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Afinal quem é para os portugueses Carlos Viegas Gago Coutinho

Gago Coutinho nasceu às 3:30h da madrugada do dia 17 de Fevereiro de 1869 em


Belém, no nº 51 da Calçada da Ajuda num pequeno prédio de rés-do-chão e primeiro
andar, e não no Algarve2 ou Luanda como alguns apontam.3 Há 150 anos.
Em Fevereiro de 1959 entra no Hospital com um ataque cardíaco e com problemas
renais tendo sido assistido pelos médicos Capitães-tenentes Galvão Rocha e Mendes
Fuga. Muitos foram os populares que se deslocaram ao Hospital.
Ainda deu prenúncios de melhoras. Os médicos acharam-no livre de risco, pois
desejou tornar a trabalhar, ordenando que lhe trouxessem um exemplar dos Lusíadas
e o seu estirador, mas já não teve energia para terminar a sua investigação, para as
comemorações henriquinas de 1960.
A 18 de Fevereiro leu os jornais da manhã e pediu para ir para a sua residência
preocupado com os seus textos. Às 14.00h pediu para vir o Padre José Correia da
Cunha para a extrema-unção, revelou que contava viver mais alguns anos, pois tinha
também imensas coisas a fazer, e que solicitara a assistência do padre porque
gostava ter tudo em dia e em ordem. O estado de saúde piorou e às 16.00h entrou
em coma. Duas horas depois os olhos do velho almirante eram fechados pelo
Comodoro Luís de Noronha Andrade. Perfazendo agora 50 anos sobre a sua morte.
Não chegou a celebrar os seus 90 anos no Rio de Janeiro, como era seu desejo. A
Marinha nunca o esqueceria ao contrário de uma parte da sociedade civil portuguesa.
O corpo é velado por amigos, pela sua governanta e criada, na capela do antigo
Arsenal da Marinha.”4

As individualidades sucedem-se para o cortejo fúnebre na sua maior parte pessoas


com quem privou pessoalmente:
O Chefe do Estado-Maior da Armada Almirante Guerreiro de Brito; o Ministro da
Marinha Almirante Quintanilha Mendonça Dias; os Ministros do Exército, do Ultramar,
das Finanças, da Justiça secretários e subsecretários de estado; o Almirante Nuno de
Brion; o Comandante Marques Esparteiro; o Comandante Oliveira Pinto; o
Comandante Sousa Uva; o Comandante Mendes Cabeçadas; o General Luís

