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Revista Litteris - Ciências Humanas - História Novembro de 2010 Número 6

PARA QUE CHORASSEM LÁGRIMAS DE SANGUE. PODER


RÉGIO E ALTERIDADE ENTRE ÁTILA E OS GERMANOS
(SÉC. V)
Otávio Luiz Vieira Pinto (Universidade Federal do Paraná – UFPR) 1

Resumo
O presente artigo objetiva estabelecer uma nova possibilidade de análise historiográfica
no que se refere ao estudo dos hunos na Antiguidade Tardia. A partir de criteriosa
leitura de bibliografia e documentação primária, notamos uma forte influência por parte
desse povo asiático na configuração política e cultural das Monarquias Romano-
Germanas que se assentam no ocidente romano a partir do século V, servindo como
“anti-modelo”, ou seja, elemento de alteridade pelo qual as aristocracias germanas iriam
buscar fazer oposição e, assim, definir o que, neste momento, era legítimo e civilizado.

Palavras-chave: Hunos; Átila; Monarquias Romano-Germanas; Etnogênese;


Antiguidade Tardia.

Abstract
The present article aims to establish a new possibility of historiographical analysis in
relation to the study of the Huns in Late Antiquity. From a careful reading of literature
and primary documents, we note a strong influence on the part of this Asiatic people in
the political and cultural setting of Germanic Kingdoms that emerge in the roman west
in the fifth century, serving as "anti-model", i.e., an element of otherness by which the
Germanic aristocracies would seek to oppose and thus define what, at this point, what
was legitimate and civilized.

Key-words: Huns; Attila; Germanic Kingdoms; Ethnogenesis; Late Antiquity

***

I. “Barbarização”: o fim do Imperium Romanorum?

Muito já se falou sobre o declínio e a queda do Império Romano. Estudiosos


indagaram-se sobre os fatores que fizeram cair a grande Roma: desde Edward Gibbon,
arquitetou-se a idéia de que as incursões de povos germanos causaram a desestruturação
política, a partir de uma “barbarização” da moral e dos costumes civilizados i. Perpetua-
se assim, na historiografia, uma visão simplista de se encarar este período da

1
Mestrando em História pela Universidade Federal do Paraná, sob orientação do Prof. Dr. Renan
Frighetto. Bolsista CAPES e membro discente do Núcleo de Estudos Mediterrânicos (NEMED). Realiza
pesquisa na área de História Tardo Antiga, em especial no que tange aos ostrogodos e sua relação com
um Império Romano Tardio. E-mail para contato: rocha.pombo@hotmail.com.

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Antiguidade Tardia, traçando causas simples para o fim político do Império, como num
processo linear de causa e conseqüência.
Alguns pesquisadores, porém, tem tentado contornar este cenário. Walter
Goffart, ainda que tenha recebido diversas criticas à sua teoria, propõe uma paulatina
desestruturação da política romana a partir de um sistema que mesclava acomodações
de grupos estrangeiros e uma tributação excessiva, não condizente com a realidade
tardo-imperial ii. Peter Heather, atualmente um dos mais prolíferos pesquisadores deste
período, procura traçar um esquema mais complexo, que não encontra uma causa única
para o fatídico 476, mas assiste a emergência de um novo contexto social, nascido de
relação profunda entre culturas e práticas romanas, germânicas e cristãs. iii
Ter noção deste debate é fundamental, uma vez que, neste trabalho, nossa
proposta é notar justamente as relações entre romanos, germanos e hunos, sem que, para
isso, simplifiquemos nossa análise ou generalizemos as perspectivas. Dentro de uma
idéia de etnogênese iv, propomo-nos a delinear as práticas políticas, culturais e sociais
que advém deste contato, que mescla uma força imperial, moral e legitimadora na figura
dos romanos; uma força crescente e prática, na figura dos germanos; e uma vicissitude
de poder ante este contexto, simbolizada nos hunos. v

