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Felipe Pantone Ernesto Neto Bauhaus Paulo Bruscky

Abril | 2019 Edição 1026


Abril | 1
anúncio
sumário

agenda
Programação cultural da
cidade de São Paulo
04

na rua
Pichação: Uma nova
estética urbana?
06 Direção
Juliana La Bella

Edição de texto
Juliana La Bella
na capa
08 A escola alemã que
revolucionou a história
Edição de Fotografia
Juliana La Bella
do design.
Jornalistas
Juliana La Bella
Juliana La Bella
Juliana La Bella
entrevista
Paulo Bruscky: Um
Criador de Circuitos
14 Revisão
Juliana La Bella

Coordenação Executiva
Juliana La Bella

Coordenação Editorial
Juliana La Bella

Marketing
Juliana La Bella

Supervisão Gráfica
Juliana La Bella
reportagem
18 Ernesto Neto expõe na
Pinacoteca de São Paulo
Finalização
Juliana La Bella

Novos artistas
Felipe Pantone e o
Computador no
20
Mundo Real

Catálogo
22 Indicações de conteúdos
para aprofundar o
conhecimento

Abril | 3
agenda

Tarsila Popular
Tarsila do Amaral (Capivari, SP,
1886-São Paulo, 1973) é uma das
maiores artistas brasileiras do sé-
culo 20 e figura central do moder-
nismo. Esta é a mais ampla exposi-
ção já dedicada à artista, reunindo
92 obras a partir de novas perspec-
tivas, leituras e contextualizações.

MASP
Av. Paulista, 1578
De 05.04 a 28.7
Visitação gratuita às terças-feiras

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação Foto: Divulgação Foto: Divulgação

Paul Klee - Equilíbrio Artur Lescher: Leonilson: arquivo e


Instável Suspensão memória vivos
O Centro Cultural Banco do Bra- A exposição em cartaz na Pina Es- A exposição reúne mais de 120
sil apresenta pela primeira vez tação, apresenta uma retrospecti- obras do artista cearense Leonilson
na América Latina, em uma mes- va da trajetória de Artur Lescher, (1957-1993). Entre as obras, várias
ma exposição, mais de 100 obras reunindo cerca de 120 trabalhos inéditas, estão pinturas, desenhos
do artista suíço Paulo Klee, que, do artista. São instalações, es- e bordados, parte delas restrita por
apesar de ter experimentado com culturas, maquetes e cadernos de décadas a coleções particulares e
diversos movimentos de vanguarda desenho. A curadoria é de Camila institucionais, pouco ou nunca an-
europeia, nunca se enquadrou em Bechelany. tes vistas em São Paulo.
um estilo em particular.
Pina_Estação Centro Cultural Fiesp
CCBB - Centro Cultural Banco do Largo General Osório, 66 Av. Paulista, 1313
Brasil De 13.02 a 29.04 De 13.02 a 29.04
R. Álvares Penteado, 112 Grátis Grátis
De 13.02 a 29.04
Grátis

4 | Abril
Maurício Nogueira
Lima: contribuições à
arte brasileira
Centro de Pesquisa e Formação
do Sesc
R. Dr. Plínio Barreto, 285
De 17.04 a 15.05
Ter das 14h às 17h
Foto: Divulgação

São Paulo vista do


Sebastião alto: fotografia e pai-
abril, na Galeria Roberto Camas- sagem urbana
Salgado mie, em São Paulo. Toda a renda
obtida com a venda das obras será Centro de Pesquisa e Formação
Os fotógrafos doaram as imagens revertida para o Instituto Homem do Sesc
produzidas no Pantanal para serem Pantaneiro. R. Dr. Plínio Barreto, 285
vendidas em uma exposição, que De 16.04 a 14.05
abrirá ao público, em 8 de abril, na Galeria Roberto Camasmie Ter das 14h às 17h
capital paulista. No total, são doze Rua Bela Cintra, 1992
fotografias em preto-e-branco. De 07.04 a 28.4 Educomunicação para
A mostra fica em cartaz até 26 de Grátis Educadores
Centro de Pesquisa e Formação
Exposições do Sesc
Acessíveis R. Dr. Plínio Barreto, 285
De 17.04 a 18.04
Pensar projetos que incluam todos Qua e Qui das 14h às 18h
os indivíduos, é parte fundamental
das novas demandas expográficas.
Pessoas com e sem deficiência de Círculos Criativos:
todas idades, gêneros, classes so- Metodologias Abertas
ciais e culturas podem fruir dos para Fluir, Colaborar
espaços culturais públicos e priva- e Realizar
dos, através do desenho universal
das exposições, seus artefatos e A oficina propõe um percurso de
tecnologias assistivas. Para tanto, exercícios e reflexões, individuais
se propõe um curso com ferramen- e coletivos, que convidam ao au-
tas históricas, normativas, estudos toempreendedorismo, uma forma
de casos, visitas e criação de uma de cuidar das mudanças pessoais
exposição, destacando sempre o e inovar em projetos profissionais,
olhar sobre a diversidade, ergo- aumentar sua conectividade em
nomia e bom acesso a todos os arranjos colaborativos e subsidiar
públicos. o empreendimento de projetos
autorais.
Centro de Pesquisa e Formação do
Sesc Instituto Tomie Ohtake
R. Dr. Plínio Barreto, 285 Av. Brigadeiro Faria Lima, 201
De 08.04 a 06.05 De 17.05 a 19.05
Seg e Qua das 19h às 21h30 Sex das 15h às 21h
Foto: Divulgação
Sáb e dom das 10h às 18h

