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Resumo:
Dado o crescimento de movimentos que valorizam a participação e a gestão social nos
últimos anos, este artigo visa consolidar uma metodologia para a elaboração de projetos
sociais participativos, com base na experiência de trabalho adquirida no Núcleo de
Solidariedade Técnica – SOLTEC/UFRJ. A partir do emprego de assuntos da Engenharia de
Produção, expressos pelo mapeamento de processos entendidos como fundamentais para as
fases de iniciação e planejamento de projetos, busca-se construir um modelo de referência
que se baseie na participação da comunidade como forma de contribuir para um
desenvolvimento local sustentável.
Palavras-chave: Gestão Social, Projetos Sociais Participativos, Roteiro de Elaboração de
Projetos, Mapeamento de Processos.
1. Introdução
O conteúdo deste artigo surgiu a partir da experiência de trabalho no Núcleo de Solidariedade
Técnica da UFRJ – SOLTEC/UFRJ. Iniciado por um grupo de alunos e pelo Professor Sidney
Lianza em 2003, o SOLTEC/UFRJ é um Núcleo Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e
Extensão, oriundo da Escola Politécnica da UFRJ, que atua por meio de atitude solidária,
desenvolvendo competências em políticas públicas para a geração de emprego e renda e
promoção de direitos humanos1. No primeiro ano de sua existência, o grupo procurou
fortalecer sua base conceitual-metodológica. Para tanto, teve foco em ações de ensino e
pesquisa. A partir de 2004, partiu para a extensão e, inserido em problemáticas locais, foi se
aproximando das comunidades e, com elas, diagnosticando entraves e possíveis soluções.
Para dar prosseguimento às ações de maneira mais profissional, formular propostas pleiteando
financiamento com base nos diagnósticos participativos realizados tornou-se essencial.
Nessa pesquisa por financiadores, percebeu-se que o interesse pela área social crescia
fortemente. Esse interesse, apesar de positivo, enfrenta um dilema: - Se por um lado, as
instituições de fomento estão tentando adequar os seus formulários de preenchimento de
projetos usuais para projetos sociais, enfrentando algumas dificuldades com relação a isso; -
Por outro, quem solicita o financiamento ainda não tem experiência no preenchimento deste
tipo de formulário/ solicitação. Para projetos usuais, a complexidade dos formulários é
necessária para dificultar o envio de propostas sem qualidade. Para projetos sociais que
buscam ser participativos, deve-se encontrar uma maneira de se privilegiar a participação da
comunidade desde a sua concepção, sem que se perca a qualidade no planejamento de projeto.
Acostumadas com as particularidades de projetos focados para obtenção de resultados
pontuais, muitas organizações ainda encontram dificuldades para trabalhar com projetos
sociais, que em geral são muito mais difíceis de se mensurar e requerem um plano que torne
suas ações percebidas e apropriadas pela comunidade como garantia de continuidade. Diante
desse problema e do que a bibliografia e o Núcleo entendem como Participação, sugere-se
1
Definição tirada do Relatório da Reunião de Planejamento Estratégico do Núcleo em agosto de 2004.
público teoricamente beneficiário não conseguir levar o projeto adiante. Por isso, conceitos
como participação e gestão social devem estar intrínsecos à equipe do projeto e devem ser
pensados, refletidos, buscados, alcançados e repensados, de maneira a se conseguir soluções
efetivas e sustentáveis para os problemas realmente prioritários.
3. Projetos Sociais Participativos
Projetos que se caracterizam por serem sociais em geral buscam de alguma forma por
desenvolvimento social (numa perspectiva de inclusão social, melhoria das condições de vida
e trabalho e promoção dos direitos humanos) e, talvez por isso, seja tão difícil estabelecer
prazos, metas e custo para eles. Por outro lado, se o caminho que pode levar ao
desenvolvimento não for dividido em esforços temporários, planejados, executados e
controlados, dificilmente ações concretas serão tomadas rumo a esse objetivo maior.
Hoje já se fala muito de projetos sociais, ou seja, de projetos que se propõem a resolver
problemas da sociedade. No entanto, a participação da comunidade em projetos dessa
natureza nem sempre é objetivada e, quando é, nem sempre se consegue a contento. Um
projeto social não resolve um problema para sempre. Para que ele seja de fato resolvido, as
pessoas devem continuar agindo mesmo após o seu encerramento. Nesse momento, não
estarão mais os consultores na comunidade e os moradores deverão garantir a sustentabilidade
das ações. Por isso, é importante valorizar o diálogo, a linguagem comum, a capacitação, o
pensamento coletivo. Um projeto usual muitas vezes requer soluções técnicas e o beneficiário
quer apenas que seja dado um fim no problema, não lhe importando como. Um projeto social,
por sua vez, é como uma dieta: garante o emagrecimento em um determinado prazo, mas,
após o seu fim, se o devido cuidado não for tomado, os quilos extras retornam novamente e se
anula assim todo o esforço inicial.
