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Buracos Negros Epílogo
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e da enorme fiabilidade dos comandos da nave. Ainda assim, rapidamente deu conta
de um pequeno erro que tinha ocorrido: tinha apontado a nave para Plutão mas, em vez
disso, estava em órbita de Caronte, a lua do planeta, o que era um erro pequeno, mas
ainda assim um erro. Lá ao longe via-se o Sol, pequeno e pouco brilhante. Charlie
tentou encontrar a bolinha azul da Terra e, de facto viu-a, lá longe, encostadinha ao
Sol. Também se via Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno. Havia uma enorme quantidade
de estrelas: lá estava Siriús, e perto, podia ver Procyon.
Por baixo dele estava a superfície de Caronte. Não parecia especialmente
promissora. Dali, discerniam-se desfiladeiros que sulcavam um terreno que parecia
enregelado e ligeiramente rosado. Não havia muito em que pensar. Era descer.
Manobrou a nave com o cuidado e perícia de que só o construtor do engenho é capaz,
e pousou no solo de Caronte justamente ao pé de um desfiladeiro. Não esteve com
meias medidas. A excitação era tanta que correu para a porta e escancarando-a de par
em par, viu-se de fronte da paisagem de outro mundo. Mas não teve tempo de ver
nada: o ar gelado por pouco não o liquidou ali mesmo, e a atmosfera completamente
irrespirável deixou-o roxo e à beira de um ataque cardíaco. Estamos no Inverno,
pensou. Tinha sido uma tremenda imprudência que só por um triz não arruinou
totalmente a missão. Da próxima vez ia, por certo, conter-se mais e efectuar os testes
necessários antes de se aventurar no desconhecido. Dentro da nave recuperou.
Agasalhou-se apropriadamente, colocou as botijas de oxigénio às costas, pegou na
máquina fotográfica e na caçadeira para o que der e vier, e finalmente saiu. Agora sim
estava melhor. Corria um vento gelado, que ele não sentia porque estava bem
quentinho com pura lã de ovelha, mas podia ver que era gelado porque no ar via-se
flocos de neve. O desfiladeiro não era muito fundo, e como a paisagem em volta
parecesse pouco interessante, resolveu descer. Ainda por cima, enquanto descia, o ar
não era tão hostil. Na realidade, o vento ali não se fazia sentir, e como não havia neve,
o ar tornara-se muito mais límpido, e podia-se ver tudo com mais facilidade. Era, sem
dúvida, um local muito mais acolhedor. Quando chegou ao fundo sentou-se, e pôs-se o
olhar em volta. Era um ambiente muito estranho, em nada comparável ao que quer que
fosse que tivesse conhecido. O lusco-fusco da noite carontiana, que Charlie sabia ser
perpétuo porque o Sol estava muito longe, parecia ter clareado um pouco,
repentinamente, graças a um qualquer tipo de luz que alguém havia acendido algures
mais acima. E, de facto, quando ergueu os olhos percebeu que algo tinha mudado.
O vento tinha parado, e a neve que andava no ar assentara, deixando à mostra o
céu de Caronte através da estreita passagem entre as ravinas do desfiladeiro. E lá em
cima, alto no céu, grande e majestoso, estava o globo cinzento de Plutão. Charlie sabia
que Plutão e Caronte distam entre si cerca de 20000 quilómetros, e que têm um
movimento perfeitamente sincronizado, pelo que Plutão sempre tinha estado ali, e
tinha sido uma sorte ter pousado num local de onde o pudesse ver. Ainda para mais,
era possível ver ainda o Sol, lá longe, quase tão brilhante quanto a Lua é na Terra, mas
muito mais pequeno. Era um espectáculo magnífico. Não pensou duas vezes: pegou na
máquina, e fotografou-o.
Só então de seu conta de outra descoberta ainda mais espectacular. Por todo
lado à sua volta moviam-se pequenos seres, semelhantes a estrelas do mar, mas com
carapaças, caranguejos com dezenas de antenas, e aranhas com a forma de ostras.
Andavam tão lentamente que não constituiriam certamente qualquer perigo porque
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Charlie era um bom corredor. Afinal, pensou consolado, existe vida extraterrestre. E
não tinha sido preciso ir muito longe para a encontrar. Baptizou, cheio de boa-vontade,
aqueles seres de caron-
tianos, independentemente
da espécie, o que vendo
bem não é lá muito
original, mas que,
atendendo às circunstân-
cias, foi o que se pôde
arranjar. Estava sentado
numa pedra a apreciar o
movimento dos bichos nas
suas vidas atarefadas, as
rochas em redor, e aquela
neve que ele sabia, porque
tinha lido na Terra que era
de água. Agora orvalhava.