1
Actualmente nº 27.
2
Hipótese sugerida por Jaime Cortesão.
3
“Está neste caso o jornal “Província de Angola”, que no seu nº 2332, de 8 de Junho de 1933,
ao noticiar a passagem em Luanda, a bordo de um barco nacional, do almirante Gago
Coutinho, publicava o seu retrato e fazia-o acompanhar da seguinte legenda: «Nasceu em
Luanda em 17 de Fevereiro de 1869.»” Cit. por CORRÊA, Pinheiro - Gago Coutinho,
Precursor da Navegação Aérea. Porto: Portucalense Editora, 1969.
4
COUTINHO, Gago - [Carta] 1951 Julho 5, Lisboa [ao] amigo Moura Bras [Manuscrito]. 1951.
Autogr.. Acessível na Colecção Particular Moura Braz. Lisboa. Portugal. S/n.
Domingues; o General Cotta de Morais; o Comodoro António Negrão Neto; o
Comodoro Sarmento Rodrigues; o Comodoro Oliveira Barbosa; o Capitão-de-Mar-e-
Guerra José Salvador Mendes; o Coronel Mateus Cabral; o Comandante Henrique
Tenreiro; o Capitão-de-Fragata Silva Ponce; o Professor Reinaldo dos Santos; o
Professor Vitorino Nemésio; o Professor Leonardo de Sousa Castro Freire; o Professor
Jaime Cortesão; o General Aníbal Vaz; o Brigadeiro João Cunha Baptista; o Coronel
Pinheiro Corrêa; o Dr José Pontes; o Comandante José Cabral; o Comandante Soares
de Oliveira; o Comandante Albano de Oliveira; os Adidos Navais da Inglaterra, da
Espanha e dos Estados Unidos; o Adido Militar da Alemanha Ocidental; o Embaixador
do Brasil Dr Álvaro Lins; a Família do Embaixador Duarte Leite; o Piloto Carlos Blek; o
Piloto Fernando Brito Pais, da família do malogrado aviador; os Drs. Pedro e Zeferino
de Sacadura Cabral, a Dª Maria José Sacadura Cabral Ferreira da Camara, a Dª
Fernanda de Sacadura Cabral irmãos do seu camarada; Manuel da Costa Mesquitella
dos Amigos de Lisboa; o Engenheiro Carlos Garcia Alves; o Director da Faculdade de
Ciências de Lisboa, António Pereira Forjaz; o Ministro de Educação, Professor
Francisco de Paula Leite Pinto; o Almirante Filipe Castela; o Almirante Sousa Dias; o
Almirante Correia Pereira; o Escritor Augusto Casimiro dos Santos; o General D.
Fernando Pereira Coutinho; o Professor António Maria Godinho; o Doutor Osório Vaz;
o Dr Acácio Augusto Cardoso Gouveia; o Director do Diário de Lisboa, Dr Norberto
Lopes; o Chefe de Estado Maior da Força Aérea, General Carlos Mário Sancho de
Castro Costa Macedo; o Presidentes da Assembleia Nacional e da Câmara Corporativa;
o Dr Pedro Teotónio Ministro da Presidência, em representação do Presidente do
Conselho, António de Oliveira Salazar que se encontrava a recuperar de uma
pneumonia, entre outros.5
A população encheu as ruas e a RTP utilizou pela primeira vez duas câmaras em
simultâneo. Recebeu as dignidades análogas às que são semelhantes aos ministros da
Marinha e do Exército nas quais tomaram parte todas as forças disponíveis da
Armada, de um regimento de cavalaria e baterias para as salvas de estilo. O governo
decidiu ainda a demonstração de luto nacional, com as bandeiras a meia adriça até
ao pôr-do-sol do dia do cortejo fúnebre.
Saiu às 10h para o cemitério da Ajuda coberto com a bandeira nacional, a bandeira
da Sociedade de Geografia de Lisboa e a bandeira da Associação de Bombeiros
Voluntários do Porto, onde foi sepultado em campa rasa 6 com a epígrafe:

5
“Diário de Lisboa”. Lisboa. Ano 39º. Nº13002 (19-02-1959).
6
Já se encontravam sepultados na referida campa, o seu Pai a sua mãe adoptiva Maria Augusta
Pereira e a governanta Teresa de Jesus.
Gago Coutinho
____________
Geógrafo
(1869-195_ )7
Não foi com a bandeira da armada porque nunca quisera muitas dignidades, mas sim
a simplicidade que procurara na sua vida.

A Câmara Municipal do Funchal e a Junta Geral do Distrito comunicaram os seus


pêsames e o Governador da Madeira, Camacho de Freitas, solicitara ao comodoro
Sarmento Rodrigues que representasse a Madeira nas exéquias fúnebres.

Recentemente foi-nos dado a conhecer três fundos documentais, um primeiro de que


falámos nas Jornadas do Mar, e que se refere a um conjunto de periódicos locais e
regionais que pertenceu ao Engenheiro Miguel Eugénio Galvão de Melo Mota, que
tinha um fascínio por colecionar notícias do Almirante. Um segundo fundo deveu-se à
descoberta de documentação no Observatório Astronómico de Lisboa, pela
Engenheira Paula Santos que logo me contactou. A mesma coisa aconteceu no
Arquivo Histórico da Marinha quando a sua curadora, Dr.ª Isabel Beato, procurava
umas fotografias e se deparou com duas pastas desconhecidas (Caixa 735_2_3 e Caixa
1410_3_2). Pediu-me para atestar se o Projeto de Aparelho de sinais por luz elétrica
era efectivamente de Carlos Viegas Gago Coutinho8.

Dentro da Caixa 1410_3_2 encontrámos três ilustrações de navios muito semelhantes


(Caravela Bérrio; Nau São Gabriel; a caravela usada por Bartolomeu Dias) às que se
encontram na Sociedade de Geografia de Lisboa, aguardando publicação merecida.

Na Caixa 735_2_3, do Arquivo Histórico da Marinha, pode ler-se acerca de um castigo


que foi atribuído a Gago Coutinho em 1884, com 4 dias de prisão ao voltar a Portugal,
já que terá desrespeitado os seus dirigentes, sendo recidivo neste tipo de situações.
Aqui foi o caso de se sentar de chapéu posto na cabeça de forma inconveniente na
sala do Conselho do Almirantado, isto sem pedir vénia e ter altercação com um
oficial, seu superior – subalterno da 9ª repartição que estava na mesma sala.

