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UNIDADE DIDÁTICA VII – ÁSIA

1. O PROTAGONISMO ASIÁTICO NO SÉCULO XXI

As atuais projeções para o Século XXI, mais propriamente para a sua primeira
metade, situam a região da Ásia-Pacífico como o grande foco de crescimento
mundial. Com efeito, a emergência da China como grande potência econômica
parece provocar o deslocamento do núcleo geoestratégico mundial. Destarte o
protagonismo do poder terrestre no século XXI talvez venha do império do meio, da
Índia, do Japão e dos Tigres Asiáticos. Por isso, alavancando o crescimento de toda
a região do pacífico, China experimenta uma sensível transformação de sua
amplidão geográfica em riquezas econômicas e projeta sua hegemonia construindo
infraestruturas de integração regional por toda a Ásia, inclusive disputando com
russos e americanos a influência sobre os recursos petrolíferos da Ásia Central e do
Oriente Médio. Para o geopolítico brasileiro Leonel Almeida Mello (1999), a rápida
ascensão econômica chinesa a transforma no novo Estado-Pivô da Eurásia.
Passaremos agora a apresentar o processo de inserção do continente
asiático no sistema capitalista contemporâneo, enfocando os principais centros de
poder na região. Um aspecto comum entre os países asiáticos foi o forte controle do
Estado na ordem econômica e nas políticas de investimento, num passado recente.
Esse domínio estatal, sobre as redes de empresas privadas, determinava onde e
como deveriam ser aplicados os recursos, garantindo o processo de transição das
economias em fase de industrialização. O extraordinário crescimento econômico e a
modernização desses países não foram possíveis sem uma transformação
econômica e social, em um contexto de controle econômico e de repressão política e
ideológica (CASTELLS, 1999). Passaremos agora a ver mais detalhadamente
alguns casos.
O Japão emerge no cenário internacional na segunda metade do século XIX.
A Revolução Meiji (1868) restaurou o poder imperial no Japão, retirando dos xoguns
o poder feudal que exerciam. Podemos citar que esse período representou de
grande mudança no
Japão:
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1. Fim da estrutura feudal e eliminação da casta dos samurais e de seus direitos de


pensão e de espada;
2. Obrigatoriedade do ensino primário (1886);
3. Implantação do serviço militar e reestruturação das forças armadas segundo os
modelos prussiano e francês;
4. Transferência da capital do país, de Kioto para Edo, que recebeu posteriormente
o nome de Tóquio;
5. Instituição da imprensa e dos serviços postais;
6. Construção de infraestrutura ferroviária;
7. Fundação do Banco do Japão;
8. Aprovação de uma Constituição, em 1889, que estabeleceu a divisão de poderes
(Legislativo, Executivo e Judiciário) e designou o imperador como chefe supremo do
país.
Entretanto, a falta de recursos naturais no território japonês dificultava o
desenvolvimento industrial do país. Por esse motivo, o imperador adotou uma forte
política militar no sudeste asiático, através da incorporação de novos territórios. O
imperialismo japonês foi um dos motivos que empurrou o país ao conflito mundial.
O processo de desenvolvimento japonês se intensificou na década de 1950 e
era coordenado pela burocracia do Estado, que orientava e organizava as empresas
em redes, apoiando as políticas de comércio, de tecnologia e o crédito para
competirem na economia mundial. Durante muito tempo, o Japão investiu em
setores de tecnologia da informação essenciais à economia global.
Esse desempenho contou com a estabilidade social e a alta produtividade da
força de trabalho, além da estabilidade política assegurada pela aliança de
interesses público-privado (CASTELLS, 1999).
Já os países do Extremo Oriente e do Sudeste Asiático adotaram um modelo
de industrialização diferente do que existe nos países latino-americanos. Com efeito,
a Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong (incorporado à China desde 1997)
se industrializaram sob as seguintes condições:

1. Direcionamento da economia para o mercado externo, constituindo verdadeiras


plataformas de exportação ou países oficinas;
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2. Parceria entre o Estado ditatorial e os conglomerados empresariais (Chaebols)


capazes de ocupar posições vantajosas no mercado internacional;
3. Emprego de mão de obra barata, embora beneficiada por grande investimento em
educação;
4. Ética voltada para a disciplina, o trabalho e sentimento de coesão nacional;
5. Política de desvalorização cambial, tomando medidas protecionistas (tarifárias)
contra os concorrentes estrangeiros;
6. Restrições ao funcionamento dos sindicatos, canalizando grandes investimentos
para a educação, restringindo o consumo para elevar o nível de poupança interna;
7. Controle das importações, além de realizar grandes investimentos em
infraestrutura.
A adoção de uma política de exportação agressiva, baseada em produtos de
elevado valor agregado (aparelhos elétricos, eletrônicos, automóveis, computadores
etc.), colocou os Tigres Asiáticos entre os principais exportadores do mundo. Por
outro lado, a escassez de recursos naturais, associada à melhoria do padrão de vida
da população e à abertura econômica, promoveu o aumento das importações nas
últimas décadas.

