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5. O resto é silêncio, Érico Veríssimo. [Hamlet] 8. The Wheel of Fire, G. Wilson Knight.

[King
6. O som e a fúria, William Faulkner. Lear]
[Macbeth] 9. The Web of Life, Robert Herrick. [All’s Well
7. The Imperial Theme, G. Wilson Knight. that Ends Well]
[Macbeth] 10. Two Loves I Have, Owen Pitman. [Sonnet
144]

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As Narrativas do Retorno:
Da Odisséia ao Ulisses
The Narratives of Return:
From the Odyssey to the Ulysses

Sandra Sirangelo Maggio

Resumo
Trata-se de estabelecer uma comparação entre as obras A Odisséia, de Homero, e Ulisses, de James
Joyce, enquanto representações da trajetória que vem sendo percorrida pela ficção ocidental. Odisseu e
Leopold Bloom são relacionados a partir do conceito de “metempsicose” proposto por Joyce. Os temas da
memória e da busca da figura paterna servem para ilustrar as modificações estéticas e filosóficas ocorridas
entre a concepção clássica de identidade e a fragmentação do romance moderno.
Palavras-chave: Odisséia, Ulisses, metempsicose.

Abstract
This work aims at analysing the connections between Homer’s The Odyssey and James Joyce’s
Ulysses in order to establish the route of development followed by Western fiction. Odysseus and Bloom
are related through the notion of metempsychosis proposed by Joyce. The different treatment offered to the
themes of Memory and Search of a Father Figure indicate the aesthetic and philosophical changes established
from the classical unshaken notion of identity to the fragmentation witnessed in the modern novel.
Key words: Odyssey, Ulysses, metempsychosis.

Em “As Fronteiras da Crítica” T. S. Eliot são explicitados os títulos que remetem a episó-
(1962) faz um comentário bem- humorado so- dios específicos da Odisséia, fazendo com que a
bre os problemas com a primeira edição de The ligação entre as duas obras se torne evidente 1.
Waste Land, quando se constatou que o poema Caso tal precaução não houvesse sido tomada é
— composto por uma colagem de citações — bem possível que - apesar do título do romance
era inacessível, até mesmo aos leitores mais com- - as implicações que decorrem dessa relação não
petentes, sem as incontáveis notas de rodapé fossem suficientemente percebidas.
que foram imediatamente acrescentadas. O que se propõe neste trabalho é uma in-
Ulisses, de James Joyce, publicado sete vestigação do elo que une estas duas obras, cen-
meses antes de The Waste Land, em fevereiro de trando o estudo na leitura de Ulisses enquanto
1922, não precisou enfrentar o mesmo proble- tradução - no tempo e no espaço - da Odisséia
ma. Alertado a tempo pelos editores da Gráfica de Homero. Após trinta séculos, a narrativa se
Dijon, o autor apresentou uma planilha na qual transfere da Grécia, centro da civilização de
então, para a Irlanda, um país depauperado após

Sandra Sirangelo Maggio é doutora em Literaturas de Língua Inglesa pelo


PPG-Letras UFRGS, e professora Adjunto IV do Departamento de Línguas 1
Referência à planilha elaborada por Stuart Gilbert (1958, p. 30), que pode ser
Modernas da UFRGS, lecionando nos cursos de graduação e pós-gradua- encontrada em português na edição brasileira de Ulisses traduzida por Antôni
ção. Endereço eletrônico: maggio@cpovo.net Houaiss.

