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GEOTECNIA I.

Ensaio laboratorial de deslizamento de diacláses. Critérios de rotura para


a rocha intacta.

Professor Tiago Miranda


Universidade do Minho
Departamento de Engenharia Civil
Guimarães, Portugal

tmiranda@civil.uminho.pt ∗ www.civil.uminho.pt
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Ensaios laboratoriais mais relevantes para a caracterização mecânica

Ensaios de avaliação da durabilidade e alterabilidade da rocha

Existem vários métodos que medem a facilidade com que uma rocha se
desagrega ou altera quando submetida a ciclos de hidratação/desidratação,
desgaste mecânico, gelo/degelo, aquecimento/arrefecimento, etc. Por regra os
resultados são expressos em termos de diferença de pesos das amostras antes e
após serem submetidas aos diversos tipos de ciclos indicados.

Slake durability

Consiste em submeter a rocha previamente fragmentada a ciclos de


humidificação e secagem e desgaste mecânico. Seca-se a amostra, pesa-se e
introduz-se num tambor feito com uma malha metálica de 2mm de abertura, meio
cheio de água o qual é rodado um número determinado de vezes. No fim retira-se
a amostra e seca-se, repetindo-se novamente o ciclo. O resultado é um índice de
durabilidade, ID, que representa a percentagem de rocha, em peso seco, que se
desagregou e ficou retida no tambor depois de um ou dois ciclos (ID1 e ID2).
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Ensaios laboratoriais mais relevantes para a caracterização mecânica

I D (% ) =
Peso sec o depois de 1 ou 2 ciclos
Peso inicial da amostra

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Ensaios laboratoriais mais relevantes para a caracterização mecânica

Ensaios de avaliação da durabilidade e alterabilidade da rocha

Ensaio de desgaste de Los Angeles

Consiste em submeter a rocha previamente fragmentada com diferentes


granulometrias (desde 76,1/64mm até 4,76/2,38mm) a ciclos de desgaste
mecânico na máquina de Los Angeles. Seca-se a amostra e introduz-se num
tambor de aço que tem no seu interior entre 6 a 12 esferas de aço, em função da
granulometria da amostra (cada esfera com φ≈46,8mm e peso entre 390gr e
445gr), o qual é depois rodado à velocidade de 30 a 33 rpm um determinado
número de vezes (500 ou 1000 rotações, em função da granulometria da
amostra). No fim retira-se a amostra, seca-se e determina-se o material que fica
retido no peneiro 12 (1,68mm). O resultado é expresso em termos da relação
entre o peso inicial menos o retido sobre o peso inicial, em percentagem:
Peso da amostra sec a − peso do material retido no #12
LA(% ) = x100
Peso da amostra sec a
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Ensaios laboratoriais mais relevantes para a caracterização mecânica

Ensaio de deslizamento de diacláses

Consiste em aplicar uma tensão de corte a uma amostra de rocha que contenha
uma descontinuidade e que está submetida a uma determinada tensão normal ao
plano da descontinuidade. São medidas as tensões aplicadas e os
deslocamentos tangenciais respectivos. A partir de vários ensaios (mínimo 3)
realizados para diferentes tensões normais é possível determinar φ’ e c’ da
descontinuidade.

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A resistência ao corte das diacláses/descontinuidades depende essencialmente


do atrito existente o qual é fortemente condicionado pela rugosidade da
descontinuidade. Os outros factores que condicionam a resistência ao corte das
descontinuidades são: a tensão normal, resistência e deformabilidade das
paredes da descontinuidade (grau de alteração), espessura e propriedades do
enchimento e área de contacto entre as paredes rochosas.

As resistências ao corte de pico e residual para descontinuidades planas


(ou pouco rugosas) pode ser expressa pelo critério de rotura de Mohr-
Coulomb:

τ p = c ' + σ n' ⋅ tgφ p' τ r = σ n' ⋅ tgφr'


em que φp e φr são os ângulos de atrito de pico e residual.

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Para a obtenção da envolvente de


rotura de pico tem de se utilizar os
valores da resistência de corte de
pico (τp) obtidos para cada ensaio
correspondentes a cada tensão
normal aplicada (σn).
τ p = c ' + σ n' ⋅ tgφ p'
Para a obtenção da envolvente de
τ r = σ n' ⋅ tgφr' rotura residual usa-se a
resistência de corte residual (τr).