Por conta disso, é comum que projetos sociais participativos sejam projetos multiplicadores,
ou seja, projetos que ao longo da sua execução geram novas necessidades, objetivos e,
conseqüentemente, geram novos projetos. Daí, ser natural a existência de Programas de
Projetos Sociais, estes sim abrangendo seus projetos.
Um projeto normalmente é concebido a partir de uma visão de oportunidade, seja para
melhorar uma realidade, seja para resolver algum problema. No caso de projetos sociais
participativos, prega-se que toda a concepção, planejamento, execução e avaliação seja feita
com a participação do que o PMBOK chama de stakeholders e que o SOLTEC chama de
atores sociais. Os stakeholders ou os atores sociais são os indivíduos ou organizações que
estarão em algum momento envolvidos no projeto e/ou cujos interesses são afetados pelo seu
desenvolvimento.
Assim sendo, para um projeto social participativo começar a dar certo, é importante um bom
entendimento da necessidade, do objetivo e do contexto por todos os interessados. No
SOLTEC, é comum planejarmos atividades que estimulem a consciência crítica da
comunidade envolvida, de modo que a essência do projeto seja construída de maneira
coletiva, a partir de reuniões de discussão sobre os problemas vividos. No caso particular da
PAPESCA, após uma série de reuniões individuais e com pequenos grupos para
reconhecimento local e de alguma sistematização de dados, organizamos reuniões coletivas
com todos os atores interessados de modo a construir coletivamente uma árvore de problemas
com as pessoas que são de fato afetadas por eles.
Métodos participativos como esse se utilizados desde o momento da concepção do projeto
aumentam as chances de seu sucesso, com as pessoas da comunidade se sentindo também
parte da equipe e não apenas como meros objetos de estudo ou como clientes que esperam um
Conhecer previamente a
Realidade Local
Estudar a Definir
viabilidade metodologia
do projeto de execução
Conhecer
continuamente a
Programar Definir
sistemática de realidade local
prazos e
gastos acompanhamento
e avaliação do
projeto
Enviar o
projeto
5.) Conclusão
“Desenvolvimento não é um processo com cronograma fixo nem com rota
preestabelecida. Seu trajeto é muito mais parecido com o de um veleiro do que com o de um
trem”. (PFEIFFER, 20052).
2
Frase dita por Peter Pfeiffer, professor da Universidade Federal Fluminense e responsável pelo Projeto GTZ de
Gestão Ambiental Urbana, por ocasião do Seminário de Gerenciamento de Projetos para o Terceiro Setor,
realizado no Rio de Janeiro, em novembro de 2005.
PMI RJ - Cartilha didática de Gerenciamento de Projetos para o Terceiro Setor. Distribuída no Seminário de
Gerenciamento de Projetos para o Terceiro Setor. Rio de Janeiro, RJ, novembro de 2005.
SEMINÁRIO DE GERENCIAMENTO DE PROJETOS PARA O TERCEIRO SETOR – Organizado pelo
PMI RJ - Rio de Janeiro, RJ, novembro de 2005.
TENÓRIO, F. “(Re)Visitando o conceito de Gestão Social” – Em: LIANZA,S; ADDOR, F. (org.) Tecnologia e
Desenvolvimento Social e Solidário –– Porto Alegre, RS, Ed. UFRGS, 2005. p.151-171.
TENÓRIO, F. “O Mito da Participação” – Em: Revista de Administração Pública, vol.24, n. 3, maio/julho,
FGV, Rio de Janeiro, RJ, 1990.
Roteiros de Elaboração de Projetos consultados:
Chamada Pública MCT/FINEP/MDS - Empreendimentos Solidários Agroalimentares - 01/2005;
Seleção Pública 2005 Programa Petrobras Fome Zero;
Edital CT-Agro/CT-Hidro/MCT/CNPq nº 019/2005 - Apoio a Projetos de Extensão e Disponibilização de
Tecnologias para Inclusão Social nos Temas "Água e Alimentação Humana e Animal".