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Na próxima estação

Às vezes, a diferença entre


a vitória e a derrota
O sucesso e o fracasso
está numa pitada de ousadia.

Saulo saiu do teatro convencido de que era dono de seu


destino. Ganhou a rua e entrou na estação do metrô. Ao dar
o primeiro passo dentro do vagão, imaginou-se inaugurando
um novo eu, estreando a si próprio.
As pessoas seguiam suas vidas sem se dar conta de como
ele tinha mudado. Ninguém na estação reparava nele, não que
isso lhe importasse muito. Bastava essa sensação de
entregar-se ao novo, ao inesperado. Ter a consciência de
seu poder de escolha o deixava exultante. Ele tinha a
liberdade de fazer escolhas. Por mais simples que isso
possa aparecer, era-lhe excitante.
O metrô parou na estação seguinte. Dentre as pessoas que
entraram, uma chamou-lhe especialmente a atenção. Com
jeitão de gringo perdido, ele analisava o mapa das
estações. Aqueles olhos verdes se encontraram com os olhos
castanhos certeiros de Saulo. Surgiu um sorriso charmoso, o
que deixou Saulo certo da cumplicidade de desejos.
A próxima estação era a que Saulo teria que descer.
Tinha não mais que 5 minutos para tentar a sorte. A voz do
metrô anunciava a próxima estação: “Próxima chance: sei lá,
aproxime-se dele à direita, logo! Atenção com o espaço
entre o seu outro eu e o seu eu de agora: ouse!”
Saulo arriscou um oi, td bem? , com um sorriso de
simpatia mesclado com o de vergonha. “Eu fiz mesmo isso?
Fiz! E agora o que falo?”
Ele era realmente estrangeiro, era realmente muito
atraente. Trocaram algumas palavras em inglês. “Vontade de
beijá-lo na boca ali mesmo”. “I gotta go at the next
station!” Why? - os olhos verdes indagaram surpresos. I’ll
give you my number.
O metrô chegava na estação seguinte. Saulo buscava
freneticamente algum pedaço de papel e caneta na mochila.
O metro chegou na estação. Erick pegou rapidamente o
celular. Saulo aproximou mais dele: “Dane-se o resto das
pessoas!” Aproximou sua boca do ouvido de Erik. As portas
se abriram as pessoas começaram a sair do vagão. Saulo
começou a ditar para eles os números nine-five-five-
right.... sirene avisando do fechamento das portas...three-
oh-two... Beijou-o rapidamente na boca. Pulou fora na
estação. A porta do metro fechou-se assim que saiu. Viu o
metro se movendo e Erik foi se afastando dele. O gosto na
boca ainda nele.
O trem foi embora velozmente e ele parado ali na
estação. Puto consigo mesmo por não ter ficado mais tempo
no vagão. Não tinha pressa, mas tudo aquilo tinha sido tão
rápido.
Agora não havia mais o que fazer. Tinha dito o número
apenas uma vez, de certo ele não devia sequer ter
conseguido anotar.
Saiu da estação, olhou para o celular à espera de algum
milagre. Parou na saída da estação. Riu de si mesmo, da
sua ousadia e até mesmo da pieguice romântica. Duvidou de
si mesmo, se ele havia de fato mudado. Guardou o celular de
volta no bolso da calça. Quem sabe não teria mais sorte na
próxima?
Atravessou a rua, quando sentiu que o celular vibrou na
calça. Uma mensagem recebida. I wanna see you again!
Saulo levitava pela rua.

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