7
Deixara o nº em aberto, já prevendo a proximidade da morte.
8
Do qual falaremos nas Memórias da Academia de Marinha.
Pediu que a pena fosse cumprida, um dia no Quartel do Corpo de Marinheiros e os
restantes três dias no Couraçado “Vasco da Gama”.9 E que fosse escrito e anunciado
na Ordem da Armada com a informação clara de que o que originou a incorrecção
que levou à punição, foi por se recusar a tirar o bonet estando armado.10

Num outro documento refere-se à fragata D. Fernando (Dom Fernando II e Glória)


onde repetiu o que um oficial de marinha divulgou no Diário de Notícias, apesar do
actual Ministro do Ultramar ser um entusiasta da mesma (…) que a avaliava de um
navio de grande e fascinante concepção.11 Ou seja salientou o ridículo da comparação
com a HMS Victory que entrou na batalha de Trafalgar onde o Almirante Horatio
Nelson perdeu a vida, salientado que este é um barco cheio de glória. Segundo Gago
Coutinho A nossa fragata, a respeito de glória, nem a do nome é conhecida. 12

A 9 de Agosto de 1897, já com seis anos de serviço no além-mar e tendo passado só


vinte e dois meses em Lisboa, manifestou a sua recusa em considerar que a sua
nomeação para a Divisão Naval de África Oriental fosse qualquer tipo de penalização
por incorrecções pesadas, praticadas a bordo do Pêro de Alenquer. Nenhuma punição
foi, pois, aplicada e pretendeu responder no conselho de disciplina sobre a sua
atitude na embarcação a caminho de Moçambique, mas nada foi contrário ao que
disse.13

Em documento não datado expõe algumas considerações que permitem completar as


características pessoais do Almirante, nomeadamente as suas questiúnculas com os
jornais que se agravariam no futuro.

Defeitos todo nós temos. E o mal está menos neles do que em pretender ocultá-los.
Eu tenho o de ser um incorrigível maçador e bem o mostro.14

Cá me tem, por isso, novamente a importunar V. Exª com uns reparos ao artigo de
hoje no “D.N.”.

9
Conselho do Almirantado – [Nota 514, do Corpo de Marinheiros da Armada ao Conselho do
Almirantado, sobre o castigo de Gago Coutinho] [Manuscrito]. 25 de Junho de 1894. Autogr.
Acessível no Arquivo Histórico da Biblioteca Central da Marinha. Junqueira. Portugal.
Documentação Avulsa: Processos Individuais de Oficiais da Armada – Classe Marinha, Caixa
Nº 735 _2_3
10
Idem, Ibidem, 25 de junho de 1894
11
Observatório Astronómico de Lisboa, 7 de novembro de 1938
12
Idem, Ibidem, S/D
13
Documentação Avulsa: Processos de Oficiais da Armada – Classe Marinha, Caixa 1410 3-2, 9
de agosto de 1897
14
Idem, Ibidem, S/D
Diz V. Exª “… nunca nenhum governo nosso teve ocasião de convidar as esquadras do
Universo a reunirem-se em Lisboa…”.

Peço perdão de contradizer V. Exª, mas em Julho de 1898, por ocasião das festas do
4º centenário da descoberta do caminho marítimo para a Índia, estiveram no Tejo
navios de todas as marinhas de guerra.15

A 9 de Agosto de 1912, é esclarecido pelo Major General da Armada que o então


Capitão -Tenente Carlos Viegas Gago Coutinho teria recebido guia a 5 do corrente por
nomeação a função de comissário da delimitação de fronteiras coloniais, com as
missões inglesa e belga. A sua tomada de posse não implicou o acesso a promoção
pelo facto de ter sido admitido no quadro o Capitão-tenente Jaime Daniel Leotte do
Rego.

