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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS


Processo Nº. : 0115729-03.2016.8.05.0001
Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : BANCO DO BRASIL SA
Recorrido(s) : FABIO ROSA PASTOR
Origem : 2ª VSJE DO CONSUMIDOR (VESPERTINO

Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

VOTO- E M E N T A

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. SERVIÇOS BANCÁRIOS. COBRANÇA


INDEVIDA. MEIO VEXATÓRIO. RENEGOCIAÇÃO DE SALDO DEVEDOR. DESCONTO
DIRETO NA CONTA CORRENTE DO SALDO DEVEDOR DA CONTA CORRENTE DA
PARTE AUTORA. FALHA NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA. RESTITUIÇÃO. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. QUANTUM
ARBITRADO DE ACORDO COM OS PARÂMETROS DA RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. SENTENÇA MANTIDA.

1. Trata-se de recurso inominado interposto contra sentença que julgou


parcialmente procedente os pedidos, nestes termos: “Assim, ante o exposto, JULGO
PARCIALMENTE PROCEDENTE O PEDIDO para:(a) Declarar a abusividade da conduta da
ré;(b) Condenar a requerida a se abster de efetuar cobranças em desconformidade com o contrato
de renegociação de dívida celebrado entre as partes, sob pena de multa diária no valor de R$50,00
(cinquenta reais), em caso de descumprimento;(c) Condenar a ré a restituir ao autor, de forma
simples, a quantia de R$ 1.191,02, com correção monetária a partir do efetivo prejuízo ou evento
(Súmula nº 43 STJ) e juros de mora a partir da citação;(d) Condenar a requerida a compensar o
dano moral sofrido pela parte autora no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), com correção
monetária desde o arbitramento (Súmula nº 362 STJ) e juros de mora desde o evento danoso, ou
seja, julho/2016 (Súmula nº 54 STJ). Fixo como índice de correção monetária o INPC e como
periodicidade de capitalização de juros a mensal, se expressamente pactuado, nos termos da
Súmula 539 do STJ..”

2. A parte recorrente busca a reforma da sentença , aduzindo, em síntese,


que não praticara qualquer ato ilícito, bem como que não fora comprovada a
existência de danos morais na hipótese, pugnando pela improcedência do pedido,
e requerendo ainda, em caráter eventual, a redução do quantum, em virtude de ter
desatendido os parâmetros da razoabilidade e proporcionalidade.

3. A demonstração do fato básico para o acolhimento da pretensão é ônus do


autor, segundo o entendimento do art. 373, inciso I, do NCPC, partindo daí a
análise dos pressupostos da ocorrência de indenização por danos morais, recaindo
sobre o réu o ônus da prova negativa do fato, segundo o inciso II do mesmo artigo
supracitado.

4. Em que pese o quanto alegado pelo réu, não consta dos autos a prova de
fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito da parte autora. A versão autoral,
por seu turno, além de dotado de verossimilhança, está embasado por elementos
de prova que fortalecem a tese apresentada. Com efeito, constam dos autos a
comprovação da celebração de contrato de renegociação do saldo devedor que a
parte autora mantinha junto à ré, bem como demonstrado o desconto direto na
conta corrente da acionante no valor de R$ 1.191,02 ( hum mil cento e noventa e
um reais e dois centavos).

5. Resta patente a ilegalidade no procedimento perpetrado pelo banco réu para


a cobrança da dívida , por dois motivos: primeiro, existia contrato de renegociação
vigente entre as partes, por intermédio do qual fora acertado o pagamento de
parcelas no valor de R$ 189,95 ( cento e oitenta e nove reais e noventa e cinco
centavos); segundo, é vedada a utilização de meios vexatórios para a cobrança de
dívidas, sendo o meio ordinário para tanto o ajuizamento de ação de cobrança.
Assim sendo, o desconto direto do valor relativo ao empréstimo na conta corrente
do consumidor constitui prática abusiva, que já vem sendo rechaçada pela
jurisprudência, merecendo portanto a justa reprimenda do poder judiciário.
6. Patente a falha na prestação dos serviços, consistente na demora para
atendimento ao pleito de restituição pelos valores pagos, o que ultrapassa o campo
do mero aborrecimento, para adentrar na seara do ilícito.
7. Presentes, ademais, os requisitos caracterizadores da responsabilidade
objetiva O art. 14 do CDC, dispondo sobre a responsabilização do fornecedor pelo
fato do produto ou serviço, preleciona que: “Art. 14. O fornecedor de serviços
responde, independentemente da existência de culpa pela reparação dos danos causados
aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.”

8. O conjunto probatório demonstrou cabalmente a ocorrência do dano moral


que muito mais que aborrecimento e contratempo, resultou em situação que por
certo lhe trouxe intranqüilidade e sofrimento, máxime levando em conta que a falha
na prestação dos serviços na hipótese presente atingiu verba alimentar e
representou significativa restrição orçamentária da renda da parte autora, o que
possui o condão de violar direitos da personalidade.
9. O valor da indenização fixado pelo juiz sentenciante, a título de danos morais,
guarda compatibilidade com o comportamento do recorrente e com a repercussão
do fato na esfera pessoal da vítima e, ainda, está em harmonia com os princípios
da razoabilidade e proporcionalidade, devendo ser mantida.
10. ISTO POSTO, voto no sentido de CONHECER DO RECURSO
INTERPOSTO E NEGO-LHE PROVIMENTO, para manter a sentença
objurgada pelos próprios fundamentos. Sem custas processuais e honorários
advocatícios, por ser a parte beneficiária da justiça gratuita.

Salvador, Sala das Sessões, 13 de Abril de 2017.


BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
Juíza Relatora
BELA CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ
Juíza Presidente
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Processo Nº. : 0115729-03.2016.8.05.0001


Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : BANCO DO BRASIL SA

Recorrido(s) : FABIO ROSA PASTOR

Origem : 2ª VSJE DO CONSUMIDOR (VESPERTINO

Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

ACÓRDÃO
Acordam as Senhoras Juízas da 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, CÉLIA MARIA
CARDOZO DOS REIS QUEIROZ –Presidente, MARIA AUXILIADORA SOBRAL
LEITE – Relatora e ALBÊNIO LIMA DA SILVA HONÓRIO, em proferir a seguinte
decisão: RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO . UNÂNIME, de acordo com a ata
do julgamento. Sem custas processuais e honorários advocatícios por ser a parte
beneficiária da justiça gratuita.

Salvador, Sala das Sessões, 13 de Abril de 2017.


BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
Juíza Relatora
BELA CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ
Juíza Presidente

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