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"Toma com cuidado este livro em tuas mãos, leitor. Nele encontrarás versos de três
grandes poetas, dois que os escreveram e um que os traduziu; três verdadeiros poetas.
Nele lerás algumas das mais belas traduções feitas em nossa língua, nossa amada
língua portuguesa. Os dois poetas traduzidos, Baudelaire e Mallarmé, foram homens
profundamente infelizes."
A sesta de um fauno
(Mallarmé)
Écloga
O fauno
Tão leve
O seu claro rubor que um volteio descreve
No ar dormente, denso de sono.
Amei um sonho?
Ó pantanal
Tenho particular afeição ao poema que agora trago. Contribuiu não apenas para
mudar a História, diretamente, da Poesia e da Música e, indiretamente, da dança. Sua
própria criação marca definitivamente a Poesia. O convívio com seus versos e com
Mallarmé leva Debussy a escrever L'après-midi d'un faune/ A tarde (ou, como o
prefere Dante Milano, a sesta ) de um fauno, que influenciaria Nijinsky a criar o balé
do mesmo nome, revolucionando definitivamente a dança, no começo do nosso
século.
Aprendi muito sobre isso com uma amiga, bailarina, coreógrafa e professora-mestra
no Instituto de Arte da UERJ, Maria Lúcia Galvão. O trabalho de orientação de sua
dissertação, na UFF, foi um processo de aprendizado talvez maior para mim que para
ela. Agradeço-lhe citando alguns trechos de O Gesto e a Vitalidade da Expressão ,
que espero ver em livro, para dar uma ideia das mudanças que este poema significou e
propiciou:
"O mosaico criado por Nijinski, principalmente em: L'Après-midi d'un Faune - A
Tarde de um Fauno - com música de Claude Debussy e cenários e figurinos de Leon
Bakst - e Le Sacre du Printemps - A Sagração da Primavera - com música de
Stravinsky e cenários e figurinos de Nicolas Roerich - foi de importância
incontestável à criação de uma nova era da Arte do Movimento. Nijinski, como
Stravinsky na música, Picasso nas artes plásticas e Mallarmé na Literatura, rompe
com princípios que aprisionam o ato criador. Suas coreografias revelam o inusitado e
um novo rumo na construção técnica e cênica da Dança. Se antecipava a formulação
da Incerteza, corporificava buscas e tendências revolucionárias das artes de seu
tempo."
(...)
Em seu artigo, Redon recorda antiga conversa com o poeta Mallarmé, que sempre
levantava críticas às coreografias e às mímicas dos balés da sua época. Segundo ele,
teria sido muito grande a alegria do poeta ao ver aparecer, sobre o friso vivo, o
verdadeiro sonho do seu Fauno e suas quimeras levadas sobre as ondas ligeiras da
música de Debussy, tornadas sensíveis graças à plástica de um Nijinski e à ardente cor
de um Bakst.