Vejamos as características da industrialização dos “Dragões ou Tigres Asiáticos”

a) plataformas de exportação (produção de manufaturados de baixo investimento


tecnológico, com incentivos governamentais a investimentos japoneses e
americanos);
b) Coréia Sul e Taiwan representaram, com influência do Ocidente, um cinturão
geopolítico capitalista em torno da China. Produzem atualmente mercadorias de
média e alta sofisticação tecnológica, como microcomputadores, calculadoras,
aparelhos óticos;
c) Hong Kong e Cingapura - são núcleos urbanos internacionalizados situados em
rotas marítimas estratégicas; eram entrepostos de reexportação de manufaturas ou
produtos primários; atualmente são paraísos fiscais atraindo bancos internacionais e
conglomerados industriais (também devido à mão-de-obra barata e qualificada).
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Entre os fatores de crescimento da periferia imediata do Japão estão os


seguintes pontos:

a) Elementos “imitativos” do padrão capitalista japonês:

• Exploração da força de trabalho, relativamente barata, o que compensa a falta de


matérias-primas; as férias são muito reduzidas, a jornada de trabalho elevada (53 h
semanais na Coreia) e a previdência social muito restrita;
• Posição geopolítica estratégica: tal como o Japão, esses quatro países eram vistos
pelo Ocidente capitalista como “bastiões” contra o socialismo, posicionados que
estão em áreas-chave para a política e o comércio no Oriente;
• Ética confucionista a qual, como o Japão, estabelece um modelo socioeconômico
que enfatiza o “equilíbrio” social, a consciência de grupo (consenso), a hierarquia, a
disciplina e o nacionalismo;
• Importante papel do Estado no planejamento econômico, promovendo a poupança
interna, muito acentuada nos quatro países;
• Concentração capitalista nas mãos de grandes corporações que não seguem leis
antitrustes como as norte-americanas; é especialmente o caso da Coreia, onde os
cinco maiores conglomerados (os chaebol) respondem por 22% das vendas
industriais;
• Distribuição mais equilibrada de renda em relação a outros países capitalistas,
inicialmente incentivada pela reforma agrária (na Coréia e Taiwan), tal como no
Japão, e hoje por algumas leis oficiais;
• Importante estímulo à educação, como forma de atingirem postos mais elevados e
melhores empregos; investimentos na qualificação da mão de obra e em novas
tecnologias, fato mais recente que tem levado a um aumento na produtividade.

Já os elementos mais específicos dos tigres asiáticos seriam os seguintes:

• Superexploração da força de trabalho, com pouca assistência ao trabalhador em


termos de seguro-desemprego, aposentadoria (que só em 1988 foi criada na Coreia)
e mesmo salário mínimo; fortes restrições ao sindicalismo;
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• Estados altamente centralizados e ditatoriais, apenas recentemente em lento


processo de distensão, com maior intervenção estatal na economia do que no Japão
(ex.: na Coréia e Formosa o setor bancário é estatizado);
• Economias voltadas fundamentalmente para o mercado externo, e mais abertas ao
capital estrangeiro do que o Japão, criando inclusive Zonas de Processamento de
Exportações (ZPEs) liberadas ao capital externo;
• Importante indústria bélica em Formosa e Coreia do Sul, muito fortalecida durante
a Guerra do Vietnã, o que impulsionou a indústria de base, mas que por outro lado
alia-se a elevados gastos estatais com a defesa.
(Fonte: Haesbaert, Rogério (1994) Blocos Internacionais de Poder)

A entrada da China na economia moderna teve início na década de 1980, por


meio da política de Zonas Econômicas Especiais (ZEE), que oferecia mão de obra e
terra barata, isenção tributária e disciplina aos investidores estrangeiros. Com estas
zonas, pretendia-se atrair o capital e a tecnologia estrangeira, mas sob um controle
rígido do Estado, na tentativa de não “contaminar” o comunismo (CASTELLS, 1999).
Essa primeira tentativa fracassou, já que o interesse das empresas multinacionais
estava em semear investimentos em busca de expandir os seus mercados. No
entanto, o objetivo da China era encontrar meios para exportar produtos
industrializados e importar tecnologia. As empresas estrangeiras reagiam limitando
investimentos, retendo tecnologia e negociando fatias de mercado diretamente com
o governo (CASTELLS, 1999). Até o início de 1990, as empresas norte-americanas
e europeias importavam até 90% dos insumos necessários para a fabricação de
seus produtos na China, ocasionando uma redução em seus lucros por conta dessa
importação. Com o tempo e a abertura do mercado chinês, os insumos passaram a
ser substituídos pelo produto nacional, o que barateou a produção.
Importante notar que os investimentos na China (1992) originaram-se em sua
maior parte de Hong Kong e Taiwan (71,7%), com o restante proveniente dos EUA
(7%) e do Japão (5,8%) (CASTELLS, 1999). Em contrapartida, uma parte
substancial das exportações chinesas era destinada à Europa Ocidental e aos
Estados Unidos.
A competitividade chinesa teve como bases pesados investimentos em
“know-how” e a especialização na produção de bens que atendessem à demanda
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externa. Houve a busca de cooperação com parceiros institucionais (bancos,


financeiras, governos etc.) para desenvolver centros financeiros e avançados na
China, constituindo o elo básico entre a China e a economia global. Vejamos agora o
surgimento e a evolução das principais organizações asiáticas:

PAFTA - A primeira tentativa asiática de cooperação ou integração regional


surgiu em 1965, por iniciativa do Japão, que buscava desenvolver uma área de livre
comércio: a PAFTA (Pacific Asian Free Trade Area). A proposta previa como países
membros os Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Japão, com a
possibilidade de entrada de países em desenvolvimento da região. Mas fracassou
basicamente por dois motivos. O primeiro foi a ênfase dada à presença ocidental,
vista com ressalva pelo Sudeste Asiático, e o segundo foi a própria indisposição dos
EUA em abrir mão dos seus interesses em benefício do grupo.
ASEAN - A Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) surge em
1967, na Tailândia, com o objetivo de assegurar a estabilidade política e de acelerar
o processo de desenvolvimento da região. representa um mercado de 527,9 milhões
de pessoas e um PIB de US$ 888,3 bilhões, com exportações da ordem de US$
293,1 bilhões e importações alcançando os US$ 257,9 bilhões. Mas a cooperação
só se tornou possível com a solução das questões territoriais de países como
Indonésia, Malásia e Filipinas; com a separação de Cingapura da Federação Malaia;
e com a instalação de governos pró-ocidentais na Indonésia e Filipinas (Oliveira,
2002). Em 1992 foi assinado um acordo para eliminar as barreiras econômicas e
alfandegárias entre os países, que entrou em vigor no ano 2000. Com sede em
Jacarta (Indonésia), a Asean desenvolve programas de cooperação nas áreas de
transporte, comunicação, segurança, relações externas, indústria, finanças,
agricultura, energia, transporte, tecnologia, educação, turismo e cultura.
Alguns acordos foram estabelecidos entre os países integrantes da ASEAN.
Em 1992 foi criada a zona de livre comércio e implantada gradativamente até 2008.
Outros projetos estão sendo criados com o intuito de facilitar a circulação de
pessoas e de negócios, fortalecer as instituições da ASEAN e acelerar a integração
regional nos setores prioritários (viagens aéreas, produtos eletrônicos, pesca, saúde,
produção à base de borracha, têxteis, madeira e confecções, turismo).
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A Associação das Nações do Sudeste Asiático busca a integração econômica