Canoas n. 4 1º semestre de 2001 p. 19-27


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oito séculos de luta contra a opressão inglesa. consciência de que sua caminhada de quase
As diferenças são tantas a ponto de indagarmos vinte horas pelas ruas de Dublin corresponde
sobre os misteriosos caminhos percorridos pela não aos vinte anos de aventuras vividos por
narrativa de ficção, que terminaram por trans- Odisseu, mas também à longa jornada percor-
formar Odisseu em Leopold Bloom, ou Telêma- rida pela narrativa de ficção no ocidente desde
co em Stephen Dedalus. os tempos de Homero e durante os vinte sécu-
Poderíamos iniciar fixando nossa atenção los da influência cristã sobre as diferentes for-
na questão da Memória, enquanto elemento es- mas de expressão artística.
sencial para que a narrativa do retorno de Odis- Em oposição à memória e ao senso de
seu chegue a um bom termo. É graças a ela que, identidade de Odisseu, o percurso de Bloom é
apesar de vagar durante tantos anos por territó- marcado pela amnésia e pela alteridade. Stuat Gil-
rios desconhecidos, Odisseu jamais perde o seu bert (1958, pp. 147-148), em seu capítulo sobre os
rumo, pois é capaz de manter a lucidez com Comedores de Lotus, aponta os vários pequenos
relação a duas questões fundamentais: sabe esquecimentos de Bloom, ao longo do dia. Parte de
quem é e para onde vai. sua distração deve-se ao fato de que sua mente é
Constantemente perseguido pelo deus constantemente invadida por uma série de sensa-
Posido, sujeito à violência dos elementos da na- ções e referências que evocam o tema da transmi-
tureza, Odisseu chega a novas terras como náu- gração das almas — metempsicose — e o remetem
frago, sem haveres, sem a sua tripulação, ou até a um passado ancestral relacionado ao oriente. A
mesmo sem roupas. Possui, porém, a plena cons- angústia de Leopold Bloom é a angústia do herói
ciência de sua identidade. Ele é o rei de Ítaca, moderno, que não sabe de onde vem, para onde
um herói do cerco de Tróia e o protegido de Pa- vai ou o que deve ser feito. Enquanto Odisseu
las Atena, e isso é o suficiente para que seja sem- mantém a identidade mesmo em terras estranhas,
pre bem recebido como e onde quer que vá. enfrentando monstros, tempestades e visitando
Apesar de todos os percalços, Odisseu reis, Bloom - judeu irlandês - personifica o “outro”
sabe que o seu destino final é o retorno ao lar. e se torna um estrangeiro em seu próprio país. A
Sabe, inclusive, o por quê das dificuldades que farmácia, a lanchonete, a biblioteca se transformam
atravessa - está sendo punido pela pressa em em campo de batalha. Seu desafio consiste em pu-
regressar de Tróia, que fez com que abreviasse blicar no jornal um anúncio de chaves, para um
os ritos ao deus Posido e também pela arrogân- homem chamado Xaves, enquanto se desespera
cia e astúcia de que foi vítima o cíclope Polife- buscando encontrar as chaves de sua própria me-
no. Graças ao auxílio de Palas Atena e às indica- mória. Bloom surge dominado pela angústia de
ções do adivinho Tirésias, o herói possui tam- uma realidade por demais fragmentada para que
bém a memória projetiva: embora não possa possa ser apreendida, e isso o imobiliza.
evitar as dificuldades, sabe exatamente quais O aspecto mais intrigante deste persona-
serão e o que fazer para libertar-se delas. gem é o fato de que, apesar de não agir, não
Para ser o narrador de suas próprias aven- falar e não fazer — isto é, de não interferir —
turas, Odisseu controla a apresentação dos fa- Bloom mantém todas as características de no-
tos e, ao manuseá-los, acaba por fazer com que a breza e dignidade. Em momento algum ocorre-
verdade oferecida coincida sempre com a sua ria ao leitor a idéia de considerá-lo pouco arti-
verdade individual. O mundo e a maneira como culado, pouco inteligente, ou outro que não o
Odisseu o vê se mesclam numa única entidade, herói da narrativa. Bloom é, claramente, Ulis-
na qual tudo se encaixa. Existe uma ordem pré- ses, porém noutra época e exposto a novas cir-
estabelecida regendo as ações humanas, e Odis- cunstâncias. Romperam-se, nos tempos da mo-
seu conhece essa ordem e se movimenta de acor- dernidade, os elos que uniam os ritmos da na-
do com ela. tureza aos ritmos do homem e que eram por
A trajetória de Leopold Bloom, por outro este expressos em forma de poesia. Predomina,
lado, retrata uma realidade em que não há mais agora, o não-ritmo de um romance fragmenta-
o conforto do certo e do errado. Bloom não nar- do e em fase de degeneração, no qual perdeu-se
ra, ele é narrado. O universo em que vive é de a memória da harmonia das ligações entre o
tal modo fragmentado que ele nem menos tem individual e o grupal.

