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Governanças Policiais
Policial Especializada:
uma experiência bem-sucedida da Polícia
Militar de Minas Gerais na Gestão de
Dossiê
Universidade Federal de Minas Gerais), pós-doutorando em História Social da Cultura pela UFMG. Professor de Gestão de
Operações Policiais e Teoria de Polícia na Academia de Polícia Militar de Minas Gerais; de Lógica, Epistemologia e Análise
de Conflitos na pós-graduação em Mediação de Conflitos da Faculdade Batista de Minas Gerais. É oficial-adjunto do Time de
francis.cotta@bol.com.br
Resumo
A gestão de Eventos de Defesa Social de Alto Risco não se limita ao conhecimento da literatura sobre o que se convencionou
a chamar de gerenciamento de crises. Ela deve ser apreciada numa perspectiva micro, com foco na cena de ação. As
funções operacionais são previamente definidas respeitando-se a visão sistêmica da gestão, os direitos humanos e o uso
gradual da força. A ferramenta utilizada nesse processo denomina-se Protocolo de Intervenção Policial Especializada, que
possibilita o acompanhamento e a avaliação do desempenho de cada policial na cena de ação; auxilia o gestor no processo
de tomada de decisão e fornece dados para a responsabilização das ações policiais.
Palavras-Chave
Gestão policial. Eventos de Defesa Social de Alto Risco. Trabalho policial. Responsabilização.
Dossiê
cializou parte dos seus efetivos para o atendi- ções especiais. O conhecimento processual,
mento de situações que extrapolassem o poder advindo das práticas cotidianas na resolução
de resposta do patrulhamento preventivo coti- de problemas, apontou tanto para as poten-
diano. Assim, foram criados grupos especiais, cialidades quanto para as limitações logísticas
da Polícia Militar de Minas Gerais na Gestão de Eventos de Defesa Social de Alto Risco
Protocolo de Intervenção Policial Especializada: uma experiência bem-sucedida
ser utilizado pelas polícias brasileiras, consa- tente de dois oficiais da Polícia Militar do Es-
grando-se nos últimos anos como disciplina pírito Santo, condensou os preceitos teóricos
da malha curricular de vários cursos de for- da produção acadêmica sobre o “gerenciamen-
mação (curso técnico em segurança pública, to de crises no contexto policial” e os disponi-
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curso superior em gestão de segurança pública bilizou sob a forma de um curso pela Internet
e curso de bacharelado em ciências militares, (DORIA JÚNIOR; FAHNING, 2008).
com ênfase em defesa social, isso para citar o
caso de Minas Gerais). Em Minas Gerais, além das disciplinas in-
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Protocolo de Intervenção Policial Especializada: uma experiência bem-sucedida
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Ele não é um simples cumpridor de ordens,
As especificidades da gestão de é co-participante de um processo mais amplo
eventos de defesa social de alto risco que será acompanhado e avaliado. Um aspecto
Os eventos de defesa social de alto risco são as importante na construção do conceito de even-
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intervenções qualificadas em incidentes críticos tos de defesa social de alto risco é a necessidade
que extrapolam o poder de resposta individual da integração dos envolvidos na resolução do
dos órgãos que compõem o Sistema de Defe- incidente crítico.
sa Social e, portanto, necessitam de interven-
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Protocolo de Intervenção Policial Especializada: uma experiência bem-sucedida
tros órgãos do Sistema de Defesa Social. um staff composto por nove policiais: oito são
responsáveis pelas áreas e um por receber e en-
Para solução desta questão, elaborou-se o caminhar ao gestor do evento todas as informa-
Protocolo de Intervenção Policial Especializada, ções para tomada de decisão (assessor técnico do
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de ação. Esse instrumento também orienta a to- as intervenções iniciais na cena de ação. As
mada de decisão do gestor, oferecendo-lhe uma ações são flexíveis e adotadas de acordo com
série de alternativas que levam em consideração o desenrolar do evento. O ato de determinar
o uso progressivo da força, a legalidade, a ética, um servidor público para cada área de atua-
o respeito aos direitos humanos e os princípios ção faz com que esse profissional se dedique
técnicos e táticos da gestão de incidentes críticos. à realização de todas as minúcias com aten-
Os protocolos são traçados e os passos em que ção e zelo. Ele tem a consciência de que os
o trabalho será desenvolvido são concatenados aspectos sob sua responsabilidade são decisi-
numa ordem lógica, sistemática e coerente. Evi- vos para uma boa resolução do evento. Além
tam-se, assim, surpresas e inconsistências. disso, ele e seus colaboradores prestarão con-
ta do seu desempenho após o encerramento
da intervenção.
