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2008

FINANÇAS p/ BACEN e STN


AULA 02

FINANÇAS p/ BACEN e STN


CATHEDRA COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS
Olá Pessoal.

Estamos nós aqui mais uma vez para tentar entender essa matéria.
Concordo que a sua compreensão não é das mais fáceis, mas vocês
terão que concordar comigo que a matéria é muito interessante.

Se vocês acharam interessantes as duas primeiras aulas, as próximas


duas serão as melhores, mas também as mais complexas. Para poder
entender o que estarei falando, vocês deverão fazer um exercício e, em
primeiro lugar, esquecer tudo, mas tudo mesmo, que vocês sabem de
compra e venda de qualquer bem.

Desde que você nasceu, você aprendeu que para se vender alguma
coisa, você deveria ter o bem, deveria entregá-lo após a venda e
receberia recursos. Ótimo, isso estava correto até este momento da sua
vida. Entretanto, daqui para frente isso não vale mais nada.

Essa verdade que você aprendeu não é uma verdade absoluta e você
deve quebrar toda essa linha de raciocínio e tentar aprender tudo
novamente. Se conseguir esquecer o que sabe de compra e venda, a
matéria, apesar de complexa, será de fácil compreensão. No entanto, se
não for capaz de esquecer tudo isto, não entenderá, absolutamente
nada de operações com derivativos.

Portanto, antes de começar a ler escreva 20 vezes que:

quem vende não precisa ter o produto que está vendendo;

quem vende não precisa entregar o que vendeu;

quem vende não precisa receber, podendo, inclusive, pagar;

quem compra pode não levar o produto adquirido para casa;

quem compra não precisa, necessariamente, pagar.

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Agora, das duas uma, ou você está achando que eu fiquei maluco ou
você começou a entender o ponto principal do negócio. Se está achando
que fiquei maluco, dê um “loop” e volte ao parágrafo anterior,
escrevendo mais 20 vezes e depois retorne para esse ponto. Só passe
para frente se achar que começou a entender o espírito da coisa.

Para a perfeita compreensão da matéria darei vários exemplos,


podendo, inclusive não existir daquela forma no mercado, mas
didaticamente são de fácil compreensão. Posteriormente, direi quais dos
exemplos citados servem apenas para fins didáticos, não sendo
negociados mas representando bem o papel no contrato.

Nessas próximas duas aulas, é importante que você só passe para


frente após ter compreendido exatamente o que está sendo descrito.
Nunca avance sem ter certeza de que entendeu todos os conceitos
envolvidos nas operações.

1. DERIVATIVOS

Derivativos são contratos nos quais uma parte efetua uma compra e a
outra parte efetua uma venda de um determinado ativo, chamado de
ativo-subjacente, para liquidação futura por um preço previamente
fixado.

Existem vários derivativos possíveis, sendo os principais:

a) Contrato a termo;

b) Contrato Futuro;

c) Contrato de Opções; e

d) Swaps.

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Apesar de o edital não explicitar os contratos a termo, a metodologia
deles poderá ser cobrada, dado que os contratos de swaps são contratos
a termo em sua essência.

Inicialmente, vamos dar vários exemplos sem distinguir cada um dos


contratos. Tente entender como as coisas funcionam e, posteriormente,
estarei esclarecendo cada um dos contratos separadamente.

Vou começar com um exemplo simples e que sempre utilizo em sala de


aula. Imaginemos que existam 4 pessoas no mercado, Antônio (Agente
A), Bárbara (Agente B), Cláudio (Agente C) e Daniela (Agente D).

Imaginemos que o Antônio tenha um carro e deseja se desfazer desse


carro. Por outro lado, a Bárbara se interessa na aquisição do carro do
Antônio. Logo, em vias normais, o Antônio definiria o preço do carro, a
Bárbara faria a aquisição do mesmo, pagando por isto, mas recebendo o
carro. Dessa forma, teríamos o Antônio entregando o carro para a
Bárbara e recebendo os recursos pedidos na venda do bem. Vamos
supor que o preço do carro seja R$ 15.000,00. Sendo essa hipótese
verdadeira, o Antônio entrega seu carro para a Bárbara e recebe da
mesma a quantia de R$ 15.000,00.