II. Hunos, romanos e germanos: contatos e relações

Já no século IV, a relação entre romanos e “bárbaros” deveria ser repensada. Era
inegável a presença de uma aristocracia germana já atuante em algumas esferas da
administração de Roma – situação que fica clara quando notamos o discurso propagado
pelos círculos pagãos, descontentes com o descaso em relação aos antigos costumes, ao
mos maiorum vi. Neste sentido, alguns grupos étnicos, como os visigodos, passam a ter
outra definição: passam a ser foederati, ligados oficialmente ao Império por meio de
vii
acordos e diplomacias . Ainda assim, uma série de agrupamentos menores
permanecia à margem deste poder imperial, enxergando-o como uma distante aura de
“civilidade”, enquanto estes próprios continuariam imersos em sua própria “barbárie”.
A percepção de si próprio viii, aqui, passa a sofrer uma série de mudanças: se, na tradição
clássica, a idéia de civilizado e bárbaro era, ainda que atrelada ao aspecto político,
baseada num claro distanciamento cultural, num momento em que separar o “romano”
do “germano” é cada vez mais difícil, a civilização e a barbárie passam a estar atreladas

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ix
a outros elementos de coesão cultural, como o cristianismo (que pode, de alguma
forma, estender a universalidade imperial romana para diversas etnias – vai-se,
paulatinamente, da “romanidade” para a cristandade), e este elemento contribui,
também, para a legitimação política. Dessa forma, o exercício político esta ligado à
idéia de civilização e barbárie, e suas definições sofrem mudanças na mesma medida
em que sofrem estes conceitos.

III. A Confederação Huna: diplomacia huno-germânica

Ainda no século IV, godos precipitam-se sobre os limites da Moésia, numa


movimentação que provavelmente seria, se não motivada, incentivada pelo avanço de
um grupo nômade vindo das estepes. Por volta do fim do século IV, este grupo passa
para a história sob a designação de huni x:

Porém, a semente e a origem de toda a ruína [...] nós descobrimos ser esta. O
povo dos Hunos, mas pouco se sabe dos relatos antigos; vivendo além do
mar da Meótica, próximo ao oceano de gelo, excedem todos os graus de
selvageria. [...] não se submetem a qualquer mando real, mas são contentes
com o governo desordenado de seus homens importantes, e guiados por eles,
forçam seu caminho através de qualquer obstáculo. xi

A partir desta rede de movimentação, a historiografia tradicional passou a ver o


elemento huno como catalisador de um processo de “invasões” dentro do Imperium
Romanorum. Ainda que esta imagem de pressões sucessivas, iniciada com os hunos no
oriente e culminada com a batalha de Adrianópolis, em 378, seja questionada
atualmente, é inegável que, já aí, temos um sistema de relações entre hunos e germanos,
xii
num molde ainda pouco desenvolvido, baseado provavelmente em razias e saques ,
evidenciando o aspecto tribal tanto dos godos como dos hunos – isto é, mesmo com a
existência de um líder a frente destes grupos, o poder era desenvolvido dentro de
sistema próprio, sem a necessidade de uma legitimação aos moldes romanos, baseada
nos preceitos da ciuilitas xiii .
No decorrer do século V, as tribos hunas passam a estruturar mais e mais seu
esquema político e, ainda que não o façam de forma institucionalizada, logo emergem
quatro líderes principais: Oebarsio, Mundzuk, Octar e Rugilas. Este esquema, que se

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assemelha a uma tetrarquia, aos moldes de Diocleciano, provavelmente era uma


tentativa de estabilizar as crises internas e aproximar as tribos hunas de um mesmo
centro de poder; esta idéia pode torna-se ainda mais tangível quando notamos que, após
a morte de Rugilas, seus sobrinhos Átila e Bleda (filhos de Mundzuk) assumem a
liderança do grupo, e a mudança de uma “tetrarquia” para uma “diarquia” evidencia o
crescente controle destes líderes – de fato, o aumento nos ataques à pars orientalis e na
tributação exigida por Átila e Bleda revela que, neste momento, os hunos já se
estabeleciam como um núcleo de poder digno da atenção imperial.
É quando Átila reina sozinho, porém, a partir de 444 (ou 445) xiv, que as relações
entre esta tríade de poder – hunos, romanos e germanos – se acirram e ganham aspectos
mais ideológicos, preocupados com sua legitimação frente a este contexto que,
dominado ainda pela força moral e cultura romana, esta imerso numa realidade que
pressupunha uma coesão civilizada a partir da οἰκουµένη (o equivalente grego da
xv
ciuilitas) . Essa necessidade de justificação do poder nos termos clássicos greco-
romanos evidencia uma intenção (e, em casos mais práticos, mesmo uma tentativa) de
pertença, de integração neste universo considerado civilizado. Neste século V, portanto,
com a presença e a prática efetiva de novos poderes (hunos e germanos, além dos
romanos), temos uma “estética política”xvi própria, baseada na definição social, política
e cultural do grupo em questão, e que fica evidenciada quando analisamos seus
esquemas de relações e a polarização destes poderes. O contato que aqui intentamos
analisar é, fundamentalmente, parte de uma representação política do que se pretendia
de uma “sociedade ideal”. xvii
Durante o período de Átila, configura-se uma força político-militar que se
convencionou chamar de “Confederação Huna”. Esta “Confederação” representava,
antes de mais nada, uma afirmação do poder de Átila a partir de uma coesão inédita
xviii
entre todas as tribos hunas . Numa segunda instância, porém, esse agrupamento
liderado pelo rei huno tornava-se mais e mais um núcleo de poder estabelecido e
realmente fundamentando, de forma que o historiador Herwig Wolfram considera-o
uma “alternativa de poder” xix
, ou seja, uma vicissitude política e militar diante da
universalidade imperial, e a ela caberia agregar os agrupamentos germanos – a estes,
por sua vez, dois poderes se apresentariam, portanto, no Ocidente: o Império Romano e
a alternativa do “Império” huno. A “Confederação” era, de certa forma, uma espécie de

