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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ________ VARA CÍVEL, DA

COMARCA DE BLUMENAU (SC).

xxxxxxx, brasileiro(a), casado(a), aposentado(a), Carteira de Identidade n° 1.113.757-


6/SC e CPF nº 083.610.109-04, residente e domiciliado(a) na Rua Amazonas, 1.118, Apto 417 –
Garcia, CEP 89.020-000, Blumenau (SC), vem à presença de Vossa Excelência, por seus
procuradores, propor:

MEDIDA CAUTELAR DE PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVA,

como medida preparatória, nos termos do artigo 846 e ss. do Código de Processo civil e
pelas razões que a seguir expõe:

1. DOS FATOS

O(a) Autor(a) são pais e companheira de Rafael Cristian Benvenho, falecido em 04 de


abril de 2005, às 13:55 horas, na Rodovia BR-470, Km 90,2 em Ascurra-SC, cuja morte decorreu de
“trauma crânio encefálico, politraumatismo, emergia ordem mecânica”, causado em de acidente
de veículo.

O acidente ocorreu no dia 04 de abril de 2005, no município de Ascurra-SC, quando a


vítima, filho e companheiro do(a) Autor(a), que era empregado da empresa Ré e estava a serviço
desta, se dirigia à cidade de Apiúna, para prestar assistência técnica em sistema de informática, por
aquela desenvolvido.

A vítima conduzia o veículo marca VW, modelo GOL CL, ano 1990, cor azul, placa LZR
4665, chassi n° 9BWZZZ30ZLT034384, de propriedade da empresa Ré, que atualmente se encontra

estacionado no pátio da Aldo Oficina Mecânica Ltda., situada na Rua Pernambuco,


21, Itoupava Seca, nesta cidade de Blumenau-SC , aguardando reparos.

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De início, resta demonstrado que se trata de acidente de trabalho, conforme definição
legal, art. 19 da Lei nº 8.213/91 a qual preceitua que “acidente do trabalho é o que ocorre pelo
exercício do trabalho a serviço da empresa, .....provocando lesão corporal ou perturbação
funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade
para o trabalho.”

Nos termos do art. 21 da mesma Lei de Benefícios da Previdência Social, equiparam-se


também ao acidente do trabalho:

“(...)
IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho:
a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa;
b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo
ou proporcionar proveito;
c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por
esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra,
independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de
propriedade do segurado;
d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela,
qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do
segurado.”

Com efeito, tendo em vista que a vitima se encontrava a serviço e em veículo da própria
empresa, não pedem restar dúvidas de que se trata de acidente do trabalho.

Todavia, existem fortes indícios de que não se trata de mera fatalidade ou acaso. Pelas
causas do acidente descrita no Boletim de Acidente de Trânsito n° 8/4101157 e depoimento do
condutor do veículo n° 02, colhido pelos agentes da Polícia Rodoviária Federal, tudo indicada que o
acidente ocorreu por negligência na manutenção do veículo, sem qualquer culpa da vitima no evento.

Relatou o Sr. José Fridolino Beza que: “o veículo 01 seguia em frente e em sua mão
de direção quando perdeu o controle, invadiu a pista contrária colidindo frontalmente com o
veículo 02 que seguia em sentido contrário.”

Na mesma folha do Boletim de Acidente os agentes rodoviários informam qual seria a


possível causa do acidente: “Pneu dianteiro esquerdo do veículo 01 encontrava-se bastante
danificado e com aro amassado em todo o seu perímetro indicando possível estouro de pneu
antes da colisão.”

Por outro lado, tratava-se de um veículo já com 14 (quatorze) anos de uso, que por si só
já não garante a adequada e desejada segurança, pela deterioração natural causa pelo tempo de

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uso.

Assim, somente pelo depoimento colhido do condutor veículo n° 02, pela descrição do
estado do pneu feito pelos agentes da Polícia Rodoviária, além do avançado estado de uso veículo
sinistrado, já fica caracterizado que a verdadeira causa do acidente foi a falta de manutenção.

Pode-se ver que houve uma seqüência de eventos que culminaram na fatalidade, porém
todos os eventos relatados indicam a falta de manutenção, excluindo a mera fatalidade e a culpa
exclusiva da vítima.

Contudo, o que reforça a tese da falta de manutenção são os testemunhos de outros


funcionários da empresa ré, que como a vítima se recusava em trabalhar com dito veículo, justamente
alegando a precária manutenção, que não dava a mínima segurança aos seus ocupantes, que de fato
foi comprovado, infelizmente com a morte de uma pessoa inocente.

Entretanto, muitas vezes, mesmo assim, para manter os seus empregos, tinham que
sujeitar a trabalhar com um veículo em péssimo estado de conservação, mesmo correndo risco de
vida. Foi o que ocorreu com vítima, companheiro e filho do(a) Autor(a), teve que aceitar trabalhar com
o veículo sem a manutenção adequada.