Lembrou-se de liquidar ali
mesmo, com a caçadeira,
Figura 29 um daqueles bichos para
A fotografia tirada por Charlie do desfiladeiro de Caronte onde se vê depois se entreter a
Plutão e, ao longe, o Sol. Podem-se ainda ver alguns dos estranhos disseca-lo na longa viagem
seres de Caronte.
que o esperava. Infelizmen-
te, quando puxou pelo gatilho, nada aconteceu. Tentou mais vezes, apontando
inclusive a espingarda a si próprio a ver se dava sorte(!), mas nada. Finalmente
compreendeu que talvez o frio tivesse gelado a pólvora. Está certo Charlie, e para ti já
não foi descoberta de somenos importância, mas digo-te eu, humildemente como é
apanágio dos que sabem, que a falta de oxigénio é capaz de ser um factor ainda mais
decisivo na não ocorrência da combustão que levaria ao disparo.
Charlie não se deu por vencido. Correu até à nave. Não se podia dar ao luxo de
correr como estava habituado, explanando todo o seu potencial de atleta, porque, com
uma aceleração da gravidade de menos de um metro por segundo ao quadrado, se
desse grandes saltos, nunca mais chegava cá baixo. Plutão acompanhava-o lá em cima,
e podia-se distinguir alguns pormenores da sua superfície rosada de metano, com
particular evidência para uns pontos sombreados que pareciam montanhas; a neblina
tinha-se dissipado, e via-se quase com a mesma facilidade com que se vê na Terra
numa noite de Lua cheia, até ao horizonte que ficava já ali, a menos de 1600 metros.
No chão pantanoso virgem ficavam cravadas com grande profundidade as pegadas
Nike do primeiro homem a visitar outro planeta. Na nave, Charlie pegou no que estava
à mão, para o tenebroso serviço que congeminara: uma pá. Agarrou em três sacos de
serapilheira e em dois baldes, e regressou ao desfiladeiro. Não se via carontianos na
planície, muito provavelmente devido ao vento gélido que soprava de vez em quando.
Começou por arrumar à pazada com dois carontianos: um parecia uma estrela do mar,
e o outro tinha uma forma mais irregular, e diferente de tudo o que Charlie conhecia.
Então, impulsionado com a facilidade com que aqueles seres indefesos e pouco
habituados a tão grande selvajaria, entregavam a alma ao criador, descontrolou-se e
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acabou com a tosse, se é que a tinham, a todos os carontianos que viu. No fim, quando
já não havia vivalma à vista, para além da sua, recolheu todos os corpos que pôde, que
podiam ser bons para comer, quem sabe, e começou a armazená-los na nave, num
lugar fresco. Ainda assim, no fim, quando já não tinha mais espaço, restavam no
desfiladeiro muitos cadáveres amontoados resultantes da fúria do terráqueo justiceiro.
Charlie estava cansado. Ao longe, o Sol punha-se no céu de Caronte, e a lua começava
a mergulhar numa escuridão cada vez maior. Chegava a hora de arrumar as trouxas e
partir. Acomodou a um canto os baldes cheios de gelo, que podiam fazer falta para a
viagem que só agora iria realmente começar. Por fim subiu a bordo, deixando para trás
a superfície de Caronte, com franca saudade dos momentos de liberdade e
divertimento que aí passara. Era altura de partir. Que outras maravilhas o esperavam
ainda. Pela frente tinha o Universo escuro e frio. Mas ele, Charlie, iria-o percorrer aos
comandos de uma nave aconchegante, entretido com o xadrez solitário, com a
dissecação dos carontianos que tinha trazido, ou com as revistas pornográficas que
tinham passado o apertado controlo da mãe. E, acima de tudo ia dormir. Ia conseguir,
finalmente, pôr o sono em dia. Sentou-se no sofá que tinha tirado da sala de estar lá de
casa, e que agora estava na cabine dos comandos, accionou a ignição, e os motores
obedeceram sem pestanejar.
- Esperto este Charlie! Sempre pensei que o combustível congelasse e ele ficasse lá
nessa lua!
- A mim parece-me tudo uma grande pessegada. É impossível matar tantos animais
só com uma pá.
- Concordo!
Boa viagem, Charlie!
Quatro anos e meio depois, a Deolinda desacelera nas proximidades de
Procyon. Charlie encontra-se aos comandos. Está excitado com a vista maravilhosa
que se lhe apresenta ao olhar. Procyon é um sistema duplo. Vêem-se nitidamente as
duas estrelas, mais ou menos iguais em cor, mas claramente uma mais brilhante que a
outra. Quando a Deolinda passa perpendicularmente à linha que as une, Charlie pode
ver que a distância entre elas é considerável. Encontra-se, de acordo com os sensores
do seu computador, a cerca de duas unidades astronómicas (uma unidade astronómica
são 150 milhões de quilómetros e é equivalente à distância entre o Sol e a Terra) da
componente mais próxima, e ainda não surgiu qualquer vestígio de um buraco negro.
O computador entretêm-se, então, a determinar o período do movimento das estrelas
em torno do centro de massa: 5,6 anos terrestres. O céu em volta apresenta-se normal,
como o que era visto da órbita da Terra, ou de Caronte. Ao longe vê-se Siriús, que fica
a 5 anos-luz de distância, inconfundível pelo brilho e pela cor azul, e vêem-se também
duas estrelas amarelas. Charlie percebe muito de astronomia, e conhece a maior parte
das estrelas, mas visto dali, não consegue dizer qual daquelas estrela é o Sol, embora
lhe pareça que não restam dúvidas que uma delas o é, e a outra é Alfa Centauri.
