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INSTITUTO SUPERIOR MUTASA

DELEGAÇÃO DE MAPUTO
CURSO DE LICENCIATURA EM CONTABILIDADE E AUDITORIA

DIREITO DO TRABALHO E SEGURANÇA SOCIAL:


GUIA DE ESTUDO V:
HIGIENE E SEGURANÇA NO TRABALHO (ACIDENTES DE TRABALHO E
DOENÇAS PROFISSIONAIS; SEGURANÇA SOCIAL)
Elaborado por Manuel Uache Bembele
Celulares: 824553390 / 845315428
E-mailes: manuelbembele@yahoo.com.br / mbembele2008@gmail.com
Maputo, Setembro de 2022

I. HIGIENE E SEGURANÇA NO TRABALHO:ACIDENTES DE


TRABALHO, DOENÇAS PROFISSIONAIS,
1. Princípios gerais de higiene e segurança no trabalho
O empregador e o trabalhador têm deveres sobre a higiene e segurança no trabalho. O
trabalhador tem direitos atinentes a higiene e segurança no Trabalho.
O artigo 216 da LT preceitua que “1. Todos os trabalhadores têm direito à prestação
de trabalho em condições de higiene e segurança, incumbindo ao empregador a
criação e desenvolvimento de meios adequados à protecção da sua integridade física e
mental e à constante melhoria das condições de trabalho. […] 2. O empregador deve
proporcionar aos seus trabalhadores boas condições físicas, ambientais e morais de
trabalho, informá-los sobre os riscos do seu posto de trabalho e instruí-los sobre o
adequado cumprimento das regras de higiene e segurança no trabalho. […] 3. Os
trabalhadores devem velar pela sua própria segurança e saúde e a de outras pessoas
que se podem ver afectadas pelos seus actos e omissões no trabalho, assim como
devem colaborar com o seu empregador em matéria de higiene e segurança no
trabalho, quer individualmente, quer através da comissão de segurança no trabalho ou
de outras estruturas adequadas. […] 4. O empregador deve adoptar todas as
precauções adequadas para garantir que todos os postos de trabalho assim como os
seus acessos e saídas sejam seguros e estejam isentos de riscos para a segurança e
saúde dos trabalhadores. […] 5. Sempre que necessário, o empregador deve fornecer
equipamentos de protecção e roupas de trabalho apropriados com vista a prevenir os
riscos de acidentes ou efeitos prejudiciais à saúde dos trabalhadores. […] 6. O
empregador e os trabalhadores são obrigados a cumprir pontual e rigorosamente as
normas legais e regulamentares, bem como as directivas e instruções das entidades
competentes em matéria de higiene e segurança no trabalho. […] 7. Dentro dos limites
da lei, as empresas podem estabelecer políticas de prevenção e combate ao HIV/SIDA

1
e outras doenças endémicas, no local de trabalho, devendo respeitar, entre outros, o
princípio do consentimento”.
Nos termos do disposto no artigo 217 da LT “1. Todas as empresas que apresentem
riscos excepcionais de acidentes ou doenças profissionais, são obrigadas a criar
comissões de segurança no trabalho. […] 2. As comissões de segurança no trabalho
devem integrar representantes dos trabalhadores e do empregador e têm por objectivo
vigiar o cumprimento das normas de higiene e segurança no trabalho, investigar as
causas dos acidentes e, em colaboração com os serviços técnicos da empresa,
organizar os métodos de prevenção e assegurar a higiene no local de trabalho”.
Dispõe o artigo 218 da LT que “1. As normas gerais de higiene e segurança no
trabalho constam de legislação específica, podendo para cada sector de actividade
económica ou social serem estabelecidos regimes especiais através de diplomas
emitidos pelos ministros que superintendem as áreas do trabalho, da saúde e do sector
em causa, ouvidas as associações sindicais e de empregadores representativos. […] 2.
As associações empresariais e as organizações sindicais devem, na medida do
possível, estabelecer códigos de boa conduta relativamente às matérias de higiene e
segurança no trabalho da respectiva área de trabalho. […]3. À Inspecção do Trabalho
compete zelar pelo cumprimento das normas de higiene e segurança no trabalho,
podendo requerera colaboração de outros organismos governamentais competentes,
sempre que o entenda necessário”.
Sobre a Prevenção de acidentes de trabalho e doenças profissionais, o artigo 226 da
LT preceitua que “1. O empregador é obrigado a adoptar medidas eficazes de
prevenção de acidentes de trabalho e doenças profissionais e a investigar as
respectivas causas e formas de as superar, em estreita colaboração com as comissões
de segurança no trabalho constituídas na empresa. […] 2. O empregador, em
colaboração com os sindicatos, deve informar ao órgão competente da administração
do trabalho sobre a natureza dos acidentes de trabalho ou doenças profissionais, suas
causas e consequências, logo após a realização de inquéritos e registo dos mesmos”.
O artigo 277 da LT estabelece que “1. A ocorrência de qualquer acidente de trabalho
ou doença profissional, bem como as suas consequências, deve ser participada ao
empregador pelo trabalhador ou interposta pessoa. […] 2. As instituições sanitárias
são obrigadas a participar aos tribunais do trabalho o falecimento de qualquer
trabalhador sinistrado e, da mesma forma, participar à pessoa ao cuidado de quem ele
estiver”.
O artigo 228 da LT preceitua que “1. Em caso de acidente de trabalho ou doença
profissional, o empregador deve prestar ao trabalhador sinistrado ou doente os
primeiros socorros e fornecer-lhe transporte para um centro médico ou hospitalar onde
possa ser tratado. […] 2. O trabalhador sinistrado tem direito à assistência médica e
medicamentosa e outros cuidados necessários, bem como ao fornecimento e
renovação normal dos aparelhos de prótese e ortopedia, de acordo com a natureza da
lesão sofrida, por contado empregador ou instituições de seguros contra acidentes ou
doenças profissionais. […] 3. Se o trabalhador sinistrado tiver de ser transportado
dentro do país para um estabelecimento distante do seu local de residência, tem
direito, por conta do empregador, a fazer-se acompanhar de um membro da sua
família ou de alguém que lhe preste assistência directa. […] 4. A fim de acorrer às
necessidades imprevistas, por virtude do seu estado, o trabalhador sinistrado pode, a