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na rua

Rua localizada no bairro do


Bexiga, região central da
cidade de São Paulo

“A pichação é
Na percepção estética da cidade, extremamente específica. O sujeito
tudo o que se está fora dos padrões que busca entender o ato criativo

transgressora, faz parte


criados pela arquitetura, seja ela da pichação precisa estar disposto
moderna ou pós-moderna, é enca- a ampliar sua percepção estética
rado com estranhamento por gran- para que assim possa compreen-
de parte da população. der além do que está disposto no
muro.
de sua razão de ser, e
“O fenômeno da pichação não é
contemplado nem pelo modelo mo- “Na relação estética o mundo é re-
em vez de ser tratada
dernista, nem pelo pós-moderno:
‘se, por um lado, a austeridade do
criado e uma nova compreensão da
realidade se constitui na produção
como uma agressão à obra,
modelo modernista não contem-
pla nada que fuja à padronização
de outros sentidos, construídos a
partir do olhar que se lança mais deveria ser tratada como
e à uniformização nele inerente, o
pós-modernismo, por outro lado,
aberto às coisas, para além delas.”.
a obra de arte que se
reclama para si apenas uma nova
estética em detrimento dos proble-
A pichação, enquanto ação política
é, a todo momento, transgresso- comunica pela estética da
agressão, da transgressão,
mas sociais’”. ra e se faz também dessa forma
no uso da língua portuguesa e na

usando a cidade como


Dessa forma, a percepção da pi- utilização de padrões estéticos. “A
chação não sofre processo diferen- pixação é tão transgressora que

suporte para tal.”


te. Criada para ser transgressora, subverte até a língua portugue-
e se comunicar através de uma es- sa, já que, em vez de ser escrita
tética “violenta”, a pichação cria um com ‘ch’, como é correto, é usada Walter Gropius
universo próprio, compondo uma por eles sempre com ‘x’”. É atra-
segunda pele na epiderme da ci- vés dela que os pichadores criam
dade com características próprias, um espaço para o diálogo com a
símbolos únicos e de comunicação cidade e com seus moradores e

6 | Abril
Pichação:
Uma nova
estética Para muitos, o julgamento estéti-
co é fortemente influenciado pelo
poder legislativo, de forma que,
se tal ação é julgada por lei como

urbana? crime ambiental, esta não deve ser


considerada como arte. Ao mesmo
tempo, esse julgamento não é per-
tinente, tendo em vista que a lei
Uma reflexão acerca do não se relaciona em momento al-
gum com o juízo de valor de ordem
nosso convívio com o picho estética, portanto, não se relaciona
com o significado do belo. “Uma ex-
em São Paulo. pressão não precisa ser lícita para
ser considerada arte”, comenta
Djan Cripta.

Quanto aos padrões desenvolvidos


então transmitem suas filosofias e como sujeira que não possui técni- pelas gangues e grupos, nota-se
ideologias para os muros, criando ca ou alguma estética por trás de que a identificação, no sentido do
também uma ponte comunicativa sua criação, o que não é verdade. coletivo e do individual, é de ex-
entre ambas as partes. Como ação Atualmente, vê-se a arte como ob- trema importância. Quando um
política, é notável através da análi- jetos e conceitos legitimados den- pichador passa a fazer parte de
se histórica a utilização da pichação tro do ambiente do museu e galeria, um grupo, ele incorpora em seus
para ter voz, para se fazer notar. como por exemplo, o grafite, que há “rolés” às características daquele
anos, como já vimos anteriormente, grupo ao qual faz parte, portanto, a
É essa a forma que alguns jovens já ultrapassou os muros da rua e caligrafia estilizada tem um padrão
da periferia encontram para não está presente em galerias, expo- que deve ser seguido. Cada grupo
seguir o percurso que dizem estar sições e acervos museológicos. tem sua própria assinatura, sendo
traçado pela sociedade, ou seja, os Enquanto isso, a pichação ainda é que ela pode conter elementos que
manter à margem. vista como vandalismo, sem ao me- remetem a algum signo, de forma a
nos que seja pensada como expres- complementar a personalidade da-
“E é verdade: a pixação (sic) é uma são artística. Nesse sentido, não há quele grupo através da caligrafia.
espécie de terrorismo, mas um porque não pensar na possibilidade Quando o pichador insere sua tag
terrorismo poético e estético, ain- do vandalismo como ato artístico, junto à tag da gangue, ela obede-
da que seja político – o que muda ou na possibilidade da arte ser tam- ce a regra de estar sempre após
muita coisa. Por fim, ela é algo bém vandalismo. o nome do grupo e em escala me-
ainda mais curioso: é terrorismo nor. Esse padrão é visualizado em
conceitual.”. “A pichação é transgressora, faz grande parte das assinaturas em
parte de sua razão de ser, e em vez São Paulo. A foto abaixo demons-
Enquanto o grafite é considerado de ser tratada como uma agressão tra com clareza os padrões de uma
uma técnica artística desenvol- à obra, deveria ser tratada como a assinatura, no picho feito por um
vida que não possui ética em sua obra de arte que se comunica pela integrante do grupo Tumulos, logo
criação, quanto às escolhas de su- estética da agressão, da transgres- em seguida encontra-se a sigla
portes ilegais para seu desenvol- são, usando a cidade como suporte kko, que se refere à identidade do
vimento, a pichação pode ser vista para tal.” pichador que deixou aquela marca.