Agora, Charlie anda bem, obrigado, mas durante a viagem passou muito mal
coitado. Quando descobriu que os carontianos eram bons cozidos de escabeche foi um
vê se te avias com escabeche de manhã, à tarde e à noite; escabeche quente, frio e até
gelado de escabeche. Infelizmente, os bichos haviam de se revelar indigestos, e maus
para o fígado, e o Charlie passou um mau bocado, com tanta diarreia que quase morria
desidratado. Por fim, foi o fedor, que um tipo não pensa em tudo, mesmo num projecto
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desta envergadura, e a nave veio sem ventilação. Agora, como se disse, está tudo bem,
mas ao Charlie continua a fazer-lhe falta uma tigela de canginha caseira como as que a
mãe fazia, para limpar a tripa.
- Coitado do moço!
- Que não se metesse nelas, Maria! Que te sirva de exemplo!
A nave ronda o sistema de Procyon a uma distância segura. Aqui e ali vêem-se
uns calhaus enormes. Planetas fracassados, está bom de ver, impedidos de se formar
pela força da gravidade variável do sistema constituído pelas duas estrelas.
- Apre que o rapaz sabe!
- Já ouviu falar em forças de maré?
- Não senhor!
- Então leia as páginas que estão para trás, neste texto, que eu não sou seu criado,
para lhe andar a explicar!
- Mal educado!
Do buraco negro é que continua a não haver qualquer sinal, e Charlie começa a
ficar desesperado, e a rogar pragas aos gajos que, na Terra, andaram a dizer que havia
um buraco negro em Procyon. O desespero conduz à impaciência...
- Não será ao contrário?
- Não!
- Desculpe!
e da impaciência passa-se, com toda a facilidade, à saudade. Charlie chora com
saudade dos pais e dos irmãos queridos, e para acalmar saca da Playboy antiga e gasta
e começa-a a folhear. Mas não resulta. Em vez disso, o dissabor aumenta: que novas
playmates haverá?; que novas histórias estará ele a perder? Arruma a revista. Pega no
telescópio e aponta-o para uma das estrelas amarelas, no intuito desesperado de tentar
ver a Terra. Mas, evidentemente, não consegue nada. Não se vê mais nada do que um
ponto amarelo. Continua com o telescópio, e roda-o em volta, a toda a largura da
janela da cabine, escrutinando o espaço escuro. Nada de buracos negros. Procyon
começa a revelar-se um belo fracasso.
A dada altura contudo, Charlie, dá-se conta de que algo de estranho aconteceu.
Tinha conseguido ficar em órbita estável em torno das duas estrelas, mas agora, em
vez de continuar a circula-las, como antes, parecia começar a ficar de costas para elas.
Era como se estivesse a rodar para o lado contrário aquele para o qual estava a rodar
até aí. Verificou o leme e, efectivamente, a direcção de voo estava desalinhada. Se a
tentasse alinhar, conseguia fazê-lo, mas se largasse o volante, este entortava-se
ligeiramente para a esquerda, na direcção contrária à das estrelas do sistema Procyon.
Algo estava a puxar a Deolinda nessa direcção. Charlie reparou ainda, que juntamente
com a sua nave, havia muitos pedregulhos que circulavam dessa maneira, solidários
com ele. No rádio portátil que tinha trazido, e que mantivera ligado por distracção,
durante toda a viagem, ouvia-se agora ruídos intensos que estavam em franco contraste
com o silêncio que reinara até aí. Assustado, optou por desligar os motores da nave,
para ver o que acontecia. Quando levantou a cortina e olhou pela janela à sua
esquerda, percebeu que algo existia, de facto, nessa direcção. Algo que puxava os
átomos e partículas do espaço, que, ao ser puxados aqueciam, e emitiam radiação,
primeiro ondas de rádio e depois, à medida que se aproximavam do centro do corpo
que puxava, passavam a emitir luz visível e, de certeza, radiação de frequência mais
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alta que ele não captava porque não tinha instrumentos para isso. Apontou o telescópio
nessa direcção, mas tudo o que conseguiu foi confirmar essa sua suspeita. Existia ali
realmente alguma coisa. Algo invisível, mas que o estava a puxar. Era provável que
tivesse encontrado o que procurava. Como pensou que se fotografasse, a pouca
intensidade da luz iria inviabilizar qualquer imagem, optou por elaborar um esquema
daquilo que via (figura 30).
Charlie começa a perceber que se
encontra de facto em órbita de um buraco
negro, que ainda não consegue ver porque
está muito distanciado. Encontra-se em
órbita, porque a sua velocidade de rotação
cria um força centrífuga que igual a atracção
gravitacional do buraco. Entretanto, põe
todos os sensores e instrumentos da nave a
trabalhar para lhe fornecer todos os dados e
valores que ele possa desejar. Com um toque
numa tecla, Charlie fica a saber que se
encontra a cerca de 160 mil quilómetros do
buraco negro...
