Performance da Proteção Diferencial mediante

sobreexcitação em Transformadores.

Emilio César Neves Rodrigues

ISA CTEEP – COMPAHIA DE TRANSMISSÃO DE
ENERGIA ELÉTRICA PAULISTA
Departamento de Operação - Jundiaí, SP-Brasil
e-mail: ecrodrigues@cteep.com.br
 RESUMO
• Este trabalho apresenta a performance da Proteção Diferencial de
Transformadores de Potência mediante a ocorrência de um caso real de
sobretensão sistêmica.

• Tem o objetivo de difundir conhecimentos a respeito do comportamento

desta proteção quando os transformadores operam sobreexcitados,
assim com despertar a investigação da causa da atuação da Proteção
Diferencial destes equipamentos quando submetidos em situações
adversas visando disponibilizá-los com a maior rapidez possível.
 RESUMO
• Muitas vezes, os efeitos impostos pelo sistema elétrico em função do
tipo de falta e da configuração do sistema podem provocar
desligamentos indesejáveis e serem considerados pelos especialistas em
Análises de Perturbações como defeito oculto no sistema de proteção.

• As programações das manutenções são baseadas nestas informações, e

um erro de análise pode representar uma busca penosa por um defeito
que não existe, onde nada de anormal será encontrado.

• As liberações desnecessárias dos ativos ocasionam perdas técnicas e

financeiras para a empresa, além das reclamações dos clientes e dos
Agentes Regulamentadores.
 IDENTIFICAÇÃO DA NECESSIDADE DO ESTUDO
• A origem deste trabalho partiu da necessidade de investigação da causa
do desligamento indesejado de Transformadores pela atuação da
Proteção Diferencial para a um curto-circuito monofásico externo,
localizado na Barra de 440 KV.

• A perturbação teve início durante a realização de manobras de

normalização da subestação de 440 kV, após a realização de serviços de
manutenção programada no Reator RE-6, e trecho da barra I de 440 kV.

• Durante a manobra de normalização não houve a retirada do

aterramento móvel da fase Vermelha. Quando do fechamento do
disjuntor 24-6 ocorreu um curto-circuito, envolvendo a fase Vermelha e a
terra.
IDENTIFICAÇÃO DA NECESSIDADE DO ESTUDO

• Configuração do sistema envolvido

IDENTIFICAÇÃO DA NECESSIDADE DO ESTUDO

Oscilografia ilustrando a falta na Barra de 440 kV

 IDENTIFICAÇÃO DA NECESSIDADE DO ESTUDO
• A proteção diferencial de barras da Subestação de 440 kV
encontrava-se bloqueada. Desta forma, a falta foi eliminada
através dos desligamentos automáticos dos terminais remotos
pela atuação correta da zona 2 da proteção de distância, como
retaguarda remota.

• Entretanto, estando a falta ainda alimentada por uma Linha de

Transmissão de 440 kV, ocorreram os desligamentos automáticos
dos Transformadores de 440/138 kV, por atuação da proteção
diferencial, nas fases não envolvidas na falta (fases Branca e Azul),
em cerca de 560 ms, para o curto-circuito monofásico externo,
localizado na Barra de 440 kV.
 IDENTIFICAÇÃO DA NECESSIDADE DO ESTUDO

Configuração no momento do desligamento dos Transformadores.

• Considerando que a atuação correta da Proteção Diferencial

de um transformador é aquela que ocorre para falha dentro
de sua zona de atuação, surgiu então a necessidade da
pesquisa da origem da causa desta atuação.
 PESQUISA DA CAUSA DOS DESLIGAMENTOS INDEVIDOS

• As atuações das proteções diferenciais dos transformadores

ocorreram nas unidades das fases Branca e Azul, não
envolvidas no defeito, devido ao baixo nível de componente
de 5º harmônico existente na corrente diferencial nos
instantes de suas atuações.