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na capa

8 | Abril
100 anos
da escola
alemã
Conheça a história de uma
das mais inovadores escolas
de arquitetura e design:
a Bauhaus.
Autor: Nexo Jornal Foto: Arquivo histórico

A escola veio em 1919, quando papel no progresso da sociedade.


Gropius renomeou a instituição A primeira localização da Bauhaus
de ensino de que era diretor, a Es- foi na cidade de Weimar, centro do
cola de Artes do Grão-Ducado da iluminismo alemão, onde no pas-
Saxônia. O novo nome, Bauhaus, sado tinham vivido figuras como o
era um neologismo criado pelo escritor Goethe e o músico Franz
arquiteto que significa literalmen- Liszt. Com o fim da Primeira Guer-
te “casa de construção”. Em um ra, a derrotada Alemanha deixou de
ambiente libertário e experimen- ser reino para virar república. Em
tador, estudantes e professores, 1919, uma assembleia redigiu em
incluindo estudantes que viraram Weimar uma Constituição para o
professores, entregaram às ar- novo Estado alemão, baseada em
tes, ao design e à arquitetura do princípios democráticos. Em 1925,
mundo uma linguagem estética e a Bauhaus se mudou para Dessau,
conceitualmente inovadora. Um no icônico prédio envidraçado pro-
movimento que aconteceu em con- jetado por Gropius. A chamada “Re-
sonância com demandas de uma pública de Weimar” durou de 1919
sociedade cada vez mais urbana até 1933, quando Adolf Hitler che-
e industrial, de massas. Bauhaus gou ao poder. O ano de 1933 tam-
virou sinônimo de um olhar prático bém significou o fim da Bauhaus.
e modernista, identificável por la- A escola fechou diante de diversas
jes planas e formas retangulares. pressões do novo regime para que
Mas também de um olhar genero- removesse alunos judeus ou es-
so, em que a estética não se eximia querdistas. Foi a culminação de
de sua dimensão política e de seu um processo de hostilidade contra

Abril | 9
a instituição, sua filosofia e suas Mies van der Rohe e Marianne
criações por parte de políticos, ci- Brandt. Entretanto, ego e culto à
dadãos e mídia conservadores que personalidade estavam em opo-
ocorria desde a sua fundação. O sição às crenças de Gropius, para
manifesto da Bauhaus, lançado por quem o artista deveria ser colocado
Gropius em 1919, falava na constru- no mesmo patamar que o artesão,
ção do futuro e na importância da um especialista técnico em um
colaboração coletiva. Opositores ofício que eventualmente, em mo-
atacavam-na como antro de “mar- mentos inspirados, poderia produ-
xistas culturais” e “Bolcheviques”. zir trabalhos artísticos. Ninguém
estava acima de ninguém. Entre os
Entre alunos e professores havia traços desejáveis para se fazer par-
uma diversidade de tipos, inclu- te do quadro docente da Bauhaus,
sive comunistas. A característica Gropius enfatizava, segundo suas
mais comum, entretanto, era um palavras, “bom caráter mais do
gosto pelo novo, pela vanguarda. que talento”. O que se desenvolveu
Estudantes de toda a Alemanha, e na escola foi uma abordagem e um
de outros países europeus, foram trabalho que influenciou profunda-
atraídos pela perspectiva de um lo- mente a estética e os modos de fazer
cal onde se encorajava experimen- do século 20. Arranha-céus, casas
tação e a metodologia era diferente residenciais, móveis, utensílios de
do que era oferecido pelas escolas cozinha, arte abstrata, escultura,
de arte e arquitetura tradicionais. automóveis: o legado da Bauhaus
“Havia revolução por toda parte”, se faz presente na vida cotidiana do
afirmou Gunta St’olz, artista têxtil mundo até hoje, um século depois. Artistas da vanguarda russa pu-
e figura de destaque no início da es- Walter Gropius funda a escola blicam “O manifesto realista”, em
cola. “Eu vi o panfleto da Bauhaus Bauhaus em 1919, em Weimar, para que usam o termo “construtivismo”
na Faculdade de Artes de Munique o ensino das artes e da arquitetura. para qualificar sua abordagem. O
e disse para meus pais que tinha Na mesma cidade, uma assembleia filme “O Gabinete do Doutor Ca-
de ir para Weimar”. Artistas, de- nacional redige a nova constituição ligari”, marco do movimento ex-
signers e arquitetos inovadores do alemã, inaugurando a República de pressionista, chega aos cinemas.
início do século 20 foram alunos e/ Weimar. O Tratado de Versalhes é A Alemanha vive convulsão so-
ou professores da Bauhaus, entre assinado, forçando a Alemanha a cial, com facções ideológicas, da
eles Paul Klee, Wassily Kandinsky, se desarmar, indenizar as forças esquerda à direita, em disputa. O
László Moholy-Nagy, Josef Albers, aliadas e ceder partes de seu ter- industrial vale do Ruhr é ocupado
ritório, após a derrota na Primeira pelo Exército Vermelho do Ruhr,

