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FRANCOIS RABELAIS GARGANTUA E PANTAGRUEL EDITORA ITATIAIA Belo Horizonte AO LEITOR Antes mesmo de ler, leitor amigo, Despojai-vos de toda ma vontade. Nao escandalizeis, peco, comigo: Aqui nao had nem mal nem falsidade. Se 0 mérito € pequeno, na verdade, Outro intuito no tive, no entretanto, A nao ser rir, e fazer rir portanto, Mesmo das aflicgdes que nos consomem. Muito mais vale 0 riso do que o pranto. Ride, amigo, que rir € proprio do homem. CAPITULO XXXII DE COMO PANTAGRUEL COM A SUA LINGUA COBRIU TODO UM EXERCITO, E O QUE O AUTOR VIUJ DENTRO DA SUA BOCA ssim que Pantagruel, com toda sua tropa, entrou nas terras dos Dipsodos, todo o mundo ali estava alegre, ¢ incontinenti se ren- deu a ele, e por livre e espontanea vontade lhe trouxe os chefes de todas as cidades por onde andou, exceto os Almirodas que quiseram resistir-lhe, e responderam aos seus arautos que nao se renderiam sem muito boas condigées. “Que melhores condig6es querem do que a mao no pote € 0 copa no punho? disse Pantagruel. Vamos po-los a saque. Entao todos se coloca- em boa ordem, prontos para desfechar 0 assalto. Mas no caminho, ao passa- m por um grande campo, foram apanhados por uma forte pancada de chuva. lo que comecaram a tremer © se apertarem uns contra 0S outros. Vendo Isso, tagruel Ihes fez dizer pelos capitaes que nao era nada, que cle via hee acima, Ss nuvens que seria apenas uma pancada passageita, mas oo em todo 0 oa les se pusessem em ordem; e que ele iria cobri-los. Entao todos se “soe a ordem e hem cerrados. E Pantagruel estendeu a lingua, apenas pela metade, ¢ riu todos, como uma galinha faz com 0s pintos. 377

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