Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CURSO 1
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS
MÓDULO 1
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
nalização:
inks com informação na internet
VERSÃO IMPRESSA
2 CURSO 1
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS
O Código de Processo Civil de 2015, como já referido no item anterior, foi o primeiro
gestado em um ambiente completamente democrático (no qual deve prevalecer a vontade da
maioria, após discussão e votação por representantes legitimamente eleitos) e republicano (a
república vem de res – coisa – pública, ou seja, é guiada pela supremacia do interesse público e
a indisponibilidade de utilização de bens ou instituições públicas para a satisfação de interesses
particulares).
1 Art. 1.045. Este Código entra em vigor após decorrido 1 (um) ano da data de sua publicação oficial.
2 Para um estudo mais detido das alterações trazidas pela Lei 13.256/16, recomendamos a leitura de dois
artigos publicados pelo Prof. Oscar Valente Cardoso: As Velhas Novidades do Novo CPC: Mais Mudanças e Retornos
ao Passado com a Lei nº 13.256/16. In: https://jus.com.br/artigos/46535/as-velhas-novidades-do-novo-cpc-mais-
mudancas-e-retornos-ao-passado-com-a-lei-n-13-256-16; e, Mais Novidades do Novo CPC: Os Artigos “Natimortos”
pela Lei nº 13.256/16. In: https://jus.com.br/artigos/46674/mais-novidades-do-novo-cpc-os-artigos-natimortos-pela-
lei-n-13-256-16. Acesso em 21.02.2016.
4 CURSO 1
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS
Uma das implicações foi a de, logo em seu art. 1º, determinar-se que o CPC deverá ser
sempre interpretado à luz dos valores e normas fundamentais que emanam da Constituição
Federal3. Assim, a Constituição Federal transforma-se em um parâmetro mínimo e indispensá-
vel para fins de interpretação e aplicação do novo Direito Processual Civil.
Não há como pensar o processo, portanto, sem antes aplicar o filtro constitucional, pois
não? Mas, o que isto implica? Ora, simplesmente uma mudança paradigmática no comporta-
mento de todos os operadores do direito. Trata-se de uma forma de olhar o novo com os olhos
do novo.
Esta visão (constitucional) permitiu que a doutrina mais moderna rediscuta o próprio con-
ceito de processo. Elio Fazzalari, doutrinador italiano da atualidade, defende que o processo é
uma espécie de procedimento em contraditório4, o que explica a possibilidade de existência
de um processo tramitar fora da jurisdição, como é o caso do processo administrativo e da
arbitragem.
Para Eduardo de Avelar Lamy5 processo contemporâneo é:
Imagine que uma parte junte aos autos novos documentos. Pouco importa se um proce-
dimento previsto no novo CPC é omisso ou não em relação à manifestação da parte contrária:
consoante a garantia constitucional do contraditório, é evidente que qualquer manifestação
3 Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamen-
tais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código.
4 [...] Os processualistas têm sempre dificuldade, por causa da imponência do fenômeno (a trave no próprio
olho...), de definir o “processo” (esquema da disciplina de sua competência) e permanecem ligados, ainda durante
alguns decênios do século passado, ao velho e inadequado clichê pandetístico da “relação jurídica processual”. [...]
Como repetido, o “processo” é um procedimento do qual participam (são habilitados a participar) aqueles em cuja
esfera jurídica o ato final é destinado a desenvolver efeitos: em contraditório, e de modo que o autor do ato não possa
obliterar as suas atividades. [...] Existe, em resumo, o “processo”, quando em uma ou mais fases do iter de formação
de um ato é contemplada a participação não só – e, obviamente – do seu autor, mas também dos destinatários dos
seus efeitos, em contraditório, de modo que eles possam desenvolver atividades que o autor do ato deve determinar,
e cujos resultados ele pode desatender, mas não ignorar. In: FAZZALARI, Elio. Instituições de Direito Processual Civil. 8.
ed. Trad. Elaine Nassif. Campinas: Bookseller, 2006, p. 109-128.
5 LAMY, Eduardo de Avelar; RODRIGUES, Horácio Wanderlei. Curso de Processo Civil: Teoria Geral do Processo.
São Paulo: Conceito Editorial, 2011, p. 188.
5 CURSO 1
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS
Fredie Didier Júnior aduz que, após a evolução do direito processual civil ter ocorrido
em três fases (sincretismo, processualismo e instrumentalismo), passa a ser mais adequado
considerar o momento atual como uma quarta fase da evolução do direito processual: neste
sentido, utiliza-se da expressão neoprocessualismo.11
Ainda, Carlos Alberto Álvaro de Oliveira denomina esta nova fase do direito processual civil
de formalismo-valorativo12, ao destacar a importância dos valores constitucionalmente prote-
gidos na pauta de direitos fundamentais na construção e aplicação do formalismo processual.
É salutar destacar que parcela da doutrina critica a ampliação desmedida dos meios de
interpretação calcado apenas em valores e princípios – assim como a criação de princípios
jurídicos sem uma norma jurídica que lhes dê guarida diante do ordenamento, o que é deno-
minado de pan-principiologismo13 –, ao argumento de potencializar o grau de subjetividade
das decisões judiciais.