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plataforma política que Átila intentava estabelecer para elevar-se como um centro de
poder que sobrepujaria romanos e teria sob seu mando, germanos.
Assim, ainda que não houvesse uma verdadeira coesão administrativa e política
sobre os diversos “grupos” bárbaros xx, Átila procurou uma unidade com as aristocracias
germanas, e submeteu sobre seu mando séqüitos vândalos, burgúndios, turíngios,
xxi
hérulos, ostrogodos, gépidas, lombardos, entre outros . Houve, então, no período de
Átila, uma polarização de poder: ele pretendia centrar o comando em sua imagem a
partir do mando exercido sobre uma sorte de grupos germanos. Os hunos, bárbaros do
leste, selvagens até mesmo para os olhos dos não-romanos, passavam a procurar sua
elevação pela guerra, mas também pela diplomacia.
Talvez uma das melhores formas de se compreender a presença desta relação
entre hunos e germanos seja notar a indelével caracterização de Átila na tradição destes
últimos; a atuação huna no nascedouro desta Europa Tardo-Antiga ganha ecos
medievais, e cantares bastante posteriores lembram os feitos deste momento: tem-se o
Atli da Völsungasaga na literatura islandesa, o Ezele (Etzel) da Nibelungenlied, na
tradição germânica, o Attila de Waltharius, no mundo aquitano-visigodo e o Ætla de
xxii
Waldere, no ambiente anglo-saxão . Todo este corpus literário conta com a presença
de Átila de forma substancial, retratando-o como um rei extremamente rico e poderoso,
mas que perece sob a mão pesada dos reinos romano-germanos, mais civilizados – seja
pelo cristianismo ou pela herança romana – que os hunos, em sua perspectiva.
Esta perspectiva, inclusive, fundamenta o outro lado de nossa análise: o ponto de
vista germano de sua relação com os hunos. A partir dessa ressonância literária (ou
xxiii
mesmo de fontes como Isidoro de Sevilha ), podemos inferir que os hunos foram
tomados, na perspectiva germana, não apenas como uma vicissitude de poder, mas,
principalmente a posteriori, como a ameaça que exaltou o valor e a força de reinos que
estavam por nascer, e viram sua autonomia ameaçada por uma universalidade menos
“civilizada” que aquela exercida pelo Imperium Romanorum, ou seja, o estabelecimento
de um centro de poder huno, alheio à legitimação fornecida pela idéia de ciuilitas,
representaria, na tradição oral e num processo que a historiografia alemã chama de
xxiv
selbsverständigungprozess , uma verdadeira ameaça à monarquias que pretendiam-
se, justamente, civilizadas e herdeiras da bagagem romana – a “Confederação huna”
seria, assim, uma espécie de “anti-império”, logo, poder nocivo para o verdadeira
império e para aqueles que ideológicamente o seguiam.