“De repente, eu me
Guerra Mundial. Na Rússia, o ar- formado por agremiações sindicais
tista gráfico El Lissitzky conclui e comunistas.

dei conta de que teria


“Vence os Brancos com a Cunha
Vermelha”, pôster de propaganda O quadro de professores da

que participar de algo


soviética que é um marco do design Bauhaus inclui os consagrados
construtivista. pintores, como o suíço-alemão
Paul Klee e o russo Wassily Kan-
completamente novo que Depois de um início centrado em
oficinas com materiais, focadas em
dinsky. O artista e arquiteto holan-
dês Theo Van Doesburg, fundador
iria mudar as condições habilidades práticas, Gropius intro-
duz em 1920 aulas teóricas sobre
do movimento De Stijl, se muda
para Weimar e monta seu curso ao
em que eu vivia antes” temas como cor e espacialidade
na Bauhaus. O curso preliminar,
lado da instituição alemã. O poeta
britânico T.S. Eliot publica “A Terra
Walter Gropius de seis meses, a cargo de Johan- Inútil”, marco da poesia modernis-
nes Itten, é adicionado ao currículo. ta. No Brasil, artistas e escritores

10 | Abril
Abajour desenvolvido por
Walter Gropius.

à residência como um todo. A pri-


meira série de livros da escola é
publicada, com títulos assinados
por Gropius, László Moholy-Nagy,
Paul Klee, Wassily Kandinsky e
Piet Mondrian. Surge a empresa
Bauhaus Limitada, para a venda
comercial dos produtos criados na
escola. Em Paris, uma exposição
de “artes decorativas e industriais
modernas” introduz a expressão
e estética art déco. É lançado o
filme “O Encouraçado Potemkin”,
do cineasta russo Serguei Eisens-
tein. Hitler publica seu livro “Mein
Kampf” (“Minha Luta”), escrito na
prisão.
Jogo de xadrez
desenvolvido por Marianne
Brandt e seus colegas A escola finalmente tem seu depar-
tamento de arquitetura em 1927. No
ano seguinte, a Bauhaus começa-
ria a usar o subtítulo “Faculdade
de Design”. A Bauhaus agora é
uma instituição reconhecida inter-
participam da Semana de Arte Mo- grupo de “amigos da Bauhaus”, nacionalmente. Gropius se torna
derna. A Alemanha enfrenta a hi- que inclui o pintor Marc Chagall e um palestrante e articulista requi-
perinflação, consequência dos pa- o cientista Albert Einstein, é for- sitado. Pela primeira vez, a escola
gamentos que o país tem de fazer mado para apoiar a escola. No oferece um curso de treinamento
às nações vencedoras da Primeira fim do ano, Gropius anuncia que puramente artístico, com aulas de
Guerra Mundial. Circulam cédulas a Bauhaus irá deixar a cidade em pintura gratuitas por Paul Klee e
de até 50 bilhões de marcos. que foi fundada. A aluna e depois Wassily Kandinsky. A politização
mestre Marianne Brandt desenha dos estudantes da Bauhaus cres-
Gropius busca mudar o direciona- seu bule de chá, que se tornaria ce e incomoda autoridades e a ad-
mento da Bauhaus. Com o lema um ícone do design. O dramatur- ministração da escola. O cineasta
“arte e tecnologia - uma nova uni- go Bertold Brecht se muda para Fritz Lang lança “Metropolis”, fic-
dade”, procura estreitar os laços da Berlim, que se estabelece como ção científica caracterizada por um
escola com a indústria. Em setem- fervilhante centro de arte, boemia futurismo distópico.
bro, a Bauhaus promove sua pri- e atividade política. Na União So-
meira exibição pública, ajudando a viética, Vladimir Lenin, o líder da Em 1933 Hitler se torna chance-
tornar a escola conhecida em todo Revolução Russa, morre em decor- ler e começa a estabelecer um
o país. Em Munique, 2.000 nazistas rência de uma doença sanguínea. regime totalitário na Alemanha.
liderados por um jovem Adolf Hitler A convite da prefeitura de Dessau, A Bauhaus, que em 1932 havia se
marcham pelas ruas numa tentativa a Bauhaus se muda para a cidade. mudado para Berlim, é revistada
de derrubar o governo da Baviera. O edifício da nova sede, projetado e fechada pela polícia. Cerca de
O episódio, conhecido como o “Pu- por Gropius, se tornará um mar- 30 estudantes são presos tempo-
tsch da Cervejaria”, terminou com co da arquitetura moderna. O di- rariamente. A reabertura da es-
16 nazistas mortos e Hitler preso. retor anuncia uma reformulação cola é condicionada à demissão
A Bauhaus começa a enfrentar a do programa de ensino, focado no de professores “esquerdistas” e à
oposição de políticos conserva- “desenvolvimento contemporâneo reformulação do programa segun-
dores da cidade e do estado da da habitação”, abrangendo dos do as diretrizes do novo regime. O
Turíngia, onde fica Weimar. Um objetos domésticos mais simples corpo docente resolve não reabrir

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Diversas peças de design
desenvolvida pelos alunos
e professores da Bauhaus.