2
seu pedido, beneficiar de um adiantamento do valor correspondente a um mês de
indemnização ou pensão. […] 5. O empregador suporta os encargos resultantes do
funeral do trabalhador sinistrado”.

2. Noção de acidente de trabalho


A higiene e segurança no trabalho tem dignidade constitucional. Nos termos do
preceituado no nº 2 do artigo 85 da CRM “O trabalhador tem direito à protecção,
segurança e higiene no trabalho”.

Nos termos do preceituado no artigo 222 da LT “1. Acidente de trabalho é o


sinistro que se verifica, no local e durante o tempo do trabalho, desde que produza,
directa ou indirectamente, no trabalhador subordinado lesão corporal, perturbação
funcional ou doença de que resulte a morte ou redução na capacidade de trabalho
ou de ganho. […] 2. Considera-se ainda acidente de trabalho o que ocorra: […] a)
na ida ou regresso do local de trabalho, quando utilizado meio de transporte
fornecido pelo empregador, ou quando o acidente seja consequência de particular
perigo do percurso normal ou de outras circunstâncias que tenham agravado o
risco do mesmo percurso; […] b) antes ou depois da prestação do trabalho, desde
que directamente relacionado com a preparação ou termo dessa prestação; […] c)
por ocasião da prestação do trabalho fora do local e tempo do trabalho normal, se
verificar enquanto o trabalhador executa ordens ou realiza serviços sob direcção e
autoridade do empregador; […] d) na execução de serviços, ainda que não
profissionais, fora do local e tempo de trabalho, prestados espontaneamente pelo
trabalhador ao empregador deque possa resultar proveito económico para este. […]
3. Se a lesão resultante do acidente de trabalho ou doença profissional não for
reconhecida imediatamente, compete à vítima ou aos beneficiários legais provar
que foi consequência dele”.
Com a mesma redacção, ver também artigo 9 do Regime Jurídico de Acidentes de
Trabalho e Doenças Profissionais, aprovado pelo Decreto 62/2013, de 4 de
Dezembro.

3. Descaracterização de acidente de trabalho


O artigo 223 da LT determina que “1. O empregador não está obrigado a indemnizar o
acidente que: […] a) for intencionalmente provocado pelo próprio sinistrado; […] b)
resultar de negligência indesculpável do sinistrado, por acto ou omissão de ordens
expressas, recebidas de pessoas a quem estiver profissionalmente subordinado; dos
actos da vítima que diminuam as condições de segurança estabelecidas pelo
empregador ou exigidas pela natureza particular do trabalho; […]c) for consequência
de ofensas corporais voluntárias, excepto se estas tiverem relação imediata com outro
acidente ou a vítima as tiver sofrido devido à natureza das funções que desempenhe;
[…] d) advier da privação do uso da razão do sinistrado, permanente ou ocasional,
excepto se a privação derivar da própria prestação do trabalho ou, se o empregador,
conhecendo o estado do sinistrado consentir na prestação; […] e) provier de caso de
força maior, salvo se constituir risco normal da profissão ou se produzir-se durante a
execução de serviço expressamente ordenado pelo empregador, em condições de
perigo manifesto. […]2. Para efeitos desta subsecção, entende-se por caso de força