O Protocolo de Intervenção
Policial Especializada Inicialmente, o protocolo possui um ca-
O protocolo, impresso em três páginas, de- beçalho que pode ser utilizado para fins esta-
talha os seguintes aspectos da gestão: 1) proce- tísticos, para estudos, análises e localização da
dimentos iniciais na cena da ação; 2) processo de intervenção junto ao Sistema de Defesa So-
negociação; 3) administração dos talentos hu- cial. São oito itens que descrevem a tipologia
manos; 4) produção de informações; 5) gestão do incidente crítico, o número do Registro de
logística; 6) relacionamento com a imprensa e Defesa Social (REDS), onde o incidente crítico
com a comunidade local; 7) emprego da força e ocorreu, o tempo destinado à sua resolução,
estratégia operacional; 8) administração da ren- as viaturas e efetivos envolvidos. Por fim, traz
dição; 9) equipes táticas envolvidas; 10) resumo orientações para a mensuração das ações de-
do incidente crítico; 11) observações e sugestões senvolvidas na gestão do evento (Quadro 1).
e 12) fotos e croquis. Todos os oito grandes setores da gestão serão
permeados pela visão sistêmica, contendo as
O gestor escolherá um policial para coorde- ações a serem tomadas e as cinco colunas para
nar cada um dos aspectos do protocolo, que será mensuração (Quadro 2).
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Outro aspecto vislumbrado pelo proto- informações adquiridas pelo TGC, por in-
colo é o processo de negociação. Conhecido termédio de equipamentos e técnicas espe-
como a primeira alternativa tática na reso- cíficas, oferecem subsídios para o desenvol-
lução de um incidente crítico, ele é permea- vimento da argumentação e da elaboração
do por ações específicas, integradas e pon- do convencimento em situações que envol-
tuais. Os negociadores policiais atuam em vem libertação de reféns e intervenções em
perfeita sintonia com os demais integrantes situações com tentativa de autoextermínio
do Time de Gerenciamento de Crises. As (Quadro 3).
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O terceiro ponto do protocolo é a admi- aspecto fará a seleção dos especialistas de acor-
nistração dos talentos humanos. Aqui, cada en- do com as potencialidades técnicas de cada
volvido no processo de resolução do inciden- um, providenciará os meios para realização de
te crítico é cientificado das peculiaridades do simulações com vistas ao emprego tático dos
evento e das funções que irá desenvolver. O talentos humanos e estará atento para questões
responsável pela coordenação e controle desse de desgaste fisiológico (Quadro 4).
Quadro 4
Administração dos talentos humanos
rendição do perpetrador do incidente crítico, as Crises, que as socializa não somente para os
decisões são realizadas após análise criteriosa negociadores e líderes das equipes táticas, mas
das informações disponíveis. Dessa forma, o também para o Gabinete de Gestão do Incidente
protocolo destina um espaço para definir algu- Crítico (Quadro 5).
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Quadro 5
Produção de informações
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O provimento logístico eficaz, adequado e Sua atuação é abrangente e vai desde o “simples”
oportuno é alvo do quinto item do protocolo. fornecimento de água para os negociadores até a
A gestão logística é colocada sob a responsabili- verificação da disponibilidade de tecnologia não-
dade de um profissional experiente que conhece letal e de outros equipamentos, armamentos e
os meandros da gestão de um incidente crítico. munições para as intervenções (Quadro 6).
Quadro 6
Gestão logística
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Com acesso a informações verdadeiras e a cons- dos envolvidos e a garantia dos direitos indivi-
tatação de que o gestor do incidente crítico está duais devem estar na base da atuação e no trato
atuando de forma técnica, ética e legal, haverá com os profissionais da imprensa (Quadro 7).
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Quadro 7
Relacionamento com a imprensa e com a comunidade local
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Quadro 8
Emprego da força e estratégia operacional
Quadro 9
Administração da rendição
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O nono item do protocolo refere-se ao regis- resultados e consequências das ações. Ele pro-
tro dos nomes de todos os integrantes das equi- porciona o controle e a fixação de responsabili-
pes táticas envolvidas e décimo corresponde ao dades de todos os envolvidos.