Neste sentido, é possível que o julgador, eventualmente, utilize-se da (técnica de) ponde-
ração de valores sem nenhuma definição de critérios claros de julgamento, transformando-a
em um álibi teórico para decidir de acordo com sua vontade pessoal. Ora, isso não é democrá-
tico, tampouco republicano.
Utilizar-se dos princípios constitucionais como instrumentos para a abertura interpreta-
tiva (e não para o fechamento da compreensão) – e aqui o grande risco – pode conduzir ao
que Lenio Streck denomina de solipsismo judicial14. O juiz solipsista acredita que as razões de
decidir estão fundadas em suas experiências interiores e pessoais, sem conseguir estabelecer
uma relação entre seu ser interior e o conhecimento para além de si mesmo.
Para evitar a grande disparidade de interpretações divergentes, a desaguar em um gran-
de número de decisões conflitantes (diante de situações similares) – o que ironicamente vem
sendo apelidado de justiça lotérica15 –, o novo Código trabalha a partir do respeito a um novo
11 DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. Vol. 1. 13. ed. Juspodivm: Salvador, 2011, p. 31-32.
12 OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro. O formalismo-valorativo no confronto com o formalismo excessivo. Revista de
Processo, n. 137. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2006.
13 Com efeito, venho denunciando de há muito um fenômeno que tomou conta da operacionalidade do direito.
Trata-se do pan-principiologismo, verdadeira usina de produção de princípios despidos de normatividade. Há milhares
de dissertações de mestrado e teses de doutorado sustentando que “princípios são normas”. Pois bem. Se isso é
verdadeiro – e, especialmente a partir de Habermas e Dworkin, pode-se dizer que sim, isso é correto – qual é o
sentido normativo, por exemplo, do “princípio” (sic) da confiança no juiz da causa? Ou do princípio “da cooperação
processual”? Ou “da afetividade”? E o que dizer dos “princípios” da “proibição do atalhamento constitucional”, da
“pacificação e reconciliação nacional”, da “rotatividade”, do “deduzido e do dedutível”, da “proibição do desvio de poder
constituinte”, da “parcelaridade”, da “verticalização das coligações partidárias”, da “possibilidade de anulamento” e o
“subprincípio da promoção pessoal”? Já não basta a bolha especulativa dos princípios, espécie de subprime do direito,
agora começa a fábrica de derivados e derivativos. Tem também o famoso “princípio da felicidade” [...] In: STRECK,
Lenio. O pan-principiologismo e o sorriso do lagarto. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2012-mar-22/senso-
incomum-pan-principiologismo-sorriso-lagarto. Acesso em 20.05.2015.
14 STRECK, Lenio. Verdade e Consenso: constituição, hermenêutica e teorias discursivas. 4ª ed. São Paulo: Sarai-
va, 2011, p. 517.
15 “Justiça Lotérica” é uma expressão cunhada pelo jurista Lenio Luiz Streck. In: Justiça lotérica: ativismo judicial
não é bom para a democracia. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2009-mar-15/entrevista-lenio-streck-
procurador-justica-rio-grande-sul. Acesso em 20.05.2015.
7 CURSO 1
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS
16 Para maior aprofundamento desta temática qualidade versus celeridade vide o artigo escrito por Ricardo
Augusto Herzl e Wilson Engelmann intitulado Processualismo tecnocrático versus processualismo tecnológico: da
eficiência quantitativa à efetividade qualitativa no Direito Processual Civil, disponível em http://emporiododireito.
com.br/processualismo-tecnocratico-versus-processualismo-tecnologico-da-eficiencia-quantitativa-e-efetividade-
qualitativa-no-direito-processual-civil-por-ricardo-augusto-herzl-e-wilson-engelmann/. Acesso em 27.05.2015.
17 Art. 976. É cabível a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas quando houver, simul-
taneamente: I - efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de
direito; II - risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica. [...]
18 Art. 979. A instauração e o julgamento do incidente serão sucedidos da mais ampla e específica divulgação e
publicidade, por meio de registro eletrônico no Conselho Nacional de Justiça. § 1º. Os tribunais manterão banco eletrô-
nico de dados atualizados com informações específicas sobre questões de direito submetidas ao incidente, comunican-
do-o imediatamente ao Conselho Nacional de Justiça para inclusão no cadastro. § 2º. Para possibilitar a identificação
dos processos abrangidos pela decisão do incidente, o registro eletrônico das teses jurídicas constantes do cadastro
conterá, no mínimo, os fundamentos determinantes da decisão e os dispositivos normativos a ela relacionados. § 3º.
Aplica-se o disposto neste artigo ao julgamento de recursos repetitivos e da repercussão geral em recurso extraordiná-
rio.