- Porra, está longe p’ra caraças, o medricas!
Figura 30 Chega-te mais à beira, cagarola!
- Está bem, já vai! Isto é fácil para vocês
Os átomos de gás puxados pelo buraco negro,
convergem para ele de todas as direcções. que estão aí sentados a ler. Queria-vos ver
Desenho do Charlie. aqui!
- Sim. Até aí tem o rapaz razão. Nestas
coisas há que dar a mão à palmatória e o cu ao manifesto, que assim mandam os
mandamentos!
- Que mandamentos?
- Os da delicadeza, quais haveriam de ser?
... e que, a essa distância demora 5 minutos e 46 segundos a dar uma volta ao buraco.
- Como é que ele sabe?
- Eu explico: o computador portátil serviu-se de um dos periféricos para analisar o
movimento aparente das estrelas por cima da nave, e com tal análise, conseguiu
determinar que demorava esse tempo para regressar ao mesmo sítio.
Antes de se aproximar mais, Charlie ficou ainda a saber que a massa do buraco
é de cerca de 10 massas solares. Para o determinar, o computador usa as sapientes leis
enunciadas por Newton em 1685, e a força centrífuga de Huygens:
Gm d M m d v 2 2r
e v
r2 r T
donde
4 2 r 3
M
GT
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tempo, para um observador exterior. Todavia, ele sabe que, se vier a ter o azar de
mergulhar através do horizonte, nem vai dar pela presença deste, e os átomos que o
compõem a ele, Charlie, vão ser esmagados para uma região com cerca de 110-33
centímetros de diâmetro que se denomina singularidade. Entre o horizonte e a
singularidade, nada mais existe do que espaço vazio povoado por gás interestelar que
caiu através do horizonte, e pela radiação que o gás emite, ou seja, precisamente o
mesmo que existe e se vê, entre o horizonte e a Deolinda. A singularidade e a matéria
que caiu nela, está para sempre escondida da vista pelo horizonte do buraco negro, e
jamais poderá essa matéria re-emergir, ou enviar qualquer tipo de informação para a
nave. De repente, Charlie recebe do computador um resultado estranho. No local onde
deveria aparecer o valor do raio do buraco negro, aparece uma série de pontos de
interrogação. É esquisito, pensa Charlie, que um computador tão potente, e com
programas tão caros, não consiga determinar o raio quando se trata de uma conta tão
simples. O raio, é simplesmente a distância entre a singularidade e o horizonte do
buraco negro, sendo que, uma vez que a singularidade tem uma dimensão tão pequena,
o seu contributo é desprezável. Uma vez que se sabe o perímetro do horizonte, o raio é
determinado dividindo esse perímetro por 2, coisa que qualquer criança do 7º ano
sabe fazer, e que Charlie sabe fazer na perfeição usando a sempre fiel máquina de
calcular. O resultado dá 4,8 quilómetros de raio, mais coisa, menos coisa.
Charlie está intrigado,
e desconfiando da fiabilidade
do computador que trouxe,
assapa-lhe umas boas
cacetadas para ver se a coisa
vai. Nada. Felizmente estou cá
eu e esclareço tudo de boa
vontade. A fórmula que
utilizaste, Charlie, para deter-
minar o raio a partir do perí-
metro, aplica-se sem excepção
a superfícies planas, como por
exemplo uma folha de papel.
Contudo, se a superfície for
curva, como a superfície de
uma esfera, a fórmula deixa
de ser válida, e terás de
utilizar a geometria que
Riemann, Lobachevsky e
outros matemáticos desenvol-
veram. É que, segundo
Figura 31 Einstein, o espaço-tempo en-
A massa do buraco negro distorce a folha plana do espaço-tempo, curva-se e deixa de ser plano,
de tal forma que é criada uma singularidade. O raio do buraco sempre que haja matéria
negro deixa de poder ser determinado da forma convencional, presente. E essa curvatura do
porque o espaço passa a ser curvo.
espaço-tempo depende dire-
ctamente da quantidade de massa. Portanto, junto ao horizonte, e mais ainda, no
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2GMm
F R
r3
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gestiva fotografia do planeta Chico, pouco depois do anoitecer. A base onde Charlie se
encontrava, e onde havia pousado a Deolinda, ficava mesmo por detrás do sítio de
onde tirou a fotografia.
Com tal paisagem, não admira mesmo nada que ao Charlie tenha acontecido o
que à frente relataremos.
A viagem decorreu na maior das calmarias. Vinte anos dava para pôr muita
leitura em dia, e aprender muito sobre a natureza e funcionamento do Universo.
Charlie estava mais velho. Tinham-lhe nascido cabelos brancos, e as rugas começavam
a surgir na testa. Os carontianos tiveram de ir borda fora porque começavam a cheirar
mal, pese embora estarem congelados. Ficaram algures perto de Rigel. Momentos
houve de pura alegria, como quando a Deolinda foi sacudida com violência por uma
estrondosa supernova que Charlie já estava a ver há algum tempo, e que ocorrera a
escassos anos-luz de distância dele, ou então, quando parou num planeta qualquer,
perdido lá para o meio da Galáxia, numa estrela azul, e deu de caras com uns seres
muito mal-encarados...