entre os países membros, pretendendo obter desenvolvimento econômico com
equidade, e redução da pobreza e desigualdade socioeconômicas até 2020.
A APEC - A Cooperação Econômica da Ásia e do Pacifico (APEC), bloco
econômico desde 1989, reúne países como Austrália, Brunei, Canadá, Indonésia,
Japão, Malásia, Nova Zelândia, Filipinas, Cingapura, Coreia do Sul, Tailândia,
Estados Unidos e China, que tem como seu representante Hong Kong. Os últimos
países a ingressarem foram Taiwan (1991), México e Papua-Nova Guiné (1993),
Peru (1994) e Rússia e Vietnã (1998).
A APEC também visa a implantar a livre circulação de mercadorias, capitais e
serviços entre os seus integrantes. Busca se fortalecer diante do mercado
internacional e, principalmente, ter capacidade para concorrer com a União
Europeia. Os países que compõe a APEC totalizam 2.559,3 milhões de pessoas e
apresentam um PIB expresso em dólares de 18.589,2 trilhões. O volume de
exportação move uma receita de aproximadamente 2.891,4 trilhões de dólares e nas
importações o volume atinge cifras de cerca de 3.094,5 trilhões de dólares.
Diante desse imenso potencial comercial e financeiro, a APEC consegue
movimentar aproximadamente 55% do PIB internacional e 40% de todas as relações
comerciais realizadas no planeta. Apesar desse resultado, há muita disparidade
entre os países e as trocas comerciais não favorecem a todos no bloco. A previsão é
que até 2020 esteja em vigor a livre circulação de mercadorias, capitais e serviços
em sua totalidade (FREITAS, 2009).
A SAARC - A Associação Sul-Asiática para Cooperação Regional (SAARC),
criada em 1985, tem como participantes países como Bangladesh, Butão, Índia,
Maldivas, Nepal, Paquistão, Sri Lanka e, apesar da rivalidade história existente entre
os dois membros mais importantes, a Índia e o Paquistão.
A cooperação na SAARC é baseada no respeito pelos princípios da soberania
igualitária, na integridade territorial, na independência política, na não interferência
nos assuntos internos de cada estado-membro e no benefício mútuo. Essa
associação visa prover para a população sul-asiática um ambiente de amizade,
confiança e compreensão, melhorando a qualidade de vida através do crescimento
econômico acelerado, do progresso social e do desenvolvimento cultural da região.
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As áreas de cooperação em que a SAARC trabalha são as seguintes:


agricultura e desenvolvimento rural; saúde e atividades da população; cuidados da
mulher, da criança e do adolescente; meio ambiente e preservação florestal; ciência,
tecnologia e meteorologia; desenvolvimento dos recursos humanos e transportes.
Atualmente, outras áreas começaram a ser desenvolvidas, como a biotecnologia, o
turismo e a energia.
A SAARC possui um PIB de quase US$ 700 bilhões e uma população de
aproximadamente 1,3 bilhões de habitantes – a mesma da China. Sua taxa de
exportação corresponde a 0,8% da mundial e a de importação 1,3% da taxa
mundial. Sua extensão é de mais ou menos 4,4 milhões de quilômetros quadrados.
As reformas liberalizantes adotadas no bloco fizeram da Índia uma economia
em rápido crescimento em áreas modernas, como a informática.
A CEI - A Comunidade dos Estados Independentes (CEI) é uma organização
extragovernamental, fundada em 1991, composta por antigas repúblicas soviéticas
e, de certa forma, sucessora parcial da antiga União Soviética. Inicialmente, essa
comunidade era composta por: Bielorrússia, Ucrânia, Rússia, Armênia, Azerbaidjão,
Cazaquistão, Moldávia, Usbequistão, Quirguistão, Tajiquistão, Turcomenistão e
Geórgia.
Os membros da CEI atuam como estados independentes. À unidade central,
formada de modo semelhante à União Europeia, foi conferida uma autoridade
limitada, que inclui o estabelecimento de estatutos econômicos comuns, a
coordenação na política exterior e de imigração, a proteção do meio ambiente e a
luta contra os delitos transnacionais.
Desde sua fundação, a CEI tem se caracterizado pelas disputas entre os
estados-membros e o não cumprimento de alguns dos acordos iniciais da
Comunidade. Por exemplo, o direito de possuir suas próprias forças armadas ou
unidades de guarda nacional; a adoção do rublo russo como unidade monetária
comum; o respeito aos direitos humanos; a preservação das culturas das diferentes
etnias minoritárias; e reformas para a condução a uma economia de livre mercado.
No entanto, as diferenças étnicas e regionais, contidas durante décadas pela
autoridade central soviética, ressurgiram na forma de conflitos armados na Geórgia,
Moldávia, Tajiquistão, região do Cáucaso da Rússia, Armênia e Azerbaidjão.
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Desde 2005, o Turcomenistão não é mais membro permanente da entidade,