No entanto, o Antônio deseja vender o carro, mas só aceita entregá-lo


em uma data futura, suponhamos 10 de abril do próximo ano. Dessa
forma, o Antônio firma um contrato com a Bárbara onde ele vende e ela
compra o carro dele, Antônio, pelo preço de R$ 15.000,00 para entrega
no dia 10 de abril de 2009. Veja que não houve pagamento algum,
apenas os dois se comprometeram a comprar ou vender um
determinando produto, por um determinado preço fixado previamente.

Vejamos se a descrição acima se encaixa em um contrato derivativo. A


definição diz que:

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a) contratos nos quais uma parte efetua uma compra – Bárbara
está efetuando a compra;

b) outra parte efetua uma venda – Antônio está efetuando a


venda;

c) de um determinado ativo, chamado de ativo-subjacente – o


carro do Antônio é o ativo-subjacente1;

d) para liquidação futura – a liquidação do contrato feito entre os


agentes A e B ocorrerá em 10 de abril de 2009, portanto, data
futura.

e) por um preço previamente fixado – o preço de ativo-


subjacente foi fixado em R$ 15.000,00.

Com isso, vemos que o contrato de compra e venda assinado pelo


Antônio e pela Bárbara é um contrato derivativo. É um contato no qual
eles combinam uma operação de compra e venda de um determinado
produto para uma data futura determinada por um preço previamente
fixado.

Será que no dia combinado o carro estará custando o valor que eles
combinaram? Será que no dia do vencimento do contrato, esse carro
estará custando os R$ 15.000,00? Não necessariamente. O carro poderá
estar custando R$ 16.000,00 ou R$ 14.000,00, dado que poderá haver
uma variação no preço de qualquer ativo ao longo do tempo. Mesmo
com o carro custando um valor diferente do combinado, os dois agentes
terão a obrigação de comprar/vender o ativo-subjacente pelo preço
previamente acordado, ou seja, R$ 15.000,00.

Entretanto, há um item interessante nesse tipo de contrato. Apesar de


os dois agentes terem a obrigação de comprar/vender o carro, não

1
Ativo-subjacente é o ativo que faz parte do contrato de derivativo, ou seja, é o ativo que está subjacente ao
contrato, como o próprio nome diz. Só existe um contrato derivativo se este contrato derivar de um ativo, por
isto derivativo. E ele tem que derivar de um ativo-subjacente.

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deverá2 haver a entrega do bem, ou mesmo, a mudança de
propriedade.

Imagine que na data combinada, 10 de abril, o carro em questão esteja


valendo R$ 16.000,00. Logo, o Antônio deverá entregar para a Bárbara
o carro e receber R$ 15.000,00. No entanto, o Antônio pode tentar,
depois de entregar, recomprar o carro que vendeu à Bárbara. Dessa
forma, deverá pagar o preço atual do carro, ou seja, R$ 16.000,00.
Sendo assim, o Antônio vendeu o carro por R$ 15.000,00 e acabou
recomprando-o por R$ 16.000,00. Te pergunto: seria necessário que o
Antônio entregasse o carro à Bárbara?

A resposta a essa pergunta é não, definitivamente não. Bastava que o


Antônio desse à Bárbara R$ 1.000,00, pois ao juntar esse valor com os
R$ 15.000,00 que ela já tinha e que havia combinado de pagar pelo
carro, ela passaria a ter condições de comprar um carro pelo preço que
havia combinado3. Portanto, quando eles fizeram um contrato
derivativo, a Bárbara não estava querendo adquirir o carro do Antônio e
sim, ter certeza de que, na data combinada ela teria condições de
comprar o carro por R$ 15.000,00.