- Como os dinossáurios?
- Piores. Muito piores!
- Piores que o T-Rex?!
- Sim!
- Não é possível! O Senhor seja louvado!
A verdade é que ao Charlie não o intimidam com más caras, e bem ou mal-
disposto, querendo ele, leva tudo pela medida grande, e quando matou uma das bestas
a tiros de caçadeira e à vassourada, ficou com mantimentos para o resto da viagem, e
para outra viagem igual, salvo seja. Claro que teve de abrir com celeridade, que estes
tipos não eram carontianos, e não se lhes afigurava nada bem chacinarem-lhes assim
um compatriota e porem-se na alheta sem levar o troco. O Charlie e a Deolinda,
porém, eram uma dupla de categoria, e quando os anormais chegaram para vingar o
parceiro que jazia às postas na congeladora da Deolinda, já os nossos heróis iam longe,
a caminho do seu nobre destino.
Contudo, a maior parte da viagem foi aborrecida. Não acontecia absolutamente
nada, e ao Charlie entediavam-no primeiro os minutos, e depois, na ordem devida, as
horas, os dias, as semanas, os meses e os anos. Tudo o entediava. Não é caso para
menos, coitado, numa viagem tão longa. Passou muito tempo deprimido, amuado na
cama do quarto, a matutar no seu cruel destino de caminhante errante, solitário como
os vagabundos e carente de ternura. Por fim, como ninguém lhe ligou, porque não
havia ninguém para lhe ligar, acabou por arribar, e retomou as canseiras do dia-à-dia.
Finalmente, acabou por chegar às imediações do centro da Galáxia. Ainda lhe
faltava uma boa jornada de caminho, mas decidiu-se por parar num mundo promissor
junto a uma estrela amarela que lhe fazia lembrar o Sol.
- Desculpe, importa-se de me dizer como é que se chama este planeta?
- Não me importo absolutamente nada! Chama-se Chico, com a graça de Deus!
- Amem!
O planeta já estava habitado, como já se sabe. Pelos betelgeusenses, como
também já se disse. O que ainda não se disse, e por isso ninguém sabe, é que a malta
de Beteugeuse, é gente boa. Simples, mas muito boa. Claro que se podiam exibir.
Afinal a estrela deles é uma gigante vermelha, que mete no bolso o bom do nosso Sol,
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mas não. È pessoal com muito aprumo, amigo do seu amigo, colega do seu colega,
incapaz do mal quando é o bem que conta e capazes de amizades fáceis e produtivas...
- Ó amigo, não se perca!
- Não senhor, esteja descansado!
A colónia tinha à vontade umas mil almas alinhadas por categorias, da mais
importante à completamente descartável, por ordem decrescente. No topo estava o
comandante da missão, um tal de Jonas, cuja galhardia numa missão ao pulsar 387 da
Ursa Maior, em que enfrentara sem hesitações, e em combate corpo a corpo um dos
bicharocos de Alien parte IV – O Regresso, lhe tinha valido uma rápida ascensão na
carreira. Agora, do alto dos seus setenta anos de idade, dominava confiante a extensa
trupe que o acompanhava. Logo que chegou, Charlie, que não é burro nenhum, que
para se ir às estrelas é precisa muita inteligência, tratou de se fazer ao conhecimento
com o dito Jonas.
- Ó Charlie, fale-me do seu planeta!
- Digo-te, Jonas, que não há melhor em toda a Galáxia. Azul, cheio de água e de
vida. Muitas mulheres, Jonas!
- E a estrela?
- A estrela? Pequena, mas com muita genica. Amarelinha, como convém para não
cansar os olhos!
- Amarelinha, ah?! Com genica?! Vida! Está bem, Charlie! Bebe um copo!
Logo abaixo do Jonas, estavam, na classe seguinte, os filhos e a mulher do
Jonas. Charlie achara-se sozinho na viagem, e matutou, não raras vezes, na
necessidade semi-imperiosa de arranjar para si mesmo uma mulherzinha que lhe
cozinhasse uns caldinhos, lhe passasse a roupa ferro, limpasse a Deolinda e, à noite,
lhe aquecesse a cama. Os filhos do Jonas estavam casados, e bem casados, pela igreja
como convém e é bonito, e da mulher, claro, nem é bom falar. Apenas uma das filhas,
a mais velha, que se chamava Camila, estava ainda solteira, pelo que ao Charlie
afigurou-se-lhe de imediato a perspectiva de a cativar.