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Assim como o imperium romanorum e, posteriormente, as monarquias romano-


germanas tiveram sua base ideológica fundamentada, basicamente, na perspectiva da
civilidade, este “anti-império”, esta “Confederação” huna não se deteve na legitimação
tradicional e clássica: seu poder baseava-se na praticidade e abrangência de seu mando,
que não necessitou, em seu desenvolvimento, de uma justificativa teórica ou da
manutenção de uma ideologia – ainda que Átila esteja envolto, em fontes posteriores
como Jordanes, em lendas e construções mitológicas (como aquela que afirma ter
possuído este a Espada de Marte e, por isso, tornava-se um vencedor em todas as
xxv
guerras) , a coesão conseguida entre hunos e também sobre germanos parece ser
suficiente, aos olhos do rei dos hunos, para que este possa ser elevado ao nível de um
imperator.
Porém, ainda que o contato huno-germano tenha este caráter fundamentalmente
delicado, baseado por um lado na relação hierárquica entre seus reis, e por outro, na
imagem elaborada na tradição monárquica germana que apresenta o poder huno como
uma ameaça aos sistemas políticos civilizados, não podemos ignorar as influências
mútuas que os três pólos de poder do século V causaram entre si, e que transcendem os
âmbitos políticos: os nomes Átila, Bleda, Rugilas ou Mundzuk, por exemplo, são
germanos (ou germanizados). xxvi

IV. O “Império” de Átila: entre a civilização e a barbárie

Numa certa medida, estabelecer a idéia de um “Império” huno como uma


vicissitude ao lado do Império Romano significa estabelecer uma idéia historiográfica
ambiciosa: quando dizemos que os hunos, sob a égide de Átila, constituíram uma
Confederação que se pretendia um Império inferimos que o próprio Átila pretendia
inserir-se num mundo Civilizado ou, mais ainda, forjar ao redor de si mesmo uma aura
de ciuilitas.
Obviamente, a palavra imperium, ou a expressão imperium hunnorum não estão
presente nas fontes, e Átila é sempre denominado como rex, e nunca como imperator
xxvii
. Portanto, o uso do termo “Império” é de nossa responsabilidade. Átila olhava para
o imperator romano e, como aponta Prisco, via um igual:

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Então que no momento do brinde, quando os bárbaros exaltavam Átila e


não o Imperador, Vigilas disse que não se devia comparar um Deus com
um homem, intentando dizer que Átila era um homem, e Teodósio era um
Deus. xxviii

Assim, Átila pretendia inserir-se neste contexto de civilização, mas não buscou a
legitimação necessariamente de uma bagagem clássica, mas baseou-se muito mais no
poder meteórico que adquiriu não apenas entre as tribos hunas, mas principalmente
entre os germanos. Assim, apontamos o imperium da mesma forma que Wolfram aponta
a “alternativa”: não houve, por parte dos hunos, uma intenção de destruição de Roma,
mas de elevação pessoal de Átila ao trono mais alto. Não à toa, ele arquiteta um
casamento com a irmã do imperator, Honória, e exige, como dote, meio império, a pars
occidentalis . xxix
A relação entre hunos e germanos, neste contexto, representa, portanto, a
constituição deste poder que, de tão abrangente, poderia ser uma alternativa inclusive à
universalidade romana. Na mesma medida em que Roma negociava, mais e mais, de
forma institucional com os germanos, Átila procurava se estabelecer como um chefe
político e militar com poderes também institucionais para lidar com estes – faltava-lhe,
porém, a justificativa e a legitimação que a efemeridade de seu comando não permitiu
ser elaborada; a mesma legitimação que a teoria política dos reinos romano-germanos
procurou construir: a idéia de civilização e barbárie. Assim, afirmamos que Átila
procurava essa inserção na civilidade (ou a criação de uma própria civilidade) porque
lhe faltava justamente a institucionalização de seu poder sob sua Confederação;
institucionalização aos moldes romanos, ao molde da idéia de uma imitatio imperii. Tais
pretensões hunas, porém, provavelmente não se baseariam somente numa mimesis da
tradição imperial romana, visto que, como afirmamos, a bagagem clássica não foi o
ponto pelo qual Átila procurou a legitimação de seu poder: Roma não seria, portanto,
um exemplo teórico e moral, mas forneceria, para o rei huno, uma perspectiva muito
mais prática e eficiente, uma perspectiva que postulava para o civilizado não
necessariamente a tradição, mas o poder. Átila miraria não à glória das letras e da
tradição, mas a glória de um Império que dominara o mundo ocidental.