Imagine que você decidiu que, após a sua prova, irá passar uma
semana de férias na Europa, para comemorar a nota que tirou em
Finanças. No entanto, você, hoje, tem um grande receio. Você tem
receio de que a taxa de câmbio suba muito e que isso impossibilite a
sua viagem. Dessa forma, você combina que vai comprar US$ 5.000,00
por uma taxa de R$ 2,004 e garante que a sua viagem não lhe custará
mais do que R$ 10.000,00. Agora, fazendo esse tipo de operação, você
deixou de correr o risco de câmbio e, não importa o rumo que a taxa

2
É bastante comum que em contratos derivativos a liquidação ocorra apenas de forma financeira sem que haja
a alteração ou mudança de propriedade do ativo negociado.
3
Observe que mesmo sem comprar o carro do Antônio, o contrato derivativo em questão deu à Bárbara a
condição de comprar um automóvel idêntico ao do Antônio.
4
A cotação do câmbio no final de setembro de 2008 estava variando muito diariamente e girando torno de
1,90, ou seja, R$ 1,90 para cada dólar a ser adquirido.

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venha a tomar, a sua viagem está garantida. Ou seja, fazendo essa
operação com derivativo você garante que conseguirá comprar
US$5.000,00 pelo valor de R$ 10.000,00 e terá condições de fazer a sua
viagem pela Europa.

Portanto, se a taxa de câmbio for para R$ 1,50 quando da sua viagem,


você terá perdido R$ 0,50 com os contratos derivativos, pois você
comprou por R$ 2,00 algo que estará valendo R$ 1,505. No entanto, o
que você deve compreender é que não há interesse em ganhar dinheiro
com operações de derivativos e sim, de gastar o valor de R$ 10.000,00
para fazer a sua viagem. Encare essa operação como um hedge6 para a
viagem, ou seja, como uma operação de proteção contra oscilação da
taxa de câmbio. É claro que se você não tivesse feito um contrato
derivativo de câmbio, gastaria apenas R$ 7.500,00 pela sua viagem,
mas estaria correndo o risco de não conseguir viajar.

De forma análoga, a taxa de câmbio poderia ter ido para R$ 3,00. Se


isso ocorresse sem que você tivesse firmado um contrato derivativo, a
viagem ao invés de custar R$ 10.000,00 ficaria 50% mais cara. Como o
contrato derivativo foi firmado, você receberá R$ 5.000,00 neste
contrato, pois comprou por R$ 2,00 cada dólar que atualmente está
valendo R$ 3,00. Como foram US$ 5.000,00 e você ganhou R$ 1,00 em
cada dólar, deverá receber R$ 5.000,00. Como você tinha R$ 10.000,00
e recebeu mais R$ 5.000,00, terá condições de ir em uma casa de
câmbio e comprar US$ 5.000,00 pelo preço de R$ 3,00 cada dólar.
Dessa forma, a sua viagem foi salva porque você fez um hegde contra a
oscilação de cambo. Caso não tivesse feito dessa forma, provavelmente,
não iria conseguir mais viajar.

5
Deverá efetuar um pagamento de R$ 0,50 x US$ 5.000,00 = R$ 2.500,00 para a pessoa que vendeu a moeda
estrangeira a você por intermédio de um contrato derivativo. Com os R$ 7.500,00 que ainda lhe restam, seria
possível adquirir os US$ 5.000,00.
6
Retorne à aula anterior e releia a operação de hedge, operação de proteção. A palavra hedge quer dizer
proteção.

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O mercado de derivativos foi criado para os hedgers há muitos anos
atrás. No entanto, hoje, eles representam uma parcela bastante
reduzida dos players existentes nesse mercado. Entretanto, é com
exemplos de hedgers que fica mais simples você compreender a
verdadeira intenção e o motivo que levam os agentes a fazer uma
operação deste tipo.