8 CURSO 1
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS
19 Art. 985. Julgado o incidente, a tese jurídica será aplicada: I - a todos os processos individuais ou coletivos que
versem sobre idêntica questão de direito e que tramitem na área de jurisdição do respectivo tribunal, inclusive àqueles
que tramitem nos juizados especiais do respectivo Estado ou região; II - aos casos futuros que versem idêntica questão
de direito e que venham a tramitar no território de competência do tribunal, salvo revisão na forma do art. 986. § 1º.
Não observada a tese adotada no incidente, caberá reclamação. [...]
20 Art. 947. É admissível a assunção de competência quando o julgamento de recurso, de remessa necessária
ou de processo de competência originária envolver relevante questão de direito, com grande repercussão social, sem
repetição em múltiplos processos. § 1º. Ocorrendo a hipótese de assunção de competência, o relator proporá, de ofício
ou a requerimento da parte, do Ministério Público ou da Defensoria Pública, que seja o recurso, a remessa necessária
ou o processo de competência originária julgado pelo órgão colegiado que o regimento indicar. § 2º. O órgão colegiado
julgará o recurso, a remessa necessária ou o processo de competência originária se reconhecer interesse público na as-
sunção de competência. § 3º. O acórdão proferido em assunção de competência vinculará todos os juízes e órgãos fra-
cionários, exceto se houver revisão de tese. § 4º. Aplica-se o disposto neste artigo quando ocorrer relevante questão
de direito a respeito da qual seja conveniente a prevenção ou a composição de divergência entre câmaras ou turmas
do tribunal.
21 Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente. § 1º. Na
forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento interno, os tribunais editarão enunciados de
súmula correspondentes a sua jurisprudência dominante. § 2º. Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem
ater-se às circunstâncias fáticas dos precedentes que motivaram sua criação.
22 Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão: I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concen-
trado de constitucionalidade; II - os enunciados de súmula vinculante; III - os acórdãos em incidente de assunção de
competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetiti-
vos; IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de
Justiça em matéria infraconstitucional; V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vincula-
dos.
23 1º. Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão,
que: [...] VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demons-
trar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.
9 CURSO 1
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS
Todavia, desde já avisamos ao leitor: não se iluda com o discurso de que o novo CPC sem-
pre trará celeridade processual. Isso não é verdadeiro. O que o CPC de 2015 obtém, com a ideia
de incorporação em seu bojo das mais relevantes garantias constitucionais é, acima de tudo,
segurança jurídica e uma grande melhoria na qualidade das decisões judiciais.
Explica-se. De um lado tem-se o fim das demandas de massa a partir de um forte sistema
que pauta pelo respeito aos precedentes jurisprudenciais. Em decorrência, é certa a obtenção
de maior celeridade das demandas que envolvem teses jurídicas. Todavia, em relação aos ou-
tros tipos de demandas – aquelas que envolvem dilação probatória e que, por isso, não podem
ser resolvidas em uma única “tacada” – exigir-se-á maior esforço do sistema de justiça, o que
naturalmente aumentará o tempo de duração desse “tipo” de processo.
Vamos dar alguns exemplos do CPC de 2015 para ilustrar o que afirmamos:
a) a exigência de integridade e coerência das decisões judiciais24: doravante,
o novo CPC exige que todas as decisões judiciais sejam muito bem fundamentadas.
Não existirá mais espaço para decisões genéricas, padronizadas, ou aquelas que me-
ramente utilizam-se de paráfrase à lei ou a enunciado de súmulas, sem adentrar nas
peculiaridades do caso para indicar como deve ser aplicado o direito. Serão nulas deci-
sões do tipo indefiro a tutela porquanto não restam presentes seus requisitos ou com
base no princípio da proporcionalidade entendo que o interesse da sociedade deve
preponderar. Ora, o CPC de 2015 exige mais: de acordo com o caso em análise, quais
fatos (ou a ausência deles) desautorizam a concessão da tutela antecipada? Ainda,
quais são os fatos, os bens jurídicos em sopesamento e as peculiaridades do caso em
concreto que autorizam a ponderação em um determinado sentido? Assim, o ato de
decidir tornou-se mais complexo na medida em que o novo sistema processual buscará
maior qualidade da fundamentação.
24 Art. 489. [...] § 1º. Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença
ou acórdão, que: I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com
a causa ou a questão decidida; II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua
incidência no caso; III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; IV - não enfrentar todos
os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; V - se limitar
a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que
o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou
precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do
entendimento. § 2º. No caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios gerais da ponderação
efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência na norma afastada e as premissas fáticas que fundamen-
tam a conclusão. [...]
10 CURSO 1
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS
A respeito desta nova técnica, muito respeitosamente, já tecemos diversas críticas e re-
comendamos a leitura de um artigo publicado conjuntamente com o professor Lenio Streck28.
Assim, acreditamos que a saída dos embargos infringentes deu lugar a um incidente a propor-
cionar um grande aumento no retardamento do julgamento dos recursos ou, pior, estimular
que o julgador que se posicionou pelo voto vencido mude o seu entendimento em busca de
uma aparente segurança com a unanimidade do julgamento.