3
maior o que, sendo devido a forças inevitáveis da natureza, independentes de
intervenção humana, não constitua risco normal da profissão nem se produza ao
executar serviço expressamente ordenado pelo empregador em condições de perigo
evidente”.
Com a mesma redacção, ver também artigo 11 do Regime Jurídico de Acidentes de
Trabalho e Doenças Profissionais, aprovado pelo Decreto 62/2013, de 4 de Dezembro

4. Saúde dos trabalhadores


Nos termos do disposto no artigo 219 da LT “1. As grandes empresas são obrigadas a
providenciar, directamente ou por terceiro contratado para o efeito, um serviço para
prestar os primeiros socorros, em caso de acidente, doença súbita, intoxicação ou
indisposição. […] 2. O disposto no número anterior é igualmente aplicável às
empresas que tenham ao seu serviço um efectivo de trabalhadores inferior e cujas
actividades sejam penosas, insalubres ou envolvam um alto grau de periculosidade a
que os trabalhadores estejam permanentemente expostos”.
O artigo 220 da LT preceitua que “ Sem prejuízo do disposto no n.º 2 do artigo
anterior, é
permitida a associação de diversas empresas para instalar e manter em funcionamento
uma unidade sanitária privativa, desde que o número de trabalhadores não exceda a
capacidade instalada e esteja em local adequado para facilmente servir os seus fins”.
Nos termos do preceituado no artigo 221 da LT “1. Os médicos responsáveis ou
aqueles que os substituam, nas empresas dotadas de unidades sanitárias privativas,
devem realizar exames regulares aos trabalhadores da empresa, a fim de verificarem:
[…] a) se os trabalhadores têm as necessárias condições de saúde e robustez física
para o serviço estipulado no contrato; […]b) se algum trabalhador é portador de
doença infectocontagiosa que possa pôr em perigo a saúde dos restantes trabalhadores
da mesma empresa; […] c) se algum trabalhador é portador de doença mental que
desaconselhe o seu emprego no serviço ajustado. […] 2. As regras relativas a exames
médicos dos trabalhadores ao serviço e os respectivos registos são definidos em
diploma conjunto dos ministros que superintendem a área de trabalho e da saúde”

5. Noção de doença profissional


O artigo 224 da LT dispõe que “1. Para efeitos da presente Lei, considera-se doença
profissional toda a situação clínica que surge localizada ou generalizada no
organismo, de natureza tóxica ou biológica, que resulte de actividade profissional e
directamente relacionada com ela. […]2. São consideradas doenças profissionais,
nomeadamente, as resultantes de: […] a) intoxicação de chumbo, suas ligas ou
compostos, com consequências directas dessa intoxicação; […] b) intoxicação pelo
mercúrio, suas amálgamas ou compostos, com as consequências directas dessa
intoxicação; […] c) intoxicação pela acção de pesticidas, herbicidas, corantes e
dissolventes nocivos; […]d) intoxicação pela acção das poeiras, gases e vapores
industriais, sendo como tais considerados, os gases de combustão interna das
máquinas frigoríficas; […] e) exposição de fibras ou poeiras de amianto no ar ou
poeiras de produtos contendo amianto; […] f) intoxicação pela acção dos raios X ou
substâncias radioactivas; […] g) infecções carbunculosas; […] h) dermatoses
profissionais. […] 3. A lista de situações susceptíveis de originar doenças

4
profissionais constantes do número anterior é actualizada por diploma do Ministro da
Saúde. […] 4. As indústrias ou profissões susceptíveis de provocar doenças
profissionais constam de regulamentação específica”.
Nos mesmos termos, ver também artigo 20 do Regime Jurídico de Acidentes de
Trabalho e Doenças Profissionais.
Nos termos do preceituado no artigo 229 da LT “1. Todo o trabalhador por conta de
outrem tem direito à reparação, em caso de acidente de trabalho ou doença
profissional, salvo quando resulte de embriaguez, de estado de drogado ou de
intoxicação voluntária da vítima. […] 2. O direito à reparação, por virtude de acidente
de trabalho ou doença profissional, pressupõe um esforço do empregador para ocupar
o trabalhador sinistrado num posto de trabalho compatível com a sua capacidade
residual. […] 3. Na impossibilidade de enquadrar o trabalhador nos termos descritos
no número anterior, o empregador pode rescindir o contrato devendo neste caso
indemnizar o trabalhador nos termos do artigo 128 da presente Lei. […] 4. A
predisposição patológica do sinistrado, a regular em legislação específica, não exclui o
direito à reparação, se for conhecida do empregador”.

