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No dia 19 de Abril [1760], depois de terem comungado, disseram adeus àquela casa,
ilustrada com os exemplos de grandes virtudes, e, entre soldados armados, desceram
para a praia. Aí, entraram em pequenos botes que, sob a direcção dos
desembargadores Ciríaco e Sebastião Francisco Manuel, tomaram o rumo das naus.
Eram ao todo 122 jesuítas. 83 dirigiram-se para a nau capitânia. […] Os restantes,
que eram 39, embarcaram na outra nau que era mais pequena. […] Foi-lhes
permitido levar a roupa branca que coubesse num saco pequeno. Tudo o mais ficou
no Colégio e foi vendido em hasta pública na portaria. Lançaram-nos para os porões
das duas naus e fecharam-lhes as portas, pondo sentinelas à entrada. Dentro, tudo era
escuridão; o aperto e o calor eram quase intoleráveis. O jantar constava de legumes e
não em abundância, e a ceia, que constava de um pedaço de carne salgada e água, não
era mais abundante.
Vindo a saber, não sei por quem, que passavam sede, mandou-lhes dar água em
abundância. E aos doentes tratou-os sempre com benignidade e liberalidade.
Durante a viagem sucedeu um caso que pareceu milagroso. Um grumete, ainda moço,
caiu ao mar. Os companheiros, consternados ante o perigo que corria, recorreram a
Sto. Inácio para que acudisse àquele pobre rapaz. Quando já o choravam por morto,
avistaram-no ao longe no meio das ondas e, são e salvo, puderam recolhê-lo para a
nau almirante. Isto serviu para que dali em diante os jesuítas fossem tratados menos
duramente.
Foi também grande milagre o voo de gaivotas ao redor da nau, pois sabiam
perfeitamente os mareantes que, por aquelas alturas, não havia nas proximidades
nenhuma ilha em que aquelas pudessem poisar. A 13 de Junho, festa de Sto. António
de Lisboa, entraram na barra do Tejo, e na noite seguinte os jesuítas foram
transferidos para uma nau de Génova, onde já se encontravam os seus irmãos
deportados do Rio de Janeiro; os restantes, vindos do Brasil, ficariam encerrados nos
cárceres próximos das margens do Tejo.