Patente está que não foi mero acidente, foi a negligência na manutenção do veículo, em
total descumprimento das obrigações do empregador com a segurança de seus empregados que
provocou o acidente e vitimou o filho dos Autores.

Configura-se assim, a culpa exclusiva da Ré, pois agiu com imprudência e negligência no
que tange a segurança dos seus funcionários, causando a morte do companheiro filho do(a) Autor(a).
E isto representa um agir com culpa, à causa da qual nasce a obrigação do mesmo em reparar os
danos ocasionados. É dos princípios de nosso Direito. Ninguém pode causar prejuízo a outrem, sem
que fique obrigado a reparar o dano causado (art. 186, do Código Civil).

Assim, deverá ser condenado a indenizar o(a) Autor(a) pelos gastos que teve, e que
deverão ser ressarcidos, todos em decorrência do sinistro ocorrido.

Além dos danos materiais, os Autores sofreram danos de ordem moral, com a perda do
ente querido, que jamais poderá ser substituído, trazendo um grande abalo que até nos dias atuais
ainda tem reflexos no cotidiano dos Autores e de sua família, causando angustias e sofrimentos,
inclusive depressão.

2. DO DIREITO

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2.1. DOS FUNDAMENTOS DA RESPONSABILIDADE

A culpa da empresa Ré caracterizou-se pela inobservância das normas de Segurança do


Trabalho:

O artigo 7.º, XXII, estabelece que são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além
de outros que visem à melhoria de sua condição social, verbis:

XXII - redução dos riscos iminentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,
higiene e segurança” Grifamos

Por seu turno, regulando a matéria no plano infraconstitucional a Lei nº 6.514/77, e


Portaria nº 3.214/78, NR-1, item 1.7, também impõem ao empregador a responsabilidade pelas
políticas que visam à segurança do trabalhador, decorrendo a responsabilidade pela sua
inobservância:

“1.7. Cabe ao empregador:


a) cumprir e fazer cumprir as disposições legais e regulamentares sobre segurança
e medicina do trabalho; (101.001-8 / I1)
b) elaborar ordens de serviço sobre segurança e medicina do trabalho, dando
ciência aos empregados, com os seguintes objetivos: (101.002-6 / I1)
I - prevenir atos inseguros no desempenho do trabalho;
II - divulgar as obrigações e proibições que os empregados devam conhecer e
cumprir;
III - dar conhecimento aos empregados de que serão passíveis de punição, pelo
descumprimento das ordens de serviço expedidas;
IV - determinar os procedimentos que deverão ser adotados em caso de acidente
do trabalho e doenças profissionais ou do trabalho;
V - adotar medidas determinadas pelo MTb;
VI - adotar medidas para eliminar ou neutralizar a insalubridade e as condições
inseguras de trabalho.
c) informar aos trabalhadores: (101.003-4 / I1)
I - os riscos profissionais que possam originar-se nos locais de trabalho;
II - os meios para prevenir e limitar tais riscos e as medidas adotadas pela
empresa;
III - os resultados dos exames médicos e de exames complementares de
diagnóstico aos quais os próprios trabalhadores forem submetidos;
IV - os resultados das avaliações ambientais realizadas nos locais de trabalho.”

Dispõe o artigo 19 da Lei nº 8.213/91 acerca do acidente do trabalho, igualmente

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impondo ao empregador a responsabilidade pela adoção de medidas coletiva e individual que visam à
proteção e prevenção de acidentes do trabalho:

“Artigo 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço
da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do
Art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a
morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o
trabalho.
§ 1º A empresa é responsável pela adoção e uso das medidas coletivas e
individuais de proteção e segurança da saúde do trabalhador.
§ 2º Constitui contravenção penal, punível com multa, deixar a empresa de cumprir
as normas de segurança e higiene do trabalho.
§ 3º É dever da empresa prestar informações pormenorizadas sobre os riscos da
operação a executar e do produto a manipular.”

Afigura-se no caso a responsabilidade do empregador, diante da insuficiência das


medidas de segurança adotadas para a salvaguarda a segurança de seus funcionários, exigidas por
imposição legal.

De igual forma, o Contrato de Trabalho contém implicitamente cláusula assecuratória das


condições de segurança e saúde do trabalhador, de modo que sua inexistência caracteriza
inadimplemento da obrigação contratual ensejadora da Ação Reparatória.

Nessas circunstâncias, o infortúnio laboral ocorreu não pelo risco da atividade para a qual
a vitima foi contratada, mas por inexecução de uma obrigação que compete ao empregador,
caracterizando um ato ilícito de natureza contratual da empresa empregadora.

Neste sentido a Constituição Federal, art. 7°, XXVIII, impõe ao empregador a obrigação
de indenizar, quando este incorrer em dolo ou culpa no acidente de trabalho:

“XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir


a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;”

A obrigação de indenizar também está consagrada nos artigos 186 e 927do Código Civil
Pátrio, in verbis:

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.”