Noutro tipo de correspondência, encontramos ofícios e requerimentos como aquele


em que Gago Coutinho requer que lhe seja contado o tempo como tirocínio de
embarque o tempo que fez serviço militar em tempo de guerra a bordo dos referidos
paquetes, para todos os efeitos menos vencimentos.16 Tal como o que exerceu na
missão de geodesia pelos territórios coloniais e acompanhou a ida de contingentes de
homens, aquando da primeira guerra mundial, durante o tempo de passageiro nos
vapores Ambaça e Mossamedes. A bordo comportou-se como um capitão de bandeira,
com os perigos inerentes e requereu que lhe fosse contado o tempo, mas a Majoria
General da Armada afirmava em 1917, nada constar que o requerente tivesse
embarcado nos paquetes da Empreza Nacional de Navegação em comissão de serviço
nas Colónias como expõe na sua petição.

No mesmo ano dirigia-se ao Director Geral das Colónias relativamente à


inconveniência de retorno à Marinha, antes de concluir os seus trabalhos de
cartógrafo em curso, concordando o Ministro da Marinha, exarando o seguinte
despacho:

Concordo em que seja dispensado do tirocínio, atendendo aos grandes serviços que
tem prestado no Ministério das Colónias em serviço da cartografia, sendo, portanto,
considerado ao abrigo do artigo 116º do decreto de 14 de Agosto de 1892.

15
Documentação Avulsa: Processos de Oficiais da Armada – Classe Marinha, Caixa 1410 3-2,
S/D
16
Observatório Astronómico de Lisboa, 10 de fevereiro 1917
Sobre a sua promoção, Gago Coutinho expusera a situação ao Ministro das Colónias
que lhe respondeu que este oficial se acha ligado por um contracto á realização
d’um importante serviço publico-o levantamento da carta da ilha de S. Tomé e
quando encetou os trabalhos estava em número muito alto para a sua promoção a
capitão de mar e guerra, mas por inesperado e grande movimento que se deu no seu
quadro, encontra-se relativamente próximo da promoção e em risco de ser preterido
por falta de tirocínio. O regresso deste oficial ao serviço da Marinha este momento,
representa uma grande demora na conclusão dos trabalhos que este Ministério
considera de toda a urgência (…) ponderando as circunstancias acima apontadas (…)
se há meio na legislação vigente para que este oficial não seja prejudicado na sua
promoção, caso esta lhe venha a pertencer, quando estiver procedendo aos trabalhos
de que está encarregado.17 Acabou por continuar os seus trabalhos em S. Tomé.

Segundo o ofício junto do Ministerio das Colonias está o capitão de fragata Gago
Coutinho para seguir para S. Tomé onde vai continuar trabalhos de cartografia já
encetados por ele.

Não tem esta Repartição duvida alguma em que o referido oficial se continuar no
serviço em quase acha será preterido na sua promoção, se quando ela lhe pertencer
não tiver vindo já para o serviço da Marinha afim de fazer seu tirocínio.

A esta Repartição oferece-se sobre o assunto dizer o seguinte:

O artigo 116º do decreto de 14 de Agosto de 1892 que diz as situações dos oficiais
que são dispensados de tirocínio de embarque até o encetou os trabalhos estava em
número muito alto para a sua promoção a capitão de mar e guerra, abrange a
Comissão de Cartografia. Compõe-se esta de cinco oficiais Ernesto de Vasconcellos,
Aleixo Ribeiro, Paula Cid, Calvo da Silva e Ernesto de Vilhena oficiais estes que, a
avaliar pelo tempo em que já se acham na metropole, justo é presumir que já
tenham há muito concluído quaisquer de trabalho de Cartografia que acham feito
fóra.

Supõe esta repartição que o motivo da aplicação do artigo 116º citado tenha sido
justamente por os trabalhos cartográficos os inibirem de fazer - os seus tirocínios.

Compare-se a situação destes com a de Gago Coutinho e escusado será encarecer a


justiça que lhe assiste de que um despacho ministerial o dispense de tirocínio

17
Documentação Avulsa: Processos de Oficiais da Armada – Classe Marinha, Caixa 735 2_3,
17 de agosto de 1899, Caixa1410_3_2, S/D
deixando livre no desempenho da Comissão que lhe foi confiada e de que a Nação
sem duvida maior proveito tira do que com o seu embarque hum navio no Tejo.