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Talvez a maior contribuição prestada pela cabe agora traçarmos algumas considerações
literatura em nosso século tenha sido a investi- sobre o que parece ser o movimento dialético
gação sobre a natureza desta fragmentação. que envolve os conceitos de ordem e caos.
A realidade, sendo por demais complexa Ao narrar a criação do universo, na Teo-
para ser apreendida pela mente humana, só pode gonia, Hesíodo nos apresenta o início como
ser alcançada de maneira imprecisa e parcial, sendo o Vazio (Khaos). Surgiu, a seguir, a Terra
por meio de um processo de narrativização. Tal- que, ao unir-se ao Céu (Urano), formou o Cos-
vez devido ao modo como funciona o nosso cé- mos, elemento fértil de onde provém toda a
rebro, precisamos transformar a realidade em fic- vida. A expressão gráfica desta junção — o pla-
ção para que a possamos sentir. Todavia, é im- no terrestre unindo-se ao plano celeste junto à
possível omitir-se o fato de que, ao narrarmos o linha do horizonte — cria uma imagem que se
mundo, nós o colorimos de acordo com a nossa assemelha a uma boca que se abre ( Ξ×αοζ,
percepção, apresentando os fatos através do ân- χαι×νω, bocejar)2. Da união do Céu com a Ter-
gulo pelo qual se nos apresentam. Continuamos ra nasce Crono e, deste, nasce Zeus que, unin-
— assim como Odisseu — sendo os narradores do—se a Memória (Mnemosine), gera as nove
de nossa própria história. O que se perdeu, con- musas. O canto das musas (mito, μυθ×οζ) ini-
tudo, foi a ingenuidade dos tempos em que se cia o processo de narrativização do universo.
podia crer que o que víamos era a realidade, e Este, ao mesmo tempo em que traz a luz e a
não os símbolos que criamos para representá-la. compreensão, nos aparta de um contato direto
Para Lacan, só pode ser chamado de real aquilo com a realidade.
que resiste à simbolização. Portanto, a realidade Tanto a Odisséia quanto Ulisses são narra-
é um elemento ao qual jamais teremos acesso. O tivas de retorno. Odisseu consegue retornar a
mesmo se aplica ao conceito de história: a histó- Ítaca por três motivos: ele é protegido pelos
ria não é um texto, mas só temos acesso a ela sob deuses, sabe quem é e para onde deve retornar.
forma de texto (Lacan, 1982). A ordem do universo, o senso de identidade e o
Daí talvez o mérito de Leopold Bloom. Es- poder da memória terminam por conduzi-lo,
tamos todos presos em linguagem, mas poucos apesar dos contratempos, de volta ao lar, prote-
conseguem reagir a este fato. Se considerarmos os gido pela harmonia deste belo universo mito-
três personagens de Ulisses, poderemos concluir logicamente recém inaugurado.
que a abordagem de Molly diante da vida é mais Mas em Ulisses o que predomina é nova-
primitiva e musical do que intelectual. Já Stephen mente o caos. Leia-se agora este termo enquan-
e Bloom estão ligados à palavra. Stephen parece to representando não mais o fértil vazio cria-
entrar em pânico ao compreender a impossibili- dor, mas a concepção moderna e negativa de
dade de um acesso direto à realidade. A atitude colapso, destruição e decadência. Na jornada
de Bloom é diferente. Sua vitória consiste em pe- de Bloom há sérias dúvidas sobre a possibilida-
netrar na complexidade dos fatos sem buscar sim- de de alguma interferência divina; e a sensação
plificá-los. Ele tem a coragem de se expor, de se de amnésia impossibilita a lucidez do protago-
deixar narrar, navegando em linguagem com a nista quanto às questões de identidade e de
mesma meticulosidade, perícia e argúcia com que destino.
Odisseu contorna os perigos que o espreitam nos Este processo de degeneração está relaci-
meandros do mar Egeu. onado ao curso do desenvolvimento do pensa-
mento ocidental, ao longo dos três mil anos que
separam a realidade da Odisséia da de Ulisses.
As raízes de nossa forma lógica de racio-
cinar já estão presentes na dialética eleática que,
II por meio de uma seqüência de perguntas res-
pondidas por “sim” e “não”, terminam por con-

Dando seqüência a nossa investigação


sobre as mudanças ocorridas com a narrativa 2
Considerações formuladas e apresentadas pelo prof. Donaldo Schüler, no
de ficção ocidental desde Homero até Joyce, curso “Literatura e Mito” (CPG Letras – UFRGS).