6. Responsabilidade civil por acidentes de trabalho e doenças


profissionais
Antigamente vigorou a ideia da responsabilidade civil, por conseguinte, fundada na
culpa do empregador. Esta ideia deixava sem indeminização muitos acidentes de
trabalho porque nem sempre se conseguia provar a culpa do empregador. Em alguns
casos a prova testemunhal do trabalhador através de colegas estava comprometida
pois estes tinham medo de dizer, por exemplo, que o empregador tem culpa. Mais
tarde consagrou-se a responsabilidade contratual, nos termos do qual o empregador,
através do contrato, se comprometia a garantir deveres de segurança para com o
trabalhador. Posteriormente, adoptou-se a responsabilidade civil extra-contratual.
Aqui ficavam de fora os acidentes por causos fortuitos. Foi por isso que se adoptou a
responsabilidade objectiva patronal que não depende de dolo (querer causar o mal) ou
culpa em que responsabiliza o empregador. A responsabilidade objectiva patronal
desdobrava-se em risco profissional (o empregador que exerce uma actividade
lucrativa perigosa deve suportar todos os riscos) e em risco de autoridade (o
empregador assume o risco em virtude de o trabalhador estar na dependência dele). Na
actualidade, o que interessa é reparar o dano e não encontrar o culapado pelo
infortúnio, por isso transfere-se a responsabilidade para toda a colectividade através da
Segurança Social1.
A inscrição de trabalhadores no Sistema de Segurança Social tem sido obrigatória para
empregador com certo número de trabalhadores.
Os empregadores, regra geral, transferem o risco para as seguradoras. Esta
transferência visa, por um lado, garantir o pagamento de pensões aos sinistrados e, por
outro lado, defender o património do empregador2. No nosso País temos previsto no

1
Ver BERNARDO DA GAMA LOBO XAVIER Acidente de Trabalho in Polis: Enciclopédia Verbo da
Sociedade e Do Estado: Antropologia, Direito, Economia, Ciência Política. Volume 1. 2ªedicao, colunas 83 e
84; MÓNICA FILIPE NHANE WATY, Direito do Trabalho, págs. 114 a 119
2
Ver BERNARDO DA GAMA LOBO XAVIER Acidente de Trabalho in Polis: Enciclopédia Verbo da
Sociedade e Do Estado: Antropologia, Direito, Economia, Ciência Política. Volume 1. 2ªedicao, coluna 84

5
artigo 231 da LT o seguro para cobertura dos acidentes de trabalho e doenças
profissionais.
Portanto, em conclusão, a responsabilidade civil por acidente de trabalho e ou doença
profissional recai sobre o empregador, que em muitos casos, transferiu para uma
seguradora. Não há responsabilidade civil sobre o empregador em caso de
descaracterização do acidente de trabalho ou doença profissional em que a culpa desse
acidente ou doença é do trabalhador.

7. Indemnização
O artigo 233 da LT preceitua que “1. Quando o acidente de trabalho ou doença
profissional ocasionar incapacidade de trabalho, o trabalhador tem direito a: […] a)
uma pensão no caso de incapacidade permanente absoluta ou parcial; […] b) uma
indemnização no caso de incapacidade temporária absoluta ou parcial. […] 2. É
concedido um suplemento de indemnização às vítimas de acidente de trabalho ou
doença profissional de que resulte incapacidade e que necessitem da assistência
constante de outra pessoa. […] 3. Se do acidente de trabalho ou doença profissional
resultara morte do trabalhador, há lugar à pensão de sobrevivência. […] 4. Nos casos
de incapacidade permanente absoluta, a pensão paga ao trabalhador sinistrado não
deve nunca ser inferior à pensão de reforma a que teria direito por limite de idade.
[…] 5. O regime jurídico de pensões e indemnizações é regulado nos termos da
legislação específica”.
A legislação especial referida no nº 5 da LT é Regime Jurídico de Acidentes de
Trabalho e Doenças Profissionais, aprovado pelo Decreto 62/2013, de 4 de Dezembro,
que versa sobre indemnização no seu artigo 53.

