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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Processo nº. : 0002396-64.2015.8.05.0274


Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : TELEMAR NORTE LESTE S/A
Advogado(a) : JOSE JOAQUIM BAPTISTA NETO e OUTROS
Recorrido(s) : NICANOR FERREIRA DOS SANTOS
Advogado(a) : VILDOMAR SILVA DA LUZ
Origem : 3ª VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS – VIT. DA
CONQUISTA
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

EMENTA
RECURSO INOMINADO. CONTRATO DE TELEFONIA FIXA.
COBRANÇA DE “ASSINATURA MENSAL E PULSOS ALÉM DA
FRANQUIA” JULGAMENTO QUE ACOLHEU PARCIALMENTE A
PRETENSÃO DEDUZIDA, RECONHECENDO A ILEGALIDADE
DAS EXIGÊNCIAS. APRECIAÇÃO PELO STJ DO MÉRITO DAS
RECLAMAÇÕES QUE SOBRESTAVAM OS FEITOS, COM
TERMOS FAVORÁVEIS À TESE ESPOSADA PELA EMPRESA DE
TELEFONIA ENVOLVIDA. PROVIMENTO DO RECURSO
INTERPOSTO, REFORMANDO A SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA,
PELA SUBMISSÃO À JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE NO PAÍS,
IMPONDO NOVO MODELO DE JULGAMENTO.
ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Juízes da 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, MARIA
AUXILIADORA SOBRAL LEITE - Relatora, CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS
QUEIROZ, ISABELA KRUSCHEWSKY PEDREIRA DA SILVA - Presidente, em
proferir a seguinte decisão: RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. UNÂNIME, de
acordo com a ata do julgamento. Sem custas e honorários.

Salvador, Sala das Sessões, 10 de dezembro de 2015.

BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE


Juíza Relatora

BELA. ISABELA KRUSCHEWSKY PEDREIRA DA SILVA


Juíza Presidente
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Processo nº. : 0002396-64.2015.8.05.0274


Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : TELEMAR NORTE LESTE S/A
Advogado(a) : JOSE JOAQUIM BAPTISTA NETO e OUTROS
Recorrido(s) : NICANOR FERREIRA DOS SANTOS
Advogado(a) : VILDOMAR SILVA DA LUZ
Origem : 3ª VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS – VIT. DA
CONQUISTA
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

EMENTA

RECURSO INOMINADO. CONTRATO DE TELEFONIA FIXA.


COBRANÇA DE “ASSINATURA MENSAL E PULSOS ALÉM DA
FRANQUIA” JULGAMENTO QUE ACOLHEU PARCIALMENTE A
PRETENSÃO DEDUZIDA, RECONHECENDO A ILEGALIDADE
DAS EXIGÊNCIAS. APRECIAÇÃO PELO STJ DO MÉRITO DAS
RECLAMAÇÕES QUE SOBRESTAVAM OS FEITOS, COM
TERMOS FAVORÁVEIS À TESE ESPOSADA PELA EMPRESA DE
TELEFONIA ENVOLVIDA. PROVIMENTO DO RECURSO
INTERPOSTO, REFORMANDO A SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA,
PELA SUBMISSÃO À JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE NO PAÍS,
IMPONDO NOVO MODELO DE JULGAMENTO.

RELATÓRIO

Dispensado o relatório nos termos da Lei n.º 9.099/95.


Circunscrevendo a lide e a discussão recursal para efeito de registro,
saliento que o Recorrente, por meio de seu patrono devidamente constituído,
pretende a reforma da sentença lançada nos autos que julgou “PROCEDENTE o
pedido para condenar a Ré a devolver, em dobro, todas as parcelas cobradas a partir de 14
de fevereiro de 2002 na conta telefônica da parte Autora com a denominação de ´pulsos
além franquia´e ´assinatura´, cujo cálculo deverá ser feito pela Secretaria deste Juizado
conforme faturas das contas acostadas com a inicial, mediante cálculo matemático.”.
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A parte Recorrente alega preliminares de sentença ilíquida, falta de


interesse de agir quanto ao pedido de detalhamento, incompetência do juizado para
julgamento de causas complexas, da incompetência absoluta do juízo e da
decadência. No mérito, argui que as franquias por pulsos não se confundem com
assinatura, sendo a hipótese embasada por portarias da regulação pertinente ao
ramo da economia.
Presentes as condições de admissibilidade do recurso, conheço-o,
apresentando voto com a fundamentação aqui expressa, o qual submeto aos
demais membros desta Egrégia Turma.