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duzir a argumentação ao ponto desejado. Esta os valores de seu opressor. Portanto, a enorme
tendência de dividir para analisar e compreen- dificuldade em obter sua própria independên-
der os pontos de interesse a serem estudados cia liga-se ao fato de que não é somente a Ingla-
foi aprimorada na filosofia de Aristóteles. Adap- terra invasora que se combate, mas também a
tada ao Cristianismo sob os moldes da exegese ideologia dos invasores que acabou sendo in-
medieval, cristalizou a maneira ocidental de corporada, de forma indireta. Já a mitologia gre-
proceder, baseando-se cada vez mais na com- ga, misturando-se aos cultos druidas pagãos,
partimentalização do conhecimento e investi- integrou-se ao folclore popular, atuando como
gando cada vez mais fundo em áreas cada vez elemento de resistência 3.
mais restritas. Esta tradição chega até nós na O primeiro episódio de Ulisses ilustra essa
forma do pensamento dialético de Hegel. Nele, mistura de elementos em conflito, sendo apre-
a criação é encarada como pertencente ao Espí- sentado a partir de uma colagem de citações que
rito Absoluto, a essência do qual se manifesta remetem diretamente à Odisséia, a Tomás de Aqui-
em cada um dos elementos que compõem o no, ao ritual da Missa, a obras de Shakespeare e a
universo. A natureza deste todo pode ser apre- três escritores irlandeses, Swift, Yeats e Wilde.
endida através da análise de qualquer das par- O conflito entre ser católico e ser irlandês
tes que o compõem. Os hábitos mentais do ho- pode ser percebido através dos comentários
mem ocidental se prendem a esta tradição e é quando — no episódio do Hades — Bloom e
nela que se baseia a sua história. Em última ins- seus companheiros passam pelo túmulo do lí-
tância, todos os méritos e todas as falhas da nos- der revolucionário Charles Stuart Parnell.
sa civilização podem ser atribuídos a tais pro- Durante a última década do século XIX a
cedimentos mentais. Irlanda, conduzida por Parnell, estava prestes a
Dentre os personagens de James Joyce, conquistar sua independência junto ao parla-
Stephen Dedalus é quem melhor ilustra as eta- mento inglês. Houve, então, a divulgação de
pas deste longo processo de transformação que um escândalo moral, onde divulgou-se que Par-
caracteriza a história do pensamento ocidental. nell mantinha um caso com uma mulher casa-
da. A Igreja irlandesa argumentou que o líder
nacionalista não estava em condições de conti-
nuar representando o país. Ele foi deposto e a
libertação da Irlanda foi adiada por mais duas
décadas. Em 1912, no ensaio “The Shade of Par-
III nell”, Joyce comenta: “Num último e desespe-
rado apelo a seus compatriotas, ele implorou
que não o atirassem como um trapo velho aos
Para melhor compreendermos a posição lobos ingleses que uivavam a sua volta. Pelo
de Stephen Dedalus — protagonista da Tele- menos não se pode dizer que não tenha sido
maquia, em Ulisses — frente à questão da or- atendido. Não o atiraram aos lobos ingleses: eles
dem e do caos, será necessário, primeiro, avali- próprios o es-traçalharam.” (Joyce, 1959)
armos o que significa ser católico no contexto Este conflito entre valores opostos se apre-
da Irlanda de 1904. senta a partir do próprio nome de Stephen De-
A tradição judaico-cristã surge muito tar- dalus. Nascido e criado dentro dos princípios
de na Irlanda, a partir de sua evangelização, da Igreja Católica, ele é batizado com o nome
por São Patrício, no século V, e de seu domí- de Santo Estevão, o primeiro mártir cristão —
nio, por Henrique II, da Inglaterra, no século alguém cuja convicção foi tão forte a ponto de
XII. É somente a partir de então que os irlan- fazer com que morresse pelo que acreditava. É
deses passam a conhecer, também, o legado da esta mesma obstinação que faz com que Stephen,
civilização grega. após romper com a Igreja, se recuse a ajoelhar-
O cerne do conflito irlandês vem do fato
de que, ao longo dos oito séculos em que lutou 3
Um exemplo é o que faz W.B. Yeats, no poema “Leda and the Swan”, onde
para libertar-se do jugo inglês, a Irlanda assi- a imagem da virgem mortal inseminada por um deus em forma de pássaro
(análoga à da Virgem Maria e do Espírito Santo) é revertida até o encontro
milou em grande parte, através do Catolicismo, entre Leda e Zeus, sob a forma de cisne.