8. Nexo de causalidade entre o facto gerador do acidente e o dano


Para haver responsabilidade deve haver um nexo (ligação) entre o facto gerador do
acidente e o respectivo dano. A ligação entre o facto gerador do acidente entre o
espaço, tempo e local do sinistro. O que causa o acidente tem de estar ligado à
actividade laboral, a ordens ou consentimento do empregador. O facto deve causar
lesões corporais, perturbação funcional ou doença que cause a redução da capacidade
para o trabalho ou ganho ou cause a morte do trabalhador3.
Fazendo uma análise minuciosa do artigo 222 da LT e artigo 9 do Regime Jurídico de
Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais constata-se que há uma extensão do
espaço, tempo e local do sinistro para efeitos de consideração de acidente de trabalho.
Também deve ficar claro que o acidente de trabalho ou doença profissional deve
afectar a integridade física, mental do trabalhador ou lhe causar doença. Portanto, se o
trabalhador sofrer roubo no local de trabalho ou a caminho ou regresso do trabalho
não estamos perante acidente de trabalho pois não afecta, de per si, a sua integridade
física, mental do trabalhador ou lhe causar doença.

9. Seguro

3
MÓNICA FILIPE NHANE WATY, Direito do Trabalho, págs. 120 a 124

6
O artigo 231 da LT preceitua que “O empregador deve possuir um seguro colectivo
dos seus trabalhadores, para cobertura dos respectivos acidentes de trabalho e doenças
profissionais ”.
Nos termos do disposto no artigo 232 da LT “Para as actividades cujas características
representem particular risco profissional, as empresas devem possuir um seguro
colectivo específico para os trabalhadores expostos a esse risco ”.
Nos termos do preceituado no artigo 7 do Regime Jurídico de Acidentes de Trabalho e
Doenças Profissionais, aprovado pelo Decreto nº 62/2013, de 04 de Dezembro, “1. Os
empregadores são obrigados a transferir a responsabilidade para a cobertura dos
respectivos acidentes de trabalho e doenças profissionais para entidades seguradoras
legalmente autorizadas na República de Moçambique. […] 2. As entidades
empregadoras podem celebrar seguros complementares mais favoráveis. […] 3. Na
data da admissão ao trabalho, o empregador deve possuir um seguro colectivo que
abrange o trabalhador, para cobertura dos respectivos acidentes de trabalho e doenças
profissionais. […]4. Verificando-se alguma das situações referidas no artigo 57 deste
regulamento, a responsabilidade nele prevista recai sobre o empregador, sendo a
entidade seguradora apenas subsidiariamente responsável pelas prestações normais.
[…] 5. Quando a remuneração declarada para efeito do prémio de seguro for inferior à
real, a entidade seguradora só é responsável em relação àquela remuneração, sendo
que o empregador responde, neste caso, pela diferença e pelas despesas efectuadas
com a assistência médica, medicamentosa e transporte, na respectiva proporção. […]
6. A declaração de remunerações inferiores ao real para efeitos de pagamento de
apólice constitui violação do presente Regulamento e é passível de sanções. […] 7.
Para cumprimento integral dos números anteriores deste artigo, a entidade a quem
cabe a supervisão de seguros em Moçambique estabelecerá providências destinadas a
evitar fraudes, omissões ou insuficiências nas declarações quanto ao pessoal e à
remuneração”.

10. Ocupação e cessação do vínculo laboral do trabalhador vítima de


acidente de trabalho
Nos termos do preceituado no artigo 229 da LT “1. Todo o trabalhador por conta
de outrem tem direito à reparação, em caso de acidente de trabalho ou doença
profissional, salvo quando resulte de embriaguez, de estado de drogado ou de
intoxicação voluntária da vítima. […] 2. O direito à reparação, por virtude de
acidente de trabalho ou doença profissional, pressupõe um esforço do empregador
para ocupar o trabalhador sinistrado num posto de trabalho compatível com a sua
capacidade residual. […] 3. Na impossibilidade de enquadrar o trabalhador nos
termos descritos no número anterior, o empregador pode rescindir o contrato
devendo neste caso indemnizar o trabalhador nos termos do artigo 128 da presente
Lei. […] 4. A predisposição patológica do sinistrado, a regular em legislação
específica, não exclui o direito à reparação, se for conhecida do empregador”.
O nº 2 do artigo 229 da LT tem o conceito de capacidade residual. Por exemplo,
um Motorista que por acidente de trabalho fique amputado os dois membros
inferiores pode ser reorientado para outra actividade compatível com a sua
capacidade residual.