Majoria General da Armada 24 Repartição 26 de Setembro de 1917.18

Em 1919, fora, como se sabe, nomeado para vogal efectivo do quadro da Comissão de
Cartografia, como se verifica nesta documentação.19

Entretanto, em 1925 tinha sido outorgado o pedido em que o Almirante tinha pedido
um aumento de 10% do seu vencimento.20

Um outro ofício do ano seguinte dá a conhecer o convite do Governo Espanhol ao


Almirante Gago Coutinho para assistir em Sevilha às solenidades que ali se realisam
á chegada do Plus Ultra, voo realizado pelo piloto Ramon Franco em 1926.21

No mesmo ano, a 22 de Junho, dirige-se ao Ministro da Marinha a requerer que


enquanto vogal permanente do quadro da Comissão de Cartografia do Ministério das
Colónias, nomeado chanceler do Conselho da Ordem da Torre Espada, por decreto de
27 Fevereiro 1926, fosse destituído do cargo do qual nunca tomou posse.22

A 23 de Outubro de 1922 encontrando-se o Contra-almirante Carlos Viegas Gago


Coutinho sob a chefia do Ministério das Colónias, pede o Ministro da Marinha para
enviar à Majoria General da Armada o ofício nº 3223, datado de 17 do corrente, da
Repartição do Gabinete do Ministério da Guerra, em que solicita quaisquer
esclarecimentos sobre o sextante para navegação aérea, invenção daquele oficial
general.23

Em documento não datado, Gago Coutinho realizou as seguintes declarações de voto:


” Ambos os candidatos apresentam os documentos exigidos pelo artigo 98º do
Regulamento: estes documentos são iguais para os dois candidatos, havendo que
examinar os documentos apresentados ao abrigo do artigo 101º. O candidato
Botelheiro24 apresenta os documentos de tirocínio no Instituto Geofísico de Coimbra,
antigo Observatório Meteorológico e Magnético. O candidato Santos apresenta:

18
Documentação Avulsa: Processos de Oficiais da Armada – Classe Marinha, Caixa 1410_3_2,
26 de setembro de 1917 e 28 de setembro de 1917
19
Idem, Ibidem, 24 de julho de 1919
20
Idem, Ibidem, 15 de agosto de 1925, 22 de Agosto de 1925
21
Idem, Ibidem, 27 de março de 1926
22
Idem, Ibidem, 24 de junho de 1926
23
Idem, Ibidem, 23-10-1922
24
Oficial da Armada Armando Perestrelo Botelheiro.
certificado do Diretor dos Serviços Geodésicos, do Instituto Geográfico e Cadastral
de ter feito observações e cálculos de revisão de uma parte de rede geodésica de
terceira ordem; uma memória com o título de “Fins e plano…”; uma análise dos
resultados de observações de latitude feitas por ele no Observatório Astronómico de
Lisboa, pelos processos de Talcott e Struve. Considerando que, no artigo 97 º do
regulamento se menciona “Alta Geodesia” só como alternativa do importante
“serviço astronómico no Observatório”, ao passo que no artigo 100º são admitidos
trabalhos sobre “matemáticas aplicadas”, como são os da Pequena Geodesia;
considerando que o artigo 101º menciona a apresentação de documentos que
contribuam para testar a “capacidade cientifica” dos candidatos; feito o exame
comparativo dos documentos apresentados, concluo que há elementos para afirmar
que o candidato Santos demonstrou mais interesse pela Ciência e amor ao estudo dos
assuntos diretamente relacionados com a Geodesia e a Astronomia. E assim, ponho
em segundo lugar a “antiguidade no serviço”, a que se refere o artigo 102º, e voto
em mérito relativo no candidato Baptista dos Santos”.25

A Majoria General da Armada informa que Gago Coutinho é indicado para comissário
de limites da missão portuguesa, que concomitantemente com as missões inglesa e
belga a 2 de Maio de 1911 tem de determinar o ponto de intersecção do meridiano
de 24º E. Gr. com a divisória de águas Zaire Zambeze, e depois com a missão inglesa,
proceder à demarcação da fronteira de Angola desde aquela parte até ao rio
Cuando.