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se junto ao leito de morte de sua mãe. “Sabe por Stephen sabe que, a fim de expulsar este inva-
quê? Porque você tem aquela maldita veia jesu- sor, será necessário negar, primeiro, muitos dos
íta, só que ela ocorre em sentido contrário”, co- seus próprios valores. É o que ele faz ao se recu-
menta um amigo (Joyce, 1961, p. 9. Todas as sar a rezar junto ao leito da mãe, ou quando —
citações subseqüentes referem-se a esta edição. em Um retrato do artista quando jovem —escolhe
Tradução de citações minha). como sua nova profissão de fé a frase “Me recu-
Seu segundo nome é Dedalus, como o do so a servir ”, pronunciada por Lúcifer no Paraí-
artífice grego. Dédalo é o construtor do labirin- so Perdido, de Milton (ver Joyce, 1981, p. 222).
to no qual o rei Minos termina por prendê-lo, Neste doloroso processo de auto-mutila-
juntamente com seu filho Ícaro. Dédalo conse- ção o mais difícil de ser extirpado é a sensação
gue escapar criando grandes asas de cera. Quan- de proteção, de segurança e de ordem que a
do começam a voar, o entusiasmo de Ícaro é tão Figura Paterna — equacionada com as imagens
grande que ele não consegue resistir à tentação de Deus e da Igreja — representa.
de ir ao encontro do sol. As asas derretem e ele
morre. Dédalo sobrevive por possuir dois pre-
dicados: a inteligência, que lhe permite arqui-
tetar um meio de libertação e suficiente auto-
controle para não se deixar levar pela emoção. IV
Daí a ironia quando Simon Dedalus, o pai de
Stephen, critica o filho por seu parco salário
como professor: “Será que ele não pode voar Ao abordarmos a questão da ordem em
mais alto do que isso, ein?” (Ulisses, p. 38) sua relação com a figura paterna a partir de Ste-
A posição de Stephen é tão delicada quan- phen é importante lembrar que, apesar do pro-
to a de Dédalo, e ele parece racionalmente cien- pósito consciente do personagem de romper
te da complexidade de sua situação. Preocupa- com a ordem estabelecida, a necessidade da pre-
do em oferecer resistência aos apelos ideológi- sença do pai é um dos mais fortes elementos em
cos aos quais é constantemente submetido, sabe Ulisses, a ponto de termos Stephen apontado
também que sua resistência está fadada ao insu- como representante da figura de Telêmaco.
cesso, pois as próprias armas que utiliza pro- Este movimento simultâneo de atração e
vêm do aparato ideológico do qual está tentan- rejeição pode ser melhor compreendido se par-
do se libertar. Assim, para desvencilhar-se do tirmos de uma análise da relação de Stephen
jogo do catolicismo, Stephen utiliza toda a sua com seu pai, Simon Dedalus, e das ligações ela-
habilidade na arte de raciocinar — que é cons- boradas entre a condição de vida de sua família
truída a partir de Tomás de Aquino. e a situação da Irlanda.
Como ele mesmo coloca, “Sou o servo de Em determinado momento, Stephen se
dois senhores, um Inglês e outro Italiano” (Ulis- define como sendo “o escravo de um escravo”
ses, p. 20). Mais forte do que o ódio ao inglês (Ulisses, p. 11), aludindo à maldição lançada
invasor é a submissão involuntária aos valores por Noé ao filho Cam e sua descendência (Gê-
do imperialismo ocidental, representados, nes- nese, 9, 18-25). Cam desrespeitara o pai olhan-
te contexto, pela influência da Igreja Católica4. do-o em sua nudez, ao encontrá-lo bêbado.
A embriaguez de Noé nos remete a Simon
Dedalus, pai de Stephen, um beberrão brinca-
4
Esta idéia é tão forte em Joyce a ponto de fazê-lo crer que a própria indepen- lhão incapaz de assumir o papel paterno. A
dência da Irlanda, promulgada em 1922, é de pouca importância diante do embriaguez, neste contexto, surge como conse-
fato de que os valores incorporados continuaram em vigor. Em uma carta
a seu irmão (citada em MacCabe, 1981), ele diz que: “Na Dublin do meu qüência da decadência econômica. Após a morte
tempo havia um tipo de ‘liberdade filha do desespero’ que provinha da falta
de responsabilidade, pois os ingleses é que estavam no poder. Então cada
da esposa, sem condições de manter uma famí-
um dizia o que bem entendia. Agora, desde que instauraram o Estado livre, lia enorme, Simon abdica da dignidade da fun-
ouço dizer que há menos liberdade. A Igreja tem construído estradas por
toda a parte. Estamos nos transformando mesmo em uma nação burguesa,
ção de pai. Ao criticar Stephen por “não voar
na qual a Igreja vai assumir o lugar da aristocracia... Também não vejo mais alto”, acaba por equiparar-se a Ícaro, in-
grandes esperanças para nós, intelectualmente falando. Assim que se sentir
no comando, a Igreja vai devorar tudo. Só vão restar uns trapos velhos e vertendo assim as posições e tornando impossí-
sem valor: vamos degenerar até que aconteça conosco o mesmo que acon- vel, para Stephen — assim como o foi para Cam
teceu com a Espanha” (p. 169).