• Nestes instantes ocorriam sobretensões elevadas nas fases

sãs em decorrência do Efeito Ferranti, da ordem de 510 kV
fase-terra, cerca de duas vezes da tensão nominal de
operação (440 kV), o que provocou severa sobreexcitação
das unidades das fases sãs.
 PESQUISA DA CAUSA DOS DESLIGAMENTOS INDEVIDOS

Oscilografia ilustrando a sobtretensão no Transformador

 PESQUISA DA CAUSA DOS DESLIGAMENTOS INDEVIDOS

• Conforme pode ser observado

na figura ao lado, retirada do
artigo “Performance Analysys
of traditional and Improved
Transformer Differential
Protective Relays”, o nível de
5º harmônico da corrente de
excitação varia com o valor da
sobretensão, atingindo níveis
inferiores a 15% para
sobretensões acima de 1,6 pu.

Variação do conteúdo harmônico da corrente de excitação

de um Transformador em função da tensão aplicada
 PESQUISA DA CAUSA DOS DESLIGAMENTOS INDEVIDOS

• Como as proteções diferenciais possuem restrição por 5º

harmônico, normalmente ajustadas para níveis de 30% da
fundamental, houve inicialmente o bloqueio de suas
atuações, até que o processo de sobreexcitação dos
transformadores reduzissem os níveis de 5º harmônico para
valores inferiores ao valor ajustado .

• Isto pode ser comprovado pela análise dos oscilogramas,

onde no instante das atuações das proteções os níveis
percentuais de componentes de 5º harmônico em relação a
fundamental presentes na corrente diferencial eram
menores que 11 %, conforme valores medidos nos
oscilogramas das referidas proteções. Desta forma houve a
atuação das proteções, conforme esperado.
 PESQUISA DA CAUSA DOS DESLIGAMENTOS INDEVIDOS

Oscilografia ilustrando as correntes diferenciais do Transformador

(típicas de 5º harmônico).
 PESQUISA DA CAUSA DOS DESLIGAMENTOS INDEVIDOS

Componentes harmônicos na corrente diferencial da fase sã durante o

curto circuito na barra 440 kV, porém antes da abertura de qualquer
linha de 440 kV.O nível de 5º harmônico, de 79,95%, bloqueia a atuação
da Proteção Diferencial.
 PESQUISA DA CAUSA DOS DESLIGAMENTOS INDEVIDOS

Componentes harmônicos na corrente diferencial da fase sã no

momento do trip da proteção diferencial. O nível de 5º harmônico, de
10,86%, não bloqueia a atuação da Proteção Diferencial.
 PESQUISA DA CAUSA DOS DESLIGAMENTOS INDEVIDOS

• Dado que aparentemente a atuação da Proteção Diferencial do

transformador é indesejada, a suportabilidade deste equipamento
quando submetidos à operação com sobretensão deve ser observada.

• A sobreexcitação em Transformadores, decorrente de sobretensão

elevada, produz níveis de fluxo magnético que saturam o núcleo do
Transformador, causa o aquecimento dos mesmos, aumento nas
correntes de excitação, ruído e vibração.

• Uma severa sobreexcitação pode trazer danos ao isolamento

Transformador, caso o mesmo não seja desconectado do sistema, em
função do aquecimento adicional provocado pelo acréscimo das
correntes de Foucalt no próprio núcleo, em partes estruturais e trechos
do enrolamento próximos ao núcleo
 PESQUISA DA CAUSA DOS DESLIGAMENTOS INDEVIDOS

• Para prevenir os danos causados por sobretensões excessivas, os

fabricantes geralmente fornecem as curvas de suportabilidade
tensão x tempo para seus equipamentos, mostrando os limites de
suportabilidade definidos pelo projeto.

• A figura a seguir apresenta a Curva de Suportabilidade do

Transformador de Tensão Nominal de 460 kV eficaz.