7
O artigo 230 da LT estabelece que “1. Para determinação da nova capacidade de
trabalho do trabalhador sinistrado atende-se, nomeadamente, à natureza e
gravidade da lesão ou doença, à profissão, idade da vítima, ao grau de
possibilidade da sua readaptação à mesma ou outra profissão, e à todas as demais
circunstâncias que possam influir na determinação da redução da sua capacidade
real de trabalho. […] 2. Os critérios e regras de avaliação da diminuição física e
incapacidade por acidente de trabalho ou doença profissional constam da tabela
própria publicada em diploma específico”.

II. SEGURANÇA SOCIAL


A Segurança social faz parte da protecção social, por isso, antes de abordar a
segurança social mostra-se pertinente tratar um pouco da protecção social.

1. Estrutura da protecção social


Nos termos do preceituado no artigo 5 da Lei nº 4/2007, de 7 de Fevereiro (Lei de
Protecção Social) “1. O sistema de protecção social estrutura-se em três níveis,
designadamente: […] a) Segurança Social Básica; […] b) Segurança Social
Obrigatória; […] c) Segurança Social Complementar. […] 2. A protecção social
compreende as prestações que nela se integram, bem como as instituições de
protecção social que fazem a respectiva gestão”.
O artigo 39 Lei nº 4/2007, de 7 de Fevereiro preceitua que “1. A segurança social
básica é gerida pelo Ministério que superintende a área da Acção Social, com a
participação de entidades não governamentais com finalidades sociais e de outros
serviços de administração do Estado. […] 2. A segurança social obrigatória é gerida
pelo Instituto
Nacional de Segurança Social. […] 3. A segurança social dos funcionários do Estado
é gerida pelo Ministério que superintende a área das Finanças. […] 4. A segurança
social dos trabalhadores do Banco Central é gerida pelo Banco de Moçambique. […]
5. A segurança social complementar é gerida por entidades de carácter privado ou
público, cuja constituição e funcionamento é regulamentada pelo Conselho de
Ministros”.
Sobre a segurança social complementar deve-se ver o Regulamento da Constituição e
Gestão de Fundos de Pensões no âmbito da Segurança Social Complementar,
aprovado pelo Decreto nº 25/2009, de 17 de Agosto. Deve ficar claro que quem está
inscrito no INSS, segurança social dos trabalhadores do Banco Central é gerida pelo
Banco de Moçambique, no Sistema de Segurança Social dos Funcionários do Estado
ou qualquer pessoa pode-se inscrever num fundo de pensões gerida por uma
instituição privada e lá fazer as contribuições e quando atingir certa idade ou certas
contribuições passar a beneficiar de uma pensão. Os fundos de pensão privados são
fiscalizadas pelo Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique. Actualmente,
funcionam em Moçambique as seguintes sociedades Gestoras de Fundos de Pensões:
Global Alliance Seguros- Insurance, SA; Sanlam Moçambique Vida Companhia de
Seguros, SA; Kuhanha Sociedade Gestora de Fundo de Pensões, SA; Sociedade
Gestora do Fundo de Pensões, SA (Standard Bank); Moçambique Previdente-

8
Sociedade Gestora de Fundos de Pensões, SA e Moçambique Trust Pension Funds
Sociedade Gestora de Fundos de Pensões, SA4.

2. Articulação dos sistemas de segurança social


O artigo 17 da Lei nº 4/2007, de 7 de Fevereiro“1. É garantida a articulação entre a
segurança social obrigatória dos trabalhadores por conta de outrem e por conta própria
e a dos funcionários e agentes do Estado. […] 2. Na passagem do trabalhador de um
sistema para o outro, cada um dos sistemas assume a respectiva responsabilidade no
reconhecimento dos direitos, em termos a regulamentar”.
O regulamento referido no nº 2 é o Regulamento de Articulação dos Sistemas de
Segurança Social Obrigatória dos Trabalhadores por Conta de Outrem e por Conta
Própria, dos Funcionários do Estado e dos Trabalhadores do Banco de Moçambique,
aprovado pelo Decreto nº 13/2019, de 27 de Fevereiro.
Por exemplo, se uma pessoa é Vendedor Ambulante e desconta para trabalhador por
conta própria no INSS e passado algum tempo fica funcionário do Estado e desconta
no Instituto de Previdência Social e mais tarde fica trabalhador do Banco de
Moçambique os descontos que foi fazendo nos vários sistemas conta para efeitos do
cálculo da pensão.