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— manter a imagem do pai como a de um ser forçado a utilizar Aquino para desconstruir
superior. Aquino. E o mais grave de tudo é que o idioma
A desagregação da família Dedalus, em utilizado para operar esta desconstrução é o
Ulisses, ilustra a estreita ligação entre a vida fa- inglês, a língua do inimigo.
miliar e as condições econômicas às quais está Lacan exemplifica o argumento com uma
exposta. Quanto mais severa se torna a deca- frase de Finnegans wake, “Who ails tongue cod-
dência, tanto maior é a ameaça de ruptura dos deau a space of dumbillsilly?” — uma das ten-
laços familiares. tativas mais drásticas de rompimento onde é
Stephen — Telêmaco às avessas — se vê criada uma transcrição homofônica do francês
forçado a renunciar à busca do sagrado em Si- mal pronunciado de “Où est ton cadeau, es-
mon Dedalus. Ao mesmo tempo, revolta-se con- pèce d’imbécile?” A fuga para outro idioma,
tra as circunstâncias que conduziram ao des- operada na forma, nos remete forçosamente ao
moronamento de sua família, terminando por ponto de vista sobre as perdas da Irlanda: per-
sentir-se órfão. Para Stephen, o imperialismo de-se a dignidade, perde-se a liberdade, perde-
ocidental, através da Inglaterra e da Igreja Ca- se até o próprio idioma, e o que é que se ganha
tólica da Irlanda, é responsável pela destruição em troca?
de sua família. Por isso — apesar de ansiar por Pensando nesta interdependência entre
uma reconciliação (“A idéia do pai e do filho. O forma e conteúdo, o crítico marxista inglês Ter-
filho buscando por uma reconciliação com o ry Eagleton conclui que, mais do que outra coi-
pai”, [Ulisses, p. 19]) — Stephen se recusa a pa- sa qualquer, “Ulisses é um romance sobre as
gar o preço para obter a sensação de ordem, condições de sua própria produção” (Eagleton,
segurança e proteção, um preço que considera 1986, p. 156).
ser uma desonrosa submissão à ideologia do
opressor.
A atitude radical de Stephen o torna um
digno representante do jovem intelectual mo-
derno, sobrecarregado pela angústia da deses- V
perança mas, ainda assim, lutando para manter
uma posição ideologicamente coerente. Sua
integridade romântica é enternecedora e, de Por mais apaixonada que se apresente a
certa forma, compartilhada pelo próprio Joyce, visão de Stephen sobre os fatos, e por maior que
que leva seus argumentos às últimas conseqü- seja o carinho demonstrado pelo autor para com
ências quando rompe a forma da narrativa para este personagem, não se deve supor, todavia,
representar o rompimento com o conteúdo. que o ponto de vista de Stephen Dedalus possa
Na conferência “Joyce, o Sintoma” 5, Jac- representar a verdade de Ulisses.
ques Lacan nos apresenta um bom exemplo da Stephen aborda a realidade a partir de um
fusão entre forma e conteúdo realizada por Joyce. raciocínio brilhante, porém sujeito a todas as
Ao mesmo tempo, a ilustração se adapta ao pon- falhas que caracterizam a maneira de pensar
to de vista de Stephen sobre a opressão inglesa. ocidental, rígida e redutora. Preso em lingua-
Partindo das constatações de que (a) a pró- gem, Stephen recorta a realidade em fatias, ana-
pria forma física de um romance pode atuar lisando cada circunstância em profundidade,
como uma camisa-de-força, reprimindo a sua porém fora de contexto. Stephen representa o
energia e de que (b) a estrutura básica do in- artista em luta por tudo aquilo em que acredita.
consciente é a mesma que a da linguagem, La- Sabe, de antemão, que a sua tentativa de rom-
can alerta para o fato de que, ao desconstruir a per com a metafísica utilizando os meios que
forma, Joyce desconstrói também a linguagem. ela própria fornece está fadada ao fracasso. Isso,
Mas ele é forçado a utilizar linguagem para des- porém, é irrelevante, pois é a própria impotên-
construir a linguagem, assim como Stephen é cia deste modo de agir ocidental o que ele está
buscando ilustrar.
Mas há também outras formas alternati-
5
Conferência sobre Finnegans wake, proferida por ocasião dos eventos rela- vas de contato com a realidade apresentadas no
tivos ao “Joycentennial”. (Lacan, 1989, p. 126).