12 | Abril
a escola. Pela Alemanha, partidos em seu topo. O texto aparece com- formas tornaram-se um elemen-
e agremiações são encerrados. O posto em uma tipografia serifada, to visual recorrente do material
Reichstag, o parlamento alemão, ou seja, com pequenos traços e gráfico da Bauhaus, podendo ser
é incendiado. Em poucos anos, to- prolongamentos que ocorrem no encontrado em outras peças como
dos os nomes importantes ligados fim das hastes das letras. E em- a papelaria institucional da escola,
à Bauhaus saem da Alemanha para bora esteja alinhado à esquerda, é cartazes como o da exposição de
o exílio. alinhado de modo “justificado”, ou Wassily Kandinsky, e em materiais
seja, de maneira a ocupar de forma editoriais como a revista publicada
Comumente associada com ideais equivalente todas as linhas. pela escola. Ora como elementos
de racionalismo e minimalismo, que conferem ritmo ou organização
a Bauhaus teve na sua primeira O primeiro símbolo da escola tam- às composições, ora destacando
peça do design gráfico um item cujo bém trazia uma perspectiva mais informações, essas barras eram na
leiaute pode ser associado muito “artesanal”, com uma figura hu- verdade “fios” de impressão — ti-
mais às ideias do Expressionismo, mana carregando uma pirâmide. ras de madeira que eram utilizadas
movimento artístico de vanguarda Utilizado de 1919 até 1922, foi apo- na gráfica para preencher espaços
surgido na Alemanha do início do sentado e substituído pelo rosto de nas páginas, e que nesses leiautes
século 20. Uma ilustração preta perfil criado por Oskar Schlemmer: eram ressignificadas.
feita em xilogravura de extremos formas geométricas, círculos per-
contrastes e linhas brutas, o folhe- feitos, quadrados e barras verticais
to de abertura da escola divulga- e horizontais compõem uma figura
do em 1919 traz a imagem de uma humana que buscava represen-
catedral com estrelas brilhando tar um homem universal. Essas

Registro fotográfico da ca-


deira desenvolvida durante
aulas na Bauhaus. Não é
possível identificar quem é
a modelo.

Abril | 13
entrevista

um criador
de circuitos
O artista pernambucano
fala sobre seu processo
de criação, sua trajetória e
próximas exposições.

A presente entrevista faz parte da Paola Fabres: Como se deu tua começa a se comunicar de uma for-
pesquisa de mestrado de Paola Fa- entrada na atividade postal, ma mais intensa.
bres, em andamento, que analisa a como participante da rede?
produção de periódicos de artistas Tu auxiliaste também no processo
no Brasil durante os anos 1970. Paulo Brusky: Foi a partir da cor- de incorporação de novas pessoas
Sendo Paulo Bruscky uma figura rente que estava se estruturando nessa rede?
tão representativa na produção de na época. Como eu participava já
publicações alternativas nesse pe- do Poema Processo, que era uma Sim, mas de uma forma simultâ-
ríodo, ele integra o estudo a partir atividade interligada à América La- nea. Foi tudo meio junto. Logo Vigo
de seus trabalhos de impressos em tina, cheguei a publicar em 1969 e e Padin entram também. E, quando
série. O texto a seguir representa 1970 nos jornais daqui, eu já tinha se vê, tem um grupo grande tro-
um recorte da conversa e enfoca, contato com [Clemente] Padin, com cando por todo o mundo. Era tudo
principalmente, a atuação de Brus- [Edgardo Antonio] Vigo. O Poema muito espontâneo. Foi um movi-
cky como participante do circuito Processo ainda não era arte cor- mento que não teve nacionalidade.
da rede de Arte Postal ao longo reio, mas ele criou muito contato Porque antes disso era tudo muito
dos anos de repressão política na- entre os artistas latino-america- segmentado. Se formos pensar nos
cional. Para o artista, esses mate- nos, publicando trabalhos do Da- movimentos anteriores, na Pop Art,
riais marginais criaram canais de daísmo, do Surrealismo. Entrei em por exemplo, o grupo Cobra, o Sur-
comunicação e troca, auxiliando contato, também com Julien Blai- realismo, todos eram localizados,
na liberdade de expressão e crian- ne, da França, que inclusive esteve em regiões específicas onde acon-
do diálogos entre países e artistas aqui em 1970 e eu acabei entrando teciam as coisas. O próprio Fluxus
nunca antes conectados. com a corrente que vinha do Fluxus começa em locais específicos na
alemão. A partir de 1973, quando eu Europa e nos Estados Unidos. Mas
entro, estoura essa rede subterrâ- é com a Arte Correio que isso es-
nea pelo mundo todo, todo mundo toura no mundo todo. Essa questão