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Para a avaliação da resistência ao corte de descontinuidades rugosas devem


ser utilizados outros critérios de rotura.

Critério de Patton

Desenvolveu uma envolvente de rotura bilinear para descontinuidades rugosas


(no critério de Mohr-Coulomb é uma recta), que depende da rugosidade e da
tensão normal (σn).

A irregularidade de uma descontinuidade pode ser definida por um ângulo de


rugosidade, i.

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Critério de Patton

Para descontinuidades
sem coesão.

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Se se aplica uma tensão de corte sob baixos valores de σn, ao produzirem-se


deslocamentos tangenciais tem de haver dilatância (abertura ou separação).
Nesta fase a resistência de corte de pico é dada por:

τ p = σ n' ⋅ tgφ p' = σ n' ⋅ tg (φb' + i ) em que, φ’b é o ângulo de atrito da descontinuidade
plana não alterada.

A progressão dos deslocamentos tangenciais pode levar à rotura dos bordos mais
angulosos (suavização da rugosidade), ficando as superfícies em contacto e
prevalecendo φ’b.

se se aumenta σn, de tal forma que a dilatância é impedida, tem necessariamente


de haver rotura das irregularidades para que haja deslocamento e a resistência
tende para:
τ r = σ n' ⋅ tgφr' em que, φ’r é o ângulo de atrito residual da descontinuidade.

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Critério de Barton

Trata-se de um critério empírico deduzido a partir da análise do comportamento


de descontinuidades em ensaios de laboratório, em que a resistência de pico ao
corte para descontinuidades sem coesão é dada por:
⎡ ⎛ JCS ⎞ ' ⎤ ou seja, ' ⎡ ⎛ JCS ⎞ ' ⎤
τ p = σ ⋅ tg ⎢ JRC ⋅ log10 ⎜⎜ ' ⎟⎟ + φr ⎥
' φ p = ⎢ JRC ⋅ log10 ⎜⎜ ' ⎟⎟ + φr ⎥
⎝ σn ⎠ ⎝ σn ⎠
n
⎣ ⎦ ⎣ ⎦
Em que φr é o ângulo de atrito residual; JRC é o coeficiente de rugosidade da
descontinuidade (varia entre 0 e 20); e JCS ou σJ é a resistência à compressão
das paredes da descontinuidade.

Segundo este critério a resistência da descontinuidade depende de 3


componentes: uma friccional, φ’r, uma geométrica dada por JRC, e uma de
“aspereza” dada por JCS/σ’n. As duas últimas representam a rugosidade i.

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Critério de Barton

Este critério quando aplicado com tensões de confinamento baixas resulta em


valores ângulo de atrito muito elevados, pelo que só deve ser usado para
relações JCS/σ’n < 50. Nos casos de JCS/σ’n > 50, o valor e φ’p pode ser
estimado por: φ’p = φ’r + 1,7 JRC.

Figura para obtenção


de valores aproximados
de JRC

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O JCS (Joint Compressive Strength) é


a resistência à compressão uniaxial
das paredes dos blocos que limitam a
descontinuidade.

Se as paredes não estão alteradas o


valor de JCS toma o valor da
resistência à compressão simples da
rocha, σc.

Pode ainda ser utilizado o ensaio do


martelo de Schmidt. A conversão do
ressalto dado pelo ensaio (R) pode
ser efectuado através do ábaco ou
pela expressão:
log10 (σ c ) = 0.00088 ⋅ γ ⋅ R + 1.01
em que γ é o peso volúmico da
rocha.
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Efeito de escala

O valor de i diminui com o aumento da escala devido à maior influência da


ondulação (a maior escala) do que da rugosidade (menor escala), ou seja, em
ensaios de laboratório (pequena escala) só está representada a rugosidade
(pequena escala) enquanto em ensaios de grande dimensão (in situ) estão
representadas as duas. Assim, os parâmetros JRC e JCS dependem da escala
considerada e devem ser corrigidos quando se fazem ensaios de grande
dimensão.