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i
Para a obra de Gibbon, cf. GIBBON, Edward. The Decline and Fall of the Roman Empire. Londres:
Penguin Books, 1982. Para a sua teoria historiográfica/filosófica de Progresso e Declínio, cf. FONTANA,
Josep. “A Invenção do Progresso”. In: A História dos Homens. Bauru: EDUSC, 2004, pp. 143 – 170.
ii
Para um sólido estudo de Goffart acerca de sua visão sobre o assentamento e a acomodação germana na
Antiguidade Tardia, cf. GOFFART, Walter. Barbarians and Romans: A.D. 418-584. Nova Jersei:
Princeton University Press, 1980.
iii
Entre uma série de artigos e trabalhos específicos, destacamos uma obra que, com caráter mais amplo e
geral, tende a versar sobre a questão da desestruturação política de Roma e as migrações germanas como
um todo, cf. HEATHER, Peter. The Fall of the Roman Empire: a New History of Rome and the
Barbarians. Oxford, Nova Iorque: Oxford University Press, 2007.
iv
O processo de Etnogênese, como proposto por Reinhardt Wenskus na segunda metade do século XX,
propõe que a identidade de um grupo (aqui entendida como etnicidade), na Antiguidade Tardia, é um
fator cultura e ideológico, e não racial. Assim, as aristocracias (Traditionskern, ou seja, “Núcleos de
Tradição”), detentoras de uma suposta tradição ancestral, criavam mecanismos identitários para se
estabelecer politicamente de uma forma legitimada perante outros grupos. Etnogênese, dessa forma, é o
estudo dessas construções identitárias a partir dos próprios termos em que os círculos que as gestam as
concebem, ou seja, a partir do auto-conhecimento e da alteridade. Cf. WENSKUS, Reinhardt.
Stammesbildung und Verfassung: Das Werden der frühmittelalterlichen gentes. Ndr. Stuttgart 1977;
GALK, Andreas. Ethnogenese und Kulturwandel – Der Versuch einer Begriffsklärung. Munique: Grin,
2008; FRIESINGER, Herwig; POHL, Walter; WOLFRAM, Herwig (org.). Typen der Ethnogenese
unter besonderer Berücksichtung der Bayern. 2 Vol. Viena: VÖAM, 1990.
v
Vicissitude de poder, aqui, retoma a idéia de Herwig Wolfram, que afirma ser a “Confederação” huna
uma alternativa de poder frente ao imperium romanorum: os pequenos grupos germanos poderiam, se
desejassem adentrar o contexto político do século V, filiar-se aos romanos ou aos hunos que, no período
de Átila, representavam uma força coesa e cada vez mais estruturada. Cf. WOLFRAM, Herwig. The
Roman Empire and its Germanic People. California: University of California press, 1997.

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vi
Nos séculos IV e V, principalmente, os costumes ancestrais (e legitimadores), o mos maiorum, era
simbolizado pelos círculos pagãos, que, fundamentalmente, representavam o grupo senatorial e
postulavam para si a herança do passado glorioso de Roma, glória essa cada vez mais deturpada por
bárbaros e cristãos. Cf. POHLMANN, Janira Feliciano. “A defesa do mos maiorum em tempos de
fortalecimento do cristianismo: o caso de Symmachus (século IV)”. Texto apresentado no “III Ciclo
Internacional de Estudos Antigos e Medievais e X Ciclo de Estudo Antigos e Medievais” na UNESP
– Assis/SP, maio 2008. Artigo a ser publicado.
vii
HEATHER, Peter. The Goths. Oxford: Blackwell Publishes, 2002, pp. 130-138. Acerca das relações
políticas, cf. FRIGHETTO, Renan. “Algumas considerações: o poder político na Antiguidade Clássica e
na Antiguidade Tardia”. In: Revista Stylos - Instituto de Estudios Grecolatinos Francisco de Novoa, vol.
13, Buenos Aires, 2004.
viii
Aqui, referimo-nos à “percepção de si próprio” como uma construção teórica e ideológica decorrente
do discurso de uma determinada elite, responsável pela administração e pela legitimação da base política.
ix
Cf. PINTO, Otávio Luiz Vieira & & POHLMANN, Janira Feliciano. Bárbaros, hereges e pagãos: uma
análise das definições sócio-religiosas nos séculos IV e V. Artigo inédito.
x
Amm.marc. Res Gestae. XXXI, II 1 – 12.
xi
“totius autem sementem exitii et cladum originem diuersarum [...] hanc comperimus causam. Hunorum
gens monumentis ueteribus leuiter nota, ultra paludes Maeoticas glacialem oceanum accolens, omnem
modum feritatis excedit. [...] aguntur autem nulla seueritate regali, sed tumultuário primatum ductu
contenti, perrumpunt quicquid inciderit.”. Idem, XXXI, II 1 & 7. Tradução livre.
xii
Para uma descrição sucinta e geral da entrada dos hunos nos limites do imperium romanorum e sua
relação com a onda de invasões, ver: MUSSET, Lucien. The Germanic Invasions: The making of
Europe – 400-600 A.D.. New York: Barnes & Nobles Books, 1975, pp. 30 – 33.
xiii
A ciuilitas era, fundamentalmente, o círculo de civilização, ou seja, o ambiente moral e social daqueles
que detinham a humanitas (semelhante à idéia de παιδεια grega, ou seja, dizia respeito à formação
intelectual, política, à tradição e caracterizava, portanto, o homem civilizado). Cf. PEREIRA, Maria
Helena da Rocha. “Idéias morais e políticas dos romanos”. In: Estudos de História da Cultura Clássica.
II volume – Cultura Romana. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2002.
xiv
Maenchen-helfen nota uma série de divergências na data da morte de Bleda e das campanhas contra a
pars orientalis, que, de historiador para historiador, variam entre 442 e 447. MAENCHEN-HELFEN,
Otto J. The World of the Huns: Studies in their History and Culture. Berkeley: University of California
Press, 1973, pp. 112 – 118.
xv
A οἰκουµένη, a principio, seria o mundo habitado. Este aspecto universal, porém, acaba ganhando
contornos de civilização e, assim, passa a definir não apenas o mundo habitado, mas o mundo civilizado.
Para uma ótima análise deste conceito universal, cf. HIDALGO DE LA VEGA, María José. “Algunas
reflexiones sobre los limites del olkoumene en el Imperio Romano”. In: Gerión, vol. 23, nº.1, Madri,
2005, pp. 271-285.
xvi
Chamamos de “estética política” a construção e a conseqüente interpretação da representação de uma
realidade (no caso, política), partindo de discursos de um determinado grupo. O uso desta denominação,
de nossa parte, é inspirado nos métodos de Kulturgeschichte e Kulturwissenschaft – uma kultur, ou seja,
uma concepção de cultura que fundamenta também segmentos políticos, econômicos e sociais.