Outra forma, não menos comum de se aprender é pensando que as


pessoas que participam deste mercado estão fazendo apostas. Se
pensar assim, no momento em que o Antônio efetuou a venda de seu
carro por R$ 15.000,00 utilizando-se de um contrato derivativo para
isto, ele estava apostando que na data do vencimento do contrato7 o
carro estaria acima do valor combinado por ele. Se isto ocorresse, ele
teria vendido por R$ 15.000,00 um carro que estava, na data da
entrega, valendo menos do que R$ 15.000,00. Dessa forma, teria obtido
um lucro igual à diferença entre o valor combinado e o valor cotado na
data de vencimento do contrato.

Imagine que a Bárbara não conhece o Antônio e ele não a conhece.


Como eles apenas assinaram um contrato e não houve qualquer fluxo
de caixa na data da assinatura do mesmo, eles começaram a incorrer
em um risco de crédito8 da contraparte. Caso o preço do bem em
questão, na data de vencimento do derivativo, esteja abaixo do preço
combinado, o Antônio (vendedor do ativo subjacente) deverá receber da
Bárbara uma determinada quantia. Caso contrário, ele deverá pagar.

Como eles não se conhecem, é razoável que optem por depositar uma
espécie de “caução” junto a uma pessoa que ambos conhecem e
confiam, como por exemplo, com a Daniela. Dessa forma, ambos, na
data da aquisição do contrato derivativo em questão, efetuam um

7
Data do vencimento do contrato é a data firmada no derivativo para se cotar o ativo-subjacente no mercado e
comparar com o preço previamente acertado.
8
Risco de crédito é o risco de você não receber aquilo que lhe é devido. Mais à frente vamos discutir de
forma pormenorizada cada tipo de risco que os integrantes do mercado financeiro podem incorrer.

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depósito junto à Daniela. Esse depósito serve para, em caso de
inadimplência de uma das partes, saldar a dívida do inadimplente junto
à outra pessoa.

Neste exemplo acima, onde a Daniela segura a “caução” do comprador e


do vendedor do ativo subjacente no contrato derivativo, ela funciona
como a se fosse a Bolsa9. Dado que ela está com a “caução” de cada um
deles, ela passa a ser a responsável pela perfeita e completa liquidação
do contrato, recebendo para fazer esse tipo de serviço.

Como já foi dito anteriormente, a Daniela recebe de ambos os agentes


que integram o contrato derivativo uma espécie de “caução” que tem o
nome de margem de garantia. Logo, é a margem de garantia que irá
cobrir os recursos que porventura venham a faltar em caso de
inadimplência de uma das partes. Caso a margem de garantia seja
insuficiente, a Bolsa deverá quitar o pagamento e depois tentar reaver
os recursos por meios judiciais10.

Espero que até o momento vocês conseguido captar o que é um


contrato derivativo, o que as pessoas estão buscando ao assumir uma
determinada posição nesse tipo de contrato e quais os riscos inerentes
em cada uma das posições assumidas. A partir de agora vamos estudar
cada um dos contratos separadamente.

2. CONTRATO A TERMO

Contratos a termo são contratos nos quais uma parte efetua uma
compra e a outra parte efetua uma venda de um determinado ativo,

9
Na verdade, ela funciona como se fosse a Câmara de Compensação da Bolsa. A Câmara de Compensação é
o departamento ou uma empresa coligada à Bolsa que tem como objetivo fazer a liquidação física e a
liquidação financeira das negociações efetuadas dentro do ambiente de Bolsa.
10
Não podemos nunca esquecer que as Sociedades Corretoras são solidárias com os seus clientes perante a
Bolsa. Logo, o não pagamento de um cliente faz com que a corretora seja responsabilizada por este
pagamento perante a Bolsa.

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chamado de ativo-subjacente, para liquidação futura por um preço
previamente fixado.

Você deve estar se perguntando, mas essa não é a definição de


Derivativos? Sim, e também de contratos a termo e de contratos
futuros.

