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CARTA ENCÍCLICA

SINGULARI QUADAM

DE SUA SANTIDADE PAPA PIO X

SOBRE ORGANIZAÇÕES DE TRABALHO

A TODOS OS NOSSOS VENERÁVEIS


IRMÃOS, OS PATRIARCAS,
PRIMAZES, ARCEBISPOS
E BISPOS DO ORBE CATÓLICO,
EM GRAÇA E COMUNHÃO
COM A SÉ APOSTÓLICA

Para Nosso Filho Amado, George Kopp, Padre Cardeal da Santa Igreja Romana, Bispo de Breslau, e
para os outros Arcebispos e Bispos da Alemanha.

Filhos amados e Veneráveis Irmãos, Saúde e a Bênção Apostólica.

1.Nós somos movidos por sentimentos particularmente afetuosos e benevolentes em direção aos
Católicos da Alemanha, que são mais lealmente e obedientemente dedicados a Sé Apostólica e
acostumados a batalhar generosamente e valentemente em nome da Igreja. Nós então nos sentimos
compelidos, Veneráveis Irmãos, a dedicar Nossa força e completa atenção à discussão daquele assunto
que surgiu entre eles sobre as associações de trabalhadores. Relativo a esse problema, vários de vocês,
como também qualificados e respeitados representantes de ambos os pontos de vista, já Nos
informaram repetidamente durante os anos passados. Cientes de Nosso Ministério Apostólico, Nós
estudamos este problema mais diligentemente. Nós entendemos totalmente que Nosso dever sagrado é
trabalhar incessantemente para que Nossos filhos amados possam preservar o ensinamento católico
não adulterado e incólume, de não permitindo de nenhuma maneira que sua Fé seja posta em perigo.

Se eles não forem persuadidos a tempo para ficar em guarda, eles obviamente iriam, gradualmente e
inadvertidamente, cair no perigo de se satisfazer com uma forma vaga e indefinida de religião Cristã
que tem sido ultimamente designada como intercredo. Isso não é nada além de uma recomendação
vazia de um Cristianismo generalizado. Obviamente, nada é mais ao contrário aos ensinamentos de
Jesus Cristo. De mais a mais, posto que Nosso desejo mais ardente é a promoção e fortificação da
concórdia entre os Católicos, Nós constantemente tentamos remover todas aquelas ocasiões de
disputas que dissipam a força de homens de boa vontade e que serão vantajosas apenas para os
inimigos da religião. Finalmente, Nós desejamos e pretendemos que o fiel viva com seus concidadãos
não-católicos naquela paz sem a qual nem a ordem de sociedade humana nem o bem-estar do Estado
pode suportar.

Se, porém, como Nós já dissemos, a existência dessa questão era por Nós conhecida, achamos, todavia,
sábio obter cada uma de suas opiniões, Veneráveis Irmãos, antes de anunciarmos Nossa decisão. Vocês
têm respondido a Nossas questões com aquela consciência e diligência que a seriedade da questão
exige.

2. Conseqüentemente, Nós, em primeiro lugar, declaramos que todo Católico tem um dever sagrado e
inviolável, tanto na vida particular quanto pública, de obedecer e firmemente aderir e corajosamente
professar os princípios de verdade Cristã enunciados pelo Magistério da Igreja Católica. Em particular,
Nós queremos afirmar aqueles princípios que Nosso Predecessor colocou com sabedoria na carta
encíclica "Rerum Novarum." Nós sabemos que os Bispos de Prússia seguiram-nos mais fielmente em
suas deliberações no Congresso de Fulda de 1900. Vocês mesmos resumiram as idéias fundamentais
destes princípios em suas comunicações relativas a essa questão.