Para o cargo de adjuntos foram nomeados pelo mesmo decreto os oficiais 1º tenente
Filipe Trajano Vieira da Rocha e o 2º Tenente Arthur de Sacadura Freire Cabral. A
Direção Geral das Colónias transmitiu que o 1º tenente Filipe Trajano Vieira da Rocha
achava-se nos afazeres na Estação Naval de Moçambique, não terminando os 118 dias
de tirocínio em falta.26

Em 31 de Julho de 1911, a mesma Majoria informava que Coutinho deveria receber a


chefia da canhoeira Sado, para poder realizar o tirocínio de embarque para o
indigitamento ao lugar de imediato, previamente à sua saída para a delimitação de
fronteiras de Angola em finais de Julho do contíguo ano de 1912.27

25
Documentação Avulsa: Processos de Oficiais da Armada – Classe Marinha. Caixa 1410_3_2,
S/D
26
Idem, Ibidem, 10 de maio de 1911
27
Idem, Ibidem, 31 de julho de 1911 e 6 de agosto de 1912
Não há informações de que usufruísse de transporte em qualquer dos paquetes da
Empresa Nacional de Navegação em missão de serviço nas Colónias.28

A 7 de Novembro do corrente ano arcou a liderança da Estação Naval da Índia e da


Canhoeira Rio Sado.29 No ano subsequente segue para Timor.30

Já depois da travessia atlântica, em 1923 retorquindo à sugestão da Direção de


Aeronáutica Militar, para que fosse engendrado um curso de navegação aérea e
meteorologia do qual seria o seu Director, transmitiu que os requisitos eram os
mesmos de uma aula como nas disciplinas de navegação e astronomia da Escola
Naval. Não achando, pois, que fosse fundamental a repetição do curso que forçaria a
um outro docente e de desnecessárias despesas com pessoal, livros, instrumentos de
demonstração, etc.

Não estava à vontade para se conformar com as imposições de um docente de uma


disciplina idêntica à da Escola Naval, com a agravante de não dispor de tempo para o
efeito para dirigir um curso anual.

Todavia estaria disponível para superintender esse curso e da preparação de


quaisquer palestras para indivíduos que precisassem, com curso de navegação da
Escola Naval, ou semelhante, comunicações que revelariam um curso completivo de
navegação aérea, bem como, da manifestação no campo. As necessidades passariam
pela obtenção de vários instrumentos adequados e específicos da navegação aérea,
que a Escola Naval não possuía como: bússolas de Aviação, sextantes e material para
estudo do vento a diferentes altitudes.31

Concluindo, já se anuncia, e passo o exagero, o prelúdio de uma Aeronáutica Militar/


Aviação Naval como arma independente.

1:
Tomara eu saber voar, quanto mais saber pensar coisas interessantes para moças. Os
meus pensamentos são todos já velhos e impróprios de abusos32

28
Documentação Avulsa: Processos de Oficiais da Armada – Classe Marinha. Caixa 1410_3_2,
17-2-1917
29
Idem, Ibidem, 8 de novembro de 1911
30
Idem, Ibidem, 21 de março de 1912
31
Idem, Ibidem, 12 de março 1923
32
Rio, Novembro 1923 [em linha]. [Consultado em 2 dezembro de 2018]. Disponível em
http://www.harpyaleiloes.com.br/peca.asp? ID=3546632&ctd=41&tot=&tipo=&artista=
A 30 de Setembro de 1911 Carlos Viegas Gago Coutinho, enquanto Capitão-tenente
agregado à Majoria Geral da Armada, soube que iria ser escolhido para assistir na
Estação Naval da Índia, e ir no transporte de 9 de Outubro, mas novamente, sem
agravante para o desembolso dos cofres do estado. A sua viagem iria ser paga em
numerário, possibilitando, pois, que conseguisse escolher a melhor e mais agradável
estadia não necessitando de procurar em agências de viagens.33

Em 1924 acrescentaria:

(…) Eu continuo a não fazer bem ideia das explicações derivadas da teoria. A meu
ver, os fenómenos físicos podem explicar-se em cálculo, o qual serve apenas para
prever (?) as consequências de hipoteses que lhe introduzem. Assim o cálculo é
impotente para provar que os corpos se atraem na razão inversa do quadrado da
distância: mas admitida esta hipótese, talvez falsa, o cálculo diz-nos que as órbitas
dos planetas são secções cónicas.

Os que tentam explicar a teoria de Einstein, começam, como no caso do comboio e


em outros, por nos mostrar as consequências de a transmissão da luz se não parar
instantaneamente: e daí resultam discordâncias, que, a meu ver, não são mais que
ilusão de ética, e não factos concretos.34

Não terminamos sem antes fazer uma referência a um documento encontrado na


internet datado de 7 de Abril de 1934 e dirigido ao aviador Carlos Eduardo Bleck.35
Gago Coutinho manifesta o seu agrado em comparecer à festa de homenagem que os
seus amigos iriam fazer. Mas recusa-se porque andava (…) fugindo a todos os atos
donde possa resultar o parecer que procuro com a minha presença solicitar mais
homenagens.

