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Agudos
Abril de 2010
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1. Síntese de Conteúdo:
No primeiro capítulo, o autor, partindo do pressuposto de que elementos sociais,
econômicos, políticos, culturais, religiosos, familiares, sociológicos e psicológicos
constituem-se em padrões que moldam a trajetória de uma pessoa, esboça no primeiro
capítulo uma biografia de Orlando Costas, analisando primeiramente os contextos político,
socioeconômico e religioso em que ele viveu, e depois analisando mais propriamente a
vida que Orlando Costas viveu nesse contexto: sua infância, adolescência e juventude em
Porto Rico e nos Estados Unidos, com enfoque em sua formação cristã, na hostilidade e
preconceito que enfrentou após sua emigração para os Estados Unidos e em como ele
lidou com isso, até chegar a assumir um compromisso pessoal e conscientemente com a fé
cristã, em Julho de 1957, quando participou de uma cruzada de Billy Graham no Madison
Square Garden, em Nova York.
A partir de então, o enfoque do autor passa a ser em como Orlando Costas articula
sua fé, relacionando essa articulação com a experiência eclesiástica de Costas e a
formação que ele recebeu:
Sua graduação no ensino médio na Bob Jones Academy, o principal reduto do
fundamentalismo teológico norte-americano no Sul dos Estados Unidos, onde
descobriu o imperativo da evangelização na missão cristã,
Sua filiação à Igreja Congregacional de Black Rock, em Bridgeport,
Sua primeira experiência como pastor da Igreja Discípulos de Cristo e sua
conscientização da necessidade de receber uma boa formação bíblica e
teológica,
Sua graduação no Nyack Missionary College, em Nova York, onde
desenvolveu uma visão abrangente da obra missionária mundial, o gosto pela
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José Miguez Bonino, sendo o primeiro o que maior influência exerceu sobre Costas. Essa
influência é visível através dos elementos basilares da teologia de Emílio Castro que são
igualmente importantes na reflexão missiológica e pastoral de Costas: a vida e ministério
de Cristo como modelo para a teologia pastoral, a imersão no contexto latino-americano, a
missão de Igreja entendida como serviço a Deus e ao mundo, o pobre como categoria
hermenêutica, o envolvimento de Deus nos eventos históricos para libertar o oprimido, o
culto como centro da vida da Igreja, a salvação como experiência pessoal, com
implicações sociais, e a rejeição da violência para alcançar a transformação social na
América Latina.
legado teológico reformado, e ao mesmo tempo, contextual, que tenha como objetivo
principal servir à Igreja em missão não visando o bem da Igreja, mas a transformação da
sociedade.
O quinto e último aspecto diz respeito ao conceito de Costas sobre o crescimento
de Igreja. Costas critica o Movimento de Crescimento de Igreja, que vê a evangelização
como única possibilidade de exercício missionário, e crescimento em termos numéricos, e
elabora uma teoria própria de crescimento de Igreja, que ele denominou “integral”. Para
que esse crescimento seja integral, ele precisa apresentar três qualidades: fidelidade
(coerência em sua ação com os propósitos de Deus para seu povo), espiritualidade (a
presença e operação dinâmica do Espírito Santo nesse crescimento) e encarnação
(processo onde Jesus Cristo é enraizado historicamente na dor e nas aflições do povo).
Precisa também ter quatro dimensões: numérica (precisa reproduzir-se e incorporar novos
membros), orgânica (precisa desenvolver-se também em sua estrutura e dinâmica interna),
conceitual (precisa pensar crítica e reverentemente sua fé, bem como avaliar honestamente
sua ação no contexto em que está inserida), e diaconal (precisa crescer na intensidade do
serviço que a Igreja ministra ao mundo como expressão concreta do amor redentor de
Deus).
2. Pontos sólidos
a) A perspectiva histórica proporcionada com a apresentação detalhada da
trajetória de Orlando Costas,
b) A demonstração de como a história e a formação está diretamente
relacionada com a identidade individual,
c) A identificação e exposição das correntes teológicas que influenciaram
o seu pensamento missiológico, contribuindo para sua reflexão e na
elaboração de sua teologia,
d) A exposição dos aspectos mais relevantes da sua missiologia,
proporcionando subsídios para um melhor entendimento da TEC,
e) A exposição da Teologia de Evangelização Contextual.
3. Pontos frágeis
Embora o que passo a expor provavelmente resulte de uma deficiência minha,
e demonstre que eu preciso ler mais sobre o pensamento missiológico de Costas e sobre a
missio Dei, para mim, um leitor que está tendo contato com o pensamento de Costas pela
primeira vez, através desse livro, a argumentação exposta das páginas 127 a 130, é
insuficiente para que eu concorde com a afirmação no primeiro parágrafo da página 131,
onde o autor diz que:
“Nesse sentido, é possível afirmar que Costas compreende missão em
termos de missio Dei et ecclesiae (missão de Deus e da Igreja):...”.
Também na penúltima sentença do último parágrafo da página 137, o autor
afirma que:
“O conceito de missio Dei, conquanto não tenha sido elaborado por
Costas, é assumido integralmente (grifo meu) em sua produção
missiológica, o que lhe confere peso teológico e relevância pastoral.”
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4. Comentários Gerais
Eu realmente apreciei a edição desse livro. O trabalho da Editora foi bom, e
sem dúvida ele vale ser lido, pela riqueza, relevância e originalidade do seu conteúdo. Para
minha vida, foi particularmente relevante a demonstração de como a história e a formação
de uma pessoa está refletida em sua identidade. Eu pude de certo modo me identificar com
Costas, traçar um paralelo entre as experiências dele em sua trajetória e a minha
experiência e trajetória, e fui levado a refletir em como na minha própria história, minha
herança cultural, minha experiência eclesiástica e minha formação acadêmica estão
refletidas em minha identidade, anseios e convicções. Particularmente significativa para
mim foi a redescoberta de Costas de sua identidade porto-riquenha, e a afirmação de sua
herança cultural latino-america, que ele chama de sua conversão cultural. Embora eu seja
brasileiro, eu não posso negar a influência de valores culturais russos em minha
identidade, e partir da oportunidade que tive de visitar a Rússia, em Outubro de 2002, para
conhecer o trabalho missionário que a Jocum então realizava em Moscou, pude afirmar
também essa minha herança cultural mais conscientemente, bem como me identificar com
as necessidades específicas daquele campo de missão e me dispor a nele servir a esse povo
como missionário.
Também particularmente marcante para mim é a postura teológica de Costas.
Ele consegue expressar uma fé madura e refletida, que preserva o conteúdo legado pela fé
cristã histórica em conformidade com as Escrituras, demonstra profundidade em sua
reflexão teológica e fidelidade às Escrituras, e ao mesmo tempo consegue ser
profundamente contextual, abrangente e relevante, bem como demonstra abertura tanto
para dialogar com outras tradições teológicas, como para identificar, absorver e incorporar
em sua teologia o que as outras tradições teológicas têm de melhor.
Especificamente em relação à Teologia de Evangelização Contextual,
considero fundamentalmente relevante como ele estabelece a relação entre a teologia e a
evangelização, afirmando a teologia fundamentada na obra reveladora e redentora de Deus
como fundamento da evangelização, e a evangelização como o telos da teologia. Também
particularmente elucidativa é a sua conceituação mais elaborada de contexto na página
189, baseada na etimologia dessa palavra.
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