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classificação da segunda fase do Campeonato Mineiro 2019, presenciou algo inesperado. Após
encontrar algumas dificuldades ofensivas no primeiro tempo, graças à ótima atuação da
defesa do Tigres, o Nova Serrana Forgeds voltou para o segundo tempo alinhado em uma
formação pouco convencional, fechada, sem wide receivers. A partir desse ponto, o ataque
passou a encaixar muitas corridas e alguns passes em playaction, conquistando uma vitória de
virada, na prorrogação, em uma partida que mal havia terminado e já tinha entrado para a
história do futebol americano brasileiro.
Quem acompanhou a trajetória do Forgeds ano passado já conhecia esse ataque. Foi
com ele que o time de Nova Serrana impôs sua vontade sobre os adversários, chegando aos
playoffs do Campeonato Mineiro e da Liga Nacional de Futebol Americano em seu ano de
estréia em ambas as competições. Mas mesmo dentre as pessoas que acompanharam todos
os jogos do Forgeds, poucos sabiam que estavam assistindo a um dos mais bem sucedidos
sistemas ofensivos já utilizados no futebol amercano: o Double Wing
O termo Double Wing sugiu pela primeira vez em 1912, mas se referia apenas a uma
das diversas formações usadas pelo lendário técnico Glen “Pop” Warner em seu célebre
sistema Single Wing, e se referia somente a um ataque alinhado com 2 Tight Ends e 2 Wing
Backs (running backs alinhados a 1 jarda de distancia dos Tight Ends e recuados 1 jarda da
linha de scrimmage).
Durante várias décadas, a Double Wing era apenas isso: só uma formação
complementar em um complexo e dominante sistema ofensivo. Até que no começo dos anos
70, um homem chamado Don Markham mudaria o significado desse nome para sempre.
Markham era o Head Coach em uma escola chamada Los Angeles Baptist High School,
e um adepto da tradicional I Formation. Não existem registros do que motivou a mudança,
mas em algum ponto, Markham começou a executar a jogada Power, uma das mais
importantes da I Formation, na formação Double Wing, convertendo o half back e o tailback,
que originalmente se alinhavam atrás do quarterback, em wing backs.
Essa modificação, junto com o posicionamento angulado para dentro dos wing backs,
criou novos ângulos de ataque para as jogadas de corrida, além de um tempo de execução
mais lento, que permitiu a Markham trazer mais dois lead blockers para o ponto de ataque da
corrida: o tackle do backside, que se juntou ao guard do backside que, tradicionalmente, já
executava um pull para se tornar um lead blocker na jogada Power, e o quarterback, que tinha
um ângulo perfeito para bloquear o jogador mais aberto da defesa, após fazer um toss para o
wing back.
Além disso, com o quarterback alinhado under center, e o full back abaixado atrás
dele, a linha ofensiva impedia a visualização do backfield pela defesa, que não conseguia saber
onde estava a bola.
Um efeito semelhante acontece no Brasil, o que faz com que, ao menos até onde eu
saiba, o Nova Serrana Forgeds seja o único time do país a executar um sistema que é perfeito
para as nossas condições atuais, como a limitação de tempo para treino, a dificuldade no
recrutamento de novos jogadores e a falta de formação aprofundada para técnicos.
Portanto, da próxima vez que vir um jogador do Forgeds correndo atrás de uma
parede de bloqueadores, saiba que o que você está presenciando é um dos mais eficientes,
bem sucedidos e vencedores sistemas ofensivos da história do esporte. O Futebol Americano
em sua mais pura forma.