Camila era uma betelgeusense típica, um tanto ou quanto para o asqueroso, e
medianamente fora de prazo, mas atirada para a frente, com muitos tiques e taques e
deuses nos acudam. Passearam à beira mar (um mar de aldeídos e cetonas), mas como
o cheiro a formaldeído começasse a causar arrepios, abrigaram-se nas dunas. Charlie
proporcionou-lhe uma visita guiada à Deolinda, e contou-lhe como tinha estado perto
do buraco negro de Procyon e agora planeava viajar até ao centro da galáxia para
enfrentar um bicho ainda mais medonho. Contou-lhe como matou um monstro terrível
algures num planeta perdido, e para atestar da veracidade das suas histórias mostrou-
lhe a carcaça, praticamente descarnada da abestunta. A Camila agradou-lhe a coragem
máscula, a audácia e o sentido prático do nosso herói, e falou-lhe da desgraça do povo
de Betelgeuse, a braços com uma estrela moribunda e tão pouco densa que se tornou
muito fria, e tão grande, que os betelgeusenses tiveram de andar a saltar de um planeta
para outro, cada vez mais para fora do seu Sistema Solar. Coitadinha, pensou Charlie!
- Eu também acho!
Casaram. Abençoou-os Crisóstomo, o capelão. Na página seguinte, podemos
vê-los felizes a sair do hotel depois da noite de núpcias.
Charlie e Camila meteram-se na Deolinda, e foram dar uma volta rápida, coisa
de meses, pelo centro da Galáxia. Charlie falou-lhe dos planos de regresso à Terra, do
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re-encontro com os pais e os irmãos, e todos os outros amigos que tinha deixado.
Planearam juntos um cruzeiro por mares de água. Charlie contou-lhe que Betelgeuse se
via da Terra, nas noites de Inverno, e Camila suspirou de felicidade. Ia poder, sempre
que quisesse, olhar para o lar dos seus pais.
Esta porém, é uma história de buracos negros e não um romance, e como tal
avance-se mais rapidamente para assuntos mais prementes.
- Eu logo vi que isto ia voltar aquela estopada da buraqueira! Ó Quina muda-me isso
para a telenovela, mudas, que és linda!
Charlie deixou a mulher na base de Chico, com promessas de um regresso
rápido, que a viagem demoraria, no máximo 3 anos, e ele estaria de volta, e viveriam
felizes para sempre.
Mais uma vez, Charlie estava a caminho.
Desta vez porém, sentia-se reconfortado, ao
saber que a sua mulherzinha o esperaria, e estaria
com ela quando regressasse, com montes de
histórias do buraco negro de Sagitário. A
Deolinda, como sempre, estava em grande forma
e galgava terreno com entusiasmo e alegria. Na
ânsia de chegar mais depressa, Charlie tinha-lhe
dado mais gás que o costume. Agora acelerava a
19,6 m s-2, o dobro que nas viagens anteriores, e
Figura 33 ia-se um bocadito mais desconfortável, com uma
Charlie e a mulher, Camila, apanhados à força resultante da aceleração que tornava as
saída do hotel da colónia do planeta Chico coisas duplamente mais pesadas. Mas só assim a
por um paparazzi de Betelgeuse.
viagem duraria os 3 anos prometidos.
- Ora bem, o que é prometido, é sempre devido!
Finalmente, eis que a Deolinda desacelera ao aproximar-se do centro galáctico.
Existe, tanto quanto Charlie consegue ver, uma enorme e rica mistura de gases e
poeiras voando pelo ar, e dirigindo-se inexoravelmente, na direcção de um enorme
buraco negro. Com todo o cuidado, e servindo-se da experiência adquirida ao longo
dos anos, Charlie manobra a Deolinda, de modo a colocá-la numa órbita estável bem
acima do horizonte do buraco negro. Das medições da distância ao horizonte, e do
período de rotação, o computador infere, tal como tinha feito em Procyon, que a massa
do buraco é igual a cerca de 1 milhão de sóis. Neste, como no caso anterior, também
não existe um movimento tipo tornado em torno do horizonte, pelo que se pode
concluir que o buraco negro é estático, sem momento angular. O seu horizonte,
portanto terá um perímetro de 18,5 milhões de quilómetros.
- Ena pá! Grande bicho!
- Sim, e muito guloso!
Desta vez, Charlie vai mais longe que nunca. Veste o fato impermeável,
agasalha-se o melhor que pode, e desce directamente, da barriga da Deolinda, agarrado
a um cabo que fica atado lá em cima, a uma trave da sala de estar da nave. Para o
ajudar a descer, leva colados ao fato uns motores pequenos, que lançam jactos de
pouca intensidade na direcção contrária ao movimento da nave, que lhe travam o
movimento orbital, e o fazem ir descendo calmamente em direcção ao horizonte,
enquanto que a Deolinda paira lá em cima calmamente.
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- Desculpe, permite-me que interrompa? É que eu tenho uma dúvida! Porque é que
no buraco negro de Procyon, não aconteceu aquele azar do erro do cálculo da força
da gravidade?
Por um motivo muito simples. Porque em Procyon, como o buraco negro era
muito menos massivo, os efeitos relativistas da gravidade só se faziam sentir muito
mais perto do horizonte. Tão perto, na realidade, que muito antes de isso acontecer, a
descida foi interrompida, se bem se lembram, por causa das forças da maré.