A fim de mitigar o ônus do tempo de duração do processo, ainda, o CPC de 2015 inova
acrescentando a tutela da evidência. Trata-se de uma técnica provisória de aceleração do mé-
rito da demanda, sem a necessidade da presença do requisito urgência. Aqui, muito cuidado:
25 Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente
capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus
ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo. [...]
26 Art. 191. De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a prática dos atos processuais,
quando for o caso. § 1º. O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele previstos somente serão modificados
em casos excepcionais, devidamente justificados. [...]
27 Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: [...] VI - dilatar os
prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito de
modo a conferir maior efetividade à tutela do direito; [...] Parágrafo único. A dilação de prazos prevista no inciso VI
somente pode ser determinada antes de encerrado o prazo regular.
28 HERZL, Ricardo A.; STRECK, Lenio. O que é isto – os novos embargos infringentes? Uma mão dá e a outra...
Disponível em: http://www.conjur.com.br/2015-jan-13/isto-novos-embargos-infringentes-mao-outra. Acesso em
28.05.2015.
11 CURSO 1
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS
a tutela da evidência, portanto, é espécie de tutela provisória, ao lado das tutelas de urgência,
portanto.
Para a concessão da tutela da evidência, trabalha-se com a seguinte lógica: um fardo ne-
cessário que todo processo contém é o seu necessário tempo de tramitação. Até os processos
mais céleres exigem um decurso temporal mínimo para o seu tramitar.
Assim, o que a tutela da evidência faz é inverter o ônus do tempo de duração do proces-
so para que este fardo – a demora – seja carregado por aquele que tem a menor probabilidade
de estar com a razão29.
Em conclusão, a razoável duração do processo diz respeito ao tempo necessário para que
se extraia o máximo de qualidade e, consequentemente, uma maior aproximação do papel do
poder judiciário ao ideal de Justiça.
E não se diga, aqui, que o juiz perdeu poderes porque estará engessado pelos tribunais
superiores. Ao contrário, se o novo sistema processual reduz a margem para entendimentos
divergentes no tocante às teses jurídicas, de outro fortalece o papel dos magistrados nas de-
mandas que envolvem dilação probatória, do qual se espera uma atuação muito mais próxima
e atuante, mormente no tocante à integridade e coerência de suas decisões.
5. A boa-fé processual
Um dos princípios que permeou toda a elaboração do novo Código é a boa-fé processual.
Tanto é assim que há previsão expressa para que esta seja levada em conta desde a interpreta-
ção do pedido30 até a interpretação da decisão judicial31.
A principal forma de preservar a boa-fé é combater a litigância de má-fé. Embora as cau-
sas enumeradas para a sua configuração tenham permanecido as mesmas32, o valor da multa
foi majorado (de até 1%) para de 1% a 10% sobre o valor corrigido da causa, condenando os
29 Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo de dano ou
de risco ao resultado útil do processo, quando: I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto pro-
pósito protelatório da parte; II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver
tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante; III - se tratar de pedido reipersecutório
fundado em prova documental adequada do contrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega
do objeto custodiado, sob cominação de multa; IV - a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos
fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável. Parágrafo único.
Nas hipóteses dos incisos II e III, o juiz poderá decidir liminarmente.
30 Art. 322. [...] § 2º A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio da
boa-fé.
31 Art. 489. [...] § 3º A decisão judicial deve ser interpretada a partir da conjugação de todos os seus elementos e
em conformidade com o princípio da boa-fé.
32 Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que: I – deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de
lei ou fato incontroverso; II – alterar a verdade dos fatos; III – usar do processo para conseguir objetivo ilegal; IV – opu-
ser resistência injustificada ao andamento do processo; V – proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato
do processo; VI – provocar incidente manifestamente infundado; VII – interpuser recurso com intuito manifestamente
protelatório.
12 CURSO 1
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS
litigantes de má-fé na proporção dos seus interesses. Quando a causa for de valor inestimável
(não for possível a sua liquidação) ou irrisório, o valor da multa poderá ser fixado em até dez
vezes o valor do salário mínimo33. Eventual condenação em litigância de má-fé reverterá em
benefício da parte contrária, salvo as sanções impostas aos serventuários da justiça34.
Arrolamos outras hipóteses de combate à má-fé processual constantes do novo CPC:
a) Quando o beneficiário da assistência jurídica gratuita simula esta condição para,
de má-fé, furtar-se do pagamento de custas e eventual condenação em despesas pro-
cessuais. Nesta hipótese, será condenado no décuplo da condenação das despesas
processuais35.
Ainda, o CPC de 2015 determina permanecer o dever de pagar as multas processuais
ao beneficiário da gratuidade judiciária36; caso contrário, o beneficiário da gratuidade
poderia faltar livremente com a boa-fé processual, em seus mais variados aspectos e
restaria livre de qualquer sanção.
Mas, se o beneficiário da gratuidade judiciária o é exatamente por não ter con-
dições econômicas de arcar com as despesas processuais, como responderá por tais
sanções? Obviamente, dever de pagar e efetivo pagamento são coisas completamente
diversas.