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Os valores de JRC empíricos foram definidos para juntas com 10cm de


comprimento, quando se pretende analisar o comportamento de juntas de maior
comprimento é necessário corrigir os valores para outras escalas através da
proposta de Bandis et al (1981):

JCSn = JCS0 (Ln/L0)-0,03JCS0


JRCn = JRC0 (Ln/L0)-0,02JRC0
Em que Ln é o comprimento real da descontinuidade e L0=10cm

E segundo Barton (1990) a resistência da descontinuidade à escala real pode


ser estimada por:

⎡ ⎛ JCS ⎞ ' ⎤ Em que i é o ângulo da ondulação a


τ p = σ n' ⋅ tg ⎢ JRC ⋅ log10 ⎜⎜ ⎟ + φr + i ⎥
' ⎟
⎣ ⎝ σn ⎠ ⎦ grande escala.

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Descontinuidades com preenchimento

Um problema comum no projecto de obras de engenharia é o que acontece com


descontinuidades preenchidas com material pouco resistente. O material pode ser
do tipo detrítico, típico de falhas, ou material depositado pelo escoamento da
água nos maciço rochoso.

A presença significativa destes materiais de enchimento pode ter grande


influência na estabilidade de taludes.

A resistência ao corte da descontinuidade é condicionada pelas propriedades e


espessura do preenchimento. No caso de certos tipos de preenchimentos (exº
argilosos) pode haver coesão.

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Se a espessura for importante a rotura dá-


se pelo preenchimento e a resistência ao
corte da descontinuidade será igual à do
preenchimento.

Se o preenchimento for duro e consolidado


a rotura pode dar-se pelo contacto
preenchimento – descontinuidade.

Influência da espessura do
enchimento na resistência de
uma descontinuidade idealizada

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Influência da presença da água

A presença de água nas descontinuidades diminui a resistência ao corte em


consequência da pressão exercida pela água a qual é oposta à tensão normal.

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Critérios de rotura para a rocha intacta

Para a caracterização da resistência ao corte na rocha intacta utiliza-se muito


frequentemente, à semelhança dos solos, o critério de rotura de Mohr-Coulomb.

τ = c'+σ n' ⋅ tgφ '

Em que c’ – coesão ou força de união entre as partículas minerais resultantes da


cimentação; φ’ – ângulo de atrito da rocha.

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Critérios de rotura para a rocha intacta

Este critério pode expressar-se em termos das tensões principais por:


2c + σ 3( sen 2θ + tgφ (1 − cos 2θ ))
σ1= para qualquer plano definido por θ
sen2θ - tgφ (1 + cos2θ )
se σ3=0, σ1 é a resistência à compressão
2c cos φ 2c cos φ simples da rocha, σc.
σ 1 = σc = σt =
1 − senφ 1 + senφ se σ1=0, σ3 é a resistência à tracção da
rocha, σt.
O critério de rotura de Mohr-Coulomb expressa a resistência ao corte ao longo de
um plano em condições de compressão triaxial, através de uma relação linear
entre as tensões normais e tangenciais actuantes no momento da rotura.

Contudo, as rochas e maciços rochosos não apresentam um comportamento


mecânico linear, pelo que, apesar da vantagem da simplicidade deste método, ele
não se ajusta ao comportamento real dos materiais rochosos já que a resistência
do meio rochoso cresce menos do que a obtida ao aplicar uma lei linear.
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Critérios de rotura para a rocha intacta

Para os materiais rochosos é mais realista uma envolvente de rotura curvilínea.

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Critério de rotura de Hoek-Brown para rocha intacta


1
⎛ σ '
⎞ 2
σ = σ + σ c ⋅ ⎜⎜ mi ⋅
' '
+ 1⎟⎟
3

σc ⎠
1 3

em que σ1’ e σ3’ são, respectivamente, as tensões principais efectivas máxima e
mínima na rotura e mi uma constante da rocha intacta (depende do tipo de rocha).
Assim, a relação entre as tensões principais na rotura para uma dada rocha é
definida por dois parâmetros: a resistência à compressão uniaxial σc e a
constante mi.

Este critério foi também generalizado para os maciços rochosos para a


quantificação da sua resistência.

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Critério de rotura de Hoek-Brown para rocha intacta

O valor de mi pode ainda ser


aproximado pela razão entre a
resistência à compressão uniaxial e
a resistência à tracção.

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Critério de rotura de Hoek-Brown para rocha intacta

Critério de rotura de Hoek-Brown em função: a) das tensões principais; b) das


tensões normal e tangencial.

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