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romance, como a de Molly, instintiva e intuiti- umbigo e o liga a todos os ancestrais, além de
va, ou como a de Bloom que parece capaz de ser capaz de remetê-lo aos seres que virão de-
atravessar os limites impostos pela linguagem. pois. Comparando este cordão a um fio telefô-
Se Stephen se desespera por não poder domi- nico, Stephen tenta uma ligação para o número
nar a linguagem, Bloom — como um marinhei- “alfa, alfa, zero, zero, um, na vila do Éden” (Ulis-
ro experiente — deixa-se levar pelo mar das ses, p. 38).
palavras. Ao estabelecerem uma relação que parece
Já Molly, assim como as Sereias, na Odis- transcender os limites do tempo, o encontro
séia, aborda a vida através da música. Quase entre Bloom e Stephen alcança o efeito de equi-
todo o seu pensamento é composto por frag- valência com o reencontro entre Odisseu e Te-
mentos de hinos religiosos, trechos de ópera, lêmaco, o que de forma alguma ocorreria se a
linhas de musicais norte-americanos e canções estratégia de abordagem de Bloom fosse tão di-
e baladas populares.6 reta e racional quanto a de Stephen.
De acordo com Jacques Derrida (1986, pp. Durante todo o trajeto de Bloom, sua men-
83-84), “a música e a mitologia colocam o ho- te é invadida por impressões, cheiros e sensa-
mem frente a frente com objetos em potencial ções que o remetem a cenas de um mundo ori-
dos quais apenas as sombras podem ser perce- ental muito distante, anterior ao tempo da con-
bidos.” Sua mente opera como que em um re- cepção do homem enquanto dividido entre cor-
gistro, aproximando-se do que talvez sejam as po e espírito, quando a harmonia só era encon-
origens do próprio mecanismo da linguagem. trada a partir do equilíbrio entre o prazer dos
O procedimento de Leopold Bloom pare- sentidos (kama), da aquisição de conhecimen-
ce estabelecer um meio-termo entre a racionali- tos e posses (artha) e da realização do trabalho
dade de Stephen e a impulsividade de Molly. (dharma). “Kama, Artha e Dharma devem ser
Enquanto se deixa levar pelo fluir das ruas de procurados em harmonia, sem que um ofusque
Dublin, brincando ocasionalmente com o con- os outros dois. Estão indissoluvelmente liga-
ceito de metempsicose — “É grego. Vem do gre- dos; se praticados da maneira apropriada, cada
go. Quer dizer transmigração das almas”, Ulis- um deve beneficiar os outros dois.” (Vatsyaya-
ses p. 64) — Bloom consegue, inconscientemen- na, s.d., p. 9. A citação apresentada inclui in-
te, realizar façanhas prodigiosas, como o estabe- trodução escrita pelo tradutor e editor da edi-
lecimento de sua ligação com Stephen Dedalus. ção inglesa – Kama Sutra. London Editions,
De certa forma, complementarmente, s.d. - , cujo nome é omitido na edição do Círcu-
Bloom se sente tão desamparado e tão órfão lo do Livro).
quanto Stephen. Além de estar socialmente iso- Resquícios deste equilíbrio há muito per-
lado, por uma série de motivos (é judeu, não se dido parecem estar presentes na figura de Leo-
encontra tão endividado quanto os demais, to- pold Bloom. Ao invés de qualquer conotação
dos sabem que sua espeosa anda tendo um rela- negativa, sua passividade invoca a sabedoria
cionamento extra-conjugal), ele se vê atraiçoa- de quem sabe se deixar flutuar ao sabor dos acon-
do em sua relação com o pai, que cometeu sui- tecimentos que são incontornáveis. Ao contrá-
cídio, e também inoperante em sua função de rio de Stephen — preso em sua racionalidade
pai (o filho morreu enquanto bebê e e a filha — Bloom surge deixando-se narrar, como que
acaba de partir para estudar em outra cidade). imerso em linguagem.
Enquanto Bloom, de dentro de sua amné- Em Matéria e Memória, Henri Bergson
sia, pensa na “transmigração das almas”, Ste- aborda a diferença entre memória-hábito e me-
phen também procura o passado remoto, nos mória-lembrança 7. Apesar da amnésia que o
apresentando o motivo do cordão umbilical caracteriza, enquanto herói da narrativa de Ulis-
como uma linha invisível que parte do seu ses, os movimentos instintivos de Bloom termi-
nam por suprir a deficiência. Daí a vantagem
deste deixar-se fluir sobre a rigidez racional de
6
Ver Thornton, 1985, pp. 485-499. Além de referências a algumas revistas da Stephen.
moda e títulos de literatura barata, as citações que compõem o pensamento
de Molly incluem o hino “Lead, Kindly Light”; Don Giovanni, de Mozart; The
Lilly of Killarney, do irlandês Coppaleen; o Stabat Mater, de Rossini; e a Ave
Maria, de Gounod. 7
Ver matéria sobre “Memória” em Rosental e Iudin 1972, vol. IV.