Neste sentido, vale lembrar que não existe isenção do beneficiário da gratuidade
judiciária em relação às despesas processuais, mas apenas a suspensão da exigibilida-
de da cobrança, que perdurará pelos próximos cinco anos do trânsito em julgado da
decisão37. Se dentro destes cinco anos houver demonstração de condição econômica
suficiente para arcar com as despesas, pode-se dar início à fase de cumprimento da
sentença.
33 Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a pagar multa, que deverá ser supe-
rior a um por cento e inferior a dez por cento do valor corrigido da causa, e a indenizar a parte contrária pelos prejuízos
que esta sofreu, além de honorários advocatícios e de todas as despesas que efetuou. § 1º Quando forem dois ou mais
os litigantes de má-fé, o juiz condenará cada um na proporção de seu respectivo interesse na causa ou solidariamente
aqueles que se coligaram para lesar a parte contrária. § 2º Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa
poderá ser fixada em até dez vezes o valor do salário mínimo. § 3º O valor da indenização será fixado pelo juiz, ou, caso
não seja possível mensurá-la, liquidado por arbitramento ou pelo procedimento comum, nos próprios autos.
34 Art. 96. O valor das sanções impostas ao litigante de má-fé reverterá em benefício da parte contrária, e o valor
das sanções impostas aos serventuários pertencerá ao Estado ou à União.
35 Art. 100. [...] Parágrafo único. Revogado o benefício, a parte arcará com as despesas processuais que tiver
deixado de adiantar e pagará, em caso de má-fé, até o décuplo de seu valor a título de multa, que será revertida em
benefício da Fazenda Pública estadual ou federal e poderá ser inscrita em dívida ativa.
36 Art. 98. [...] § 4º A concessão da gratuidade não afasta o dever de o beneficiário pagar, ao final, as multas pro-
cessuais que lhe sejam impostas.
37 Art. 98. [...] § 3º Vencido o beneficiário, as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição
suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos cinco anos subsequentes ao trânsito em julgado
da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que
justificou a concessão da gratuidade; passado esse prazo, extinguem-se tais obrigações do beneficiário.
13 CURSO 1
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS
d) Na hipótese daquele que propõe ação monitória ou do que contra esta opuser
embargos (defesa) imbuído de má-fé – ou seja, tenha consciência da falsidade ou si-
mulação da prova escrita –, haverá condenação em multa de até 10% sobre o valor da
causa41.
e) Ao que tiver acesso aos autos do processo e inserir observações pessoais entre
as linhas ou à margem de uma peça ou documento processual, além da determinação
de que tais observações sejam riscadas e não levadas em consideração, caberá conde-
nação em multa no valor de meio salário mínimo42.
f) Ao advogado público ou particular que não devolver os autos em até três dias da
intimação judicial para esta finalidade, sem prejuízo da apuração da falta disciplinar,
haverá condenação em meio salário mínimo43.
38 Art. 142. Convencendo-se, pelas circunstâncias da causa, de que autor e réu se serviram do processo para
praticar ato simulado ou conseguir fim vedado por lei, o juiz proferirá decisão que impeça os objetivos das partes,
aplicando, de ofício, as penalidades da litigância de má-fé.
39 Art. 963. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: [...] III – resultar de dolo ou
coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim
de fraudar a lei; [...].
40 Art. 536. [...] § 4º O executado incidirá nas penas de litigância de má-fé quando injustificadamente descumprir
a ordem judicial, sem prejuízo de sua responsabilização por crime de desobediência.
41 Art. 702. [...] § 10. O juiz condenará o autor de ação monitória proposta indevidamente e de má-fé ao paga-
mento, em favor do réu, de multa de até dez por cento sobre o valor da causa. § 11. O juiz condenará o réu que, de
má-fé, opuser embargos à ação monitória ao pagamento de multa de até dez por cento sobre o valor atribuído à causa,
em favor do autor.
42 Art. 202. É vedado lançar nos autos cotas marginais ou interlineares, as quais o juiz mandará riscar, impondo a
quem as escrever multa correspondente à metade do salário mínimo.
43 Art. 234. [...] § 2º Se, intimado, o advogado não devolver os autos no prazo de três dias, perderá o direito à vista
fora de cartório e incorrerá em multa correspondente à metade do salário mínimo.
14 CURSO 1
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS
i) Caso o inventariante não cumprir com suas obrigações legais no processo de in-
ventário47, deverá ser aberto um incidente de remoção e, caso seja removido, deverá
entregar imediatamente ao inventariante substituto todos os bens (e documentos) re-
ferentes ao espólio. Não havendo a entrega imediata por circunstâncias que dependam
de sua vontade, ser-lhe-á aplicada multa de até 3% sobre o valor dos bens inventaria-
dos48, sem prejuízo de eventual indenização.
44 Art. 256. A citação por edital será feita: I – quando desconhecido ou incerto o citando; II – quando ignorado,
incerto ou inacessível o lugar em que se encontrar; III – nos casos expressos em lei. [...].
