Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Azella Ascoli
Azella Ascoli
Iniciaremos essa seção apresentando alguns concei- Agora vamos provar que (fn ) converge unifor-
tos e resultados importantes para enunciarmos e de- mente para f : qualquer que seja > 0, pela equi-
monstrarmos o Teorema de Arzelà-Ascoli. continuidade da (fn ) e da continuidade da f , para
cada x ∈ K , existe Vx ⊂ X vizinhança aberta
Denotaremos por C (X, Y ) o conjunto de todas as de x tal que, qualquer que seja y ∈ Vx , temos:
funções f : X → Y contínuas. Quando X for com- d(fn (y), fn (x)) ≤ , ∀n ∈ N e d(f (x), f (y)) < .
pacto e Y for um espaço métrico usaremos a métrica Claramente {Vx }x∈K é um recobrimento aberto
d(f, g) := sup{d(f (x), g(x)) : x ∈ X}. do compacto K , então existe um sub-recobrimento
nito Vx1 , ..., Vxk que cobre K .
Denição 1. Seja X um espaço topológico e M um Qualquer que seja x ∈ K , existe i tal que x ∈ Vxi ,
espaço métrico. Dizemos que uma família F de e portanto d(f (x), f (xi )) < , além disso, existe n0 ∈
funções denidas em X com valores em M é equi- N sucientemente grande tal que, se n ≥ n0 então
contínua no ponto x0 ∈ X se, dado > 0, existe d(f (xi ), fn (xi )) < , para 1 ≤ i ≤ k .
V ⊂ X vizinhança aberta do ponto x0 tal que, Portanto, para n ≥ n0 temos a seguinte
d(f (x0 ), f (x)) < , ∀x ∈ V e f ∈ F . Dizemos que a desigualdade d(f (x), fn (x)) ≤ d(f (x), f (xi )) +
F é equicontínua se F é equicontínua em todos os d(f (xi ), fn (xi ))+d(fn (xi ), fn (x)) < 3. Perceba que
pontos de X . Claramente temos F ⊂ C (X, M ), se a desigualdade é verdadeira para todo x ∈ K , por-
F é equicontínua. tanto a convergência é uniforme.
79
Denição 2. Seja X um espaço topológico. Dize- e então, pelo lema anterior, sabemos que tal conver-
mos que H ⊂ X é relativamente compacto se H é gência é uniforme e concluimos que H é completo.
compacto.
Agora vamos provar que H é totalmente limi-
tado: qualquer que seja > 0, como H é equi-
Denição 3. Seja X um espaço métrico. Dizemos contínuo, para cada x ∈ K , existe uma vizinhança
que X é totalmente limitado se, dado > 0 existe aberta Vx tal que, se f ∈ H e y ∈ Vx , então
um recobrimento {O1 , ..., Ok } com a propriedade: se d(f (x), f (y)) < . Claramente {Vx }x∈K forma uma
x, y ∈ Oi , então d(x, y) ≤ . recobrimento aberto do compacto K , portanto existe
um sub-recobrimento nito, seja ele Vx1 , ..., Vxp .
Teorema 1. (de Ascoli) Seja K um espaço compacto Por hipótese, temos que cada H(xi ) é relativa-
e M um espaço métrico. Seja H ⊂ C (K, M ) então mente compacto, e portanto totalmente limitado,
H é relativamente compacto se, e somente se, H é assim, cada H(xi ) admite um recobrimento nito
equicontínuo e H(x) = {f (x) : f ∈ H} é relativa- Hi1 , ..., Himi tal que, se x, y ∈ Hij , então d(x, y) < .
mente compacto. Para cada sequência q1 , q2 , ..., qi , com 1 ≤
q1 ≤ m1 , ..., 1 ≤ qp ≤ mp , seja Hq1 ,q2 ,...,qp :=
Demonstração:
f ∈ H; f (xi ) ∈ Hipi , 1 ≤ i ≤ p.