Portanto, em um contrato a termo duas pessoas assumem uma


determinada obrigação, uma de comprar e a outra de vender,
determinada quantidade de um ativo-subjacente em uma data futura e
por um preço previamente especificado.

As operações de contratos a termo podem ser feitas tanto na Bolsa


quanto no Balcão. Quando forem feitas na Bolsa, o registro é obrigatório
e o depósito de margem de garantia é facultativo. Nas operações de
balcão, o registro é facultativo, sendo obrigatório se alguma instituição
financeira participar do contrato assumindo posição de risco na
operação.

Os contratos a termo de bolsa podem ser feitos tanto na BOVESPA


quanto na BM&F conforme o ativo-subjacente que está sendo negociado.
Se ele for feito no Balcão poderá incorrer em registro tanto na CETIP11
quando na BM&F. Devemos ressaltar que, recentemente, a BM&F criou e
está desenvolvendo um mercado de balcão que funciona dentro da
própria bolsa mas que possui regras um tanto quanto diferentes das
padronizadas.

Os contratos a termo são contratos não padronizados, nos quais as


cláusulas são discutidas pelos agentes que participam dele, sendo

11
A CETIP é uma empresa que efetua o registro de operações feitas no Balcão. Operações, ditas, cetipadas
não possuem garantia e, portanto, não há depósito de margem de garantia. Dessa forma, a CETIP não é, ao
contrário das operações cursadas em bolsa, contraparte central da operações nela registradas.

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moldado de acordo com o interesse de cada um. Exatamente pelo fato
de não serem padronizados, de terem cláusulas que interessam apenas
aos participantes do contrato, é que não possuem liquidez.

Ou seja, como as pessoas que estão interessadas em fazer o contrato o


moldam da forma que melhor lhes convém, as outras pessoas que não
participaram da elaboração do mesmo não sabem exatamente o que
está previsto no contrato.

Logo, se forem adquirir participação naquele contrato deverão fazer uma


leitura minuciosa do mesmo. Esse procedimento é demorado e faz com
que outros agentes além dos originais compradores e vendedores
percam interesse no mesmo. Por isso, quando se assume uma
determinada posição em um contrato derivativo, fica muito difícil
encontrar alguém que negocie este contrato com você, fato que,
provavelmente, o levará a ficar com esse risco até o seu vencimento.

Por exemplo, se o Antônio e a Bárbara assinaram um contrato a termo.


Caso a Bárbara, que é a agente que efetuará a compra, quiser se dispor
do contrato, ela pode. Para isso, deverá encontrar alguém disposto a
comprar dela, para que ela consiga efetuar a venda do contrato. Se
conseguir vender o contrato para o Cláudio, ela (Bárbara) passará a
estar comprada e vendida ao mesmo tempo neste contrato e, portanto,
não terá posição alguma. O Antônio continuará vendendo o contrato e o
Cláudio, a partir desse momento, passará a ser o comprador do
contrato.

No entanto, devemos ressaltar que o contrato foi moldado de acordo


com os interesses da Bárbara e do Antônio, e o terceiro agente, Cláudio,
não conhece nada a respeito das cláusulas desse contrato. Dessa forma,
o Cláudio terá um dispêndio de tempo enorme para conhecer o contrato
e assumir uma posição nele. Sendo assim, é bastante difícil conseguir
algum agente que faça o que o Cláudio fez neste exemplo, ou seja,

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negociar um contrato a termo no meio de sua vigência. Isso nos faz
concluir que o contrato a termo não possui liquidez.

3. CONTRATO FUTURO

Contratos futuros são contratos nos quais uma parte efetua uma compra
e a outra parte efetua uma venda de um determinado ativo, chamado
de ativo-subjacente, para liquidação futura por um preço previamente
fixado.