45 Art. 258. A parte que requerer a citação por edital, alegando dolosamente a ocorrência das circunstâncias au-
torizadoras para sua realização, incorrerá em multa de cinco vezes o salário mínimo.
Parágrafo único. A multa reverterá em benefício do citando.
46 Art. 468. O perito pode ser substituído quando: [...] II – sem motivo legítimo, deixar de cumprir o encargo no
prazo que lhe foi assinado. § 1º No caso previsto no inciso II, o juiz comunicará a ocorrência à corporação profissional
respectiva, podendo, ainda, impor multa ao perito, fixada tendo em vista o valor da causa e o possível prejuízo decor-
rente do atraso no processo.
47 Art. 622. O inventariante será removido de ofício ou a requerimento: I – se não prestar, no prazo legal, as
primeiras ou as últimas declarações; II – se não der ao inventário andamento regular, suscitar dúvidas infundadas ou
praticar atos meramente protelatórios; III – se, por culpa sua, se deteriorarem, forem dilapidados ou sofrerem dano
bens do espólio; IV – se não defender o espólio nas ações em que for citado, deixar de cobrar dívidas ativas ou não
promover as medidas necessárias para evitar o perecimento de direitos; V – se não prestar contas ou as que prestar
não forem julgadas boas; VI – se sonegar, ocultar ou desviar bens do espólio. [...].
48 Art. 625. O inventariante removido entregará imediatamente ao substituto os bens do espólio; deixando de
fazê-lo, será compelido mediante mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse, conforme se tratar de bem
móvel ou imóvel, sem prejuízo da multa a ser fixada pelo juiz em montante não superior a três por cento do valor dos
bens inventariados.
49 Art. 1021. [...] § 4º Quando o agravo interno for declarado manifestamente inadmissível ou improcedente em
votação unânime, o órgão colegiado, em decisão fundamentada, condenará o agravante a pagar ao agravado multa
fixada entre um e cinco por cento do valor da causa atualizado. § 5º A interposição de qualquer outro recurso está
condicionada ao depósito prévio do valor da multa prevista no § 4º, à exceção do beneficiário de gratuidade da justiça
e da Fazenda Pública, que farão o pagamento ao final.
15 CURSO 1
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS
6. A dignidade da Justiça
50 Art. 1026. [...] § 2º Quando manifestamente protelatórios os embargos de declaração, o juiz ou o tribunal, em
decisão fundamentada, condenará o embargante a pagar ao embargado multa não excedente a dois por cento sobre
o valor atualizado da causa. § 3º Na reiteração de embargos de declaração manifestamente protelatórios, a multa será
elevada a até dez por cento sobre o valor atualizado da causa e a interposição de qualquer recurso ficará condicionada
ao depósito prévio do valor da multa, à exceção do beneficiário de gratuidade da justiça e da Fazenda Pública, que a
recolherão ao final.
51 Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de seus procuradores e de todos aque-
les que de qualquer forma participem do processo: [...] IV – cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natu-
reza antecipada ou final, e não criar embaraços a sua efetivação; [...] VI – não praticar inovação ilegal no estado de fato
de bem ou direito litigioso. [...] § 2º A violação ao disposto nos incisos IV e VI constitui ato atentatório à dignidade da
justiça, devendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa de
até vinte por cento do valor da causa, de acordo com a gravidade da conduta. § 3º Não sendo paga no prazo a ser fixado
pelo juiz, a multa prevista no § 2º será inscrita como dívida ativa da União ou do Estado após o trânsito em julgado da
decisão que a fixou, e sua execução observará o procedimento da execução fiscal, revertendo-se ao fundo previsto no
art. 97. § 4º A multa prevista no § 2º poderá ser fixada independentemente da incidência das previstas nos arts. 520, §
1º, e 533. § 5º Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa prevista no § 2º poderá ser fixada em até
dez vezes o valor do salário mínimo. § 6º Aos advogados públicos ou privados e aos membros da Defensoria Pública e
do Ministério Público não se aplica o disposto nos §§ 2º a 5º, devendo eventual responsabilidade disciplinar ser apu-
rada pelo respectivo órgão de classe ou corregedoria, ao qual o juiz oficiará. [...].
52 Art. 775. A cobrança de multa ou de indenizações decorrentes de litigância de má-fé ou de prática de ato aten-
tatório à dignidade da justiça será promovida no próprio processo de execução.
16 CURSO 1
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS
e) Contra aquele que suscitar vício infundado com o objetivo de ensejar a desistên-
cia do arrematante (a multa será de até 20% do valor atualizado do bem arrematado)57.
53 Art. 161. [...] Parágrafo único. O depositário infiel responde civilmente pelos prejuízos causados, sem prejuízo
de sua responsabilidade penal e da imposição de sanção por ato atentatório à dignidade da justiça.
54 Art. 770. O juiz pode, em qualquer momento do processo: [...] II – advertir o executado de que seu procedi-
mento constitui ato atentatório à dignidade da justiça; [...].