atuando apenas como membro associado. Em 2009, a Geórgia retirou sua
participação na CEI após o apoio da Rússia à independência da Ossétia do Sul e da
Abecásia.
Assim, a integração da Ásiacom o mercado global, por intermédio de
importantes países asiáticos e organizações regionais como APEC e a ASEAN, têm
buscado uma maior proximidade com países-chave do Terceiro Mundo,
particularmente com os chamados mercados emergentes, como o conjunto da África
Austral nucleado pela África do Sul pós-Apartheid e como o Mercosul,
particularmente com o Brasil. Assim, o Oceano Índico estaria se constituindo numa
espécie de rota de ligação com o Sul. A cooperação mais estreita com estas regiões,
apesar de atualmente possuir um impacto limitado no plano puramente econômico,
tem um potencial promissor a médio e longo prazo, além de constituir um elemento
estratégico nas disputas com os polos desenvolvidos do hemisfério Norte. Não se
pode deixar de considerar que, pelo fato de o polo asiático constituir em linhas
gerais uma área em desenvolvimento, existe um amplo espaço para o
estabelecimento de uma parceria estratégica, capaz de influenciar o futuro perfil da
ordem internacional emergente.
Mais recentemente, a China alcançou um crescimento admirável e assumiu
em 2013 a segunda posição entre as maiores economias do mundo. Depois da
Revolução Cultural (1966-1976) que atormentou o Ocidente, a China seguiu um
caminho parecido ao da Rússia no sentido de abrir-se para a economia de mercado
e para o consumismo. Hoje é considerado o segundo maior consumidor de petróleo
e gás (desbancando o Japão), tem o terceiro maior mercado automobilístico do
mundo e, se o ritmo se mantiver, ocupará o segundo lugar atrás da Alemanha,
desbancando os EUA. Essa situação é motivada pelas políticas do governo chinês,
como o controle das tarifas sobre o combustível, a redução do imposto de compra
de carros de baixa emissão e os subsídios para a venda de veículos nas áreas
rurais.
Apesar do fabuloso crescimento econômico alcançado em 30 anos, a China é
marcada pelo aprofundamento das desigualdades sociais e regionais e pela
resistência do governo em promover reformas políticas. O liberalismo econômico é
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comandado pelo Estado, subordinado a um partido único, que persegue dissidentes,


censura a imprensa e controla manifestações religiosas.
A Índia, em 2013 a décima economia mundial, teve sua economia
impulsionada por um processo de abertura ao capital estrangeiro, associado à
política de desregulamentação e de privatização. Com isso, atraiu novos
investimentos estrangeiros, principalmente norte-americanos e japoneses, quando
essa situação foi favorecida pela mão-de-obra barata e o crescimento do mercado
interno. Os contrastes socioeconômicos ainda são marcantes. Ao mesmo tempo em
que é imensa a legião de pobres, o país dispõe de uma indústria de alta tecnologia,
sendo o maior exportador de softwares do mundo, além de máquinas, produtos
eletrônicos, produtos químico-farmacêuticos etc.
O Japão, atualmente a terceira maior economia mundial, com a Cooperação
Econômica da Ásia e do Pacifico (APEC) e sua aproximação com os Tigres
Asiáticos, a Índia com a Associação Sul-Asiática para Cooperação Regional
(SAARC), a Rússia com a Comunidade de Estados Independentes (CEI), entre
outros, seriam exemplos de polos asiáticos de poder. Dependendo da profundidade
que a integração da ASEAN venha a alcançar, ela poderia desempenhar um
importante papel no sentido de aproximar economias e culturas tão distintas, em um
continente com tão elevado potencial em todos os campos do poder. Como se pode
perceber, a Ásia concentraria a metade dos polos de poder de um sistema
multipolar, evidenciando que a ascensão da região não seria apenas econômica,
mas igualmente político-estratégica.
Apenas a situação do Oriente Médio permanece fluída e incerta. Por conta de
interesses políticos, religiosos e fundamentalistas – de forma geral todos
intencionalmente trabalhados por lideranças que não priorizam o desenvolvimento
social e econômico de sua população – essa região ainda não superou a etapa
inicial da consolidação de interesses comuns, em detrimento das rivalidades
históricas. Somente depois de superada essa etapa, será possível a organização
dos países do Oriente Médio em blocos que potencializem suas capacidades.
O desenvolvimento de armas nucleares por parte da Coreia do Norte tem
trazido preocupações na comunidade internacional, particularmente pela
instabilidade política que seu governo tem trazido à região. Sua inclusão nesse
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seleto grupo, já composto pela Rússia, China, Índia e Paquistão, tem sido analisada
de formas distintas na comunidade internacional. Enquanto para o Ocidente e para
os países vizinhos esta corrida evidencia a ascensão da rivalidade e da
desconfiança entre os Estados asiáticos, para o governo coreano representa a
capacitação e modernização militar, como forma de dissuadir coletivamente
possíveis ingerências contra sua soberania (PINTO, 2008).

2. ÁSIA CENTRAL: JOGO DE PODER

A Ásia Central, situada a Leste do mar Cáspio, compreende o Cazaquistão, o


Quirguistão, o Tadjiquistão, o Turcomenistão e o Uzbequistão. Existe uma história
comum entre estas repúblicas, pois todas pertenceram à ex-URSS e são muito
interdependentes, devido ao modo como partilham os recursos naturais na região. O
Quirguistão e o Tajiquistão tutelam os recursos hídricos, enquanto a Geórgia, o
Cazaquistão, o Turcomenistão e o Uzbequistão possuem gás natural e petróleo.
Entre os países da Ásia Central, após a independência da antiga URSS,
surgiu a necessidade de consolidação do Estado recém-constituído e de adaptação
à economia internacional. Ao mesmo tempo, os regimes autoritários que detém o
poder nestes novos Estados esforçam-se por se tornarem autônomos e mais
independentes, de maneira a reforçarem a sua identidade e deixarem de depender
dos vizinhos. Essa estratégia passa, sem sombra de dúvida, pela diversificação das
relações com as grandes potências (EUA, Rússia e China).
A dificuldade que todos sentiram inicialmente estava na dependência ao
sistema soviético e na instabilidade regional provocada pela presença de grupos
radicais nacionalistas e terroristas. Esses conflitos, classificados na Ásia Central
como de cunho étnicos ou religiosos, na maioria das vezes são originados por
motivos de apropriação do poder econômico e político.
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Mapa 1: Ásia Central - Fonte: www.gl.iit.edu