(⇒): Suponha que H é relativamente compacto.
O conjunto {Hq1 ,q2 ,...,qp ; 1 ≤ q1 ≤ m1 , ..., 1 ≤ qp ≤
mp } cobre H , portanto temos que mostrar agora que
Primeiro vamos demonstrar que H(x) é relativa-
cada Hq1 ,q2 ,...,qi é totalmente limitado.
mente compacto: de fato, a função hx : C (K, M ) →
Sejam f, g ∈ Hq1 ,q2 ,...,qi , qualquer que seja x ∈ K ,
M denida por hx (f ) := f (x), ∀f ∈ C (K, M ) é con-
existe i tal que x ∈ Vxi , além disso, existe pi tal que
tínua, logo hx (H) é compacto, pois funções contínuas
f (x), g(x) ∈ Hipi , portando d(f (x), g(x)) ≤ . Logo
preservam a compacidade. Como H(x) ⊂ f (H), que
H é totalmente limitado.
é fechado, temos H(x) ⊂ f (H), e, como todo fechado
fechado subconjunto de compacto, é compacto, te-
mos que H(x) é relativamente compacto. 3. Aplicações à Análise
Agora vamos demonstrar que H é equicontínuo: Teorema 2. (de Peano) Sejam S := [x0 − a, x0 + a] ×
como H é relativamente compacto, qualquer que seja [y0 − b, y0 + b] com a, b > 0 e f : S → R uma função
> 0, existe um recobrimento nito H1 , ..., Hp tal contínua. Então, existe um a∗ com 0 < a∗ ≤ a,
que, se f, g ∈ Hi , então d(f, g) ≤ . tal que a equação diferencial y 0 = f (x, y) tem uma
Fixemos então elementos f1 ∈ H1 , ..., fp ∈ Hp e solução, denida em [x0 − a∗ , x + a∗ ], que passa pelo
x0 ∈ K . Da continuidade de cada fi , segue que ponto (x0 , y0 ).
existe uma vizinhança aberta Vx0 de x0 tal que, se
Demonstração:
x ∈ Vx0 , então d(fi (x0 ), fi (x)) < e 1 ≤ i ≤ p.
Como f é continua e S é compacto, existe M > 0
Então, se f ∈ H , existe i tal que f ∈
tal que, |f (x, y)| < M , para todo (x, y) ∈ S . De-
Hi , e portanto d(f (x), f (x0 )) ≤ d(f (x), fi (x)) +
nimos a∗ = min{ M b
, a}. A escolha de a∗ cará clara
d(fi (x), fi (x0 )) + d(fi (x0 ), f (x0 )) < 3 e concluimos
seguir. Para simplicar a notação, usaremos a = a∗ .
que H é equicontinuo.
Seja I0 := [x0 , x0 + a] e, para cada n ∈ N, Ir :=
[x0 + (r − 1)a/n, x0 + ra/n], 1 < r ≤ n. Para cada
(⇐): Suponha que H é equicontínuo e que, para
n ∈ N, denimos uma função yx : I0 → R da seguinte
todo x ∈ K , H(x) é totalmente limitado.
maneira:
Para mostrar que H é relativamente compacto,
basta mostrar que H é totalmente limitado e que
x ∈ I1
y0
H é completo. yn (x) :=
Z x−a/n
y0 + f (t, yn (t))dt x ∈ I1 , .., In
Vamos primeiro provar a completude de H : seja x0
80
A sequência (yn ) é equicontínua, de fato, Além disso, como cada fn é contínua existem
M1 , ..., Mn0 reais tais que |fn (x, y)| < Mn , para
R x−a/n
|yn (x) − yn (z)| = | x0 f (t, yn (t))dt −
R z−a/n R x−a/n n = 1, 2, ..., n0 .
f (t, yn (t))dt| = | x0 f (t, yn (t))dt +
Rxx00 R x−a/n Denindo M = max{Mf + 1, M1 , ..., Mn0 }, temos
z−a/n
f (t, yn (t))dt| = | z−a/n f (t, yn (t))dt| ≤ que, qualquer que seja (x, y) ∈ S, |f (x, y)| < M e
M |x − z|. |fn (x, y)| < M .