55 Art. 774. Considera-se atentatória à dignidade da justiça a conduta comissiva ou omissiva do executado que:
I – frauda a execução; II – se opõe maliciosamente à execução, empregando ardis e meios artificiosos; III – dificulta ou
embaraça a realização da penhora; IV – resiste injustificadamente às ordens judiciais; V – intimado, não indica ao juiz
quais são e onde estão os bens sujeitos à penhora e seus respectivos valores, não exibe prova de sua propriedade e, se
for o caso, certidão negativa de ônus. Parágrafo único. Nos casos previstos neste artigo, o juiz fixará multa ao executado
em montante não superior a vinte por cento do valor atualizado do débito em execução, a qual será revertida em pro-
veito do exequente, exigível na própria execução, sem prejuízo de outras sanções de natureza processual ou material.
56 Art. 334. [...] § 8º O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação é conside-
rado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica
pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado.
57 Art. 903. [...] § 6º Considera-se ato atentatório à dignidade da justiça a suscitação infundada de vício com o ob-
jetivo de ensejar a desistência do arrematante, devendo o suscitante ser condenado, sem prejuízo da responsabilidade
por perdas e danos, ao pagamento de multa, a ser fixada pelo juiz e devida ao exequente, em montante não superior
a vinte por cento do valor atualizado do bem.
58 Art. 918. O juiz rejeitará liminarmente os embargos: [...] III – manifestamente protelatórios. Parágrafo único.
Considera-se conduta atentatória à dignidade da justiça o oferecimento de embargos manifestamente protelatórios.
59 Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: [...] III – prevenir ou
reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça e indeferir postulações meramente protelatórias; [...].
17 CURSO 1
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS
De acordo com o art. 6º do novo CPC, todos os sujeitos do processo passam a ter o dever
de cooperar60 entre si. Ou seja, em tese, as partes devem cooperar com o juiz. Ainda, devem
autor e réu cooperar um com o outro. Eis o problema: como exigir cooperação entre litigantes?
O problema é definir no que consistirá esta tal cooperação e seus limites.
Parcela da doutrina tem criticado este novo instituto ao argumento de que as partes, em
juízo, estão naturalmente em lados contrários, razão por que ninguém poderia ser obrigado a,
por exemplo, apresentar provas contra si mesmo, sob violação da garantia fundamental à am-
pla defesa61. Ademais, mesmo que haja o dever de cooperar uma parte para com a outra, qual
seria a sanção para o seu descumprimento? A lei é silente a este respeito.
Assim, é perfeitamente sustentável que a cooperação processual entre as partes não pas-
se de uma mera declaração de boas intenções, por já restar absorvida pelo dever de lealdade
decorrente da já mencionada boa-fé processual. Do mesmo modo, a cooperação entre as par-
tes e o juiz já estaria subsumida pelo necessário respeito à dignidade da justiça. Portanto, ao
que nos aparenta, muito respeitosamente, sem qualquer utilidade prática o dispositivo em
comento.
60 Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, deci-
são de mérito justa e efetiva.
61 Por todos, vide: [...] Você quer uma decisão justa, efetiva e tempestiva? Então, caro utente, para o fim de
consegui-la deverá cooperar com o juiz e sobretudo com a contraparte, e esperar igual cooperação de ambos. Então
agora as partes deverão cooperar entre si? Parte e contraparte de mãos dadas a fim de alcançarem a pacificação
social... Sem ironias, mas parece que Hobbes foi expungido da “natureza humana”. Freud também. O novo CPC aposta
em Rousseau. No homem bom. Ou seja, com um canetaço, num passe de mágica, desaparece o hiato que as separa
justamente em razão do litígio. [...] (In: Streck, Lenio; Delfino, Lúcio; BARBA, Rafael Giorgio Dalla; LOPES, Ziel Ferreira.
A cooperação processual do novo CPC é incompatível com a Constituição. Disponível em http://www.conjur.com.
br/2014-dez-23/cooperacao-processual-cpc-incompativel-constituicao. Acesso em 23.12.2014.
62 Art. 7º. É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades proces-
suais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo
efetivo contraditório.
18 CURSO 1
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS
63 Art. 357. Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste Capítulo, deverá o juiz, em decisão de saneamento e
de organização do processo: [...] III - definir a distribuição do ônus da prova, observado o art. 373; [...] Art. 373. O ônus
da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; II - ao réu, quanto à existência de fato im-
peditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. § 1º. Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da
causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior
facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o
faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi
atribuído. § 2º. A decisão prevista no § 1º. deste artigo não pode gerar situação em que a desincumbência do encargo
pela parte seja impossível ou excessivamente difícil. [...].
64 Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que esta seja previamente ouvida. Parágrafo único.
O disposto no caput não se aplica: I – à tutela provisória de urgência; II – às hipóteses de tutela da evidência revistas
no art. 309, incisos II e III; III – à decisão prevista no art. 699.
65 Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não
se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de
ofício.
66 Art. 489. [...] § 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença
ou acórdão, que: [...] IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a
conclusão adotada pelo julgador; [...].