3. Objecto e abrangência da segurança social


O artigo 256 da LT dispõe que “1. Todos os trabalhadores têm direito à segurança
social, à medida das condições e possibilidades financeiras do desenvolvimento da
economia nacional. […] 2. O sistema de segurança social compreende vários ramos, a
entidade gestora do sistema e abrange todo o território nacional”.
Nos termos do preceituado no artigo 257 da LT “O sistema de segurança social visa
garantir a subsistência material e a estabilidade social dos trabalhadores nas situações
de falta ou redução de capacidade para o trabalho e na velhice, bem como a
sobrevivência dos seus dependentes, em caso de morte”.

4. Segurança Social Obrigatória


De acordo com o Glossário em anexo à Lei nº 4/2007, de 7 de Fevereiro, a Segurança
Social Obrigatória “é a que se destina aos trabalhadores assalariados ou por conta
própria e suas famílias, com objectivo de protege-los nas situações de falta ou
diminuição da capacidade para o trabalho, maternidade, velhice e morte. A protecção
social obrigatória pressupõe a solidariedade do grupo, o carácter comutativo e assenta
numa lógica de seguro social”.
O artigo 11 da Lei nº 4/2007, de 7 de Fevereiro preceitua que “A segurança social
obrigatória compreende os regimes e a respectiva entidade gestora e concretiza-se
através de prestações previstas nos artigos 19 e 21 da presente Lei”.
Nos termos do artigo 19 da Lei nº 4/2007, de 7 de Fevereiro “1. A Segurança Social
Obrigatória compreende prestações nas eventualidades de doença, maternidade,
invalidez, velhice e morte.[…] 2. O alargamento do âmbito de aplicação material é
determinado pelo Conselho de Ministros, na medida em que as condições sócio-
económicas e administrativas o permitam”.

4
https://issm.gov.mz/mercado-sugurador/sociedades-gfpc/ (acesso em 13/1/2022)

9
O artigo 21 Lei nº 4/2007, de 7 de Fevereiro, dispõe que “São obrigatoriamente
abrangidos os trabalhadores por conta própria, em regime livre ou de avença, em
condições a definirem diploma próprio”. O diploma aqui referido é o Decreto nº
14/2015, que fixa a taxa contributiva dos trabalhadores por conta própria.

O Site do Instituto Nacional de Segurança Social, publica a seguinte informação:


“Direitos e Obrigações dos Beneficiários
O trabalhador admitido ao emprego, que não tenha sido inscrito 
anteriormente no Sistema, nem ter passado por  qualquer entidade
empregadora inscrita no INSS,  deve exigir à sua entidade empregadora
para que o inscreva no Sistema de Segurança Social, devendo para o
efeito: 
Entregar fotocópia do seu documento de identificação (BI, Cédula Pessoal ou
Boletim de Nascimento) para nacional e Dire 5 e/ou passaporte para
estrangeiros residentes; 
Exigir que no prazo máximo de 30 dias, a contar da data do início da actividade
do beneficiário, o ofício de comunicação do número de beneficiário e um
dos documentos referidos anteriormente sejam entregues pela sua empresa
ao INSS para finalização da inscrição.
Não se opor aos descontos a que está sujeito.
  
O trabalhador inscrito no Sistema de Segurança Social tem direito de: 
 Possuir um cartão de identificação de beneficiário emitido pelo INSS; 
Ter  a informação se o salário declarado e enviado mensalmente pela empresa
ao INSS, coincide com o que efectivamente recebe. 
Solicitar ao INSS, sempre que quiser, a sua situação contributiva; 
Solicitarao INSS a restituição das contribuições pagas indevidamente pela
empresa.
Requerer ao INSS o reembolso das contribuições efectuadas, se se tratar de um
trabalhador de nacionalidade estrangeira que deixe definitivamente o
território nacional antes de ter atingido a idade de admissão à pensão, desde
que não exista com o seu país de origem acordo bilateral de Segurança
Social. 
Requerer a Manutenção Voluntária no Sistema, no prazo de um  ano depois de
cessar a actividade laboral.
  NOTA:

5
DIRE é Documento de Identificação e Residência de Estrangeiros

10
Só se consideram indevidas as contribuições cujo pagamento não tenha
resultado de aplicação directa da lei. Das contribuições a restituir será deduzido
o valor de todas as prestações que na sua base tenham sido concedidas” 6.

BIBLIOGRAFIA
1. Livros

 CASIMIRO, Duarte e outros. Lei do Trabalho de Moçambique anotada.