3. Estes são princípios fundamentais: Não importa o que o cristão faz, mesmo no domínio dos bens
temporais, ele não pode ignorar o bem sobrenatural. Particularmente, de acordo com as ordens de
filosofia Cristã, ele deve ordenar todas as coisas para o último fim, isto é, o Bem Mais alto. Todas as
suas ações, enquanto moralmente boas ou más (quer dizer, se elas estão de acordo ou não com a lei
natural e divina), estão sujeitas ao julgamento da Igreja. Todo aquele que gloriar-se do nome de cristão,
individualmente ou coletivamente, e desejam permanecer fiel a sua vocação, não pode encorajar
inimizades e dissensões entre as classes de sociedade civil. Pelo contrário, eles devem promover acordo
e caridade mútua. A questão social e suas controvérsias associadas, como a natureza e duração de
trabalho, o salário a ser pago, greves dos trabalhadores, não são simplesmente econômicas em caráter.
Portanto, elas não podem ser colocadas à parte da autoridade eclesiástica. "O exatamente oposto é a
verdade. É, primeiro de tudo, moral e religioso, e por essa razão sua solução é ser esperada
principalmente da lei moral e dos pronunciamentos da religião."[1]

4. Agora, relativamente a associações dos trabalhadores, muito embora seu propósito seja obter
vantagens terrenas para seus membros, apesar disso, estas associações são para ser mais aprovadas e
consideradas como mais úteis para a vantagem genuína e permanente de seus membros que são
principalmente estabelecidas no fundamento da religião católica e abertamente seguem as diretivas da
Igreja. Nós repetimos essa declaração em várias ocasiões anteriores em resposta aos questionamentos
de vários países. Conseqüentemente, tais assim-chamadas associações confessionais católicas devem
certamente ser estabelecidas e promovidas em todas as direções, em regiões católicas, como também
em todos outros distritos onde pode ser presumido que elas suficientemente possam ajudar as várias
necessidades de seus membros. Porém, se houvesse uma questão sobre associações que diretamente ou
indiretamente tangem à esfera da religião e moralidade, não seria permitido encorajar e espalhar
organizações misturadas, isto é, associações compostas de Católicos e Não-Católicos, nas áreas já
mencionadas. Além de outros assuntos, em tais organizações existem ou certamente podem existir
sérios perigos para nosso povo, para a integridade de sua fé e a obediência aos mandamentos e
preceitos da Igreja católica. Veneráveis Irmãos, você mesmos também abertamente chamaram atenção
a essa questão em várias de suas respostas que Nós temos lido.

5. Nós, portanto, dispensamos louvores sobre cada e todas as associações de trabalhadores


estritamente católicas existentes na Alemanha. Nós desejamos a eles todo sucesso em todos seus
esforços em benefício do povo trabalhador, desejando que elas venham a apreciar um crescimento
constante. Porém, ao dizer isso, Nós não negamos que os Católicos, em seus esforços para melhorar as
condições de vida dos trabalhadores, distribuição mais eqüitativa de salários, e outros justos benefícios,
tenham um direito, desde que eles o exercitem com a devida precaução, de colaborar com não-
Católicos para o bem comum. Para um tal propósito, porém, Nós preferimos ver as associações
católicas e não-católicas unirem forças rumo a nova e oportuna instituição conhecida como cartel.

6. Não poucos de vocês, Veneráveis Irmãos, Nos perguntaram se é permissível tolerar os denominados
Sindicatos Cristãos que agora existem em suas dioceses, posto que, por um lado, eles têm um número
consideravelmente maior de membros que as associações puramente católicas e, por outro lado, se a
permissão fosse negada sérios prejuízos resultariam. Devido às circunstâncias particulares dos
assuntos católicos na Alemanha, Nós acreditamos que Nós deveríamos acatar esse pedido. Além disso,
Nós declaramos que tais associações misturadas como agora existem dentro de suas dioceses podem
ser toleradas e os Católicos podem ter permissão de se juntar a elas, enquanto tal tolerância não deixar
de ser apropriada ou permissível por causa de nova e alteradas condições. Precauções necessárias,
porém, devem ser adotadas a fim de evitar os perigos que, como já foi mencionado, acompanhem tais
associações.

A seguir estão as mais importantes destas precauções: Em primeiro lugar, deveria ser produzida uma
condição àqueles trabalhadores católicos que são membros dos sindicatos deverem também pertencer
àquelas associações católicas que são conhecidas como "Arbeitervereine". Em relação a eles deverem
fazer um pouco de sacrifício para essa causa, mesmo financeiramente, Nós estamos seguros que eles
farão isso prontamente pelo objetivo de proteção da integridade de sua Fé. Como felizmente
demonstrado, as associações de trabalhadores católicos, ajudadas pelo clero e por sua liderança e sua
vigilante direção, estão aptas a alcançar muito para preservar as verdades da religião e a pureza da
moralidade entre seus membros, e que nutram o espírito religioso por práticas freqüentes de devoção.
Portanto, os líderes de tais associações, claramente reconhecendo as carências da época, estão
indubitavelmente preparados para instruir os trabalhadores sobre seus deveres de justiça e caridade,
especialmente relativos a todas aquelas ordens e preceitos em que um conhecimento preciso é
necessário ou útil a fim de capacitar-lhes a tomar uma parte ativa em seus sindicatos, de acordo com os
princípios da doutrina católica.