O interesse de grupos nacionais e internacionais na Ásia Central gira entorno


principalmente das extensas reservas de petróleo e gás natural, que propiciam
cenários de produção e de exportação para o mercado europeu e asiático. Além
desse aspecto, existe o interesse estratégico graças à proximidade desta região com
os territórios do Afeganistão, do Irã, da Rússia e da China. É ainda, a região que
viabiliza a ligação terrestre entre a Europa e a Ásia (chamada de “A Rota da Seda”
de Marco Polo). EUA, China e Rússia envidam esforços para maximizar suas
influências sobre a região, tendo em vista seu grande valor estratégico.
Com a desintegração da União Soviética no início de 1990, os países da Ásia
Central passaram a integrar a Comunidade de Estados Independentes (CEI),
liderada pela Rússia, que continuou a manter um relativo controle sobre a economia
e a segurança desses Estados.
A CEI é uma organização supranacional fundada em oito de dezembro de
1991, envolvendo repúblicas que pertenciam à antiga União Soviética (inicialmente
integrada por Bielorrússia, Ucrânia, Rússia, Armênia, Azerbaidjão, Cazaquistão,
Moldávia, Uzbequistão, Quirguistão, Tajiquistão, Turcomenistão e Geórgia). Este
novo acordo de união política teve como principal impulsionador o presidente russo
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Boris Ieltsin e marcou a dissolução da União Soviética. Cada estado-membro


mantém a sua independência; as outras repúblicas da antiga União Soviética são
bem-vindas como novos membros da Comunidade; qualquer república é livre de
abandonar a CEI após ter anunciado essa intenção com um ano de antecedência;
os membros devem trabalhar em conjunto para o estabelecimento de economias de
mercado; o antigo rublo soviético é a moeda comum dos estados-membros; a
Comunidade fica sediada em Minsk, Alma-Ata e São Petersburgo.
Lituânia, Estônia e Letônia nunca fizeram parte do grupo. Desde 2005, o
Turcomenistão não é mais membro permanente da entidade, atuando apenas como
membro associado. A Geórgia se desligou do Grupo em 2009, devido ao apoio
russo às causas de independência da Abecásia e da Ossétia do Sul.
A CEI funciona como a Francofonia, porém não é caracterizada por uma
língua oficial, e sim pelo passado soviético. Não há horizonte de União Monetária, só
existindo entre Rússia e Bielorrússia.
A Rússia, buscando estender sua influência econômica na região, tornou-se
grande financiadora de suas ex-repúblicas, por intermédio da Comunidade
Econômica Eurasiática (CEEA ou EURASEC). A EURASEC é uma organização
regional criada em 2000 para abolir as fronteiras aduaneiras entre os Estados-
membros (Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia e Tajiquistão), além de
elaborar a política econômica, tarifária, de preços únicos e outros componentes de
funcionamento do mercado comum. Quando comparada ao Fundo Monetário
Internacional, por exemplo, a CEE tem muito mais flexibilidade por impor melhores
condições aos seus financiamentos, o que garante grande fidelidade dos países do
grupo à política russa. Assim, a Federação Russa tem conseguido fazer prevalecer
seus interesses na Ásia Central, em detrimento dos demais países ocidentais.
Mas não é só no campo econômico que a Rússia tem buscado aumentar sua
presença na área. Depois de um declínio na influência militar, bases militares russas
foram instaladas no Quirguistão, no Tajiquistão e no Uzbequistão. Foi, ainda,
assinado um tratado de defesa bilateral com o Cazaquistão. Os russos estão
voltando à Ásia Central para garantir a estabilidade e os seus novos investimentos
na infraestrutura e no setor de energia.
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Após o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001 à Nova Iorque, os EUA,


usando como argumento a necessidade de desmobilização do terrorismo e o
combate ao Talibã no Afeganistão, estabeleceram bases militares no Afeganistão,
no Cazaquistão, no Quirguistão, no Tajiquistão e no Uzbequistão. Essas bases não
têm apenas significado militar para a arquitetura de segurança da Ásia Central, mas
também significam o controle de uma região estratégica entre o sul da Ásia, a
Rússia e a China.
Além disso, os EUA têm buscado firmar parcerias na região, a fim de garantir
espaços para o fluxo comercial, evitando o transporte de produtos em território
russo. Atualmente, o Afeganistão, que somente não tem fronteira com o
Cazaquistão, é a principal entrada norte-americana na Ásia Central. Para a China e
a Rússia, essa presença dos EUA complementa a estratégia norte-americana do
estabelecimento de um “cinturão de contenção”.
Em 2001, com o intuito de contrabalançar a presença norte-americana na
região e principalmente conter o terrorismo e o separatismo, foi fundada a
Organização de Cooperação de Shangai1 (OCS ou SCO) pela China, Rússia,
Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Uzbequistão. Esses países também temem
que a presença dos EUA na região comprometa os esforços empreendidos pelos
governos para concessão da exploração e construção de oleodutos.
Recentemente a SCO está se tornando um bloco energético-financeiro na
Ásia Central, sendo um contraponto à hegemonia norte-americana. Seu potencial
deverá ser ampliado, em função da intenção de seus integrantes em promover uma
aproximação com Índia, Irã, Mongólia e Paquistão.
Na SCO, ao aproximar-se do Irã, a China está demarcando suas prioridades
na Ásia Central e em todo o mundo. Pequim compra grandes quantidades de
petróleo de seus vizinhos, apesar das críticas em todo o mundo ao desempenho da
região em matéria de direitos humanos. A China fechou em 2005 um importante
acordo petroleiro com o Uzbequistão apenas algumas semanas depois de uma
sangrenta repressão de protestos de oposição nesse país da Ásia Central.