• Mostra que Transformador suporta por apenas 50 ms a

sobretensão de 510 kV fase-terra eficaz (720 kV de crista)
verificada na perturbação em foco.
 PESQUISA DA CAUSA DOS DESLIGAMENTOS INDEVIDOS

Curva de Suportabilidade do Transformador de Tensão Nominal de 460 kV eficaz -

Tensão Máxima (kV fase-terra de crista ) x Tempo (s).
 PESQUISA DA CAUSA DOS DESLIGAMENTOS INDEVIDOS

• Normalmente os Transformadores não possuem proteção de

sobretensão, sendo as mesmas localizadas nas Linhas de
Transmissão. Como se trata de proteção de caráter sistêmico, seus
ajustes são definidos pelo Operador Nacional do Sistema – ONS, e
são ajustadas na CTEEP como se segue:

 Sobretensão Temporizada: Lógica “OU” (Va ou Vb ou Vc) - Ajuste de

120% sobre 440 kV, com tempo de 4 s.
 Sobretensão Instantânea: Lógica “E” (Va e Vb e Vc) - Ajuste de 125%
sobre 440 kV.

• Caso a Proteção Diferencial não tivesse desligado os

Transformadores, estes equipamentos provavelmente seriam
severamente danificados, pois a Lógica “E” não foi satisfeita em
razão da tensão na fase defeituosa ser aproximadamente zero.
 PESQUISA DA CAUSA DOS DESLIGAMENTOS INDEVIDOS

• Por outro lado, podemos observar na figura que mostra a variação do

conteúdo harmônico da corrente de excitação de um Transformador em
função da tensão aplicada, que a partir de aproximadamente 120% da
tensão há uma redução na amplitude da componente de quinto
harmônico. Normalmente a restrição para esta componente é ajustada
na Proteção Diferencial em 30%, o que torna esta restrição efetiva até
aproximadamente 140% de sobretensão.

• Fica claro, portanto, caso não ocorra uma sobretensão nas três fases,
existe uma faixa de sobretensão entre 124% e 140%, baseado
respectivamente na Curva de Suportabilidade do Transformador de 460
kV e na restrição de quinto harmônico , onde nem a proteção sistêmica
e nem a Proteção Diferencial irá desligar os equipamentos, ficando os
transformadores estão sujeitos à danos decorrentes da sobreexcitação.
•
 CONCLUSÕES
• A Proteção Diferencial do Transformador não deve atuar em condições de
sobreexcitação, visto que o objetivo da mesma é a atuação para falhas internas ao
Transformador. Entretanto, caso a esta Proteção não tivesse desligado os
Transformadores na perturbação em foco, estes equipamentos provavelmente seriam
severamente danificados.

• Dependendo do tipo de falta, existe uma faixa de sobretensão que deve ficar em
estado de atenção, onde nem a Proteção Diferencial do Transformador e nem a
proteção sistêmica irá desligar os equipamentos, ficando os transformadores então
sujeitos a danos decorrentes da sobreexcitação. Esta faixa é determinada pelo ajuste
da restrição por 5º harmônico na Proteção Diferencial e pela Curva de Suportabilidade
do Transformador.

• Não é aconselhável a redução do nível de restrição por 5º harmônico destas proteções

diferenciais, visando aumentar a segurança para falhas externas, em vista da redução
de sua dependabilidade para falhas internas nos transformadores, com ocorrência de
saturação de TCs, podendo acarretar retardo em suas atuações ou até mesmo o
bloqueio das mesmas.
 REFERÊNCIAS

• [1] “Performance Analyses of Traditional and Improved Transformer Differential

Protective Relays” - Armando Guzmán, Stan Zocholl and Gabriel Benmouyal -
Swhweitzer Engineering Laboratories, Inc, Pullman,WA USA - Hector J.Altuve,
Universidad Autonoma de Nuevo Leon, Monterrey, N.L, México;

• [2] “A Three Phase Differential Relay for Transformer Protection,” C.H.Einval and
J R.Linders - IEEE Transactions PAS, Vol PAS-94, nº 6 , Nov/Dec 1975, pp 1971-1980.