14 | Abril
sobre o Individual Coletivo, a exposição de
artista arte correio, entre vários outros. O
pessoal do Gutai, do Fluxus e John
Nome completo: Cage, também me chamaram mui-
Paulo Roberto to a atenção. O Falves Silva tinha
Barbosa Bruscky feito uma exposição internacional,
chamada Olho Mágico, em que ele
Nacionalidade: mandou um postal para as pessoas
brasileiro. interferirem. Eu convidei ele para
vir à Recife, ele era de Natal, e eu
Idade: trouxe a exposição. Aquele eu achei
70 anos. um trabalho muito bacana. Teve
( 21.03.1949). uma coletiva, também, do Instituto
de Artes de Porto Alegre que gostei
Movimentos bastante, e trouxe aqui para o nor-
artísticos: deste, com Karin Lambrecht, Ma-
arte conceitual. ria Lucia Cattani, Mário Röhnelt e
Milton Kurtz. Isso já nos anos 1980,
Linguagem: mas desde os 1970 esses intercâm-
poesias visuais, li- bios entre os artistas começaram a
vros de artista, per- acontecer de forma mais evidente.
O artista em seu ateliê com formances, interven-
uma de suas obras. ções urbanas, filmes Tu concebeste, ao longo dos anos
em Super-8, obras 1970, muitas publicações periódi-
em novas mídias, cas como é o caso da Punho, Mul-
arte postal. tipostais, Individual Coletivo, entre
de nacionalidade perde a importân- outras. Comente um pouco sobre
cia. Uma proliferação total, sem Coletivos artísticos: essas produções.
conceito de seleção ou premiação, Grupo Gutai e Grupo
sem análise de qualidade. Não ti- Fluxus. A Punho aconteceu no início dos
nha nada disso. Era uma prática anos 1970, com mimeógrafo a
inclusiva e coletiva. Prêmios: álcool. Nós saíamos pelos bares e
Bolsa Guggenheim entregávamos o stencil para todo
De uma forma imediata, então, o pessoal que estivesse junto,
passa-se a ter acesso a muitas Na sociedade: depois íamos para a livraria de um
produções, a muitas pessoas. O Conhecido pelo con- amigo da gente, chamada Livro 7,
que te chamou atenção na época, o teúdo de contesta- reproduzíamos tudo e no mesmo
que te despertou como referência? ção social e política, dia finalizávamos a revista. Essa
resultado da postura livraria tinha um segundo andar
Por exemplo, António Ferro, um dos crítica e militante do pequenininho, tínhamos que
precursores do happening, eu havia artista, cujo princí- caminhar totalmente abaixadinhos.
lido o livro dele no final dos anos pio da carreira coin- A gente saia com uma dor na co-
1960. Nós começamos a manter cide com a ascensão luna, sabe? Porque nós não cabía-
contato e ele inclusive participou de governos milita- mos em pé. A gente ficava apertado
de trabalhos que fiz por aqui. Nun- res e o consequente e escondidos. E tínhamos que to-
ca imaginei que eu teria um contato estabelecimento de mar cuidado mesmo, porque tinha
próximo com um dos caras que era severos regimes di- muita coisa contra o governo ali.
percussor do happening. Ele era tatoriais em diversos Eles tinham um mimeógrafo que
bem mais velho do que eu, mas par- países latino-ameri- reproduzia todos os materiais da
ticipou de projetos que eu organizei canos, incluindo o livraria e eles nos deixavam rodar
aqui no Brasil, como a publicação Brasil. a Punho lá. Então a gente ficava

Abril | 15
Performance realizada no
centro de Pernambuco nos bebendo, depois juntava tudo e
anos 1970. ia para a livraria rodar a cópia no
mimeógrafo. E o nome Punho é por
isso mesmo, era tudo feito à mão
na hora. Como o mimeógrafo era a
álcool, ele era muito barato, assim
como a caixa de stencil que também
era baratíssimo. Isso possibilitou a
produção.

Apenas o uso do mimeógrafo já


era uma atitude de contracultura,
certo?

Claro. O exército, na ditadura, co-


meçou a obrigar que todos regis-
trassem o mimeógrafo. Era mais
perigoso, na época, se ter um mi-
meógrafo do que uma arma de fogo
em casa. Então, eles começaram
a confiscar. Porque eles queriam
controlar todos os meios de repro-
dução. E era um meio alternativo.
Na Escola de Belas Artes tinha um.
Eu não cheguei a estudar lá, mas eu
a frequentava. E a gente começou a
rodar muitos materiais no mimeó-
grafo do diretório. Mas eu também
tinha o meu em casa. Fiz muitos
trabalhos com ele.

Tu tiveste que entregar o teu?

Não. Consegui segurar firme o meu.


Eles não viram na época. Eles che-
garam a prender alguns trabalhos
meus, meu irmão até tocou fogo
em algumas coisas quando eles
entraram na casa de minha mãe,
levaram algumas coisas minhas.
Enquanto eles revistavam a casa
na parte da frente meu irmão saia
pela porta dos fundos enchendo o
carro com os meus trabalhos, com
os que ele achava mais perigosos
ou que poderiam me comprometer
mais. Então deu para salvar mui-
ta coisa. E o mimeógrafo faz parte