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Sua finalidade principal é a cooperação para a segurança (em especial, quanto a terrorismo, separatismo e
extremismo), embora também trate de temas de cooperação nas esferas política, econômica, comercial, técnico-científica,
cultural e educacional.
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Em contraste com as intenções "democratizadoras" dos Estados Unidos na


Ásia Central, a OCS já deixou claro que não se envolverá em assuntos de
segurança internos às fronteiras de cada um de seus membros. Ao promover um
modelo próprio de desenvolvimento asiático e diferente do norte-americano, a China
se converte em um líder cada vez mais atraente para outros países centro-asiáticos,
que não têm intenção de mudar suas políticas internas, principalmente no que diz
respeito à política e aos direitos humanos.
A Ásia Central, atualmente, constitui-se terreno de disputas internacionais,
envolvendo principalmente a Rússia, EUA e China, que buscam preservar seus
interesses na região por sua importância geopolítica2.
No cenário da Guerra Fria, a influência russa na região era inquestionável.
Todos os oleodutos da região passavam por terras soviéticas. Na nova ordem
mundial, tanto os EUA, como a Rússia e a China têm exercido influência junto aos
países da região, ora por meio de organizações multilaterais (já abordadas nessa
UD), ora por meio de relações bilaterais. Segundo Genté (2007), as relações
geopolíticas que envolvem a Ásia Central são as chamadas do “Grande Jogo”, onde
todas as estratégias são válidas e utilizáveis, com a finalidade de legalizar e justificar
as atuações dos países interessados na região.
Consórcios e parcerias com empresas estrangeiras, principalmente ocidentais
e chinesas, foram formados para a exploração dos recursos da região. Os EUA, por
exemplo, construíram, a partir de 2003, o oleoduto BTC (Baku-Tbilisi-Ceyhan) e o
gasoduto BTE (Bakou-Tbilissi-Erzurum), capazes de transportar óleo e gás do
Azerbaijão, percorrendo o território da Geórgia e terminando na Turquia, escoando o
produto para o ocidente por cerca de 1600 quilômetros, sem passar por terras
russas. O BTC e o BTE representam uma vitória ocidental em matéria de contenção
da Rússia e de apoio à independência das repúblicas do Cáucaso e Ásia Central.
Tais oleodutos oferecem aos Estados Unidos e à Europa a possibilidade de lançar
outros projetos para diversificar suas fontes de abastecimento e incluir em seu
círculo político os novos Estados independentes da região.

2
Grandes reservas de petróleo e gás natural; proximidade com os territórios do Afeganistão, do Irã, da Rússia e da
China; região que viabiliza a ligação terrestre entre a Europa e a Ásia (“A Rota da Seda” de Marco Pólo), inclusive por uma
rede de oleodutos.
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Figura: www.veja.com.br

Os norte-americanos têm apoiado projetos bilaterais, buscando a construção


de novos oleodutos e gasodutos que liguem o ocidente aos países produtores da
Ásia Central. Esses novos empreendimentos, a médio e longo prazo tornariam o
mundo ocidental menos dependente de Moscou (a Rússia é grande exportadora de
petróleo para a Europa). Um dos principais projetos é o TAPI (Turcomenistão-
Afeganistão-Paquistão-Índia), onde a união destes países, por um gasoduto, além
de reduzir a influência russa e chinesa na região, isolaria o Irã (GENTÉ, 2009).
Além dos investimentos, os EUA têm mantido presença militar em quase
todos os países da Ásia Central. Sempre com a justificativa de combater o
extremismo talibã.
A Rússia, ainda tentando recuperar sua hegemonia perdida após a queda da
URSS, também usa o artifício dos organismos regionais para impor sua presença na
região, em particular pela Comunidade dos Estados Independentes (CEI), pela
Comunidade de Econômica Eurasiática (CEEA ou EURASEC), ou pela própria SCO,
que integra junto com a China.
17

Somando à presença nos organismos citados, a Rússia vem ampliando suas


bases militares nos países da Ásia Central. Não resta dúvida que a proximidade
física da Rússia junto aos países da Ásia Central, o relativo afastamento das demais
potências, e o temor do exército russo são fatores que naturalmente “motivam” os
países centro-asiáticos a não se aventurarem para fora da zona de influência russa.
A crise na Ucrânia começou em novembro de 2013 quando o governo do
então presidente ucraniano Viktor Yanukovych anunciou que havia abandonado um
acordo que estreitaria as relações econômicas do país com a União Europeia. A
pressão exercida pela Rússia fez o presidente Viktor Yanukovych refutar e
reestabelecer uma aproximação maior com Moscou.
Manifestantes contrários ao governo de Viktor Yanukovych, que lutavam pelo
fortalecimento das ligações da Ucrânia com a União Europeia, exigiram a renúncia
de Yanukovych e eleições antecipadas. Entretanto, fontes de Moscou acusam que o
ocidente patrocina a tensão no país apoiando grupos de extrema direita e
neonazista contra o governo pró-russa.
A Ucrânia tem laços econômicos tanto com a União Europeia quanto com a
Rússia. Os gasodutos russos para a Europa passam pelo país, fato que ficou
bastante claro em 2006 quando Moscou cortou o fornecimento de gás, soando um
alarme na Europa ocidental. As ações recentes para chegar a um acordo com a
União Europeia aumentaram a tensão com a Rússia, que as entendem como um
passo em direção à integração à União Europeia. A Rússia preferiria interromper
essa integração com os europeus para aumentar a influência de Moscou sobre a
Ucrânia por meio de uma união aduaneira.