Daí que tivesse ido ter com ele à estação, já não o acompanhando ao Aeroclube.
Lamentava não poder ir, desejando que não visse nisso qualquer falta de respeito
pela coragem e vitória da sua travessia de Portugal a Goa do corrente ano, só, em um
pequeno avião e desajudado, sucesso com o qual – como todos os portugueses,
extremamente me congratulo.36

33
Documentação Avulsa: Processos de Oficiais da Armada – Classe Marinha. Caixa 1410_3_2,
30 de setembro de 1911 e 9 de agosto de 1912
34
Observatório Astronómico de Lisboa, 1924 – Julho – 10.
35
Em 1930 fez parte da direção do Aeroclube de Portugal que fundou a primeira escola de
aviação portuguesa. In https://www.infopedia.pt/$carlos-bleck
36
7 de abril de 1934.
No mesmo ano Santos Dumont expunha a Gago Coutinho o seu desgosto e ansiedade
das notícias do provável falecimento de Sacadura Cabral:

Porque não seguiu elle os meus conselhos de descançar depois de tais grande feito
que foi a viagem Portugal-Brasil.

Eu continuo a pedir a Deus que elle ainda continue ainda em vida e esteja a bordo
de algum barco veleiro e que nos possamos vel-lo ainda com vida37

A 19 de Julho de 1942, em correspondência com o seu companheiro Prestes, informa-


o da sua viagem para o Rio de Janeiro vindo pelo Niassa, justificando assim a mesma:

(…) Como aqui nada tenho que fazer, e como as excursões pela Europa estão
proibidas, não vos faço favor nenhum, aos bons amigos do Rio, indo visitá-los de vez
em quando. O pior é que já não há cais do Sena onde comprar livros bons e baratos,
como antigamente. De modo que terei que te contentar com o que aqui aparece nos
alfarrabistas.

Pedindo em adenda que se reservasse um lugar no Hotel Palace o que já era costume
seu.38

Oito anos antes do seu falecimento desabafava em Paris ao amigo José Diogo Prestes:

(…) cá estou de novo em Paris, e na conhecida Rua Bèrgere. Está frio para o Maio,
que eu conheci já há 53 anos, em 1895. Ai também havia frio em Lisboa, a minha
partida, no domingo pelo avião da Panair. À medida que vou envelhecendo, o tempo
vai mudando.
Claro, continuo fazendo a vida pacífica do costume. Teatros, Cinemas, Museus.
Passeios.
Como era de esperar, com as greves, a vida encareceu bastante. Algumas coisas
quasi dobraram, e a entrada nos cinemas está em 250 paus (?), quasi 20 cruzeiros. A
1ª classe do Metro 32, etc.
Nada mais me lembra que te possa interessar a não ser que tenho saudades do
tempo em que cá te encontravas todos os anos com senhora (?).39

37
Biarritz 23-11-1924 [em linha]. [consultado em 3 dezembro de 2018]. Disponível em
https://www.researchgate.net/figure/Letter-from-Santos-Dumont-to-Gago-Coutinho-
expressing-his-thoughts-about-Sacaduras_fig11_293334021
38
19 de Julho de 1942 [em linha]. [consultado em 3 dezembro 2018]. Disponível em
https://www.levyleiloeiro.com.br/peca.asp?ID=211330
39
Paris 1951 - Maio – 16.
Em 1931 permanecendo em Paris escrevia ao seu amigo Prestes sobre a sua viagem
pelos dois vapores que tomara e num deles assistira a um espectáculo, na cidade
francesa contava ver uma exposição que, segundo se crê, reabrirá para o ano. Se
assim for não deixes de ir ver. Agora Paris. Como tem menos americanos está
40
suportável. Já se fala bastante francês

Em 1939 falava ao Prestes mais uma vez a pedir que este lhe reservasse o quarto
habitual no hotel Palace, a sua confiança era bastante junto desta amizade ou não
41
lhe tivesse pedido 4 anos depois em Santos, São Paulo.