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* * * Na minha opinião a posição de James
Joyce, enquanto artista, é bastante semelhante à
de Stephen Dedalus. Ambos enfatizam a impor-
Ao longo deste apanhado de considera- tância vital de se buscar uma forma de expres-
ções, procuramos estabelecer dois pontos com são onde haja integridade e coerência para com
relação ao desenvolvimento da narrativa de fic- a complexidade dos fatos. A barreira de vidro
ção do ocidente. O primeiro é que a explicação que separa o mundo real de nossa versão narra-
para a distância enorme que separa a Odisséia tivizada do que seja o mundo real não pode ser
de Ulisses só pode ser encontrada a partir da rompida. Mas esta impossibilidade pode, pelo
análise da trajetória percorrida pelas formas de menos, ser exposta. É o que Stephen, assim como
pensar ligadas à tradição judaico-cristã. O se- Joyce e os grandes modernistas, conseguem fa-
gundo é que, em Ulisses, o tema do retorno está zer, à revelia da sensação de angústia que ad-
ligado a um movimento dialético de rejeição e vém do conhecimento de que não há mais cer-
de busca de uma harmonia perdida. teza alguma que não esteja sujeita a questiona-
Resta ainda, à guisa de conclusão, apre- mentos.
sentarmos os últimos comentários sobre as A grande contribuição de James Joyce vem
questões do retorno e da relação com a figura da maneira como apresenta esta necessidade de
paterna. reavaliação da realidade a partir do tratamento
De acordo com a visão de Stephen, o gran- formal do texto, apontando assim para a indis-
de problema envolvendo a figura paterna - seja sociabilidade dos elementos da forma e do con-
em termos de família, de sociedade ou de reli- teúdo.
gião - é o fato de que a fonte que nos proporcio-
na um forte senso de identidade é a mesma fonte A preocupação de Joyce é mostrar como funciona o
que nos sujeita a uma ideologia determinada. O mecanismo da escrita (...) Isoladas de um contexto
preço a ser pago, que é também o elemento a ser que permitiria a sua leitura (ou seja, onde fossem
avaliado, é o da obediência irrestrita. ignoradas enquanto significado para serem
Leopold Bloom reage de forma diversa, consumidas enquanto significante) , as palavras se
terminando por realizar um movimento de re- transformam em objetos físicos que descansam so-
torno que é, de várias formas, análogo ao de bre a página, resistindo as nossas tentativas de sujeitá-
Odisseu. las a uma significação. (MacCabe, 1981, p. 80)
Ao regressar a Ítaca o herói grego reassu-
me o seu papel de rei, dispondo-se a seguir a A posição de Stephen Dedalus represen-
trajetória tradicional em direção à velhice e à ta o pensamento da vanguarda intelectual de
morte, após as quais deverá ser substituído pelo seu tempo. Corre de forma quase que simultâ-
filho, Telêmaco. nea com a divulgação das idéias de Saussure
O retorno de Bloom ao lar, desta vez acom- sobre significado e significante. Pode também
panhado de Stephen, também fecha um ciclo. ser avaliada à luz das noções de Freud sobre a
Supre-se, em um, a carência do pai e, no outro, interpretação dos sonhos, ou sobre a denega-
a carência do filho. De uma forma bastante ines- ção, quando constata que os fatos podem muito
perada, é Molly quem completa o estabeleci- bem significar o oposto do que aparentam ser.
mento dos laços familiares ao ligar Stephen à Somente a partir de tais contribuições é
lembrança do filho morto (“o vi descendo em que o pensamento do século XX foi capaz de
direção à estação de Kingsbridge acompanha- avançar até uma nova dimensão. Com as idéias
do do pai e da mãe quando eu estava de luto de Derrida sobre a alteridade, por exemplo, con-
então foi há onze anos”) e avaliar a possibilida- cebe-se a possibilidade de que, ao analisarmos
de de seduzi-lo (“acho que ele já tem vinte anos coisas opostas, colocadas lado a lado, além da
ou mais não estou velha demais para ele”, Ulis- tradicional análise das diferenças poderemos
ses, pp. 774-5). Estabelece-se, assim, a paródia também atentar para os aspectos de complemen-
jocosa da relação de competição entre pai e fi- taridade. Assim, um “ou” passa a ser lido en-
lho, que integra a seqüência do movimento na- quanto um “e”. Após três mil anos de progres-
tural da vida. siva compartimentalização do conhecimento,

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esta abertura do leque das possibilidades pare- T. S. Eliot. Lisboa: Guimarães Editores, 1962.
ce bastante promissora. Ela nos conduz, a par- GILBERT, Stuart. James Joyce’s Ulysses: a study.
tir da racionalização proposta por Stephen, ao New York: Vintage, 1958.
equilíbrio evocado por Bloom. JOYCE, James. A portrait of the artist as a young
Desta forma, ao encararmos as trajetórias man. London: Granada, 1981.
simetricamente opostas de Odisseu e Bloom, ou JOYCE, James. The shade of Parnell. In:
de Stephen e Telêmaco, sob a perspectiva ade- MASON, Ellsworth; ELLMANN, Richard
quada, poderemos obter uma concepção mais (eds). The critical writings of James Joyce.
abrangente dos fatores que unem a Odisséia e London: Faber & Faber, 1959.
Ulisses, bem como das infinitas possibilidades JOYCE, James. Ulisses. Rio: Civilização Brasi-
a nossa frente, oferecidas pelo estudo do canto leira, 1980. Tradução de Antônio Houaiss.
das musas, que é a linguagem. JOYCE, James. Ulysses. New York, Random
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