Mais um contrato que possui a mesma definição. Na verdade, os


contratos futuros são muito parecidos com os contratos a termo, sendo
considerados uma evolução do termo. Ou seja, o contrato futuro é
uma evolução do contrato a termo.

Existem algumas diferenças básicas, mas duas se destacam. A primeira


grande diferença existente entre os dois contratos é a de que enquanto
o contrato a termo é descrito pelos interessados e moldado de acordo
com o interesse de cada um dos participantes, o contrato futuro é um
contrato de adesão, com as cláusulas previamente definidas, sem
nenhum tipo de espaço para se fazer qualquer alteração no mesmo.

O grande benefício de este contrato ser fixo e sem possibilidade de


alteração em qualquer das cláusulas é que isso provoca uma enorme
liquidez no mesmo. Isto ocorre, pois os interessados em fazer um
contrato derivativo de um determinado bem, possuem uma grande
facilidade em encontrar pessoas que estejam dispostas a assumir a
posição inversa à que você deseja. Além disso, no caso de uma das
pessoas desistir de sua posição, poderá ir a mercado e encontrar
qualquer outra pessoa e desfazer sua posição dado que os contratos
futuros possuem a intercambialidade.

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Explicarei novamente com um exemplo. Imagine que o Antônio esteja
vendendo US$ 100.000,00 e a Bárbara comprando. A negociação se deu
com a venda pelo Antônio de 2 contratos futuros de câmbio e a compra
dos mesmo pela Bárbara. O único item que os dois combinaram foi o
preço do câmbio para a data de vencimento do contrato, pois todo o
restante é estabelecido pela Bolsa quando padroniza o contrato.

No entanto, caso a Bárbara em um determinado momento decida sair


da posição de comprada em US$ 100.000,00 basta ir ao mercado futuro
de câmbio e vender dois contratos futuros para qualquer pessoa.
Observe que ela não necessita vender os dois contratos que ela
comprou do Antônio, basta que ela venda dois contratos e efetuando
isto estará anulando os dois que ela comprou. Note também que, apesar
de a compra ter sido feito do Antônio, quando a Bárbara efetuar a venda
não necessitará fazê-la para o Antônio. Essa falta de necessidade de
vender exatamente o contrato que foi adquirido e, sim um contrato que
tenha as mesmas características, é o que chamamos de
intercambialidade dos contratos futuros.

A outra diferença fundamental existente entre os dois contratos refere-


se ao nível de risco assumido. No contrato futuro existe o ajuste diário
que é a liquidação diária do que foi negociado. Vamos a um exemplo.
Imagine que Antônio vendeu US$ 100.000,00 pelo preço de R$2,00
cada dólar, ou seja, efetuou a venda de dois contratos futuros de dólar
com vencimento em 90 dias. Após isso, deverá depositar a margem de
garantia.

Entretanto, suponhamos que no dia seguinte a essa venda, o valor do


dólar, no final do pregão, passou para R$ 2,10. Como Antônio vendeu
por R$ 2,00 a moeda norte-americana e ela já está valendo R$ 2,10, ele
vendeu por um preço inferior ao que está sendo praticado e, portanto,
já está perdendo R$ 0,10 por dólar. Dessa forma, tendo em vista essa
perda inicial, ele será chamado pela corretora a fazer o ajuste diário,

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pagando o valor que foi perdido, ou seja, R$ 0,10 por dólar, o que
totaliza R$ 10.000,00.

No terceiro dia, suponhamos que o dólar abriu o pregão valendo R$ 2,10


e, no fechamento, estava cotado a R$ 2,15. Sendo assim, Antônio teria
perdido mais R$ 0,05 adicionais e, portanto, será chamado a fazer um
ajuste de R$ 5.000,00. Se no dia posterior houver uma queda na
cotação da moeda norte-americana e ela passar para R$ 2,07, Antônio
que apostou na sua redução de preço terá recursos a receber com o
ajuste diário do mercado futuro. Sendo assim, ele receberá R$ 0,08 por
dólar, totalizando R$ 8.000,00.