VOTO

Preliminarmente cumpre-me registrar, vez que já houve


pronunciamento dessa magistrada de forma diversa da aqui exarada.
Entretanto, saliento que as Reclamações Constitucionais que deram causa ao
sobrestamento do presente feito tiveram o mérito julgado pelo STJ, não mais
persistindo, assim, óbice ao prosseguimento da presente ação.
Analisando as controvérsias recursais, em relação às preliminares
suscitadas pela Recorrida, incorporo os argumentos apresentados na sentença
combatida para efeito de afastar os argumentos reiterados, não sendo caso,
portanto, de extinção do processo, sem resolução do mérito.
Quanto a preliminar de incompetência absoluta da Justiça Estadual,
para processar e julgar a ação pela necessidade de inclusão da Anatel como
litisconsórcio, a mesma não deve ser acolhida, tendo em vista que, embora a
fiscalização das atividades da ré seja exercida por agência instituída pela União, tal
circunstância não desnatura a relação consumerista existente entre a ré e a autora.
Da arguida necessidade de prova pericial para resolução do conflito, tal
preliminar não merece acolhida, visto que a parte autora na qualidade de
consumidor do serviço de telecomunicação, tem o direito ao detalhamento dos
chamados impulsos excedentes, sendo assim, não se vislumbra a necessidade de
produção de prova pericial para saber se houve ou não tal detalhamento, e se o
mesmo ocorreu de forma discriminada.
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De igual forma, não há que se falar em falta de interesse de agir, tendo


em vista que a parte autora tem a necessidade de obter pronunciamento
jurisdicional acerca da matéria posta para acertamento por este juízo.
Sobre o Prequestionamento, segundo os artigos 170 e 175 da
Constituição Federal, a ordem econômica deve observar os princípios de defesa do
consumidor, desta forma, a prestação de serviço público por concessionária, deve
obedecer os princípios da ordem econômica, no caso todas as normas de defesa do
consumidor, sendo o contrário correspondente a uma violação constitucional.
Da alegação de nulidade da sentença por iliquidez, não há como
prosperar tal alegação, posto que para se chegar aos valores remanescentes, a
serem restituídos à parte autora, basta que seja feito simples cálculo aritmético na
fase executória.
PREJUDICAL DE DECADÊNCIA E PERDA DO OBJETO
Entendo inaplicáveis à espécie as normas dos artigos 26, inciso II e
parágrafo 1º e 27 do Código de Defesa do Consumidor. Na presente demanda não
se está reclamando de um vício do serviço, mas de valores cobrados a título de
pulsos além franquia.
A respeito, o trato pretoriano:
TELEMAR – COBRANÇAS INDEVIDAS – PRESCRIÇÃO
O prazo decadencial do artigo 26 do CDC, refere-se a vícios aparentes ou
ocultos, já o prazo do artigo 27 refere-se ao período para o exercício da pretensão a
reparação de danos causados por fato do produto ou serviço. A cobrança de valores
indevidos, trazendo o seu pagamento, não se coloca no âmbito de nenhuma dessas
disposições e por isso traz a regra geral do Código Civil- RECURSO PROVIDO
(TJRJ,AP. cível no. 1917/01, Rel. Dês.Ricardo Couto de Castro).
Sabe-se que o Código Civil vigente a partir de janeiro de 2003 trouxe
expressivas modificações nos prazos prescricionais, tornando necessária a adoção
de direito intertemporal, sendo aplicável, ao caso concreto o disposto no artigo 2.028
que assim preceitua:
Art. 2.028 – Serão os da lei anterior os prazos, quando
reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em
vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo
estabelecido na lei revogada”.
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Levando-se em consideração os critérios estabelecidos no artigo 2028 do


NCCB e como na hipótese a prescrição era vintenária, não tendo ainda transcorrido
mais da metade do prazo prescricional do diploma revogado (dez anos e um dia),
aplica-se a regra do artigo 206 parágrafo 3º, IV, do NCCB, que prevê a redução
desse prazo para três anos, já que a ação foi intentada sob a égide do novo Código
Civil.
Rejeito a arguição.
Sobre a cobrança de pulsos além franquia, embora no íntimo não
modifique o pensamento esposado em diversos processos julgados enquanto juíza
monocrática que reconhecia a ilegalidade da exigência discutida, impõe-se a
submissão à corrente contrária que se tornou dominante no país, inclusive no
Sistema de Juizados Especiais da Bahia, em seus dois graus de jurisdição.
Conforme esclarecido inicialmente, no que se refere ao detalhamento das contas
telefônicas, rendo-me ao entendimento que defende a legalidade do sistema de
tarifação por pulsos, consoante a tese esposada no Resp 1.074799/ MG,
processado sob o rito do art. 543-C do CPC, conforme acórdão a seguir transcrito:

TELEFONIA FIXA. DETALHAMENTO DAS CHAMADAS.