- Muito obrigado, estou esclarecido!
A descida continua exasperante. No ponto em que o perímetro é igual a 1,5
vezes o perímetro do horizonte, deixa de haver possibilidade de equilíbrio recorrendo à
força centrífuga, porque aí a gravidade é tão forte que seria necessário rodar à
velocidade da luz, ou mais, para atingir o equilíbrio.
- E agora?
Agora, a solução é continuar a descer em direcção ao horizonte, mas sem força
centrífuga, e sem rotação. Descida pura e simples radialmente em relação ao buraco,
tendo o cuidado de apontar os propulsores para baixo para que não se dê uma
precipitação catastrófica que seria o fim inglório da aventura do Charlie.
Charlie continua a descer, agora de forma radial em direcção ao abismo, mas
cada vez tem mais dificuldade em fazer com que os seus foguetes proporcionem uma
descida controlada. A dada altura compreende que não pode continuar a descer, porque
corre sérios riscos de não ter potência suficiente nos motores para regressar à
Deolinda. Por isso dá uma última olhadela ao abismo lá em baixo, e desconsolado
empreende a viagem de regresso. Atraca à nave pela barriga e exausto atira-se para os
lençóis e dorme na paz dos anjos.
Quando acordar, Charlie lançará mão de todos os conhecimentos que adquiriu
de relatividade geral ao longo dos anos, e da preciosa ajuda do seu velho computador
portátil para concluir que, se tivesse seguido o plano que tinha traçado, de se chegar
tão perto do horizonte como uma distância cuja circunferência fosse igual a 1,001
vezes a circunferência do buraco negro, teria enfrentado uma aceleração da gravidade
de 150 milhões de gravidades terrestres. O valor causar-lhe-à calafrios, e quando
recuperar intentará descobrir se, em alguma parte do Universo existe um buraco negro
tal, que permita a um observador como ele se aproximar a essa distância, e ser sujeito a
uma força da gravidade da ordem da terrestre. Existe sim senhor, concluirá por fim.
Tem uma massa igual a 15 biliões51 de sóis, e situa-se a 2000 milhões de anos-luz, no
quasar 3C273. A princípio ainda pensará em embarcar em mais essa viagem. Quarenta
e dois anos de viagem, piscará no monitor do computador. Será tentador, mas disso
não passará. Charlie é um homem casado e a mulher espera-o. Desistirá dos buracos
negros e regressará a casa. Já viu suficiente. E nós também.
Três anos e dois meses depois de ter partido, Charlie está de volta ao planeta
Chico, mas espera-o uma grande surpresa. Os seus conhecimentos mal acamados de
relatividade restrita fizeram-no esquecer um pormenor muito importante. Todos
juntos:
- O tempo é relativo, Charlie!
- Sim, e depois?!
51
Em português, um bilião é um milhão de milhões.
119
Buracos Negros Epílogo
Depois Charlie, que para ti que fizeste as viagens com movimento acelerado, o
tempo, se medido por aqueles que ficaram, decorreu de facto, mais lentamente, mas
para aqueles que ficaram em repouso, o tempo passou da mesma forma que sempre.
Inexorável. Daqui ao centro da galáxia são oito anos-luz. Tu fizeste a viagem em 3
anos, mas aqui, no planeta Chico, passaram 16 anos, e a tua mulher, que já não estava
em nada bom estado, pôs-se de todo, e agora vai ser difícil que ela te aqueça a cama.
Mas pior, muito pior, Charlie, é que ao todo, andaste mais de 25000 anos-luz, e
embora para ti só tenham decorrido menos de 30 anos, a verdade crua e pura, é que na
Terra se passaram 25000, e sem contar com o outro tanto que decorrerá no regresso, a
esta hora, do teu paizinho e da tua mãezinha já nem a mais mínima poeira, o mais
simples átomo existem. Esta é do catano.
- São coisas da vida!
- Olhe lá Maria, que a gente nunca sabe onde as tem guardadas, que ninguém se
pode rir. Veja lá o rapaz tão trabalhador, logo tinha de lhe acontecer este azar, ficar
assim sem os pais! Valha-nos Deus, que a vida é dura para todos!
- Rezemos o terço pela alma dos defundos!
- Eu fico com as Avé-Marias!
Charlie tem dificuldade em aguentar o trauma. Quando chegar à Terra, terão
passado cinquenta mil anos desde a sua saída, e já ninguém se lembrará dele. O mais
provável é que já todos tenham visitado todo o Sistema Solar, e descoberto os
carontianos, roubando-lhe a primazia. Inclusivamente, talvez por esta altura, já tenha
mais alguém ido a Procyon. Serve-lhe de consolo o facto de que, de qualquer das
formas, será sempre o primeiro a regressar com notícias do centro da Galáxia.
Mas nem tudo está perdido. Charlie coloca Camila na cadeira de rodas, e vão os
dois visitar o Oráculo de Delfos, em busca de uma solução mais airosa para o terrível
imbróglio em que se viram envolvidos por causa da matreira da relatividade. A
sacerdotisa, que é perita no assunto, apresenta-lhes a solução. Por jeitos, junto à estrela
azul que vimos, próxima do horizonte, na imagem da página acima do planeta Chico,
existe uma ponte de Einstein-Rosen...