Maputo: Escolar Editora, 2015;
 CORDEIRO, António Menezes, Manual de Direito do Trabalho, Coimbra
1991;
 FELIX, António Bagão. Segurança Social in Polis: Enciclopédia Verbo da
Sociedade e Do Estado: Antropologia, Direito, Economia, Ciência Política.
Volume 5. Lisboa; São Paulo; Editorial Verbo, 1997;
 FERNANDES, António de Lemos Monteiro. Direito do Trabalho, 11ª edição,
Coimbra 1999;
 LEAL, A. da Silva, Doenças Profissionais in Polis: Enciclopédia Verbo da
Sociedade e Do Estado: Antropologia, Direito, Economia, Ciência Política.
Volume 2. Lisboa; São Paulo; Editorial Verbo, 1997;
 MARTINEZ, Pedro Romano, Direito do Trabalho. Coimbra. 2002;
 VEIGA, António Jorge da Motta Lições de Direito do trabalho, 6ª edição,
Lisboa.
 WATY, Mónica Filipe Nhane, Direito do Trabalho, Maputo, 2008. Maputo:
W&W Editora, 2008;
 XAVIER, Bernardo da gama Lobo-Curso de Direito do Trabalho, 2ª edição
Lisboa, 1993 (reprint 1999);
 _____________________________ Acidente de Trabalho in Polis:
Enciclopédia Verbo da Sociedade e Do Estado: Antropologia, Direito,
Economia, Ciência Política. Volume 1. 2ªedicao. Lisboa; São Paulo; Editorial
Verbo, 1997;
 _____________________________ Contrato de Trabalho in Polis:
Enciclopédia Verbo da Sociedade e Do Estado: Antropologia, Direito,
Economia, Ciência Política. Volume 1. 2ªedicao. Lisboa; São Paulo; Editorial
Verbo, 1997.

2. Legislação

 Constituição da República de Moçambique de 2004 alterada e republicada pela Lei


nº 1/2018, de 12 de Junho. (Ver os artigos que versam sobre o Conselho superior
da Magistratura Judicial e Conselho Superior da Magistratura do Ministério
Público);
 Lei nº 23/2007, de 1 de Agosto (Lei do Trabalho).

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Direitos e Obrigações dos Beneficiários, disponível no site: https://www.inss.gov.mz/beneficiario/direitos-e-
obrigacoes.html

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 Lei nº4/2007, de 7 de Fevereiro, Lei da Protecção Social
 Lei 5/2002, de 5 de Fevereiro (Alusiva à protecção dos trabalhadores portadores de
HIV/SIDA);
 Código Civil (C.C)
 Regime Jurídico dos Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais , aprovado
pelo Decreto nº62/2013, de 04 de Dezembro
 Regulamento de Trabalho Doméstico, aprovado pelo Decreto nº 40/2008, de 26 de
Novembro;
• Regulamento do Trabalho Desportivo, aprovado pelo Decreto nº 24/2011, de 9
de Junho;
• Regulamento das Tolerâncias de Ponto, aprovado pelo Decreto nº 7/2015, de 3
de Junho;
• Regulamento de Contratação de Cidadãos de Nacionalidade Estrangeira no
Sector de Petróleos e Minas, aprovado pelo Decreto nº 63/2011, de 7 de Dezembro.
• Decreto nº 13/2019, de 27 de Fevereiro - Aprova o Regulamento de
Articulação de Sistemas de Segurança Social Obrigatória dos Trabalhadores por Conta
de Outrem e por Conta Própria, dos Funcionários do Estado e dos Trabalhadores do
Banco de Moçambique
• Decreto nº 4/90 , de 13 de Abril - Fixa em sete por cento a taxa da contribuição
para o Sistema de Segurança Social das remunerações e adicionais pagos
mensalmente aos trabalhadores pelas respectivas entidades empregadoras
• Decreto 51/2017, de 9 de Outubro. Regulamento Segurança Social Obrigatória
• Resolução nº18/2016, de 30 de Dezembro, ratifica a Convenção Sobre
Segurança Social entre Moçambique e Portugal
• Decreto nº 37/2019, de 17 de Maio - Atinente à resolução de situações surgidas
com a entrada em vigor do Decreto nº 51/2017, de 9 de Outubro, que aprova o
Regulamento da Segurança Social Obrigatória.
• Regulamento da Constituição e Gestão de Fundos de Pensões no âmbito da
Segurança Social Complementar, aprovado pelo Decreto nº 25/2009, de 17 de
Agosto. 
• Decreto nº 14/2015, quefixa a taxa contributiva dos trabalhadores por conta
própria.
3. Internet
 Direitos e Obrigações dos Beneficiários, disponível no site:
https://www.inss.gov.mz/beneficiario/direitos-e-obrigacoes.html;
 SGFP Autorizadas a Exercer a Actividade em Moçambique, disponível em
https://issm.gov.mz/mercado-sugurador/sociedades-gfpc/ (acesso em
13/1/2022).

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