Fonte:
Almanaqu
e Abril
2011.

A
maior
parte da
18

região da Crimeia habitada por moradores falantes de russo tem grande importância
política e estratégica tanto para a Rússia como para a Ucrânia. Além disso, a
esquadra russa no Mar Negro tem sua base histórica na cidade de Sevastopol. Após
a Ucrânia ter se tornado independente, um contrato foi elaborado para que a frota
continuasse a operar daquela região. Com efeito, em 2010, este contrato foi
estendido para 2024 em troca de suprimentos mais baratos de gás russo para a
Ucrânia.

Figura
:
www.v
eja.co
m.br

As
divisões na Ucrânia remontam a episódios muito anteriores à crise atual. O país tem
estado dividido entre leste e oeste desde o colapso da União Soviética em 1991 – e
a separação se reflete também na cultura e na língua. O russo é falado abertamente
em partes do leste e do sul. Em algumas áreas, incluindo a península da Crimeia,
ele é o idioma mais usado. Em regiões ocidentais - próximas à Europa - o ucraniano
é a língua principal e muitas pessoas se identificam com a Europa central. Essa
divisão normalmente se reflete nas eleições do país. As áreas com grandes
proporções de falantes de russo são aquelas nas quais Yanukovych foi mais votado
em 2010.
19

3. ORIENTE MÉDIO: REGIÕES DE GRANDES CONFLITOS

O Oriente Médio, logo após a Primeira Guerra Mundial, já era o maior


produtor petrolífero do mundo e, por isso, assim como a Ásia Central, já despertava
o interesse das grandes potências.
A Primeira Guerra Mundial veio demonstrar que o petróleo era imprescindível
e estratégico para todas as nações que buscavam o progresso. As empresas
europeias intensificaram as pesquisas em todo o Oriente Médio. Elas comprovaram
que 70% das reservas mundiais de petróleo estavam no Oriente Médio e
provocaram uma reviravolta na exploração do produto. Com o tempo, países como
Iraque, Irã e Arábia Saudita tornaram-se líderes na produção petrolífera.
Houve, então, uma partilha dos países do Oriente Médio entre França e
Inglaterra, que passaram a dominar as empresas de exploração de petróleo. Cerca
de 90% da produção mundial passou para o controle de um cartel constituído por
uma oligarquia de companhias petroleiras internacionais, conhecidas como as "Sete
Irmãs", das quais cinco eram norte-americanas.
Como consequência desse imperialismo, houve um grande êxodo rural na
região, o abandono do “campo” em busca das grandes centros econômicos,
principalmente do Egito para os países do Golfo Pérsico, provocando desequilíbrios
populacionais e econômicos. Apenas uma pequena classe de privilegiados tinha
acesso ao dinheiro, e os petrodólares ganhos eram investidos nos grandes centros
dos países ricos (EUA, Canadá, Japão, Grã-Bretanha, Alemanha, França e Itália),
restando 7% de investimentos aos 22 países árabes.
Na tentativa de sair do domínio das grandes companhias petroleiras, os
produtores de petróleo dos países árabes passaram a pressioná-las estabelecendo
uma divisão do lucro. Em 1960, é criada então a Organização dos Países
Exportadores de Petróleo (OPEP), cujos países membros são: Arábia Saudita,
Emirados Árabes Unidos, Irã, Catar, Kuwait, Iraque, Líbia, Indonésia, Nigéria,
Venezuela e Argélia, para organizar e fortalecer a política de independência frente
às grandes potências.
20

A incursão do Oriente Médio no domínio de suas produções de petróleo,


principalmente a partir de 1973, trouxe junto muitas guerras, concentração de renda
e aumento das desigualdades sociais.
O Oriente Médio hoje é visto como uma zona de tensão permanente e de
conflitos duradouros e persistentes. Nas quatro últimas décadas houve guerras civis
(Líbano), guerras entre Estados (Irã X Iraque), guerras contra uma coalizão de
Estados (Egito, Síria, Jordânia X Israel), revoluções (Irã), conflitos de cunho religioso
(Egito), guerras de países ocidentais contra regimes árabes (Estados Unidos/
Inglaterra X Iraque) e a ação deliberada de grupos terroristas, sediados no Oriente
Médio, no mundo (FILHO, 2007).
Os conflitos religiosos e territoriais, que sempre marcaram a região, se
intensificaram com a questão do petróleo. Portanto, o motivo da guerra está muito
além das diferenças religiosas. Passa pelo controle de fronteiras, de terras e, assim
como na Ásia Central, pelo domínio de regiões petrolíferas.
Ainda assim, nos últimos anos, o avanço do fundamentalismo islâmico e a
ação de grupos terroristas têm gerado conflitos em outras partes do mundo, como o
ataque as torres gêmeas em Nova Iorque (2001) e o atentado à bomba nos trens em
Madri (2004). A seguir, daremos destaque agora ao conflito árabe-israelense.
O conflito israel-palestino envolve a disputa dos dois povos pelo direito à
soberania e pela posse da terra ocupada por Israel e pelos territórios palestinos.
O impasse teve início no século 19, quando judeus sionistas expressaram o
desejo de criar um Estado moderno e criaram assentamentos na região, na época
controlada pelo Império Otomano.
Tanto israelenses quanto palestinos reivindicam sua parte da terra com base
na história, na religião e na cultura. Os israelenses representados pelo Estado de
Israel têm soberania sobre grande parte do território, que foi conquistado após a
derrota dos árabes em duas guerras: o Conflito Árabe-Israelense de 1948 e a
Guerra dos Seis Dias, de 1967.
Os palestinos representados pela Autoridade Nacional Palestina (ANP)
querem assumir o controle de parte dos territórios e estabelecer um Estado
Palestino soberano e independente. Após a vitória do Hamas (considerado pelos
EUA e por Israel como um grupo terrorista) nas eleições de 2006, a comunidade
21