- Uma quê?
Um wormhole, um buraco de verme, da próxima vez, veja lá se lê o texto todo,
está bem. Dá-se o caso, e aqui temos a parte fantástica, de que a sacerdotisa afirma
que, de acordo com as suas mezinhas e profecias, esse buraco de verme conduz
directamente às imediações de Alfa Centauri e a um ponto 25000 anos no passado.
- Ai Deus queira!
Por mim, acho muita fruta, mas nunca se sabe. Talvez afinal, Charlie, possa
contar aos familiares as suas aventuras por entre as maravilhas da Galáxia. Mas a
mim, pessoalmente, cheira-me que é capaz de perder muito mais tempo a explicar
porque motivo casou com um tipa velha, feia e ainda por cima de Betelgeuse, quando
havia tanta coisa boa na generosa e acolhedora Terra.
- Diz-me só uma coisinha para acabar, Charlie, dizes, que levas um doce?!
- Tudo o que quiseres Jonas, tudo o que quiseres!
- Disseste que o teu planeta fica numa estrela amarela no braço de Orion, a 25000
anos-luz daqui?
- Sim, Jonas!
- E que é azul, tem muitos animais, mulheres e oceanos de água límpida?
120
Buracos Negros Epílogo
- Sim, tudo isso e muito mais! Havias de gostar. È pena não poderes ir!
- Eu sei! Obrigado, Charlie! Vai em paz que eu tenho de ir ali abaixo mandar uma
mensagem para Betelgeuse, e venho já.
Nota: salvo todos os cálculos e fórmulas matemáticas, bem como as ocorrências que envolvem buracos negros,
que em princípio estarão correctos, toda a história é, evidentemente, ficcionada. Apenas uma brincadeira, nada
mais.
David Ferreira
Barcelos, aos 3 de Setembro de 1999
uma hora e seis minutos da manhã
boa noite
121
Buracos Negros Epílogo
Anexo
Figura 34
Consideremos uma partícula que se move num círculo (figura t). No instante t a
partícula está em D, com velocidade v1 na direcção DE. Pela primeira lei de Newton,
se não existisse nenhuma força a actuar sobre o corpo, ele continuará em movimento
na direcção DE. Após t, o ponto está em G, e percorreu a distância v t , e está com
velocidade v 2 , de mesmo módulo v, mas com outra direcção. Seja o ângulo entre o
ponto D e o ponto G. também é o ângulo entre v 1 e v 2 :
vt v
r v
e portanto:
v v 2
t r
122
Buracos Negros Epílogo
v2
F m
r
2 - O Limite de Roche
Uma consequência das forças de maré é que um satélite não se pode chegar
muito perto de seu planeta sem se desintegrar. O limite de Roche é a distância mínima
ao centro do planeta, a que um satélite pode chegar, sem se tornar instável e se
desagregar.
Em 1850, o astrónomo francês Edouard Roche (1820-1883) demonstrou que,
para um satélite fluído, mantido apenas por sua auto-gravidade, de densidade média
m, orbitando em torno de um planeta de densidade média M e raio R, a distância
mínima entre o planeta e o satélite de modo a que o satélite possa orbitar estavelmente
é dada por:
1
3
d 2,44 M R
m
Gmm
FG
dr 2
e a força de maré de um corpo de massa M, e a uma distância d, sobre elas será:
2GMmdr
FM
d3
Gmm 2GMmdr
dr 2
d3
e
1
2M 3
d dr
m
123
Buracos Negros Epílogo
seja
M
M
4 3
r
3
e
2m
m 3
8 dr
3 2
então:
1 1
1 3 3
d 16 3 M R d 2,51 M R
m m
124
Buracos Negros Epílogo
Bibliografia
Livros
125
Buracos Negros Epílogo
Tipler, Paul; Física (vol. 1, 2, 3, 4); Livros técnicos e científicos editora; Brasil
1995
Thorne, Kip S.; Black holes & time warps; Papermac Publishers; USA 1994
Revistas e artigos
http://www.intothecosmos.com/blackholes.html
http://library.advanced.org/12523/infopg.html
http://alf1.cii.fc.ul.pt/~gil/HyperQED/HyperQED.html
http://www.newtonphysics.on.ca/EINSTEIN/Contents.html
http://www.colebrooke.ndirect.co.uk/astro.htm
http://pcastro7.if.ufrgs.br/index.htm
http://www.nasa.gov/
http://www-groups.dcs.st-and.ac.uk/~history/index.html
http://www.jtwinc.com/Extrasolar/
http://www.astronomy.com/
http://www.discovery.com
http://www.sciam.com
126
Buracos Negros Epílogo
davidferreira@portugalmail.pt
Centro de Astrofísica
Departamento de Matemática Aplicada
Faculdade de Ciências da Universidade do Porto
Mestrado em Astronomia
Ano Lectivo 1998/99
127