7. Além disso, se os Católicos estão para ser permitidos juntar-se a os sindicatos, estas associações
devem evitar tudo que não está de acordo, seja em princípio ou prática, com os ensinamentos e
mandamentos da Igreja ou as próprias autoridades eclesiásticas. Similarmente, tudo é para ser evitado
em sua literatura ou discursos ou ações que na visão acima incorreria em censura.

Os Bispos, portanto, deveriam considerar isto em seu dever sagrado de observar cuidadosamente a
conduta de todas estas associações e observar diligentemente para que os membros católicos não
sofram qualquer dano como resultado de sua participação. Os próprios membros católicos, porém,
jamais deveriam permitir as uniões, se por causa de interesses materiais de seus membros ou pela
causa da união como tal, proclamar ou apoiar ensinamentos ou tomar parte em atividades que venham
a conflitar de qualquer forma com as diretrizes proclamadas pelo Magistério supremo da Igreja,
especialmente aquelas mencionadas acima. Portanto, de acordo com problemas que aparecem relativos
a matérias de justiça ou caridade, os Bispos deviam tomar o maior cuidado em verificar se o fiel não
omite o ensino moral católico e não despede-se dele mesmo até a distância de um dedo.

8. Nós estamos seguros, Veneráveis Irmãos, que vocês cuidarão diligentemente de verificar que todas
essas Nossas diretrizes sejam conscienciosamente e exatamente cumpridas, reportando
cuidadosamente e constantemente para Nós concernindo este problema muito sério. Desde que Nós
tomamos este assunto sob Nossa jurisdição e, depois de ouvir as visões dos Bispos, posto que a decisão
Nos concerne, por meio disso, mandamos todos Católicos de boa vontade desistir de todas as disputas
entre eles mesmos relativas a este assunto. Nós estamos confiantes que com caridade fraterna e
obediência perfeita eles cumprirão completamente e alegremente Nosso comando. Se qualquer
dificuldade adicional surgir entre eles, eles deveriam buscar sua solução da seguinte maneira: Deixe-os
primeiro voltar-se a seus Bispos para conselho, e então submeta a matéria à Sé Apostólica para decisão.

Há mais um ponto a considerar, e ele já estava implicado no que foi dito. Por um lado, ninguém podia
acusar de má fé e, sob tal pretexto, produzir hostilidade àqueles que, enquanto defendendo firmemente
os ensinamentos e direitos da Igreja, apesar das boas razões de terem se juntado ou desejar se juntar a
associações de trabalho misturadas naqueles lugares onde, sob certas proteções, a autoridade
eclesiástica permitiu devido a condições locais. Por outro lado, igualmente seria mais repreensível opor
ou atacar as puramente associações católicas (este tipo de associação deve, pelo contrário, ser apoiada e
promovida de toda maneira possível), e exigir que as denominadas associações intercredos sejam
introduzidas e forcem seu estabelecimento aos fundamentos que todas as associações católicas em toda
diocese convenham estar fundadas em um mesmo padrão.

9. Expressando aqui Nosso desejo que a Alemanha católica possa fazer grande progresso na religião e
vida civil, e para que este desejo pudesse ser felizmente cumprido, Nós pedimos ao amado povo alemão
a ajuda especial de Deus Todo-Poderoso e a proteção da Virgem Mãe de Deus, a Rainha de Paz. Como
uma garantia das graças divinas e também que sinal de Nosso amor particular, Nós transmitimos, mais
amorosamente, a vocês, Filho Amado e Veneráveis Irmãos, a seu clero e povo, a Bênção Apostólica.

Dado em São Pedro, Roma, em 24 de setembro de 1912, o décimo ano de Nosso Pontificado.

PIO PP. X

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