Aplicando o Teorema de Arzelà-Ascoli, sabemos Seja a∗ = b/M e para simplicar a notação, vamos
que {yn ; n ∈ N } é relativamente compacto, portanto assumir a = a∗.
a sequencia (yn ) tem uma subsequência (ynk )k∈N Como cada fn é continuamente diferenciável,
convergente. usando o teorema da desigualdade do valor médio
Denimos u(x) := limk→∞ ynk (x), para todo x ∈ concluimos que cada fn é também lipschitziana, en-
I0 . Vamos mostrar que u é solução de y 0 = f (x, y). tão, pelo teorema da existência de Cauchy, para
Por denição, temos ynk = y0 + cada fn , existe uma única função Ryn denida em
x
[x0 − a, x0 + a] tal que yn (x) = y0 + x0 f (t, yn (t))dt.
R x−a/nk Rx
f (t, ynk (t))dt = y0 + x0 f (t, ynk (t))dt +
Rxx−a/n
0
k
f (t, ynk (t))dt.
x Rx Vamos mostrar que {yn : n ∈ N} é relativamente
Perceba que limk→∞ x0 f (t, ynk (t))dt =
Rx R x−a/nk compacto em C ([x0 − a, x0 + a], [y0 − b.y0 + b]). Pelo
x0
f (t, u(t))dt e que 0 ≤ | x f (t, ynk (t))dt| ≤ teorema de Arzelà-Ascoli, é suciente demonstrar
que {yn : n ∈ N} é equicontínuo e que o conjunto
R x−a/nk
M/nk portanto limk→∞ x f (t, ynk (t))dt = 0.
Rx
Então u(x) = y0 + x0 f (t, u(t))dt, u0 (x) = {yn (x) : n ∈ N} é relativamente compacto, para todo
x ∈ [x0 − a, x0 + a].
f (x, u(x)) e u(x0 ) = y0 .
81
R |f (t, y(t)) − f (t, yn (t))| < /a e portanto
x
| x0 f (t, y(t)) − f (t, yn (t))dt| < , pois f é contínua. (⇐): Suponha que toda sequência de funções de
Como queríamos. F |K tenha uma subsequência convergente.
Exemplo 2. Note que garantimos apenas a existência Como F |K é compacto, pelo teorema de Arzelà-
da solução, porém, não temos como garantir garantir Ascoli, F |K é equicontínuo e, para todo x ∈ K ,
a unicidade da solução apenas com as hipóteses do {f (x) : f ∈ F } é totalmente limitado, portanto
teorema de Peano: considere a equação diferencial existe Mx > 0 tal que |f (x)| < Mx , para toda
y 0 = 3y 2/3 , as funções z(x) = 0 e w(x) = x3 são f ∈ F |K .
soluções, denidas em uma vizinhança de 0, e z(0) = Como F |K é equicontinuo, existe Vx vizinhança
w(0), portanto não temos a unicidade da solução. aberta de x tal que se y ∈ Vx e f ∈ F então |f (x) −
f (y)| < 1.
Como K é compacto e {Vx }x∈K é um recobri-
Denição 4. Seja Ω ⊂ C aberto não vazio e F um mento aberto de K , existe K0 ⊂ K nito tal que
conjunto de funções analíticas equilimitadas sobre {Vx }x∈K0 ainda cobre K.
todo conjunto compacto K , isto é, dado um com- Seja então M = max{Mx + 1; x ∈ K0 }, temos que
pacto K ⊂ Ω, existe Mk ≥ 0 tal que |f (z)| ≤ Mk , |f (x)| < M , para todo x ∈ K e toda f ∈ F .
para todo z ∈ K . Nestas condições a família F é
dita uma família normal. Referências
82