67 Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as deci-
sões, sob pena de nulidade. Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente
das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério Público.
19 CURSO 1
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS
O art. 12 do novo CPC determina que tanto juízes quanto tribunais deverão obedecer a or-
dem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão68. Não existe lista cronológica
de processos conclusos para decisões interlocutórias, portanto. Significa dizer: o julgador não
mais poderá escolher quais processos pretende julgar, por mais que busque reduzir a quanti-
dade de processos pendentes para julgamento. E a razão é simples: todos têm direito a uma
resposta do Poder Judiciário com isonomia de tratamento. De acordo com o Professor José
Miguel Medina trata-se do respeito ao princípio da impessoalidade69.
Evidentemente, a depender da matéria (processos criminais, por exemplo), da urgência
e até mesmo das metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça, será possível excep-
cionar a ordem cronológica de conclusão. O rol de exceções é taxativo e consta do § 2º do art.
12 do novo CPC.
A fiscalização ficará a cargo dos advogados e da sociedade, por meio do acesso permanen-
te à consulta pública por meio de uma lista, disponível tanto em cartório como por intermédio
da rede mundial de computadores.
As demais preferências legais deverão ser respeitadas (mandados de segurança, habeas
data, processos de idosos etc.), mas dentre os processos com a mesma preferência deverá tam-
bém ser obedecida a ordem cronológica de conclusão.
E se um advogado peticionar, por exemplo, postulando pela antecipação dos efeitos da
tutela ou requerer a tutela da evidência? Irá para o final da fila? A resposta é negativa, porque o
mero pedido da parte não terá o condão de alterar a ordem de análise do mérito, salvo se hou-
ver a necessidade de se baixar os autos em diligências ou determinar a reabertura da instrução.
68 Art. 12. Os juízes e os tribunais deverão obedecer à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença
ou acórdão. § 1o A lista de processos aptos a julgamento deverá estar permanentemente à disposição para consulta
pública em cartório e na rede mundial de computadores. § 2o Estão excluídos da regra do caput: I - as sentenças profe-
ridas em audiência, homologatórias de acordo ou de improcedência liminar do pedido; II - o julgamento de processos
em bloco para aplicação de tese jurídica firmada em julgamento de casos repetitivos; III - o julgamento de recursos
repetitivos ou de incidente de resolução de demandas repetitivas; IV - as decisões proferidas com base nos arts. 485
e 932; V - o julgamento de embargos de declaração; VI - o julgamento de agravo interno; VII - as preferências legais e
as metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça; VIII - os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que
tenham competência penal; IX - a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão fundamen-
tada. § 3o Após elaboração de lista própria, respeitar-se-á a ordem cronológica das conclusões entre as preferências
legais. § 4o Após a inclusão do processo na lista de que trata o § 1o, o requerimento formulado pela parte não altera
a ordem cronológica para a decisão, exceto quando implicar a reabertura da instrução ou a conversão do julgamento
em diligência. § 5o Decidido o requerimento previsto no § 4o, o processo retornará à mesma posição em que anterior-
mente se encontrava na lista. § 6o Ocupará o primeiro lugar na lista prevista no § 1o ou, conforme o caso, no § 3o, o
processo que: I - tiver sua sentença ou acórdão anulado, salvo quando houver necessidade de realização de diligência
ou de complementação da instrução; II - se enquadrar na hipótese do art. 1.040, inciso II.
69 Foi publicado no sítio do CONJUR – Consultor Jurídico interessante artigo a respeito, intitulado Novo CPC, a
ordem cronológica de julgamentos não é inflexível. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2015-fev-09/processo-
cpc-ordem-cronologica-julgamentos-nao-inflexivel. Acesso em: 28.05.2015.
20 CURSO 1
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS
70 Art. 153. O escrivão ou chefe de secretaria deverá obedecer à ordem cronológica de recebimento para pu-
blicação e efetivação dos pronunciamentos judiciais. § 1º. A lista de processos recebidos deverá ser disponibilizada,
de forma permanente, para consulta pública. § 2º. Estão excluídos da regra do caput: I - os atos urgentes, assim reco-
nhecidos pelo juiz no pronunciamento judicial a ser efetivado; II - as preferências legais. § 3º. Após elaboração de lista
própria, respeitar-se-ão a ordem cronológica de recebimento entre os atos urgentes e as preferências legais. § 4º. A
parte que se considerar preterida na ordem cronológica poderá reclamar, nos próprios autos, ao juiz do processo, que
requisitará informações ao servidor, a serem prestadas no prazo de 2 (dois) dias. § 5º. Constatada a preterição, o juiz
determinará o imediato cumprimento do ato e a instauração de processo administrativo disciplinar contra o servidor.
71 Art. 1.046. Ao entrar em vigor este Código, suas disposições se aplicarão desde logo aos processos pendentes,
ficando revogada a Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973. [...] § 5º. A primeira lista de processos para julgamento em
ordem cronológica observará a antiguidade da distribuição entre os já conclusos na data da entrada em vigor deste
Código.