16 | Abril
rodava na universidade de Mato
Grosso, muita coisa ele fazia nas
instituições fora do horário do ex-
pediente. Imprimia nos finais de
semana. Muita gente fazia isso.
Porque era a solução, não se ti-
nha dinheiro, era tudo controlado
e tudo muito caro. Se você fosse
fazer com uma gráfica havia peri-
de muita história de resistência no embora publicasse também alguns go que te dedurassem, então havia
Brasil, desde a Geração Mimeó- consagrados como Rubem Braga, essa necessidade de ser tudo mui-
grafo ou Geração Alternativa de como Gilberto Freyre, mas era uma to camuflado. Da mesma forma, as
Resistência, que ultimamente tem editora alternativa, hoje histórica tiragens tampouco poderiam ser
se resgatado. dentro do movimento alternativo. muito longas porque, caso contrá-
Não tinha verba oficial, mas era rio, haveria gente desconfiando de
Como se dava a circulação desses pirataria que vinha de dentro da papel sumindo. Por isso as edições
impressos? Vocês enviavam o im- Fundação, fora do horário de expe- eram pequenas e por isso as edi-
presso pelo correio? diente, mas usando papel e maqui- ções se tornaram raras também.
nário institucional. Ninguém sabia, Mas o gostoso é exatamente isso.
As primeiras edições tinham um lógico. Mas era muito comum isso Era como se podia driblar na época,
perfil muito local. Circulava nas no Brasil inteiro. Por exemplo, des- com o recurso e com a estratégia
mãos de quem estava produzin- cobrimos que Wladimir Dias Pino que se tinha.
do, entre a gente e mais algumas
pessoas. Nós deixávamos algumas
edições com o pessoal da Livro 7
também, em retribuição à Tarcísio,
para que ele distribuísse entre al-
gumas pessoas que interessasse.
Depois as edições em ofsete cir-
cularam mais, havia mais núme-
ros e enviávamos pela rede postal
para todos os participantes. Mas
essas edições voavam. Porque
já não havia muitas e lembro que
sempre acabavam logo em segui-
da. Mas dávamos uma para cada
participante. Hoje são raras. Esse
levantamento de encontrar as pe-
ças é muito difícil de se fazer. Por
isso que guardo com muito carinho
esses acervo de impressos. Como
as Edições Pirata, muita coisa ro-
dava de forma escondida dentro da
Fundação Joaquim Nabuco. Depois
de décadas que se montou o pró-
prio espaço, que acabou publicando
mais de duzentos livros alternati- O artista em seu ateliê com
vos, dentro da literatura marginal, uma de suas obras.

Abril | 17
reportagem

Foto: Divulgação

A partir de uma compreensão sin-


gular da herança neoconcreta, Er-
nesto Neto (Rio de Janeiro, 1964),

Ernesto Neto desdobra suas esculturas iniciais


– elaboradas com materiais como
meias de poliamida, esferas de iso-

expõe na por e especiarias – em grandes ins-


talações imersivas, que propõem
ao espectador um espaço de conví-

Pinacoteca
vio, pausa e tomada de consciência.
Sua prática escultórica engendra-
-se a partir da tensão de materiais
têxteis e de técnicas como o crochê.
Nova exposição na Essas grandes estruturas lúdicas
acolhem ações e rituais que re-
Pinacoteca do Estado velam as preocupações atuais do
artista: a afirmação do corpo como
expõe obras importantes da elemento indissociável da mente e
da espiritualidade.
carreira do artista.
Desde 2013, o artista vem colabo-
rando com os povos da floresta,
principalmente a comunidade indí-
gena Huni Kuin, também conhecida
como Kaxinawá. A população dessa

18 | Abril
Foto: Divulgação

etnia, com mais de 7.500 pessoas, população, família, corpo coletivo


habita parte do estado do Acre e e convivência simbiótica”, define
forma a mais numerosa população Neto.
indígena do estado. “A turma da flo-
resta tem uma ligação muito mais “Copulônia marca o momento em
profunda com a natureza. Inclusive, que Neto começa a pensar a escul-
a palavra natureza, como algo que tura não mais como um único volu-
está fora de nós, seres humanos, me mas como um todo composto de
nem existe nessa comunidade. Eles partes. Outras obras icônicas dele
não veem essa separação”, conta o integram a seleção, como aquelas
artista. que contem especiarias (cravo,
açafrão, urucum), as Naves (arqui-
“A convivência com eles me trouxe teturas de tecido em que o visitante
um entendimento profundo da es- é convidado a entrar) e mesmo as
piritualidade, desta força de con- mais recentes estruturas habitá-
tinuidade do ‘corpo-eu’ e do ‘cor- veis confeccionadas em crochê. As
po-ambiente’, e também uma base obras do Neto convocam a partici-
estrutural ‘espiritofilosófica’, além pação do visitante e ativam outros
da compreensão de que há muito o sentidos além do olhar”, comenta
que descobrir enquanto humanida- Piccoli.
de: quem somos? Onde estamos?
Para onde vamos?”. O entendimen- A exposição propõe demonstrar
to do planeta como organismo in- como a fisicalidade, o indivíduo e
terdependente permeia boa parte o coletivo sempre estiveram pre-
das obras de Neto. sentes, desde o início, na prática
do artista, moldando sua poética.
Para a mostra na Pinacoteca, o ar- Sua colaboração atual com líderes
tista concebe um trabalho inédito: políticos e espirituais das nações
a instalação Cura Bra Cura Té para Huni Kuin, cujas contribuições ao Foto: Divulgação
o espaço do Octógono, que acolhe artista recebem na mostra uma
quatro ações/rituais participativos sala própria, aparece como uma
abertos ao público ao longo do pe- consequência natural de sua pes-
ríodo expositivo. Integra também quisa escultórica. “Neto vem explo-
o conjunto uma obra seminal em rando e expandindo os princípios da Ernesto Neto: Sopro
sua trajetória: Copulônia (1989). escultura radicalmente desde o co- 30 de março a 15 de julho de 2019
De poliamida e esferas de chumbo, meço de sua trajetória. Gravidade e De quarta a segunda
seu título faz referência à “cópula” equilíbrio, solidez e opacidade, tex- das 10h às 17h30
(termo utilizado pelo artista para tura, cor e luz, simbolismo e abs-
caracterizar um tipo de elemen- tração ancoram sua prática, num Pinacoteca
to, presente na obra, em que duas contínuo exercício acerca do corpo Praça da Luz 2, São Paulo, SP
partes se penetram) e à “colônia” individual e coletivo e da constru- Ingressos: R$ 10,00; R$ 5,00
(seção da obra na qual os elemen- ção em comunidade”, observa Jo- Aos sábados, a entrada é gratuita
tos se repetem). “Traz a ideia de chen Volz. para todos.