Conhecera a escritora Deolinda Cardoso no Brasil com quem procedera à troca de


correspondência, ficando satisfeito pelo apreço que a mesma manifestara em relação
à obra A Náutica dos Descobrimentos. Só recebeu três exemplares, obsequiando um
ao Ministro do Ultramar, outro ao Comandante Moura Braz e ficado com o terceiro.
Destacando que não trazia novidades ao contrário do que estava a publicar agora no
jornal Voz de Portugal.

Tanto Assim foi que a Agência do Ultramar ofereceu exemplares a entidades de


Portugal e do Brasil, como Bibliotecas do Rio, Gabinetes de Leitura do Brasil, e
Institutos Históricos Brasileiros. Depois da oferta para as oito colónias, liceus e
bibliotecas de Portugal, poucos exemplares restaram à Agência, que os manda para
as Livrarias pelo preço de 400 escudos, os seis volumes.42

A 7 de Setembro de 1944, em carta ao Dr. Gustavo Cordeiro Ramos pedia


esclarecimento se existia a obra redigida pelo Dr. Franz Hummerich sobre o Roteiro
de Vasco da Gama, publicada em Munich em 1898, para ser consultado e ou
traduzido, pois encontrava-se a preparar uma análise náutica da rota seguida por
Vasco da Gama em 1497, para futura edição.43

A 6 de Fevereiro de 1949 agradecia o recebimento de uma carta do dia 1 do corrente


mês do Dr. Mário Duarte com fotos de familiares dele e as de Marselha que visitou

40
– 1931 – Setembro 23 [em linha]. [Consultado em 2 dezembro 2018]. Disponível em
http://www.lilileiloeira.com.br/peca.asp?ID=133388&ctd=260&tot=&tipo=&artista=
41
7 de Dezembro 1943 [em linha]. [consultado em 2 dezembro 2018]. Disponível em
https://www.levyleiloeiro.com.br/peca.asp?ID=48835&ctd=21&tot=&tipo=
https://www.levyleiloeiro.com.br/peca.asp?ID=134270
42
Rio, 1953, março 7 [em linha]. [consultado em 29 de Novembro de 2018]. Disponível em
https://familiaroxomotta.wordpress.com/2016/07/24/12-deolinda-cardoso-uma-mulher-
extraordinaria/
43
7 de Setembro de 1944 [em linha]. [consultado em 29 de Novembro de 2018]. Disponível
em https://www.bestnetleiloes.com/pt/leiloes/manuscritos-e-livros/manuscrito-gago-
coutinho
pela primeira vez em 1896 e a última em 1936, alojando-se sempre no Hotel de
Provence. Aqui voltaria ao célebre assunto do atropelamento que sofrera no Rio de
Janeiro.44

Dois anos depois recordava o Professor Duarte Leite (…) um tão profundo e
autorizado crítico histórico, (…) que escrevia mais como homem -de – Mar do que
como homem- de- Academia.45

Manifestava queixas da censura em Portugal na correspondência travada:

(…) Sobre escrever-te, provavelmente falo-ei pela via aérea, mas tenho medo de que
nada venha a receber antes de eu ai chegar, pois hoje recebi uma carta aérea do
Rio,] que dai saiu a 1 de Março! Censurada é claro (…).46

Em 1955 numa carta à escritora Deolinda Cardoso onde anunciava:47

(…) Esperemos que o Brasil não precise voltar com armas à Europa, desta vez para
garantir sua própria independência, pela qual os portugueses de agora fazem
ardentes votos.

Acontece, porém, que os desejos russos de dominar o Mundo, para garantia de sua
própria segurança política são tais que é de recear que o armamento da Alemanha
lhe corte as esperanças e que, antes de ela estar armada se lancem em uma nova
guerra contra o mundo, que tão mal se está preparando.

44
6 de Fevereiro de 1949 [em linha]. [consultado em 25 de Novembro de 2018]. Disponível
em http://ww3.aeje.pt/avcultur/Avcultur/AveiDistrito/Boletim31/page73.htm
45
Lisboa, 1951 [em linha]. [consultado em 25 de Novembro de 2018]. Disponível em
http://duarteleitepereiradasilva.blogspot.com/
46
[em linha]. [consultado em 23 de Novembro de 2018]. Disponível em
https://www.levyleiloeiro.com.br/peca.asp?ID=134270
47
1955 – Janeiro – 2 [em linha]. [consultado em 21 de Novembro de 2018]. Disponível em
https://familiaroxomotta.wordpress.com/2016/07/24/12-deolinda-cardoso-uma-mulher-
extraordinaria/

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