OBRIGATORIEDADE. TERMO INICIAL. SOLICITAÇÃO DO
USUÁRIO. GRATUIDADE. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
TIDOS COMO PROTELATÓRIOS. MULTA. AFASTAMENTO.
SÚMULA 98/STJ. I - O Estado, com a edição do Decreto nº
4.733/2003, entre outras medidas necessárias para a alteração do
sistema de tarifação de pulsos para tempo de utilização,
determinou o detalhamento de todas as ligações locais e de longa
distância. II - O prazo para a conversão do sistema, inicialmente
previsto para 31 de julho de 2006 pela Resolução 423/2005, foi
ampliado em doze meses pela Resolução 432/2006, para não
prejudicar os usuários da internet discada, os quais, neste prazo,
foram atendidos com plano alternativo apresentado na Resolução
450/2006. III - Assim, a partir de 01 de Agosto de 2007, data da
implementação total do sistema, passou a ser exigido das
concessionárias o detalhamento de todas as ligações na modalidade
local, independentemente de ser dentro ou fora da franquia
contratada, por inexistir qualquer restrição a respeito, conforme se
observa do constante do artigo 83 do anexo à Resolução 426/2005,
que regulamentou o sistema de telefonia fixa. IV - Também no
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artigo 83 do anexo à Resolução 426/2005, restou reafirmada a


determinação para que a concessionária forneça, mediante
solicitação do assinante, documento de cobrança contendo o
detalhamento das chamadas locais, entretanto ficou consignado que
o fornecimento do detalhamento seria gratuito para o assinante,
modificando, neste ponto, o constante do artigo 7º, X, do Decreto nº
4.733/2003. V - A solicitação do fornecimento das faturas
discriminadas, sem ônus para o assinante, basta ser feita uma única
vez, marcando para a concessionária o momento a partir do qual o
consumidor pretende obter suas faturas com detalhamento. VI -
Revogação da súmula 357/STJ que se impõe. VII - Recurso especial
parcialmente provido (Acórdão sujeito ao regime do art. 543-C do
CPC e da Resolução STJ 08/08).

De igual modo, sobre a cobrança de assinatura, agora também


tem prevalecido nesta Turma Recursal entendimento sobre a legalidade da
cobrança a este título, revigorada por súmula do STJ que assim reza:
Súmula 356: “É legítima a cobrança de tarifa básica pelo uso
dos serviços de telefonia fixa.” (Referências: RESP 911.802/RS, RESP
870.600/PB, RESP 994.144/RS, RESP 983.501/RS e RESP 872.584/RS)
Embora não tenham efeitos vinculantes, não há dúvida de que as
súmulas do STJ, pela importância do órgão, formam mecanismo poderoso para a
pacificação de discussões judiciais, que assim não podem ser singelamente
desprezadas, merecendo profunda reflexão em respeito à segurança jurídica ante a
repercussão em milhares de ações da espécie, sendo certa a possibilidade do STJ
fazer prevalecer sua jurisprudência na forma processual estabelecida, tornando
inócuas as eventuais divergências, já que cabe a Instância Especial dar a última
interpretação da Lei Federal, impondo suas decisões ao sistema de Juizados
Especiais através do instituto da Reclamação, como aconteceu naquela que trouxe
sobrestamento momentâneo ao presente feito.
Com isso, embora não renegue todos os argumentos usados para
anteriormente acolher iguais pretensões, apresento agora solução diversa,
consonante com a jurisprudência majoritária em voga.
Desse modo, invocando os fundamentos do voto mencionado há
que se reformar a sentença, julgando improcedente o pedido ante a legalidade das
cobranças efetuadas, concernente aos serviços de telefonia fixa.
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Assim sendo, ante ao exposto, voto no sentido de CONHECER e


DAR PROVIMENTO ao recurso interposto pela Requerida TELEMAR NORTE
LESTE S/A, reformando a sentença hostilizada, para reconhecer a improcedência
de todos os pedidos apresentados pela parte Autora, através deste processo. Sem
custas e honorários advocatícios.

Salvador, Sala das Sessões, 10 de dezembro de 2015.

BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE


Juíza Relatora

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