Abril | 19
de olho

Do Felipe Pantone desenvolve um


trabalho que vai do graffiti à arte
cinética. Contrastes fortes, cores

computador intensas, efeitos e uma boa quanti-


dade de recursos usados para fazer
suas peças gerarem um forte im-

para o
pacto no espectador. Suas imagens
carregam uma grande influência de
ondas estéticas que surgiram no
ambiente digital.

mundo real O que é realmente interessante


não é a natureza espetacular de
seu trabalho, mas os motivos que
o levaram a isso. Vivemos em um
momento em que mais imagens
são geradas do que podem ser
Foto: Divulgação Foto: Divulgação consumidas, por isso um artista
plástico, condenado a gerar novas
imagens, deve encontrar fórmulas
para que elas se sobressaiam e
prevaleçam. A velocidade com que
a informação corre sofre um cons-
tante aumento exponencial, concei-
to que Felipe Pantone expressa em
suas composições.

Considerado uma das estrelas em


ascensão da cena internacional de
arte de rua , Felipe Pantone tem
se expressado pela cor desde os
12 anos de idade. grafiteiro auto-
didata, o artista contemporâneo
argentino-espanhol lida com dina-
mismo, transformação, onipresen-
ça e temas relacionados aos tem-
pos atuais. mais recentemente, sua
visão tecnicolor o levou a Xangai,
onde sua exposição intitulada “dis-
tância, velocidade, tempo, fórmula”
apresenta trabalhos totalmente
novos para marcar sua primeira
instalação na cidade.

Como uma auto-descrita ‘criança


da era da internet’, as influências
da pantone são aparentes. Seus
temas geométricos baseados em
software de modelagem lembram
os anos 80 e 90, referenciando a es-
tética da criação 3D. ele reproduz
estes em formato XXL ou em telas.

20 | Abril
estes são trazidos à vida através
de instalações que criam ilusões
de óptica, resultando em uma ex-
plosão ou choque elétrico.

“ A abordagem de Felipe Pantone


é questionar a era atual e sua pro-
pensão a colocar novas tecnologias
no centro de nossas vidas diárias,
tornando-nos dependentes de
uma superabundância de imagens
e símbolos “, disse a galeria. ‘ ele
Foto: Divulgação
próprio é apaixonado pelo advento
da internet que permite o acesso
instantâneo a toda a história da
humanidade. os problemas que
ele aborda são contemporâneos e
universais: o movimento, a noção
de tempo, saturação, alienação e
destruição ”.

Felipe Pantone expôs seu trabalho


em toda a Europa, América, Aus-
trália e Ásia. no ano passado ele
grafitou uma corveta chevrolet de
1994 e a instalou em Los Angeles.
No ano anterior, ele projetou um
skate de edição limitada para a di-
visão Miller. ‘ distância, velocidade,
tempo, fórmula ‘ está em exibição
até 16 de março.
Foto: Divulgação Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

Abril | 21
catálogo

para Quer continuar conhecendo


mais sobre o mundo das
aprofundar o artes? Separamos alguns
conhecimento conteúdos pra você desfrutar
enquanto não chega a
próxima edição da revista!

documentário
OSGEMEOS, Nina Pandolfo, Nunca, ISE… Esses são
alguns dos grafiteiros que discutem a importância
do grafite na paisagem de São Paulo. O filme mostra
como criar e recriar arte urbana se tornou recorrente
na cidade após iniciativas de apagamento das obras
das ruas.

livro
Original, irreverente, acessível e
tecnicamente impecável, Isso é
arte? conduz o leitor por uma ex-
citante viagem através de mais de
150 anos de arte moderna, do im-
pressionismo até os dias de hoje. livro
E não poderia haver guia melhor Esta obra, que é vista como a me-
que o editor de artes da BBC Will lhor forma de introdução ao mundo
Gompertz. Com estilo envolvente - da arte, mostra desde as pinturas
que mescla profundo conhecimen- rupestres da pré-história até a arte
to do assunto, ótimo texto e um de- experimental dos dias de hoje. A
licioso senso de humor - ele conta evolução da pintura é vista como
a história dos movimentos, dos o pano de fundo dos diversos esti-
artistas e das maravilhosas obras los de arquitetura que vemos hoje.
de arte que não apenas mudaram Além disso, a psicologia por trás
a arte para sempre, mas ajudaram das artes visuais é detalhadamen-
a criar e definir o mundo moderno. te analisada.

22 | Abril
anúncio

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