resumo do incidente crítico. Por fim, registram-
se as observações, sugestões, fotos e croquis. Considerações finais
O protocolo busca sensibilizar e destacar
Após a resolução do evento de defesa social a importância da integração e do envolvi-
de alto risco, o Protocolo de Intervenção Poli- mento de todos os profissionais dos órgãos
cial Especializada servirá para individualizar as do Sistema de Defesa Social na gestão de in-
ações de todos os envolvidos e aprimorar tá- cidentes críticos. Essa é uma preocupação que
ticas e estratégias operacionais. A socialização acompanha os gestores de segurança pública
dos seus resultados com os órgãos do Sistema há vários anos (SÃO PAULO, 1990; ESPÍ-
de Defesa Social proporciona o amadureci- RITO SANTO, 1998; MATO GROSSO,
mento de todos e desperta para a necessidade 1999; CONSEFO, 2000; MINAS GERAIS,
de efetivo planejamento, coordenação, contro- 2005). Entretanto, vários entraves ainda
le e ações integradas. Esse instrumento possibi- permanecem em intervenções reais. É preci-
lita a realização de um debrifieng realístico, que so avançar em direção à efetiva gestão inte-
será compartilhado com todos os envolvidos grada de eventos de defesa social de alto ris-
na intervenção. Por fim, é possível mensurar co. Nesse sentido, rever as normas, adequar
as ações desenvolvidas, proporcionando uma terminologias e conceitos, além de redefinir
leitura privilegiada da relação entre escolhas, funções, são tarefas fundamentais.
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eventos de defesa social de alto risco não é um equipes táticas e pelos responsáveis pelas áreas
ato solitário de determinada organização ou estabelecidas pelo protocolo, de forma realís-
de um grupo especializado, mas sim um es- tica e com base em dados concretos oriundos
forço sinergético de diversos órgãos, em prol da cena de ação.
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do restabelecimento da paz social. Os diversos
profissionais envolvidos se veem como co-res- A dinâmica de gestão proposta pelo Pro-
ponsáveis pela resolução do evento. tocolo de Intervenção Policial Especializada e
a estruturação do formulário impresso devem
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Protocolo de Intervenção Policial Especializada: uma experiência bem-sucedida
1. A pioneira na sistematização de procedimentos foi a Polícia Militar do Estado de São Paulo, com a NI 3 EM PM -003/32/1977, seguida
pela Diretriz PM – 001/1/1987 – RPP, Diretriz de Operações PM3-004/2/89, que fixou as normas para emprego da Cia. PM, constituída
por Grupos de Ações Táticas Especiais (Gate), interagindo no Sistema Operacional PM, especialmente no resgate de reféns localizados,
visando a preservação da ordem pública.
2. Opta-se por designar o local onde se desenrola o incidente crítico pelo termo policial cena de ação e não mais pelo conceito militar
teatro de operações.
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Governanças Policiais
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da Polícia Militar de Minas Gerais na Gestão de Eventos de Defesa Social de Alto Risco
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da Polícia Militar de Minas Gerais na Gestão de Eventos de Defesa Social de Alto Risco
Protocolo de Intervenção Policial Especializada: uma experiência bem-sucedida
Resumen Abstract
Protocolo de Intervención Policial Especializada: Specialized Police Intervention Protocol: a successful
da Polícia Militar de Minas Gerais na Gestão de Eventos de Defesa Social de Alto Risco
Protocolo de Intervenção Policial Especializada:uma experiência bem-sucedida
una experiencia exitosa de la Policía Militar de Minas experience by the Military Police in Minas Gerais in
Gerais en la Gestión de Eventos de Defensa Social de Managing High-Risk Social Defense Events
Alto Riesgo Management of High-Risk Social Defense Events is not
La gestión de Eventos de Defensa Social de Alto Riesgo limited to knowledge of literature on what has become
no se limita al conocimiento de la literatura sobre lo known as crisis management. It should be considered
que se convino en llamar de gestión de crisis. Ésta from a macro perspective, with focus on the action
debe apreciarse desde una perspectiva micro, centrada scene. Operating functions are previously defined, subject
en la escena de acción. Las funciones operacionales to a systemic vision of management, of human rights,
son previamente definidas, respetando la visión and the gradual use of force. The tool employed in this
sistemática de la gestión, los derechos humanos y el process is known as a Specialized Police Intervention
uso gradual de la fuerza. La herramienta utilizada en Protocol, which makes it possible to monitor and to
ese proceso se denomina Protocolo de Intervención assess performance by each policeman in the action
Policial Especializada, que posibilita el seguimiento y la scene; it assists the manager in the decision making
evaluación del desempeño de cada policía en la escena process, and supplies data for accountability of police
de acción; auxilia al gestor en el proceso de toma de actions.
decisiones y suministra datos para la responsabilidad de
las acciones policiales.
Palabras Llave: Gestión policial. Eventos de Defensa Keywords: Police management. High-Risk Social
Social de Alto Riesgo. Trabajo policial. Responsabilidad.. Defense Events. Police work. Accountability.