorização, os quais receberam feedback positivo na resolução de um
problema em duas condições experimentais: só vs. social, ou seja, na presença de duas
pessoas (os próprios experimentadores). Em ambos os casos [situação de alta vs. baixa auto-
monitorização] as três pessoas estavam, presumivelmente, a competir entre elas.
Os resultados confirmaram a hipótese de que os sujeitos na condição social, suprimiam
os seus sinais de contentamento, ao passo que na condição só os sinais de felicidade são muito
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mais evidentes. Ademais, a auto-monitorização relacionou-se significativamente com o


sucesso da gestão das expressões faciais: na situação social, os sujeitos com alta-
monitorização mostraram menos sinais de felicidade e fizeram menos gestos vitoriosos, do
que os sujeitos com baixa auto-monitorização. Pelo contrário, aqueles sujeitos torciam a boca
e mordiam o lábio para evitar sorrir e não demonstrar sentirem-se triunfantes.
Estarão os sujeitos com alta-monitorização mais aptos a regular as suas reacções faciais,
do que os outros com baixa auto-monitorização, ou eles apenas se sentem mais motivados
para o fazer? Até ao momento [note-se 1994] nada se pode dizer mas, fica claro que as
pessoas com alto nível de auto-monitorização gerem melhor as suas expressões faciais.

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