internacional iniciou um bloqueio financeiro à ANP, que gerou uma grave crise nos
territórios palestinos.
O que se percebe é que os acordos entre os governos de Israel e Palestina
não garantem que as facções armadas das duas organizações deixarão de
enfrentar-se para consolidar seus territórios, nem soluciona a questão do
reconhecimento de Israel por parte dos palestinos. Os radicais, especialmente
aqueles ligados a organizações terroristas, certamente continuarão seus esforços
para impedir qualquer avanço em direção a uma solução negociada.
A situação transcende as fronteiras da Palestina e de Israel. Transcende,
inclusive, para o campo da política de Estado e do fundamentalismo religioso. A
partir da guerra no Líbano, formou-se uma coalizão de países politicamente
moderados, que inclui o Egito, a Arábia Saudita, a Jordânia e o Paquistão, opondo-
se ao que foi identificado como o eixo fundamentalista, integrado pelo Irã, Síria,
Afeganistão e Iraque. Ao mesmo tempo, a rivalidade religiosa potencializa os
conflitos, posto que, enquanto a maioria da população muçulmana é sunita em
quase todos os países, no Irã e no Iraque essa maioria é xiita. Complica, ainda, o
fato de que o alinhamento político ou religioso dos grupos que controlam o governo
não é o mesmo daquele alinhamento da maioria da população.
De forma semelhante, tais rivalidades se projetam nos grupos que dominam a
política na Palestina e no Líbano: enquanto grupos fundamentalistas como o Fatah e
o Hamas são sunitas, o Hezbolah é xiita.
Ainda assim estes países possuem suas próprias agendas. O Egito encontra-
se envolvido em questões como a manutenção da estabilidade regional, diante da
guerra aberta entre a Síria e o Irã contra Israel, e na sua própria disputa com o Irã
pela liderança no mundo árabe.
Para os israelenses, o Egito representa cada vez mais um dilema estratégico;
apesar de uma paz que já dura vinte e seis anos, o recente abandono da fronteira de
Gaza por parte das tropas israelenses deixou seu controle em mãos egípcias, o que
tem gerado um significativo aumento da capacidade dos grupos terroristas em Gaza
de se armar.
E Israel, por temor de uma deterioração das relações com Egito, tem tolerado
o tráfico de armas através da fronteira. Mas não há dúvida alguma que no momento
22

em que mísseis de longo alcance começarem a atingir áreas importantes do


território israelense ou eventualmente algum míssil antiaéreo for lançado pelos
palestinos a partir de território egípcio, os egípcios serão responsabilizados por
Israel, podendo ocasionar uma nova guerra.
O Egito e Irã, em sua disputa pela hegemonia na liderança do mundo árabe,
estão engajados numa corrida armamentista convencional. Certamente, o programa
nuclear iraniano apresenta um desafio a mais para os egípcios.
Os iranianos foram rápidos em explorar as oportunidades surgidas, atuando
como força desestabilizadora no Iraque e no entorno de Israel através de seu apoio
ao Hezbollah e ao Hamas. Com o desaparecimento da ameaça iraquiana, e a
presença das tropas norte-americanas no país, não há hoje no Golfo Pérsico
nenhuma força que possa se opor ao poderio militar convencional do Irã. Também
no Afeganistão, a influência iraniana dificulta o controle do Talibã e das forças do Al
Qaeda que lutam contra os EUA e seus aliados.

4. O SUDESTE ASIÁTICO

A denominação de “Tigres Asiáticos”, como vimos no item sobre o


protagonismo asiático no século XXI, foi dada pelos analistas internacionais ao
grupo de países que na década de 80 apresentaram um crescimento econômico
elevado e repentino, baseado em táticas agressivas de atração de capital
estrangeiro. O termo Tigres Asiáticos refere-se, de forma geral a Hong Kong,
Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan (Formosa).
Contudo, com o desenvolvimento econômico dos Tigres Asiáticos houve uma
expansão para os países vizinhos do sudeste asiático, o que proporcionou um
processo de industrialização na Indonésia, Vietnã, Malásia, Tailândia e Filipinas que
ficaram conhecidos como os Novos Tigres Asiáticos. Além dos investimentos dos
quatro Tigres originais, os novos Tigres passaram a fazer parte das redes de
negócios de empresas dos Estados Unidos, da China, do Japão e de outros países
desenvolvidos. Nesses novos Tigres foram instaladas indústrias tradicionais,como
têxteis, calçados, alimentos, brinquedos e produtos eletrônicos. Nesses países há
23

mão de obra menos qualificada que a encontrada nos quatro Tigres originais, porém,
muito mais barata.
Milhares de pequenas empresas surgiram para produzirem mercadorias sob
encomenda, criadas e planejadas em outros países do mundo. A China, por
exemplo, para fugir das salva guardas da indústria brasileira tem “etiquetado” seus
calçados no Vietnã e Malásia.
24

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

DANTAS, Tiago. Brasil Escola. Blocos Econômicos e Organizações Internacionais.


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Disponível em: http://diplo.uol.com.br/2007-07,a1606. Acesso: 18 de outubro de
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islâmico: propagação e perspectivas. In: ______. A supremacia americana e a
ALCA. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2003. p. 198 – 206.

OLIVEIRA, Henrique Altemani. A Ásia na atual conjuntura mundial. In: OLIVEIRA,


Henrique Altemani; LESSA, Antônio Carlos (Org.). Política internacional
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Perspectiva, 16 (1): 114-124, 2002. Disponível em: <http://www.pucsp.br/geap
/Blocos_Asiaticos_Relacionam_Br_Asia.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2009

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bras. polít. int. [online]. 2005, v. 48, n. 2. p.70-85. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbpi/v48n2/a04v48n2. pdf.> Acesso em: 10 fev. 2009.

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