Sendo assim, podemos verificar que o ajuste diário serve para liquidar
diariamente o contrato futuro, pagando ou recebendo a variação das
cotações ocorrida durante o último pregão. No entanto, o não
pagamento do ajuste, ou seja, o inadimplemento no pagamento do
ajuste diário irá ensejar a liquidação da totalidade ou parte das margens
de garantia para o seu cumprimento. Portanto, suponhamos que no
momento em que Antônio foi chamado pela corretora a pagar o ajuste
diário ele tinha um problema de fluxo de caixa e não conseguiu saldar
sua dívida. Nesta hora, a corretora deverá vender os ativos depositados
em garantia pelo Antônio para que consiga cumprir o compromisso.
Caso o valor arrecadado com a venda dos ativos não seja suficiente, a
corretora como solidária na operação deverá arcar com os prejuízos.

Isto nos mostra que, pelo fato de existir o ajuste diário nos contratos
futuros, o máximo de prejuízo que um agente pode gerar no mercado é
aquele provocado pela variação de preços de um único dia. Dessa
forma, o risco de crédito12 de um contrato futuro passa a ser baixo, pois
haverá acerto todos os dias.

12
Risco de crédito é o risco que determinado agente incorre de não receber o seu pagamento. Ou seja, o risco
de crédito que um banco incorre é o de não receber de volta os recursos que foram emprestados por ele.
Resumindo, é o risco de “tomar um calote”.

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Enquanto isso, como não há o pagamento do ajuste diário no contrato a
termo, este faz com que seus agentes passem a correr um risco muito
maior, pois se houver uma quebra entre a data da negociação e a data
do vencimento, os agentes só saberão da verdadeira situação na data
do vencimento.

Imagine que cinco dias após a negociação do contrato de US$


100.000,00 acima descrito, Antônio perca todas as divisas e venha à
bancarrota. Se ele estivesse com uma posição em contrato futuro, não
estaria gerando nenhum risco adicional nem ao mercado nem à sua
contraparte, dado que a variação da moeda estrangeira até o dia
anterior já estava quitada. No entanto, caso tivesse assumido uma
posição a termo, sua contraparte só saberia da verdadeira situação
daqui a três meses, quando da liquidação e vencimento do contrato
derivativo.

Você deve estar se perguntando quanto é que deve ser depositado a


título de margem de garantia. Se seria um valor fixo como muitos
autores dizem ou variável.

Na verdade, a margem de garantia a ser depositada não é um valor


fixo, é um valor que varia em função de alguns itens como o ativo
subjacente ao contrato, a volatilidade13 daquele mercado e o prazo de
vencimento. Em tese, a margem de garantia deve, com 99% de
probabilidade, cobrir o não pagamento de dois ajustes diários no
contrato futuro. Em momentos de crise, como o vivido no segundo
semestre de 2008, a volatilidade dos ativos tende a aumentar e há uma
exigência maior de margem de garantia.

13
A volatilidade de um ativo é uma medição do grau de variação do mesmo ao longo do tempo. Se um ativo é
pouco volátil isso mostra que o mesmo não tem grandes variações em seu preço. Se o mesmo é mais volátil
ele apresenta uma variação muito maior em suas cotações.

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Dessa forma, terminamos a primeira aula de derivativos. Espero que
leiam esse texto algumas vezes até o momento em que tiverem certeza
daquilo que falei. Todos os conceitos devem ser instintivos e seu
raciocínio deve ser rápido para compreender aquilo que está sendo
perguntado.

Posteriormente, estarei resolvendo alguns exercícios acerca da matéria,


mas isso vai ocorrer em aulas futuras.

Grande abraço a todos, boa semana e bons estudos pois a prova está
chegando e a autorização para o BACEN saindo.

César Frade

Prof. César Frade – FINANÇAS p/ BACEN e STN – Cathedra Competências Profissionais

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