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“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Parágrafo único - Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos
de outrem.”

Diante dos fatos narrados nesta peça pode-se constatar que o empregador descumpriu
imposições legais sobre normas de medicina e segurança do trabalho, revelando-se evidentemente
negligente, colocando os seus empregados em sérios riscos de sofrer um grave acidente, como no
caso ocorreu.

3. PERICULUM IN MORA E FUMUS BONI IURIS

Em razão dos fatos acima narrados, pretendem os Autores propor AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS EM DECORRÊNCIA DE MORTE EM
ACIDENTE DE TRÂNSITO / ACIDENTE DE TRABALHO, contra CETIL SISTEMAS DE
INFORMÁTICA S/A., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob n.º 83.844.522/0017-64,
com endereço na Rua João Pessoa, 228, Velha, CEP: 89.036-000, em Blumenau-SC, no prazo de lei.

Os Autores provarão os fatos através de provas testemunhais, das provas materiais que
pretende produzir, além da fundamental prova pericial.

Sucede, contudo, que a referida prova pericial deverá ser realizada no veículo sinistrado,

que atualmente se encontra estacionado no pátio da Aldo Oficina Mecânica Ltda., situada
na Rua Pernambuco, 21, Itoupava Seca, nesta cidade de Blumenau-SC , pois o(a)
Autor(a), como receiam de que as provas já não existam, quando do tempo da sua produção na ação
cível que se seguirá, correndo o risco de seja alterado, dilapidado ou deteriorado, fazendo
desaparecer os vestígios que indicariam as verdadeiras causas do acidente, que geraram os danos
requeridos pelo(a) Autor(a).

Dessa forma, se faz urgente a realização perícia técnica a ser procedida por perito
indicado pelo Juízo, a fim de comprovar os fatos alegados, cujos quesitos da parte autora seguem ao
final.

A pretensão do(a) Autor(a) encontra fundamento legal nos artigos 846, 847 e seguintes
do Código Instrumental Pátrio, o qual viabiliza a produção antecipada de prova, nos seguintes termos:

"Art. 846. A produção antecipada da prova pode consistir em interrogatório da


parte, inquirição de testemunhas e exame pericial.

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Art. 847. Far-se-á o interrogatório da parte ou a inquirição das testemunhas antes
da propositura da ação, ou na pendência desta, mas antes da audiência de
instrução:
I - se tiver de ausentar-se;
II - se, por motivo de idade ou de moléstia grave, houver justo receio de que ao
tempo da prova já não exista, ou esteja impossibilitada de depor."

Desse modo, resta ao(à) Autor(a) produzir antecipadamente a prova pericial, com fito
único de viabilizar a veracidade dos fatos que iram alegar na ação principal de INDENIZAÇÃO POR
DANOS MATERIAIS E MORAIS EM DECORRÊNCIA DE MORTE EM ACIDENTE DE TRÂNSITO /
ACIDENTE DE TRABALHO.

Pelo exposto, REQUER, nos termos dos artigos 846 e seguintes do CPC, a realização
de perícia técnica, na forma prevista nos artigos 420 a 439 do mesmo diploma, bem como a citação
da Ré, na pessoa de seu representante legal, para, querendo, acompanhar o exame, indicando
assistente técnico e apresentando quesitos, determinando ainda:

a) a data e horário para a realização da perícia, requerendo seja facultado a indicação de


assistente técnico e elaboração de quesitos pelo(a) Autor(a), bem como a sua intimação;

b) a condenação da Ré no pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios


na base de 20% do valor da condenação, deferindo tal verba honorária aos advogados da parte
autora, conforme previsão no contrato de honorários anexo;

c) o benefício da justiça gratuita, nos termos da Lei 1.060/50 e 7.510/86, por não possuir
condições de custear as despesas processuais sem prejuízo de seu próprio sustento e de seus
familiares (docs. anexos).

d) Requer como medida de URGÊNCIA notificação dos responsáveis pela Aldo


Oficina Mecânica Ltda., situada na Rua Pernambuco, 21, Itoupava Seca, nesta
cidade de Blumenau-SC, que não modifiquem, alterem, removam o veículo marca VW, modelo
GOL CL, ano 1990, cor azul, placa LZR 4665, chassi n° 9BWZZZ30ZLT034384, ou permitam que
outros façam, sem autorização judicial, sob pena de responsabilidade e multa pelo descumprimento,
até que seja realizada a prova pericial ora requerida.

Dá à causa o valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais).

Termos em que,
Pede Deferimento.

Blumenau, 12 de maio de 2006.

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OLÍMPIO DOGNINI IVAN HOLTRUP
OAB/SC n 11.301 OAB/SC n 11.304

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