xvii
A instabilidade política da Antiguidade Tardia forçou uma série de autores a elaborar teorias e
ideologias que legitimassem e buscassem uma harmonia social, visando a estabilidade administrativa e o
bem comum. Um bom exemplo são as sententiae, de Isidoro de Sevilha, que eram, fundamentalmente,
conselhos para um corpo régio e nobiliárquico.

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xviii
MAN, John. Átila o Huno: o rei bárbaro que desafiou Roma. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006, pp. 130-
132.
xix
Cf. WOLFRAM, Herwig. Op. cit..
xx
POHL, Walter. “Conceptions of Ethnicity in Early Medieval Studies”. In: Debating the Middle Ages:
Issues and Readings. edited by Lester K. Little and Barbara H. Rosenwein. Oxford: Blackwell Publishers,
1998, p.16.
xxi
HEATHER, Peter. Op. cit.(The fall of the Roman...), p. 523
xxii
A representação de Átila nos cantares e lendas de tradição germana pode ser encontrado em um
trabalho de nossa autoria, cf. PINTO, Otávio Luiz Vieira. “Do Flagelo à Majestade: a representação de
Átila nas tradições germânicas”. In: Atas da VII Semana de Estudos Medievais. Edição Especial. Rio
de Janeiro: Programa de Estudos Medievais, 2008, pp. 132 – 138.
xxiii
Referimo-nos aqui a historia gothorum, de Isidoro de Sevilha, onde o bispo faz uma referência aos
hunos como parte constituinte dos primórdios da história goda. Isid. de Sev. Historia Gothorum. 27.
xxiv
Cf. HOPPENBROUWERS, Peter. “Such Stuff as People are Made on: Ethnogenesis and the
Construction of Natiohood in Medieval Europe”, in: The Medieval History Journal. Londres: Sage
Publications, v.9, n.2. 2006.
xxv
Jord. Getica.
xxvi
BURY. J. B.. The Invasion of Europe by the Barbarians: A Series of Lectures. 1928. Distribuido
pela Northvegr e A. Odhinssen em CD-ROOM, p. 70.
xxvii
Prosp. Aquí. Epitoma chronicon. 1367.; Hyd. Chronicon. XXVIII.II, 740-750.; Greg Tours.
Historiae. IV, 29.; Jord. Getica. XXIV, 122.; Prud. Contra Symmachus. II, 808.
xxviii
Prisc. Fragmenta. VIII, 28. Tradução livre.
xxix
MAN, John. Op. cit., pp. 190-191.

Revista Litteris – www.revistaliteris.com.br ISSN: 1983- 7429

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